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Introdução

Começar uma investigação do ministério feminino é entrar num debate. Digo debate porque

durante a longa história da igreja, o papel das mulheres tem sido um assunto em que, dificilmente,

todo mundo concorda. Alguns acham que as mulheres podem assumir qualquer ministério dentro da

igreja, outros acham que as mulheres não podem assumir nenhum ministério e, entre essas duas

perspectivas, há o grupo que acha que as mulheres podem assumir alguns ministérios apenas. Mesmo

que os grupos sejam separados no assunto, todo grupo emprega os ensinos de Paulo como prova da

sua própria conclusão. Cada grupo basea sua posição nas escrituras e nos ensinos de Paulo. Então se

as conclusões estão baseadas nas escrituras, deve ter uma só conclusão que é certa. Qual das

conclusões é certa? Agora começamos a entender o problema. Uma investigação do ministério

feminino é antes de tudo uma questão da exegese e interpretação e assim não será uma investigação

fácil.

Há numerosos livros que tratam esse assunto do ministério feminino mas, como Neil R.

Lightfoot diz “o que está faltando é uma base teológica sólida, uma base derivada de princípios

exegéticos sólidos”1. A primeira etapa no processo de exegese é entender o que a Bíblia dizia aos

primeiros ouvintes e portanto é necessário entender a situação cultural e histórica. Só depois desse

entendimento podemos perguntar “como devemos entender e aplicar a passagem às pessoas hoje, se

deve ser aplicado ?”.

Então, antes de investigar as cartas de Paulo nos seus próprios contextos, destacarei alguns

detalhes gerais com respeito à posição das mulheres no mundo antigo.

Mulheres no mundo antigo.


1
O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora Vida Cristã, P9
2

O Antigo Testamento mostra que, na criação, a mulher foi designada a complementar o

homem. Os dez mandamentos colocam honra tanto no pai quanto na mãe (Ex 20:12) e a algumas

mulheres são dadas posição especial dentro da história do povo: Miriã, (Ex 2:1-10; Miq 6:4) e Débora

(Ju 4:5). Portanto as mulheres não tiveram os mesmos direitos como os homens: uma mulher não

podia se divorciar do seu marido e, as filhas e as esposas não podiam herdar os bens se sobrevivesse

um herdeiro (Nu 27:1-11). O papel da mulher dentro da sociedade judaica pode ser entendido por

uma oração comumente feita pelos homens “Bendito és tu, Senhor, nosso Deus, rei do universo, que

não me fizeste nascer pagão, nem escravo, nem mulher”2.

Os evangelhos apresenta a atitude nova trazida por Jesus para esse clima opresivo. Jesus

mostrava por seu exemplo de vida como a opinião da sociedade a respeito da mulher podia ser

transformada. Jesus falou sozinho com a mulher samaritana no poço (Jn 4:4-30); Maria e Marta, as

irmãs de Lázaro, eram consideradas por Jesus com tanta afeição quanto Lázaro (Jo 12:1-3); Jesus

curava tanto mulheres quanto homens (Mr 7:24-30; Lu 7:36-50). Foram as mulheres que assistiram a

morte de Jesus, foram as mulheres que preparam os aromas para o Seu corpo e foram as mulheres que

receberam a primeira notícia da Sua ressureição (Lu 23:55-24:8).

A cultura grega e a cultura romana tiveram uma influência grande no mundo do novo

testamento e dentro da cultura grega a posição da mulher quase sempre era inferior àquela do homen.

O homem se casava a fim de ter filhos e a mulher era destinada à procriação. As mulheres não

receberam muita educação exceto música. O mundo romano oferecia algo melhor para a mulher. A

mulher romana era considerada legalmente como o propriedade do seu marido mas a educação era

aberta cada vez mais para a mulher e a posição dela em muitos aspectos era uma posição de igualdade.

O livro de Atos conta o desenvolvimento da primeira igreja dentro dessas culturas grega,

romano e judaica. O papel da mulher nesse desenvolvimento é limitado. Nenhuma mulher é

mencionada entre os apóstolos originais, ou na comunidade importante de Jerusalém, ou na igreja de

Antioquia. Paulo é Pedro são os homens que tomam o lugar central dessa história e as mulheres

aparecem apenas como apoios auxiliares ou opositoras da missão. Elisabeth S. Fiorenza argumenta

2
A Mulher na Igreja Primitiva, Rinaldo Fabris e Vilma Gozzini, Edições Paulina, P85.
3

que tal apresentação das mulheres é errônea, e o “o autor (Lucas) negligencia sua(as mulheres)

contribuição como miissionárias e líderes da igreja por sua própria conta”3

Paulo.

Paulo tem sofrido muita difamação sobre seus ensinamentos com respeito ao papel das

mulheres. Por uma lado ele é apresentado como um homem machista que deprecia mulheres, por

outro lado ele é o grande heroi que, com seu ensinos indiscutíveis, resgatou a igreja da influência

inaceitável das mulheres. Ele foi um homem que se formou na tradição judaica, ele estudava a Tora 4,

ele foi um cidadão romano e durante suas viagens missionárias, passou muito tempo dentro da cultura

grega. Assim o apóstolo teria entendido mais do que o leitor moderno qual era a posição da mulher

na época em que ele morava.

A maioria das discussões sobre seu ensinamento se baseam em alguns textos das suas cartas.

É preciso lembrar os motivos por que Paulo escrever suas cartas. Elas foram escritas como respostas

às perguntas específicas das novas comunidades, elas foram escritas para corrigir doutrinas falsas nas

novas comunidades e foram escritas para fortalecê-las. Cada carta tem suu próprio propósito e deve

ser estudada dentro do seu próprio contexto. Essas cartas e seus textos 5 serão estudadas mais adiante,

no entanto o fato que Paulo não deprecia as mulheres deveria ser evidente por ler outros textos do

apóstolo.

