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Sistemas Integrados de Apoio à Decisão em Agricultura

Pedro Aguiar Pinto


Professor Associado do ISA/UTL

O objectivo desta comunicação é uma resposta à pergunta implícita no nome


deste simpósio: "A agricultura portuguesa num contexto de mudança e o papel
da informação neste processo de transformação". Formulada no modo mais
simples, averigua se a informação tem um papel no processo de transformação.
Uma resposta mais completa propõe justificar "um" entre vários papéis que a
informação tem no processo de transformação.
Começando pela formulação simples, a resposta parece evidente. A informação
não só tem um papel no processo de transformação da Agricultura Portuguesa
como também esteve na origem da mudança agora sentida.
Se a mudança é considerada negativa, ou pelo menos de resultados imediatos
negativos, estamos perante o paradoxo de o mesmo agente ser patogénico e cu-
rativo.

A revolução da informação

Não é muito difícil, de um modo objectivo e com algum esforço de imparciali-


dade, identificar a informação nas causas da mudança da nossa Agricultura.
A rapidez de comunicações entre mercados, a aproximação dos consumidores
dos grandes centros de consumo a acção dos media na modificação de modos de
vida e hábitos de consumo têm vindo a permitir uma crescente liberalização e
mundialização dos mercados, um abaixamento do valor dos produtos que as-
seguram as primeiras necessidades individuais (como a alimentação) e uma
transferência do controlo dos padrões de consumo para os consumidores, con-
firmando em grande medida as hipóteses proféticas da "Terceira Vaga" de
Alvin Tofler. A analogia proposta é de que a Informação é o agente dominante
na terceira grande revolução na história da humanidade.
A invenção da Agricultura, a Revolução
Melhoria das condições de vida
Industrial e agora a Revolução da Informação
inscrevem-se todas num quadro de facilitação do trabalho humano com recurso
à tecnologia. Se a descoberta da Agricultura com a domesticação de plantas e
animais facilitou as tarefas diárias de obtenção da cobertura para as
necessidades alimentares das populações, por contraste com a procura e col-
heita ou caça de plantas e animais, permitindo a sedentarização das popu-
lações e o início das civilizações que hoje conhecemos; se a descoberta da
máquina a vapor e de vários aperfeiçoamentos no fabrico de instrumentos de
cultivo, permitiu que uma fracção muito maior da população se dedicasse a
outras actividades e facilitou as tarefas daqueles que continuaram com a função
de assegurar a cobertura das necessidades alimentares e de fibra de toda a
população; a expansão da recolha de informação e do seu processamento e a
velocidade da sua divulgação, permitida pela capacidade acrescida que os
computadores trouxeram ao cérebro humano, contribui igualmente para o ob-
jectivo de melhoria da qualidade de vida das populações.
Um aspecto incómodo de todas estas transformações, que implicam transfer-
ências significativas entre tipos de trabalho humano, é a persistência de eleva-
dos níveis de desemprego entre os grupos com aptidões profissionais menos
valorizadas. Esta incomodidade não retira, contudo, qualquer parcela de valor
à tendência positiva de melhoria das condições de vida, à escala da
Humanidade. A questão que se coloca às sociedades não é a recusa da mu-
dança, mas como é que uma sociedade pode funcionar efectivamente a longo
prazo, sem trazer todos os seus membros adultos para a sua vida económica,
mantendo simultaneamente a sua capacidade de trabalho e a sua capacidade de
compra.
Uma vez identificado o papel da
Papel da informação na transformação
informação na origem da mudança, não
devemos ceder á tentação, o que acontece às vezes com facilidade, de atribuir à
informação e, em particular às novas formas por que é veiculada, o ónus das
dificuldades sentidas nos domínios em que se desenvolve a Agricultura. E
procurar depois, qual o papel da informação na adequação da Agricultura à
mudança sentida na Sociedade em geral.

