Professional Documents
Culture Documents
Escola de Direito
Globalização e Terrorismo
“Estado de Terror:
Globalização, falência do Estado
e violação dos Direitos Humanos” * **
*
Integrantes: Frank Moraes; Jackson Silva; Lucas Machado; Stéfan Iribarrem;
Wagner Pedrotti.
**
Professores orientadores: Me. Marcelo Oliveira de Moura, Samuel Chapper.
1
Sumário
1 - Introdução......................................................................................................3
5 - Conclusão.....................................................................................................25
6 - Bibliografia....................................................................................................28
7 – Anexos.........................................................................................................31
2
1. Introdução
3
valorizem a dignidade humana, talvez como principal direito humano a ser
respeitado e norteador de uma mudança social sustentável.
4
os hemisférios com a imposição de uma economia mundial. No segundo
momento, opera-se o movimento centrífugo, inverso, que se ocupa em realizar
a seleção dos sujeitos que, de fato, irão (poderão) participar, aqueles que têm
potencial de consumo e que poderão contribuir para o movimento desta
economia; e dos que não irão (poderão), os excluídos, que continuarão a
margem da sociedade.
5
1989 e a Globalização Contra Hegemônica a qual viremos a abordar
pensando-se e trabalhando apenas com a idéia de uma modificação em seu
molde, visando obviamente sérias e profundas modificações em seus
resultados.
6
sociedades mais vulneráveis, com rígidos programas de ajuste estrutural 2.
Resumidamente, as suas regras básicas são: liberalização do mercado e do
sistema financeiro, fixação dos preços pelo mercado (―ajuste de preços‖), fim
da inflação (―estabilidade macroeconômica‖) e privatização. As decisões
daqueles que impõem o Consenso têm, é claro, um grande impacto sobre a
ordem global. Alguns analistas assumem uma posição ainda mais incisiva,
neste sentido ―é preciso que as áreas dominadas não só aceitem a dominação
como acreditem nela, na inevitabilidade dessa dominação, na sua eternidade 3‖.
A imprensa de negócios internacional se referiu a essas instituições como o
núcleo de um ―governo mundial de fato‖ de uma ―nova era imperial‖ como nos
apresenta Noam Chomsky.
Desde então, apesar das medidas terem sido criadas para serem
aplicados na América Latina, o termo foi utilizado em todo mundo como
recomendações para justificar as políticas neoliberais. Com essas medidas
seria inevitável a falência do Estado provedor de bem-estar social, pois a
economia se desvincula da função do Estado, e passa a ditar as novas normas,
como diria Zygmunt Bauman - a economia é de área não política.
7
Trabalhando na lógica de ―mercadorização‖ dos direitos e até mesmo do
próprio ser humano como resultado natural e desejado do processo de
globalização hegemônica e neoliberal, através da liberalização da economia e
dos mercados desembocamos na colocação de Helio Gallardo - “podemos
trasladar esta temática a América Latina. La gente merece tanta salud como
pueda pagar, tanta educación como pueda pagar, tanta seguridad como pueda
pagar. Y se no pueden pagar, entonces no merecen ni educación, ni salud, ni
seguridad. Son responsables por su suerte. Nosotros, los que podemos pagar,
no somos responsables por su pobreza 4‖ - remete imediatamente ao
discurso individual do homem médio, com condições mínimas de manter sua
subsistência e dentro do possível a sua dignidade, discurso descompromissado
com o próximo, desde que não seja uma ameaça imediata, o que não tarda a
acontecer, visto o esquecimento que inevitavelmente tem ocorrido de com
estes milhares, bilhões de indivíduos, jogados ao esquecimento pelo frenezi –
velocidade que requer a vida no mundo globalizado. Situação facilmente
verificada não apenas na América Latina, mas na África, sobretudo nesta, onde
se acham potencializados os efeitos da dominação hegemônica, levando ao
extremo a situação de pauperização social, onde visivelmente se faz mais
dramático e intenso o desrespeito ou simplesmente indiferença com o ser
humano, afinal de contas, o que importa é a capacidade de consumo e como
nos coloca Ianni ―Está em curso inclusive a privatização das atividades
relacionadas à educação, saúde e previdência, ao mesmo tempo que se
reduzem ou anulam conquistas sociais alcançadas no âmbito das
condições de trabalho. Em nome da desburocratização, racionalização,
produtividade, competitividade, qualidade total ou lucratividade, instaura-
se totalmente o „economicismo‟, no qual há escassa ou nula preocupação
com os seus custos sociais, culturais e políticos para a maioria das
populações, em escala nacional, regional e mundial.5‖(grifo nosso).