A carta aos Romanos por exemplo. O último capítulo é uma lista de saudações pessoais na

qual o apóstolo menciona várias mulheres. Febe recebe uma recomendação de Paulo na qual o

apóstolo lhe dá trés títulos - irmã, diakonos,e prostatis. Como devem traduzir os termos diakonos e

prostatis têm sido o objeto de muito discussão? Cada vez que Paulo usa diakonos para referir-se a si

ou um outro homem, é traduzido por “ministro”. Quando se refere à uma mulher, como nesse caso, é

traduzido por diaconisa que sugere uma ênfase diferente no sentido de servir. Alvera Mickelson

comenta que os diáconos têm responsibilidade espiritual, as diaconisas “são que dão comida para os

pobres”6. Os autores concordam que o título dado à Febe deve ser traduzido com o sendtido de uma

3
As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992, P199
4
As mulheres não podiam estudar a Tora, e pensar nisso foi considerado impossível - “Que as palavras da Tora sejam
queimadas, não devem ser entregues às mulheres”. O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora Vida Cristã, P13.
5
Gálatas 3; 1Cor 7; 1Cor 11; 1Cor 14; 1Tim 2.
6
Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P231.
4

líder na igreja7. A importância da posição de Febe na igreja de Cencréia é ressaltada pelo termo

prostatis. Embora N. Lightfoot sugira que esse termos signifique ajudadora no sentido de que repartia

sua riqueza entre a igreja 8, os outros autores argumentam que o termo tem um sentido mais forte que

isso e na literatura da época tinha a conotação de líder oficial9. Concluíndo esse debate, Alvera

Mickelson comenta que Febe “era uma “presbitera em exercíco de liderança”ou “diaconisa líder da

igreja””10. Assim, Paulo considerava Febe uma pessoa importante dentro da liderança da igreja de

Cencréia.

Priscilla e Áquila são saudados como “cooperadores” (Rm 16:3) e o fato de Paulo colocar o

nome da mulher em primeiro lugar pode significar que ela era a mais importante dos dois.11 A

linguagem empregada por Paulo, “os quais pela minha vida arriscaram as suas próprias

cabeças”(Rm16:4), frisa a importância desse casal no ministério. Um outro casal - Andrônico e a

Júnias - Paulo descreve como “meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre

os apóstolos” (Rm 16:7). O significado do “notáveis entre os apótolos” tem sido o objeto de mais

discussão. Os exegetas duvidaram que o título de apóstolo podia ser aplicado a uma mulher e assim

acreditaram que Junias se referia a um homem. Mais por aplicar o título de apóstolo a esse casal,

Paulo mostrava a grande estima que tinha para o casal.12 Evódia e Síntique são duas mulheres que

Paulo menciona na carta aos Filipenses com um apelo para que elas pensásem “concordemente” (Fl

4:2,3). A influência de cada mulher dentro da igreja deveria ter sido significada para que Paulo fizesse

esse apelo.

Que o apóstolo não deprecia a posição das mulheres no ministério é evidente nestes

exemplos. Até podemos concluir que dentro de uma cultura em que a mulher era considerada inferior,

Paulo as leva para um nível mais alto por reconhecer o seu envolvimento no ministério e por elogiá-

lo.

Gálatas 3:28 “nem homem nem mulher”.


7
Ibid. P231; As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992 P203-204; Paulo e a
mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993, p108.
8
O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora Vida Cristã, P19.
9
As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992 P217.
10
Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P232.
11
As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992, P213.
12
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993, p111. Dictionary of Paul and his letters, IVP 1993,
P589.
5

A carta foi escrita para reagir à situação de crise que veio a criar-se nas jovens comunidades

fundadas por Paulo. Depois que Paulo saiu da região, passaram outros missionários judeu-cristãos

afirmando que a fé em Jesus Cristo não bastava para ser salvo. Para os pagãos convertidos, foi

preciso submeter-se as obrigações da lei, inclusive o rito de circuncisão. Foi uma situação grave e por

insistir nas prescrições da lei, esses missionários consideravam que a morte e a ressurreição de Jesus

Cristo não oferecia alternativa verdadeira à lei. Assim, os cristãos ainda eram ligados à lei e não

livres dela. Por insistir nas obrigações da lei, esses missionários colocavam um sistema de classe

dentro da comunidade no qual os judeus-cristãos, por receber a circuncisão, eram mais importantes

que os pagão-cristãos. Paulo responde por insistir na liberdade que veio por meio de Jesus Cristo.

Ele fala da situação com Pedro em Éfeso (Gl 2:11-21), ele fala de Abraão e como Deus o justificou

por causa da sua fé (Gl 3:6-14). Paulo mostra que através da fé em Cristo uma nova era começou em

que:

“não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher;

porque todos vós sois um em Cristo Jesus” Gl 3:28.

A preocupação de Paulo, dentro do contexto em que a carta foi escrita, é mostrar o absurdo de

manter a discriminação entre os judeus e os pagãos13. Mas o apóstolo estendeu a questão de liberdade

em Cristo por mencionar a escravidão e, o homem e a mulher e assim mostrou que em Cristo não

deveria existir nenhuma discriminação.

Há duas perguntas que nos interessam agora: como devemos entender nem homem nem

mulher ? e como devemos tratar outros textos em relação esse texto?