Informação

Para que isso seja perfeitamente claro é preciso reflectir profundamente sobre a
essência da informação e ao mesmo tempo sobre as características muito
próprias da Agricultura como actividade humana que interage de forma com-
plexa com o ambiente e com a sociedade envolvente.
Na linguagem corrente e mesmo na linguagem técnica,
Precisão de conceitos
os conceitos de informação, comunicação, factos, dados,
conhecimento, inteligência, sabedoria, são geralmente usados em contextos
latos e pouco precisos, daí resultando usos intermutáveis que, muitas vezes,
estão na origem de ideias preconcebidas e mal entendidos.
Sem qualquer pretensão de erudição que não tenho, parece-me importante,
contudo, precisar, particularmente num simpósio com este tema, o que é real-
mente a informação. Só assim será possível descortinar o verdadeiro papel e
responsabilidades da informação na transformação.
A origem latina do vocábulo informação (informatione) é a acção de formar, ou
seja, de dar forma. Ora só se dá forma àquilo que a não tem; e a forma é um
conceito filosófico, um princípio determinante da matéria, isto é, que deter-
mina a unidade e essência de um ser, na filosofia aristotélica; e na filosofia
Kantiana, é vista como uma estrutura cognitivas inata, isto é, independente da
experiência e imposta pelo pensamento à "matéria" do conhecimento, que esta
sim é procedente da experiência.
A primeira conclusão é que a informação é resultante duma acção do pensa-
mento sobre qualquer coisa que é imaterial e, portanto não tem forma. Por sua
vez esta coisa imaterial resulta da "matéria" do conhecimento, ou seja da inter-
acção com a realidade conhecida, ou seja do acto de conhecer, que está implici-
tamente contido na coisa conhecida, ou que, dito doutro modo, resulta da re-
lação directa que se toma da coisa.
Assim, o objecto do conhecimento são factos ou dados que, não tendo existên-
cia material, resultam da nossa interacção com a realidade. A informação dá
forma a estes factos ou dados. Contudo, como a informação resulta da acção do
pensamento sobre factos ou dados, não parece apropriado falar de transmissão
ou comunicação de informação, mas sim de transmissão, transporte ou fluxo de
dados. Comunicação é também um conceito, muitas vezes mal usado.
Communicare significa dividir ou partilhar alguma coisa com alguém. Assim, a
comunicação adquire uma dimensão para além do conhecimento. Para comu-
nicar não é sempre necessário informar. Quando dizemos bom-dia ao nosso
colega de trabalho, não estamos a fazer um relatório meteorológico, estamos
simplesmente a ser cordatos, a interagir socialmente. Contudo, a natureza da
informação, de acção mental sobre factos ou dados, pressupõe a comunicação,
isto é a partilha entre pelo menos dois interlocutores, quando a recolha e orga-
nização de factos e dados se destina a ser informação para outrem. E isto é a in-
formação de que se fala neste simpósio.
Uma definição mais operacional de informação
Definição operacional
reporta-se já ao seu papel nas empresas ou
empreendimentos humanos:

- Assim, a informação é vista como um recurso, tendo por isso, características


utilitárias, isto é, a informação só o é se tem utilidade ou capacidade para ser
usada. Informação é, portanto, o conhecimento de um facto ou dado, capaz de
remover uma fracção de incerteza. E a incerteza é uma constante de todos os
empreendimentos humanos, embora com variações de grau.
Esta característica utilitária da informação e a imaterialidade dos dados podem
ser exemplificados pela transferência electrónica de dados: a valia do que é
transmitido é determinada primariamente pela sincronização das velocidades
de emissão e recepção. Isto é se os "baud rate" expressos em bits por minuto, do
emissor e receptor não tiverem capacidade de ajustamento (expressivamente
designada como "hand-shake", ou aperto de mão, o que curiosamente expressa a
dimensão conativa das relações sociais, que os computadores não têm), os da-
dos não adquirem características de informação, sendo, por isso, inúteis.
Contudo, há um segundo grau de utilidade dos dados, que é a que lhe é
atribuída pelo utilizador.
O termo dado aplica-se a um domínio vasto de factos, medidas,
Dados
opiniões e juízos de valor que resultam da interacção com a
realidade conhecida. Numa óptica utilitária interessa considerá-los de acordo
com a facilidade com que estão disponíveis.
Assim, os dados potenciais são teoricamente obteníveis, mas de que não se
dispõe. Os factores que limitam o uso desta base de dados potencial são geral-
mente

a) o desconhecimento; de onde ou como se obtêm;

b) os problemas técnicos; que se põem à sua obtenção;

c) o custo desses dados; que supera o seu valor.

