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EM EVIDÊNCIA1
Juliana Costa Meinerz Zalamena2
RESUMO: A expressão Terceiro Setor tem sido usada para designar aquelas
instituições privadas, mas sem fins lucrativos, que tenham finalidades públicas, porém
não estatais. O que parece uma iniciativa de participação social e rompimento de
amarras regulatórias do Estado, no sentido de estabelecer uma inocente e
promissora parceria da sociedade civil com o Estado, seria somente mais um
instrumento capitalista em nome da instituição do Estado mínimo e da expansão do
livre mercado também nas esferas estatais?
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Artigo elaborado para fins de avaliação no componente curricular de Estado, Sociedade e Nova Esfera Pública,
Professor Doutor Suimar João Bressan.
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Acadêmica do 5º semestre do curso de Serviço Social da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul – Unijuí, Campus Santa Rosa.
provando de uma vez que o mesmo é incapaz de dar conta de suas obrigações, e
que precisa ser superado por alternativas mais modernas. Para a ótica neoliberal,
não é o capitalismo que se encontra em crise, e sim, o Estado, e assim, elabora-se
uma estratégia de superação dessa crise com base na diminuição da sua atuação.
Para que essa teoria fosse colocada em prática, além do amplo aparato
ideológico que o capitalismo tece ressaltando a ineficácia e incapacidade do Estado,
como uma instituição arcaica e ultrapassada, foram formadas também teorias que
subsidiassem essas afirmações, centradas especialmente na economia neoclássica,
e mais recentemente na Public-Choice3, cuja idéia central seria adequar as práticas
do Estado a uma racionalidade econômica visivelmente ligada às teorias
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Corrente teórica que busca aplicar “la aplicación de los instrumentos de análisis de la Teoría Económica neoclásica
al estudio de los fenômenos políticos, entendidos estos em um sentido amplio” (Buchanan, J., 1984).
neoliberalistas. As limitações a implantação dessa lógica deram origem então, a um
quase mercado, como aponta Oliveira e Souza (2003).
Então surge o que aqui adotamos como Terceiro Setor, e que muitos autores
convencionam chamar de “Terceira Via”, como batizou Antony Giddens. Segundo ele:
O Terceiro Setor seria uma forma inteligente, como adotou Tony Blair no seu
New Labor4, de não romper de forma alguma com os princípios do neoliberalismo,
preservando os elementos básicos da social democracia, como aponta Antunes
(1999, p. 95). Essa “Terceira Via”, seria uma forma de redesenhar o Estado,
estrategicamente, sem ferir os preceitos do poder público, mas sem abandonar os
objetivos neoliberais. Seria então, a aceitação e a manutenção de novos parceiros na
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Novo Trabalhismo Inglês, preconizado pelo então ministro Tony Blair.
oferta e na gestão das políticas sociais: esses parceiros, identificados na sociedade
civil, seriam as organizações que compõem o que hoje entendemos como Terceiro
Setor.
Conceituar o terceiro setor ainda não é uma tarefa fácil, em se tratando de algo
recente e que causa polemica e posições opostas em autores estudados até o
momento. No entanto, é possível realizar uma definição aproximada do que significa
essa expressão, na prática. Dentre as definições encontradas, existem as que se
aproximam de uma genérica designação de sociedade civil, outras que denotam um
formato jurídico de instituição privada, e por hora, restringindo-o as instituições de
caráter filantrópico ou assistencial.
Montaño ressalta que dentre os muitos autores que trabalham com o tema,
alguns trazem a ideia de atividades públicas desenvolvidas por particulares, outros
como função social em resposta as necessidades sociais, e ainda, aqueles que
apresentam conceitos voltados para valores como solidariedade e ajuda mútua.
Embora o conceito de Terceiro Setor não se encontre pronto e acabado, existe
um certo consenso quanto a transferência da responsabilidade do Estado em relação
a oferta de políticas sociais para instâncias de natureza privada, sejam elas
fundações, associações, organizações não governamentais. Assim, a
responsabilidade do Estado em atender as demandas sociais é passada aos próprios
indivíduos, ou seja, a sociedade civil, que busca atendê-las através da ajuda,
solidariedade, voluntariado, etc.
A chamada nova lei do terceiro setor, já não é tão nova assim, pois a Lei nº
9.790 data de 1999, ou seja, completa nesse ano 10 anos de vigência. Entretanto,
considerando em aspectos jurídicos, já que cada lei sancionada depende de um
tempo de tolerância até ser efetivamente materializada, pode-se dizer que a Lei nº
9.790 ainda é bastante recente, passível de muita adaptação das organizações da
sociedade civil e do próprio estado.
Até por que, o conceito de terceiro setor ainda é muito confuso, estando longe
de haver uma unanimidade dentre os estudiosos da área. Conforme a cartilha da
OAB/SP:
Para ROTHGIESSER (2002, p.2), Terceiro Setor seriam iniciativas “... privadas
que não visão lucros, iniciativas na esfera pública que não são feitas pelo Estado.
São cidadãos participando de modo espontâneo e voluntário, em ações que visão ao
interesse comum.” O conceito mais aceito atualmente, segundo GONÇALVES (1999,
p.2), é o de que se trata de uma esfera de atuação pública, não estatal, formada a
partir de iniciativas voluntárias, sem fins lucrativos, no sentido comum.
Até mesmo o Segundo Setor, que funciona com uma lógica diferente, na qual
visa o lucro, já a partir da década de 90, encabeça e dirige recursos para programas
e projetos sociais, especialmente, através de suas fundações e institutos, sendo
assim mais uma opção de recursos para a área do Terceiro Setor.
Dado que, tanto o Estado quanto o mercado não conseguem responder aos
desafios do desenvolvimento com eqüidade, Oliveira citado por FERNANDES (1994,
p.12), coloca que: “A participação dos cidadãos é essencial para consolidar a
democracia e uma sociedade civil dinâmica é o melhor instrumento de que dispomos
para reverter o quadro de pobreza, violência e exclusão social que ameaça os
fundamentos de nossa vida em comum.”
“As entidades do Terceiro Setor são regidas pelo Código Civil (Lei nº 10.402/02)
e juridicamente constituídas sob a forma de associações ou fundações. Apesar
de serem comumente utilizadas as expressões “entidade”, “ONG” (Organização
Não Governamental), “instituição”, “instituto” etc., essas denominações servem
apenas para designar uma associação ou fundação, as quais possuem
importantes diferenças jurídicas entre si. Associação é uma pessoa jurídica de
direito privado, sem fins econômicos ou lucrativos, que se forma pela reunião de
pessoas em prol de um objetivo comum, sem interesse de dividir resultado
financeiro entre elas. Fundação é uma pessoa jurídica de direito privado, sem
fins econômicos ou lucrativos, que se forma a partir da existência de um
patrimônio destacado pelo seu instituidor para servir a um objetivo específico,
voltado a causas de interesse público”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GIDDENS, Antony. A terceira Via. reflexões sobre o impasse político atual e o futuro
da social-democracia. Rio de Janeiro: Record, 2001.