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A IMPORTÂNCIA DA

COMPETIÇÃO NA
FORMAÇÃO DO JOVEM
ATLETA

CARLOS CRUZ

Pedagogia do Desporto
Psicologia do Desporto e das Actividades Físicas
Crescimento, Morfologia e Prontidão Desportiva
A IMPORTÂNCIA DA COMPETIÇÃO NA FORMAÇÃO DO JOVEM ATLETA – UM PERMANENTE DESAFIO Carlos Cruz

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 03

2. A COMPETIÇÃO CONSTITUI UM ESTIMULO


FUNDAMENTAL NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DESPORTIVA 04

3. A COMPETIÇÃO TRANSPORTA EM SI “GENES” DE


DESTRUIÇÃO DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DESPORTIVA 07

4. COMO POTENCIAR OS EFEITOS DA COMPETIÇÃO


NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DESPORTIVA 09

5. COMO REDUZIR OS PREJUÍZOS DA COMPETIÇÃO


NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DESPORTIVA 14

6. REFLEXÃO SOBRE O QUADRO DE COMPETIÇÕES


DE ANDEBOL PARA OS ESCALÕES JOVENS 16

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 22

BIBLIOGRAFIA 24

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A IMPORTÂNCIA DA COMPETIÇÃO NA FORMAÇÃO DO JOVEM ATLETA – UM PERMANENTE DESAFIO Carlos Cruz

A IMPORTÂNCIA DA COMPETIÇÃO NA FORMAÇÃO DO JOVEM ATLETA


– UM PERMANENTE DESAFIO

MESTRADO “TREINO DE JOVENS DESPORTISTAS”


Carlos Cruz

1. INTRODUÇÃO

A formação desportiva pretende criar jovens com gosto pelo desporto


e capazes de praticar a diferentes níveis a modalidade que
escolheram.

A prática do desporto a qualquer nível não se consegue conceber sem


a existência de competição.

As competições, no caso dos Desportos Colectivos, os jogos, são uma


estrutura essencial para a aprendizagem, constituindo o modelo de
início e, em simultâneo, um dos exames essenciais de todo o
processo.

Esta verdade não deixa de ser um motivo de sistemática apreensão


entre todos os que intervêm no desporto jovem.

O carácter nuclear das competições está em permanente pressão


sobre o estímulo de desenvolvimento do jovem atleta e o modelo de
quadros competitivos prevalecente no desporto de alto rendimento.

A paixão subjacente à participação nas competições cria um ambiente


emocional muito atraente mas de difícil intervenção para os
responsáveis pela orientação dos jovens desportistas

A consciência sistemática desta contradição é a única forma de


permitir transformar a competição num estímulo específico e activo
no processo de formação no desporto jovem.

Para além desta noção pedagógica é necessário intervir nas


estruturas responsáveis pela organização das actividades
competitivas.

Demitir-se de interferir no quadro de competições é deixar de


considerar este aspecto da formação desportiva como um elemento
controlável pelo treinador e enquadrado por organizações que têm a
competência de criar e dirigir as actividades competitivas na direcção
e serviço dos jovens.

Os exemplos práticos devem merecer reflexão, procurando enaltecer


as soluções encontradas e os respectivos efeitos, e o exemplo no
quadro de competições do Andebol justifica essa atenção especial.

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2. A COMPETIÇÃO CONSTITUI UM ESTIMULO FUNDAMENTAL NO


PROCESSO DE FORMAÇÃO DESPORTIVA

A actividade desportiva é impensável sem a existência de


competições e mesmo na formação parece desprovido de senso não
se falar de quadros competitivos.

A competição desportiva, sendo um factor charneira, comporta, no


entanto, um conjunto de contradições que, não sendo simples de
analisar e resolver, obriga a um esforço permanente de
consciencialização dos seus aspectos positivos e negativos.

Obviamente que o facto de se subdividir em vários itens, como forma


de facilitar a análise, não a transforma em mais fácil pois os
problemas (positivos e negativos) surgem sempre em conjunto e
circundados por um ambiente emocional que não proporciona as
melhores condições de reflexão.

Aliás, como é normal em todas as formas de competição desportiva,


a paixão e a velocidade de processamento dos acontecimentos são
uma característica essencial.

A formação de jovens desportista vive no contacto, quase


permanente, com esta “agressão” produzida pelas competições pois
ainda que os jogos estejam carregados de desafios interessantes,
eles são vividos de forma muito próxima da fronteira de um ambiente
estimulante, contributivo para a formação e as explosões de emoção
pouco ou nada controladas que propiciam um ambiente destrutivo de
quaisquer efeitos formativos.

A acrescentar a este permanente equilíbrio/desequilíbrio estão os


modelos prevalecentes nas competições mais mediáticas que têm
tendência a criar uma cultura de solução única, independentemente
das circunstâncias e quadros de formação que se pretendam
envolver.

ENTÃO, QUAIS OS ASPECTOS ESTIMULANTES DA COMPETIÇÃO PARA


A FORMAÇÃO DESPORTIVA.

A competição é o ponto de partida pois só depois de se terem


“inventado”, criado os jogos é que surgiu a necessidade de
preparação.

A actividade desportiva pretende ser um contributo para a formação


integral do cidadão e com o advento das sociedades modernas viu

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aumentar a sua importância como estímulo para uma melhor


qualidade de vida face ao crescendo do tempo de sedentarismo.

Os jogos desportivos, por outro lado, têm, em si mesmos, desafios de


oposição e de comparação estratégica que permitem ver a melhor
forma como se observa os acontecimentos e se decide por opções em
ambiente de permanente transformação.

