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Aspectos Referentes à Representação de Linhas


de Transmissão Trifásicas por Equações de
Estado: Análise no Domínio Modal e das Fases
S. Kurokawa, E. C. M. Costa, J. Pissolato e A. J. Prado

freqüências, no entanto tal modelagem torna-se pouco pratica,


Resumo – O trabalho proposto descreve em detalhes aspectos uma vez que os resultados no domínio do tempo são obtidos
referentes à modelagem de linhas trifásicas por equações de por meio de transformadas inversas e integrais de
estado, utilizando análise modal. É realizado um estudo dos convoluções. Ademais, tal representação não descreve um
transitórios de tensão e corrente no domínio dos modos e como
perfil detalhado das correntes e tensões ao longo da linha e
esses valores são convertidos em variáveis no domínio das fases.
A modelagem proposta baseia-se na representação das equações apresenta considerável dificuldade na implementação de
diferenciais da linha no espaço de estado, considerando os componentes não-lineares que representam os diversos
parâmetros longitudinais em função da freqüência. A função que fenômenos eletromagnéticos sobre linhas de transmissão.
descreve o comportamento dos parâmetros longitudinais é Na modelagem por parâmetros discretos, a linha de
sintetizada por meio de uma função racional e então inserida, no transmissão é representada por n elementos π equivalentes
domínio do tempo, na representação de cada modo de
conectados em cascata. Considerando a faixa de freqüências
propagação da linha. Logo, as correntes e tensões modais são
representadas por um sistema não-homogêneo de equações associada aos transitórios eletromagnéticos a serem estudados,
diferenciais apresentado no espaço de estado. Essas equações são comprimento da linha e uma quantidade suficiente de
solucionadas utilizando métodos numéricos de integração e em elementos discretos configurados em cascata, a natureza
seqüência, os valores modais são convertidos para o domínio das distribuída dos parâmetros elétricos da linha pode ser
fases, sendo então possível uma análise com embasamento físico representada com razoável precisão [1]. Dessa forma, pode-se
desses valores.
representar a linha diretamente no domínio do tempo, sem a
Palavras-Chave – Linhas de transmissão, equações de estado,
utilização de transformadas inversas. Ademais, essa
transitórios eletromagnéticos, análise modal. modelagem pode representar, com considerável precisão,
elementos com características não-lineares, tais como: efeito
I. INTRODUÇÃO corona, arco elétrico ou mesmo um perfil detalhado dos

L INHAS DE TRANSMISSÃO são usualmente modeladas, para


o estudo de fluxo de potência, margem de estabilidade
transitórios de tensão e corrente em diversos pontos da linha
[3], [4].
Para representação do sistema de primeira ordem de
entre outras análises em regime permanente, por circuito π
equivalente. Esse modelo é composto por uma impedância em equações diferenciais, proveniente da modelagem por
série e uma admitância shunt, ambas constantes, verificando parâmetros discretos, utiliza-se a representação por equações
que tal análise é realizada considerando apenas a freqüência de estado.
fundamental em regime, 50 ou 60 Hz. No entanto, para o No desenvolvimento trifásico para esse modelo são
estudo de fenômenos transitórios, essa representação é utilizadas técnicas de análise modal para decompor as fases da
implementada de uma forma mais elaborada, ou seja, levando linha em seus modos de propagação. Dessa forma, cada fase
em consideração o efeito solo e pelicular (skin effect), uma vez pode ser considerada como uma linha monofásica totalmente
que tais fenômenos são caracterizados por uma ampla margem desacoplada das demais. Logo, a representação por cascata de
de freqüências[1], [2]. circuitos π e equações de estado pode ser aplicada a cada
A modelagem de linhas de transmissão por parâmetros modo exato da linha e em seqüência, valores de tensão e
distribuídos representa com boa precisão uma ampla faixa de corrente modais são convertidos novamente para o domínio
das fases por meio da utilização de uma matriz de
Este trabalho recebeu apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de transformação modal [5].
Pessoal de Nível Superior (CAPES), Fundação de Amparo à Pesquisa do Com base nos valores de fase é possível fazer uma análise
Estado de São Paulo (FAPESP) e Conselho Nacional de Desenvolvimento detalhada dos transitórios em qualquer ponto da linha,
Científico e Tecnológico (CNPq).
S. Kurokawa (kurokawa@dee.feis.unesp.br) e A. J. Prado observando que os valores modais não representam
(afonsojp@uol.com.br) estão vinculados à Faculdade de Engenharia de Ilha embasamento físico real.
Solteira (FEIS), UNESP, Ilha Solteira, Brasil. Nesse estudo, é proposta uma análise detalhada das tensões
E. C. M. Costa (educosta@dsce.fee.unicamp.br) e J. Pissolato
(pisso@dsce.fee.unicamp.br) estão vinculados à Faculdade de Engenharia
e correntes modais e de fase, por meio de uma formulação
Elétrica e de Computação da UNICAMP, Campinas, Brasil. analítica das equações matriciais de transformação fase/modo
2

