Unidade Curricular: Dinâmicas do Mundo Contemporâneo
Docente: Dr.ª Helena Pinheiro
Alunos: Carlos Couto
Cidália Castro
Tiago Oliveira
João Miguel Ferreira
Ano Lectivo: 2008/2009
Dinâmicas do Mundo Contemporâneo
INTRODUÇÃO
Se pudéssemos agora admirar o planeta Terra visto do espaço sideral,
certamente perceberíamos a pequenez e a insignificância da nossa existência, enquanto seres humanos, em relação ao Universo. Mas, só desde a segunda metade do século XX nos foi possível admirar a beleza do nosso próprio planeta de fora para dentro e questionarmo-nos, com maior profundidade, acerca do que realmente andamos a fazer a nós e a todos os outros habitantes da Terra. Por isso, quando a modernidade chegou, prometeu mundos e fundos, prometeu aventuras fantásticas, prometeu a felicidade a todos os humanos, prometeu a certeza das coisas, através desse progresso tecnocientífico inevitável, grandioso e que nos levaria a alcançar feitos extraordinários. Pois… seguimo-la como um autêntico rebanho! Contudo, nem todos acreditaram nas promessas da modernidade! Mas eram poucos! A modernidade seguiu pomposa e triunfante na sua caminhada, até que a ética antropocêntrica devolveu as ideologias radicais, as guerras, o horror, a destruição ambiental, o desrespeito do Homem pelo Homem e pela natureza. E a modernidade quanto mais alto se elevou, maior foi a queda! Hoje em dia, já duvidamos das certezas e acreditamos, antes, na incerteza das certezas. Como diz Morin (1991), vivemos a crise da era planetária, vivemos o nosso subdesenvolvimento moral, intelectual e afectivo. Por isso, esta crise, que acreditamos ser transitória, acarreta problemas para a humanidade! O recrudescer do neofundamentalismo devolve-nos à memória ideologias nazis, assim como traz consigo o terrorismo internacional, entre outras questões de ordem social, cultural, religiosa e política. Já o neomodernismo mostra uma inquietante passividade em relação ao que acontece entre a humanidade. Perante tantas opiniões divergentes, o destino da Homem é, como diz Morin (1991), embarcar numa “aventura desconhecida”! Encontrar o futuro é pensar a complexidade dos problemas actuais e “rearmarmo-nos intelectualmente”. O desígnio da humanidade deverá ser o de “civilizar a Terra”! Procurar perceber a complexidade do destino da humanidade e tentar reencaminha-la para que encontre, novamente, a sintonia com a natureza do próprio planeta e com a natureza cósmica é o desafio proposto pelo trabalho Dinâmicas do Mundo Contemporâneo desenvolvido no âmbito da unidade curricular de Dinâmicas do Mundo Contemporâneo, cujo tema é “O Astro Errante”!
1 - O ASTRO ERRANTE
1.1 - A Modernidade
Falar da Modernidade obriga-nos a recuar no tempo e entender que a
ela era, segundo Morin (1991), uma crença na ciência materialista, na razão laica e no progresso histórico que se impusera contra a religião professada. A fé no progresso da ciência, da técnica e da razão era o suporte que conduzia os seguidores do Modernismo, acreditando estes piamente que esta época moderna traria o progresso irreversível. Aliás, Morin (1991) dá o exemplo de grandes personalidades do passado histórico, como Condorcet, Lamarck, Darwin, Auguste Comte e Marx, para explicar a fé vivida por estes quanto à infinita evolução da humanidade. Na linha de pensamento de Morin (1991), Bauman (2007) explica, também, que a modernidade prometeu trazer, à vida humana, o brilho e a pureza que só a razão podia consagrar. Segundo Brito e Ribeiro (s/d), certamente, havia quem duvidasse deste progresso inabalável (Nietzsche, Weber, entre outros) mas o desenvolvimento natural que decorre do tempo dava razão ao Modernismo. Eis que, porém, as duas primeiras grandes guerras do século XX põem “água na fervura” colocando em causa a certeza do progresso mas, mais uma vez, os fiéis da modernidade viram nestes trágicos acontecimentos o momento marcante para um futuro mais brilhante. Contudo, o que Morin (1991) afirma é que a crise do progresso já se havia iniciado entre as duas grandes guerras, com o surgimento do nazismo e do comunismo estalinista. O caso paradigmático da ambivalência no progresso científico é, segundo Morin (1991), o lançamento da bomba atómica em Hiroshima no ano de 1945, ao qual se sucedem, nos anos 70, os problemas ambientais que explicam a “ambivalência no desenvolvimento técnico e no crescimento industrial” e a queda do estalinismo, através do desmembrar das repúblicas socialistas soviéticas, da queda do muro de Berlim, e da derrocada do maoísmo.