O crescimento da importância do desporto como espectáculo de


entretenimento e a actividade económica passaram a introduzir
outros aspectos exclusivos e mais relacionados com o rendimento
desportivo expressos no aumento de competições.

Este contexto veio provocar uma procura sistemática de novas


formas de competição, de novos competidores, envolvendo um maior
número de intervenientes e meios de observação da actividade
desportiva, onde a televisão ganhou um espaço de realce.

A partir desta pequena resenha da importância progressiva e


diferenciada das provas desportivas e da competição estamos
perante um quadro de conflitualidade permanente.

As competições têm nos seniores a validade de comparar os níveis de


forma absoluta e relativa.

Os recordes são um processo de estímulo de superação absoluta


cujas evidências provocam admiração, identificação e desafio
permanente.

Os jogos, concursos, provas de todo o tipo, provocam condições de


competição relativa, criam condições de associação emblemática, de
afirmação induzida e uma adversidade quase permanente.

Estes aspectos dão às competições de seniores um carácter próximo


do drama e de oposição que transformam cada jogo num enorme e
decisivo desafio, onde os limites do racional são ultrapassados com
frequência.

Mas, para os jovens, mesmo tendo estas considerações sempre


próximas, a competição constitui um elemento de estímulo muito
importante na aprendizagem da auto regulação e no domínio das
manifestações emocionalmente complexas.

As competições permitem e são uma forma de expressão das


habilidades próprias e aprendidas, proporcionando um palco de
evidência estimulante.

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As competições decorrem fora do contexto de influência directa e


imediata dos treinadores constituindo uma experiência
insubstituível ao nível da tomada de decisões e da autonomia
que os participantes têm de assumir em cada contexto.

As competições permitem, em particular as colectivas, um contexto


de expressão de manifestações de coesão e de solidariedade
entre conjuntos que são um elemento transcendente na
sociabilização.

As provas desportivas vivem da comparação e permitem resultados


antagónicos, favoráveis à reflexão sobre o insucesso e o sucesso
num determinado momento e numa determinada actividade e
a forma de os encarar e resolver.

A participação numa competição desportiva constitui sempre um


desafio às capacidades dos participantes, avaliadas de formas
distintas, seja pelo resultado de superação individual ou de
grupos, seja pela avaliação de outros observadores, seja ainda
e sempre pela auto avaliação de cada um dos competidores.

A competição é sempre um elemento de referência para os


progressos na aprendizagem dos vários elementos inerentes ao
bom desempenho na modalidade, permitindo a verificação do domínio
de habilidades, de decisões e de regulação comportamental.

Ora, este resumido conjunto de desafios estimulantes advindos da


participação em competições não se manifestam só por si, pois o
ambiente emocional está em convulsão permanente com o
enquadramento proporcionado.

Claro que se a competição fosse de organização simples e voluntária,


fora de um contexto estruturado, as contradições emocionais eram
menores e resolúveis no micro cosmo da actividade pontual.

Mas, a participação em actividades organizadas por entidades cuja


vocação é promover quadros de competição estruturada para os
vários níveis, onde o modelo mais expressivo mediaticamente tem
tendência a exercer um certo predomínio.

No fundo, o processo de formação retro alimenta-se a partir deste


sistema de comparação, cujas consequências sobre a preparação é
directa e controlável, mas também contém em si elementos induzidos
e não dominados pelos próprios treinadores.

Os factores intrínsecos da competição interferem de uma forma


intensa sobre a postura dos jovens, seja num sentido agonista ou em

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estímulo de abandono, por motivos de frustração assumida


individualmente e, muitas vezes, em silêncio.

3. A COMPETIÇÃO TRANSPORTA EM SI “GENES” DE DESTRUIÇÃO DO


PROCESSO DE FORMAÇÃO DESPORTIVA

A competição é uma actividade humana e como tal tem também os


condimentos necessários à desvirtuação de comportamentos.

Em simultâneo, com os aspectos atrás referidos, a competição tem


elementos de antagonismo adverso que são propiciadores de um mau
ambiente formativo, o qual só tem campo de manobra se o
enquadramento não conseguir ter uma intervenção de recolocação
desses elementos.

Quer isto dizer que não se trata de boas vontades ou de pensar que
será possível isolar os ambientes a estas influências. Não, elas
existiram sempre e os jovens devem passar por elas, estando a
contradição dependente da forma como se abordam os problemas.

Na prática, eles não podem ser considerados como factores negativos


por si mesmos mas apenas e só aspectos de carga adversa mais
intensa cujas consequências estão dependentes do reforço ou forma
de abordagem que forem estimulados pelos treinadores e demais
elementos de enquadramento da formação.

A selectividade inerente à prática desportiva, mesmo que seja só pelo


resultado em si (ganhámos, logo é possível eu dizer que sou melhor
que tu) não constitui um aspecto sumamente negativo. Não, ela é
uma decorrência da actividade que não pode é significar segregação.

A selectividade tem de estar associada a um equilíbrio


formativo – permitir que os níveis semelhantes se inter estimulem –
e portanto pode permitir condições de estímulo ao progresso das
aprendizagens.

A vitória e a derrota são uma natural consequência da actividade


competitiva e não constituem um problema. A dificuldade vem da
forma como tratamos, desde o primeiro momento (ainda antes da
competição), essa mesma consequência.

Vitória, não se traduz em valor único e muito menos pode ser


resumida ao conceito de sucesso. Todos sabemos quantas vitórias
são motivos de frustração!

