You are on page 1of 11

Segurança e efetividade do exercício de agachamento*

Safety and Effectiveness of the squat exercise

DANILO FERNANDES DE CAMARGO**

RESUMO abdominal pressure, what it generates greater


stability of the spine.
O agachamento é um dos exercícios mais
conhecidos e utilizados na musculação, mas Key words: Squat, Knee, Lumbar Spine,
algumas controvérsias sobre a prescrição deste Rehabilitation.
exercício surgiram ao longo dos anos. As
principais fontes de busca para esta revisão
foram as base de dados PubMed e MedLine ovid. INTRODUÇÃO
Pode-se concluir que o agachamento é um ótimo
exercício para o desenvolvimento dos quadríceps, O agachamento é um típico exercício com
isquiotibiais e glúteos máximo. As forças barra onde o indivíduo inicia o movimento com o
compressivas tibiofemurais são de grande corpo ereto e com a barra nas costas, então
importância em estabilizar o joelho, fazendo do flexiona o joelho e o quadril descendo até que as
agachamento um ótimo exercício na reabilitação coxas fiquem aproximadamente paralelas ao solo.
do ligamento cruzado anterior e ligamento É frequentemente utilizado para o
cruzado posterior (LCP). Para o LCP e patela, desenvolvimento da musculatura do quadril,
recomenda-se limitar a flexão do joelho em 0-50º. joelho e coluna (WRETENBERG et al., 1996).
Não há porque impedir que indivíduos com Ao longo dos anos surgiram algumas
joelhos saudáveis executem o agachamento controvérsias sobre a segurança do exercício de
completo. A coluna deve permanecer ereta agachamento, principalmente sobre a
durante todo o exercício e a manobra de Valsalva possibilidade de lesão sobre as articulações do
e o uso de cintos abdominais mostram-se joelho e coluna lombar (CHANDLER & MICHAEL,
eficientes em promover pressão intra-abdominal, 1991).
o que gera maior estabilidade da coluna. Segundo CAMPOS (2002), o
agachamento é associado a diversos tipos de
Palavras-chave: Agachamento, Joelho, Coluna lesões, que na maioria das vezes são causadas
Lombar, Reabilitação. por uma técnica de execução precária e/ou por
falta de estrutura muscular das articulações mais
exigidas. Além disso, ESCAMILLA et al. (1998)
ABSTRACT relata que as estimativas de valores altos na
tensão em ligamentos e ossos verificados nos
The squat is among the more known and agachamentos, eram devidas aos modelos
used exercises in resistance training, but some biomecânicos que foram utilizados, devendo-se
controversies about the prescription of this então analisar com cautela qualquer tipo de
exercise had appeared through the years. The pesquisa sobre o tema.
main sources of search for this revision had been O exercício de agachamento é um
the database PubMed and MedLine ovid. It can importante instrumento em treinamento esportivo,
be concluded that the squat is an excellent condicionamento físico e reabilitação física, tanto
exercise for the development of quadriceps, que tem se tornado parte integrante da maioria
hamstrings and gluteus maximus. Tibiofemoral dos programas de fortalecimento de membros
compressive forces have great importance in inferiores e pós operatório de ligamento cruzado
stabilizing the knee, becoming the squat an anterior. Embora existam controvérsias em torno
excellent exercise in the rehabilitation of anterior de sua segurança, a maioria das pesquisas
cruciate ligament and posterior cruciate ligament concorda que este exercício é tão seguro quanto
(PCL). For the PCL and patella, it is efetivo se realizado corretamente (FRY et al,
recommended to squat between 0-50º knee 2003; SALEM et al, 2003).
flexion. It does not have because to hinder that
individuals with healthy knees realize full squats.
The spine must remain erect during the exercise
and the Valsalva maneuver and the use of
abdominal belts reveal efficient in promote intra-

*Artigo de revisão desenvolvido como requisito para obtenção do diploma de Pós-Graduação Lato-Sensu em Fisiologia do Exercício e
Treinamento Resistido na Saúde, na Doença e no Envelhecimento, IBEP/CECAFI-FMUSP, São Paulo-SP.
**Professor de Educação Física - Formado pela Faculdade de Educação Física da Associação Cristã de Moços de Sorocaba
Técnico em Musculação - Federação Paulista de Musculação – FEPAM/NABBA Brasil
E-mail: danilofc@ibest.com.br
OBJETIVO em corridas, saltos e levantamentos. O
movimento e o posicionamento deste exercício
O objetivo desta revisão foi buscar na também são fundamentais para muitas outras
literatura evidências que demonstrem a atividades e situações do dia-a-dia como, por
segurança e efetividade do exercício de exemplo, sentar e levantar de uma cadeira ou
agachamento tanto como exercício para pegar um objeto no chão (FRY et al, 2003;
preparação de atletas e desenvolvimento da ESCAMILLA, 2001a; McCAW & MELROSE,
musculatura de membros inferiores e coluna 1999).
quanto como instrumento de fortalecimento e Existem algumas variações na realização
reabilitação de indivíduos com patologias ou pós- do agachamento com relação ao posicionamento
operatório do joelho. das pernas, dos pés e das mãos para empunhar
a barra. Mas, de forma geral, a execução deste
exercício segue o mesmo molde. O indivíduo se
MATERIAIS E MÉTODOS coloca em pé, com os pés afastados, mantendo-
os aproximadamente à linha dos trocânteres. Os
Para esta revisão foram utilizadas obras pés levemente abduzidos. A barra se apóia sobre
bibliográficas de propriedade do autor, assim os ombros, aproximadamente na linha das
como as bases de dados PubMed através do site espinhas das escápulas. As mãos empunham a
www.pubmed.gov e MedLine Ovid através do site barra no ponto entre os ombros e o final da barra.
www.portaldapesquisa.com.br no período de Estando o indivíduo posicionado corretamente
Dezembro de 2007 à Fevereiro de 2008. Para a inicia-se o movimento. O executante deve
busca foram utilizados os termos “squat”, “squat flexionar o joelho e o quadril de maneira que a
and knee” e “squat and spine”, onde foram parte posterior da coxa toque as panturrilhas. A
selecionadas evidências publicadas a partir de cabeça permanece elevada, devendo-se olhar
1985 até os dias atuais, sendo tanto estudos para frente durante todo o exercício. As costas
experimentais quanto revisões que citaram o devem permanecer eretas. Voltar à posição
exercício de agachamento como foco de suas inicial, realizando a extensão dos joelhos, quadril
pesquisas. e tornozelo (CAMPOS, 2002).
A realização do agachamento pode ser
feita variando o grau de flexão do joelho, como o
REVISÃO DE LITERATURA meio-agachamento ou o agachamento completo.
O meio-agachamento ocorre quando o indivíduo
O Agachamento descende até que as coxas estejam paralelas ao
O agachamento é um dos mais solo com aproximadamente 90º de flexão do
desafiantes, exigentes e completos exercícios da joelho. O agachamento completo ocorre quando
musculação, pois envolve um elevado número de se agacha o máximo possível até a porção
articulações e músculos, consistindo em um posterior da coxa e as pernas tenham contato
excelente meio de fortalecer os músculos da entre eles. O meio-agachamento é normalmente
coxa, do quadril e outros inúmeros coadjuvantes preferido e recomendado para atletas em
que atuam na realização do movimento. Os treinamento ou pacientes em reabilitação
americanos consideram o agachamento como um (CHANDLER & MICHAEL, 1991).
dos exercícios básicos da cultura física e o mais Ao longo dos anos gerou-se uma
eficiente para os membros inferiores. polêmica em torno do agachamento,
(GUIMARÃES NETO, 1999; RODRIGUES & principalmente com relação à probabilidade de
COSTA, 1999). lesões articulares decorridas de sua realização.
Realizar o agachamento promove um Entretanto, CHANDLER et al. (2008) cita que
importante estimulo para o desenvolvimento dos qualquer exercício resistido realizado de forma
músculos extensores do joelho e quadril (EBBEN inapropriada pode resultar em lesão. A lesão
et al., 2000). Sendo considerado um exercício pode ocorrer devido ao excesso no volume de
fundamental na musculação, o aumento da força treinamento, cargas excessivas ou uso de uma
de todos os músculos dos membros inferiores forma imprópria para realização do exercício.
tem sido identificado como alvo do agachamento, Sendo assim, a técnica do movimento é
incluindo o quadríceps, isquiotibiais, glúteos e primordial. Algumas regras devem ser seguidas
musculatura lombar (BAUER et al., 1999). para a realização do agachamento, sendo elas o
O exercício de agachamento é uma parte uso de calçados apropriados; controle total do
integrante dos programas de treinamento de força movimento na fase excêntrica; a fase concêntrica
e condicionamento para muitos esportes que pode ser realizada em varias velocidades, mas
requerem altos níveis de força e explosão, como sempre controladas; expirar após a parte mais
futebol, powerlifting, fisiculturismo e levantamento difícil da fase concêntrica; evitar trancos ou
de peso olímpico. O agachamento fortalece torções na posição agachada; manter a curvatura
principalmente a musculatura do quadril, coxa e lombar normal com a coluna ereta; manter toda a
costas, que são os músculos mais importantes sola do pé apoiada no solo; os joelhos não devem

