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Transcrição – Turma de Exercícios – Diurna (16/03/2010 a 29/04/2010)


FESUDEPERJ – Fundação Escola Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

TURMA DE EXERCÍCIOS DIURNA


CONCURSO DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AULA 08 – 31/03/2010 – DIREITO ADMINISTRATIVO


PROFESSORA: ANDREA GONÇALVES

DICAS
A aula se inicia com a explicação acerca da Examinadora que compõe a Banca de
Direito Administrativo (Ana Lúcia Porto de Barros) dessa prova da Defensoria Pública, que é
titular da 13ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital, não sendo uma pessoa que possua
história acadêmica no Direito Administrativo, pois ela não dá aulas, sendo uma pessoa teórica,
que tem experiência muito prática no dia a dia da Fazenda Pública, o que indica que a prova,
provalvemente, será eminentemente prática.

Sobre os Juizados Especiais da Fazenda Pública (Lei 12.153/2009), eles ainda não
foram instalados nem pelo Tribunal de Justiça, então não se sabe como eles irão funcionar, não
havendo qualquer atividade concreta da administração da Defensoria Pública nesse sentido.
Assim sendo qualquer pergunta sobre esse assunto, se surgir, deverá ser teórica, o que não se
acredita que vai acontecer nessa prova.

O provão sempre abrange problemas simples e objetivos e, considerando o perfil da


Examinadora dessa Banca, o que deverá ser perguntado é o que aparece diariamente e
vivenciado na prática nas Varas de Fazenda Pública.

Então, o que será passado nessa aula são questões práticas e corriqueiras das Varas
de Fazenda Pública, pois a Profa. é titular da 10ª Vara de Fazenda, bem como recomenda que o
estudo seja complementado com pesquisas jurisprudenciais dos Tribunais, sendo certo que o
melhor para a Defensoria tem sido o STJ e o TJ/RJ, pois o STF não tem muitas teses
interessantes para a Defensoria.

1ª QUESTÃO:

Ariosvaldo, proprietário de uma "van", flagrado pelo DETRO, quando


realizava transporte irregular de passageiros, teve seu veículo apreendido, além de ser
multado pela referida infração.

Ao tentar a liberação do veículo, foi informado que, para tanto, deveria pagar a
multa que gerou a apreensão, bem como as demais que possui, taxa de reboque e diárias de
permanência do veículo no depósito público.

Desesperado, sem condições de arcar com todos esses encargos, procura o


Núcleo de Fazenda Pública da Defensoria Pública, solicitando orientação acerca de seus
direitos. Você, na qualidade de Defensor Público, como procederia? Fundamente sua
resposta.

Explicações:

Nessa questão, temos uma situação muito rotineira nas Varas de Fazenda, ou seja, as
Ações Ordinárias de Cumprimento de Obrigação de Fazer, por meio das quais objetivamos a
liberação do veículo sem que o assistido tenha que arcar com todos esses encargos.

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A apreensão do veículo (que é penalidade) gera a multa (decorrente de infração de


trânsito). A apreensão de veículo é uma penalidade aplicada em decorrência de uma infração,
sofrendo o condutor a sanção de multa e penalidade/sanção de apreensão.

O Código de Trânsito prevê penalidades e medidas administrativas, sendo a


apreensão uma penalidade aplicada em decorrência de uma infração, o que gera a aplicação da
multa. Então temos a multa em decorrência de uma infração que também gera a apreensão.

Assim, o proprietário terá que arcar com a multa, taxa de reboque (cobrada pela
condução do veículo ao depósito público) e diárias de permanência (dias cobrados pela
permanência do veículo em depósito público). Quando o veículo é apreendido, sua liberação
depende do pagamento da multa, da taxa de reboque e diárias de permanência.

Evidentemente os assistidos não conseguem arcar com todos esses encargos, até
mesmo pelo fato de não conseguirem resolver rapidamente todos os problemas e entraves
burocráticos que envolvem a apreensão, por isso eles procuram a Defensoria para a propositura
da Ação Ordinária de Cumprimento de Obrigação de Fazer para liberar o veículo sem o
pagamento desses encargos todos, havendo a possibilidade de fazer pedido de antecipação dos
efeitos da tutela para obter a liberação imediata do veículo.

O argumento chave dessa ação é basicamente lesão ao princípio constitucional do


devido processo legal, pois a cobrança de multas, de encargos, que recaem para a Fazenda
Pública (dívidas de terceiros), deve estar sujeita ao Procedimento Especial da Execução Fiscal,
que tem previsão na Lei 6.830/90, e ao condicionar a liberação do veículo ao pagamento de
todos os entraves administrativos a Administração Pública está, na realidade, realizando uma
cobrança indireta.

Para a Administração Pública liberar o veículo, ela exige o pagamento de todos os


custos juntos e, se ela está exigindo o pagamento para somente após isso liberar o veículo, ela
está cobrando os valores de forma indireta, burlando o procedimento previsto pela Lei de
Execução Fiscal, já que se trata de uma dívida devida à Fazenda Pública.
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A cobrança de dívidas pela Fazenda Pública não representa um ato que tenha
autoexecutoriedade; tanto não é que a Fazenda precisa da execução fiscal para exercer essa
cobrança. Recordem que um dos atributos do ato administrativo é a autoexecutoriedade, dentre o
quais estão: a presunção de veracidade, a imperatividade e a autoexecutoriedade, consistindo em
possibilidade da Fazenda Pública editar e exercer atos sem que esses atos tenham que passar pela
análise do Poder Judiciário.

Assim, essa cobrança não é dotada desse último requisito, pois exige que passe pela
análise do Judiciário, mova a ação de execução fiscal, para que possa exercer essa cobrança. O
Desembargador Nagib Slaibi Filho tem um artigo sobre o assunto: “As Multas de Trânsito e o
Devido Processo de Lei”, que pode ser encontrado nos seguintes links abaixo. Nesse artigo ele
fundamenta a falta de autoexecutoriedade e a ofenda ao devido processo legal:

1- http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/Nagib%20Slaibi%20Fil
ho%20%283%29%20-formatado.pdf;
2- http://www.smithedantas.com.br/texto/mult_transito.pdf
3- http://www.nagib.net/artigos_texto.asp?tipo=2&area=1&id=57
“A ordem jurídica extraiu da Administração Pública o poder de
auto-executar as suas decisões em momentos mais críticos de
ameaça às liberdades individuais – como na desapropriação
forçada, na execução da dívida ativa e outros –, obrigando o
administrador a se dirigir ao Poder Judiciário em relação
processual em que o administrado possa, finalmente, ser tratado
em condições de igualdade, atendido o princípio do devido
processo de Lei, pois "aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes" (Constituição, art. 5o, LV).”

Resposta:

Qual foi a infração que gerou a apreensão? Transporte Irregular de Passageiros, que
encontra previsão legal no art. 231, VIII da do CTB, Lei 9.503/97 c/c art. 270:

Art. 231. Transitar com o veículo:


(...)
VIII - efetuando transporte remunerado de pessoas ou bens,
quando não for licenciado para esse fim, salvo casos de força
maior ou com permissão da autoridade competente:
Infração - média;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - retenção do veículo;
Art. 270. O veículo poderá ser retido nos casos expressos neste
Código.
§ 1º Quando a irregularidade puder ser sanada no local da infração,
o veículo será liberado tão logo seja regularizada a situação.
§ 2º Não sendo possível sanar a falha no local da infração, o
veículo poderá ser retirado por condutor regularmente habilitado,
mediante recolhimento do Certificado de Licenciamento Anual,
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contra recibo, assinalando-se ao condutor prazo para sua


regularização, para o que se considerará, desde logo, notificado.
§ 3º O Certificado de Licenciamento Anual será devolvido ao
condutor no órgão ou entidade aplicadores das medidas
administrativas, tão logo o veículo seja apresentado à autoridade
devidamente regularizado.
§ 4º Não se apresentando condutor habilitado no local da infração,
o veículo será recolhido ao depósito, aplicando-se neste caso o
disposto nos parágrafos do art. 262.
§ 5º A critério do agente, não se dará a retenção imediata, quando
se tratar de veículo de transporte coletivo transportando
passageiros ou veículo transportando produto perigoso ou
perecível, desde que ofereça condições de segurança para
circulação em via pública.
Esse transporte irregular de passageiros não gera como consequencia a apreensão,
gera a retenção, o que é muito diferente. Retenção é quase sempre por um período curto de
tempo e é medida administrativa, enquanto a apreensão é uma penalidade administrativa. Essa
mesma discussão foi objeto do Informativo n° 426 do STJ (que foi encaminhado pela
Examinadora aos colegas de trabalho):

REPETITIVO. TRANSPORTE IRREGULAR.


PASSAGEIROS. A Seção, ao apreciar o recurso
representativo de controvérsia (art. 543-C do CPC e Res. n.
8/2008-STJ), reafirmou que a liberação do veículo retido
por transporte irregular de passageiros, com base no art.
231, VIII, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), não
está condicionada ao pagamento de multa e despesas.
Anotou-se que a questão não se confunde com a julgada no
REsp 1.104.775-RS (DJ 1º/7/2009), que, também sujeito ao
regime dos recursos repetitivos, cuidou da necessidade de
pagamento de encargos em caso de remoção de veículo
conduzido sem licenciamento (art. 230, V, do CTB). Isso
posto, a Seção negou provimento ao recurso. Precedentes
citados: REsp 1.129.844-RJ, DJe 2/12/2009, e AgRg no REsp
1.027.557-RJ, DJe 26/2/2009. REsp 1.144.810-MG, Rel.
Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 10/3/2010.

Ex. Quando o condutor for flagrado com a carteira de habilitação vencida, mas
tem uma pessoa ao lado que é condutor habilitado, essa infração gera apenas a retenção, ou seja,
a manutenção do veículo por pouco tempo pela Administração Pública ou a liberação mediante a
assinatura de um termo de compromisso pelo condutor.

Quando há retenção, o veículo não é levado ao depósito. Se ao invés de retenção,


houver a apreensão, o que deve ser alegado é a nulidade do ato administrativo e na Ação de
Obrigação de Fazer deve haver pedido de anulação do ato de apreensão com pedido de liminar
de liberação do veículo sem o pagamento dos custos, pois se a medida era administrativa de
retenção, e a Administração Pública apreendeu, o fez sem motivo legal e sem motivo o ato
administrativo é nulo, pois quando há motivo há a vinculação do ato administrativo. O fato que
gerou o ato de apreensão – transporte irregular de passageiros, previsto em lei – vincula a
retenção, não a apreensão.