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Da mesma forma, a derrota não corresponde a uma avaliação directa


de fracasso, pois são demasiadas as experiências das consequências
positivas de um desaire desportivo.

A forma como os treinadores e o restante quadro de


envolvimento do processo de formação desportiva preparam e
provocam a reflexão e tratamento desta incontornável
consequência da actividade competitiva é que são responsáveis
pelo ambiente mais ou menos dramático que se encaram as
vitórias e as derrotas.

A adversidade pressuposta na competição, pois estão em presença


pelos menos dois competidores, provoca um ambiente de stress que
influência a predisposição para a agressividade.

As manifestações de agressividade controlado e dominada são


elementos importantes na superação dos comportamentos humanos
em actividade desportiva.

A emoção que os rodeia tem de ser sempre relativizada e não pode


assumir um carácter dramático, sob o risco de se tornar um factor de
ruptura social, manifestamente incontrolado, e de consequências
imprevisíveis.

De novo, a forma como o enquadramento for capaz de


controlar e dirigir a agressividade inerente a uma superação
desportiva é a determinante para se manter a actividade
competitiva de um ou de outro lado da fronteira da formação e
do comportamento de aprendizagem.

O estímulo de superação, de ser capaz de melhorar a sua prestação,


de manter um espírito de progresso e gosto pela perfeição podem
facilmente evoluir para um sentimento de “êxito acima de tudo e de
qualquer forma”.

Esta premissa de progresso é nuclear na actividade desportiva (e


humana) mas se se transformar em fito absoluto as condições de
ética e de respeito pelos valores humanos estarão sistematicamente
muito próximos de serem violados.

Ao invés, a insatisfação permanente, não relativizada, constitui um


forte condimento para o desânimo, abandono e sensação de
incapacidade permanente, características pouco desejáveis como
consequência de um processo que se pretende formativo.

A identificação emblemática, e a pertença a grupos que a competição


propicia, é um elemento formativo de invulgar importância pois

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poucas são as actividades humanas que facilitam estes


comportamentos.

Mas a actividade de grupos humanos pode assumir contornos


explosivos se perder a sua dinâmica interna como elemento motor e
passar a exprimir-se por sobreposição e antagonismo a outros.

A integração relativa dentro de um grupo e a comparação com outros


tem de ser reduzida à expressão pública de sucesso próprio –
conseguimos fazer uma grande actividade – e não ao esmagamento
dos outros – destruímos os adversários.

Incentivar a oposição negativa, cujo factor de agregação passa a


ser, apenas e só, a adversidade perante terceiros (só estamos juntos
porque existem os outros), não permite evidenciar os elementos
positivos de pertença a um grupo, essencial à aprendizagem de
sociabilização.

4. COMO POTENCIAR OS EFEITOS DA COMPETIÇÃO NO PROCESSO


DE FORMAÇÃO DESPORTIVA

A competição, conforme temos vindo a abordar, é uma experiência


muito importante para um jovem e tem uma enorme influência nos
seus valores, crenças, expectativas e atitudes.

O objectivo geral e intuitivo da competição é de superar os dados e


valores em presença, seja pela ultrapassagem de resultados
anteriores, seja pela simples comparação com os competidores
presentes.

A questão principal coloca-se que estamos perante um processo


formativo, logo é suposto estarmos perante um enquadramento
responsável pela direcção dos acontecimentos que rodeiam essa
actividade.

Vale isto por dizer que a competição tem de ser um elemento


controlado para poder intervir como catalizador da preparação dos
jovens.

Convém relembrar que a competição é por demais forte e atraente,


com claros contornos de “vivência selvagem”, para poder existir sem
intervenção reguladora.

É ainda de elementar reflexão ter em conta que a sua influência


indutiva tem um espaço amplo de interferência sobre a actividade de
treino, dirigindo sempre os estímulos de proximidade, sejam
“positivos ou negativos”.

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Se se deseja manter a direcção de formação, obrigatoriamente,


temos de influenciar a competição, em todos os seus aspectos, para
que o estímulo que ela introduz seja um factor de aceleração das
aprendizagens e da formação desportiva.

Retira-se daqui que os treinadores não se podem demitir de intervir


na formulação de soluções para as estruturas das competições para
jovens, mesmo que as circunstâncias sejam autoritárias e
expressamente segregadoras dessa acção.

Se não se intervém na fase inicial e depois se aceita participar, ou


pior, apenas e só temos por actividade competitiva a participação
naqueles quadros de jogos, estamos a criar condições de insucesso
no processo de formação.

O treino e a actividade competitiva estão sempre interligados e


exercem influência mutua, com a competição a ter uma evidência
mais activa, pois as suas consequências traduzem-se em resultados
públicos que ultrapassam a esfera do ambiente e do grupo de treino.

Esta expressão pública transporta para a actividade de formação


avaliações, sugestões, comentários e demais influências que podem
transtornar o processo formativo, que ainda por cima é de longo
prazo, ou seja as suas principais consequências só serão
determinadas em momentos (e em locais) muito distantes.

Portanto, esta consciência de que as competições têm um papel de


enorme influência na estrutura de preparação deve estar sempre
presente de forma a poder-se transformá-las em factores controlados
e de estímulo para o sucesso no processo formativo.

Para mais, no modelo de seniores, que está sempre presente, os


factores de preparação estão muito associados ao rendimento e este
está subjacente à participação nas competições, as quais determinam
toda amplitude do treino.

A actividade de preparação dos seniores estrutura-se em função do


modelo de competições e do calendário competitivo, traduzindo-se no
planeamento geral (quando se alcança a estabilidade da forma e se
provocam oscilações de preparação) até à unidade de exercício que
se quer cada vez mais próxima (mais simples e complexa) da
competição.