2
passar muito a ponta dos pés, um pouco é MCIV. Esta menor atividade do RF pode ser
normal; considerar a fadiga um fator de risco no explicada devido a sua função bi-articular tanto
agachamento e manter sua realização correta ou como extensor do joelho quanto como flexor do
parar o exercício. quadril. Comparado entre eles, o VM e o VL
De acordo com STUART et al. (1996), ao produziram aproximadamente a mesma atividade
analisar os membros inferiores, podem-se definir EMG.
dois tipos de exercícios, sendo eles exercícios em McCAW & MELROSE (1999)
cadeia cinética fechada (ECCF) e exercícios em desenvolveram um estudo para analisar se a
cadeia cinética aberta (ECCA). Os ECCF são carga utilizada no agachamento e a distância de
aqueles realizados apoiando a sola do pé sobre o posicionamento entre os pés afetariam a ativação
solo ou plataforma e o movimento do joelho é muscular. Foi verificado que para o quadríceps,
acompanhado pelo movimento do quadril e do realizar o exercício com 75% de 1RM promove
tornozelo, como o agachamento ou leg-press. Já uma maior ativação em comparação com o
os ECCA são realizados com o pé livre de apoios levantamento com 60% de 1RM e, nas três
e somente o joelho realiza movimento, como a distâncias entre os pés, que eram posicionados
mesa extensora ou a mesa flexora. Esta próximos, na distância dos ombros e afastados
informação é de grande importância no que diz não demonstraram diferença significativa na
respeito a protocolos de reabilitação do joelho e ativação tanto do RF quanto do VM e VL. Os
será abordado com maior ênfase ao longo desta músculos bíceps femoral (BF) e glúteos máximo
revisão. (GM) foram mais ativados com cargas maiores e
com os pés mais afastados, entretanto, o
Atuação sobre o joelho aumento da carga utilizada demonstrou uma
O exercício de agachamento é maior importância na ativação destes músculos
utilizado há muitas décadas pelos praticantes de comparada à variação na distância entre os pés.
musculação e de treinamento esportivo, No estudo de CATERISANO et al. (2002),
objetivando o fortalecimento dos músculos dos 10 indivíduos realizaram o agachamento variando
membros inferiores e ganho de massa muscular o grau de flexão do joelho a fim de se verificar o
nestes. Infelizmente, este movimento tem sido percentual de participação dos músculos VM, VL,
vítima de muitas incorreções quanto a sua BF e GM no levantamento. Não houve diferença
realização nos aspectos de solicitação muscular e significativa na atuação dos músculos VM, VL e
ângulos a serem adotados durante a sua BF para as três variações do agachamento, que
execução. Em conformidade com os avanços eram parcial, paralelo e completo tanto na fase
científicos nesta área, pode-se afirmar que muitas concêntrica quanto excêntrica do movimento.
destas incorreções são fundamentadas apenas Exceção apenas para o VM durante o
em hipóteses ou realização de forma não agachamento completo na fase concêntrica, que
otimizada deste exercício, tanto no que diz diminui sua participação para 19,29 ± 6,20% (p <
respeito aos níveis de solicitação muscular em 0,05) comparado ao agachamento parcial e
decorrência dos graus de flexão dos segmentos, paralelo, onde o VM demonstrou uma
quanto das possíveis lesões no joelho quando participação de 26,70 ± 7,34% e 28,85 ± 9,97%
adotados ângulos superiores a 90º respectivamente. Já o músculo GM foi o que
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2005). demonstrou maior variação no percentual de
contribuição, saindo de 26,81 ± 8,02% e 27,41 ±
-Ativação Muscular 13,83% no agachamento parcial e paralelo,
Para determinar quais músculos estão respectivamente, e chegando a 40,50 ± 13,83%
atuando durante o agachamento e em que grau é (p < 0,05) de contribuição no agachamento
necessário quantificar a atividade muscular completo na fase concêntrica do movimento. Não
através do uso de Eletromiografia. ESCAMILLA houve diferença significativa no percentual de
(2001b) realizou uma revisão com 16 estudos que contribuição do GM na fase excêntrica do
tinham quantificado a atividade muscular sobre o movimento.
joelho durante o agachamento. O autor verificou ESCAMILLA et al. (2001c) realizou um
que a atividade eletromiográfica (EMG) do estudo comparativo entre o agachamento e o leg-
quadríceps progressivamente aumentou press para verificar se os diversos
conforme o joelho flexionava e diminuía conforme posicionamentos dos pés e a distância entre as
estendia, com picos de atividade ocorrendo com pernas teriam efeitos sobre a ativação muscular.
aproximadamente 80-90º de flexão do joelho. O Não houve diferenças significativas entre os dois
pico de ativação dos isquiotibiais ocorreu entre posicionamentos dos pés, que eram apontados
50-70º de flexão do joelho. ISEAR et al. (1997) para frente à aproximadamente 0º e abduzidos a
reportou que o vasto medial (VM) e o vasto lateral aproximadamente 30º. Durante a extensão do
(VL) demonstraram uma ativação de 68% e 63% joelho o agachamento gerou maior atividade do
da máxima contração isométrica voluntária reto femoral que o leg-press com os pés apoiados
(MCIV) respectivamente, enquanto que a na parte alta da plataforma e também apresentou
atividade EMG do reto femural (RF) foi de 48% da maior ativação dos vastos medial e lateral