4
GALLARDO, Helio. Derechos discriminados y Olvidados. Pág. 60.
5
IANNI, Octavio. Capitalismo, violência e terrorismo. Pág. 41
8
índices em mortalidade infantil de 120, 150 a cada mil nascidos vivos (anexo
1), paralelamente são investidos em saúde entre 1 e 3 % do PIB do respectivo
país, se não caracteriza um genocídio, não imaginaria outro substantivo para a
situação (anexo 2 e 3).
9
decadência, a transformação e o retrocesso, a reforma e a revolução, a
revolução e a contra-revolução.6‖
O Estado liberal, tal como conhecemos, foi teorizado pelas idéias liberais
de Adam Smith. Segundo esse pensador as funções do Estado se limitavam a
interesses da defesa, o judiciário, obras públicas, e o resto laissez-faire, laissez
passer. Esse modelo de Estado se manteve até suas primeiras crises da
primeira metade do século XX. Surgindo assim então, um Estado Social, capaz
de superar as contradições do mercado e suas exclusões sociais, como diz
Bobbio, esse ―é o Estado que garante tipos mínimos de renda, alimentação,
saúde, habitação, educação, assegurados a todo cidadão, não como caridade,
mas como direito político 8‖, ou ainda, como sugere Giddens, é o Estado em
que há ―trabalho para aqueles que irão labutar, castigo para aqueles que não
irão fazê-lo, e pão para aqueles que não podem fazê-lo9‖. Consagrado como
princípio fundamental da República Federativa do Brasil em seu art. 3º in
verbis:
6
IANNI, Octavio. Capitalismo, violência e terrorismo. Pág. 19
8
BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Estado de Bem Estar Social. Pág. 416.
9
GIDDENS, Anthony. Para além da Esquerda e da Direita . Pág. 154.
10
Em meados dos anos 70, os gastos governamentais tendiam a serem
maiores que as arrecadações, havendo então um descompasso nas contas
públicas, uma crise fiscal, o que levou ao colapso do Estado social. Duas
soluções eram racionais nesse momento, aumentar a carga tributária ou
diminuir os gastos públicos, a fim de superar o déficit contraído. Alguns
Estados abrem mão da assistência social, encerrando assim esse modelo de
Estado, ou seja, ―Estado de Bem-Estar? Já não podemos custeá-lo10‖. Dando
início a uma nova fase do Estado, caracterizado por sua minimização, e
conseqüentemente sua ineficácia frente aos problemas sociais. Esse novo
modelo de Estado, chamado de neoliberal, possui características novas como o
nome sugere; porém, as velhas práticas liberais que não deram certo que tem
seu marco inicial com o acontecimento do Consenso de Washington.
10
BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da pós-Modernidade. Pág. 51
11
modelo através do qual seriam geridas as políticas do governo, seja ele de
qualquer candidato que vencesse a eleição.
Vivemos hoje como observa o Professor José Eduardo Faria: ―A
globalização econômica – e este é apenas um juízo de fato, não de valor – está
substituindo a política pelo mercado, como instância privilegiada de regulação
social‖ Como acontece no sistema de privatização de instituições de caráter
social como a previdência social, onde em alguns países da América-Latina o
termo segurado (que remete a idéia de garantia por parte do estado de
assegurar uma assistência quando de infortúnio do trabalhador) pode ser
substituído pelo termo cliente (o que remete a idéia de consumo), pois, o
mesmo passa a ter uma conta individual em uma instituição privada, logo, se
não tem poder de consumo, fica a mercê da sorte ou então entra na fila de
espera e aguarda uma ação do estado, como bem salienta Emir Sader, o
mercado não reconhece direitos, reconhece poder de compra.
O que é mais alarmante nessa relação são as conseqüências sociais, as
freqüentes violações de direitos políticos e a influência na economia de nossa
região. Isso ocorre por que os governos preocupados ou até pressionados pela
necessidade de apresentar resultado no campo econômico submetem seu
poder de decisão as exigências do capital, de acordo com os padrões
neoliberais proclamados pelas já conhecidas políticas de governos por Reagan
e Tatcher, nos EUA e na Inglaterra respectivamente, este processo conhecido
como modernização implica para o Estado em uma ―flexibilização‖ dos direitos
sociais, uma série de subsídios, isenções fiscais entre outros benefícios para
empresas.
