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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 17ª REGIÃO
VARA DO TRABALHO DE SÃO MATEUS
Rua João Bento Silvares, 436, Centro, São Mateus/ES.
PROC. n.
0079500-82.2010.5.17.0191

Autores: Claudio Ferreira Silva e Outros

Ré: Petrobras Transporte S/A – TRANSPETRO

SENTENÇA

RELATÓRIO

Claudio Cláudio Ferreira Silva, Klaus Afonso Schmitz,


Lahisi Santos de Mello de Alcântara, Luiz Cláudio Peçanha Leal, Marcelo
Ferreira de Souza, Marcelo Hugo Angelo, Miriam Cristina Pinto Louzada
Lessa, Nilber Sant Ana de Mello, Paloma Rocha do Nascimento e Rodrigo de
Oliveira Silva, propuseram ação em face de Petrobras Transporte S/A –
TRANSPETRO, postulando diferenças a título de complemento da verba
denominada Remuneração Mínima por Nível e Regime.

Pedido impugnado.

Sem mais provas.

Razões finais remissivas.

Conciliação frustrada.

Este é o relatório.

FUNDAMENTOS

Os autores alegam violação às cláusulas 30 e 32, dos


acordos coletivos de trabalho, porque a ré não fez o pagamento do complemento da
Remuneração Mínima por Nível e Regime de acordo com os critérios fixados pelas
referidas fontes autônomas de Direito do Trabalho.
PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 17ª REGIÃO
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0079500-82.2010.5.17.0191

De acordo com a inicial, as cláusulas da negociação


coletiva estabelecem claramente a fórmula de apuração do complemento da RMNR.

Segundo a peça de ingresso, a ré paga o complemento da


RMNR utilizando-se do critério seguinte: a apuração da diferença entre a tabela da
RMNR e o salário base acrescido de todos os adicionais, por exemplo,
periculosidade, de regime especial de campo, dentre outros.

A vestibular sustenta a incorreção desse critério porque a


apuração do complemento da RMNR deve recair sobre a diferença entre o valor da
própria RMNR e o salário básico, apenas.

A defesa sustenta que todos os adicionais salariais


somam-se ao salário básico para fins de cálculo do complemento da RMNR, uma
vez que a expressão “sem prejuízo de outras parcelas pagas”, tem sentido de
acréscimo, merecendo interpretação restritiva.

As cláusulas 30 e 32, dos acordos coletivos de 2008 e


2009, estabelecem que os empregados da ré têm assegurado um valor mínimo, por
nível e região, com a finalidade de aperfeiçoamento da isonomia.

Os valores da RMNR, de acordo com a negociação


coletiva, estão definidos em tabelas da companhia.

O ponto de divergência está na forma de apuração do


complemento da RMNR.

Dispõe a regra coletiva no respectivo parágrafo 3º, das


cláusulas 30 e 32, dos acordos de 2007/2009, o seguinte:

“Será paga sob o título de 'Complemento da RMNR' a


diferença resultante entre a 'Remuneração Mínima por
Nível e Regime' de que trata o caput e o Salário Básico
(SB), sem prejuízo de eventuais outras parcelas pagas,
podendo resultar em valor superior a RMNR.
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Os acordos coletivos de trabalho, autorizados pela


Constituição Federal, artigo 7º, XXVI, constituem-se em fontes de Direito do
Trabalho. São fontes ditas autônomas, produzidas pelos próprios atores da relação
capital e trabalho.

Por isso, os acordos coletivos de trabalho têm força de lei


entre as partes acordantes.

Se são lei entre as partes, na interpretação dos acordos


coletivos, o exegeta deve utilizar princípios de hermenêutica aplicáveis à
compreensão do sentido e do alcance da própria lei.

A lei não contém palavras inúteis, diz antiga regra


destinada à sua interpretação.

No citado parágrafo 3º, das duas cláusulas dos acordos


coletivos em exame, as partes estabeleceram claramente que o complemento da
RMNR seria apurado pela diferença entre o valor da própria RMNR e o salário
básico, sem prejuízo de eventuais outras parcelas pagas, podendo resultar em valor
superior a RMNR.