Alguns autores sugerem que nem homem nem mulher se refira à criação (Gen 1:27) e portanto

deve ser entendido no sentido que em Cristo há a criação da nova humanidade em que “as

significativas divisões e distinções da antiga era simplesmente se dissolvem na existência coletiva em

Cristo”14. Mas devemos lembrar que o ensino dos missionários a respeito da circuncisão teve

conseqüências para as mulheres - elas não receberiam a circuncisão e só podiam receber o pleno

diretos da comunidade através do casamento. Por insistir na abolição da distinção entre circuncisão e

não-circuncisão, Paulo já elevou a posição da mulher. Assim, Elisabeth Florenza argumenta que nem

13
Elisabeth Fiorenza nota que a preocupação de Paulo foi a discriminação religiosa e não as distinções poítico-culturais.
P241.
14
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993,P27.
6

homem nem mulher deve ser entendido em termos de casamento e relações sexuais e conclui “sem

levar em conta suas capacidades procriativas e os papéis socias conexos com elas, as pessoas serão

membros plenos do movimento cristão em e mediante o batismo”15. Paulo afirma o valor que o

homem e a mulher tem diante de Deus. A mulher não é inferior ao homem e por meio da fé e do

batismo ela recebe o pleno benefícios de Deus. Mas isso não necessariamente significa que os papéis

dos homens e as mulheres devem ser os mesmos.16

A importância desse texto como uma base para entender o ensino de Paulo com respeito ao

mulher é questionado. Neil Lightfoot sugere “não é necessário……afirmar arbitrariamente que

Gálatas 3:28 é a verdadeira posição paulina sobre as mulheres, que todas as demais declarações de

Paulo devem ser interpretadas com base nesta,”17. Mas o texto de Gal 3:28 é generalmente aceito

como um antigo hino batismal cristão18 e outras cartas do Apóstolo tem exemplos paralelos da

fórmula19. Portanto o que Paulo escreveu em Gal 3:28 é uma resposta a discriminação que existia e

nos fornece um princípio importante - em Jesus Cristo não há mais discriminação. Como tal, o texto

é importante para entender os outros ensinos do apóstolo, mas isso não significa que o que está escrito

em Gálatas servirá para negar o que Paulo escreveu em outras cartas. Como Brendan Byrne comenta

“O que Gl 3:27-28 nos fornece, porém, é precioso panorama, mediante o qual podemos sondar a

ideologia, se não diretamente a prática, do período inicial”20.

Na carta aos Gálatas, Paulo destaca uma reposta contra os ensinos falsos que levavam a

comunidade a insistir na obediência à lei e ao mesmo tempo criava discriminação entre os judeus e os

gregos. Dentro da sua resposta Paulo escreveu um princípio, baseado num antigo hino de batismo,

em que todas as formas de discriminação são negadas. Esse princípio de unidade em Cristo tem

implicações para todos - judeu, grego, escravo, liberto, homem e mulher. A respeito do homem e da

mulher, Paulo afirma uma ideologia em que os homens e as mulheres são iguais em dignidade e

responsabilidade perante Deus, mas ele não destaca as práticas dessa ideologia.

15
As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992, P245,246.
16
Alvera Mickelson argumena com base nesse texto “homens e mulheres devem pregar. Mulheres e homens devem fazer
discípulos” Mulheres no ministério, P250.
17
O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora Vida Cristã,P19.
18
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993,P28-34; As origens cristãs a partir da mulher,
Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992,P241ff.
19
1 Cor 7:17-24; 1 Cor 12:13
20
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993,P34.
7

1 Coríntios 7 “é bom que o homem não toque em mulher”

A comunidade em Corinto foi fundado por Paulo mas, como aconteceu na Gálacia, quando o

apóstolo saiu, doutrinas falsas invadiram a igreja jovem. Entre as muitas interpretações maus 21 o que

Paul examina no capítulo 7 são os problemas relativos ao casamento e às relações sexuais. Parece que

a comunidade estava exigindo com uma atitude ascética em que os membros da comunidade deviam

evitar relações sexuais no casamento. Ao fim a comunidade excluiu a possibilidade de novos

casamentos e procurou romper casamentos já realizados. A cidade de Corinto “era proverbial no

mundo antigo por sua aberta licença e excesso sexual”22 e os membros que não podiam agüentar a

imposição ascética teriam sido tentado nesse ambiente licencioso até caírem na imoralidade sexual.

Então por entender a situação dentro da comunidade, as primeiras palavras escritas por Paulo,

“é bom que o homem não toque em mulher” (1Cor 7:1) não se constituía a opinião do apóstolo mas

sim a proposição da comunidade em Corinto23. O capítulo destaca o pensamento do apóstolo com

respeito aos relacionamentos entre homens e mulheres. A posição ideal para Paulo era o ser soltiero

(7:7) mas nem todos recebem esse dom e assim é melhor se casar do que viver abrasado (7:9). Com

respeito dos relações sexuais entre homem e mulher, Paulo afirma a igualdade de cada um por dizer

que a mulher não tem poder sobre o seu corpo, e sim o marido, e vice-versa (7:4). Não podemos

concluir mais sobre os relacionamentos gerais dentro do casamento por que Paulo só enfatiza as

relações sexuais24.

Contudo, há uma coisa notável nesse texto. Paulo aconselha os cristãos, de modo especial as

mulheres, a ficarem livres dos laços matrimoniais e “os que se casam são “divididos” e não

igualmente dedicados aos negócios do Senhor”25. Podemos achar estranho como Paulo

desqualificava as pessoas casadas como cristãos menos dedicados quando tinha Priscilla e Áquila

como “cooperadores” (Rm 16:3). Mas o próprio Paulo admite que “não tenho mandamento do

Senhor; porém dou minha opinião”(1Cor 7:25).

