Fotos: Nino Andrés

show

Pato Fu
Música de brinquedo, som de gente grande
POR PIERO VERGÍLIO

uando o inverno chegar / eu quero estar junto a ti / pode o outono voltar /

que eu quero estar junto a ti”... A canção “Primavera”, composta por
Cassiano e Silvio Rochael, foi a escolhida para abrir o novo CD da banda
mineira Pato Fu. Os versos, imortalizados por Tim Maia, são familiares a
grande parte das pessoas e a melodia – outra velha conhecida do público –
também pode ser facilmente identificada. Décimo CD
No entanto, essa regravação possui uma peculiaridade, que a diferencia de
todas as outras interpretações: a sua sonoridade, ou, para ser mais preciso, a da banda
mineira
forma como ela é executada. Fernanda Takai, John Ulhoa, Ricardo Koctus, Xande
Tamietti e Lulu Camargo inovam e substituem os instrumentos musicais “convencionais”
por outros, digamos, menos afinados e mais difíceis de tocar – e de se encontrar também.
A ideia é a espinha dorsal de “Música de Brinquedo”, décimo trabalho da banda, lançado re-
centemente. Dessa forma, guitarras, baterias e demais aparatos tecnológicos foram deixados
diverte
de lado. Em contrapartida, foram utilizados um piano em miniatura, um glockenspiel de latão,
um kazoo de plástico, um tecladinho-calculadora ou qualquer outro brinquedo – seja de madei-
crianças
ra, pelúcia ou eletrônico – do qual fosse possível extrair som com alguma eficiência.
Se, no início, os desafios pareciam enormes e havia muitas incertezas acerca da viabilidade e adultos,
do projeto, hoje é possível dizer, com segurança, que essa foi uma aposta que deu certo.
Com o propósito de garantir “diversão para os adultos, sem aborrecimento para reinventando
os pequenos, e vice-versa”, o resultado impressiona: ao ouvir o álbum pela primeira vez,
este jornalista foi tomado por uma mistura de sensações. grandes
clássicos da
Ao mesmo tempo em que surge o encantamento advindo da percepção de que os arranjos
originais conseguiram ser reproduzidos fielmente, como em “Sonífera Ilha” (Titãs) ou
“Frevo Mulher” (Zé Ramalho) – o repertório é composto integralmente por regravações
que resgatam clássicos nacionais e internacionais e passeiam por diferentes gêneros – há
também a curiosidade em decifrar que instrumentos foram utilizados em cada faixa.
música
A participação de crianças cantando (entre elas Nina, filha de Fernanda e Jhon),
também ajuda a proporcionar um clima lúdico ao CD.
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Músicas que emocionam
Fernanda Takai – que concedeu uma entrevista à ZZZ
por e-mail – atribui o sucesso do disco, além da sonoridade,
também ao repertório, que, segundo ela, vai direto às lem-
branças dos ouvintes. “Sabemos que a escolha das canções
era um elemento importante para fazer com que as pessoas
se apaixonassem pelo disco... então chegamos a essa lista de
músicas que também nos emocionam. Elas tinham que ser
muito conhecidas, pelo arranjo original, inclusive. O mais legal
é perceber que decalcamos, com a nova sonoridade, detalhes
desses arranjos já tão familiares”, pondera.
Outro detalhe que chama a atenção: compõem o set list
do CD apenas canções que fizeram sucesso na voz de outros
intérpretes, como “Ovelha Negra”, “Rock and Roll Lulla-
by” ou “Live and Let Day”. Mas o público que espera que
sucessos do Pato Fu ganhem uma versão “de brinquedo” não
precisa ficar decepcionado: na turnê homônima, que já está
percorrendo todo o país, também foram incluídos hits como
“Simplicidade”.
De acordo com Fernanda, o projeto traz de volta o sen-
timento de gostar de ouvir canções, como se fosse a primeira
vez. “Quando se é pequeno, a música é uma grande brinca-
deira: não sabemos nada sobre o que é certo ou errado. Não
por acaso a expressão to play significa brincar, jogar, tocar...
É bacana também fazer com que as pessoas olhem em casa
o que tem de coisas ‘tocáveis’ que não são caras, nem profis-
sionais, mas fazem música. É preciso se dedicar e aprender a
extrair os sons do que se tem”, aconselha.
Por outro lado, ela admite que essa não é uma proposta
musical fácil. “Deu muito trabalho chegar ao resultado que
temos hoje e foi tudo feito de forma independente. Não sei se
alguma gravadora iria bancar um projeto assim, mas agora
que deu certo, várias queriam ter o disco em seu cast”, desa-
bafa a vocalista do Pato Fu: desde 2005, a banda tem lançado
seus discos pelo próprio selo – batizado Rotomusic – produzi-