utilizando a matriz de Clarke. R1 R2 Rm


R0 L0
II. SÍNTESE DOS PARÂMETROS LONGITUDINAIS
Com base na referência [6] é possível descrever a síntese L1 L2 Lm
dos parâmetros longitudinais a partir da aproximação da
função tabelada Z(ω), impedância longitudinal em função da G C G C
freqüência, por uma função racional analítica F(ω). A 2 2
2 2
impedância longitudinal da linha é descrita da seguinte forma:

Z ( ω) = R ( ω) + j ω L ( ω) (1)
Fig. 2 . Circuito π com parâmetros longitudinais dependentes da freqüência.

Sendo R(ω) e L(ω) funções tabeladas para resistência e Na Fig. 2, R0, R1, R2,…, Rm são resistores e os elementos
indutância longitudinais, respectivamente. L0, L1, L2,…, Lm são indutores. Os termos G e C representam
A dependência da freqüência dos parâmetros longitudinais os parâmetros elétricos transversais da linha, condutância e
pode ser reproduzida, no domínio do tempo, por um circuito capacitância respectivamente.
equivalente, descrito na Fig. 1: Os elementos resistivos e indutivos são obtidos por meio do
procedimento descrito no item II.
R1 R2 Rm Baseando-se na Fig. 2, as tensões nos terminais emissor
R0 L0 (esquerdo) e receptor (direito) são descritas como u(t) e v1(t),
respectivamente, considerando a representação de uma linha
monofásica por um único circuito equivalente. A tensão u(t) é
uma fonte de tensão arbitrária aplicada no terminal emissor da
L1 L2 Lm linha. Nos indutores L0, L1, L2, ..., Lm circulam as correntes
i10(t), i11(t), ..., i1m(t), respectivamente.
Fig. 1. Circuito equivalente: representação dos parâmetros elétricos O número de blocos RL está diretamente associado ao
longitudinais.
ajuste da função sintetizada F(ω) e a faixa de freqüência a ser
representada.
Na Fig. 1, R0, R1, R2,…, Rm são resistores e L0, L1, L2,…,
A partir das correntes e tensões nos blocos RL é possível
Lm são indutores.
determinar um sistema de equações diferenciais de primeira
A impedância sintetizada por meio do circuito da Fig. 1 e
ordem para representação da linha por um único circuito
os elementos R e L são determinados a partir da seguinte
aproximação: equivalente (k = 1):