3
comparados ao leg-press alto e baixo. Não houve mesa flexora e no stiff, indicando que estes
diferença na ativação tanto do quadríceps quanto seriam mais efetivos na solicitação dos
dos isquiotibiais entre manter as pernas mais isquiotibiais.
próximas ou mais abduzidas. O pico de ativação
dos quadríceps, isquiotibiais e gastrocnêmios -Ação sobre os Ligamentos Cruzados e Patela
foram maior no agachamento comparado ao leg- Estabilidade no joelho é primordial na
press alto e baixo. Os gastrocnêmios são mais performance e treinamento do atleta, minimizar o
ativados no agachamento com as pernas mais potencial de lesões e auxiliar o paciente na
próximas. A maior atividade EMG do quadríceps reabilitação desta estrutura. Os movimentos de
(20-60%) e dos isquiotibiais (90-225%) gerada no flexão e extensão do joelho que ocorrem durante
agachamento comparado ao leg-press alto e o agachamento são suportadas em parte pelo
baixo, implica que o agachamento pode ser mais ligamento cruzado anterior (LCA) e ligamento
efetivo no desenvolvimento dos quadríceps e cruzado posterior (LCP) que ajudam a promover
isquiotibiais. estabilidade antero-posterior. A força de
Outros estudos, como os de SIGNORILE cisalhamento tibiofemural pode ser lesiva aos
et al. (1995) e TROUBRIDGE (2000) também ligamentos cruzados, enquanto o excesso de
relataram não haver diferença significativa na força compressiva tibiofemural pode ser
ativação do quadríceps quando adotados desgastante para os meniscos e cartilagem
diferentes posicionamentos entre os pés. articular. Entretanto, as forças compressivas têm
Numa comparação entre a mesa demonstrado ser um importante fator na
extensora que é um ECCA e o agachamento que estabilização do joelho por resistir às forças de
é um ECCF, a mesa extensora gerou cisalhamento e minimizar a translação da tíbia
aproximadamente 45% mais atividade do reto relativa ao fêmur (ESCAMILLA, 2001b).
femoral que o agachamento, enquanto que o Segundo CHANDLER et al. (1989) que
agachamento gerou aproximadamente 20% mais estudaram o efeito do agachamento sobre a
atividade do vasto medial e 5% mais atividade do estabilidade do joelho, a estabilidade anterior e
vasto lateral. Isto sugere que a mesa extensora posterior do joelho não diminuiu após oito
seria mais efetiva para desenvolvimento do reto semanas de meio-agachamentos e
femoral e o agachamento mais efetivo para o agachamentos completos. Os dados coletados
desenvolvimento dos vastos (ESCAMILLA et al., em atletas que realizaram o agachamento
1998). completo durante vários anos, não indicaram
No estudo de WILK et al. (1996), foi efeitos deste exercício na estabilidade do joelho.
mensurada a atividade EMG dos músculos Os autores concluíram que o agachamento
quadríceps e isquiotibiais nos exercícios de completo pode ser considerado seguro em termos
agachamento, leg-press e mesa extensora. No de não causar frouxidão dos ligamentos do
agachamento, a máxima ativação do quadríceps joelho.
foi de 59% ± 10% da máxima contração Forças compressivas tibiofemurais (FCT)
isométrica voluntária (MCIV) e ocorreu entre 88- auxiliam a resistir contra as forças de
102º de flexão do joelho durante a fase cisalhamento anteroposterior e translação
concêntrica do exercício. No leg-press a maior tibiofemural. ESCAMILLA et al. (2001c) comparou
ativação do quadríceps foi de 51% ± 8% da MCIV o agachamento com o leg-press com os pés
e ocorreu entre 88-102º de flexão do joelho na apoiados nas partes alta e baixa da plataforma e
fase concêntrica. Em contrapartida, na mesa verificou que as FCT foram de 32-43% maiores
extensora, a máxima atividade EMG do no agachamento com relação ao leg-press alto e
quadríceps foi de 52% ± 11% da MCIV e ocorreu baixo entre 27-87º de flexão do joelho. Força de
entre 35-11º de flexão do joelho durante a fase de tensão sobre o LCA não foram produzidas em
extensão do joelho no exercício. Com relação aos todos os exercícios. Realizar o agachamento com
isquiotibiais, o pico de atividade EMG foi de 39% uma maior abdução do quadril gerou uma FCT de
± 12% da MCIV durante a fase concêntrica do 15-16% maior com relação ao agachamento com
agachamento ocorrendo entre 60-74º de flexão os pés mais próximos entre 19-89º de flexão do
do joelho. A ativação dos isquiotibiais durante o joelho. As FCT geralmente aumentam conforme o
leg-press e a mesa extensora foram joelho flexiona e diminuem conforme o joelho
significativamente menores comparados ao estende. A maior FCT apresentada no
agachamento. agachamento comparado ao leg-press alto e
WRIGHT et al. (1999) realizou uma baixo está relacionada à maior ativação dos
comparação entre o agachamento, a mesa quadríceps e isquiotibiais gerada no
flexora e o levantamento stiff na ativação dos agachamento, porque a contração destes
isquiotibiais e verificou que as maiores atividades músculos também aumenta as FCT sobre o
EMG estiveram presentes na fase concêntrica da joelho.
mesa flexora e do stiff, sem diferença significativa WILK et al. (1996) comparou ECCF
entre eles. O agachamento obteve um pico EMG (agachamento e leg-press) com ECCA (mesa
de aproximadamente 70% do apresentado na extensora) e observou que a FCT foi