Os dados existentes distinguem-se quanto à facilidade de utilização, podendo


ser

a) Não disponíveis imediatamente, ou

b) Disponíveis

Esta divisão aponta já para o processo de conversão dos dados em informação,


pois o primeiro passo a dar quando se pretende transformar um dado em algo
útil, capaz de remover, total ou parcialmente, a incerteza existente, é a sua
transformação em dados disponíveis.
Os dados também se podem considerar mais ou menos disponíveis conforme o
suporte em que se encontram e aqui entramos mais directamente no tema das
novas tecnologias.
A sua disponibilidade é subjectiva quando os dados se encontram apenas na
cabeça das pessoas quer sobre a forma de conhecimentos intuitivos quer sob
formas mais objectivaveis de conhecimento.
A escrita, o desenho, esquemas, diagramas, instruções e tudo o que se pode
medir mas que não se encontra organizado e gravado em suportes específicos
constituem dados objectivos, de tratamento não-automático.
Dados objectivos de tratamento automático são dados já gravados em su-
portes magnéticos ou ópticos, permitindo a sua consulta e tratamento sem ne-
cessidade de processamentos morosos. A libertação de tarefas penosas propor-
cionada pela automatização, encontra analogias no campo da Agricultura, no
domínio da força animal e no arado, bem como no tractor e na charrua.
Note-se que o facto de certos dados se encontrarem "metidos no computador"
não garante que o seu tratamento se possa efectuar automaticamente. Uma im-
agem de uma peça ou edifício não permite senão a sua duplicação e dis-
tribuição. Para que uma imagem seja processável é necessário que as entidades
que a compõem tenham sido preservadas.
Mais uma vez, os dados, em si, não têm qualquer utilidade; só se tornam úteis,
a partir do momento em que se transformam em informação. Similarmente, a
informação só o é, num contexto utilitário, isto é, se for útil a alguém.
O procedimento que transforma os
Transformação de dados em informação
dados em informação, conferindo-lhes
assim, capacidade de redução da incerteza, que pode ser reconhecido no
processamento de dados, passa pelas três etapas seguintes:

- Captura e registo dos dados

- Tratamento dos dados de modo a poderem ser usados de uma


forma conveniente.

- Comunicação dos dados aos potenciais utilizadores.


A informação é apenas um subconjunto dos
Informação como subconjunto
dados disponíveis. Só uma pequena parte dos
dados comunicados aos utilizadores passa a ser informação, e é exactamente
aquela parte que diminui a incerteza com que esses utilizadores se debatem.
Não é fácil conjugar os interesses dos utilizadores individuais com um certo
grau de generalidade. Os dados que, porventura, são redundantes para uns,
são essenciais para outros.
Um exemplo deste facto é a comunicação entre professores e alunos numa sala
de aula. O professor transmite aos alunos o seu conhecimento adquirido pela
sua interacção com a realidade, com factos, com dados. Transmite-os depois de
os processar, atribuindo-lhes uma forma que, para ele é utilitária e, portanto,
compreensiva. Entre todos os alunos, há alguns que reconhecem esta com-
preensibilidade e, portanto, para estes, os dados são úteis e transformam-se em
informação. Para os restantes, em maior ou menor grau, de todo o conjunto de
dados comunicados, há uma fracção cujo nexo não reconhecem. Para esses, e
como professor, tenho a experiência, frustrante, de reconhecer que aquilo que
eu julgava ser informação, e, portanto útil, não passa de um aglomerado de da-
dos sem qualquer utilidade. Contudo, é inevitável que assim seja; como o
nosso modo de interacção individual com o mundo que nos rodeia é único, só
há acréscimo universal de conhecimento, quando alguns indivíduos interagem
com dados e factos que para outros são perfeitamente irrelevantes.
A informação é a única parcela dos dados que
Sistemas de informação
circulam numa organização, capazes de contribuir
para os seus objectivos. É a parte dos dados que se mostra apropriada para um
utilizador ou grupo de utilizadores.
Um sistema de informação reúne os agentes da informação (emissor-receptor),
os canais por onde a informação flui e as razões ou objectivos que fazem a
utilidade da informação e que, estão, necessariamente ligados às motivações ou
objectivos da empresa, organização ou empreendimento. Não tem por isso,
necessariamente que ver com computadores. Sempre existiram e são identi-
ficáveis em qualquer empreendimento humano.
Contudo, os sistemas de informação eficientes são aqueles que conseguem
canalizar para os utilizadores dados contendo uma grande proporção de in-
formação.
A tarefa principal ao planear sistemas de informação, é conseguir que cada uti-
lizador receba os dados de que carece e só esses. Não é, contudo, o caso geral
das nossas organizações. Os dados que nelas circulam, têm percursos demasi-
ado complicados e desnecessários e a preocupação com a sua utilidade para o
utilizador individual é quase nula. Que o diga o monte de papéis que diaria-
mente se acumula na minha secretária, onde provavelmente dados pertinentes
e, portanto, úteis, e, portanto, informação, se escondem no meio de um aglom-
erado de dados sem qualquer utilidade prática.
Isto está directamente relacionado com
Dificuldades do processamento de dados
as dificuldades mais frequentes no
processamento de dados que radicam:

1 - na qualidade dos dados obtidos (dados imprecisos, pouco


detalhados, mal resumidos, errados, baralhados);

2 - na moderação e critério de escolha - Quantos mais dados melhor


é uma tendência geral, mas profundamente errada e cara. Rubish in
rubish out é um lugar comum que retrata a dependência da qualidade
da informação, da qualidade dos dados recolhidos.
3 - na facilidade/automação na recolha de dados (onde as novas
tecnologias têm uma palavra a dizer, na monitorização ambiental, na
digitalização de dados escritos, etc.)

4 - na vida útil dos dados - Há dados que traduzem informação


temporal; a sua utilidade é condicionada pelo tempo de recepção;
muita informação nas organizações chega depois da data da
realização do encontro, congresso, etc.

5 - na selecção de um meio eficiente de comunicar - o discurso, outras


técnicas audiovisuais e aquilo que é hoje designado como user
interface.

Funções da informação
A informação tem valor e tem custos. O seu valor está
intimamente associado à sua função/utilização, i. e., ao tipo de incertezas que
irá diminuir ou suprimir. Qual é então a função ou papel da informação na
Agricultura.

As características particulares da Agricultura

Neste simpósio tem-se falado muito de informação e Agricultura, mas não foi
abordada a totalidade utilitária da informação na actividade agrícola.
Um agricultor vive num determinado contexto de regras culturais, sociais,
económicas e legais que condicionam a sua actividade e a consciência que tem
do seu papel na sociedade em geral. Nos sub-temas anteriores, e usando difer-
entes perspectivas, foram abordadas as relações, fluxos e estrangulamentos da
informação para e do agricultor.
A actividade agrícola tem como objecto o espaço, as plantas e os animais. Os
meios utilizados são a sua manipulação coordenada de modo a atingir objec-
tivos que estão geralmente associados à obtenção de um produto de natureza
biológica, caracterizado pela sua utilidade como alimento ou fibra. A motivação
da actividade é a subsistência alimentar, ou a obtenção de um rendimento
económico imediato ou sustentado.
A empresa ou o empreendimento
A empresa ou o empreendimento agrícola
agrícola vive da constante tomada de
decisões sobre o modo como agir sobre o ambiente, as plantas e os animais que
são o meio de prosseguir os seus objectivos.
A função da informação revela-se principalmente na ajuda à tomada de de-
cisões e no planeamento de actividades futuras. O seu papel numa actividade
como a Agricultura onde a incerteza associada à variabilidade climática, à
variabilidade de características espaciais e à diversidade das plantas e animais
utilizados é proporcionalmente maior que noutros ramos de actividade, é
evidente.
Todo o processo de tomada de decisões pode ser visto como aquisição e trans-
formação de informação. A decisão é uma escolha de uma entre várias alterna-
tivas possíveis. A tomada de decisões dirige-se para a resolução de um prob-
lema tomado em sentido lato que inclui a reacção a uma contrariedade ou o
avanço em direcção aos objectivos da empresa (acção).
Na definição do problema a identificação das relações de causa-efeito é crucial
e apela ao conhecimento acumulado. A utilização de bases de dados
relacionais é um instrumento potencial de interligação de factos e processos.
Os modelos aparecem na estruturação dos problemas. Quem é capaz de fazer
um modelo é porque possui poder sobre aquilo que modelou. Esse poder é a
informação.
Finalmente, acontece a tomada de decisão que pode ser apoiada na simulação.
Um Sistema Integrado de Apoio à Decisão tem que ter a capacidade de
incorporar bases de dados, modelos conceptuais e regras de perito em forma de
fácil acesso e com capacidade de interacção com o utilizador.

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