d Ik 0 Ik 0  m  1  m  1 1
m j ω R' i =  − ∑R j  +  − ∑R j Ik j  + Vk −1 − Vk (3)
Z(ω) ≈ F(ω) = R' 0 + j ω L'0 + ∑ (2) d t L0  j=0  L0  j=1  L0 L0
i =1 R'
jω + i
L'i d I k1 R 1 R
= I k 0 − 1 I k1 (4)
dt L1 L1
Essa técnica descreve um procedimento no qual os
d I km R m R
parâmetros R e L são ajustados de forma a reproduzir a = I k 0 − m I km (5)
natureza distribuída da impedância longitudinal, esse dt Lm Lm
procedimento é conhecido como vector fitting [6]. d Vk 2 2 G
Portanto, a impedância longitudinal Z(ω), em função da = Ik0 − I − V (6)
dt C C ( k +1) 0 C k
freqüência, pode ser representada por um circuito composto
por elementos discretos diretamente no domínio do tempo,
Se a formulação apresentada por (3)-(6) for estendida para
sem a utilização de transformadas inversas.
cada circuito π, considerando uma cascata com n elementos, é
III. REPRESENTAÇÃO POR PARÂMETROS DISCRETOS possível determinar n(m+2) equações de estado, descrevendo
detalhadamente as correntes e tensões em cada ponto da linha.
Considerando o circuito descrito na Fig. 1, é possível Ressaltando que para k = 1, a tensão v(k-1) é u(t). Logo, a
representar uma linha monofásica por cascata de circuitos π cascata com n elementos π equivalentes é expressa por um
levando em conta o efeito da freqüência sobre os parâmetros sistema não-homogêneo de dimensão n(m+2), representado no
elétricos longitudinais. Um elemento genérico da cascata é espaço de estado como:
descrito pela seguinte representação equivalente:

[ X ] = [A][X] + [B] u(t) (7)

A matriz quadrada [A] é formada com base nos parâmetros


3

elétricos da linha e possui dimensão n(m+2). t


[Z m ] = [TI ] [Z] [TI ] (11)
O vetor [X] é composto pelas tensões e correntes em −1 −t
diversos pontos da linha e possui n(m+2) elementos. [Ym ] = [TI ] [Y] [TI ] (12)
O vetor [B] possui dimensão n(m+2), sendo descrito como: t
[Vm ] = [TI ] [Vf ] (13)
−1
[I m ] = [TI ] [I f ] (14)
t
1  (8)
[B] =
 L 0 0 L 0  Em (11)-(14), [TI]t é a matriz transposta de [TI] e [TI]-t é a
matriz inversa de [TI]t. A matriz [TI] é uma matriz de
Considerando (7), observa-se que a matriz [A] é transformação modal que converte a multiplicação matricial
extremamente esparsa. Portanto, técnicas para armazenar e [Y][Z] em um produto na forma diagonal [7].
Portanto, a linha com n fases pode ser desacoplada dentro
manipular matrizes esparsas, sendo apenas os elementos não
de seus n modos exatos, como descreve a Fig. 3.
nulos armazenados, podem ser adotadas com o âmbito de
Na Fig. 3, cada modo comporta-se como uma linha
diminuir os custos computacionais do procedimento [5].
monofásica. As tensões e correntes no terminal A da linha são
convertidas em variáveis modais, logo todos os cálculos são
IV. REPRESENTAÇÃO PARA LINHAS TRIFÁSICAS realizados no domínio modal e em seqüência convertidos
Para incluir o efeito da freqüência na modelagem por novamente para o domínio das fases, sendo assim possível
equações de estado para linhas trifásicas, é proposta a analisar os valores obtidos no terminal B da linha.
representação da linha no domínio modal. No domínio dos
modos, uma linha polifásica pode ser representada por seus Terminal Terminal
modos naturais de propagação. Sendo assim, as operações são A B
realizadas no domínio modal e logo então retorna-se para o
Fase 1 Modo Exato 1 Fase 1
domínio das fases, onde os resultados podem ser analisados
com maior familiaridade. Sendo assim, uma linha de
transmissão com n fases pode ser desacoplada em seus n Fase 2 Modo Exato 2 Fase 2
modos exatos e cada modo pode ser interpretado como sendo [TI] [TI]
uma linha monofásica. A transformação das variáveis modais M
e de fase é feita por meio de matrizes de transformação modal. Modo Exato n
Fase n Fase n
As equações básicas de uma linha polifásica são descritas
como sendo [7]:

d 2 [Vf ] d 2 [I f ]
= [Z] [Y] [Vf ] ; = [Y] [Z][I f ] (9) Fig. 3. Representação esquemática de uma linha polifásica e transformação
d x2 d x2 modal por meio de uma matriz [TI].