1 Cor 7 revela o pensamento de Paulo com respeito ao relacionamentos sexuais entre homem

e mulher e, de novo, o apóstolo eleva a posição da mulher ao mesmo nível do homem. O discurso é a
21
Veja, Ibid, P39-41 para mais detahles.
22
Ibid, 1993,P44.
23
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993,p45; As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth
S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992, p256; O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora Vida Cristã,P20.
24
As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992,p260.
25
Ibid, P262.
8

resposta contra a posição ascética adotada pela comunidade em Corinto em que achava que “é bom

que o homem não toque em mulher”(7:1). O apóstolo destaca sua posição ideal - ser soltiero e parece

que ele disqualificava as pessoas cassadas, de modo especial as mulheres, do ministério por ser

distraídas.

1 Coríntios 11: 2-16 - o comportamento das mulheres no culto.

A carta aos Coríntios continua com várias respostas do apóstolo e no capítulo onze ele destaca

como as mulheres devem agir no culto. Em particular a questão de usar ou não usar o véu 26 na hora

de orar ou profetizar estava causando problemas dentro da comunidade. É importante notar ao

começo que Paulo não proibia as mulheres de orar nem profetizar, ele discute só como elas deviam

fazer isso (1Cor 11:5). Ele insiste que as mulheres devem usar um véu na hora de orar ou profetizar e

destaca algumas razãos por essa conclusão.

Primeiramnete Paulo escreve da ordem criada por Deus em que “ser Cristo o cabeça de todo

homem, e o homem, da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo.”(11:3). O ponto crucial nessa declaração

é o sentido da palavra grega kephale traduzida por cabeça. Por dizer kephale o apóstolo emprega a

palavra como uma metáfora e também no sentido físico. Claramente como sentido físico não há

problema mas como devemos entender o sentido do uso da palavra como uma metáfora? Duas opções

parecem razoável: A cabeça é empregada no sentido de uma pessoa tendo autoridade sobre uma outra

pessoa. Assim podemos concluir que Paulo está dizendo que Cristo tem a autoridade sobre o homem

e o homem sobre a mulher. A outra opção é que a palavra é empregada no sentido de fonte e assim

Cristo é a fonte do homem e o homem da mulher. Alvera Mickelson destaca muitas estatísticas para

provar que a palavra kephale deve ser entendida como fonte e não como uma pessoa que tem

autoridade sobre a outra27. Outros autores concordam28, porém Neil Lightfoot desconcorda e conclui

que kephale significa ter autoridade e o ato de “cobrir a cabeça é um sinal de subordinação”29. Mas

26
Embora o texto original não empregue a palavra “véu”, há razão para concluir que o apóstolo se refere a um véu -
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993, P70-73. Outros eruditos concluem que o texto se
refere um estilo de cabelo - As origens cristãs a partirda mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992, P266-
267. Outros têm concluído que a preocupação do apóstolo era com a homossexualidade - detalhes veja Paulo e a mulher
Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993, P66-67. Ao fim o que nos importa mais é a explicação do Paulo e basta
concluir que o texto pode se referir a um véu mas pelo menos uma cobertura da cabeça.
27
Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P235-238.
28
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993, P75-78; Dictionary of Paul and his letters, IVP
1993, P584; As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992,P 266.
29
O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora Vida Cristã, P24.
9

por que é que Paulo argumenta que seria vergonhoso se o homem se cobrisse quando isso é um sinal

de subordinação?

Paulo continua a dizer “a mulher é a glória do homem”(v7), “o homem não foi feito da

mulher, e sim a mulher, do homem”(v8), e “o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a

mulher, por causa do homem”(v9). No verso 10 Paulo ordena as mulheres a cobrir suas cabeças

como “sinal de autoridade”. Isso é o sinal da autoridade que o homem tem sobre a mulher? A

palavra exousia (autoridade) normalmente é adotada no sentido de autoridade ativa não passiva e

assim o sinal da autoridade se refere a autoridade da mulher para orar e profetizar, não a autoridade do

homem sobre a mulher.30 Mas se reunirmos esses versos e se insistirmos que kephale deve ser

entendido como ter autoridade ( mesmo que as provas mostrem ao contrário), podemos concluir desse

texto que o apóstolo está colocando uma distinção entre o homem e a mulher em que o homem é mais

importante. Porém parece que Paulo retifica essa desigualdade por dizer “nem a mulher é

independente do homem, nem o homem independente da mulher. Porque, como provém a mulher do

homem, assim também o homem é nascido da mulher; e todo vem de Deus”(v11,12).

Então como devemos entender esse texto que claramente é difícil. É preciso lembrar do

contexto e a situação na cidade de Corinto. Orar com cabelo sem cobertura era o costume dos outros

cultos pagãos e assim a mesma prática no culto cristão podia ser mal entendida 31. O cabelo de uma

mulher era considerado com um objeto de desejo e uma mulher que não se cobria era considerada

como se estivesse procurando um marido. Assim, uma mulher sem cobertura traria desonra ao seu

marido32. A comunidade em Corinto exigia numa imposição ascética e as distinções entre masculino

e feminino não eram vistas como importante à comunidade. Paulo diz que por cobrir seu cabelo, a

mulher conserva sua distinção feminina e assim traz honra ao seu marido 33. Em tudo isso a

preocupação do apóstolo é com o testemunho da comunidade entre os pagãos da cidade.