A facilidade com que se adopta este modelo advindo de uma


estrutura de competição similar é um desafio permanente aos

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treinadores para conseguir manter o primado formativo dos seus


jovens atletas.

Não se tenham ilusões que a competição interfere em absoluto sobre


a estruturação do treino e da preparação e que é necessário fazer
respeitar alguns aspectos para ela (competição) poder influenciar de
forma positiva a formação desportiva.

• OS QUADROS COMPETITIVOS TÊM DE SER DIFERENTES


CONSOANTE OS ESCALÕES.

No plano de preparação de jovens, que em unânime consideramos de


longo prazo, distinguimos Fases e Momentos distintos de formação,
com objectivos muito diferentes e metas de avaliação distintas.

Portanto, não pode haver modelo único de competições onde todos os


escalões encontrem actividades iguais, estrutura semelhante e
formalismo idêntico.

As actividades competitivas têm de estar em consonância com as


metas de formação que preconizamos paras diferentes Fases de
Formação.

Quando detectamos que a forma de competição e estrutura de


calendário são iguais para todos os escalões, estamos seguramente
em contradição com os elementos de formação atrás considerados.

Nos mais jovens, idades precoces de formação, as metas de


preparação multi desportiva, de evidência de habilidades gerais e de
demonstração de domínio de comportamentos, exigem estruturas de
competição onde seja possível expressar estes elementos.

Nos jovens que já integram a opção por uma modalidade e se


encontram nas fases de orientação desportiva, portanto em aquisição
específica dos elementos gerais de um determinada modalidade, têm
de ter competições onde o erro não seja determinante para a
progressão nos quadros, procurando criar condições de variação de
adversário, com calendários de curta duração, bons momentos de
interrupção e reflexão sobre a participação, e um formalismo simples
mas identificador da cultura da respectiva modalidade.

Os jovens que já se encontram em especialização ou seja estão na


fase de aprendizagem geral de aspectos especificos e determinantes
na estrutura futura do rendimento, devem encontrar competições de
carácter misto, ou seja, momentos onde o erro ainda possa
prevalecer sem influência nos níveis posteriores da competição e
momentos, de curta duração na época, onde o factor de selectividade

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no quadro competitivo já esteja enquadrado. O formalismo do


enquadramento tem de ser mais cuidado.

Para quem já se encontra nas Fases de treino dirigido para o


rendimento, obviamente que tem uma estrutura de competição
adequada às exigências futuras da competição, mas sem deixar de
ser diversificado para permitir que todos continuem a encontrar um
espaço de afirmação, porque a velocidade de maturação e de
afirmação de prestação desportiva tem uma enorme base de
variação.

• OS QUADROS COMPETITIVOS NÃO SE PODEM RESUMIR ÀS


PROPOSTAS DAS ENTIDADES OFICIAIS

Este aspecto é de uma importância crucial pois apesar de se


pertencer ao mesmo escalão etário e dos atletas poderem atingir
níveis semelhantes de prestação, existem aspectos próprios de cada
grupo que determinam variações significativas no quadro de
competições que devem experimentar.

Basta lembrar que ter um grupo de iniciados (no andebol, falamos de


jovens masculinos com 14 e 15 anos – os femininos 13-14) onde a
maioria é de primeiro ano e que começou no ano transacto é
manifestamente diferente de uma outra equipa de iniciados, de
segundo ano, e com 4 ou 5 épocas de preparação anterior.

A entidade responsável pela organização de actividades desportivas


não consegue criar quadros que tenham em conta esta especificidade
e características particulares.

Então compete a quem dirige o processo de encontrar e estruturar


soluções próprias, quer na organização autónoma de quadros
competitivos, quer na decisão sobre os quadros gerais em que
participa.

• OS QUADROS COMPETITIVOS SÃO PARA TODOS OS JOVENS


ATLETAS

Conceber a possibilidade de existirem competições durante o ano,


cuja “responsabilidade” determina a impossibilidade de participação
de todos os atletas de forma sistemática e que no final de uma época
correspondem a uma distinção elevada da quantidade de experiências
de jogo que os componentes do grupo apresentam é destituir-se do
papel de desenvolvimento equitativo que todos os atletas merecem e
exigem.

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Normalmente, estas atitudes estão muito relacionadas com o carácter


eliminatório que as competições apresentam e que colocam, com
demasiada frequência, o treinador na dúvida de benefício para o
grupo por evoluir para fases mais exigentes ou correndo o risco de o
conseguir fazendo participar jovens com níveis de prestação muito
diferentes.

No fundo, voltamos à avaliação sobre a característica dominante no


conjunto das provas em que se participa e o predomínio da formação
de longo prazo.

• A QUANTIDADE DE COMPETIÇÕES DEVE SER EQUILIBRADA


E COM RESPEITO PELAS NECESSIDADES DE RECUPERAÇÃO
E DE REFORÇO DA FORMAÇÃO

Os quadros de competição devem ter uma extensão ampla mas cuja


regularidade seja intermitente, ou seja, a duração das fases devem
ser curtas, com paragens também curtas.

A época desportiva, consoante se trata de escalões mais jovens, deve


ter uma densidade de actividades mais espaçadas e menos
correspondentes à ocupação contínua de fins-de-semana e feriados,
do que nos escalões jovens de mais idade.

As actividades de índole nacional devem ser muito esporádicas, ou


nem mesmo existir, para uma maior frequência e extensão quando
progridem no escalão etário.

