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NOVOS RUMOS DA GESTÃO PÚBLICA

Antonio Célio de Aguiar1

RESUMO

O presente trabalho aborda a tendência mundial de se reformar o aparelho


estatal. Essa tendência de reforma começou a manifestar-se nas últimas
décadas do século XX. O que levou os governos a se preocuparem com o
modelo de administração pública empregado nos seus Estados, foi
basicamente a crise mundial que eclodiu nos anos 70. A maioria das nações
ainda emprega o modelo burocrático de Max Weber, que, em virtude de
mudanças na economia mundial, principalmente o processo de globalização
que atingiu quase todos os regimes, não estava mais funcionado
adequadamente. Esse modelo de administração pública já não supria mais as
necessidades do Estado. Muitos foram os países que já demonstraram
sucesso com a adoção do modelo gerencial de administração pública, tais
como Inglaterra e Nova Zelândia. No Brasil, as primeiras idéias de mudança no
sistema administrativo do setor público surgiram quando da instauração da
chamada nova república. Entretanto a efetivação do processo de reforma se
deu no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso quando foi criado o
Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado – MARE, cujo titular
foi Luis Carlos Bresser Pereira que coordenou o programa de elaboração do
projeto de reforma. Bresser Pereira com o seu projeto assinalava um novo
modelo para a administração pública brasileira fundamentado na administração
gerencial.

PALAVRAS-CHAVE: administração; reforma; política

INTRODUÇÃO

Nas duas últimas décadas os Estados vêm tentando resolver um entrave


que atrapalha a governabilidade, que é a administração pública. Surgiram
nesse período vários conceitos sobre qual seria o melhor modelo para se fazer
uma verdadeira mudança na gestão pública. Muitas foram as iniciativas
direcionadas para reforma do Estado moderno (Bresser Pereira & Spink.,
2001). No caso do Brasil as autoridades também demonstraram grande
preocupação com o modelo ora adotado e buscaram mudanças que viessem a

1
Engenheiro Civil da Coordenadoria de Obras e Projetos da Universidade Federal do Ceará, graduado em
Administração e Ciências Econômicas, especialista em gestão universitária, mestre em Políticas Públicas
e Gestão da Educação Superior .
colaborar com a administração do país. O que todos procuram no mundo atual
é encontrar soluções que visem aumentar a eficiência do Estado, bem como,
reduzir seu tamanho. O Brasil não se absteve dessa procura e também
elaborou um projeto para a modernização da máquina estatal. Este projeto
iniciado no governo Fernando Henrique Cardoso tem como diretrizes básicas a
redefinição do papel do Estado (Ferlie, E. et al, 1999).
A primeira idéia de se reformar o aparelho do Estado já tinha aparecido
em meados da década de 70. O primeiro fato que levou a administração
pública a pensar numa redefinição do papel do Estado foi a crise do petróleo.
No Brasil a mudança foi pensada depois da redemocratização do país. As
mudanças no aparelho do Estado foram propostas pelo Ministério da
Administração Federal e da Reforma do Estado – MARE do governo Fernando
Henrique Cardoso (FHC), através de um Plano Diretor. O referido Plano tomou
como referência de análise a existência de quatro setores dentro do Estado:
1) a estratégia do Estado, onde são definidas as leis e políticas públicas;
2) as atividades exclusivas do Estado, onde é exercido o poder do
Estado, isto é de regular, legislar, tributar e transferir recursos;
3) os serviços não-exclusivos ou competitivos do Estado, que são
aqueles que o Estado realiza e/ou subsidia porque determinam o exercício da
cidadania e
4) os serviços prestados pelo Estado através de empresas públicas ou
de economia mista. (Przworski, 1996).

A REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Devido a alguns fatores que geraram crises nas nações do mundo