Considerando que as matrizes [Z] e [Y] são variáveis em


Em (9) [Z] e [Y] são, respectivamente, matrizes com
função da freqüência, a matriz de transformação [TI] também
impedâncias longitudinais e admitâncias transversais da linha.
é dependente da freqüência. Teoricamente, a matriz de
Os vetores [Vf] e [If] são, respectivamente, tensões e correntes
transformação pode ser introduzida no domínio do tempo por
nas fases da linha.
meio de convoluções, no entanto, para uma linha composta
Para solucionar (9) para as n fases da linha de transmissão,
por n fases, seriam necessárias 2n(n-1) convoluções para
inicialmente essas equações são desacopladas umas das outras.
transformação modal para cada passo de cálculo, outras n
Portanto, a linha passa a ser descrita no domínio modal e dessa
convoluções para propagação no domínio modal e mais n
forma, as equações em (9) passam a ser descritas como:
convoluções associadas as admitâncias característica.
Portanto, 2n(n-1)+2 convoluções seriam necessárias [5].
d 2 [Vm ] d 2 [I m ] No entanto, para situações especificas nas quais uma linha
2
= [Z m ] [Ym ] [Vm ] ; = [Ym ] [Z m ] [I m ] (10)
dx d x2 polifásica transposta deve ser decomposta em seus modos
exatos, é possível utilizar uma matriz real e invariável em
Em (10), os vetores [Vm] e [Im] são, respectivamente, função da freqüência como matriz de transformação. Em
tensões transversais e correntes longitudinais no domínio ocasiões em que uma linha polifásica não é considerada
modal. As matrizes [Zm] e [Ym] são compostas por idealmente transposta, mas apresenta um plano de simetria
impedâncias longitudinais e admitâncias transversais vertical, o uso de uma matriz real e independente da
respectivamente. Sendo [Zm] e [Ym] matrizes diagonais, os freqüência, como matriz de transformação, pode ser
produtos das multiplicações matriciais [Zm][Ym] e [Ym][Zm] considerado. Em [8], é apresentado um estudo geral a respeito
são matrizes diagonais também, portanto os modos são do uso de uma matriz real e constante como matriz de
totalmente desacoplados uns dos outros. transformação modal para linhas trifásicas, trifásicas com
A relação entre valores de fase e modais é descrita pelas circuito duplo e duas linhas trifásicas com circuito duplo em
seguintes expressões matriciais [7]: paralelo.
4