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Na composição do ato administração, se o ato é editado sem motivo ele é nulo, pois a
lei não autoriza a apreensão, mas a retenção. Por isso a ação deve ser cumulada com o pedido de
anulação do ato administrativo cumulada com a obrigação de fazer (liberação de veículo sem os
pagamentos dos custos).

Nesse sentido foi a decisão acima do STJ. Então, o veículo não pode ser levado ao
depósito, salvo se o proprietário não regularizar a situação que deu origem à retenção dentro do
prazo previsto. (art. 270§2º e §3º CTB). A medida de retenção é rápida e imediata não ficando o
bem em poder a Administração.

No caso do §4º, quando o condutor não apresenta a carteira de habilitação e não tem
outro condutor habilitado para substituí-lo, ou não apresenta outro condutor para retirar da
retenção, o veículo poderá ser apreendido.

Vejam o caso do art. 232 do CTB, onde a medida é a retenção do veículo, mas a
Administração costuma apreender em Blitz, o que também é nulo, mas o maior problema ocorre
quando a apreensão é legítima, mas mesmo assim ainda haveria lesão ao devido processo legal,
pois a caberia a Administração Pública deveria propor a ação de execução para cobrar suas
dívidas.

Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos de porte


obrigatório referidos neste Código:
Infração - leve;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - retenção do veículo até a
apresentação do documento.
Imaginemos a hipótese do art. 230, XX, onde a medida prevista é a apreensão,
quando ela ocorrer, nesse caso será legítima, assim o aluno não pode fugir da resposta completa
na prova, deve enfrentar a questão do devido processo legal, não podendo pedir a anulação do
ato, pois ele é legítimo, restando somente o pedido de liberação de veículo sem o pagamento de
todos os custos.

Art. 230. Conduzir o veículo:


XX - sem portar a autorização para condução de escolares, na
forma estabelecida no art. 136:
Infração - grave;
Penalidade - multa e apreensão do veículo;
Outro caso: vistoria e emissão do Certificado de Licenciamento de Veículo sem o
pagamento de multas. A Administração Pública tem condicionado a vistoria anual dos veículos
ao pagamento das multas que recaiam sobre o bem. Mais uma vez, a forma de cobrança de multa
depende de execução fiscal e quando ela condiciona a realização de vistoria e emissão de CRV
ao pagamento das multas, também ofende o princípio do contraditório, pois essa cobrança
indireta também não é dotada de autoexecutoriedade.

A Administração Pública faz essa exigência com base em dois dispositivos legais do
CTB ( art. 128 e 131,§2º). Havendo essa previsão legal, nesse caso, deve haver uma questão
preliminar na ação ordinária de cumprimento de obrigação de fazer ( que é a emissão do CRV

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sem o pagamento das multas) requerendo a argüição incidental de inconstitucionalidade do


dispositivo.

Art. 128. Não será expedido novo Certificado de Registro de


Veículo enquanto houver débitos fiscais e de multas de
trânsito e ambientais, vinculadas ao veículo,
independentemente da responsabilidade pelas infrações
cometidas.

Art. 131. O Certificado de Licenciamento Anual será


expedido ao veículo licenciado, vinculado ao Certificado de
Registro, no modelo e especificações estabelecidos pelo
CONTRAN.

§ 1º O primeiro licenciamento será feito simultaneamente ao


registro.

§ 2º O veículo somente será considerado licenciado estando


quitados os débitos relativos a tributos, encargos e multas
de trânsito e ambientais, vinculados ao veículo,
independentemente da responsabilidade pelas infrações
cometidas.

A inconstitucionalidade também é com base na lesão ao devido processo legal.


Detalhe: a multa é sanção que recai sobre o condutor, que pode não ser necessariamente o
proprietário, mas o CRV é o documento que legitima a utilização do veículo pelo proprietário
(direito de uso é inerente à condição de proprietário). Assim, a sanção de multa não pode
ultrapassar a pessoa para recair sobre o direito de propriedade e um legítimo exercício que
decorre desse direito.

Vejam as seguintes jurisprudências:

Agravo Regimental no Resp – 1054019/RJ:

ADMINISTRATIVO. LICENCIAMENTO ANUAL DE


VEÍCULOS. EXIGÊNCIA DO PRÉVIO PAGAMENTO DE
MULTAS. ILEGALIDADE. SÚMULAS 127 E 312 DO STJ.
ALEGADA VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC.
INOCORRÊNCIA. 1. É inadmissível condicionar o licenciamento
anual de veículos à prévia exigência do pagamento de multa,
imposta sem prévia notificação ao infrator, ante a ratio essendi das
Súmulas 312 e 127 do STJ. 2. Entrementes, esta Corte assentou
que: "É lícita a atuação da Administração, no sentido de
condicionar a vistoria em veículo e a conseqüente expedição do
Certificado de Licenciamento ao pagamento de tributos, encargos e
multas de trânsito e ambientais vinculados ao veículo,
independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas,
consoante o art. 131, caput, e § 2º, do Código de Trânsito
Brasileiro, e desde que tenha havido regular notificação do
infrator." (AgRg no REsp 650.536/RJ, DJ de 06.12.2004). 3. In
casu, o Juiz Singular, à luz de exauriente cognição probatória,
assentou que: "Quanto a estas, observo que de fato nenhuma prova
de notificação foi apresentada pelo DER ou pelo DETRAN. O
único documento que acompanha a contestação destes, qual seja
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aquele de fls. 84, não se presta a fazer a prova necessária, visto que
extraído do mero sistema de computador quando a prova da
notificação deve seguramente provir do próprio motorista, ou de
pessoa residente em sua casa, normalmente um aviso de
recebimento." (fl. 117). 4. Agravo regimental desprovido.

Apelação Cível 2009.227.01.605:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


VISTORIA E LICENCIAMENTO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. MULTAS. Recurso interposto contra sentença
que julgou improcedentes os pedidos da autora e a condenou ao
pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios no
valor de R$ 500,00 para cada réu. A exigência do primeiro réu de
quitação das multas para a vistoria do veículo é legítima, nos
termos dos artigos 124, VIII, 128 e 131 §2º, todos da Lei nº
9.503/97, sendo certo que só seria ilegítima se ausente a
notificação do infrator. Na hipótese, o automóvel de propriedade
da autora, ora apelante, foi multado por mais de 100 vezes, tendo a
notificação sido remetida para o endereço constante do seu
prontuário. Cabia à autora manter atualizado nos órgãos
competentes o seu endereço e não o fazendo deve arcar com as
conseqüências advindas. As notificações devolvidas em razão de
mudança de endereço são válidas, na forma do artigo 281, §1º do
CTB. Desta forma, tem-se o regular exercício da polícia
administrativa dos demandados que expediram as notificações à
apelante, que não logrou êxito em desconstituir a presunção de
legitimidade e de legalidade dos atos administrativos. No mais, a
verba honorária restou fixada em consonância com os critérios da
razoabilidade e proporcionalidade, não merecendo qualquer reparo.
Sentença que se mantém, em reexame necessário. RECURSO AO
QUAL SE NEGA SEGUIMENTO, NA FORMA DO ART. 557,
CAPUT, DO CPC.

Apelação Cível 2008.001.63823

APELAÇÃO CÍVEL-ADMINISTRATIVO– OBRIGAÇÃO DE


FAZER – Apreensão do Veículo sem licenciamento anual.
Pagamento de Multa Diária de Permanência em Depósito e
Reboque – Ilegalidade – Pretensão autoral de que seja liberada a
retirada do seu automóvel do depósito, sem o prévio recolhimento
das taxas e multa. – Sentença de procedência parcial, tão somente
para determinar a liberação do veículo do autor mediante ao
pagamento da multa que importou na apreensão do bem, assim
como nos custos com a apreensão e diárias, esta última restrita ao
período de 30 dias. – Apelações – Pretensão recursal autoral de
reforma da sentença a fim de ser reconhecido o seu direito a
liberação do veículo, sem a quitação de valores referentes às
multas, taxas de reboque e diárias – Pretensão recursal do Estado
do Rio de Janeiro de reforma da sentença tão somente quanto à
limitação da cobrança de diárias pelo período de trinta dias. – O
condicionamento para a liberação do veículo ao pagamento de
multas é ilegal. Auto executoriedade que viola o devido processo
legal e a ampla defesa. IMPROVIDO O RECURSO DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO E PROVIDO O RECURSO DA AUTORA

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APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


FAZER C/C PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA –
APLICAÇÃO DE MULTA – APREENSÃO DE VEÍCULO
– ACÓRDÃO PARADIGMA DO STJ – Jurisprudência
daquela corte no sentido da legalidade da medida
administrativa de liberação do veículo condicionada ao
pagamento de multas já vencidas e das despesas com
remoção e depósito, estas limitadas aos primeiros trinta dias,
nos termos do art. 262 do CTB. – V. Acórdão que negava
provimento ao recurso do DETRAN e dava provimento ao
recurso da autora, a fim de reconhecer o seu direito a
liberação do veículo, sem a quitação de valores referentes à
multa, taxas de reboque e diárias. – Interposição de Recurso
Especial. – Autos baixados à Câmara pela 3ªVice-Presidência
para reexame do acórdão recorrido, por divergência com a
orientação do E. STJ. – Art. 543-C §7º, II do CPC. –
Reconsideração, com ressalvas, em obediência aos princípios
processuais da economia, celeridade e efetividade das
decisões judiciais. – ACÓRDÃO ANTERIOR QUE SE
RECONSIDERA, PARA DAR PROVIMENTO AO
RECURSO DE APELAÇÃO, julgando improcedente o
pedido da autora-apelada, invertendo-se os ônus da
sucumbência, ressalvando a incidência do art. 12 da Lei n.º
1.060/50.