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1.2 - A Problemática do Presente
Repescando o exemplo de Morin (1991) sobre a ambivalência, Bauman
(2007) refere que a humanidade está cada vez mais consciente da ambivalência dos seus projectos de vida, das suas escolhas e identidades. A modernidade não trouxe um futuro brilhante e Bauman (2007) já não acredita que isso possa acontecer, porque não foi capaz de cumprir o que havia prometido. Dessa forma, para este pensador, o pós-modernismo traz a ideia de reconciliação com a ambivalência e o tempo para que a humanidade possa aprender a viver com um mundo que é irremediavelmente ambivalente, um mundo que tem sempre dois lados contraditórios. Por isso, Morin (1991) menciona a “cegueira” da própria ciência que não reconhece o bem e o mal que transporta dentro de si. Sendo a ciência criação do próprio Homem, Morin (1991) considera que a consciência humana é ela própria dominada, ocasionalmente, pelo seu inconsciente e que o Homem vive, ainda, na pré-história do espírito humano, reflectido no seu próprio subdesenvolvimento moral, intelectual e afectivo, originado no e pelo próprio desenvolvimento tecnocientífico. Vive-se, assim, uma “crise da era planetária”! Estabelece-se, deste modo, uma relação com a ideia de Grün (s/d) que afirma que o estado actual da humanidade se deve ao que ele designa de ética antropocêntrica, pois o Homem, pensando ser o centro de todas a coisas, é o principal responsável pela incerteza do rumo do seu próprio destino e do destino do próprio planeta. É perante o estado actual da humanidade que Arendt (2001) reflecte sobre a falta da mais pura actividade que o homem é capaz de fazer: a actividade de pensar. Arendt (2001) esclarece que o Homem deve reflectir sobre o que anda a fazer ao seu próprio habitat e, consequentemente, a si mesmo, pois, através da pesquisa tecnológica, o Homem tem aumentado o seu poder, mas num sentido inverso, não tem tido capacidade de controlar as suas consequências. Assim, Morin (1991) conclui que o progresso nada assegura à humanidade, pois é de incertezas que vivemos e que a crise é o símbolo do passado e do presente, e possivelmente, do futuro. “Vivemos conjuntamente a crise do Passado, a crise do Futuro, a crise do Devir. A crise do Passado, a dos
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Fundamentos, havia sido aberta pela própria modernidade. A crise do Futuro e a do Devir puseram em crise a modernidade.” (Morin, 1991, p. 12)
1.3 - Resposta à Crise da Modernidade
Chegado a esta crise generalizada, global, planetária, qual a resposta
que o Homem encontra dentro de si? O neofundamentalismo e o neomodernismo! Serão estes movimentos a resposta adequada à crise planetária? Morin (1991) duvida destas atitudes ideológicas, até porque se o neofundamentalismo, sob formas nacionalistas, religiosas e étnicas, tem como objectivo o regresso à rotatividade, ao tempo cíclico, esta mesma atitude ideológica usufrui dos meios tecnológicos e científicos para combater a modernidade. As armas que os neofundamentalistas usam são as mesmas armas que procuram destronar! Já o neomodernismo ou pós-modernismo vai de encontro à ideia de que o que é novo não significa que seja melhor. Contudo, a sua visão é limitada por pensar que tudo está definido, que mais nada há a acrescentar na história da humanidade, quando na realidade, de acordo com Morin (1991), tudo é incerto, tudo é possível! Para Magnoli (s/d) a crise é apenas a transição entre períodos de estabilidade. Assume esta crise das ideias que pode levar a nacionalismos e a neoconservadorismos e entende que a humanidade está numa fase de transição dum mundo conhecido para um mundo, ainda com contornos indefinidos.
1.3 - Que Rumo Para a Humanidade?