moderno iniciou-se uma corrente de pensamento que tinha como objetivo
acabar com o emprego da administração burocrática.
Para Abrúcio: “quatro fatores sócio-econômicos contribuíram fortemente
para detonar a crise do Estado montado no pós-guerra.” (Abrúcio, 2001,
p.175). O primeiro fator foi a crise econômica mundial que teve seu início na
década de 70. O mesmo autor afirma que “o fato é que a economia mundial
enfrentou um grande período recessivo, mesmo que fracamente revertido nos
últimos anos, e nunca mais retomou os níveis de crescimento atingidos nas
décadas de 50 e 60” (Abrúcio, 2001, p.175).
A crise econômica mundial foi combatida e quase que totalmente
eliminada nos últimos quinze anos. (Abrúcio, 2001).
O segundo fator apontado por Fernando Luiz Abrúcio foi a crise fiscal
que desestabilizou o alicerce do modelo de Estado que ainda está sendo
praticado. O terceiro fator foi a condição de “ingovernabilidade” por que passam
as várias nações. Por fim o quarto fator que levou a um estudo sobre a
mudança nos paradigmas que regem a administração pública foi a
globalização.
No mundo atual torna-se muito difícil imaginar uma sociedade sem a
presença do Estado. Mesmo nas nações mais desenvolvidas onde o
neoliberalismo é mais acentuado e onde o Estado não funciona como nos
países da América Latina como o Brasil e a Argentina a presença estatal ainda
é marcante. Mesmo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos o Estado sempre
funcionou cumprindo determinados interesses de grupos. Nas sociedades mais
liberais, o poder público garante aos seus membros instrumentos razoáveis à
criação de condições satisfatórias à implantação de políticas públicas
destinadas ao tratamento de diferenças diversas. Assim sendo, mesmo em
países como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, o poder público sempre
interveio nas situações de conflitos em que havia ameaças para a
governabilidade. (Przeworski, 1996). O que fica claro é que para superar
grandes crises o poder público sempre interveio, como no caso da crise de
1929 nos Estados Unidos.
Se o capitalismo como forma de produção é garantida pelo Estado,
quando esse lhe dá total legitimidade de atuação, entende-se então que a
ausência do Estado não garanta que os problemas econômicos atuais serão
resolvidos; o que se percebe é que, o Estado ainda apresenta a função de
organizar o debate quanto à sua própria reforma. A participação estatal não
pode ser isolada, faz-se necessário “pensar a reforma do Estado em estreita
conexão com o tema da consolidação democrática” (Diniz, 1996 p. 5). A
maioria dos autores acha ser impossível imaginar uma reforma do Estado
limitada pela burocracia. Segundo Diniz, o tema da democracia deve está
permanentemente presente para não se perder de vista que o Estado não é
outra coisa senão um conjunto de disposições onde se deve levar em conta as
expectativas dos cidadãos. Qualquer reforma que vise alterar a configuração
das instituições públicas só terá validade se ampliar e incluir em seu interior a
cidadania. Por isso não se pode reformar uma instituição pública deixando de
lado o regime político em vigor, ou ignorando o conceito de poliarquia2 (Diniz,
1996). O Estado apesar de em algumas vezes está presente em conflitos
gerados por grupos minoritários, procurando uma inclusão nesses grupos, a
sua participação é mais destacada quando os conflitos são originados de
grupos maiores. Em outro caso o Estado busca uma inclusão para atender os
anseios dos participantes do grupo.
Os achados bibliográficos deixam transparecer que a reforma da
administração pública visa principalmente dar ao estado uma maior eficácia.
Segundo Kettl “embora a idéia de reforma do Estado tenha surgido em todo
mundo, muito pouco se sabe sobre suas causas” (Kettl, 2001, p.75). O mesmo
autor afirma ainda que: “o que chama a atenção é que o movimento favorável à
redução do Estado tornou-se virtualmente universal, por maiores que sejam
alguns deles”.

O CASO DO BRASIL
Os teóricos identificam que o estudo da administração pública brasileira
é bastante complexo devido a quantidade exagerada de regras jurídicas, que
limitam a sua clareza. A administração pública fica assim condicionada à
elaboração de leis e regulamentos para a sua aplicação que explicitem todos
os pormenores necessários para o seu cumprimento (Castor et al, 1987).
Segundo Levine:
o campo da Administração Pública já foi caracterizado como
um campo à ´deriva´ , enfrentando ´uma crise intelectual´,
necessitando de uma nova perspectiva, um campo que vinha
tornando-se `isolado` e em um período de `tensão e
mudança(Levine et al 1977).