Agravo de Instrumento 2009.002.12266

RETENÇÃO LÍCITA DE VEÍCULO. DOCUMENTAÇÃO


IRREGULAR. PAGAMENTO DE DIÁRIAS DO
DEPÓSITO. LIMITE DE 30 DIAS. PREVISÃO LEGAL.
DECISÃO. ART. 557, § 1º-A DO CPC. AGRAVO LEGAL.
Depreende-se do exame dos autos que o veículo foi
apreendido por falta de comprovação de licenciamento anual
e a consequente vistoria, conforme previsto no art. 130 do
Código de Trânsito Brasileiro. A apreensão e a remoção do
veiculo para o depósito público encontra amparo nos artigos
270 e 271 da Lei nº 9.503/97, sendo, portanto, ato lícito. Os
pagamentos das despesas provenientes do ato de apreensão
do veículo encontram-se previstas nos artigos 271 parágrafo
único e 262 § 2º do Código de Trânsito Brasileiro. Portanto, a
apreensão do veículo se encontra em conformidade com a
legislação em vigor, devendo o agravado suportar as despesas
relacionadas no § 2º do art. 262 do CTB, decorrente,
unicamente, da apreensão, cuja motivação se originou pela
falta de licenciamento anual do veículo, limitada a estadia ao
prazo máximo de 30 dias, devendo as demais multas ser
exigidas pela via própria. PROVIMENTO PARCIAL DO
RECURSO PRINCIPAL. DESPROVIMENTO DO
AGRAVO LEGAL.

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Argüição de Inconstitucionalidade 39/2005 (2005.017.00039): que reconhece a


inconstitucionalidade do art. 262,§2º do CTB:

Ver também: Apelação Cível 2009.227.01010:

APELACAO / REEXAME NECESSARIO - 1ª Ementa: DES.


ORLANDO SECCO - Julgamento: 21/07/2009 - OITAVA
CAMARA CIVEL - APELAÇÃO CÍVEL. Administrativo-
Constitucional. Código de Trânsito Brasileiro. Apreensão de
veículo em "blitz". Ausência de documento de porte obrigatório
(CRLV) e existência de multas. Liberação condicionada pela
Administração ao pagamento das obrigações propter rem (multas,
taxas e demais encargos com o depósito do bem). Quitação do
IPVA atrasado. Pretensão de liberação do veículo sem pagamento
dos demais encargos. Alegação de infringência a normas
Constitucionais relativas ao direito de propriedade, devido
processo legal, bem como ao princípio da não auto-executoriedade
das multas administrativas. Revelia do Órgão Autárquico. Sentença
de procedência parcial do pedido determinando a liberação do bem
através do pagamento da multa que originara a apreensão e trinta
dias de diária. Apelo interposto pelo proprietário, sustentando a
ilegalidade da condição imposta.// Matéria de Direito Público de
altíssimo relevo jurídico e grande espectro social, informada por
princípios e normas legais que orientam no sentido da manutenção
da ordem e segurança viária a reclamar resposta contundente do
Poder Judiciário, evitando que cidadãos se aproveitem de má-fé da
"brecha do sistema" para fruírem do direito de propriedade de
forma irregular. Impossibilidade, contudo, de se conferir auto-
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executoriedade manu militari a atos administrativos que dependam


necessariamente do Devido Processo Legal. Princípio da
Legalidade positiva e estrita para a Administração Pública. Base
jurídica fundamental da resistência oferecida pela Administração
(Art.262,§2º CTB), que se encontra com sua eficácia suspensa em
virtude de Declaração de Inconstitucionalidade pelo E. Órgão
Especial nas Argüições de Inconstitucionalidade 39/2005.
Condicionamento da liberação do veículo que, in casu e na forma
imposta, traduz-se em ilegalidade, sobretudo porque inexistente
prova da notificação prévia de multas impostas (súmulas 127 e
312,STJ). Jurisprudência maciça da Corte e sumulada do e. STJ.
Reforma da sentença. Liberação do veículo sem o pagamento de
qualquer valor. Procedência do pedido. Ônus sucumbenciais a
cargo do órgão autárquico. Recurso manifestamente procedente.
Provimento ao Apelo. Reforma da sentença em reexame
necessário.

O Mandado de Segurança também seria cabível, mas não é o mais adequado, pois
se, no meio do processo surgir a aparência de necessidade de dilação probatória, ele não serve
mais e ainda, para a concessão de liminar, o juiz normalmente manda ouvir a Fazenda publica, o
que gera perda de tempo.

Já na Ação Ordinária temos a possibilidade de fazer o pedido de antecipação dos


efeitos da tutela, ainda que seja indeferida, pois além de ser mais rápida, há a possibilidade de
agravo, sendo essa ação que é própria para a dilação probatória.

2ª QUESTÃO

Herculano, morador do bairro da Tijuca, portador de doença crônica, é


submetido, semanalmente, a tratamento em Unidade da Rede Pública de Saúde, situada no
Centro da Cidade do Rio de Janeiro e, para tanto, utiliza o transporte coletivo metroviário.
Sem condições de arcar com o pagamento dos valores das passagens, haja vista que é
pessoa de parcos recursos financeiros, propõe ação, pela Defensoria Pública, em face do
Estado do Rio de Janeiro, para que lhe seja fornecido "vale social".

Em contestação, o Estado argui, como preliminar, sua ilegitimidade passiva,


haja vista que o deslocamento de Herculano é intramunicipal, motivo pelo qual, seria da
competência do Município do Rio de Janeiro, o fornecimento do documento que o habilite
a utilizar, gratuitamente, o transporte público. Tem razão, o Estado? Fundamente.

Explicações:

Existem duas leis sobre transporte público no Estado do Rio de Janeiro: 1) Lei
3.167/2000, regulamentada pelo Decreto 19.936/01(Passe Livre) e 2) Lei 4.510/2005,
regulamentada pelo decreto 36.992/2005 (Vale Social).

A primeira lei, que trata do passe livre, documento que regulamenta a utilização
gratuita pelo usuário dos sistema rodoviário (ônibus) intramunicipal e é fornecido pelo
Município; enquanto a segunda lei, que trata do vale social, que é o documento que habilita o
usuário ao transporte público gratuito rodoviário intermunicipal, aguaviário, metroviário e
ferroviário, sendo fornecido pelo Estado.

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DIREITO DO CIDADÃO
TIPO PASSE - LIVRE VALE SOCIAL
LEI: 3.167/2000 LEI 4.510/2005
REGULAMENTAÇÃO: 19.936/2001 DEC 36.992/2005
TRANSPORTE: RODOVIÁRIO INTRAMUNICIPAL RODOVIÁRIO INTERMUNICIPAL
AGUAVIÁRIO
METROVIÁRIO
FERROVIÁRIO

FORNECIMENTO: ENTE MUNICIPAL ENTE ESTADUAL

*** O cidadão pode escolher o tipo de transporte

Na questão, o assistido mora no bairro da Tijuca, mas realiza seu tratamento de saúde
no Centro da cidade, ou seja, dentro do município (intramunicipal); entretanto, ele não está
requerendo o transporte rodoviário, mas o metroviário, sendo o único documento que habilita a
utilização gratuita do transporte metroviário, o VALE SOCIAL.

Se o assistido estivesse pedido transporte público gratuito rodoviário intramunicipal,


o Estado estaria correto em alegar a ilegitimidade, mas não é isso que o assistido está pleiteando
(mesmo raciocínio se fosse barcas, trem). Nessa esteira de raciocínio o estado não tem razões em
suas alegações, pois o transporte público gratuito objetivado na ação é o metroviário, sendo o
ente competente para fornecê-lo o Estado.

É um direito do cidadão obter o documento que o habilite a utilizar o transporte


gratuito; portanto, não pode o Estado alegar em sua defesa que existe a possibilidade do assistido
utilizar-se do transporte rodoviário intramunicipal, que deve ser fornecido pelo Município, pois
essa utilização depende da escolha do cidadão (administrado), que considera, inclusive sua
enfermidade. No caso em tela, o assistido está em tratamento de doença crônica, sendo, às vezes
o metro o tipo de transporte que lhe é mais adequado, com mais condições e conforto do que um
ônibus.

OUTROS PONTOS IMPORTANTES:

a) para ser considerado portador de doença crônica deve o assistido apresenta


laudo médico (comprovação da doença) e fazer prova da periodicidade de seu tratamento
(comprovação do tempo), pois a lei prevê que o vale ou o passe serão fornecidos contendo os
mesmos números de passagens ou viagens necessárias ao tratamento.

b) Pessoa portadora de deficiência: esse assistido não precisa comprovar a


periodicidade de seu tratamento ou que está em tratamento, somente laudo comprovando a
existência de sua enfermidade, já que a própria doença é motivo que lhe garante o direito ao
fornecimento do passe ou vale com gratuidade no transporte. A deficiência já constitui razão
para o fornecimento do documento.

- acompanhante: todos os doentes têm direito, mas com a declaração médica


comprovando a necessidade de acompanhante, salvo se menor (que já se parte do pressuposto
que necessita estar acompanhado de absolutamente capaz) e este documento de acompanhante
deve se utilizado junto com a pessoa a qual ele acompanha.

c) Pessoa idosa: independentemente da pessoa idosa possuir condições de arcar com


os custos do transporte urbano, é um direito dessa pessoa idos em obter o vale ou o passe para a
utilização gratuita do transporte público, devendo, para isso, somente fazer a prova da idade, que
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é 65 anos (diferentemente do que ocorre com a questão dos medicamentos, onde existe a reserva
do possível – pois aquele que tem condições de pagar estaria prejudicando aquele que não tem
condições).

3ª QUESTÃO:

É obrigatória a apresentação de receituário da rede pública de saúde para o


fornecimento gratuito de medicamentos, pela rede pública de saúde? Justifique.

Esquema:

SERVIÇOS
PÚBLICOS

EXCLUSIVOS PRIVATIVOS NÃO PRIVATIVOS

EXECUÇÃO DIRETA ORIGINARIAMENTE TANTO A ADM. PUB.


ENTREGUES PARA EXECUÇÃO
QUANTO O PARTICULAR
PELA ADM DIRETA, MAS
PODEM SER DELEGADOS
SOMENTE PELA ADM PUB. DIRETA
DESNECESSÁRIA A
POR MEIO DE ÓRGÃOS PÚBLICOS CONCESSÃO PERMISSÃO
DELEGAÇÃO

REQUISITOS:
FISCALIZAÇÃO

De acordo com algumas classificações doutrinárias o Serviço Público pode ser: a)


Exclusivo; b) privativo e c) não privativo. Sendo Serviço Público Exclusivo, é aquele que
somente admite execução pela Administração Pública Direita por meio de Órgãos Públicos
(exemplo: Defesa do estado, Segurança Pública, emissão de moeda) .