Nesse texto o apóstolo respondeu à prática erradas da mulher orar ou profetiza sem cobrir a

cabeça. Ele implora as mulheres a adotarem a prática de orar com a cabeça coberta como as outras

comunidades faziam (v16). Ele explica suas razões para insistir nisso e faz lembrar das distinções que

30
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993, P64; O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora
Vida Cristã, P27; A Mulher na Igreja Primitiva, Rinaldo Fabris e Vilma Gozzini, Edições Paulina, P104
31
As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992,P265-267.
32
Dictionary of Paul and his letters, IVP 1993, P585.
33
A Mulher na Igreja Primitiva, Rinaldo Fabris e Vilma Gozzini, Edições Paulina, P99.
10

existe entre os homens e as mulheres (v3, 8, 9) mas parece que ele reconheceu a possibilidade de se

mal entender esses versos e retificou essa possibilidade por dizer que “todo vem de Deus”(v12).

A resposta de Paulo serve para uma situação específica que a comunidade em Corinto

enfrentava. A questão de usar ou não usar um véu hoje em dias não tem muito importância mas o que

nos interessa é o que sua resposta revela sobre seu pensamento com respeito às mulheres e as

mulheres no ministério. No texto muito continua a ser difícil de entender, cabeça, sinal de

autoridade por exemplo, mas um ponto é claro, o apóstolo não proibiu as mulheres de orar nem

profetizar no culto (v5). Com respeito às mulheres em geral, a intervenção de Paulo nessa questão

mostra que as mulheres são distintas dos homens e assim devem conservar essas distinções. Mas isso

não significa que as mulheres são menos importante que os homens.

Ao fim, a maior preocupação de Paulo era conservar uma testemunha boa entre a cidade pagã

de Corinto e como Elizabeth S. Florenza comenta Paulo se preocupa com “a ordem e o caráter

missionário da comunidade litúrgica”34

1 Cor 14:34-36 “conservem-se as mulheres caladas nas igrejas”

Se esses dois versos foram escritos por Paulo ou se foram interpolados por um outro escritor

tem sido o objeto de muita discussão. A ordem que as mulheres conservem-se caladas “cai como

uma bomba”35 no contexto da carta e parece como uma contradição a 1Cor 11:4-5 em que Paulo não

proibiu as mulheres a participar no culto. Há vários manuscritos antigos em que os versos 34,35 são

colocados depois do 40 e alguns eruditos rejeitam os versos de ter sido escrito por Paulo e sugerem

que se constituíram uma adaptação pós-paulina36. Outros autores reconhecem as dúvidas mas

insistem que não há prova suficiente para rejeitar os versos37. Ao fim os versos fazem parte do cânon

e assim devemos tentar entendê-los.

A tendência da comunidade era procurar os dons espirituais e especialmente o dom de falar

em línguas até essa tendência “cria certa confusão e desordem”38. No capítulo 12 Paulo começa a
34
As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992, P268.
35
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993, P93.
36
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993, P103; O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora
Vida Cristã, P36 - o autor destaca alguns das teorias contra os versos sendo de Paulo mesmo que o autor aceite o texto
como paulina.
37
As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992, P268; Dictionary of Paul and his
letters, IVP 1993, P589.
38
A Mulher na Igreja Primitiva, Rinaldo Fabris e Vilma Gozzini, Edições Paulina, P108.
11

tratar esse assunto e no capítulo 14 ele apela para a comunidade e a exorta que o objetivo fundamental

dos dons é a edificação da comunidade (14:3, 4, 5, 12, 26). No verso 27 ele trata o assunto de

falar em línguas e coloca restrições para essa prática e no verso 29 faz a mesma coisa com respeito à

profetização. No verso 34 ele se refere às mulheres e de novo coloca restrições - devem ficar caladas

nas igrejas porque não lhes é permitido falar. E daí surge o problema - como é que Paulo não

proibiu as mulheres a orar ou profetizar (11:4,5) mas agora insiste que elas não pudessem falar?

Primeiramente quem são as mulheres? São todas as mulheres, sejam elas virgens, sejam elas

viúvas ou e só as mulheres casadas? A sugestão de Paulo que as mulheres perguntem seus maridos

em casa (v35) sugere que Paulo se refere as mulheres casadas somente 39. Mas que tal os casais

missionários como Priscilla e a Áquila? Se insistirmos que a exortação serve para toda a igreja seria

uma dificuldade mas, se for uma situação própria de Corinto não haveria essa dificuldade. Então a

exortação “Como em todas as igrejas dos santos”(v33) pode bem se referir ao frase anterior -

“porque Deus não é de confusão e sim de paz”(v33) e assim a ordem de ficarem caladas se refere

nessa situação específica às mulheres casadas40 na comunidade em Corinto.

Por dizer “não é lhes permitdo falar” (v34), o apóstolo proíbe as mulheres de falar em geral

no culto ou só as proíbe interromper o culto? Neil lightfoot conclui que as mulheres eram proibidas

de falar em geral41porém outras dizem que é difícil saber exactamente como Paulo as proibiu mas é

evidente que as mulheres deviam se comportar numa maneira que serve para a edificação da

comunidade42.

Essa passagem não se situa em conflito de 11:4,5 mas coloca certas restrições para que a

comunidade edifique a igreja. Paulo coloca tantas restrições na prática de falar em línguas e de

profetizar, quanto às mulheres. Assim é evidente que a preocupação do apóstolo era com a

testemunha da comunidade dentro da cidade pagã de Corinto. Como Elisabeth S. fiorenza comenta

“em ambas as passagens, Paulo está, pois, colocando um limite e qualifcação para a participação

39
As origens cristãs a partirda mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992, P269; Dictionary of Paul and his
letters, IVP 1993, P589; The message of 1 Corintians, David Prior, BST series, IVP, 1993, P251-252.
40
Dentro da cultura era considerada mal educada se uma mulher perguntasse seu marido ou o marido de uma outra
mulher na frente de outras pessoas. As mulheres eram consideradas incultas e assim seria melhor se elas se informassem
por perguntar os seus maridos em casa. Dictionary of Paul and his letters, IVP 1993, P589; A Mulher na Igreja
Primitiva, Rinaldo Fabris e Vilma Gozzini, Edições Paulina, P112.
41
O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora Vida Cristã, P32,33.
42
The message of 1 Corintians, David Prior, BST series, IVP, 1993, P251-252
12

pneumática das mulheres na liturgia da comunidade”43. Paulo não proibiu a participação das

mulheres no ministério mas insistiu que tudo seja feito com decência e ordem (v40).

