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Rousseau,   J.-­‐J.,   O   Contrato   Social,   Mem   Martins,   Europa-­‐América,   Abril   de   2003

Jean-Jacques Rousseau é considerado um dos mais influentes filósofos

do Iluminismo. Nasceu em 1712, em Genebra, veio a falecer em 1778, apenas

11 anos antes da Revolução Francesa, 1789. Facilmente se consegue

perceber que as suas obras tiveram um papel fundamental nesse

acontecimento mundial, que veio a ser percursor de várias outras micro-

revoluções. No entanto, a semente para o insurgir dos populares estava já

lançado. A sua obra O contrato social marca a sua posição política acerca da

constituição da sociedade em que se vivia. Esta obra, embora com mais de

300 anos, continua bastante actualizada. Esta encontra-se dividida em 4 livros,

com subdivisões em vários capítulos.

Antes do inicio do primeiro livro ficamos a saber que esta obra se

encontra inserida numa mais vasta, no entanto o autor decidiu destruir o que

falta, não se percebe ao certo qual o conteúdo da grande obra, nem quais os

motivos que o levaram a destruí-la.

Vemos também ainda antes do inicio do livro I, um desejo que o autor

manifesta através da seguinte frase: “quero descobrir se na ordem civil pode

existir alguma regra de administração legítima e segura, considerando os

homens tais como são e as leis tais como podem ser.” Este objectivo vai

acompanhar todo o percurso da obra, analisando o homem e a perda da sua

liberdade natural, que possuía aquando do estado de natureza até ao momento

em que vive em liberdade, embora condicionada pela vontade geral. Este

condicionamento é apenas aparente, pois na realidade ele é fruto da sua

vontade, uma vez que enquanto homem faz parte do grupo de indivíduos que
     
 
formam a vontade geral, logo, enquadra a sua vontade com a liberdade que

goza. O facto de ter de cumprir leis é com o objectivo de protecção, pois estas

regulam os actos daqueles que aceitaram o pacto social e se uniram, daqueles

que podem vir a contrariar a vontade geral e provocar males e/ou atacar. Desta

forma, as leis funcionam como instrumento de regulação, sendo só de punição

quando é colocado em risco a vontade geral e o normal funcionamento da

sociedade.

No livro I fala das primeiras sociedades de todas, a original – a família,

sendo o pai a figura de topo e este deve procurar beneficiar os filhos enquanto

os mesmo estão debaixo da sua alçada. A independência é obtida aquando da

maioridade, onde os filhos, ou saem de casa ou permanecem na casa dos

pais, embora sejam já capazes de se defenderem e de procurar o futuro que

querem obter. A forma natural é sair de casa. Quando decidem ficar com os

pais, não é o estado natural, mas sim uma convenção.

No que respeita à escravatura, o autor não concorda com ela, pois não é

natural abdicar da sua liberdade para se colocar sob as ordens de outros. Nem

é natural que um tenha a capacidade de decidir sobre a vida de outro, de forma

espontânea e disponha dela como quiser. Nem mesmo quando um povo está a

conquistar outro, após a deposição de armas – a rendição- devem ser mortas

as pessoas. Quando um povo se rende deverá ser adoptado e não deverá ser

morto nem condenado por ter defendido a sua terra. É normal defender, é

natural a protecção à sua subsistência. A morte daqueles que ainda estão em

armas é legítima, mas o mesmo não acontece quando as depõem, pois

passam a integrar o povo do novo soberano, caso se decidam submeter a este.


     
 

Fazer escravos na guerra apenas a prolonga, pois os escravos estarão

sempre em conflito com aqueles que os estão a privar de liberdade, logo,

escravatura e direito são contraditórios, excluindo-se mutuamente.

A convenção social nasce de uma harmonia entre pessoas que decidem

juntar-se e partilhar uniformemente quer o bom, quer o mal, pois em caso de

guerra e de ataque a um membro do grupo, todos os demais são obrigados a

unirem-se e protegerem o seu membro, pois o ataque a um é o ataque a todos.

