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INSTALAÇÃO DE MODELOS PILOTO PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUAS DE

CHUVA NO SEMI-ÁRIDO PERNAMBUCANO

Sergio Henrique B. de Souza1; Sylvana Melo dos Santos2; Suzana Maria Gico Lima Montenegro3;
Roberto Orlando4; Rodolfo Luiz Bezerra Nóbrega5

RESUMO – O uso de cisternas para abastecimento de água das famílias que moram em regiões de
escassez de recursos hídricos constitui uma importante forma alternativa para os moradores dessas
localidades, uma vez que se trata de um sistema de captação e armazenamento eficiente que
emprega equipamentos simples e de custo acessível. Existindo um regime de chuvas que possibilita
o armazenamento dos recursos hídricos em quantidade suficiente para a demanda local, pode-se
considerar que os problemas observados no uso de cisternas, como fonte de abastecimento
alternativo de água, referem-se principalmente à qualidade da água, que normalmente encontram-se,
na maior parte do tempo, fora dos padrões de potabilidade. O presente trabalho dedica-se à
proposição de um sistema de captação e armazenamento de águas pluviais a ser empregado na
investigação sobre a eficiência das barreiras sanitárias instaladas, bem como no manejo realizado
pelos usuários. O uso de processo construtivo, bem como de materiais adequados, dentre os
existentes, pode contribuir para a otimização do processo de construção, manutenção e manejo do
sistema; facilitando a melhoria da qualidade final da água acumulada.
ABSTRACT –Cisterns are very important for water supply of families living in regions under
water scarcity, as it is an efficient toll for rainwater harvesting and storage, using simple materials
with low cost. The construction process and the use of adequate materials can contribute for
optimizing the installation, maintenance and management of the system, with benefits for the
quality of the water. Provided the existence of a suitable rainfall regime to sustain the local demand
for water, the remaining constraints related to the use of cisterns are related to the water quality,
which usually is not in accordance to established patterns for human consumption. This work
presents a projected rainwater harvesting and storage system aimed to be used in the investigation
of sanitary barriers efficiency, as well as in the investigation of adequate management of the system
by users.

Palavras-chave: Cisternas, Sistema de captação de águas de chuva, Semi-árido.

1
Aluno de Mestrado da Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPE. Av Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária, Recife/PE. CEP:
50741 - 530. Tel: (81) 2126.7216. E-mail: sergiohenrique00@hotmail.com.br.
2
Professora da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, Rodovia BR-104, Km 62, Nova Caruaru, 55002-970 – Caruaru,
PE. Fone: (81) 3727.6793. E-mail: sylvana@ufpe.br
3
Professora da Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Engenharia Civil, Av Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária,
Recife/PE. Caixa Postal 7800. CEP: 50741 - 530. Tel: (81) 2126.8709. E-mails: suzanam@ufpe.br
4
Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns, Av. Bom Pastor s/n, Boa Vista, Garanhuns – PE CEP:
55292-270. Tel (87) 3762 1846. email: orlando@uag.ufrpe.br.
5
Aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Campina Grande. Av. Aprígio
Veloso, 882, Bodocongó, Campina Grande. CEP: 58109-900. Tel: (83) 3310-1461. E-mail: rodolfo@hidro.ufcg.edu.br

IX Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 1


1 - INTRODUÇÃO

A escassez hídrica no nordeste brasileiro é conhecida já há muitas décadas como um grave