Na referência [8], o desacoplamento de linhas não- Terminal Terminal


transpostas em seus modos exatos de propagação é feito a A B
partir da matriz de Clarke. Sendo assim, neste artigo, é
Fase 1 Modo α Fase 1
proposto o desacoplamento de uma linha trifásica não-
transposta e com plano de simetria vertical em seus
componentes modais. A matriz de Clarke é descrita por: Fase 2 Modo β Fase 2
[TClarke] [TClarke]
 2 1  Fase 3 Modo zero Fase 3
 6 0
3
 1 1 1 
[TClarke ] =  −  (15)
 6 2 3
− 1 − 1 1  Fig. 4. Usando matriz de Clarke como matriz de transformação modal.
 6 2 3 
As expressões matriciais que associam valores modais e de
fase, para tensão e corrente, são dadas por meio das seguintes
Quando a matriz de Clarke é utilizada como matriz de equações:
transformação modal, as equações (11) e (12) são reescritas da −t
seguinte forma: [Vf ] = [TClarke ] [Vm ] (20)
t (21)
[Z m ] = [TClarke ] [Z] [TClarke ] (16) [I f ] = [TClarke ] [I m ]
−1 −t
[Ym ] = [TClarke ] [Y] [TClarke ] (17)
Os vetores [Vf] e [If] representam as tensões e correntes nas
fases 1, 2 e 3. Os vetores [Vm] e [Im] são as tensões e correntes
Vale ressaltar que a matriz de Clarke pode ser utilizada modais. Observando que a matriz [TClarke]-t é a matriz inversa e
apenas para linhas com um plano de simetria vertical. transposta de [TClarke].
Desenvolvendo (16) e (17) obtém-se: As equações analíticas para as tensões de fase, em função
das tensões modais, são dadas por:
 Z α 0 Z α0 
[Z m ] = 0 Zβ 0  (18) 2 3 Vα + 6 V0
Z  V1 = (22)
 α0 0 Z 0  3 2
 Yα 0 Yα0  − 6 Vα + 3 2 Vβ + 2 3 V0
[Ym ] =  0 Yβ 0  (19) V2 = (23)
Y  6
 α0 0 Y0  − 6 Vα − 3 2 Vβ + 2 3 V0
V3 = (24)
Nas matrizes expressas em (18) e (19), o componente β é
6
um modo exato, pois não existe acoplamento entre ele e os As correntes nas fases 1, 2 e 3 são descritas de forma
outros modos, no entanto o mesmo não pode ser afirmado para analítica pelas seguintes expressões:
os modos α e zero.
De acordo com a referência [8], os termos mútuos nas 2 3 Iα + 6 I0
matrizes [Zm] e [Ym] podem ser desprezados quando utilizada I1 = (25)
a matriz de Clarke no desacoplamento modal. Dessa forma, 3 2
desprezando os termos Zα0 e Yα0, as matrizes [Zm] e [Ym] − 6 I α + 3 2 Iβ + 2 3 I 0
I2 = (26)
tornam-se matrizes diagonais e então os componentes α e zero 6
podem ser considerados como modos exatos. Nesse caso, a
− 6 I α − 3 2 Iβ + 2 3 I 0
linha com suas fases e modos pode ser considerada como I3 = (27)
ilustra a Fig. 4. 6
Portanto os componentes α, β e zero podem ser
considerados modos exatos e equiparados a três linhas De acordo com as expressões (22) e (25), observa-se que a
monofásicas independentes. Logo então cada modo pode ser tensão e a corrente na fase 1 depende apenas dos valores dos
modelado por elementos discretos e representado por equações modos α e zero, sendo independentes do modo β.
de estado.
V. ANÁLISE DAS GRANDEZAS MODAIS E DAS FASES
Para analisar as tensões e correntes modais e das fases, é
utilizada uma linha trifásica não-transposta de 440 kV, típica
no sistema de transmissão brasileiro. As fases são compostas
5

por condutores múltiplos com cabos do tipo Grosbeak e os circuito. O primeiro corresponde à linha com os terminas
cabos pára-raios são EHWS-3/8”. É adotada uma resistência receptores das fases abertos e o segundo consiste na linha com
do solo típica do território brasileiro, 1000 Ω.m e uma linha os terminais receptores das fases solidamente aterrados, como
com 100 km de extensão. Como descrito na Fig. 5: descreves as figuras 6 e 7:

4 5 (7.51; 36) Fase 1

Fase 2
Fase 3
1
V = 1 p.u.
2 3 (9.27; 24.4)
3.6 m

solo

Fig. 6. Teste com circuito aberto.