A política de desregulamentação, deslegalização e
desconstitucionalização segue, promovido por governos para suprimir os
requisitos dos investidores, ou seja, o ordenamento jurídico interno sofre
modificações para adaptarem-se as exigências do mercado, regras
constitucionais modificadas, leis ordinárias suprimidas ou elaboradas são
exemplos do procedimento adotado. De acordo com José Eduardo Faria, vale
lembrar uma nota esclarecedora desse movimento:
12
seus investimentos, acabam selecionando as legislações nacionais
às quais irão se submeter. (José Eduardo Faria, 1987)
―O Estado era, por definição, mau gestor, não deveria operar na área em
que empresas privadas operavam, não deveria de forma alguma, ocupar-se de
tarefas que deveriam ser próprias da área privada 12‖. Lembrando ainda, que
nas empresas privadas o único fim é o lucro e nas empresas estatais ele não é
o único. Só que nas empresas privadas o lucro beneficia os seus donos e nas
empresas estatais ele beneficia o povo, através do estado.
11
STRECK, Lenio. Jurisdição Constitucional e Hermenêutica. Pág. 68.
12
SODRÉ, Nélson Werneck. A farsa do Neoliberalismo. Pág. 19.
13
3.1 O Estado Democrático de Consumo – a redescoberta da igualdade
como condição de justiça
14
Estados percam sua soberania, e o poder passe às mãos das instituições
privadas. Chomsky diz que a diminuição do Estado é ―a transferência do poder
decisor da arena pública para outros lugares: ‗para as pessoas‘, na retórica do
poder; para as tiranias privadas, no mundo real14‖. É o que chamamos de
Estado insuficiente, pois ele se tornou tão fraco que não é capaz de resolver os
problemas sociais, ou seja, o Estado perdeu seu poder de intervir. Como diz
Boaventura: ―precisamos de um Estado cada vez mais forte para garantir os
direitos num contexto hostil de globalização neoliberal‖. E ainda: fica evidente
que o conceito de um Estado fraco é um conceito fraco. Paradoxalmente
preceitua o art. 193 da Carta Magna brasileira de 1988 ―a ordem social tem
como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça
sociais‖.
14
CHOMSKY, Noam. O Lucro ou as Pessoas? Neoliberalismo e Ordem Global . Pág. 70.
15
efeitos de exigência do sistema neoliberal onde quem tem poder de consumo
tem seus direito fundamentais assegurados e quem não possuí tais condições
restam as filas de espera. É fato notório que o neoliberalismo ora vigente em
escala mundial, ademais de produzir desemprego estrutural e de induzir ao
desmantelamento das instituições da seguridade social - construídas pouco a
pouco, com diferentes graus de eficiência, nos mais diversos Estados - encara
o mercado como único elemento organizador das sociedades.
No mundo globalizado atual, organizado com base na liberdade
econômica absoluta, em que a legitimidade das políticas é dada pelo FMI,
Bancos e bolsas de valores, o Estado pouco mais pode fazer do que tentar
administrar o funcionamento da sociedade para o sucesso das empresas,
nacionais e transnacionais. Destituído até mesmo de meios fiscais para operar
políticas públicas adequadas, vêem-se os governos cada dia menos capazes
de zelar pelo bem-estar geral. Daí recorrem, crescentemente, conforme o
modelo norte-americano, à filantropia privada e ao chamado ―terceiro setor‖, de
direito privado, mas com objetivos públicos, para atendimento paliativo aos
indivíduos e comunidades mais carentes.
16
maior nível técnico-científico produtivo e perigosa degradação do meio
ambiente (...).
Neste contexto que se estrutura e sedimenta o estado de terror como
característica inerente à sociedade moderna, mais notadamente nas
modernidades tardias, referindo-se aos países terceiro mundistas que sequer
tiveram sua pré-modernidade estabelecida; como nas palavras de Octavio Ianni
―observa-se que a sociedade capitalista germina, contínua e reiteradamente,
uma guerra social latente intermitente permanente 15‖ acrescemos ainda o fator
político e cultural a esta empreitada imperialista dos países hegemônicos,
sobre os paises emergentes.