4
significativamente maior nos ECCF. Somado a que tem sido estimada em aproximadamente
isto, forças de cisalhamento anterior foram 4000 N para jovens ativos, tendo em vista que
verificadas no ECCA, o que gerou tensão sobre o mesmo ao realizarmos agachamentos profundos
LCA, com picos entre 20-11º de flexão de joelho com cargas elevadas, dificilmente se chega a
na fase concêntrica do movimento. Durante os 50% de sua capacidade de suportar tensão
ECCF, forças de cisalhamento anterior não foram (RACE & AMIS, 1994).
observadas em qualquer momento do exercício. No estudo de STUART et al. (1996),
Outros estudos, como os de BYNUM et forças de cisalhamento posterior foram
al. (1995) e YACK et al. (1993) também observadas nas fases concêntrica e excêntrica do
compararam o agachamento com a mesa agachamento. Essas forças aumentavam
extensora, e obtiveram resultados semelhantes conforme o joelho flexionava e diminuíam
ao verificar que o agachamento minimiza a conforme ele estendia. Os autores concluíram
tendência de deslocamento anterior da tíbia, que a magnitude calculada dessas forças foram
sendo mais indicado, em comparação com a insuficientes para apresentar riscos ao LCP
mesa extensora diante de lesões no LCA. lesionado ou reconstruído.
Como já citado, os ECCF têm sido Durante a reabilitação do LCP, em que a
classificados como seguros para a reabilitação do meta inicial é diminuir a solicitação do LCP, o leg-
LCA. Além da FCT, a força de cisalhamento press alto ou baixo são preferenciais sobre o
tibiofemural que sobrecarrega o LCA é diminuída agachamento, porque o agachamento gera maior
pela orientação axial da carga aplicada e pela co- força tênsil no LCP que o leg-press alto e baixo
contração dos músculos posteriores da coxa em em altos níveis de angulação do joelho. Realizar
relação ao quadríceps associada à cadeia o agachamento, o leg-press alto e o leg-press
cinética fechada. Devido o quadríceps cruzar o baixo com valores funcionais de 0-50º de flexão
joelho anteriormente e os isquiotibiais e do joelho devem ser preferenciais para
gastrocnêmios cruzarem o joelho posteriormente, reabilitação do LCP (ESCAMILLA et al., 2001c).
a co-contração desses grupos musculares são Semelhante a este trabalho, WILK et al.
muito importantes em aderir estabilidade antero- (1996) reportou que nos primeiros 45º de flexão
posterior ao joelho. A co-contração entre o de joelho no agachamento e leg-press, a força de
quadríceps e isquiotibiais tem mostrado ser um cisalhamento posterior foi relativamente baixa
importante fator em minimizar o estresse sobre o (245 – 564 N) com um rápido aumento entre 45 e
LCA. A maior magnitude da co-contração ocorre 72º de flexão do joelho. Com isso, concluíram que
no agachamento durante a fase de extensão do o agachamento e o leg-press realizados com até
joelho (STUART et al., 1996). Colaborando com 45º de flexão de joelho podem ser seguros em
esta idéia, no trabalho de O’CONNOR (1993) um estágios iniciais de reabilitação do LCP.
modelo computadorizado de joelho foi utilizado ESCAMILLA et al. (1998) comparou o
para analisar as forças que agem sobre o LCA agachamento e a mesa extensora e verificou que
induzidas pela co-contração e verificou que a no agachamento o LCP está sempre em tensão,
contração simultânea do quadríceps com os já na mesa extensora o LCP foi tencionado
isquiotibiais e gastrocnêmios podem diminuir a quando o ângulo do joelho era maior que 25º de
carga sobre o LCA em ângulos de flexão de flexão. O pico de tensão sobre o LCP foi
joelho maiores que 22º aproximadamente 2000 N para o agachamento e
Entretanto, ISEAR et al. (1997) que em de aproximadamente 1000 N para mesa
seu estudo analizou a atividade EMG dos extensora. Os autores concluíram que a mesa
quadríceps e isquiotibiais durante o agachamento extensora é preferencial sobre agachamento se
sem cargas externas, verificou uma mínima uma menor tensão sobre o LCP é desejada.
ativação dos isquiotibiais (4-12% da MCIV) Entretanto, considerando que a tensão no LCP
comparado ao quadríceps (22-68% da MCIV para geralmente aumenta com a flexão de joelho em
VM e 21-63% da MCIV para VL), o que refutaria a todos os exercícios, movimentos do joelho em
teoria da co-contração. Contudo, o autor cita que ângulos inferiores a 50º irão minimizar a tensão
a menor ativação dos isquiotibiais provavelmente sobre o LCP.
esteja relacionada ao fato do exercício ser Forças compressivas patelofemurais
realizado apenas com o peso corporal, o que (FCP) produzem estresse sobre a cartilagem da
levaria a menor solicitação da musculatura supra- patela e superfície patelar do fêmur. O excesso
citada. Somado a isto, TROUBRIDGE (2000) das FCP e estresse podem contribuir para
relata que colocar uma carga externa sobre os degeneração patelofemural e patologias, como
ombros aumenta o torque de flexão sobre o condromalacia patelar e osteoartrite. ESCAMILLA
quadril, o que por sua vez eleva a atividade dos et al. (2001b) cita que a taxa de aumento das
isquiotibiais para contravir o torque de flexão FCP é máxima no agachamento entre
aumentado e manter o tronco elevado, aproximadamente 50-80º de flexão do joelho, com
consequentemente aumentando a co-contração. isso gerando proporcionalmente maior força
Dificilmente será imposta ao LCP patelofemural comparado com menores ângulos
saudável uma tensão maior que sua capacidade, de flexão do joelho. Sendo assim, realizar o