Em se tratando de Serviços Públicos Privativos, são aqueles que originariamente


foram entregues para serem executados pela Administração Pública Direta, mas que podem por
ela ter sua execução delegada a terceiros (o titular originária é a Administração Pública Direta,
mas sua execução pode ser delegada – Ex. Transporte público, eletricidade, água, gás e etc...),
sendo a regra a concessão ou permissão para a execução do serviço público, previstas no art. 175
da Constituição Federal.
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob
regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços
públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem
como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou
permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.

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Já o Serviço Público Não-Privativo é aquele que a constituição Federal atribui a


titularidade para a execução do serviço público tanto pela Administração Pública quanto ao
particular, sendo desnecessária a delegação para que o particular execute esse serviço, devendo
somente Ester observar os requisitos impostos pela lei para executá-los, dentre eles, sofrer
fiscalização para a verificação do cumprimento dos requisitos impostos–. (ex. Saúde e Educação
- art. 199 e 209 da Constituição Federal).

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar


do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de
direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e
as sem fins lucrativos.

§ 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou


subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.

§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais


estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em
lei.

§ 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a


remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de
transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e
transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de
comercialização.

Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes


condições:

I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;

II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.

Se a Constituição Federal possibilita que o particular preste o serviço público de


saúde ou educação, pois é competência dele também prestá-lo, é porque ela também está
possibilitando e legitimando a escolha desse serviço pelo administrado na medida de suas
possibilidades/necessidades, ou seja, as pessoas poderão escolher se utilizarão o serviço prestado
pela rede pública ou pelo particular.

Essa é uma garantia da qual o administrado dispõe, na medida em que o particular é


legitimado para a execução do serviço público, sendo certo que a exigência de apresentação de
receituário da rede pública exclusivamente para o fornecimento de medicamentos retira da
entidade particular a legitimidade conferida pela Constituição para a prestação do serviço de
saúde. Ademais, essa conduta presume que os médicos da rede privada são corruptos, pois
estariam fornecendo documento sem veracidade.

A desculpa dos Magistrados para a exigência de receituário da rede pública com a


finalidade de evitar fraude, presume uma atuação de má-fé dos médicos privados, imaginando
que estes seriam mais tendentes a fornecer documento falso, o que é lesivo à Constituição. Não é
razoável essa exigência até mesmo pelo fato da rede pública de saúde estar absurdamente
inflada, estando insuficiente para a prestação de seus serviços e, se for transferido para a rede
pública esse ônus de fornecimento de receituário, todos os usuários da rede provada ao serviço
público deveriam se dirigir, o que inflaria ainda mais o atendimento pela rede pública, acabando
com a efetividade do serviço público.
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A lei que regulamenta o serviço público de saúde é a do SUS – Lei 8.080/90, que não
traz qualquer exigência de emissão de receituário/laudo pela rede pública para o fornecimento de
medicamentos, lembrando que o art. 5º, II da CF/88 – “ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” – princípio da legalidade – como pode o Juiz
exigir algo que não está previsto em lei. Se alei não faz essa exigência, o particular que pe
atendido pela rede particular não precisa cumprir essa exigência de apresentação de receituário
ou laudo proveniente da rede pública.

OBS: a lei que regulamenta o serviço particular de saúde é a Lei dos Planos de Saúde – Lei
9.656/98

Verifiquem as jurisprudências:

Apelação cível – 2009.001.50650 (não achei)e 2005.001.29917:

4ª QUESTÃO:

Em ação movida em face da CEDAE, Marizontina pretende a revisão de débito


em virtude de cobranças pelo consumo do serviço público de água, que considera abusivas
requerendo, ainda, que seja determinado à ré que, caso exista débito, após regular
apuração, possibilite o seu pagamento parcelado.

Após regular instrução do feito, foi proferida sentença de procedência parcial


do pedido, ficando consolidado o valor correto do débito, porém, não sendo garantido à
parte autora, o direito ao seu parcelamento, sob o fundamento de que tai matéria estaria
afeta ao mérito da Administração (CEDAE), não sendo possível interferência do Poder
Judiciário em tal seara, sob pena de violação ao princípio da independência e separação
entre os Poderes.

Você, na qualidade de Defensor Público, o que faria? Fundamente sua resposta.

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Resposta:

Nesse caso, deve o Defensor Público interpor recurso de apelação. Vamos ao


fundamento dessa apelação:

Temos 16 Varas de Fazenda Pública, das quais duas são para execução fiscal, uma
do Estado e outra do Município, o restante tratam de questões gerais relacionadas à fazenda
Pública. De todas essas, a única que reconheceu a obrigação da CEDAE de conceder o
parcelamento de dívidas foi a 13ª Vara de Fazenda Pública, da qual a Examinadora desse
concurso é titular e foi um caso paradigma, pois, até então não se conseguiria obrigar a CEDAE
a parcelar.

O fundamento que se utilizam é de que a concessão de parcelamento de dívidas


oriundas da CEDAE estaria no âmbito da autonomia administrativa da CEDAE, que é mérito,
decidindo suas questões internas, na qual o judiciário não poderia interferir. No entanto, o
argumento que utilizaremos a favor desse assistido é o previsto no CDC – 8.078/90 – art. 6,
inciso V:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


(...)
V - a modificação das cláusulas contratuais que
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em
razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas;
Se há uma dívida e as parcelas vincendas com as quais o consumidor não consegue
arcar, esse contrato se tornou excessivamente oneroso, pois a imposição do pagamento integral
vai gerar a cada dia mais uma inadimplência, o que gera um prejuízo também para a prestadora
do serviço.
Se não há outra forma de pagamento, porque o usuário comprova sua
hipossuficiência financeira, a CEDAE tem a obrigação de parcelar, na medida em que esse
contrato se tornou excessivamente oneroso, devendo o Judiciário obrigá-la ao parcelamento, pois
a lei confere ao Poder Judiciário essa atribuição, pois a ele cabe a análise das lesões aos direitos
(sistema da jurisdição uma).
Não se deve utilizar a teoria civilista da mitigação de perdas, pois, na realidade a
CEDAE não está tendo uma perda (isso já ocorreu com o inadimplemento), o que ela tem é a
possibilidade de reduzir a perda, recebendo algum valor da dívida, mas podemos tratar com os
outros deveres anexos da boa-fé objetiva, como o da cooperação. Façam a relação do art. 6, V do
CDC com o art. 84, caput,§5º (exemplificativo) c/c art. 1º.
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação
de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da
obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao do adimplemento.

§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático


equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais
como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas,
desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de
requisição de força policial. (ROL EXEMPLIFICATIVO –
PODER GERAL DE CAUTELA DO JUIZ)

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Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa


do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos
arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art.
48 de suas Disposições Transitórias.

O objetivo do consumidor é efetuar o pagamento, pois a água é um serviço


essencialíssimo, ligado à saúde público, havendo um interesse público evidente e, na medida em
que o assistido quer pagar, deve o juiz abrir essa possibilidade de parcelamento para que o
adimplemento possa ocorrer.

Podemos aplicar o CDC, pois é pacífico atualmente, inclusive no STJ, que a


prestação de serviço público de água é de natureza consumerista, não tendo nada a ver com
relação tributária, nem sequer a dívida decorrente dessa prestação de serviço é considerada
obrigação propter-rem. Isso porque não pode a CEDAE cobrar de usuário atual dívida pretérita
feita por usuário diverso (exemplo: dívida de locatário anterior não pode ser imputada ao
locatário atual).

O art. 22 do CDC também trata do tema, dispondo que o Poder Público, por meio de
suas concessionárias e permissionárias, é fornecedor de serviço público; então, o próprio CDC
trás essa previsão de relação de consumo, seja a prestação direta pela Administração Pública, ou
indireta pelas concessionárias ou permissionárias.

Enunciado Cível nº 19 do TJ/RJ acerca da interrupção dos serviços públicos:


(http://www.tjrj.jus.br/institucional/dir_gerais/dgcon/pdf/jurisprudencia/enunciados/civel.pdf)

19. Incabível a interrupção de serviço público essencial em


razão de débito pretérito, ainda que o usuário seja
previamente notificado. Precedentes: AgInst 2009.002.35005,
TJERJ, 14ª C. Cível, julgado em 04/09/2009. ApCv
2009.001.30738, TJERJ, 5ª C. Cível, julgada em 25/08/2009.

Ainda que seja débito antigo de serviço essencial, esse débito não pode ensejar a
interrupção dos serviços e na prática acontece o pagamento das 3 últimas, para que o resto seja
considerado pretérito, devendo ser analisado o valor da conta, justo. Entretanto, se o valor for
exorbitante, a ação deverá ser a revisional de débito, não pode obrigar o assistido pagar esse
valor, mas a CEDAE obriga ao pagamento e ainda faz o consumidor a assinar um termo de
confissão de dívida e, nesse caso, temos que entrar com a ação desconstitutiva de débito
juntamente com a revisional.

O prazo para a CEDAE cobrar essa dívida, para a Defensoria é o de 5 anos, do CDC,
mas para a CEDAE é o prazo de 10 anos. Na prática, no Tribunal, temos decisões para os dois
lados.

Nas Varas de Fazenda Pública, a Defensoria somente lida com a CEDAE, pois pelo
CODJERJ, as ações envolvendo Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista do Estado
do Rio de Janeiro e Município do Rio de Janeiro, vão para a Vara de Fazenda Pública, mas isso,
na prática é bagunçado, pois temos CEDAE no JECs, nas Varas Cíveis, quando o Juiz se dá por
competente, sendo que, na maioria das vezes, declinam da competência.

O entendimento é que o esse artigo do CODJERJ não foi recepcionado pela


Constituição, pois o art. 173§1º da CF/88 diz que essas empresas receberão o mesmo tratamento
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das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações civis, trabalhistas, comerciais e etc. se é
isso, o que a CEDAE faz na Vara de Fazenda Pública, junto com a COMLURB e BANCO DO
BRASIL que são Sociedades de Economia Mista:

“Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a


exploração direta de atividade econômica pelo Estado só
será permitida quando necessária aos imperativos da
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo,
conforme definidos em lei.