problema social da região. Nas regiões semi-áridas, as pessoas que ali vivem sofrem com a baixa
produtividade agrícola, susceptibilidade à desertificação associada à progressiva degradação do
solo, pelas características climáticas e pela ação antrópica. Como é de se esperar em uma conjuntura
como essa, os índices de desnutrição, morbidades e mortes relacionados com diversas doenças
endêmicas e epidêmicas são altos e estão, em geral, associados ao uso de água de má qualidade
(Ambiente Brasil, 2006).
A falta de sistemas de abastecimento de água em tais regiões contribui para que a população
procure outras fontes alternativas para seu consumo, que nem sempre são confiáveis do ponto de
vista sanitário. De fato, uma pesquisa realizada pelo IBGE (2000) mostrou que 116 municípios
brasileiros não possuem sistema de abastecimento de água, sendo que 56% destes estão na região
nordeste. Na zona rural do semi-árido a realidade é ainda mais grave, pois praticamente não existe
água encanada em toda região.
Embora a Portaria Nº 518 de 25 de março de 2004 do Ministério da Saúde estabeleça padrões
de qualidade para a água destinada ao consumo humano, bem como procedimentos e
responsabilidades relativos ao controle e à vigilância dessa qualidade, é difícil para as prefeituras
locais cumprirem os critérios estabelecidos, pois não dispõem de recursos para investir em estações
de tratamento, desinfecção e sistemas de distribuição. Deste modo, o uso de cisternas para
abastecimento individual das famílias constitui uma importante forma alternativa e estas são
construídas de forma muito simples. Seu sucesso, em termos de alternativa de abastecimento para
combater a estiagem, está no emprego de dispositivos simples e de custo acessível, usando técnicas
populares de armazenamento de águas (Albuquerque, 2004).
Assim como em outras fontes alternativas, os problemas observados no uso de cisternas como
fonte de abastecimento alternativo de água está na qualidade de água. Embora, em algumas
situações, a quantidade de água armazenada pelas cisternas seja suficiente para suprir as
necessidades básicas da comunidade na época da estiagem, esta água normalmente está fora dos
padrões de potabilidade (Brito et al., 2006). Já May (2004) observou grande concentração de
bactérias, tanto coliformes como algumas patogênicas, na água de chuva, e recomendou que esta
fosse submetida à desinfecção para evitar riscos à saúde dos usuários. A autora também destacou
que devem ser realizados estudos para se verificar as particularidades do sistema de coleta e
aproveitamento de água de chuva em diferentes tipologias de edifício e telhados e em diferentes
regiões conforme o regime de chuvas.

IX Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 2


Desta forma, embora a captação e o armazenamento de águas de chuva se mostre uma solução
interessante, se faz necessário a criação de um sistema que garanta também a qualidade da água que
será consumida pelos usuários de tal sistema. Segundo Andrade Neto (2003), a proteção sanitária de
cisternas rurais para o abastecimento doméstico é relativamente simples, requerendo, basicamente,
cuidados como o desvio das primeiras águas das chuvas, a tomada d’água por tubulação e o manejo
adequado, sendo que esta última depende muito do nível de informação a que o usuário tem acesso
sobre o tema.
Com base no exposto anteriormente, o Grupo de Recursos Hídricos da Universidade Federal
de Pernambuco - UFPE, juntamente com outros pesquisadores da mesma instituição e de outras
instituições (Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, Universidade Estadual da Paraíba
– UEPB, Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias – EMBRAPA e Universidade Federal
Rural de Pernambuco - UFRPE) tem se dedicado à investigação de um sistema que permita analisar
diferentes situações no que se refere à realização do desvio das primeiras águas das chuvas, o tipo
de tomada d’água e a forma como é realizado o manejo.

2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A precipitação está associada a toda água do meio atmosférico que atinge a superfície
terrestre, podendo esta água estar em diferentes estados: líquido, gasoso e sólido – chuva, neblina,
geada, etc. De acordo com Bertoni e Tucci (2004), por sua capacidade para produzir escoamento, a
chuva é o tipo de precipitação mais importante para a hidrologia e sua disponibilidade numa bacia
durante o ano é o fator determinante para quantificar, entre outros, a necessidade de abastecimento
de água para uso doméstico e de irrigação.
A evaporação e a evapotranspiração, por outro lado, constituem o processo de retorno da água
para o meio atmosférico. Segundo Tucci e Beltrame (2004), as informações quantitativas desses
processos são utilizadas na resolução de numerosos problemas que envolvem o manejo d’água. Tais
processos ocorrem quando há ingresso de energia no sistema, proveniente do sol, da atmosfera, ou
de ambos.
No que se refere ao Nordeste Brasileiro, verifica-se ao longo do ano um período curto de 3 a 4
meses com precipitações pluviométricas e um período longo, geralmente chamado de período de
estiagem, sem precipitação, apresentando alta capacidade de evapotranspiração durante todo ano,
caracterizando um clima semi-árido. O semi-árido nordestino se destaca pelas precipitações médias
anuais muito irregulares e grande variabilidade espacial. As médias de precipitações pluviométricas
podem variar de 200 a 700 mm por ano, não tão pequenas comparadas com outras regiões semi-
áridas do mundo, no entanto as temperaturas são muito elevadas, as perdas por evapotranspiração
são acentuadas e é o semi-árido com maior densidade populacional do mundo evidenciando a