5
agachamento com alcance funcional de 0-50º de significativa melhora da dor, aumento da força
flexão do joelho minimizará as FCP e estresse, e muscular e melhora da função. Baseado neste
pode ser efetivo para atletas ou pacientes com estudo, WILK & REINOLD (2001) citam que tanto
patologias patelofemurais. Para atletas com ECCF quanto ECCA podem ser prescritos para
joelhos saudáveis, realizar o agachamento com pacientes com desordens patelofemorais desde
ângulos maiores de flexão do joelho que sejam respeitados os ângulos de maior
(aproximadamente 90-110º) não deve ser conforto para o indivíduo. Se os ECCF gerarem
problemático, desde que cargas pesadas não maior conforto que os ECCA então estes devem
sejam usadas em excesso. ser prescritos, o mesmo valendo na situação
No estudo de ESCAMILLA et al. (2001a), inversa.
foram examinados os efeitos da distância entre as
pernas e do posicionamento dos pés sobre a Atuação sobre a Coluna Lombar
força compressiva patelofemural no Forças compressivas sobre a coluna
agachamento. Não foram observadas diferenças ocorrem no agachamento como resultado de se
significativas nas FCP entre o pé posicionado colocar resistências sobre as costas e ombros. As
apontando para frente e o pé abduzido a 30º. As maiores forças compressivas tem sido calculadas
FCP progressivamente aumentaram conforme os sobre a coluna lombo-sacral (CHANDLER &
joelhos flexionavam e diminuíram conforme os MICHAEL, 1991). Durante agachamentos com
joelhos estendiam. Os autores reportaram um sobrecarga de 0.8 a 1.6 vezes o peso corporal
aumento de 15% nas FCP no agachamento com sobre as costas, as forças compressivas sobre os
os pés afastados comparados com o segmentos L3-L4 podem variar entre 6 e 10
agachamento com os pés próximos entre 21-79º vezes o peso corporal. A contração dos eretores
de flexão do joelho na fase excêntrica do da coluna (EC) foi mensurada estar entre 30 e
exercício. Não ocorreram diferenças significativas 50% da MCIV e, a magnitude de flexão do tronco
entre as pernas mais próximas ou mais abduzidas foi encontrada como sendo a variável que mais
na fase concêntrica do exercício. Com essas influencia as forças compressivas (CAPPOZZO et
informações, torna-se preferencial realizar o al., 1985).
agachamento com os pés próximos quando o De acordo com DELITTO et al. (1987), a
objetivo for diminuir as FCP. postura da coluna lombar durante o agachamento
Tanto ECCF quanto ECCA têm sido pode variar. A proposta da técnica de
indicados para tratamento de distúrbios patelares. agachamento em que a coluna lombar é alinhada
Numa comparação entre ECCF e ECCA para com a lordose normal consiste em que esta
calcular as forças que agiam sobre a patela postura diminui a compressão nos elementos
verificou-se que entre 0-50º de flexão do joelho, posteriores da coluna lombar e, sendo assim,
os ECCF produziram uma menor FCP, enquanto diminui o estresse nessas estruturas.
que entre 50-90º de flexão, os ECCA produziram Levantadores de peso de elite utilizam esta
uma menor FCP com relação ao ECCF postura comentando que eles não poderiam
(STEINKAMP et al., 1993). Similar a este estudo, levantar muito peso se eles não mantivessem a
ESCAMILLA et al. (1998) cita que no lordose.
agachamento e leg-press que são ECCF, as FCP Levantamentos com a coluna lombar
aumentam conforme o joelho flexiona e diminuem mantendo-se a lordose lombar podem ser
conforme estende, porém, na mesa extensora vantajosos. O agachamento deve ser realizado
que é um ECCA, as FCP diminuem próximo a mantendo-se a lordose lombar, pois assim, os
flexão completa, o que explica as menores FCP músculos conseguem suportar mais a carga e
nos ECCF em pequenos graus de flexão do promovem estabilidade à coluna. A principal
joelho e as menores FCP no ECCA em maiores função dos músculos do tronco e do sistema de
graus de flexão do joelho. ligamentos posterior é promover estabilidade à
Entretanto, KAUFMAN et al. (1991) coluna lombar durante o movimento,
verificou em seu estudo que entre 60-70º de principalmente no início da fase concêntrica
flexão do joelho na mesa extensora foi produzido (VAKOS et al., 1994).
o maior stress patelar, o que gerou algumas Segundo HOLMES et al. (1992), que em
dúvidas sobre quais seriam os melhores ângulos seu estudo compararam a realização do
para minimizar as forças sobre a patela neste agachamento com a coluna lombar em posição
exercício, pois a maior taxa de stress ocorreu no lordótica (mantendo-se a lordose lombar) e
meio do movimento. O autor sugere que entre 75- cifótica (com a coluna lombar em flexão) verificou-
90º de flexão do joelho, a mesa extensora pode se que a ativação do EC é maior no início do
ser útil para minimizar o stress patelar. movimento com a coluna mantendo a lordose e
WITVROUW et al. (2000) realizou um menor no início do movimento da posição cifótica.
estudo sobre a eficácia tanto de ECCF quanto de O músculo EC obteve máxima ativação durante o
ECCA na reabilitação patelar em indivíduos sem período mais crítico do levantamento somente na
cirurgia. Verificou-se que tanto o grupo de ECCF posição lordótica. Os autores concluíram que a
quanto o de ECCA apresentaram uma posição lordótica aparenta ser a melhor posição

6
para promover força muscular durante o e/ou um aumento da PIA pode aumentar a
agachamento, a tensão dos EC reduzem a estabilidade da coluna. A PIA é primariamente
pressão sobre os tecidos que poderiam produzir produzida pelo músculo transverso do abdome e
sintomas de dores lombares. o treinamento dos músculos abdominais tem se
Num estudo semelhante de DELITTO & mostrado aumentar a taxa de desenvolvimento da
ROSE (1992), os autores demonstraram que a PIA. Tendo a PIA um importante papel na
atividade muscular dos EC foi maior durante o estabilidade da coluna, a taxa de
período inicial do levantamento com a postura desenvolvimento da PIA é importante quando a
lordótica com báscula anterior (48% ± 18% da coluna é exposta a grandes sobrecargas
MCIV) comparada à postura cifótica com báscula (ESSENDROP & SCHIBYE, 2004).
posterior (28% ± 13% da MCIV). Não houve A PIA é frequentemente estudada usando
diferença significativa na ativação do oblíquo a manobra de Valsalva, que consiste no
abdominal durante ambas as posturas do fechamento da glote e contração voluntária do
levantamento (12% ± 10% da MCIV para a abdome e, quando uma alta PIA é gerada através
lordótica e 14% ± 8% da MCIV para a cifótica). O desta manobra todos os músculos abdominais
recrutamento muscular dos EC que ocorre na estão envolvidos. Sendo assim, o controle da
posição lordótica indica que esta postura pode ser respiração é um importante fator na magnitude da
a mais apropriada para suportar e proteger a geração de PIA durante levantamentos
coluna lombar durante o período inicial do (HAGGINS et al., 2004).
levantamento. Também tem sido estudado se o uso de
HART et al. (1987) e VAKOS et al. (1994) cintos abdominais pode contribuir no aumento da
também comparam levantamentos mantendo-se PIA. McGILL et al. (1990) realizou uma
a coluna com a lordose lombar e com a postura investigação com 6 indivíduos realizando
em flexão da lombar e obtiveram resultados levantamentos com e sem cinto abdominal em
semelhantes ao verificar que os EC são mais duas situações, segurando a respiração ou
ativados quando realiza-se o movimento com a respirando normalmente. Todos os indivíduos
lordose normal mantida. demonstraram aumento da PIA quando utilizando
Como já citado, agachar com resistência o cinto em ambas as situações de respiração.
sobre as costas aumenta as forças compressivas LANDER et al. (1990) também realizou um estudo
sobre a coluna. Manter uma postura ereta ajuda a similar e verificou que os maiores valores de PIA
distribuir a carga por toda a coluna e a diminuir a (p < 0.05) foram sempre maiores para o
chance de lesão. Para reduzir as forças agachamento utilizando o cinto, sugerindo que o
compressivas, o indivíduo deve ter cinto abdominal pode auxiliar no suporte do
necessariamente flexibilidade nos joelhos, quadril, tronco.
tornozelo e coluna para manter uma postura
correta durante o agachamento. A força
abdominal também é importante para proteger a DISCUSSÃO
coluna. Durante um levantamento pesado, os
levantadores prendem a respiração durante o Por ser um exercício básico da
momento mais difícil do movimento. Isto aumenta musculação, o agachamento tem sido utilizado há
a pressão intra-abdominal (PIA) e ajuda a muitas décadas como uma das principais
estabilizar a coluna. A utilização de cintos ferramentas para desenvolvimento de músculos
abdominais específicos também pode ajudar o dos membros inferiores e tronco, sendo os
atleta a exercer PIA (CHANDLER et al., 2000). principais deles o quadríceps, isquiotibiais,
A pressão produzida na cavidade glúteos máximo e toda musculatura lombar, assim
abdominal exerce uma força hidrostática sobre a como também é de grande utilidade em
pelve e sob o diafragma. Esta força adere tensão programas de treinamento de outros esportes, por
sobre a coluna e foi assumida como redutora de estimular o desenvolvimento de força e potência
força de compressão sobre a coluna. Os muscular.
músculos da parede abdominal, contraindo contra De forma a tentar maximizar o trabalho de
a cavidade peritoneal pressurizada, podem determinados músculos, algumas posturas de
estabilizar a coluna e o tronco. A estabilidade pernas e pés eram adotadas pelos praticantes do
mecânica da coluna lombar é uma consideração agachamento. Baseado nisso, alguns autores
importante em estratégias de prevenção e realizaram o agachamento de diversas formas
reabilitação de lesões na região inferior das para verificar se essas variações poderiam levar a
costas (CHOLEWICKI et al., 1999). uma maior ativação muscular em determinado
Estruturas ativas agindo sobre a coluna movimento. Vários foram os estudos que
para produzir firmeza e estabilidade são buscaram verificar se o quadríceps poderia ser
importantes para evitar lesões. Tanto os mais ativado variando-se o posicionamento dos
abdominais quanto os músculos das costas têm pés, (McCAW & MELROSE,1999; CATERISANO
um importante papel em estabilizar a coluna. O et al. 2002; ESCAMILLA et al., 2001c;
aumento co-contração dos músculos do tronco SIGNORILE et al., 1995 e TROUBRIDGE, 2000)