A reforma da administração pública brasileira proposta inicialmente por


Bresser Pereira está fundamentada no princípio de fazer com que a
administração pública se torne mais eficiente e que seja dirigida para o
2
Poliarquia – governo exercido por muitos
cidadão. Aliás, no Brasil, o assunto relacionado à reforma do Estado foi muito
discutido desde o fim dos governos militares, ou melhor, a partir de 1985,
sobretudo nos anos 90. O que se viu, entretanto é que não houve uma
verdadeira efetivação do projeto, ou melhor, não se conseguiu efetivar uma
verdadeira reforma que melhorasse as instituições públicas. A Reforma
originada no governo Fernando Henrique Cardoso tem três propostas básicas:
1) estabelecer limites para as ações do Estado; 2) conseguir um aumento na
capacidade administrativa do Estado e 3) remanejar obrigações do âmbito
federal para os estados e municípios descentralizando assim as ações de
caráter local.
As propostas para a reforma das leis que regem a máquina
administrativa brasileira foram desenvolvidas depois que se constatou que o
Estado brasileiro enraizou algumas características tais como: centralização das
decisões, adoção de estruturas piramidais de poder, rigidez e impessoalidade
das rotinas e dos controles dos processos administrativos. Dessa forma os
órgãos das administrações direta e indireta voltaram-se para dentro e não para
o atendimento aos cidadãos. Com essa visão voltada para o próprio interior
depreende-se claramente a necessidade de uma administração que busque
uma melhoria na qualidade dos serviços prestados ao cidadão, bem como,
procure uma maximização dos resultados e uma redução de custos.
Os idealizadores da reforma entendem que a administração deve ser do
tipo gerencial que seja voltada para o controle de resultados e não
simplesmente de controle de processos. De acordo com a literatura
especializada o que se observa no caso brasileiro é que o debate estrutural
parece sucumbir diante de questões de ordem conjuntural. Assim sendo, o que
é essencial deixa de ser discutido em favor de “programas de estabilização
econômica e o acirramento dos conflitos em torno da distribuição de recursos
escassos” (Diniz, 1996: 8). Essas observações levam a crer que a discussão
sobre a reforma do Estado brasileiro não se transformou em realidade, não se
sabe bem os motivos, mas o fato é que, o que se pretendia era simplesmente e
tão somente uma reforma administrativa que facilitasse a privatização de
estatais com grande potencial econômico-financeiro.
A reforma do Estado brasileiro ficou na dependência de acordos
partidários e de caprichos de grupos de burocratas, “deixando camadas
expressivas da população à margem da área das instituições encarregadas de
resolver seus problemas primários de saneamento, saúde, segurança,
transporte e educação” (Diniz, 1996: p15).
Sobre a reforma do Estado temos a opinião de Glade:
o fato de a reestruturação e de a reforma administrativa terem
se originado no mesmo conjunto de circunstâncias e, sem
dúvida, a razão de o Banco Mundial, cujo interesse na reforma
administrativa diminuiu após os anos 60, estar hoje apoiando
programas de ´enxugamento´ do Estado e de melhoria do
gerenciamento público em mais de duas dezenas de países.
Isso deixa transparecer que a reforma do Estado brasileiro está
em consonância com as diretrizes do Banco Mundial (Glade,
2001, p.132).