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necessidade, do ponto vista social, de estudar formas melhores de convivência com a escassez
hídrica (Cabral e Santos, 2007). O Nordeste apresenta uma condição especial para utilização de
sistemas de captação e armazenamento de água de chuva, visto que é uma região em que quando
chove, isso acontece com grande intensidade, e o déficit hídrico decorre basicamente da intensa
evaporação e da irregularidade climática. Agravando a situação, a região conta com uma base
hidrogeológica de origem cristalina que não favorece a infiltração, mas sim o escoamento.
A captação de água de chuva é uma prática empregada em várias localidades no mundo e com
diversas finalidades. Segundo Sickermann (2000), hoje mais de 20% das casas na Alemanha, além
de muitas outras empresas têm a sua cisterna de água filtrada que serve para: descarga de banheiro;
lavagem de pisos e carros; irrigação de jardins; lavagem de roupas. E na indústria e
estabelecimentos para: resfriamento de telhados e máquinas; climatização interna; lavanderia
industrial; reposição de evaporação de piscinas em hotéis; lava-jatos de caminhões e ônibus;
limpeza industrial. Sickermann (2000) cita ainda o caso de uma lavanderia em São Paulo que há 30
anos utiliza a água de chuva nos seus processos de lavagem, bem como o caso da ilha de Fernando
de Noronha. Existem ainda várias pesquisas que tratam da utilização de cisternas como alternativa
viável e promissora para localidades que enfrentam o problema da escassez hídrica: Silva et al
(2005), Gnadlinger (2003), entre outros.
De acordo com Lee et al. (2000, apud Campello Netto et al., 2007), os sistemas de coleta de
água de chuva podem ser classificados, segundo a técnica, em três categorias: coleta em telhado,
coleta em superfície e coleta em diversos tipos de barragens. Dentre as três categorias destaca-se o
sistema de coleta em telhado, que consiste um método simples de captação e armazenamento,
constituído, basicamente, de telhado, calha (para transporte da água a partir do telhado) e tanque
para armazenamento da água coletada.
Dá-se o nome de cisternas aos tanques construídos para armazenar imediatamente as águas de
chuva captadas em uma superfície próxima, podendo ser: telhados, terreiros para secagem de grãos
ou de implúvios para o consumo humano. No meio urbano, de uma forma geral, a captação tem os
seguintes objetivos: reduzir a demanda por água tratada; combater enchentes urbanas, agravadas
pelo excesso de pavimentação e impermeabilização das cidades; e reduzir o requerimento de
galerias pluviais. Nas propriedades rurais a realidade é bastante diferente e, como geralmente os
moradores destas regiões não contam com um sistema público de abastecimento de água, é uma das
formas mais comuns para o acúmulo da água de uso doméstico. Segundo Campello Netto et al.
(2007), existem basicamente dois modelos de cisternas: para captação de água de telhado e para
captação de água de áreas pavimentadas. As cisternas construídas com o objetivo de captar a água
de chuva têm como característica o recolhimento de pequena quantidade de água, sendo que o

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tamanho do reservatório de armazenamento depende do consumo, da área do telhado e da
quantidade de chuva que cai na região.
No que se refere aos materiais e métodos empregados na construção, as cisternas podem ser
confeccionadas a partir de placas de cimento; tela-cimento; alvenaria de tijolos; concreto-armado,
cal ou plástico. Dentre estas, a cisterna de placa de cimento é o modelo mais encontrado em todo o
Nordeste Brasileiro e compreende uma estrutura circular enterrada no solo até mais ou menos dois
terços da sua altura. Neste caso, as placas são curvadas de acordo com o raio projetado da parede da
cisterna, dependendo da capacidade prevista (Campello Netto, 2007).
De acordo com informações constantes no Manual de Cisternas desenvolvido pela instituição
de assistência social filiada à rede de atuação social da igreja católica, Cáritas, a cisterna de placas
foi criada por Nel, um pedreiro de Simão Dias, Sergipe, há mais de 35 anos (Cáritas, 2000). Ele
começou, com seu irmão, a construir cisternas de placas em sua região. Em seguida, outros
pedreiros viram a idéia e começaram a construir em todo o estado de Sergipe e na Bahia. A partir
daí essa proposta foi se espalhando por todo o Nordeste. Hoje, essa cisterna pode ser encontrada em
todos os estados do semi-árido brasileiro. São milhares de cisternas.
Cirilo et al. (2007) destacam o aproveitamento direto de águas de chuva por meio de cisternas
como uma estratégia importante para suprir as comunidades rurais difusas no Nordeste semi- árido.
A Figura 1 apresenta áreas de demanda de captação de água de chuva conforme precipitação anual e
hidrogeologia no Nordeste do Brasil.