Este processo de ocidentalização dos valores mundiais, de
homogeneização dos indivíduos e aspirações sob os desmandos da tríade do
capital financeiro FMI (fundo monetário internacional), OMC (organização
mundial do comércio) e BM (banco mundial) estão produzindo e intensificando
a proletarização e pauperização social, deixando de lado direitos conquistados,
ao menos em parte, como habitação, saúde, alimentação, ensino e transporte;
provocando o que Ianni chama de destruição criativa, que se caracteriza por
ser a constante força que tem o mundo moderno, ocidental e capitalista de
subverter uma ―ordem‖ anterior e instaurar a ―sua‖ nova forma de proceder, o
Estado cada vez mais regulamenta a sua desregulamentação; como nas
palavras de Ianni ―a história social revela a produção e a reprodução contínuas
e crescentes de ‗marginalização‘, ‗exclusão‘ e ‗pobreza‘, ‗miséria‘ ou
‗pauperismo‘... o desemprego e o subemprego, ou desemprego disfarçado, tem
sido algo inerente e essencial à dinâmica do capitalismo 16‖.
Esquecendo ou simplesmente atropelando a salvaguarda constitucional
pela dignidade da pessoa humana, ora conceituada por Boaventura como:
15
IANNI, Octavio. Capitalismo, violência e terrorismo: Pág. 201.
16
IANNI, Octavio. Capitalismo, violência e terrorismo: Pág. 145.
17
Na medida em que aumentam as relações do livre comércio, aumentam
também as desigualdades entre as pessoas, e esse se torna uma causa da
violação dos direitos do homem. A desigualdade é o motor do capitalismo, pois
é a ganância de estar incluído que leva a um suposto progresso. As
conseqüências disso vêm à tona com o caos social, principalmente em países
de Terceiro Mundo, como o caso brasileiro; e de acordo com Hobsbawm ―o
Brasil é um monumento à negligência social‖. O grande problema da miséria
humana é a fome, mas também não podemos nos restringir como o único - o
que a equação ‗pobreza = fome‘ esconde são muitos outros aspectos
complexos da pobreza — ‗horríveis condições de vida e moradia, doença,
analfabetismo, agressão, famílias destruídas, enfraquecimento dos laços
sociais, ausência de futuro e de produtividade‘ —; aflições que não podem ser
curadas com biscoitos superprotéicos e leite em pó 17.
Quem deveria superar essas dificuldades é o Estado, que já não tem
mais tanta soberania para resolver os problemas sociais. Na globalização o
Estado suprimiu sua qualificação de interventor, e passou somente a
administrar a segurança daqueles que podem consumir, ou seja, restando para
os ―não-consumidores‖ apenas a repressão. Como diz Bauman, ―no cabaré da
globalização, o Estado passa por um strip-tease e no final do espetáculo é
deixado apenas com as necessidades básicas: seu poder de repressão 18‖. O
Estado passa a ser um mero prestador de serviços para os interesses privados,
e assim, criminalizando a pobreza. Nas palavras de Chomsky, sobre o método
de ‗limpeza social‘ - aqui (EUA), o método favorito tem sido o de confinar as
‗pessoas supérfluas‘ em guetos urbanos que cada vez mais parecem campos
de concentração. Se isso não dá certo, apela-se para as cadeias, que são a
contrapartida, numa sociedade mais rica, dos esquadrões da morte que nós
treinamos e apoiamos em nossos domínios 19.
Ainda, de par com isto, cita-se brevemente a flagrante desconsideração
do principio constitucional de vedação ao retrocesso, sobretudo em matéria
social, o que claramente se verifica no atual Estado dito de Direito, onde o que
menos se tem é segurança jurídica; como propõe Gomes Canotilho – após sua
17
BAUMAN. Globalização: As Conseqüências da Globalização. Pág. 81.
18
BAUMAN. Globalização: As conseqüências humanas. Pág. 74.
19
CHOMSKY. Globalização Excludente. Pág. 38.