• ENQUADRAMENTO FORMAL MAS DE ACORDO COM AS


EXPECTATIVAS DE FORMAÇÃO

Este é outro aspecto determinante pelo ponto de equilíbrio que se


tem de encontrar, pelo respeito e formalismo que estas actividades
têm sempre de possuir.

Por vezes, existe a tentação de quase não formalizar as competições


para os mais jovens, indicando que se tratam de escalões de
formação e, portanto, nãos precisam de ver respeitados alguns
aspectos essenciais.

Os jovens procuram nos modelos de adultos a sua afirmação e


identificação cultural, pelo que devem merecer o respeito da
formalidade base da actividade.

O respeito por estes aspectos não só se traduz numa maior seriedade


de quem organiza, como se potencia a formação e a identificação
cultural subjacente à actividade em que se participa.

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Por outro lado, a organização estruturada pode reduzir a margem de


manobra para interferências decorrentes de uma participação de
adultos menos organizada e desrespeitadora.

A frequência com que não se identifica o árbitro, não se promove o


resultado de forma expressa, não se respeitam as apresentações e o
código formal, como os momentos de interrupção e cumprimento dos
adversários são factores de “anarquia” contributivos para uma mais
fácil degeneração do ambiente de formação.

A dificuldade maior está no ponto de equilíbrio entre um excesso de


formalismo que contribua para o aumento de stress e drama naquela
actividade e o formalismo de respeito pela formação a que os jovens
estão sujeitos.

A expressão pública de inicio da actividade, em ambiente onde os


treinadores demonstram estar em formação – ambiente de
cooperação e de convívio com os outros participantes (treinadores,
árbitros, pais …), indicações públicas sobre os comportamentos em
aprendizagem, reprimendas para comportamentos de desvio, etc.
não são compatíveis com o processamento de actividades
inorganizadas e destituídas de qualquer formalismo de
comportamentos

5. COMO REDUZIR OS PREJUÍZOS DA COMPETIÇÃO NO PROCESSO


DE FORMAÇÃO DESPORTIVA

Assim, como se indicam os factores de potenciação dos efeitos da


competição, também devemos ter presente os aspectos que mais
facilmente podem prejudicar a formação desportiva e que a
competição transporta consigo mesmo.

Esta consciência pode permitir abordar previamente os problemas e


transformar todos esses elementos, acabando por os transferir para
os aspectos positivos de formação.

Existem consequências adversas que, sendo bem abordadas, podem


assumir-se como elementos de importante influência positiva para
uma boa formação dos jovens.

• EVITAR PARTICIPAR, E MESMO CONTESTAR, A


REPRODUÇÃO DAS COMPETIÇÕES DE TIPO SENIORES
(selectivas, de acumulação estratégica e de longa duração)
• FORMALIDADES INSTITUCIONAIS MUITO EXPRESSIVAS
COM PARTICULAR INCIDÊNCIA SOBRE O EFEITO DO
RESULTADO (idolatrar os vencedores)

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• AMBIENTE DE PROMOÇÃO ADVERSO COM ESTÍMULOS DE


ANTAGONISMO PRÓXIMOS DOS LIMITES ACEITÁVEIS DE
AGRESSIVIDADE (estímulo à “guerra” contra os
adversários).
• COMPORTAMENTOS INDIVIDUAIS MUITO EXCITADOS E COM
FALTA DE RESPEITABILIDADE POR QUALQUER UM DOS
PARTICIPANTES.

Para além destes pontos de reflexão que devem merecer uma


avaliação prévia, existem algumas considerações que podem
ajudar a uma análise posterior à participação num quadro de
competições.

Este processo obrigatoriamente tem de incidir sobre o


comportamento do treinador, em auto avaliação, e também sobre
o comportamento dos atletas, de igual modo por auto avaliação
mas também por reflexão conjunta e dirigida.

Ainda se podem isolar outros elementos que merecem ser


avaliados mas cujo processo exige uma maior contenção face ao
pouco domínio que o treinador tem sobre esses elementos,
nomeadamente os dirigentes, os pais e os adeptos.

Isto quer dizer que as diferentes análises vão pedir diferentes


actuações, não podendo, no entanto, passar em claro, sob o risco
de se perder o controlo e o efeito do processo de competição sobre
a preparação dos atletas.

Individualmente, é sempre positivo reflectir sobre o meu estado


de irritação durante o jogo, e a quem dirigi essa irritação – aos
atletas, ao árbitro, ao adversário, aos pais, etc.

O resultado obtido foi consequência do decorrer do jogo ou eu


preocupei-me em arranjar “truques”, “invenções” fora do
processo de treino, com sacrifico de jovens não terem participado
na competição (apesar de estar previsto), com desafios para
influenciar o decorrer do jogo, desrespeito por condições
regulamentares., etc.

A minha relação foi essencialmente com os meus atletas, num


clima positivo, ou muitas vezes teci considerações públicas, fiz
avaliações de comportamento, etc.

Estes aspectos poderão ser indicadores para uma reflexão positiva


sobre os efeitos da competição de modo a torná-la, mesmo após
acontecimentos menos favoráveis, num estímulo de fomento da
formação desportiva de qualidade.

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6. REFLEXÃO SOBRE O QUADRO DE COMPETIÇÕES DE ANDEBOL


PARA OS ESCALÕES JOVENS

A minha responsabilidade como director técnico (ou vice-


presidente da área desportiva) conferiu-me o dever de tentar
aplicar estes princípios num quadro institucional de organização
das actividades desportivas de uma modalidade com grande
implantação no país.