Figura 1 – Demanda de águas de chuva na região Nordeste do Brasil (Fonte: Modificado http://
www.irpaa.org.br/colheita/imdexb.htm - acessado em 21 de janeiro de 2008)

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3 - MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 – Descrição da área de estudo

Considerando os estudos já realizados sobre a temática e, a partir das considerações


apresentadas por May (2004) que destacou a importância da realização de estudos para se verificar
as particularidades do sistema de coleta e aproveitamento de água de chuva em diferentes tipologias
de telhados e em diferentes regiões conforme o regime de chuvas, foram definidas duas localidades
para instalação dos referidos sistemas de controle. As duas localidades para instalação dos sistemas
de controle estão numa área conhecida como Mimoso, onde está a comunidade de Canela de Ema,
no município de Pesqueira, na região do agreste do estado de Pernambuco (Figuras 1a e 1b), a
238Km do Recife.

(a) Mapa do Brasil com destaque para região agreste de Pernambuco

(b) Localização de Pesqueira na região agreste

Figura 2 – Mapa de Pernambuco (Fonte: Modificado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Pesqueira -


acessado em 21 de janeiro de 2008)

A Tabela 1 apresenta informações considerando 30 anos de precipitação, temperatura e


evapotranspiração potencial do município de Pesqueira. Conforme apresentado, em valores médios,

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tem-se respectivamente 60,75mm, 22,67ºC e 140,1mm. Os baixos valores de precipitação
fortalecem a necessidade de maior estudo sobre o adequado aproveitamento dos recursos hídricos
locais. Para escolha desta comunidade considerou-se a realização dos estudos climatológicos, já
desenvolvidos e em andamento, que são realizados pelo Grupo de Pesquisa na região e o benefício
social que esta ação pode representar para a localidade, uma vez que a mesma não conta com
nenhuma forma de abastecimento de água convencional.

Tabela 1 - Dados climáticos do município de Pesqueira (PE) - médias mensais de 30 anos.


Fonte: Hargreaves (1977).
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
P (mm) 51 91 86 121 101 81 72 37 23 19 18 29 60.75
T (oC) 25 24 24 23 22 21 20 20 22 23 24 24 22.67
ETP 164 147 153 133 122 106 110 125 140 159 160 163 140.1
(mm) 7
Legenda:P- precipitação média; T- temperatura média; ETP- evapotranspiração potencial.

Até recentemente, os moradores desta localidade têm disponíveis apenas os recursos


hídricos de um açude próximo, onde a água de péssima qualidade é usada simultaneamente para
abastecimento humano, através de baldes e latas, e dessedentação animal, diretamente nas margens
do açude. Nos últimos anos a população local foi contemplada pelo programa um milhão de
cisternas (P1MC), do Governo Federal, e vem utilizando este sistema como fonte alternativa de
abastecimento de água, o qual foi muito bem recebido pela população. Visando identificar,
principalmente, as características de manejo, foram selecionados dois tipos de usuários com
tipologias de telhado distintas: uma agrovila (Figura 3a) e uma escola rural (Figura 3b), ambas
localizadas em Canela de Ema. Em ambos os casos os usuários dos sistemas foram consultados
sobre as intervenções previstas, tendo concordado com as ações planejadas e apresentadas
previamente aos mesmos.

(a) Vila de casas conjugadas (agrovila). (b) Escola Municipal São José.
Figura 3 – Edificações selecionadas para as intervenções localizadas em Canela de Ema.

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3.2 – Descrição das barreiras sanitárias

No que se refere à investigação sobre a eficiência das barreiras sanitárias a serem empregadas
nos sistemas propostos, foi desenvolvido um projeto específico para aplicação na área de estudo:
um sistema de desvio automático das primeiras águas de chuva. O desvio automático das primeiras
águas consiste de um equipamento simples e barato, que compreende um pré-tanque onde as
primeiras águas que lavam o telhado são descartadas, após o enchimento deste pré-tanque, a água
“limpa” abastece a cisterna propriamente dita (Figuras 4a e 4b).

(a) Foto in loco.


(b) Esquema.
Figura 4 - Desvio das águas das primeiras chuvas.