Para Diniz a complexidade da burocracia brasileira que mostra uma


irracionalidade explícita claramente notada (Diniz,1996). Essa irracionalidade
também é apontada no estudo feito por Angelina Figueiredo e Fernando
Limongi no livro Executivo e Legislativo na nova ordem constitucional. Esses
autores afirmam “que o poder Executivo em virtude de seus poderes
legislativos, comanda o processo legislativo, minando assim o próprio
fortalecimento do Congresso como poder autônomo”. (Figueiredo-Limongi,
1999, p. 41).
A burocracia estatal que está atrelada principalmente ao Executivo, tem
em mãos poderes que a torna de certa forma autônoma. A burocracia do
aparato estatal muito distante da realidade, que a torna conflitante, exigindo
uma atuação forte do poder político para colocar a técnica em favor das
verdadeiras decisões de Estado, que são aquelas destinadas a atender o
público.
A literatura aponta que o sistema administrativo brasileiro apesar de
querer galgar um degrau mais alto ou uma posição mais relevante ainda
abrange no seu âmago resquícios de doutrinas vigentes no século XIX como o
patrimonialismo (Pinho,1998). O Brasil que ainda não conseguiu implantar a
burocracia weberiana tem em seus dirigentes a intenção de fazer uma reforma
administrativa baseada no modelo gerencial.
O patrimonialismo ainda vigora em várias áreas da administração
pública brasileira. Entretanto o país teve sorte em não agravar seus problemas
por opções institucionais erradas, aderindo desde o começo do século XX à
democracia política e à economia de mercado, ainda que sem praticá-las
contínua e competentemente. O que se constata pela literatura é que se
passou do mercantilismo patrimonialista ao capitalismo de Estado. Essa
passagem não significa que o país tenha atingido a fase do capitalismo liberal-
competitivo. As políticas neoliberais que começaram a ser implantadas no
Brasil e que tanto são questionadas poderiam ser consideradas uma saída
desejável, cujo mal ainda não contaminou o país como um todo.
A cultura patrimonialista era caracterizada pela tênue linha divisória
entre a propriedade pública e a propriedade privada. Outra característica
marcante dessa prática é a intensa capacidade de se apropriar da coisa pública
que tem o poder dominante através de acordos e conchavos.
Pelo que foi exposto, a proposta para reformar o Aparelho do Estado
incorpora uma necessidade de valores de eficiência e de qualidade dos
serviços públicos prestados. A proposta também indica a adoção de uma
cultura gerencial nas organizações estatais para que se atinja o
desenvolvimento. A nova cultura gerencial tem como princípios: a
descentralização política; a descentralização administrativa; a adoção de
estruturas mais horizontais; a flexibilidade organizacional compatível com a
multiplicidade, a competição e o conflito; o controle de resultados e a
administração voltada para o atendimento ao cidadão.
Nota-se então que o atual projeto de Reforma do Estado busca
fortalecer a administração pública direta, e em conseqüência realizar uma
descentralização da administração indireta, com a implantação de Agências
Executivas Reguladoras e de Organizações Sociais sendo que estas seriam
controladas por contratos de gestão. As Agências Executivas são as entidades
executoras nos setores de atividades exclusivas do Estado e controladoras no
setor dos serviços não-exclusivos do Estado (Brasil, 1997).
No caso das atividades não exclusivas do Estado, ou seja, aquelas que
podem ser realizadas tanto pelo governo como pelo setor privado, têm dentro
do Projeto da Reforma da Administração Pública, um tipo de serviço público
não-estatal. Esse serviço não-estatal diferencia do setor estatal por não
envolver o uso do poder do Estado. Ele também não pode ser considerado de
natureza privada porque precisará de transferências do Estado e
diferentemente de uma empresa privada não tem o lucro como um objetivo
principal.

AS REFORMAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA

A primeira tentativa de ser reformar o aparelho do estado no Brasil


aconteceu na década de 30 no governo Getúlio Vargas, com a implantação de
uma reforma burocrática. Nesse período o que predomina é o conceito de
racionalização. O projeto é baseado na escola clássica da administração na
qual predominavam os pensadores: Taylor e Fayol. Nessa época precisamente
em 1938 foi criado o Departamento de Administração do Serviço Público -
DASP que seria o órgão gestor da administração do país.
O DASP logo no início do seu funcionamento procurou fazer com que os
servidores públicos passassem por um sistema de ingresso onde prevalecesse
a competitividade. Também se preocupou em estabelecer critérios para as
promoções por merecimento. No DASP estavam centralizadas todas as
questões ligadas às áreas de pessoal, material, orçamento, organização e
método. Deve- se ressaltar que o DASP apesar de ser um órgão público foi um
verdadeiro berço da produção e divulgação dos preceitos administrativos.
Para a crítica especializada o ponto que marcou uma disfuncionalidade
no DASP ficou acentuado no caráter fechado que tinha o órgão, que acabou
ocasionando uma hipertrofia desse Departamento em relação à administração
estatal (Martins, 2006). Na reforma burocrática de 1936 as principais áreas nas
quais o projeto de reforma procurou intervir foram: a administração de pessoal.
O orçamento e a administração orçamentária, a administração de material e a
revisão e racionalização de métodos (Bresser Pereira, 2001).
A segunda reforma por que passou a administração pública brasileira foi
na década de 60 no primeiro governo do regime militar. O que prevaleceu
nesse período foi o conceito de “desenvolvimentismo”. Essa idéia
desenvolvimentista partiu dos países ricos e expressava o desejo de criar nas
nações mais pobres condições para investimentos. O Decreto-Lei 200 de 1967
foi a legislação básica da reforma administrativa do governo militar, e
estabeleceu uma verdadeira revolução na administração pública do Brasil. A
mudança proposta pelo DL 200 se baseava nos conceitos de planejamento,
organicidade, centralização decisória e normativa e descentralização funcional
(Martins, 2006).
Para Martins “as reformas iniciadas em 1967 visavam a
operacionalização do modelo de administração para o desenvolvimento
baseado na consolidação burocrática de um Estado forte, voltado para o
desenvolvimento econômico, cuja característica principal foi o predomínio da
racionalidade funcional...”(Martins,2006, p.178) . O modelo de reforma do DL
200 era caracterizado pela racionalidade funcional consubstanciada por uma
estrutura tecnológica que garantisse o regime autoritário (Martins,). O período
em que vigorou o Decreto-Lei 200 ficou marcado pela racionalização funcional
da administração pública. Devendo ser ressalvada que essa racionalização
ficou concentrada na administração indireta.
Na opinião de Bresser Pereira.:
A reforma burocrática não se completara no Brasil, mas, desde
o início dos anos 60, estava claro que a utilização dos
princípios rígidos da administração pública burocrática
constituíam-se em um empecilho ao desenvolvimento
econômico do país. A reforma de 1967, realizada por meio do
Decreto-Lei nº 200 reconheceu esse fato e procurou substituir
a administração pública burocrática por uma ´ administração
para o desenvolvimento ´: distinguiu com clareza a
administração direta com a administração indireta, e garantiu
às autarquias e fundações desse segundo setor, e também às
empresas estatais, uma autonomia de gestão muito maior do
que possuíam anteriormente.(Bresser Pereira, 1998, p.167).

