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SÉCULOS XIX E XX
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Eduardo Costa de Queiroz
Waldênia Alvarenga Santos Ataíde
BELO HORIZONTE
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Capítulo 2
Alfabetização e acesso às práticas da cultura escrita de uma
família do sul da França entre os séculos XVIII e XIX:
um estudo de caso
Jean Hébrard................................................................................... 49
Capítulo 3
Objetos e práticas de leitura de um “novo letrado”: estudo de
um percurso individual no século XX
Ana Maria de Oliveira Galvão e Poliana Janaína
Prates de Oliveira.......................................................................... 97
Capítulo 4
Um trânsfuga: memória familiar, escrita e autodidatismo
Antônio Augusto Gomes Batista................................................. 137
Capítulo 5
Personagens em busca de um autor
Eliane Marta Teixeira Lopes.......................................................... 151
Capítulo 6
Processos de inserção e participação nas culturas do
escrito: o caso de um herdeiro
Juliana Ferreira de Melo................................................................ 177
Capítulo 9
Os meninos das aulas públicas de primeiras letras:
Pernambuco, primeira metade do século XIX
Adriana Maria Paulo da Silva....................................................... 271
Capítulo 10
Negros com-passos letrados: a ação educativa da Sociedade dos
Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco (1840-1860)
Itacir Marques da Luz.................................................................... 307
Capítulo 11
Práticas de leitura e escrita destinadas a negros, brancos e índios
no século XIX: o caso da Colônia Orphanologica
Isabel de Pernambuco
Adlene Silva Arantes......................................................................... 329
Capítulo 12
Práticas religiosas pentecostais e processos de inserção
na cultura escrita (Pernambuco, 1950-1970)
Sandra Batista de Araujo Silva e Ana Maria de Oliveira Galvão...... 365
Capítulo 13
Uma aprendizagem sem folheto: quem ainda vai rezar e benzer
em Barra do Dengoso?
Maria José Francisco de Souza...................................................... 405
Os autores............................................................................................ 437
1
Muitas reflexões sistematizadas neste texto são fruto de um debate sistemáti-
co, realizado ao longo de alguns anos, com Antônio Augusto Batista e Jean
Hébrard. A eles agradeço a sempre frutífera troca de idéias. Agradeço tam-
bém a Maria Betânia e Silva, pela leitura atenta dos originais do livro, e a
Kelly Aparecida Queiroz, pelo suporte técnico.
2
Discutiremos a noção de “jogos de escalas” no segundo item deste capítulo.
3
Por meio da concessão de bolsas de Produtividade em Pesquisa aos pesquisa-
dores Ana Maria de Oliveira Galvão e Antonio Augusto Gomes Batista, de
recursos do Edital Universal 2003 e de bolsas de Iniciação Científica (quota
ao pesquisador e PIBIC).
4
Dois membros do referido Núcleo – Adlene Silva Arantes e Itacir Marques da
Luz – tiveram, para a realização de suas pesquisas, financiamento da Fundação
Ford/Ação Educativa/ANPEd, por meio do Concurso Negro e Educação.
5
Para um balanço das pesquisas sobre cultura escrita na História da Educação,
ver CASTILLO GÓMEZ, 2003.
6
Evidentemente, como verá o leitor, o autor também discute algumas questões
que se referem, especificamente, ao caso francês, como às tensões entre
dialeto e língua oficial ou às disputas entre protestantes e católicos.
leitura deixadas pelo leitor nas obras. Baseadas nos dados des-
critos e analisados, as autoras discutem questões como as rela-
ções entre os papéis estético e ético da leitura na prática de
“novos letrados”, a presença da oralidade como mediadora das
relações com o escrito e o papel desempenhado pela rede de
sociabilidade formada por outros “pequenos escritores” no pro-
cesso de construção do lugar simbólico de escritor/leitor por
parte do sujeito pesquisado.
No terceiro capítulo, “Um trânsfuga: memória familiar, escri-
ta e autodidatismo”, Antônio Augusto Gomes Batista realiza,
predominantemente, reflexões de natureza metodológica que
permearam o processo de produção de sua pesquisa – que bus-
cou apreender processos e condições que, em uma trajetória in-
dividual determinada, asseguraram a construção de um “novo
letrado” no século XX em Minas Gerais. O autor explora, então,
as tensões, os problemas e as possibilidades envolvidos na rea-
lização de uma pesquisa histórica que se baseou em três princi-
pais tipos de fonte: a memória familiar (que, no caso, é também
a memória do pesquisador), seus efeitos e seus processos de
construção e de transmissão, calcados, sobretudo, na oralidade;
os arquivos familiares e seus mecanismos de construção, especial-
mente aqueles relacionados à própria cultura escrita e às deci-
sões – do indivíduo e de seus familiares – que conduzem a sua
formação e conservação; por fim, aquilo que o autor denomina
de “rumor”, ou seja, as justificativas e os relatos que, vindos de
pessoas externas ao círculo familiar, buscam explicar e dar senti-
do a uma trajetória singular. Batista traz, nesse sentido, reflexões
pertinentes sobre o trabalho com a memória familiar e as narra-
tivas construídas em torno dessa memória.
No quarto capítulo, “Personagens em busca de um autor”,
Eliane Marta Teixeira Lopes, baseada em um estudo que teve
como foco um telegrafista da Central do Brasil, que viveu no
Rio de Janeiro e em Minas Gerais entre a segunda metade do
século XIX e as primeiras décadas do século XX, examina o
caderno de recortes de jornais e revistas construído por ele. A
autora analisa os autores mais presentes na “antologia” e
Desafios metodológicos:
fazendo “jogos de escalas”
O primeiro desafio metodológico que permeou a realização
das pesquisas aqui reunidas diz respeito à opção por privilegiar,
em cada estudo monográfico, uma escala de observação. Essa
opção decorreu da possibilidade oferecida pela variação de
escalas para a análise de objetos em sua complexidade, o que
permite, no caso das pesquisas aqui descritas, a apreensão de
diferentes dimensões, situadas no interior do conjunto de con-
dições sociais e culturais que orientaram o acesso à escrita.
Para Jacques Revel (1998), a partir das experiências de pesqui-
sa desenvolvidas, desde os anos 1970, por um grupo de histo-
riadores italianos em torno da proposição historiográfica da
micro-história,7 reconhece-se, hoje, que
7
A micro-história caracteriza-se por se constituir em uma prática historiográfica,
com referências teóricas variadas, que se baseia na “redução da escala da
observação, em uma análise microscópica e em um estudo intensivo do mate-
rial documental” (LEVI, 1992, p. 136). Essa opção está fundamentada na crença
de que “a observação microscópica revelará fatores previamente não observa-
dos” (p. 139). O que une os trabalhos a partir dessa perspectiva é, entre outros
aspectos, o emprego de um “modelo de ação e conflito do comportamento do
homem no mundo que reconhece sua – relativa – liberdade além, mas não
fora, dos sistemas normativos prescritivos e opressivos. Assim, toda ação social
é vista como o resultado de uma constante negociação, manipulação, escolhas
e decisões do indivíduo, diante de uma realidade normativa que, embora
difusa, não obstante oferece muitas possibilidades de interpretações e liber-
dades pessoais” (LEVI, p. 135). Sobre a micro-história, ver LEVI (1992), GIN-
ZBURG (1989), GINZBURG et al. (1989) e os diversos artigos que compõem
a coletânea organizada por Jacques Revel (1998).