É evidente que não se trata só de criar o quadro de competições


para garantir que o processo seja maioritariamente formativo, pois
sem existir uma formação de agentes desportivos adequada, um
bom tratamento das consequências de informativa selectiva e
cuidada sobre os principais acontecimentos competitivos, não
potencializamos os ambientes de formação.

Talvez venha ao caso os exemplos pontuais de acção sobre outros


elementos que não estão sujeitos ao controlo directo da estrutura
para permitir identificar as contradições que a prática desportiva
de jovens sempre comporta.

• Em primeiro lugar, os meios materiais disponíveis nem


sempre são de modo a garantir as condições suficientes para
promover as actividades adequadas.

• Em segundo lugar, a formação permanente e persistente dos


treinadores, em particular na relação directa com a
actividade é um elemento de transcendente importância
para conseguir obter condições formais de estímulo da
formação.

• Em terceiro lugar a informação sobre o evento e as


mensagens subjacentes, quer na promoção inicial quer na
avaliação decorrente, são factores fundamentais para a
continuidade do processo.

• Em quarto lugar, as diferenças advindas das distinções entre


os dois sexos, quer por terem escalões etários diferentes (os
femininos têm menos um escalão e mudam de escalão etário
um ano mais cedo), quer ainda por serem em número de
praticantes muito díspares (apesar de ser uma modalidade
com mais de seis mil praticantes femininos não deixam de
constituir um quinto das atletas federados em andebol) quer
ainda porque os meios disponibilizados pelas entidades de
enquadramento são muito distintos (os valores

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disponibilizados, assim como os critérios de poupança são


sempre mais penalizantes para os femininos).

A criação de condições de participação activa dos vários níveis de


intervenção no processo formativo é decisiva para um bom efeito
destas soluções competitivas que, por si sós, não são mais que
oportunidades, positivas, mas apenas e só hipóteses.

O andebol tem cerca de trinta mil praticantes federados (em 1990


tinha à volta de 12500) distribuídos, ainda que de forma desigual,
por todo o país e divididos em 6 escalões masculinos (para além
dos seniores) – Bambis (6-9 anos); Minis (10-11); Infantis (12-
13); Iniciados (14-15); Juvenis (16-17) e Juniores (19-19) e cinco
escalões femininos – Bambis (6-9); Infantis (10-12); Iniciados
(13-14); Juvenis (15-16); Juniores (17-18), escalões
recentemente adoptados mas cuja influência sobre os quadros de
competição a seguir descritos têm importância considerada
insignificante.

Competições para Bambis – A principal actividade para os


Bambis é constituída pelo Projecto FestAnd, ou seja “Festas de
Andebol” que acontecem uma vez por mês em cada região (todos
os meses), normalmente de organização de um clube, que tem de
receber os outros, devendo uma percentagem elevada de clubes
organizarem o seu próprio FestAnd e um FestAnd para os outros.

O FestAnd é constituído por um conjunto de estações desportivas


por onde todos os jovens têm de passar.

Essas estações abordam as várias modalidades e promovem


condições para demonstração de habilidades e jogos desportivos,
onde naturalmente o Andebol tem uma imagem de influência
atractiva.

No fundo, a partir da modalidade andebol cria-se um espaço de


experiência de várias actividades.

Por exemplo, num FestAnd organizado na Universidade Lusófona


pelos alunos do 4º ano tínhamos uma sequência de actividades
enquadradas por especialistas de várias disciplinas desportivas.

Nesse FestAnd, os jovens dos Clubes de Lisboa encontraram uma


estação de “Escalada”, uma estação de ténis, um espaço de
patinagem, um espaço de habilidades gímnicas, uma zona de
“ginástica aeróbica”, uma zona de lançamento ao cesto de
basquetebol, um campo de futebol (jogo 5x5), um complexo de

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A IMPORTÂNCIA DA COMPETIÇÃO NA FORMAÇÃO DO JOVEM ATLETA – UM PERMANENTE DESAFIO Carlos Cruz

habilidades de Andebol, um espaço de judo, um campo de Andebol


(jogo 5x5) e uma zona de desenho sobre as actividades.

Os grupos de cinco jovens, transitavam de estações num processo


rotativo de duas voltas com intervalo para descanso e
alimentação.

Este processo tinha duas acções nacionais do tipo de


acampamento de férias, onde se acrescentam actividades de
índole mais cultural (visitas a locais, assistência a espectáculos) e
de convívio com atletas de alto nível, quer em actividades
desportivas quer em processo de entrevista colectiva.

Competições de Minis – As actividades são divididas em dois


períodos anuais, até ao Carnaval e depois do Carnaval. No
primeiro, o processo subdivide-se em actividades relacionadas com
Andebol de 5 (campos mais reduzidos, com menor número de
jogadores e que facilitam a participação de todos os
intervenientes, num maior número de jogos por actividade) e
habilidades próprias do Andebol, onde o livre de 5 metros tem
destaque.

A segunda parte da época consiste numa transição para o Andebol


de 7, ainda que o processo organizativo seja do mesmo formato,
através de concentrações e proporcionando espaços de jogo a 7 e
espaços do jogo a 5.

O processo é realizado a nível local e no final de cada período


(antes e após Carnaval) estão previstos Encontros Inter-regionais,
de novo do tipo de “acantonamentos”, onde se realizam outras
actividades para além das desportivas. Estes encontros têm uma
previsão de 28 equipas e a única limitação é o tempo de inscrição
e a capacidade organizativa, procurando-se evitar exclusões. Os
quadros de competições são estruturados na base de permitir igual
número de jogos a todos os intervenientes, e onde se apuram 5
vencedores, numa estrutura de competição que dilui o efeito de
apuramento.