Então, seguindo a linha de pensamento de Magnoli (s/d), que destino
estará reservado à humanidade? Morin (1991) fala-nos no embarcar de uma aventura desconhecida, pois a história não revela um futuro brilhante, mas também não se encontra estagnada nem perto do seu fim. Refere, aliás, que desde os tempos modernos, a humanidade já navega em águas desconhecidas, embora não o
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soubesse. Por isso, Morin (1991), não desenha um futuro concreto para a humanidade. Para além de este autor se referir ao destino da humanidade como o rumo ao desconhecido, explica, ainda, que estamos no inominado, porque não podemos dar um rosto ao nosso tempo presente nem ao tempo futuro e, dessa forma, não nos é permitido empregarmos “pós” ou “anti” em conceitos estabelecidos. Então o que poderemos fazer, enquanto seres humanos, para dar definição à nossa existência? Morin (1991) acredita que devemos dissipar as ilusões cegas do modernismo, a ideia de Arkhe do neofundamentalismo e a estagnação do pós- modernismo. Aliás, Cícero (2009) nem sequer acredita em expressões como pós- modernismo ou pós-moderno, porque a modernidade não sendo superável, não significa o fim da história. Para Cícero (2009) a modernidade encontra-se numa espécie de cogito ultracartesiano, ou seja, num pensamento complexo que vai para além da existência do homem apenas como ser pensante. Ainda, segundo este autor, a modernidade não se encontra onde pensaríamos que supostamente estivesse, ou seja, numa etapa histórica, num desenvolvimento económico ou tecnológico, nem no materialismo, nem no relativismo ou no neo- liberalismo. Dessa forma, Morin (1991) fala num rearmamento intelectual que nos instrua a pensar a complexidade como forma de descobrirmos o caminho do futuro. Fazendo-o como? Desenvolvendo “a consciência da ambiguidade dos processos científicos e técnicos, a consciência da incerteza do nosso devir. Devemos desenvolver a racionalidade autocrítica no seio da nossa razão.” (Morin, 1991, p. 15) Morin (1991) encontra na democracia a solução para o progresso, embora ela seja particularmente problemática porque possui dentro de si a capacidade de se anular. No entanto, o progresso não é garantido nem definitivo. Ele precisa constantemente de se auto regenerar e, por isso, o futuro não deve ser programável, nem deve tentar ser programado, mas orientado pelas ideias da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade! Civilizar a Terra é a proposta de Morin (1991), que vai de encontro à ideia contida na obra de Morin e Kern (2001) designada de “Terra – Pátria”, em que a tomada de consciência do Homem em relação ao seu habitat natural
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deverá constituir o acontecimento – chave do fim do milénio. Deveremos estar solidários neste e com este planeta que é a nossa Terra – Pátria. Também Comparato (2001) refere-se à questão do futuro da humanidade apoiando-se na ideia da construção de um mundo novo que busque a felicidade para o Homem. Deste modo, contrapõe ao individualismo excludente, o espírito de uma nova civilização conjugada a uma fraternidade universal, a uma organização humana solidária e que tenha como propósito a defesa de valores como a paz, a justiça, a igualdade e a liberdade.
Considerações Finais
Na verdade, estamos, ainda, muito longe do conceito de civilização
idealizado por Morin e isso é visível na forma como a relação do Homem com o ambiente e com o próprio Homem se vai degradando. Somos, actualmente, uma espécie consumista dos recursos naturais e não olhamos a meios para conseguir satisfazer esta nossa vontade, diríamos mesmo, esta nossa ganância. E que futuro poderemos garantir às gerações vindouras? A incerteza como marca registada do porvir! Agredimos, degradamos e destruímos tanto os recursos naturais como as relações entre povos! Impomos a nossa cultura à fauna e à flora deste planeta! A ambição do Homem é desmedida e poderá ser fatal não só para a própria espécie humana como para todas as espécies que habitam o planeta Terra. O Homem não é dono do planeta! Por isso a humanidade deveria desenvolver a capacidade de tomada de consciência e auto-reflectir sobre as suas acções neste mundo que é de todos. Só assim, a humanidade poderia, possivelmente, rumar a bom porto e encontrar-se a si mesma e encontrar o respeito pela fauna e flora da Terra. Segundo Morin (1991), a trindade Liberdade-Igualdade-Fraternidade é o caminho a seguir para “civilizar a Terra”. Pensamos que a educação é a base deste objectivo! No fundo, somos, ainda, como uma criança que está a aprender a caminhar e, por isso, ainda cambaleamos no nosso processo de desenvolvimento. Dessa forma, habitamos num astro que tem um rumo delineado com os seus movimentos de rotação e translação perfeitos, mas nele conduzimos o nosso destino de forma errante!
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Bibliografia
ARENDT, Hannah, A Condição Humana, Lisboa, Relógio D’Água Editores,
2001. BAUMAN, Zygmunt, Modernidade e Ambivalência, Lisboa, Relógio D’Água Editores, 2007. CÍCERO, António, O Mundo Desde o Fim: sobre o Conceito de Modernidade, Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2009. MORIN, Edgar; BOCCHI, Gianluca; CERUTI, Mauro, Os Problemas de Fim de Século, Lisboa, Editorial Notícias, 1991. MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigite, A Terra – Pátria, Lisboa, Instituto Piaget, 2001.
Sitografia
BRITO, Daniel Chaves de; RIBEIRO, Tânia Guimarães, A Modernização na Era
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