§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa


pública, da sociedade de economia mista e de suas
subsidiárias que explorem atividade econômica de produção
ou comercialização de bens ou de prestação de serviços,
dispondo sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 19, de 1998)

II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas


privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis,
comerciais, trabalhistas e tributários; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)”

Cuidado ao aplicar uma Lei Estadual específica – Lei 4.382/2004 (21/07/2004) –


sobre parcelamento em até 60 vezes de débitos pela CEDAE, pois os entendimentos que
possibilitam o parcelamento usam essa lei para dizer que se a lei possibilita o parcelamento, não
pode a CEDAE, por questões eminentemente privadas, vedar a utilização do parcelamento para o
pagamento da dívida e, ainda, que o art. 6 º,§3º, II da Lei 8987/95, que regulamenta a concessões
e permissões comuns de serviço público, possibilita a suspensão do fornecimento do serviço por
inadimplemento do usuário, com base no interesse público da coletividade, mas esse artigo deve
ser interpretado ao favor dos usuários.
Ou seja, para o legislador, se o usuário está inadimplente, ele sobrecarrega os demais
usuários que pagam as contas, que irão arcar com os custos desse inadimplemento. A prestadora
não poderia suportar o ônus dos débitos, que será repartido entre os demais usuários. Assim se é
interesse dos demais que não exista débito, é de maior interesse da coletividade ainda que haja o
parcelamento para que esse valor volte para a prestadora, não podendo esta se negar a receber o
pagamento, mesmo que parcelado, pois a prestadora está lidando com interesse público.
Vejam os julgados:
Apelação Cível 2007.001.06533:
Ementa: Apelação cível. Relação de consumo. Água.
Cobrança de tarifa mínima por número de economias.
Cálculo por estimativa. Ilegalidade. A discussão acerca da
legalidade das tarifas mínima e progressiva encontra-se
pacificada. Entendimento sufragado pelo TJRJ no teor das
súmulas 82 e 84. Precedentes jurisprudenciais que entretanto
afastam possibilidade de cobrança por consumo estimado em
que a concessionária multiplica o valor da tarifa mínima pelo
número de unidades autônomas ou economias. Parcelamento
de eventual débito pelo juiz. Possibilidade. Inteligência das
normas dos arts. 6º inc. V c.c 84 e § 5º e 1º CDC.
Reequilíbrio da relação em face da onerosidade excessiva.
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Corte de água. Dano moral. Cobrança indevida. Devolução


simples. Recurso da ré desprovido e do autor provido em
menor parte.
Proc. 2007.001.025876-3 – sentença:
PODER JUDICIÁRIO COMARCA DA CAPITAL JUÍZO DE DIREITO
13ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA Processo nº. 2007.001.025876-3
Autor: Antônio Ferreira de Medeiros Réu: CEDAE - Companhia Estadual
de Águas e Esgotos Ação: Declaratória SENTENÇA Antônio Ferreira de
Medeiros propôs ação Declaratória, pelo rito Ordinário, em face da
CEDAE - Companhia Estadual de Águas e Esgoto, ambos devidamente
qualificados na inicial, alegando, em síntese, que o Autor possui uma
oficina localizada na Tijuca sendo que foi suspenso o serviço de
fornecimento de água em virtude da falta de pagamentos de algumas
faturas.
Afirma que embora o hidrômetro tenha sido lacrado em 2001, continuou a
receber contas de água, cobrando a concessionária o pagamento por
serviço que não forneceu desde aquele ano. Em sede de antecipação de
tutela, postula o restabelecimento do serviço de água e em sede de
definitividade, requer a declaração de inexistência da dívida referente a
partir de agosto/2001 e caso não seja acolhido o pedido, postula
alternativamente a revisão de seu débito para que as contas remanescentes
correspondam somente ao que foi efetivamente medido.
Postula, ainda, o parcelamento da dívida, observando as condições
financeiras do Autor, além da condenação da ré ao pagamento de danos
morais. Acompanham a inicial os documentos de fls.09/35. Foi deferida
parcialmente a tutela. (fls.38)
Regularmente citada, a ré apresentou contestação, às fls. 45/67,
sustentando a legalidade da cobrança de tarifa mínima bem como da
eventual suspensão do serviço de fornecimento. Afirma, ainda, que o
pedido de declaração de inexistência da dívida não procede tendo em
vista que o serviço foi prestado, mas não pode ser utilizado pelo Autor em
razão de sua inadimplência. E, por fim, argumenta que não resultam
configurados os danos morais.
Acompanham a contestação os documentos de fls. 68/73. Foi interposto
Agravo retido. (fls. 76/91) Instados a se manifestarem em provas, a ré
protestou pela produção de prova oral e documental suplementar. (fls.94)
Foi deferido o efeito suspensivo pela 10ª Câmara Cível. (fls.95) Parecer
do Ministério Público, às fls.109/110, informando não haver interesse a
justificar a sua intervenção na presente ação. Informou a Cedae que não
foi suspenso o serviço de fornecimento de água.(fls.105), desistindo a
parte ré da produção de prova oral. (fls.117)
Manifestação da parte autora sobre os documentos acostados aos
autos.(fls.120) É o relatório. Passo a decidir. Trata-se de ação em que a
autora pretende a declaração de inexistência da dívida a partir de
agosto/2001 e caso não seja acolhido o pedido, postula alternativamente a
revisão de seu débito para que as contas remanescentes correspondam
somente ao que foi efetivamente medido.
Postula, ainda, o parcelamento da dívida, observando as condições
financeiras do Autor, além da condenação da ré ao pagamento de danos
morais. Cabe ressaltar, inicialmente, que o Autor em sua narrativa na
inicial admite que não pode quitar sua dívida junto à concessionária,
discordando apenas do valor cobrado pela ré por considerar que deve ser
excluído o valor referente ao período em que o serviço foi suspenso,
postulando o parcelamento da dívida levando em consideração as suas
condições econômicas.

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A suspensão do serviço de fornecimento de água bem como a existência


de dívida não resultam controversas nos autos. Com efeito, se o serviço
não foi prestado pela concessionária, ainda que em razão da
inadimplência do consumidor, não pode a ré efetuar sua cobrança durante
o período da suspensão, sob pena de enriquecimento ilícito. Todavia,
somente não é devido o pagamento das faturas durante o período de
suspensão do serviço. In casu, a parte autora alegou em sua inicial que o
serviço deixou de ser prestado desde agosto/2001, valendo como data de
restabelecimento aquela constante da decisão que antecipou os efeitos da
tutela. (fls. 38-19/03/2007).
Assim, quanto ao período supraassinalado - agosto/2001 até 19/03/2007-
afigura-se ilegítima a cobrança pelo serviço de fornecimento de água.
Quanto ao pedido de parcelamento da dívida a ser apurada, afigura-se
correta a intervenção do Judiciário para manter o equilíbrio financeiro e
econômico do contrato.
Na lição da Desembargadora Dra. Cristina Tereza Gaulia a respeito do
parcelamento da dívida: ´Tal direito do consumidor se extrai da leitura
conjunta dos arts. 6º V c.c 84 e § 5º c.c art.1º CDC... A lição protetiva do
consumidor permite portanto, que o juiz interfira na relação contratual
visando o reequilíbrio deste, quando houver onerosidade excessiva e
desvantagem exagerada para o consumidor. Por certo esta é a hipótese,
vez que qualquer valor que venha a ser cobrado retroativamente junto
com o consumo atual colocará o consumidor em situação de desequilíbrio
financeiro.
O parcelamento é permitido outrossim, como fórmula de eficiência da
tutela específica buscado pelo consumidor, este que, no caso concreto que
se analisa, reconhece parte do débito e pretende pagá-lo porém sem
prejuízo de sua sobrevida digna e de seus gastos imediatos. Pontue-se,
ainda, que o parcelamento permite que a ré receba o que lhe é devido, o
que doutra forma restará obstaculizado.(Apelação Cível n
º2007.001.06533)´
No presente caso, o Autor pretende o parcelamento da dívida levando em
consideração as suas condições econômicas. Assim, embora adotando a
mesma linha de pensamento sustentada no voto supra transcrito, o Poder
Judiciário não pode determinar o parcelamento do débito além do que está
previsto na Lei nº 4382 de 21de julho de 2004 que alterou dispositivos da
Lei nº4339 de 27 de maio de 2004. Nessa linha, o parcelamento da dívida
deve observar o número máximo de 60 (sessenta) parcelas bem como as
condições impostas na referida lei. Passo a examinar o pedido de
indenização por danos morais.
O próprio Autor admitiu que estava inadimplente no momento em que foi
suspenso o serviço de fornecimento de água, o que em linha de princípio
legitima o corte promovido pela ré. Além disso, não se insurgiu contra a
suspensão do serviço de fornecimento que ocorreu em 2001, ingressando
com a presente demanda para discutir a legitimidade da cobrança durante
o período de interrupção.
Nessa linha de pensamento, não resultam configurados os danos morais já
que a cobrança indevida por si só não se traduz em aborrecimentos e
transtornos que fogem à normalidade. Não há, pois, o dever de indenizar.
Isto posto, JULGO PROCEDENTE em parte o pedido formulado na
inicial para DECLARAR a inexigibilidade da cobrança das faturas
emitidas durante o período compreendido entre agosto/2001 até
19/03/2007 bem como condenar a ré para que proceda ao parcelamento da
dívida remanescente em 60 (sessenta) vezes, observadas as condições
impostas na Lei nº4.382 de 21 de julho de 2004.
Tendo em vista que a parte autora decaiu de parte mínima do seu pedido,
CONDENO, por fim, a Ré, ao pagamento das despesas processuais e

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honorários de advogado, que fixo em 10% sobre o valor da condenação.


Após o trânsito em julgado, recolhida eventual diferença de custas e taxa
judiciária, dê-se baixa e arquive-se. P.R.I. Rio de Janeiro, 11 de fevereiro
de 2008. LUCIANA LOSADA ALBUQUERQUE LOPES JUIZ DE
DIREITO

5ª QUESTÃO:

Em ação de desapropriação, o proprietário do imóvel é citado pessoalmente,


porém, não comparece para apresentar contestação. Incidem, sobre ele, todos os efeitos da
revelia? E se fosse revel, citado por edital, deveria ser nomeado Curador Especial?
Fundamente sua resposta.