Competições de Infantis – As actividades competitivas


decorrem a nível regional mas os quadros de competição têm
obrigações de vária ordem, seja organizativas – número de jogos
mínimos que cada equipa tem de realizar durante o ano, fases
iniciais idênticas para todos os participantes e sem elementos de
eliminação (estrutura por ondas de fases), as quais têm grupos
pequenos (e portanto de curta duração) e servem para variar os
adversários, enquanto garantem dois aspectos – os intervalos de

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A IMPORTÂNCIA DA COMPETIÇÃO NA FORMAÇÃO DO JOVEM ATLETA – UM PERMANENTE DESAFIO Carlos Cruz

recuperação e de variação das actividades e o espaço para


iniciativas autónomas da entidade de enquadramento.

A actividade nacional resumia-se a um Encontro Nacional de


Infantis, que sucedia nas férias da Páscoa e que foi crescendo até
ao suporte máximo de actividade para 42 equipas, em quatro dias.

A participação tinha apenas critérios de inscrição e de escolha para


todas as regiões poderem estar presentes, mas sem números
mínimos ou máximos. Numa fase sequente já se tinha uma
estrutura de dois encontros mas as capacidades de organização
estavam próximas do seu limite.

A actividade tinha as mesmas características dos Encontros de


Minis, com maior formalidade na competição e na organização das
actividades, pois em paralelo com os jogos existia a Prova da
melhor “claque” (cada equipa escolhia outro clube por quem tinha
de fazer claque e as coreografias e cânticos eram sujeitos à
votação de todos, celebrando-se as melhores cinco claques do
encontro que no último dia faziam uma demonstração pública);
outra actividade era a “noite cultural” onde as equipas se
inscreviam para apresentação de pequenas representações
teatrais ou musicais, num processo colectivo de convívio nocturno
e de ambiente de festa muito interessante.

Os Encontros, invariavelmente, eram realizados em rotação por


todo o país e iniciavam-se sempre por um desfile das equipas
participantes nas principais artérias da localidade de recepção,
num ambiente de boas vindas aos mais de 600 jovens que se
concentravam nessas actividades.

A parte desportiva obedecia aos mesmos princípios de igual


número de jogos, variação de adversários e apuramento de cinco
vencedores.

No enquadramento processava-se acção para árbitros jovens, que


estando em processo de formação, após escolha da diferentes
regiões, permitiam um enquadramento mais formal e diminuía as
contingências de contestação que mesmo assim acabavam por
acontecer.

De igual modo, os treinadores tinham acções de formação, no dia


inicial, com dois conteúdos particulares – os objectivos do
encontro e a estruturação de actividades (existência de um
regulamento designado técnico-pedagógico onde se reuniam três
tipos de condições e obrigações; a) todos os elementos tinham de
jogar em todos os jogos um tempo mínimo; b) todos os jogos

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A IMPORTÂNCIA DA COMPETIÇÃO NA FORMAÇÃO DO JOVEM ATLETA – UM PERMANENTE DESAFIO Carlos Cruz

tinham dois períodos onde se deveria jogar em determinada


forma, por exemplo em marcação individual; c) os jogos
terminavam por concursos de livres de 7 metros de inscrição livre
e avaliação individual).

O segundo momento de formação dos treinadores, contava


normalmente com a presença de um dos técnicos nacionais,
dirigia-se para a metodologia de jogo neste escalão etário.

Competições de Iniciados – As actividades competitivas


decorrem a nível regional e os quadros de competição têm
obrigações de vária ordem, seja organizativas – número de jogos
mínimos que cada equipa tem de realizar durante o ano, fases
iniciais idênticas para todos os participantes e sem elementos de
eliminação (estrutura por ondas de fases), as quais têm grupos
pequenos (e portanto de curta duração) e servem para variar os
adversários, enquanto garantem dois aspectos – os intervalos de
recuperação e de variação das actividades e o espaço para
iniciativas autónomas da entidade de enquadramento.

Posteriormente, passava-se a uma fase inter-regional que decorria


no processo de fins-de-semana, em concentração, e que serviam
de apuramento para fases seguintes. Estes processos estavam
dependentes do número de equipas por região e das etapas
subsequentes.

As provas estruturavam-se para produzir o apuramento de mais


de pelo menos duas equipas que transitavam para nova
concentração numa máximo de quatro momentos durante o ano.

Culminava com uma Fase designada de final onde participavam as


representações das regiões autónomas e aqui, pela primeira vez
temos um campeonato nacional (aos 15 anos), apurado num
processo competitivo de fim-de-semana, com um enquadramento
formal activo, e com actividades de formação intensa. Por
exemplo, os árbitros candidatos à categoria de Nacionais, com Júri
de Exame e formação associada. Presença de técnicos nacionais
para observação e indicações complementares. Instituição de
supervisor técnico que enquadrava a aplicação de um regulamento
técnico-pedagógico de limitação das competições (partes em
marcação individual, com substituições pedagógicas,
impossibilidade de defesas mistas, obrigação de participação
integral de todos os inscritos na competição).

Competições de Juvenis – As actividades competitivas decorrem


a nível nacional e são constituídas por um número de 4 zonas, e
várias fases. O começo de época era de recomposição das zonas,

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A IMPORTÂNCIA DA COMPETIÇÃO NA FORMAÇÃO DO JOVEM ATLETA – UM PERMANENTE DESAFIO Carlos Cruz

através de jogos por séries que permitiam minorar o efeito da


transição de escalões etários e, assim, incluir algumas equipas
com valor, por passagem de iniciados a juvenis, conseguindo-se
que esse clubes demonstrassem capacidade para entrar, de
imediato, na competição nacional.