1 Timóteo 2:8-15 “não permito que a mulher ensine”

O fato das cartas pastorais, 1&2 Timóteo e Tito, sendo escritas por Paulo serem

questionadas. Alguns autores como Brendan Byrne conclui que as cartas foram escritas por um

discípulo de Paulo e assim não fazem parte de uma análise do Apóstolo44. Outros fontes concluem

que as cartas foram escritas por Paulo45 e Neil Lightfoot conclui que a questão de ser paulina ou não

“não vem ao caso, pois 1 Timóteo continua sendo parte do cânon e seus ensinos”46.

Então é mais útil procurar entender a carta no seu contexto como uma carta pessoal escrita

por Paulo para Timóteo para que o apóstolo pudesse avisar o jovem missionário sobre alguns

acontecimentos dentro da comunidade em Éfeso. É evidente na carta que ensinos falsos estavam

criando problemas dentro da comunidade (1Tim 1:3-4; 6-7). O caráter desses ensinos parecem como

as sementes de gnosticismo que desabrochariam mais tarde no segundo século 47. Os ensinos

colocavam duas tendências - uma atitude ascética e uma atitude imoral (como Paulo tinha encontrado

em Corinto). Os ensinos negavam que Adão foi criado primeiro, e desprezavam a instituição do

casamento (1Tim 4:1-3). O maior templo pagão - à deusa Artemis, ficava em Éfeso e provavelmente

alguns dos convertidos saíram dessa prática que envolvia prostitutas cultuais. Havia mulheres

educadas e ricas que tinham a costume de se vestir com roupas caras e isso teria causado um conflito

com as mulheres mais simples e modestas. Todos esses fatos teriam tido um efeito no culto e assim

podemos concluir que de novo a preocupação do apóstolo era na edificação da igreja e na sua

testemunha (1Tim 3:14-16).

É preciso interpretar a passagem (2:8-15) com base nesses fatos e como Barclay comenta

“Ela (a carta) não pode ser lida fora do seu contexto histórico, pois aparece totalmente da situação
43
As origens cristãs a partir da mulher, Elisabeth S. Fiorenza, Edições Paulinas, 1992, P273.
44
Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993, P135; A Mulher na Igreja Primitiva, Rinaldo Fabris
e Vilma Gozzini, Edições Paulina, P116,117.
45
Dictionary of Paul and his letters, IVP 1993, P590-591; The letters to Timothy, Titus & Philemon, Daily Study Bible
series, William Barclay, St Andrews Press, 1975, P1-3.
46
O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora Vida Cristã, P34.
47
Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P244-245. The letters to Timothy,
Titus & Philemon, Daily Study Bible series, William Barclay, St Andrews Press, 1975, P5-7.
13

na qual foi escrita”48. Então como devemos entender esse texto? O verso nove que trata do traje das

mulheres e apela para a modéstia na parte delas podia ser uma resposta contra a prática das mulheres

da alta sociedade a se vestir com roupas caras.

Porém os versos que causam mais polêmica são 11 e 12 nos quais as mulheres são proibidas a

ensinar aos homens por elas não serem permitidas ter autoridade sobre os homens. A palavra

authento, traduzida por autoridade, não é a palavra grega comum para autoridade e aqui há a única vez

na Bíblia em que essa palavra é empregada49. Ela pode ter o sentido de ter autoridade sobre alguém

mas, é mais provável que ela tem o sentido mais forte de ser autoritário ou pegar a autoridade de

alguém50. Paulo também ordena as mulheres a aprender em silêncio. Então é provável que Paulo se

referisse a um grupo de mulheres que haviam sido enganadas pelos ensinos falsos por falta de

sabedoria e esse grupo estava agarrando a autoridade no culto para ensinar e assim propagar os

ensinos falso entre a comunidade51. Os versos 13 e 14 que se referem a ordem da criação na qual

Adão foi criado primeiro, podem ser entendidos como uma correção para esse ensino falso, que

colocava em dúvida esse fato, e não como uma prova da autoridade que o homem deveria ter sobre a

mulher por ter ele sido criado primeiro. A referência a Eva sendo enganada por satanás (1Tim 2:14)

serve com um exemplo das mulheres dentro da comunidade que tinham sido enganadas pelos ensinos

falsos.

Calvino discordou com essa interpretação dizendo “o homem é a cabeça da mulher, e desde

que a mulher é uma parte e como que um acessório do homem, é necessário que sigamos essa

direção”52. Porém ele reconheceu que Deus não se limita e Ele pode usar mulheres e até crianças se

quiser.53 As pessoas que apelam nesse texto que Paulo proibia as mulheres de exercerem qualquer

autoridade sobre o homem, às vezes, levam em consideração as missionárias, autoras e professoras da

escola dominical mesmo que Paulo não mencione tais práticas especificas. Esse texto trata como

48
The letters to Timothy, Titus & Philemon, Daily Study Bible series, William Barclay, St Andrews Press, 1975, P6 “It
cannot be read out of it’s historical context, for it springs entirely from the situation in which it was written”.
49
Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P247.
50
Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P247; Dictionary of Paul and his
letters, IVP 1993, P590-591.
51
Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P247; Dictionary of Paul and his
letters, IVP 1993, P590-591.
52
Mulheres Liberdade e Calvino, Jane Douglass P61.
53
Ibid, P61.
14

“uma regulamento para as pessoas onde elas estavam, não uma norma ou padrão dos mais elevados

da Bíblia”54.