O réu foi revel, mas foi citado pessoalmente – a presunção de veracidade dos fatos
alegados pelo autor na petição, que é o efeito mais importante da revelia, nesse caso concreto
recairia sobre o valor da indenização, pois numa ação de desapropriação, os dois únicos
argumentos passíveis de contestação pelo réu são: a) valor da indenização e b) vício no processo
judicial (condições da ação e pressupostos para o desenvolvimento válido e regular do processo)
– art. 9º e 20 do dec. Lei 3.365/41:

Art. 9. Ao Poder Judiciário é vedado, no processo de


desapropriação, decidir se se verificam ou não os casos de
utilidade pública.

Art. 20. A contestação só poderá versar sobre vício do


processo judicial ou impugnação do preço; qualquer outra
questão deverá ser decidida por ação direta.

Fatos a serem considerados verdadeiros – o único aqui nesse caso que poderia sofrer,
em tese, presunção é o valor da indenização oferecida pela Administração Pública; contudo, tal
valor não pode ser presumidamente considerado justo e válido, tendo em vista o disposto no art.
5º, XXIV da CF/88, que diz “XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição”.

Assim, essa indenização tem que justa, prévia e em dinheiro. Prévia, significa que a
indenização tem que ser paga antes que o bem seja transferido para o patrimônio Administração
Pública e esse momento é denominado consumação.

José dos Santos Carvalho Filho trata bem do tema, diz que o pagamento é um ato,
mas a transferência para o patrimônio da Administração Pública é um fato que decorre do
pagamento. Ou seja, na medida em que é paga a indenização, a conseqüência fática é a
transferência para o seu patrimônio.

Por indenização em dinheiro, entende-se – indenização em moeda corrente nacional,


mas se a desapropriação for judicial, a execução é por precatório (procedimento especial de
execução de créditos em face da fazenda pública), entretanto, o bem somente passará a integrar o
patrimônio da Administração Pública, quando houver o pagamento do precatório, não sendo a
mera expedição do precatório causa de consumação, ou seja, de transferência do bem.

Cuidado: transferência do bem ao patrimônio da fazenda pública nada tem a ver com
imissão na posse (exercício de uma das faculdades inerentes ao direito de propriedade), já que
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esta pode acontecer no início do processo de desapropriação. A transferência implica em dizer


que o domínio da propriedade particular passa a ser “propriedade” pública. O titular sobre o
domínio passa a ser a Fazenda Pública.

O exercício da posse nada tem a ver com a transferência do bem para o patrimônio
da Fazenda, pois desde que a Administração pública declare urgência e interesse público e
deposite um valor a título de caução, ela já pode, no início do processo de desapropriação,
exercer a posse direta sobre o bem (imissão provisória na posse).

São requisitos para essa imissão provisória na posse: a) alegação de urgência e b)


depósito de valor de caução (do qual 80% pode ser levantado pelo proprietário por mandado de
pagamento– tem natureza de garantia, não de indenização, mas quando o proprietário for receber
a indenização- recebida ao final por precatório se não for Requisição de Pequeno Valor RPV -
esse valor de caução levantado será abatido, sob pena de enriquecimento ilícito). O fato de o
proprietário realizar esse levantamento, não implica em dizer que ele concorda com o valor de
base.

OBS: Requisição de Pequeno Valor RPV – No Estado do Rio de Janeiro – 40


salários mínimos, e Município – 30 salários mínimos.

Pelo Dec-Lei 3365/41 a base do valor de cálculo é o valor venal, existindo discussão
doutrinária sobre a constitucionalidade disso, sendo certo que a Defensoria defende que essa
base de cálculo para a IPP não foi recepcionada, pois apesar de não ter a caução natureza
indenizatória, será ele deduzido desta ao final, então, se a garantia for calculada com base no
valor venal estará ferindo a garantia constitucional de indenização justa. O STF tem antigas
decisões pela recepção desse artigo do decreto.

No caso concreto: não se aplicam os efeitos da revelia, pois indenização justa é


aquela que recompõe integralmente a parcela do patrimônio que foi suprimida, sendo uma
garantia fundamental com base constitucional e, ainda que o proprietário não esteja presente no
processo, seja por sua vontade ou não, cabe ao juiz fazer cumprir a garantia fundamental, pois é
o agente que garante observância à Constituição, fiscalizando se a indenização é justa e se não
houve vício no processo desapropriatório.

Como o país é um Estado de Direito e possui jurisdição uma, cabe ao juiz analisar a
legalidade dos atos da desapropriação e a legalidade nesse procedimento passa pela análise da
justiça no valor indenizatório.

Quando a Administração Pública desconhece o proprietário do bem, ela pode iniciar


uma desapropriação administrativa, ou pode dar início a uma desapropriação judicial?
Necessariamente ela terá que ingressar com a ação judicial de desapropriação, pois o Juiz deverá
analisar a regularidade da indenização.

No caso de réu citado por edital: o juiz tem a atribuição de analisar se o valor da
indenização é justo ou não, então, se o réu é citado por edital deverá haver nomeação de curador
especial?(art. 9º do CPC) A nomeação de curador especial é norma de ordem pública cogente,
não podendo o juiz deixar de aplicar essa norma, sob pena de nulidade do processo, por ofensa
ao princípio constitucional do devido processo legal.

Art. 9o O juiz dará curador especial:


I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses
deste colidirem com os daquele;
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II - ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora
certa.
Parágrafo único. Nas comarcas onde houver representante judicial
de incapazes ou de ausentes, a este competirá a função de curador
especial.
6ª QUESTÃO:

A adestinação, a tredestinação e a desdestinação geram retrocessão?

Adestinção = ausência de destinação – para gerar retrocessão depende se a


Administração Pública, ao não destinar o bem, der a demonstração de que perdeu o seu interesse
sobre ele. Ou seja, a adestinação somente vai gerar retrocessão se a Administração Pública
demonstrar inequivocamente a perda de interesse sobre o bem.

Não existe prazo para que ela dê destinação ao bem, mas na realidade, isso deve ser
razoável, devendo ser analisado se houve a perda de interesse no bem. (ex. abertura de edital de
venda do bem = perda de interesse sobre ele). O mero não uso imediato do bem não é capaz de
gerar retrocessão.

Tredestinação (ou Tresdestinação) = desvio de finalidade (finalidade como


elemento do ato administrativo) - O elemento finalidade do ato administrativo possui dois
aspectos: a) genérico e b) específico. O aspecto genérico é invariável, independentemente do ato
administrativo, que é o interesse público e o aspecto específico varia de acordo com o ato
administrativo. (ex. nomeação de servidor público – aspecto específico: preenchimento de cargo
público; desapropriação para construção de uma escola – específico: construção da escola.

O aspecto específico está sempre vinculado ao aspecto genérico do interesse público,


não podendo a Administração Pública se esconder sob o manto da finalidade, presente no
aspecto específico, para mascarar interesse privado ou inexistência de interesse público, pois se
isso se comprovar – o ato é nulo (ex. desapropriar para construir a escola, mas na realidade é por
vingança do dono do imóvel – ato nulo).

Desde que não haja vedação legal e a Administração Pública se mantenha vinculada
ao aspecto genérico do interesse público, a finalidade em seu aspecto específico poderá mudar,
variar. Isso foi, inclusive, objeto de prova da DPU desse ano.

A Administração Pública decide desapropriar um determinado bem para a construção


de uma escola, aspecto específico, mas quando ela utiliza o bem decide construir um hospital.
Houve mudança e desvio de finalidade no aspecto específico, mas continuou a atender ao
interesse público – desvio de finalidade LÍCITO – o que não gera retrocessão. (tredestinação
lícita).

A Administração Pública decide desapropriar um determinado bem para a construção


de uma escola, aspecto específico, mas quando ela utiliza o bem decide entregá-lo a um
particular para exploração de estacionamento – a Adm. Pública não se manteve no aspecto
genérico de interesse público - desvio de finalidade ILÍCITO – gera a retrocessão (tredestinação
ilícita).

Retrocessão, por definição é o direito de ação que surge para o proprietário do bem
desapropriado, que não teve assegurado seu direito de preferência na hipótese de tredestinação
ilícita. Se a Adm. Púplica perdeu o interesse sobre o bem, ela deve oferecê-lo de volta ao antigo
proprietário com direito de preferência (art. 519 CC/02). Caso ela não faça isso, mas entregue o
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bem a particular em uma tredestinação ilícita, violou o direito subjetivo do ex-proprietário, que
gera o direito de ação (retrocessão – direito de ação com natureza real – o bem que foi para o
patrimônio público retorna ao patrimônio do particular expropriado desde que ele deseje isso e
devolve o dinheiro recebido atualizado monetariamente).

A desapropriação é um instituto que relativiza o direito fundamental de propriedade e


somente se justifica, ou se relativiza, se o bem for utilizado para a finalidade publica caso
contrário não se justifica a supressão do direito de propriedade. Em outras palavras, a
desapropriação é um instituto de natureza resolúvel e somente se aperfeiçoa quando o bem é
efetivamente utilizado para uma finalidade ou interesse público, podendo, caso contrário, o ex-
proprietário mover a ação de retrocessão – prazo de ações de direito real – 5 anos do CC/02
(diferente do prazo para manifestar interesse sobre o bem – 30 dias 516 ou 517 do CC/02).

Se o bem sofrer uma valorização em função da área em que se localiza ter se


valorizado, para ter o bem de volta, o ex-proprietário deverá pagar essa diferença causada pela
valorização, se não seria enriquecimento ilícito.

Desdestinação = desafetação – retirar a destinação – foi afetado, mas depois foi


desafetado – isso não gera retrocessão, pois a Adm. Pública, uma vez tendo dado primeiramente
a afetação pública, já deu destinação ao bem, já aperfeiçoou a desapropriação, podendo, após
isso, retirar a destinação; logo, não há direito de retrocessão.

Vejam os julgados:

Resp 530403/DF - PROCESSUAL CIVIL.