Para cada modelo piloto foram projetados dois tanques de armazenamento de águas de chuva,
um dotado das barreiras sanitárias e outro não, de modo que durante o uso dos mesmos pelas
famílias que se propuseram a participar do experimento, se possa comparar a qualidade das águas
usando as barreiras sanitárias (caso do primeiro tanque) e não usando (caso do segundo tanque).
Foi projetado também um módulo misturador para que a qualidade e a quantidade das águas
que irão para cada tanque sejam as mesmas, independente do lado do telhado que venha águas. O
objetivo da mistura da água dos dois telhados é impedir falsas impressões com relação à qualidade
da água caso um dos lados do telhado estivesse mais sujo que o outro e se fosse canalizado, por
exemplo, um lado do telhado para um tanque e outro lado para o outro tanque. Com a
homogeneização da mistura, antes de “dividir” para os tanques, temos a mesma qualidade e
quantidade de água para cada um dos tanques.

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3.3 – Descrição das cisternas
O método construtivo escolhido para as cisternas foi o de placas, pois, como já foi dito
anteriormente, consiste em um método amplamente divulgado e empregado pelo pessoal da região.
Tal como foi descrito, este método consiste em fabricar in loco os elementos construtivos para as
cisternas, as chamadas placas, que são construídas usando argamassa de areia e cimento (material
encontrado em qualquer armazém da região). Os outros materiais utilizados, como tubulações e
calhas também são padronizados e fáceis de encontrar nos armazéns.
O procedimento para confecção das cisternas compreendeu a escavação manual, uma vez que
a obra é enterrada (Figura 5a), a confecção das placas de composição das paredes laterais (Figura
5b) e das placas de composição do teto (Figura 5c), bem como o assentamento das placas (Figura
5d). A Figura 6 apresenta a cisterna e o desvio concluído.

(a) Escavação manual (b) Confecção das placas laterais

(c) Confecção das placas para teto. (d) Assentamento das placas.
Figura 5 – Etapas de construção das cisternas.

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Figura 6 – Cisternas e desvio em fase final de instalação

O sistema de placas moldadas in loco, confeccionadas facilmente com argamassa de areia e


cimento, mostrou-se um meio rápido e eficaz para a construção da cisterna. O mesmo dispensa a
utilização de mão-de-obra muito especializada e sua técnica pode facilmente ser disseminada. O
processo construtivo usando essa técnica é muito rápido, levando aproximadamente três dias para
uma equipe de três homens construir uma cisterna, dependendo mais da dificuldade de escavação
do local. Também não é uma obra civil onerosa. São utilizados, basicamente 18 sacos de cimento
para construção de cada cisterna (principal insumo), além da mão-de-obra.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Espera-se que, com a instalação dos sistemas de controle, seja possível a contribuição para a
investigação com relação à eficiência das barreiras sanitárias instaladas e com relação à participação
dos usuários através do aprendizado de melhores técnicas de manejo. Ao final desta investigação é
fundamental se estabelecer um modelo de sistema de captação que possa garantir uma melhor
qualidade de água para os seus usuários. Pretende-se, desta forma, contribuir para a diminuição dos
altos índices de morbidade, de mortalidade e de ocorrência de doenças de veiculação hídrica que
ocorrem na região.
Para que as melhorias tecnológicas propostas neste trabalho sejam validadas será necessário
que a aceitação dos usuários das práticas de manejo mais adequadas. A difusão deste tipo de
conhecimento é resultado de ações de educação ambiental, que já vem sendo realizadas, e a
averiguação de seu desempenho poderá ser realizada a partir de coletas e análises sistemáticas de
água em diferentes pontos do sistema.
Certamente, a proposição final para o sistema de controle constituirá um importante
instrumento para a garantia da água de boa qualidade, que, pode ser empregada, inclusive em áreas

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urbanas, onde chove muito, mas que mesmo assim, a demanda d’água devido ao aumento
populacional, vem sempre aumentando.
Tudo isso evidencia a necessidade de pesquisas nesse tipo de sistema, pois a chuva é um
recurso abundante em diversas partes do país e ainda que em outras localidades tenha-se água
suficiente, é cada vez maior a preocupação sobre o tema com relação ao futuro devido à crescente
demanda de água.

AGRADECIMENTOS

O primeiro autor agradece ao CNPq/CT-Hidro pela bolsa concedida, bem como o apoio
financeiro do Fundo Setorial de Recursos Hídricos, através do convênio FINEP, sem os quais não
seria possível a realização desta pesquisa.

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