Conclusão

Tendo investigado os textos de Paulo em que a discussão se basea, é preciso concluir o que

aprendemos sobre o pensamento do apóstolo com respeito às mulheres no ministério. Ao começo

desse estudo disse que um estudo assim é antes de tudo uma questão de exegese e interpretação e

assim não seria uma investigação facíl. Agora depois de uma investigação dos textos que necessitava

a fazer várias leituras de vários autores é claro como é difícil esse assunto. Um dos livros consultado,

Mulher no Ministério, serve para mostrar a dificuldade. Esse livro se constitui de quatro opiniões a

respeito do ministério feminino em que cada autor apresenta sua hipótese com base nos mesmos

textos. O resultado é quatro opiniões diferentes com provas Bíblicas, e assim o leitor acaba sem saber

qual é a opinião certa.

Poderíamos esperar uma resposta como Pedro recebeu a respeito da grande polêmica na igreja

primitiva entre os judeus e os pagãos. Pedro recebeu uma visão de Deus em que viu um lencol

contendo toda sorte de animais e Pedro foi mandado matar e comer e quando Pedro acordou, recebeu

os homens mandados por Cornélio (Atos 10:11-22). Mas Deus não nos concede uma revelação tão

clara e portanto continuamos sem saber a opinião certa. Este é o problema mas, talvez a solução para

essa discussão. Se estivermos procurando uma resposta em preto e branco, não a acharemos por que a

questão de interpretação é exatamente esse - interpretação, e depende dos preconceitos e cultura do

leitor (dificilmente conseguiremos nos aproximar a Bíblia sem largar a nossa cultura e os nossos

preconceitos). Eu digo a solução por que se reconhecermos o fato de não ser possível achar uma

resposta em preto e branco, poderíamos evitar que essa discussão acabe numa polêmica.

Contudo, é possível deduzir alguns detalhes com respeito ao ministério feminino. É evidente

na história da igreja que Deus tenha chamado mulheres para assumir posições de liderança e tenha

abençoado o trabalho delas55. É evidente que Jesus colocasse um novo padrão com respeito às

54
Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P243.
Tanto as mulheres do Antigo e Novo Testament quanto as mulheres mais modernas como Tecla, Catarina da
55

Alexandra, Marcela, Phoebe Palmer, Frances Willard, e muitas outras. Mulheres No Ministério, Editora Mundo
Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P212-215.
15

mulheres desprezadas dentro da cultura judaica, em que o Senhor elevou a importância da mulher56.

Por que é, à luz disso, que tanta importância tem sido colocado em alguns textos do apóstolo Paulo,

especialmente quando parece claro que Paulo escrevesse as cartas para responder às outras perguntas

mais importantes para a igreja primitiva. Paulo acabou sendo mal tratado e chamado um misógino

que deprecia as mulheres. A verdade é que Paulo teve companheiros e companheiras e ele não fez

distinção entre eles. O apóstolo se formou na tradição judaica na qual o papel da mulher na sinagoga

era extremamente limitado, mas mesmo assim aprovou a participação das mulheres na igreja cristã

(1Cor 11:4,5). Paulo lutava para quebrar qualquer tipo de discriminação dentro das comunidades e

sua palavra em Gálatas 3:28 serve com o padrão do apóstolo, “Dessarte não pode haver judeu nem

grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo

Jesus”.

Para concluir, eu acho nas escrituras de Paulo mais evidência para aprovar a participação das

mulheres do que para desprovê-la. Paulo eleva o papel da mulher, acabando com a discriminação

contra ela. Ele reconheceu a falta de sabedoria por parte da mulher57 mas a acreditou na capacidade de

aprender (1Cor 14:35; 1Timóteo 2:11). Paulo não proibiu as mulheres de orar ou profetizar (1Cor

11:4,5).

É evidente que Paulo colocou algumas restrições na participação das mulheres 58 e em

particular as mulheres casadas (1Cor 14:34-36), mas essas restrições foram iniciadas por causa da

situação específica da comunidade e assim não devem ser entendidas como normas para a igreja hoje.

A preocupação de Paulo era com a edificação da igreja e com a testemunha boa das igrejas nas suas

situações e quando ele achou que a prática da igreja estava colocando em perigo o nome do Senhor ele

fomentou algumas restrições.

A questão de que as mulheres podem ser ordenadas ou não é mais uma questão com que,

dentro desses textos, o apóstolo não se preocupou. Eu não consigo achar uma restrição assim e

parece, à luz de Romanos 1659, que Paulo considerava as mulheres capazes de assumir o papel de

Apóstolo. Mas é importante lembrar qual era a grande preocupação de Paulo - a edificação da igreja e
56
A mulher Samaritana por exemplo.
57
As mulheres eram excluídas do ensinamento na sinagoga e assim dificilmente uma mulher teria tido muita
sabedoria.
58
Paulo colocou tantas restrições nas outras práticas erradas como o excesso procura dos dons pnéumaticos
quanto as mulheres (1Cor 12-14).
59
Veja a questão de Febe e o casal Andrônico e a Júnias a cima.
16

sua boa testemunha - assim sobre tudo, a participação ou não participação da mulher não deveria se

tornar uma polêmica em que a igreja se separe.