7
e todos obtiveram os mesmos resultados ao gera uma maior ativação desta musculatura
constatar que realizar o agachamento com os pés (CATERISANO et al. 2002; McCAW &
próximos ou mais afastados, assim como manter MELROSE, 1999).
os pés apontando para frente ou levemente Em processos de reabilitação, quando o
abduzidos não apresenta diferença significativa objetivo é diminuir a tensão sobre o LCA assim
na ativação do quadríceps. como gerar uma maior estabilidade do joelho,
Dois estudos (ISEAR et al., 1997 e diversos foram os trabalhos que demonstraram
ESCAMILLA et al., 1998) também salientaram que a força compressiva entre a tíbia e o fêmur
que durante o agachamento, as porções vasto que ocorre durante o agachamento é de grande
medial (VM) e vasto lateral (VL) do quadríceps importância em aderir estabilidade a esta
são mais solicitadas que o reto femoral (RF), fator articulação, assim como minimizam a tensão
esse que pode ter importância no momento da sobre o LCA (CHANDLER et al., 1989;
escolha dos exercícios quanto a atender objetivos ESCAMILLA, 2001b; ESCAMILLA et al., 2001c;
de treinamento ou na montagem de um programa WILK et al., 1996; BYNUM et al., 1995; YACK et
de reabilitação. Quando comparado com o leg- al., 1993), colocando não somente o
press, o agachamento também demonstrou ser agachamento, mas também outros ECCF como o
mais efetivo com relação à ativação do VM e VL. leg-press, como importantes ferramentas para
Entretanto, quando comparado com a mesa reabilitação de indivíduos pós-operatório do LCA.
extensora, esta apresentou uma maior solicitação Outro fator citado como estabilizador do
do RF com relação ao agachamento, o que pode joelho foi a co-contração do quadríceps com os
indicar que quando se objetiva um grande isquiotibiais (STUART et al., 1996; O’CONNOR,
desenvolvimento de toda a musculatura do 1993), onde ao contraírem simultaneamente a
quadríceps, utilizar-se tanto do agachamento força de cisalhamento antero-posterior seria
quanto da mesa extensora no mesmo programa diminuída. Contudo, alguns trabalhos relataram
de treinamento pode ser vantajoso. que a ativação dos isquiotibiais quando aplicadas
Houve um número reduzido de estudos que baixas sobrecargas não eram suficientes para
buscaram mensurar a ativação da musculatura gerar a co-contração (ISEAR et al., 1997;
extensora do quadril. Para os isquiotibiais, foi TROUBRIDGE, 2000), o que leva a crer que as
observado que a distancia de posicionamento dos forças compressivas tibiofemurais são o fator de
pés não gera um aumento significativo na maior importância em aumentar a estabilidade do
ativação desta musculatura, assim como realizar joelho em processos de reabilitação e que a
o agachamento completo também não aumenta contribuição da co-contração com relação a
sua ativação (CATERISANO et al. 2002; McCAW minimizar as forças de cisalhamento seria maior
& MELROSE, 1999), pois os picos de atividade em indivíduos saudáveis durante o treinamento
EMG para os isquiotibiais foram observados entre com maiores sobrecargas.
50-70º de flexão do joelho (ESCAMILLA, 2001b). Todos os trabalhos citados verificaram que
Entretanto, dois estudos verificaram que quanto o agachamento gera tensão sobre o LCP
maior a carga utilizada, maior a solicitação dos (STUART et al., 1996; ESCAMILLA et al., 2001c;
isquiotibiais devido o torque de flexão do quadril WILK et al., 1996; ESCAMILLA et al., 1998),
que se eleva com o aumento da sobrecarga entretanto, todos eles concordam que as forças
(McCAW & MELROSE, 1999; TROUBRIDGE, que agiam sobre o LCP não eram suficientes para
2000). apresentar risco a indivíduos lesionados ou em
Comparados ao agachamento, o leg-press reabilitação, principalmente se fosse respeitado
e a mesa extensora obtiveram uma ativação dos um ângulo de trabalho entre 0-50º de flexão do
isquiotibiais significativamente menor, o que já joelho. A mesa extensora apresentou menor
era esperado levando-se em consideração que o tensão no LCP comparado ao agachamento, o
maior objetivo destes exercícios é o que demonstra que ambos os exercícios podem
desenvolvimento dos quadríceps. Porém, no ser utilizados na reabilitação do LCP.
estudo de WRIGHT et al. (1999) que buscou Com relação à patela, foi demonstrado que
comparar o agachamento à mesa flexora e ao no agachamento, limitar a flexão do joelho entre
levantamento stiff, que são exercícios específicos 0-50º era indicado para diminuir as forças
para isquiotibiais, o agachamento demonstrou compressivas patelofemurais em processos de
uma atividade EMG de aproximadamente 70% reabilitação (STEINKAMP et al., 1993;
dos outros dois exercícios, o que indica que ESCAMILLA et al.; 2001b) e que manter os pés
apesar do agachamento ser eficiente para o mais próximos durante a realização do exercício
trabalho dos isquiotibiais, se o objetivo for um também gerou uma menor força compressiva
maior desenvolvimento desta musculatura, incluir patelofemural. Não houve contra-indicação em
a mesa flexora ou o stiff no programa de realizar o agachamento completo para indivíduos
treinamento pode apresentar alguma vantagem. com joelhos saudáveis. Complementando essas
No caso do glúteos máximo, dois trabalhos informações WITVROUW et al. (2000) e WILK &
demonstraram que agachar com cargas maiores, REINOLD (2001) relataram que tanto o
assim como realizar o agachamento completo agachamento, quanto o leg-press e a mesa