ADMINISTRATIVO. RETROCESSÃO. OMISSÃO.
AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. NÃO-
CONHECIMENTO. DESAPROPRIAÇÃO PARA
IMPLANTAÇÃO DA NOVA CAPITAL FEDERAL
(BRASÍLIA). DECRETO EXPROPRIATÓRIO.
CADUCIDADE DE 2 ANOS. ART. 3º DA LEI 4.132/1962.
INEXISTÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
INAPLICABILIDADE AO CASO. TREDESTINAÇÃO.
NÃO-OCORRÊNCIA. REEXAME. SÚMULA 7/STJ.

1. Inviável a análise da alegada omissão (art. 535 do CPC), se


o recorrente restringe-se a indicar os dispositivos legais que
deveriam ter sido apreciados, sem fundamentar sua pretensão
ou apontar a relevância para o deslinde da demanda.
Ademais, não há omissão se o Tribunal de origem soluciona a
lide, fundamentando adequadamente o acórdão.

2. O TJ-DF não se manifestou, sequer implicitamente, quanto


ao prazo de dois anos para caducidade do decreto
expropriatório, previsto no art. 3º da Lei 4.132/1962,
incidindo o disposto na Súmula 211/STJ.

3. Mesmo que assim não fosse, é notório que as


desapropriações realizadas para implantação na nova Capital
Federal (Brasília) não foram realizadas por interesse social
em sentido estrito (reforma agrária etc.), não se submetendo,
assim, à Lei 4.132/1962.
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4. A retrocessão (pretendida pelo recorrente) é o direito de o


particular exigir a devolução de seu imóvel expropriado. Essa
pretensão somente é válida em caso de tredestinação ilícita,
quando o expropriante deixa de dar ao bem destinação que
atenda ao interesse público.

5. O simples fato de atribuir ao imóvel finalidade não prevista


no momento da desapropriação não configura,
necessariamente, tredestinação ilícita.

6. Caso a área seja destinada a outro fim que atenda ao


interesse público, ocorre simples tredestinação lícita, não
surgindo o direito à retrocessão.

7. Ainda que houvesse tredestinação ilícita (o que não


ocorreu no caso em análise) e incorporação do imóvel ao
patrimônio público, seria inviável a retrocessão, resolvendo-
se tudo em perdas e danos (desde que comprovados), nos
termos do art. 35 do DL 3.365/1941.

8. Na hipótese dos autos, a ocupação do imóvel por


particulares não caracteriza tredestinação. Isso porque o
parcelamento e a distribuição de lotes eram alguns dos
objetivos que motivaram as desapropriações relativas à
construção da nova Capital federal.

9. Verificar se a destinação dada ao imóvel foi outra que não


aquela apontada pelo TJ-DF (e, portanto, a existência de
tredestinação) demandaria reexame fático-probatório,
vedado, como regra, nos termos da Súmula 7/STJ.

10. Ademais, é notório que a nova Capital Federal foi


efetivamente implantada no Planalto Central, abarcando o
imóvel em discussão (fato incontroverso), atingindo-se a
finalidade pública precípua da desapropriação.

11. Por qualquer prisma, é inviável a pretendida retrocessão.

12. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte,


não provido.

Resp 1025801/SP - PROCESSUAL CIVIL E


ADMINISTRATIVO – VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC
NÃO CARACTERIZADA – RETROCESSÃO – NÃO-
CARACTERIZAÇÃO – TREDESTINAÇÃO LÍCITA. 1.
Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de
origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao
julgamento da lide. 2. O desvio de finalidade que leva à
retrocessão não é o simples descumprimento dos objetivos
que justificaram a desapropriação. Para que o expropriado
tenha direito à devolução do imóvel, ou seja indenizado, é
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necessário que o Poder Público dê ao bem destinação que não


atenda ao interesse público (tredestinação ilícita). Precedentes
do STJ. 3. Recurso especial não provido.
7ª QUESTÃO:

Arisvaldino, pessoa idosa, aposentado, necessitando de tratamento de saúde que


envolve a utilização de medicamentos, cujo custo, não lhe permite a aquisição, procura as
Secretarias, estadual e municipal, de Saúde, objetivando a sua obtenção de forma gratuita.

Em virtude da negativa do fornecimento, procura a Defensoria Pública para a


defesa de seus direitos que, para tanto, move Ação Ordinária de Cumprimento de
Obrigação de Fazer.

Diante de tal fato, pergunta-se: a) Quem poderá/deverá integrar o pólo passivo


dá demanda? b) Na hipótese, poderá ser deferida tutela antecipada? c) Que tipo de
medidas coercitivas poderão ser adotadas, no curso do processo, para o cumprimento da
decisão? d) É admitido o bloqueio/seqüestro de verbas públicas para a aquisição dos
medicamentos, mesmo não sendo medida relacionada no art. 461, §5°, do CPC e o
procedimento especial do precatório? Todas as respostas deverão ser justificadas.

a) Todos os entes Federativos – a responsabilidade é solidária, pois é uma


competência comum entre os entes federativos (art. 23, II da CF/88). Existe divisão por
competências dos atos administrativos próprios entre os entes federativos (ex. medicamentos –
existem atos entre os entes que não podem ser retransmitidos ao administrado, valem apenas para
repasses de verbas ). Contudo, para os assistidos da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, não
incluímos a União no pólo passivo, para não deslocar a competência para a Justiça Federal –
Agravo Regimental no Agravo de Instrumento – STJ 858.899/RS e súmula 65 do TJ/RJ.

b) Pacífico o entendimento de que pode ser deferida a tutela antecipada nas ações
em face da Fazenda Pública, desde que observados os requisitos do art. 273 do CPC;

c) Todas as medidas relacionadas no art. 461,§5º do CPC (rol não taxativo) e ainda
aquelas determinadas pelo juiz no âmbito do seu poder geral de cautela (busca e apreensão,
multa diária). A multa diária em nada nos ajuda, pois quando é fixada, é com base no art.,
14,parágrafo único do CPC (multa por ato atentatório ao exercício da justiça – credor é próprio
Estado); Prisão do Secretário de Saúde – não adianta pedir isso, se cada negativa implicasse em
prisão da pessoa ocupante desse cargo, ele teria que morar na prisão; busca e apreensão até
funciona, mas a medida ideal é o bloqueio e seqüestro de verbas públicas para a aquisição dos
medicamentos e, para isso, a parte deverá apresentar 3 orçamentos, para que o Juiz determine o
bloqueio pelo menor valor. Se o medicamento for fornecido por um único fabricante, isso deve
ser demonstrado ao juiz.

STJ 858.899/RS PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL. FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTOS. SUS. OBRIGAÇÃO DE FAZER.
LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO, DO ESTADO E
DO MUNICÍPIO. PRECEDENTES.

1. Agravo regimental contra decisão que negou provimento a


agravo de instrumento. 2. O acórdão a quo determinou à
União fornecer ao recorrido o medicamento postulado, tendo
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em vista a sua legitimidade para figurar no pólo passivo da


ação. 3. A CF/1988 erige a saúde como um direito de todos e
dever do Estado (art. 196). Daí, a seguinte conclusão: é
obrigação do Estado, no sentido genérico (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios), assegurar às pessoas
desprovidas de recursos financeiros o acesso à medicação
necessária para a cura de suas mazelas, em especial, as mais
graves. Sendo o SUS composto pela União, Estados e
Municípios, impõe-se a solidariedade dos três entes
federativos no pólo passivo da demanda. 4. Agravo
regimental não-provido.

SUMULA TJ N. 65, DE 23/09/2003 (ESTADUAL):


DORJ-III, S-I 180 (6) - 23/09/2003: Deriva-se dos
mandamentos dos artigos 6. e 196 da Constituição Federal de
1988 e da Lei n. 6.080/90, a responsabilidade solidaria da
União, Estados e Municípios, garantindo o fundamental
direito a saúde e conseqüente antecipação da respectiva tutela

d) O fato da medida não estar relacionada no referido artigo em nada influi, pois esse
rol é meramente exemplificativo, bem como juiz determina medidas dentro de seu poder geral de
cautela.Logo, é possível pedir o bloqueio/seqüestro de verbas públicas para a aquisição dos
medicamentos. Quanto ao sistema de precatórios – pode ser afastado o sistema no confronto
entre o direito á saúde e o procedimento para pagamento, prevalece o direito à saúde. Bloqueia-
se o valor, que é depositado em uma conta judicial, sacado via mandado de pagamento para a
parte para efetuar a compra do medicamento, que ao ser adquirido, deverá apresentar a
comprovação via nota fiscal. Se impossível a nota fiscal – deve ser esclarecido ao juiz, do
contrário, responde por crime.

Vejam o Julgado:
STJ AgRg no Resp 1.002.335/RS: PROCESSUAL CIVIL.
AGRAVO REGIMENTAL. FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTOS PELO ESTADO. DESCUMPRIMENTO
DA DECISÃO JUDICIAL DE ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS.
MEDIDA EXECUTIVA. POSSIBILIDADE, IN CASU.
PEQUENO VALOR. ART. 461, § 5.º, DO CPC. ROL
EXEMPLIFICATIVO DE MEDIDAS. PROTEÇÃO
CONSTITUCIONAL À SAÚDE, À VIDA E À
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRIMAZIA
SOBRE PRINCÍPIOS DE DIREITO FINANCEIRO E
ADMINISTRATIVO. NOVEL ENTENDIMENTO DA E.
PRIMEIRA TURMA. 1 .O art. 461, §5.º do CPC, faz
pressupor que o legislador, ao possibilitar ao juiz, de ofício
ou a requerimento, determinar as medidas assecuratórias
como a "imposição de multa por tempo de atraso, busca e
apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de
obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com
requisição de força policial", não o fez de forma taxativa, mas
sim exemplificativa, pelo que, in casu, o seqüestro ou
bloqueio da verba necessária ao fornecimento de
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medicamento, objeto da tutela deferida, providência


