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10.

º Ano Filosofia
A Acção Humana

A Acção Humana
O pensamento crítico do nosso tempo já não concede crédito às ideias só por si;
exige-se a tradução em efeitos consistentes. A acção humana assume-se como um
tema filosófico da maior importância, uma vez que, depois de saber e conhecer, o
Homem tem obrigação de reverter o seu conhecimento num agir melhor, agir
bem, ou seja, ser inteligente também nas opções de vida que faz.
No fundo, a prática acaba por ser o critério último da teoria. O Homem faz-se a si
mesmo, por aquilo que lê e sabe, mas na medida em que isso o leva a agir
melhor.
Esta noção leva os filósofos existencialistas a afirmar que é na existência, no
caminho que constrói, nas escolhas que faz, que o Homem se constrói a si mesmo.
Também é muito importante entender que a acção humana tem um efeito no
mundo. O Homem é produto do que o rodeia, do meio, mas é também autor desse
mesmo meio. Isto é, ninguém deve perder de vista que a sua acção tem um
impacto na realidade. Podemos pensar que, por vezes, actos a que nós não damos
muita importância podem ter consequências nos outros, que os poderão levar a
tomar atitudes de grande mudança. A nossa acção tem continuidade no outro. Por
isso tem tanta importância a noção de responsabilidade.
A este propósito, será muito interessante ver o filme: "Favores em cadeia" ou
"Pay it forward", no seu título original.
Nem todos os movimentos humanos são considerados acções; alguns acontecem,
são acontecimentos; outros são actos involuntários ou inconscientes, que não se
inserem neste conceito de acção humana.

Então, quais são as características da acção verdadeiramente e exclusivamente


humana?

Se nós caímos ao mar, sem querer, podemos dizer que foi algo que nos
aconteceu; mas se mergulharmos de propósito, então, já foi um acto nosso.
Por outro lado, há actos que fazemos sem querer. Por isso, há dois verbos
distintos, que, embora sejam usados muitas vezes como sinónimos, são bem
diferentes: agir e fazer. O mero fazer algo pode ser casual, não intencional,
involuntário; a acção não!
A acção humana define-se por ser consciente, voluntária, livre, responsável e
intencional.

Esta acontece quando um sujeito, agente, escolhe uma determinada interferência


no mundo (acção), mediante motivos e tendo em vista uma intenção, um fim.
Temos então o carácter intencional que distingue a acção humana. Ser Homem
é encarar a sua vida como um projecto, orientada para determinados fins. Se eu

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A Acção Humana

projectar a minha vida de acordo com os fins que procuro atingir, esta vida não
vai ser ao acaso, vai ser algo que eu controlo. Eu torno-me dono da minha vida
quando tomo decisões conscientes, escolho de acordo com aquilo que eu quero
para mim e não deixo a minha vida correr de qualquer maneira. Assim sou um
agente activo e não um espectador passivo da minha própria vida.

Isto é um processo consciente, o sujeito sabe o que está a fazer e pensou nos prós
e contras, ou seja, deliberou; para isso teve de ser livre para escolher, não foi
coagido por ninguém, embora possa ter sido influenciado; foi, portanto, voluntária
a sua acção. Assim, terá que assumir os efeitos da sua acção no mundo, por isso é
responsável.

Perante os condicionalismos a que está sujeito, como é que o Homem se


afirma como agente livre e criador?

A acção humana é obviamente condicionada. Temos condicionalismos biológicos:


físicos e psicológicos, e socioculturais: políticos, morais, e religiosos. Tudo o que
nos rodeia, o meio, e a nossa própria condição física influenciam a vida que nós
temos e aquilo que fazemos; se somos doentes ou saudáveis, ricos ou pobres,
membros de uma família com mais ou menos erudição, é claro que isso vai
condicionar o nosso destino. No entanto, condicionar não significa determinar. O
Homem, enquanto agente criador, é livre de fazer as suas escolhas. Por vezes,
através de uma vontade forte, consegue-se superar condicionalismos que
pareciam determinantes.
Então, conclui-se que, apesar de condicionada, a acção humana é livre. O Homem
faz o que quer com os seus próprios condicionalismos. Trata-se de escolher e de
assumir as escolhas que se fazem.
Neste sentido, muitas vezes atribuir a responsabilidade da vida aos
condicionalismos não é mais de que um gesto de fraqueza, um "arranjar
desculpas" para a própria falta de vontade de agir.
Desta forma, o Homem deve ter consciência de que a sua acção é sua
responsabilidade e de que não está apenas no mundo, está a fazer, a construir o
mundo de cada vez que escolhe, enquanto agente criador.
Paulo Freire afirma: "Somente seres que podem reflectir sobre a sua própria
limitação são capazes de libertar-se...".
Este autor afirma ainda que: "Homens e mulheres, (...) acrescentam à vida que
têm a existência que criam. "

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