dos, gravados e mixados no estúdio que John e Fernanda têm
em sua casa.
Fugindo do óbvio
Em 18 anos de carreira, a trajetória do Pato Fu pode ser
definida como pouco óbvia. Reconhecido como uma das mais
inventivas bandas brasileiras dos últimos tempos, o quinte-
to – que nasceu trio, em 1992 – se permite experimentar: a
discografia mescla canções tipicamente pop a outras inovações
bem-humoradas, advindas, em sua maioria, da “mente malig-
na” de Jhon, que, no site oficial, afirma que uma velha questão
que aflige a todos os seres humanos – “e se...?” – sempre foi
levada a sério pelo grupo.
“Ao longo desse período, acreditamos que a nossa sonori-
dade tenha evoluído, mas, em contrapartida, temos consciên-
cia de que não acertamos sempre. O diferencial de se ter uma
carreira longa é que você pode testar outros caminhos, se por
acaso não foi feliz em determinado ponto. Mesmo que sejam
discos e turnês diferentes, a essência da banda permanece”,
sentencia Fernanda.
Quando questionada se “Música de Brinquedo” seria o
auge desse processo criativo, ela não hesita em responder.
“Espero que não, pois queremos fazer muitos discos mais!
Este álbum tem uma proposta estética diferente, mas não diria
que é nosso melhor disco. Prefiro os mais autorais, como, por
exemplo, o Ruído Rosa (2001)”, diz a simpática e inquieta vo-
calista, que paralelamente à banda, ainda desenvolve projetos
solo, escreve profissionalmente e é mãe.
Ela conta que, procura gerenciar bem seu tempo para dar
conta de tudo, e que tem gostado muito do papel de mãe e
dona de casa. Ao mesmo tempo, aproveita para confessar que,
quando se trata de trabalho, ainda se sente mais a vontade
Pato Fu reinventa clássicos da música
usando instrumentos de brinquedo
nos palcos, pois “na música, são 18 anos de carreira, contra
cinco anos e meio escrevendo para jornais e revistas”. Fer-
nanda ainda acredita que o cotidiano é sua maior inspiração,
juntamente com o consumo de arte em geral. “Quando temos
muito combustível nesse campo, basta exercitar nossa própria
produção com muita persistência, responsabilidade e dedica-
ção”, ensina.
Todo esse empenho já rendeu bons frutos à Fernanda e
também ao Pato Fu. Durante toda a sua trajetória, a banda
conquistou muitos prêmios por videoclipes na MTV Brasil,
dois Discos de Ouro (Televisão de Cachorro e Isopor) e empla-
cou várias canções nas rádios de todo o país. Mesmo depois
de quase duas décadas, fica evidente que o trabalho – embora
levado a sério – nada mais é do que uma grande diversão
para a banda. Contagiados pelo espírito infantil, os cinco
integrantes vibram a cada nova conquista e almejam chegar
ainda mais longe.
“Queremos continuar vivendo desta música que sabemos
fazer: conquistar plateias novas e não deixar escapar aqueles
que já gostam de nós. O Pato Fu é uma banda que procura
sempre se surpreender em primeiro lugar, depois é que sabe-
remos como o público vai receber cada novo trabalho. Preci-
samos estar felizes com nossa proposta para cada momento
da carreira”, finaliza Fernanda. Por tudo que já demonstra-
ram até agora, é melhor não duvidar que isso é apenas uma
questão de tempo.
• Na turnê de “Música de Brinquedo”, as crianças foram
CurtaZZZ do Pato Fu
substituídas por dois “monstros”, comandados pela trupe
Giramundo
• O primeiro lançamento, “Rotomusic de Liquidificapum”,
aconteceu em 1993 pela Cogumelo Records, selo in-
dependente que tinha na banda Sepultura seu principal
representante
• A banda já participou de grandes festivais como Hollywood
Rock (abrindo para The Cure e Smashing Pumpkins) e Rock
In Rio 3 (na mesma noite de Oasis e Guns’n’Roses)
• O baterista Xande Tamietti tornou-se efetivo da banda
em 1996. Seis anos mais tarde, o Pato Fu ganharia ainda
o reforço do tecladista Lulu Camargo
• Em 2001, a Time Magazine colocou o grupo numa lista
das dez melhores bandas do mundo, junto com Radiohead
e U2, entre outros
• Neste mesmo ano, tiveram a experiência de mixar e
finalizar o álbum “Ruído Rosa” em Londres.
• O Pato Fu já se apresentou em diversos países, como
Japão, Portugal, Inglaterra e EUA
• Ao longo da carreira, diversas músicas foram trilhas de
novela. A regravação de “Ando meio desligado” foi tema
de abertura de “Um anjo caiu do céu”. Atualmente, “Rock
and Roll Lullaby” está em “Ti-ti-ti”
• Na internet: Twitter: www.twitter.com/patofu
Site: www.patofu.com.br e www.fernandatakai.com.br
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