Fase 1

Fase 2
Fase 3
Fig. 5. Linha de 440 kV trifásica.
V = 1 p.u.
Os parâmetros longitudinais são calculados levando em
consideração o efeito solo e pelicular e a capacitância solo
transversal é calculada com base nos dados geométricos da
linha levando em conta as propriedades dielétricas do ar, como Fig. 7. Teste em curto-circuito.
descreve a referência [1].
Em seqüência, a linha é separada em seus componentes α, No teste considerando o terminal receptor da linha aberto, é
β e zero, sendo os termos mútuos desprezados. O aplicado um degrau de tensão de 1 p.u. na fase 1, como
desacoplamento da linha em seus modos exatos é realizado descreve a Fig. 6. As fases 2 e 3 são aterradas no terminal
por meio das equações (16) e (17). Logo então os parâmetros emissor (ou de alimentação) e ambas estão abertas no terminal
longitudinais e transversais de cada componente modal são receptor. Neste teste, as conexões com o solo estão
aproximados por uma função racional caracterizada apenas implicitamente representadas [9].
por pólos negativos e resíduos positivos. Enfim, os parâmetros Para o teste em curto-circuito, os terminais receptores das
no domínio modal são sintetizados por elementos discretos três fases estão aterrados, enquanto o terminal emissor da fase
resistivos e indutivos, de acordo com o procedimento descrito 1 é chaveado com um degrau de 1 p.u. e os mesmos terminais
no item II. São considerados seis pólos reais na síntese das nas fases 2 e 3 encontram-se abertos, como segue na Fig. 7.
impedâncias longitudinais para os componentes α, β e zero. Com base em (20), descreve-se [VfA] sendo o vetor com as
Sendo que cada bloco RL do circuito descrito na Fig. 1 tensões de fase no terminal emissor da linha e [VmA] o vetor
representa o ajuste de uma década de freqüência em relação a com tensões no terminal emissor dos modos α, β e zero.
impedância distribuída de cada modo de propagação. A partir de (20) obtém-se:
O modelo de linha proposto é aplicado na simulação dos
transitórios eletromagnéticos decorrentes de um chaveamento  2 1 
t
[VmA ] = (28)
na linha, para o teste com o terminal receptor aberto e em  6 V 0 3 
V
curto-circuito. Porém, antes é proposta a validação do método
comparando-o ao modelo de linha por parâmetros discretos
implementado no software comercial Microtran – EMTP. 2
Portanto é possível concluir que Vα = V e é um
A. Validação do modelo 6
Para o fim de comparar o modelo utilizado na analise degrau de tensão aplicado no terminal emissor do componente
proposta com algum outro modelo já bem conceituado, é 1
α, V0 = V é um degrau de tensão aplicado no terminal
utilizado o software do tipo EMTP Microtran. A presente 3
versão do Microtran disponibiliza uma quantidade limitada de emissor do componente zero e o componente β não está
elementos em sua representação, 46 circuitos π nominais. presente durante a energização da linha.
Logo, nas simulações realizadas utilizando-se o modelo Portanto, a partir da Fig. 8, observa-se a tensão transitória
proposto e o modelo implementado no Microtran, são simulada por meio da metodologia proposta e por meio do
considerados 46 elementos para ambas representações. modelo implementado no Microtran, considerando o teste com
São descritos dois testes distintos para analise das tensões e terminal receptor em aberto:
correntes transitórias: teste com circuito aberto e em curto-
6

2.5

2 (1) 2
(1)

Tensão (p.u.)
1.5
Tensão (p.u.)

(2) (2)
1 1

0.5

0 0

-0.5
0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5
Tempo (ms) Tempo (ms)
Fig. 8. Tensões nos terminal receptor da fase 1: modelo proposto (1) e Fig. 10. Tensões nos terminais receptores dos modos α (1) e zero (2).
Microtran-EMTP (2).
Considerando as equações analíticas (22)-(24) é possível
Vale ressaltar que para ambas representações foram calcular as tensões nas três fases da linha, com base nas
utilizados 46 elementos. Verifica-se que as curvas, que tensões modais Vα e V0. Observa-se que as tensões induzidas
representam as tensões sobre o terminal receptor da fase 1, nas fases 2 e 3 são iguais, como pode ser deduzido a partir das
estão praticamente sobrepostas, o que demonstra o adequado expressões (25) e (27), levando em conta que Vβ é nula para o
desenvolvimento do modelo utilizado para análise proposta. teste com circuito aberto.
B. Resultados obtidos a partir do teste com circuito aberto As curvas na Fig. 11 descrevem as tensões de fase:
Para o teste com circuito aberto, são considerados 200 2.5
circuitos π na representação em cascata [5]. Verifica-se que o 2
quanto maior a quantidade de elementos utilizados na (1)
representação, mais precisa torna-se a representação da 1.5
Tensão (p.u.)