Ora, por que as partes utilizaram-se da expressão


destacada no parágrafo anterior: podendo resultar em valor superior a RMNR?

Se esta expressão daquilo que é lei entre as partes não


contém palavra inútil, ela quer exatamente dizer que os adicionais salariais não se
computam para a apuração do complemento da RMNR.

A interpretação restritiva pretendida pela defesa não tem


lugar, em primeiro plano porque o negócio não é benéfico, uma vez que há
contrapartida dos trabalhadores e concessões, por isso inaplicável o artigo 114, do
Código Civil.

Depois, a expressão “sem prejuízo de eventuais outras


parcelas pagas” tem mesmo o sentido de acréscimo, como propõe a defesa, porém
de modo muito diverso.
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Com efeito, acréscimo significa aquilo que se acrescenta,


elevação, aumento, nunca diminuição, rebaixamento.

Ora, então a expressão “sem prejuízo de eventuais outras


parcelas pagas” significa que essas outras parcelas pagas (os adicionais) ficam
excluídos da apuração do complemento da RMNR e que elas serão acrescidas ao
final “ podendo resultar em valor superior a RMNR”.

A regra aqui cabível é do artigo 112, do Código Civil.

Noutras palavras, a intenção consubstanciada nos acordos


é a seguinte: as partes fixam uma Remuneração Mínima, estabelecida por Nível e
Regime, calculada pela diferença entre o valor do salário básico e o da própria
Remuneração Mínima por Nível e Regime, estabelecendo um complemento, cujo
valor pode exceder o próprio mínimo fixado, porque, para tanto, não se inclui no
cálculo nenhuma das vantagens.

Logo, defiro o pedido dos autores.

Concedo a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional,


uma vez presentes os requisitos do artigo 273, do CPC, notadamente o caráter
alimentar da verba, indispensável à sobrevivência dos autores e incompatível com a
demora da solução definitiva da lide.

INSS e IRRF, não obstante reiterados entendimentos da


Corte Regional, por exemplo, RO 1686/2003.007.17.00-9, na forma da Súmula 368
e OJ 363/SDI-1, do TST.

A correção monetária dos créditos obedecerá o disposto


na Súmula n. 381, do Colendo TST, que pacificou a matéria:

“SALÁRIO. CORREÇÃO MONETÁRIA. PAGAMENTO ATÉ O


5º DO DIA DO MÊS SUBSEQÜENTE. HIPÓTESES DE
CABIMENTO DA CORREÇÃO. CLT. ART. 459.
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O pagamento dos salários até o 5º dia útil do mês
subseqüente ao vencido não está sujeito à correção
monetária. Se essa data limite for ultrapassada, incidirá
o índice da correção monetária do mês subseqüente ao
da prestação dos serviços, a partir do dia 1º.”

Honorários advocatícios descabidos na hipótese destes


autos, porque, sem a assistência do sindicato, falta requisito da Súmula 329 do TST.
Indefiro.

INSS e IRRF, não obstante reiterados entendimentos da


Corte Regional, por exemplo, RO 1686/2003.007.17.00-9, na forma da Súmula 368
do TST.

Inaplicável ao Processo do Trabalho a regra do artigo


475, “J”, do CPC, diante do princípio da subsidiariedade. Indefiro.

Concedo aos autores os benefícios da Justiça gratuita,


com base na declaração firmada na inicial.

Na apuração da verba, devem ser compensadas as


quantias pagas.

As verbas pleiteadas têm escudo na negociação coletiva a


partir de 2007, por isso não há prescrição.

DISPOSITIVO

Diante do exposto, procedentes em parte os pedidos


deduzidos pelos autores, para condenar a empresa Petrobras Transporte S/A -
TRANSPETRO, no pagamento das parcelas deferidas na fundamentação, tudo com
base na fundamentação, parte deste comando.
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Custas de R$ 400,00, pela ré, calculadas sobre R$


20.000,00, valor provisoriamente arbitrado à condenação.

Partes presentes à audiência estão previamente


cientes da realização deste ato.

São Mateus/ES, 17/09/2010, às 15h15min.

Ezequiel Anderson
Juiz do Trabalho

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