No livro I está patente a ideia que o homem no estado natural vive por

instinto e sem moral e quando passa para o pacto social percebe a justiça e

vive de acordo com a moralidade. Os seus impulsos são refreados e passa a

agir de acordo com o direito e o dever. Esta mutação permite um maior uso das

suas faculdades, da ideias e dos sentimentos, passando de um mero animal

para um homem inteligente.

O livro II incide na vontade geral e na diferença entre esta e a vontade

de todos. Enquanto que a vontade geral traduz-se no bem comum e na

sociedade como um todo, indivisível, a vontade de todos é vontade privada,

sendo a soma das vontades de todos e não uma vontade única. A equidade é

o objectivo que se pretende, uma vez que todos são exactamente iguais

perante os outros. Não pode haver qualquer tipo de discriminação, pois se a

houver coloca-se em perigo o pacto social, pois deixa de ser a convenção

original, na qual os homem alienaram as suas potencialidade, bens e liberdade

em prol de um bem maior. Nem mesmo o soberano pode ir contra a vontade

geral, pois o mesmo está ao seu serviço e não contra ela. O acto de soberania
     
 
é legitimo, equitativo, útil e sólido, de forma a garantir a obediência à própria

vontade.

O pacto social permite ao homem passar de uma vida incerta, da

independência natural, do poder de prejudicar outrem e ser também

prejudicado, de ficar dependente da força de outrem e do combate particular,

para uma vida melhor e mais segura, para a liberdade, para a segurança, para

a segurança colectiva e para combater pela pátria e por aquilo que deve

defender, pois verifica-se que no estado natural há a inexistência de leis que

permita punir os maus, logo a maldade prolifera. No pacto social, os

incumpridores são punidos e sentem o peso da lei e da vontade geral, pois ao

incorrerem em falta, não só não cumprem o pacto, com também estão em

desacordo com a vontade geral no que respeita a viver pacificamente.

O livro III trata das diversas formas de governo – democracia,

aristocracia e monarquia. A democracia será ideal para cidades pequenas, pois

é contranatura verificar que a maioria do povo governa enquanto a minoria

obedece. Não é viável o povo de um grande estado se reunir constantemente

de forma a decidir e expressar a vontade geral, pois iria haver confusão. A

aristocracia vinga melhor em estados medianos e requer moderação dos ricos,

contentamento nos pobres e pessoas competentes a governar. A monarquia

será a ideal para os grandes estados, no entanto, todos os reis preferem um

povo fraco, miserável e que não resista à sua vontade, ou seja, a vontade

particular do rei absolutista é a dominante.

Neste livro também se observa quais os melhores terrenos para que as

diferentes formas de governo possam vingar. As regiões quentes serão as

mais indicadas para ver proliferar o despotismo da monarquia, as regiões frias


     
 
ficam ao cargo da aristocracia com os seus estados medíocres quer em

riqueza, quer em grandeza. A democracia floresce nas regiões intermédias. A

realidade é que se analisarmos o nosso globo, facilmente conseguimos ver

este mapa. Desde a Rússia até à América, tal demografia é facilmente

identificável.

O livro IV faz um resumo da vontade geral e da forma como deverá ser

instituído o governo e as formalidades que devem ser cumpridas, tais como os

sufrágios, eleições, censura, etc.

O pacto social inicia-se por causa da fraqueza do homem e da

incapacidade que tem em se manter sem se unir a outro. Este processo teve 3

etapas: a propriedade criou a divisão entre ricos e pobres, a magistratura entre

poderosos e fracos, o poder arbitrário entre senhores e escravos.

Esta obra procura retratar uma utopia política que culmina na igualdade

de todos perante a lei. Rousseau procura descrever o Estado social equitativo,

onde a vontade geral é suprema e afastada da corrupção , sendo a soberania

um acto de vontade popular e o povo senhor supremo do seu destino. No

entanto, ainda faltam limar algumas arestas para que o povo possa realmente

ser igual, não só nos direitos e deveres, mas também no produto que a

sociedade produz. A obra pode ser considerada como um manual do

comunismo que procura a uniformização de classes, onde todos obtém o

mesmo e possuem por igual.

Hélder Ricardo Silva Barbosa

57898 - Filosofia

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