As fases seguintes eram constituídas por séries de 8 que, jogando


entre si, tinham também uma fase cruzada, ou seja um jogo com
cada um dos adversários da zona mais próxima, permitindo uma
variação ampla de adversários (cada equipa jogava no mínimo
com 15 clubes diferentes) e aproximando o valor relativo das
classificações para as fase sequentes (as passagens eram
garantidas pelos melhores pontuados em cada zona, para além do
primeiro). A segunda fase, juntava os primeiros de cada zona, em
duas grandes regiões (norte e sul), enquanto os restantes
continuavam a sua competição para saber a distribuição para fase
de requalificação da época seguinte (portanto não havia
despromoções automáticas). Das grandes regiões passava-se à
Fase Final, esta em concentração, com oito clubes, os qualificados
do continente mais os representantes das regiões autónomas.

O complemento deste campeonato nacional era feito por uma


prova designada de Taça Nacional onde todas as equipas de
Juvenis (16 e 17 anos) tinham de participar em regime de
eliminação directa. As primeiras cinco eliminatórias decorriam em
base distrital mas já com a obrigação de ser visitante para quem
estivesse no Campeonato Nacional. Este processo permitia que
todos os clubes encontrassem formas de competição cruzada e
diversificada, com a possibilidade de se compararem com os
melhores praticantes do escalão.

A competição tinha regulamentos particulares, nos quais


sobressaía a impossibilidade de defesas mistas (uma parte à zona
e outra individual) evitando que os melhores atletas passem toda
a época sujeitos ao mesmo tipo de problemas e a interdição de
“substituições defesa-ataque”, não permitindo que alguns atletas
já só participassem numa das fases do jogo.

Competições de Juniores – Estamos em presença de uma


competição tipicamente de rendimento realizada por duas grandes
regiões e sem quaisquer limitações técnico-regulamentares. A
única diferença era a introdução da fase de recuperação de lugares
realizada no inicio de época e que permitia a correcção (ainda que
pontual) das variações de escalão etário.

A competição tinha apenas e só duas fases, a de região e a Fase


final em simultâneo com a fase de requalificação para a época

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A IMPORTÂNCIA DA COMPETIÇÃO NA FORMAÇÃO DO JOVEM ATLETA – UM PERMANENTE DESAFIO Carlos Cruz

seguinte (também não existiam despromoções automáticas). As


alterações eram previstas no quadro de calendário, com vários
momentos em jornadas duplas, para aumentar a intensidade de
alguma das fases, onde se concentravam as equipas mais
apetrechadas, já que nos Juniores a concentração de valores
começa a ser acentuada.

A fase final teve algumas soluções distintas, desde serem apenas


quatro clubes em quatro voltas até oito clubes que transportavam
os pontos dos jogos realizados entre si na fase de região.

Os juniores também tinha a Prova de Taça Nacional, ainda que


aqui a participação fosse apenas destinada aos oito melhores da
fase de regiões (quando iam 8 à fase final, havia uma eliminatória
prévia para oito clubes, envolvendo-se desta forma 12 equipas).

À descrição deste quadro de competições resta acrescentar o


efeito de conjugação das provas e actividades de Selecções, que
no caso dos Iniciados e Juvenis tinham uma competição Inter
Associações que se processava ao longo do ano, para uma
concentração final com as oito ou dez associações classificadas
(tempos houve em que nos Iniciados estavam presentes as 20
Associações Distritais, durante os designados “Torneios Sport
Goofy”).

Enquanto os Juvenis e Juniores entravam em processos imediatos


de preparação de equipas nacionais, normalmente abrangendo
vinte a vinte e cinco atletas, os iniciados tinham concentrações
regionais, inter regionais e nacionais, para uma escolha final de,
aproximadamente, vinte e oito a trinta e dois atletas, mas com
uma referência de registo de cerca de cento e oitenta.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes de tecer algumas indicações sobre o apresentado convém


relembrar que a influência dos quadros de competição sobre o
planeamento da preparação dos atletas é inevitável, competindo
ao treinador a sua transformação em factores de formação.

As estruturas organizativas responsáveis pela elaboração do


quadro de competições podem favorecer essa influência mas não
só não resolvem por si como, se não contarem com a atitude pró
activa dos treinadores, as competições serão sempre marcadas
pelas influências dos quadros mais mediáticos.

Hoje, as estruturas internacionais começam a estar longe da


influência dos treinadores e surgem soluções de competição entre

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A IMPORTÂNCIA DA COMPETIÇÃO NA FORMAÇÃO DO JOVEM ATLETA – UM PERMANENTE DESAFIO Carlos Cruz

selecções de atletas cada vez mais jovens que colocam em


consideração de risco todo o processo formativo.

No Andebol, já está em vigor o Campeonato do Mundo de Sub 17


anos (significa iniciar os processo de Selecção pelo menos aos 16
anos, mas ninguém quer preparar equipas só com um ano) mas
no futebol as competições europeias já têm provas de Sub 16 e
está em fase de estruturação competições internacionais para
atletas ainda mais jovens.

Os processos estão em mudança permanente, as descobertas


científicas são cada vez mais amplas, mas há considerandos que
os tempos demonstram ser inquestionáveis, ou será que uma
criança já não é uma criança.

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Garganta – FCDEF – Porto 2000

Outubro 2005

Carlos Cruz

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