18
concretização em nível infraconstitucional, os direitos fundamentais sociais
assumem, simultaneamente a condição de direitos subjetivos a determinadas
prestações estatais e de uma garantia institucional, de tal sorte que não se
encontram mais na plena esfera de disponibilidade do legislador, no sentido
que os direitos adquiridos não mais podem ser reduzidos ou suprimidos, sob
pena de flagrante infração ao princípio da proteção da confiança, diretamente
ligado ao Estado de Direito. Como bem é positivado na Constituição da
República Federativa do Brasil no seu Título que trata Dos Direitos e Garantias
Fundamentais:
19
mortos/ano; ainda, de par com isso, acrescenta-se que o Brasil novamente
ocupa o quarto lugar, no entanto, referente a concentração de renda, perdendo
apenas para Serra Leoa, República Centro-Africada e Suazilândia (FGV, 2005),
ao passo que, o Brasil possui a 9ª (nona) economia mundial; não obstante isto,
tem em seu território cerca de 50 milhões de pessoas vivendo em condições de
indigência, com renda inferior a R$ 80,00 por mês (oitenta reais -
aproximadamente quarenta dólares), ou seja, 29,26% da população do país
não consegue atender minimamente a suas necessidades diárias.
Diante da situação brevemente apresentada, sedimenta-se a situação de
estado de terror em que se encontram milhões de pessoas submetidas a este
modo de vida que se diz moderno, que se apresenta como sendo o último
modelo societário, o ápice da razão humana em termos de economia e
sociabilidade, esta marcada pela constante insegurança social, política,
jurídica, cultural. Esta insegurança que se faz um inimigo onipresente, ubíquo;
causando o pânico social latente e intermitente.
Paralelamente a este contexto Atílio Borón nos traz o fato do Estado
acentuar seu caráter repressor, ―criminalização do protesto social, em que as
figuras do pobre, do desempregado, do sem-teto ou do indocumentado e dos
condenados pelo sistema geral são satanizadas e convertidas em figuras
sinistras e desumanas. Desse modo, as vítimas do capitalismo, os condenados
à exclusão e ao lento genocídio se transformam em delinqüentes, em
narcotraficantes ou em terroristas. Graças à alquimia da globalização
neoliberal, as vitimas se transformam em algozes 20‖. Convergindo com o lema
global do capitalismo TINA (there is no alternative/ não há alternativa) sendo
que se produz um terror, necessário para prosseguir com a estratégia da
globalização hegemônica capitalista opressora. Faceta do Estado e sociedade
moderna que se faz muito visível, haja vista a globalização e a postura estatal
excluindo do mercado de trabalho e consumo, perdendo progressivamente as
condições de exercício dos direitos humanos de primeira geração e
paulatinamente os de segunda e terceira gerações. São condenados à
marginalidade econômica, social e cultural e como se refere José Eduardo
20
BORÓN, Atílio. Hegemonia e imperialismo no sistema internacional.
20
Faria ―condições hobbesianas de vida 21‖, não mais aparecendo como
portadores de direitos subjetivos, no entanto, como salienta o referido autor,
não são liberados das obrigações e deveres estabelecidos pela legislação.
O Banco Mundial declarava em 1999, ―a globalização parece aumentar a
pobreza e a desigualdade... Os custos de ajustamento para maior abertura são
suportados exclusivamente pelo pobre‖. A ONU dizia no mesmo ano: ―O
processo (globalização) está concentrando poder e marginalizando o pobre 22‖.
Na atualidade aqueles que não participam do esquema consumista são vistos
como ―sujeira‖, pessoas incapazes de ser ―indivíduos livres‖. Dentro dos novos
―templos consumistas‖ é impedida a entrada desse tipo de consumidor falho,
cercando-se de câmeras de vigilância, alarmes, etc., enquanto os afortunados
desfrutam sua ―liberdade‖. ―Uma boa parcela da humanidade, por desinteresse
ou incapacidade, não é mais capaz de obedecer às leis, normas, regras,
mandamentos, costumes derivados dessa racionalidade hegemônica. Daí a
proliferação de ‗ilegais, ‗irregulares‘, ‗informais 23‖. Nessa ótica, governos são
eleitos para manter o perigoso atrás das grades, representado por aqueles que
não tem o poder de consumo.
21
FARIA, José Eduardo. Direitos Humanos e globalização econômica: notas para uma
discussão. Pág. 50.
22
Relatório da ONU.
23
SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização, Pág. 120.
21
destruímos, pois o estranho é visto como anomalia, isso é o que chamamos de
modernidade tardia, ou pós-modernidade.
Todos esses fatores considerados em conjunto convergem para um
efeito comum: a identificação do crime com os ‗desclassificados‘ (sempre
locais) ou, o que vem dar praticamente no mesmo, a criminalização da
pobreza. Os tipos mais comuns de criminosos na visão do público vêm quase
sem exceção da ‗base‘ da sociedade. Os guetos urbanos e as zonas proibidas
são considerados áreas produtoras de crime e criminosos 24.