O que se percebe é que a reforma de 1967 com característica


desenvolvimentista foi na realidade um atalho para driblar a rigidez da
administração burocrática que vigorava na época.
O atual projeto de reforma do Aparelho do Estado de 1995 foi planejado
no governo Fernando Henrique Cardoso. Foi denominada como Reforma
Gerencial e era constituída por dois documentos: o primeiro era a proposta de
emenda constitucional do capítulo da administração pública e o segundo era o
Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (Bresser Pereira, 2001).
A administração proposta no projeto de reforma será de tipo gerencial e
será controlada pelo mercado e pelo Estado. A reforma prevê a mudança no
rumo das atividades e serviços não exclusivos do Estado para um tipo de
propriedade pública não-estatal. Essa mudança seria feita através da
transformação dos organismos hoje responsáveis por estas atividades, em
Organizações Sociais. Estas organizações terão caráter público e direito
privado o que lhes possibilita uma autonomia administrativa e financeira e
ainda a possibilidade de contratação de novos empregados regidos pela
Consolidação das Leis Trabalhistas-(CLT).
As Organizações Sociais terão um contrato de gestão com o órgão
regulador e o controle das atividades e serviços por elas prestados. Vale
salientar que na reforma fica claro que essas organizações têm por objetivos
dar firmeza ao setor público não-estatal e dentro dessa premissa reduzir o
número de servidores públicos nas áreas prestadoras de serviços não-
exclusivos do Estado. Assim, pensam os idealizadores do projeto, será
fortalecido o controle social com relação à qualidade dos serviços.
A Reforma do Aparelho do Estado está fundamentada em dois critérios,
que são: a forma de propriedade e a forma de administração das atividades e
dos serviços prestados pelo Estado.
O projeto de reforma de 1995 prevê que as atividades exclusivas do
Estado serão organizadas como Agências Executivas. Essas agências são de
propriedade do Estado e com uma administração de tipo gerencial. Elas
negociam com o núcleo administrativo o contrato de gestão, através de seu
dirigente, nomeado pelo ministro com a qual a Agência Executiva3 tem o
contrato de gestão. Esse contrato torna autônoma a Agência Executiva e assim
ela terá inteira liberdade de controlar o orçamento, pois antes são
estabelecidos os objetivos e os indicadores de desempenho.
Sobre os fundamentos da reforma da administração pública brasileira
vale destacar a opinião de Bresser Pereira & Pacheco:
um dos princípios fundamentais da reforma de 1995-1998 é o
de que o Estado só deve executar diretamente as tarefas que
são exclusivas do Estado, ou que apliquem os recursos do
Estado. Entre as tarefas exclusivas do Estado, porém, deve-se

3
As agências executivas são formadas por autarquias ou fundações públicas que celebram contrato de
gestão com o respectivo Ministério supervisor, visando conceder-lhes maior autonomia e agilidade.
distinguir as tarefas centralizadas de formulação e controle das
políticas públicas e da lei, a serem executadas por secretarias
ou departamentos do Estado, das tarefas de execução, que
devem ser descentralizadas para agências executivas e
agências reguladoras autônomas (Bresser Pereira & Pacheco,
2005, p.8).
Para Teixeira, a criação de órgãos responsáveis por desempenhar
atividades e serviços não exclusivos do Estado será através da transformação
dos organismos que atualmente são responsáveis por estas atividades, em
Organizações Sociais. Essas organizações serão públicas, porém de direito
privado. Isso conferirá a elas uma autonomia administrativa e financeira.
Sobre o assunto Bresser Pereira manifesta a seguinte opinião:
Na reforma gerencial em curso no Estado brasileiro, a
instituição que provavelmente terá a maior repercussão é a das
organizações sociais. A proposta da reforma é a transformação
dos serviços sociais e científicos, que o Estado hoje presta
diretamente, em entidades públicas não-estatais, entidades
sem fins lucrativos, do terceiro setor. Ao serem qualificadas
como organizações sociais, as novas entidades públicas, mas
de direito privado, poderão celebrar um contrato de gestão com
o respectivo ministério supervisor e terão de participar do
orçamento do Estado (Bresser Pereira, 2001, p.).