natureza distribuída dos parâmetros elétricos da linha. Para um 1


estudo mais minucioso sobre a precisão da representação em
função do número de elementos e comprimento da linha, seria 0.5
necessária uma vasta e completa análise no domínio da 0
freqüência, o que foge do escopo do presente trabalho.
Uma grande deficiência dos diversos softwares do tipo -0.5 (2)
EMTP está na implementação por parâmetros discretos de -1
linhas transmissão longas, pois esses aplicativos 0 1 2 3 4 5
Tempo (ms)
disponibilizam apenas uma quantidade limitada de circuitos π
Fig. 11. Tensões nos terminais receptores das fases 1 (cur. 1), 2 e 3 (cur. 2).
na representação da linha, limitando a precisão dos resultados,
como no caso da versão do Microtran utilizada na análise
A curva 1 descreve o perfil da tensão no terminal receptor
anterior.
da fase 1, alimentada por 1 p.u.. A curva 2 representa as
Para calcular as tensões no terminal receptor das fases,
tensões induzidas nos terminais receptores das fases 2 e 3.
durante o teste com circuito aberto, inicialmente a linha é
Na fase 1, observa-se picos de tensão em torno de 2 p.u.,
representada no domínio modal, como mostra o esquema:
decorrentes da soma das ondas de tensão incidentes e
t=0 t=0 refletidas entre os terminais da linha [10]. Nas fases 2 e 3
Modo α Modo zero observa-se picos de tensão próximos a 0,75 p.u..
C. Resultados obtidos a partir do teste em curto-circuito

No teste em curto-circuito, inicialmente a linha é
representada no domínio modal, como mostra o esquema
Fig. 9. Representação modal para o teste com circuito aberto.
ilustrado na Fig. 12:

t=0 t=0
As tensões no terminal receptor dos componentes α e zero Modo α Modo zero
são calculadas por meio da representação por cascata de
circuitos π, como descrita no item III. A Fig. 10 descreve as
Vα V0
tensões nos modos de propagação α e zero:

Fig. 12. Representação modal para o teste em curto-circuito.


7

As correntes modais são dadas pela Fig. 13: expressões analíticas das tensões e correntes de fase
permitindo uma análise mais detalhada da transformação
0.07
modo/fase para essas grandezas.
0.06 Em suma o trabalho descreve de forma detalhada uma
modelagem para o cálculo dos transitórios eletromagnéticos
0.05
Corrente (p.u.)

em linhas de transmissão trifásicas. Sendo as fases da linha


0.04 representadas como três linhas monofásicas independentes, no
domínio modal, e representadas por cascata de circuitos π. Os
0.03 (1)
resultados no domínio das fases estão de acordo com as
0.02 simulações realizadas na referência [5] e de acordo com os
resultados obtidos pela modelagem implementada no EMTP,
0.01
(2) comprovando a precisão do modelo.
0
0 1 2 3 4 5
Tempo (ms) VII. REFERÊNCIAS
Fig. 13. Correntes nos terminais receptores dos modos α (1) e zero (2). [1] H. W. Dommel, “EMTP theory book”, Vancouver, 1986.
[2] W. Mingli, F. Yu, “Numerical calculations of internal impedance of
solid and tubular cylindrical conductors under large parameters”, IEE.
Verifica-se que a corrente no modo β é nula para o teste em Proc. Gener. Transm. Distrib, vol. 151, no 1, pp. 67-72, January, 2004
curto-circuito. Pode-se observar também, comparando as [3] M. S. Mamis, “Computation of electromagnetic transients on
figuras 13 e 14, que o perfil das correntes de fase no terminal transmission lines with nonlinear components”, IEE. Proc. Gener.
Transm. Distrib, Vol. 150, no 2, pp. 200-204, March, 2003.
receptor da linha, é majoritariamente determinado pela [4] M. S. Mamis, A. Nacaroglu, “Transient voltage and current
corrente do modo α. distributions on transmission lines”, IEE. Proc. Gener. Transm.
Distrib, vol. 149, no 6, pp. 705-712, November, 2002.
0.06 [5] S. Kurokawa, F. N. R. Yamanaka, A. J. Prado, J. Pissolato, “Inclusion
of the frequency effect in the lumped parameters transmission line
model: state space formulation”, Electric Power Systems Research,
0.04 vol. 79, pp. 1155-1163, 2009.
[6] B. Gustavsen, A. Semlyen. “Rational approximation of frequency
Corrente (p.u.)