excepcional adotada em face da urgência e
imprescindibilidade da prestação dos mesmos, revela-se
medida legítima, válida e razoável. 2. Recurso especial que
encerra questão referente à possibilidade de o julgador
determinar, em ação que tenha por objeto o fornecimento do
medicamento RI-TUXIMAB (MABTHERA) na dose de 700
mg por dose, no total de 04 (quatro) doses, medidas
executivas assecuratórias ao cumprimento de decisão judicial
antecipatória dos efeitos da tutela proferida em desfavor da
recorrente, que resultem no bloqueio ou seqüestro de verbas
do ora recorrido, depositadas em conta corrente. 3. Deveras, é
lícito ao julgador, à vista das circunstâncias do caso concreto,
aferir o modo mais adequado para tornar efetiva a tutela,
tendo em vista o fim da norma e a impossibilidade de
previsão legal de todas as hipóteses fáticas. Máxime diante de
situação fática, na qual a desídia do ente estatal, frente ao
comando judicial emitido, pode resultar em grave lesão à
saúde ou mesmo por em risco a vida do demandante. 4. Os
direitos fundamentais à vida e à saúde são direitos subjetivos
inalienáveis, constitucionalmente consagrados, cujo primado,
em um Estado Democrático de Direito como o nosso, que
reserva especial proteção à dignidade da pessoa humana, há
de superar quaisquer espécies de restrições legais. Não
obstante o fundamento constitucional, in casu, merece
destaque a Lei Estadual n.º 9.908/93, do Estado do Rio
Grande do Sul, que assim dispõe em seu art. 1.º: "Art. 1.º. O
Estado deve fornecer, de forma gratuita, medicamentos
excepcionais para pessoas que não puderem prover as
despesas com os referidos medicamentos, sem privarem-se
dos recurso indispensáveis ao próprio sustento e de sua
família. Parágrafo único. Consideram-se medicamentos
excepcionais aqueles que devem ser usados com freqüência e
de forma permanente, sendo indispensáveis à vida do
paciente." 5. A Constituição não é ornamental, não se resume
a um museu de princípios, não é meramente um ideário;
reclama efetividade real de suas normas. Destarte, na
aplicação das normas constitucionais, a exegese deve partir
dos princípios fundamentais, para os princípios setoriais. E,
sob esse ângulo, merece destaque o princípio fundante da
República que destina especial proteção a dignidade da
pessoa humana.6. Outrossim, a tutela jurisdicional para ser
efetiva deve dar ao lesado resultado prático equivalente ao
que obteria se a prestação fosse cumprida voluntariamente. O
meio de coerção tem validade quando capaz de subjugar a
recalcitrância do devedor. O Poder Judiciário não deve
compactuar com o proceder do Estado, que condenado pela
urgência da situação a entregar medicamentos
imprescindíveis proteção da saúde e da vida de cidadão
necessitado, revela-se indiferente à tutela judicial deferida e
aos valores fundamentais por ele eclipsados. 7. In casu, a
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decisão ora hostilizada importa concessão do bloqueio de


verba pública diante da recusa do ora recorrido em fornecer o
medicamento necessário à recorrente. 8. Por fim, sob o
ângulo analógico, as quantias de pequeno valor podem ser
pagas independentemente de precatório e a fortiori serem,
também, entregues, por ato de império do Poder Judiciário. 9.
Agravo Regimental desprovido.

8ª QUESTÃO:

É constitucional o instituto da legitimação de posse, previsto pela Lei n.


11.977/09, em virtude de procedimento de demarcação de terras para regularização
fundiária de interesse social, considerando que os bens públicos não estão sujeitos à
usucapião? Fundamente.

A Lei 11.977/09 regulamenta o Programa Minha casa Minha Vida e fez uma
releitura da legitimação de posse, pois dentro dessa lei há todo um procedimento de
regulamentação fundiária de interesse social, que envolve a demarcação de terras. Essas terras
que serão demarcadas podem ser particulares, públicas, ou ainda não registradas em nome de
ninguém.

Entretanto, quando da demarcação, essas terras já podem estar ocupadas e esses


ocupantes serão listados e a Adm. Pública irá identificar o motivo pelo qual esses ocupantes
estariam usando essa terra/bem (fins de moradia, por exemplo). E, ao final do procedimento de
demarcação, a lei diz: o poder público concederá legitimação de posse. A legitimação de posse,
depois de 5 anos de registrada, concede ao possuidor o direito de requerer (art. 60 dessa lei) junto
ao Registro de Imóveis a conversão a legitimação de posse em propriedade:

Art. 58. A partir da averbação do auto de demarcação


urbanística, o poder público deverá elaborar o projeto
previsto no art. 51 e submeter o parcelamento dele
decorrente a registro.
§ 1o Após o registro do parcelamento de que trata o caput, o
poder público concederá título de legitimação de posse aos
ocupantes cadastrados.
§ 2o O título de que trata o § 1o será concedido
preferencialmente em nome da mulher e registrado na
matrícula do imóvel.
Art. 59. A legitimação de posse devidamente registrada
constitui direito em favor do detentor da posse direta
para fins de moradia.
Parágrafo único. A legitimação de posse será concedida aos
moradores cadastrados pelo poder público, desde que:
I – não sejam concessionários, foreiros ou proprietários de
outro imóvel urbano ou rural;
II – não sejam beneficiários de legitimação de posse
concedida anteriormente; e

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Transcrição – Turma de Exercícios – Diurna (16/03/2010 a 29/04/2010)
FESUDEPERJ – Fundação Escola Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

III – os lotes ou fração ideal não sejam superiores a 250m²


(duzentos e cinquenta metros quadrados).
Art. 60. Sem prejuízo dos direitos decorrentes da posse
exercida anteriormente, o detentor do título de
legitimação de posse, após 5 (cinco) anos de seu registro,
poderá requerer ao oficial de registro de imóveis a
conversão desse título em registro de propriedade, tendo
em vista sua aquisição por usucapião, nos termos do art.
183 da Constituição Federal.
§ 1o Para requerer a conversão prevista no caput, o
adquirente deverá apresentar:
I – certidões do cartório distribuidor demonstrando a
inexistência de ações em andamento que versem sobre a
posse ou a propriedade do imóvel;
II – declaração de que não possui outro imóvel urbano ou
rural;
III – declaração de que o imóvel é utilizado para sua moradia
ou de sua família; e
IV – declaração de que não teve reconhecido anteriormente o
direito à usucapião de imóveis em áreas urbanas.
§ 2o As certidões previstas no inciso I do § 1o serão relativas
à totalidade da área e serão fornecidas pelo poder público.
Se a legitimação de posse for concedida em cima de bens que não estiverem
registrados em nome de ninguém, ou bens que eram particulares, mas houve perda da posse, a
conversão se dará por usucapião administrativa. Se o bem era público, o que ocorreu foi uma
alienação compulsória de bem público, pois a lei obriga a concessão de legitimação de posse
(não há doutrina sobre isso).

Veja o art. 58,§1º da Lei 11.977, é ato vinculado de concessão da legitimação de


posse. Se ela foi sobre bem público, não haverá aquisição da propriedade pela usucapião, pois há
vedação constitucional, mas haverá aquisição da propriedade pela alienação compulsória de bem
público, já que essa legitimação de posse (que é pré-requisito para a aquisição da propriedade)
foi conferida por imposição legal. Essa é a nova interpretação da legitimação da posse.
Alienação de bem público é possível, desde que observados o requisitos legais.

Concessão de uso especial para fins de moradia não é igual à legitimação de posse –
a legitimação de posse é um ato que decorre de um procedimento de demarcação que decorre de
um processo de regularização fundiária de moradia. Obs - O livro do Marco Aurélio Bezerra de
Melo ainda não contempla essa atualização legal.

9ª QUESTÃO:

Você, na qualidade de Defensor Público em atuação em uma das Varas de


Fazenda Pública da Capital do Estado do Rio de Janeiro, recebendo assistido munido de
mandado de citação em Ação Reivindicatória de imóvel onde reside há quinze anos,
movida pela autarquia estadual RIOPREVIDÊNCIA, vislumbraria alguma medida a ser
adotada na defesa dos interesses da parte ré? Fundamente.

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Transcrição – Turma de Exercícios – Diurna (16/03/2010 a 29/04/2010)
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Ele exerce a posse a 15 anos, logo ele exerce a posse desde 1995. Até 30/06/2001,
aquele que detivesse a posse ininterrupta de imóvel urbano até 250 m2, utilizando-a como
moradia tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia. Então em 2001 ele já
tinha 5 anos de posse. Hoje a RioPrevidência quer o bem dela de volta – ela é autarquia – seus
bens são públicos – inaplicável o instituto da usucapião; logo, devemos alegar a concessão
especial de bens públicos para fins de moradia.

Nesse processo devemos ingressar com uma reconvenção, requerendo ao juiz o


reconhecimento da existência do direito à concessão de uso especial para fins de moradia (MP
2.220/2001), mas os 5 anos tem que estar completos até 30/06/2001.

Se o assistido não tivesse esses anos – argüiríamos em preliminar a


inconstitucionalidade desse limite temporal, pois a concessão de uso especial para fins de
moradia visa assegurar a efetividade ao direito fundamental à moradia e a Constituição não
estabelece data limite para que o brasileiro tenha direito à moradia.

O limite é restritivo do exercício de um direito fundamental que deve ser interpretado


de acordo com a máxima efetividade, não podendo o legislado infraconstitucional criar uma data
para restringir o exercício de um direito fundamental.

A Fazenda costuma dizer que essa MP somente é de observância obrigatória pela


própria União, pois ela trata de gestão de bens públicos, que é matéria afeta à gestão
administrativa de cada ente, então essa MP não poderia valer nem para o Estado, nem para o
Município, mas não é assim, pois ela foi editada em complemento ao Estatuto da Cidade, que é
uma lei geral, de âmbito nacional e de observância obrigatória por todos os entes da Federação,
na forma do art. 182, caput e art. 24, I da CF/88.

Competência para editar normas gerais sobre direito urbanístico é da União e,


portanto, de observância obrigatória por todos os entes, sendo que a MP regulamenta política
urbana em complemento ao Estatuto da Cidade (que não fala de concessão de uso especial) – O
conteúdo da MP 2.220 é regulamentação de direito urbanístico – com base na CF em âmbito
nacional.

Ela também cuida Direito Civil – matéria privativa da União (art. 22, I da CF/88) –
tanto é direito civil que essa concessão é direito real (art. 1.225 , XI do CC/02), bem como pode
ser objeto de hipoteca (art. 1.473, VIII CC/02), o que refuta o argumento de que a norma é de
natureza federal – não é , pois é NACIONAL.

XX-XX-XX

FIM

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