8
extensora podem ser utilizados no tratamento de que indivíduos com joelhos saudáveis realizem o
patologias patelares, onde o exercício a ser agachamento completo, desde que se respeite a
utilizado deveria ser aquele que gerasse maior correta execução do exercício e utilize-se de
conforto ao paciente na hora da realização. cargas adequadas.
A ação dos eretores da coluna é de grande Recomenda-se manter a postura ereta e
importância em aumentar a estabilidade desta manter a curvatura lombar normal durante o
estrutura e minimizar a incidência de lesões. exercício, assim como bloquear a respiração no
Cinco estudos compararam o agachamento na início da fase concêntrica e o uso de cintos
posição lordótica e cifótica (DELITTO et al., 1987; abdominais podem ser úteis para gerar maior
VAKOS et al., 1994; HOLMES et al., 1992; pressão intra-abdominal e promover estabilidade
DELITTO & ROSE, 1992; HART et al., 1987) e à coluna.
todos concluíram que manter a postura ereta com
a curvatura lombar normal (posição lordótica)
gerava uma maior solicitação dos eretores da REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
coluna, indicando que esta deveria ser a postura
mais indicada para diminuir o estresse sobre a BAUER, J.A.; FRY, A.; CARTER, C. The use of
coluna principalmente no início do levantamento. lumbar-supporting weight belts while performing
Outro fator de importância com relação à squats: Erector spinae electromyographic activity.
estabilidade e diminuição das forças Journal of Strength and Conditioning
compressivas sobre a coluna é a pressão intra- Research. v.13, n.4, p.384-388, 1999.
abdominal (PIA) produzida durante o
agachamento. A co-contração dos músculos BYNUM, E.B.; BARRACK, R.L.; ALEXANDER,
abdominais e posteriores do tronco foi citada A.H. Open versus closed chain kinetic exercises
como promotora de PIA (CHOLEWICKI et al., after anterior cruciate ligament reconstruction.
1999; ESSENDROP & SCHIBYE, 2004). Somado The American Journal of Sports Medicine,
a isto, outros estudos também demonstraram que v.23, n.4, p.401-406, 1995.
bloquear a respiração (manobra de Valsalva)
durante as fases mais difíceis do exercício e CAMPOS, M.A. Biomecânica da Musculação. 2
também o uso de cintos abdominais foram fatores ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2002.
contribuintes para o aumento da PIA
(CHANDLER et al., 2000; HAGGINS et al., 2004; CAPPOZZO, A. et al. Lumbar spine loading
McGILL et al., 1990; LANDER et al., 1990). during half-squat exercises. Medicine and
Science in Sports and Exercise. v.17, n.5,
p.613-620, 1985.
CONCLUSÕES
CATERISANO, A. et al. The effect of the back
Baseando-se nas evidências encontradas squat depth on the EMG activity of 4 superficial
pode-se concluir que o agachamento consiste hip and thigh muscles. Journal of Strength and
num ótimo exercício para o desenvolvimento dos Conditioning Research. v.16, n.3, p.428-432,
músculos dos membros inferiores, assim como é 2002.
seguro e eficiente em processos de reabilitação
do LCA, LCP e patela e que apesar das CHANDLER, T.J. et al. Safety of the squat
sobrecargas sobre a coluna, quando exercise. Current Comments from the
corretamente realizado e supervisionado por um American College of Sports Medicine.
profissional capacitado não apresenta riscos ao Disponível em:
realizador. http://www.acsm.org/AM/Template.cfm?Section=
Com relação à ativação muscular, não há Current_Comments1&Template=/CM/ContentDisp
diferenças na ativação do quadríceps em se lay.cfm&ContentID=8652. Acesso em: 12fev.
realizar o agachamento variando-se o 2008, 10:00:20.
posicionamento dos pés e, as porções vasto
medial e vasto lateral são as mais solicitadas. Os CHANDLER, T.J.; MICHAEL, H.S. The squat
isquiotibiais são mais ativados conforme uma exercise in athletic conditioning: a review of the
maior sobrecarga é utilizada, o mesmo valendo literature. National Strength and Conditioning
para o glúteo máximo, que também aumenta sua Association Journal. v.13, n.5, p.51-58, 1991.
ativação ao se realizar agachamentos completos.
O agachamento é indicado durante a CHANDLER, T.J.; WILSON,G.D.; STONE, M.H.
reabilitação do LCA por não gerar tensão sobre The effect of the squat exercise on knee stability.
essa estrutura e devido à força compressiva Medicine and Science in Sports and Exercise.
tibiofemural que promove estabilidade ao joelho. v.21, n.3, p.299-303, 1989.
Para o tratamento e reabilitação do LCP ou da
patela, recomenda-se limitar o movimento entre CHOLEWICKI, J.; JULURU, K.; MCGILL, S.M.
0-50º de flexão do joelho. Não há porque impedir Intra-abdominal pressure mechanism for