Isso quer dizer que as Organizações Sociais manterão um contrato de


gestão com o órgão do núcleo estratégico responsável pela regulação e
controle das atividades e serviços por elas prestados.
O que salta aos olhos é que o projeto as Organizações Sociais poderão
substituir os órgãos de prestam serviços não exclusivos do Estado, tais como
universidades, institutos de pesquisa, hospitais, museus e a previdência social.
O projeto sinaliza que a mudança da atual estrutura dos órgãos existentes
atualmente será feita através de “programa de publicização
”. Isso significa que poderá haver a extinção das atuais entidades que
serão substituídas por fundações públicas, de direito privado.

CONCLUSÃO
A administração pública vem passando por mudanças nas últimas
décadas para tentar combater a crise por que atravessam os países. As várias
nações do mundo experimentaram situações de crise no final do século XX.
Essa crise detonada por fatores sócio-econômicos vem contribuindo para
dificultar o gerenciamento da máquina estatal.
Os países que partiram na frente para solucionar o problema apostaram
na substituição do modelo burocrático de Max Weber por outro que permitisse
uma maior flexibilidade na condução da máquina administrativa e que ao
mesmo tempo levasse uma maior eficiência à administração pública. O novo
modelo, que permitiria redefinir o papel do Estado, enfrentar e vencer a crise,
foi denominado de modelo gerencial.
O modelo gerencial surgiu na época em que alguns governos forma
substituídos por outros de corrente diferente. Para Abrúcio
foi nesse contexto de escassez de recursos públicos,
enfraquecimento do poder estatal e de avanço de uma
ideologia privatizante que o modelo burocrático entrou em uma
profunda crise. Não obstante, é importante lembrar que esse
processo não ocorreu nem no mesmo momento histórico nem
da mesma forma nos diversos países. Mais do que isso,
deram-se respostas diferenciadas para problemas muito
parecidos. Contaram para isso a tradição administrativa, as
regras do sistema político, o grau de centralização existente e
a força do consenso pró-Welfare State presente em cada
nação (Abrúcio, 2001, p.178).

A aplicação do modelo gerencial variou de país para país. A sua


implementação estava vinculada à situação político-administrativa de cada
nação. Dependia também do grua de centralização da administração pública e
ainda da divisão geopolítica de cada nação.
O próprio modelo que se propôs substituir o modelo burocrático no caso
o do tipo gerencial já apresenta algumas alternativas quanto à sua aplicação.
Além do chamado “gerenciamento puro” existem novos caminhos como o
“consumerism” e “public service orientation”.
No Brasil a proposta para a reforma do Estado foi encaminhada ao
congresso em 1995 no governo Fernando Henrique Cardoso. O projeto de
reforma administrativa foi coordenado pelo então titular do Ministério de
Administração de Reforma do Estado Luis Carlos Bresser Pereira. Quando do
lançamento desse projeto aconteceram muitas discussões em torno da nova
abordagem que salientavam principalmente os argumentos utilizados para o
seu desenvolvimento que partiam de uma visão intra-estatal.
Nas discussões em torno do projeto de reforma do Estado brasileiro
deve se ressaltar que o debate ficou concentrado em um ponto crucial que é
tornar efetiva a presença do Estado. O que deve ser destaco aqui é que a
restrição do tema discutido impediu uma analise mais aprofundada que fizesse
um estudo sobre o regime capitalista e o seu modo de produção que levassem
para a mudança a intenção de especificar as verdadeiras pelas quais os
indivíduos objetivam. Imaginar em uma reforma de Estado sem se preocupar
com a natureza intrínseca dele talvez não resolva as questões ligadas à
legitimidade ou a eficiência da máquina estatal.
O que deixa transparecer nesse estudo é que a reforma do Estado
brasileiro deve significar uma reforma que mude as condições objetivas dos
homens, e, portanto deve ser imaginada ou implementada no sentido de
transformar os indivíduos em cidadãos.

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