Ao fim um estudo desse assunto é importante mas como Alver Mickelson comenta

“Enquanto os téologos debatem se Deus pode chamar as mulheres a posições de liderança….o

Espírito do Senhor opera através das mulheres a quem ele deu talentos e a quem chamou para

ocupar posições de comando ao redor do mundo”60. A autora ecoa o pensamento de Calvino que não

concordaria com as conclusões da Senhora Alvera mas que “deixa claro que a liberdade do Espírito,

rompendo a ordem comum para vocacionar mulheres para ensinar, profetizar e governar, não é

meramente matéria de história”61.

Apêndice - A situação Nordeste.62

A última etapa em qualquer interpretação de um texto Bíblico é a aplicação à situação em que

o leitor se encontra. Então quais são as implicações do ensino de Paulo, com respeito à mulher, para a

situação nordeste do Brazil? Quais são as semelhanças entre a cultura que Paulo encontrava no

mundo oriental e uma parte do grande continente da América Latino?

A cultura dessa parte do país, do que tenho visto, me parece muito machista em que o papel

da mulher no nordeste é muito restrito. É normal para ela ser a “dona de casa” e enquanto não há

nada errada com isso, é lamentável que, para uma grande maioria das mulheres nordestinas, a

esperança de mais que isso fique só numa esperança. Naturalmente as oportunidades oferecidas para

um nordestino, seja ele homem ou mulher, são limitadas por falta de muitos recursos principalmente

educação. Não posso comentar muito sobre o relacionamento entre maridos e esposas mas me parece

que o relacionamento é baseado na supremacia do homem, sendo ele o cabeça da mulher. Ele tem a

autoridade sobre a mulher e o dever dela é ser subordinada. Ser mulher pode ser entendido como ser

inferior ou secundário ao homem.

A resposta de Paulo para essa situação seria elevar a mulher como uma criatura de Deus que é

diferente do homem mas não de menos importante que ele. A mulher deveria celebrar suas diferênças

do homem mas não é preciso ela se sentir inferior. Paulo fala do relacionamento entre os maridos e

60
Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson, P215.
61
Mulheres Liberdade e Calvino, Jane Douglass, P62.
62
O autor reconhece a dificuldade em comentar na situação do nordeste sendo ainda sem muita experiência da
igreja nordestina mas tentará destacar alguns pontos com a esperança que sejam pertinente.
17

suas esposas dizendo que as mulhreres devem ser submissas mas ao mesmo tempo o marido deveria

amar a sua esposa “como também Cristo amou a Igreja” (Ef 5:25), uma vocação com desafios

óbvios.

Dentro da igreja o papel das mulheres sofre alguns preconceitos nas quais, se for ser

missionária, deveria pregar e se não pregar, não deveria ser missionária. Porém é perfeitamente

normal para uma mulher sentir o dom de ensinar, seja adultos, seja jovens, seja crianças, sem sentir o

dom de pregação. Assim é comum para as mulheres que não professam o dom de pregação serem

limitadas a uma classe de crianças na escola dominical. Já encontrei vários irmãos dizendo que suas

esposas não podem entender o que a Bíblia diz e assim não podem assumir um papel na igreja. Paulo

falaria que talvez as mulheres só faltem um pouco de ensino e elas poderiam aprender.

A questão de mulheres serem ordenadas como presbíteras ou pastoras é uma questão que a

igreja nacional já considerou e considerará de novo no futuro. Se for aceito pela igreja nacional isso

não necessariamente significa que cada igreja, nem cada pastor aceitaria a decisão 63. Muita

reponsibilidade resta com a liderança da igreja e se ele (ou ela) aceitar mulheres no ministério é

provável que os membros da igreja também aceitarão.

Portanto uma coisa é clara: a mensagem do evangelho e a liberdade que existe em Jesus

Cristo, é a resposta para elevar a mulher de uma posição aparentemente inferior para uma posição de

igualdade diante de Deus. Como a mulher e a igreja desenvolve o ministério da mulher continua a ser

uma questão difícil e mesmo que um entendnimento da teoria Bíblical seja aceito, colocar a teoria em

prática é sempre uma outra questão!

Ao fim a exortação de Paulo contra qualquer tipo de discriminação (Gal 3:28) continua ter

relevância à situação nordestina. Uma situação que sofre muita discriminação seja entre homem e

mulher, rico e pobre, educado e inculto. É provável que a questão do papel da mulher dentro da igreja

não é a pergunta mais importante para uma situação tão carente.

63
A Igreja Presbiteriana da Irlanda aceita presbíteras e pastoras, mas as preferências das congregações
individuais significam que os números de Pastoras ainda continua ser relativamente pequeno.
18

BIBLIOGRAFIA

1. O Papel da Mulher, Neil R. Lightfoot, Editora Vida Cristã.

2. A Mulher na Igreja Primitiva, Rinaldo Fabris e Vilma Gozzini, Edições Paulina.

3. As origens cristãs aa partirda mulher, Elisabeth S. Fi64orenza, Edições Paulinas, 1992.

4. Mulheres No Ministério, Editora Mundo Cristão, Parte 4 1996, Alvera Mickelson.

5. Paulo e a mulher Cristão, Brendan Byrne, Edições Paulinas, 1993.

6. Handbook of Life in Bible Times, J.A. Thompson, IVP, 1986.

7. Dictionary of Paul and his letters, IVP 1993.

8. The message of Galations, John Stott, BST series, IVP, 1984.

9. The message of 1 Corintians, David Prior, BST series, IVP, 1993.

64
19

10. The letters to Timothy, Titus & Philemon, Daily Study Bible series, William Barclay, St

Andrews Press, 1975

11. Mulheres Liberdade e Calvino, Jane Douglass

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