24
SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização. Pág. 134.
22
comércio justo e garantir o acesso das ONG‘s dos países periféricos ao
conhecimento técnico e às redes políticas onde emergem as políticas
hegemônicas que afetam estes países, ou ainda globalização feita/estruturada
de baixo para cima assumindo o princípio da Comunidade, que há muito
Rousseau já falava, afirmando a obrigação política horizontal e solidária de
cidadão a cidadão.
Ademais, como de exercício desta globalização contra-hegemônica,
Santos preconiza a valorização ao terceiro setor, ou como chamados em várias
localidades, economia social, sector voluntário ou mais comumente conhecida
como Organizações Não-Governamentais nos países do chamado terceiro
mundo assumindo características tanto do setor privado como do público; digo
a eficiência e estrutura administrativa semelhante às do setor privado e por
outro lado se assentar no interesse público, não visando os interesses do
capital lucrativo, visando, sobretudo o valor humano.
Neste sentido, Antônio Carlos Wolkmer apresenta sob a terminologia de
direito ao desenvolvimento; que está fundado na solidariedade, na superação
da miséria, na melhoria das condições sócio-econômicas – em síntese, na
força criadora do poder comunitário e em favorecer na realização integral do
ser humano com dignidade.
Se o neoliberalismo ajustou e estabilizou a economia, logrando alcançar
a queda da inflação, a implementação da austeridade fiscal e a recuperação
dos lucros; acabou por contribuir e acelerar imensos desequilíbrios
econômicos, elevadas taxas de desemprego, profundas desigualdades sociais
e acentuados desajustes no quotidiano das sociedades – e o que pretende
essa Globalização Contra-hegemônica ou feita de baixo para cima é aparar
estas arestas, estas disparidades gritantes, abismais entre os pólos desta
relação global.
23
análise, senão ocorrer em razão das nossas diferenças que pelo menos ocorra
em razão daquilo que nos iguala: a condição de excluídos.
O tratado de Assunção em 1991 marcou formalmente o início de uma
serie de acordos com finalidades econômicas e um objetivo social como
assinala a expressão: ―o fortalecimento do Mercosul tem uma dimensão
estratégica clara: no longo prazo, o que se busca é que, a partir do Mercosul,
se possa construir a integração de toda América do Sul. Trata-se de um
empreendimento mais político do que econômico, onde a dimensão estratégica
supera os aspectos da simples abertura de mercados. O Mercosul é o primeiro
passo em direção á união da América do Sul25‖.
E ao passar dos anos vimos acordos como o Protocolo de Ushuaia,
onde destaca-se o compromisso democrático assumido pelos países membros
do Mercosul e juntamente Bolívia e Chile (como Estados partes do Protocolo),
o Protocolo constitutivo do Parlamento do Mercosul como órgão de
representação do povo, o acordo de integração cultural (Decisão n° 11/96), que
surgem para nós como esperança de uma alternativa para enfrentar as
conseqüências do mundo globalizado (frente a dada irreversibilidade do
processo globalização) que atinge nosso continente, através da democracia
formal e da imposição cultural. Apesar do Mercosul ter a aparência de ser um
espaço unicamente de integração regional econômica, percebemos diante
desses acordos a oportunidade de unir e fortalecer o campo social através de
algumas medidas.
Um outro exemplo é o Fundo para a Convergência Estrutural do
MERCOSUL (FOCEM), que estipula quatro tipos de programas a serem
desenvolvidos, dentre eles um de caráter social imediato, Art. 2, III - Programa
de Coesão Social, que significa: Os projetos do Programa III deverão contribuir
ao desenvolvimento social, em particular nas zonas de fronteira, e poderão
incluir projetos de interesse comunitário em áreas da saúde humana, da
redução da pobreza e do desemprego. Porém, essas medidas não são as
únicas, para chegar a uma verdadeira integração, soma-se ―a construção de
uma mentalidade integracionista e de uma consciência de cidadania regional
em cada um dos países do bloco‖.
25
DRUMMOND, M. C. Mercosul: uma visão de esquerda (documento).
24
Sendo assim, essas alternativas são dentro do processo de integração
regional, que advém com o Mercosul, uma possibilidade de fortalecimento das
políticas públicas defasadas nas últimas décadas.
