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Sem sombra de dúvida, opinião compartilhada por parte maciça dos juristas, a inserção
da súmula vinculante em nosso sistema legal representa o maior advento jurídico desde
a promulgação da Carta Magna de 1988. Contudo, a grandiosidade de uma reforma não
necessariamente resplandece resultados positivos, ou, no caso em exame, benéficos à
manutenção de um regime democrático pautado na tripartição dos poderes.
Súmula vinculante, em seu conceito formal, é o dispositivo que faculta ao STF, cúpula
suprema do Poder Judiciário, de ofício ou por meio de provocação, mediante a votação
de 2/3 dos seus membros, em reiteradas decisões de matéria constitucional, editar
súmulas de suas decisões, as quais, quando publicadas, vinculam todos os órgãos do
Judiciário, bem como da administração pública, direta e indireta, em todas as esferas,
Federal, Estadual e Municipal.
Com o advento deste mecanismo, erigiu-se, então, ao STF, a atípica função legiferante,
uma vez que lhe cabe agora, não apenas a interpretação da norma, mas a interpretação
extensiva da norma, sua validade e eficácia de forma coercitiva.
Todavia, esse mecanismo, não obstante o potencial benefício que poderá trazer, busca,
ou minimamente possibilita, em última análise, a concentração do poder e o controle
institucional sobre a democracia. Bom que se traga ao contexto, que referido
mecanismo deverá repousar nas mãos de apenas 11 ministros, os quais, diga-se de
passagem, são escolhidos pela cúpula do Poder Executivo do País, e possuem
vitaliciedade. Nas palavras de Miguel Reale, “Não há norma sem que haja
interpretação”, e a interpretação coercitiva, imposta ou vinculante (para os que apreciam
eufemismos), se consubstancia, a bem da lógica, em governança reflexa.