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a gramática especulativa (ou semiótica em sentido restrito), que nos dá uma fisiologia das formas,
uma classificação das funções e das formas de todos os signos;
a crítica, que consiste no estudo da classificação e da validade dos argumentos; e
a metodêutica, que é o estudo dos métodos para chegar à verdade.
A questão que se coloca sobre qualquer signo é o que ele significa, qual o pensamento
que se lhe encontra associado e a que objeto se refere. O pragmatismo é o método para
responder a esta questão3.
No artigo "Como tornar as nossas idéias claras”, de 1876, Peirce começa por criticar a
posição imanentista da filosofia cartesiana relativamente à apreensão das idéias. A
crítica centra-se nas noções de clareza e distinção.
Contra a idéia de clareza, entendida esta como a capacidade de reconhecer uma idéia
em qualquer circunstância que ela ocorra e nunca a confundir com nenhuma outra,
levanta Peirce duas objeções. Em primeiro lugar, isso representaria uma capacidade
sobre-humana. Com efeito, quem poderia reconhecer uma idéia em todos os contextos e
em todas as formas em que ela surgisse, não duvidando nunca da sua identidade?
Identificar uma idéia em circunstâncias diversas não é tarefa fácil, e identificá-la em
todas as suas formas é com certeza tarefa que implicaria "uma força e uma clareza tão
prodigiosas do intelecto como se encontram raramente neste mundo."4 Em segundo
lugar, esse reconhecimento não seria mais do que uma familiaridade com a idéia em
causa. Neste caso, porém, teríamos um sentimento subjetivo sem qualquer valor lógico.
A clareza de uma idéia não pode resumir-se a uma impressão. Por seu lado, a noção de
distinção, introduzida para colmatar as deficiências desta concepção de clareza, exige
que todos os elementos de uma idéia sejam claros. A distinção de uma idéia significaria,
portanto, a possibilidade de a definir em termos abstratos. A crítica capital de Peirce à
noção cartesiana de clareza e distinção é a de que não permitem decidir entre uma idéia
que parece clara e uma outra que o é. Há homens que parecendo estar esclarecidos e
determinados defendem opiniões contrárias sobre princípios fundamentais. Alguém pode
estar muito convencido da clareza de uma idéia que não o é.
Um exemplo poderá esclarecer como é que a crença é uma regra de ação. Se encontro
uma pessoa que não me é inteiramente desconhecida, mas que de momento não
identifico, começo a interrogar-me sobre quem será, de onde a conheço. Essa pessoa
cumprimenta-me e não consigo lembrar-me de quem se trata. Não sei que hei de dizer-
lhe, e isso perturba-me. De repente, consigo identificar a pessoa. Daí em diante todas as
minhas ações, a maneira como me dirijo a essa pessoa e os assuntos que com ela
poderei abordar são determinados por esse reconhecimento. Em termos peirceanos, é
uma crença que sossegou a minha dúvida e que constitui agora a base das minhas
ações e reações.