Portanto, apesar da aparente falta de alternativa (there is no
alternative/TINA) não obstante a incipiência do projeto afigura-se como sendo
uma possibilidade real e concreta de reestruturação social nos países sul-
americanos.
5. Conclusão
25
no nosso caso (de oprimidos) seriam unidos para se defender da opressão que
acomete todos os países sul-americanos.
Paralelamente a esta medida, de fortalecimento do Estado, Boaventura
nos traz como contribuição à solução de parte dos problemas como sendo o
incentivo ao terceiro setor, trabalho voluntariado, mais comumente conhecidos
como organizações não-governamentais (ONG‘s) – saída não institucionalizada
estatalmente e com a eficiência o setor privado, abstendo-se do fito lucrativo,
desenvolvendo o valor humano.
Lembrando que o fortalecimento do terceiro setor não implica na
minimização da função do Estado, em tarefas públicas não executadas pelo
mesmo. O terceiro setor faz-se necessário frente à ineficiência estatal em
questões sociais, porém, devemos nos atentar para que essas entidades não
substituam o ente público. O compromisso em executar políticas públicas deve
ser responsabilidade irrenunciável do Estado, sendo assim, o terceiro setor
como um fortalecimento deste. Além do mais, esse setor, considerado
intermediário entre o público e o privado, devem obedecer a limites, para não
pôr em ―xeque‖ a soberania do Estado, devido a seu crescimento, como diz
Lenio Streck e José Luiz Bolzan Morais , tais vínculos de dependência são
―incongruentes com a idéia de poder soberano 26‖.
O capitalismo gerou a noção do individualismo, em contrapartida ao
pensamento de união. Esse egocentrismo foi aprofundado com o
neoliberalismo, como diria Milton Santos, ―o capital em estado puro‖, então
perdemos completamente a noção de comunidade, o que prevalece é o ―eu‖
frente ao ―nós‖. Sabemos que ninguém se salva sozinho, ninguém salva
ninguém, nos salvamos em comunhão. Enquanto tivermos o pensamento
individualista de salvar a própria pele, estaremos todos condenados ao
fracasso, e o fracasso na globalização é a própria exclusão.
Como nos coloca Helio Gallardo ― Quando se menciona a los derechos
de segunda generación, los derechos económicos, sociales y culturales, como
discriminados y olvidados, lo que se dice es que se ha renunciado, muchos
renunciado y, sobre todo, cada uno de nosotros ha renunciado, a la
responsabilidad moral y juridica de construir el sujeto humano plural que crece
26
STRECK, Lenio; BOLZAN, José. Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Pág. 133.
26
desde su autonomía y autoestima. Si olvidamos estos derechos es porque
hemos renunciado a crecer y a proyetarnos en humanidad desde nosotros
mismos27‖, ou ainda, como coloca Hannah Arendt não há perda de direitos
específicos, portanto, mas a perda de uma comunidade disposta e capaz de
garantir quaisquer direitos, tem sido a calamidade à afligir números sempre
crescentes de pessoas.
O que devemos resgatar é o sentimento de comunidade, de
solidariedade, de união. A comunidade vai muito além de uma simples união
em prol de um mercado comum, ela atinge a todas as relações sociais, ela
pressupõe cooperação e não concorrência pura. Nesse sentido, vemos como
alternativa à globalização hegemônica, o estreitamento de laços entre países,
culturas, seja através de tratados de reciprocidade social, ajuda mútua, seja na
tentativa de socializar os blocos econômicos já existentes.
27
GALLARDO,Helio. Derechos Discriminados y Olvidados. Pág. 64.
27
6. Bibliografia
28
_________. O Mundo na Era da Globalização. Lisboa, Editora Presença,
2005.
_________. Para Além da Esquerda e da Direita. São Paulo, Unesp, 1996.
GOMES, Luis Flavio. O crime organizado. Editora Revista dos Tribunais: São
Paulo, 1997.
29
SODRE, Nelson Werneck. A Farsa do Neoliberalismo. Rio de Janeiro,
Graphia editorial, 1999.
30
ANEXOS
114
42,7
27
15
4,5 6,9 8
3,2
2.907
2.314 2.350
156 176
296.332
240.358
75.828
28.779
8.359
31
Anexo 4 – Expectativa de Vida (Anos ao Nascer)
81 79 78
77 74
70
49
43
100% 100%
75%
67%
32