(1) domain response by vector fitting”, IEEE Transactions on Power


0.02 Delivery, vol. 14, no 3, pp. 1052-1061, 1999.
[7] L. M. Wedephol, H. V. Nguyen, G. D. Irwin. “Frequency-dependent
transformation matrices for untransposed transmission lines using
0
Newton-Raphson method”. IEEE Transactions on Power Systems,
(2)
vol. 11, no 3, pp. 1538-1546, August, 1996.
-0.02 [8] J. C. C. Campos, J. Pissolato, A. J. Prado, S. Kurokawa, “Single real
transformation matrices applied to double three-phase transmission
lines”, Electric Power Systems Research, vol. 78, pp. 1719-1725,
-0.04 October, 2008.
0 1 2 3 4 5 [9] S. Kurokawa, J. Pissolato, M. C. Tavares, C. M. Portela, A. J. Prado,
Tempo (ms) “Behavior of overhead transmission line parameters on the presence of
Fig. 14. Corrente nos terminais receptores das fases 1 (cur. 1), 2 e 3 (cur. 2). ground wires”, IEEE Transactions on Power Delivery, vol. 20, nº 2,
pp. 1669-1676, 2005.
[10] R. D. Fuchs, “Transmissão de energia elétrica: linhas aéreas teoria das
A curva 1 representa a corrente no terminal receptor da fase linhas em regime permanente”, 2ª ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos
1 e a curva 2 descreve as correntes induzidas nos terminais e Científicos, 1979.
receptores das fases 2 e 3. BIOGRAFIAS

VI. CONCLUSÕES Sérgio kurokawa é graduado em engenharia elétrica (1990).


Professor da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (UNESP).
O objetivo do trabalho apresentado foi demonstrar, passo a Doutor pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Suas
passo, a implementação de uma modelagem para linhas de principais áreas de pesquisa são: transitórios eletromagnéticos em
transmissão trifásicas utilizando a representação no espaço de sistemas de potência e modelagem de linhas de transmissão.
estado e técnicas de análise modal. A representação por Eduardo Coelho Marques da Costa é graduado em engenharia
elétrica (2005). Mestre pela Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira
parâmetros discretos foi aplicada a cada modo de propagação (UNESP) e atualmente realiza o doutorado em engenharia elétrica na
devido a sua fácil implementação, versatilidade na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Suas principais
representação de fenômenos eletromagnéticos não-lineares, áreas de pesquisa são: transitórios eletromagnéticos em sistemas de
que por sua vez podem ser modelados por meio de elementos potência e modelagem de linhas de transmissão.
discretos, e considerável precisão nos resultados. José Pissolato Filho é doutor pela “Université Paul Sabatier”, França
O trabalho descreve, além dos resultados no domínio das (1986) e atualmente professor titular da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Suas principais áreas de pesquisa são:
fases, o perfil das tensões e correntes modais. Embora os transitórios eletromagnéticos e compatibilidade eletromagnética.
valores modais não apresentem o teor físico adequado para Afonso José do Prado é graduado em engenharia elétrica (1991) e
análise dos transitórios da linha, é interessante analisá-los para doutor pela Universidade Estadual de Campinas (ÚNICAMP). Suas
uma compreensão detalhada dos procedimentos que levam aos principais áreas de pesquisa são: transitórios eletromagnéticos em
resultados finais, no domínio das fases. Ademais, são descritas linhas de transmissão.

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