9
stabilizing the lumbar spine. Journal of HART, D.L.; STOBBE, T.J.; JARAIEDI, M. Effect
Biomechanics. n.32, p.13-17, 1999. of lumbar posture on lifting. Spine. v.12, n.2,
p.138-45, 1987.
DELITTO, R.S.; ROSE, S.J.. An
electromyographic analysis of two techniques for HOLMES, J.A.; DAMASER, M.S.; LEHMAN, S.L.
squat lifting and lowering. Physical Therapy. Erector spinae activation and movement
v.72, n.6, p.438-448, 1992. dynamics about the lumbar spine in lordotic e
kyphotic squat-lifting. Spine. v.17, n.3, p. 327-
DELITTO, R.S.; ROSE, S.J.; APTS, D.W. 334, 1992.
Electromyographic analysis of two techniques for
squat lifting. Physical Therapy. v.67, n.9, p.1329- ISEAR, J.A.; ERICKSON, J.C.; WORRELL, T.W.
1334, 1987. EMG analysis of lower extremity muscle
recruitment patterns during an unloaded squat.
EBBEN, W.P.; LEIGH, D.H.; JENSEN, R.L. The Medicine and Science in Sports and Exercise.
role of the back squat as a hamstring training v.29 n.4, p.532-539, 1997.
stimulus. National Strength and Conditioning
Association Journal. v.22, n.5, p.15-17, 2000. KAUFMAN, K.R. et al. Dynamic joint forces during
knee isokinetic exercise. The American Journal
ESCAMILLA, R.F. et al. A three-dimensional of Sports Medicine. v.19, n.3, p.305-16, 1991.
biomechanical analysis of the squat during
varying stance widths. Medicine and Science in LANDER, J.E.; SIMONTON, R.L.; GIACOBBE,
Sports and Exercise. v.33, n.6, p.984-998, J.K. The effectiveness of weight-belts during the
2001a. squat exercise. Medicine and Science in Sports
and Exercise. v.22, n.1, p.117-126, 1990.
ESCAMILLA, R.F. Knee biomechanics of the
dynamic squat exercise. Medicine and Science McGILL, S.M.; NORMAN, R.W.; SHARRAT, M.T.
in Sports and Exercise. v.33, n.1, p.127-141, The effect of an abdominal belt on trunk muscle
2001b. activity and intra-abdominal pressure during squat
lifts. Ergonomics. v.33, n.2, p147-160, 1990.
ESCAMILLA, R.F. et al. Effects of the technique
variations on knee biomechanics during squat and McCAW, S.T.; MELROSE, D.R. Stance width and
leg press. Medicine and Science in Sports and bar load effects on leg muscle activity during the
Exercise. v.33, n.9, p. 1552-1566, 2001c. parallel squat. Medicine and Science in Sports
and Exercise. v.31, n.3, p.428-436, 1999.
ESCAMILLA, R.F. et al. Biomechanics of the knee
during closed kinetic chain and open kinetic chain O’CONNOR, J.J. Can muscle co-contraction
exercises. Medicine and Science in Sports and protect knee ligaments after injury or repair?. The
Exercise. v.30, n.4, p.556-568, 1998. Journal of bone and joint surgery. v. 75, n. B,
p.41-48, 1993.
ESSENDROP, M.; SCHIBYE, B. Intra-abdominal
pressure and activation of abdominal muscles in RACE, A.; AMIS, A.A. The mechanical properties
highly trained participants during sudden heavy of the two bundles of the human posterior cruciate
trunk loadings. Spine. v.29, n.21, p.2445-2451, ligament. Journal of Biomechanic, v.27, p.13-
2004. 24, 1994.

FRY, A.C.; SMITH, J.C.; SCHILLING, B.K. Effect RODRIGUES, C.E.C.; COSTA, P.E.C.P.
of knee position on hip and knee torques during Musculação, teoria e prática. 23 ed. Rio de
the barbell squat. Journal of Strength and Janeiro: Sprint, 1999.
Conditioning Research. v.17, n.4, p.629–633,
2003. SALEM, G.J.; SALINAS, R.; HARDING, V.
Bilateral kinematic and kinetic analysis of the
squat exercise after anterior cruciate ligament
GUIMARÃES NETO, W.M. Musculação total: reconstruction. Archives of Physical Medicine
técnica de execução dos exercícios. and Rehabilitation. v.84, n.8, p.1211-1216, 2003.
Guarulhos: Phorte Editora, 1999.
SIGNORILE, J.F. et al. Effect of foot position on
HAGGINS, M. et al. The effects of breath control the eletromyographical activity of the superficial
on intra-abdominal pressure during lifting tasks. quadriceps muscles during the parallel squat and
Spine. v.29, n.4, p.464-469, 2004. knee extensions. Journal of Strength and
Conditioning Research. v.9, n.3, p.182-187,
1995.

10
STEINKAMP, L.A. et al. Biomechanical
considerations in patellofemoral joint
rehabilitation. The American Journal of Sports
Medicine. v.21, n.3, p.438-444, 1993.

STUART, M.J. et al. Comparison of


intersegmental tibiofemural joint forces and
muscle activity during various closed kinetic chain
exercises. The American Journal of Sports
Medicine. v.24, n.6, p.792-799, 1996.

TROUBRIDGE, M.A. The effect of foot position


on quadriceps and hamstrings muscle activity
during a parallel squat exercise. Ontario, 2000.
96p. Mestrado em Ciências – Faculdade de
Estudos Graduados, Universidade do Antigo
Oeste de Ontário.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Agachamento:


Avanços Científicos. Jornal da Musculação e
Fitness. n.57, p.32-34, 2005.

VAKOS, J.P.; NITZ, A.J.; THRELKELD, A.J.;


SHAPIRO, R.; HORN, T. Electromyographic
activity of selected trunk and hip muscles during a
squat lift. Spine, v.19, n.6, p.687-695, 1994.

WILK, K.E.; REINOLD, M.M. Principles of


patellofemoral rehabilitation. Sports Medicine &
Arthroscopy Review. v.9, n.4, p.325-336, 2001.

WILK, K.E. et al. A comparison of tibiofemural


joint forces and eletromyographic activity during
open and closed chain exercises. The American
Journal of Sports Medicine. v.24, n.4, p.518-
527, 1996.

WITVROUW, E. et al. Open versus closed kinetic


chain exercises for patellofemoral pain: A
prospective, randomized study. The American
Journal of Sports Medicine. v.28, n.5, p.687-94,
2000.

WRETENBERG, P.E.R.; FENG, Y.I;


ARBORELIUS, U.P. High- and low-bar squatting
techniques during weight-training. Medicine and
Science in Sports and Exercise. v.28, n.2,
p.218-224, 1996.

WRIGHT, G.A.; DELONG, T.H.; GEHLSEN, G.


Electromyographic activity of the hamstrings
during performance of the leg-curl, stiff-leg
deadlift, and back squat movements. Journal of
Strength and Conditioning Research. v.13, n.2,
p.168-174, 1999.

YACK, H.J.; COLLINS, C.E.; WHIELDON, T.J.


Comparison of closed and open kinetic chain
exercise in the anterior cruciate ligament-deficient
knee. The American Journal of Sports
Medicine, v.21, n.1, p.49-53, 1993.

11

You might also like