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Enquanto a banda toca uma música suja e distorcida, Ljana Carrion dança, vestindo uma
saia e um corpete. Parece natural no palco, já que foi ela quem escolheu a música uma
semana antes, conseguindo assim o tempo necessário para ensaiar os seus passos. Em
alguns rápidos movimentos – primeiro tira a saia, depois o corpete – a performer já está
apenas de fio-dental na frente de pelo menos cem pessoas, entre homens e mulheres.
Poucos “uhul” ecoam pelo Célula, casa noturna de Florianópolis, e a maioria prefere
assistir a cena calada. Algumas pessoas no local já tinham visto Ljana nua antes em um
filme B repleto de sangue e sexo, chamado Arrombada: vou mijar na porra do seu
túmulo!!!, lançado em 2007.
Ljana Carrion pode ser considerado seu nome artístico, mesmo o tendo criado
aos quinze anos. Hoje, com vinte e dois, ela ainda o utiliza. O verdadeiro, Liana, foi
substituído por Ljana, mais próximo da língua alemã, que a dançarina estudava na
época. Já Carrion quer dizer “putrefato” em inglês, e ela tirou de uma música. O
sobrenome verdadeiro ela não revela. A sua aparência também chama a atenção: o
cabelo mais curto em cima é loiro, enquanto a parte de baixo é castanha. No nariz, dois
piercings: uma argola no meio e outra na narina direita.
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Ljana se apresentou em Florianópolis, Leonardo Dalla Costa, do site EhRock, concorda:
“A nossa idéia não era um strip-tease como numa casa de shows “normal”. Queríamos
algo que mostrasse uma atitude rock'n'roll e a cara da Ljana”.
Saindo de Criciúma e vindo para Florianópolis há um ano junto com sua mãe,
Ljana encontrou uma cena um pouco mais receptiva para esse tipo de “hobbie”. Não são
todas as casas de shows que permitem uma pessoa nua no palco, e nem no Célula nunca
tinha sido feito nada parecido. Mas “tem como desenvolver isso aqui”, comenta.
Questionada se o espaço é parecido com o de outras capitais, ela ri e diz que não há nem
comparação: “As pessoas daqui são muito preguiçosas para sair à noite e conhecer
coisas novas” – por exemplo, suas performances.
Mas foi em uma cidade no extremo oeste de Santa Catarina com ainda menos
espaço para Ljana que ela se tornou a protagonista de um dos filmes mais reconhecidos
na cena do cinema trash. Palmitos, com seus quinze mil habitantes (vinte vezes menos
que Florianópolis), é a sede de uma produtora chamada Canibal Filmes. A Canibal é a
responsável por curtas com nomes como Que buceta do caralho, pobre só se fode!!! e O
nobre deputado sanguessuga.
Petter Baiestorf, com uma cerveja na mão e uma barba de trinta centímetros,
explica como a “atriz”, que nunca tinha participado de nenhuma gravação, entrou para o
elenco do novo filme da Canibal: “Foi tudo bem simples. A Ljana pediu pra participar
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de alguma filmagem comigo, mandei um roteiro e ela topou. Ela foi pra Palmitos, e
gravamos tudo em três dias”.
Mesmo assim, nem o diretor e nem a atriz consideram nenhum dos dois filmes
pornográficos. Petter explica que, no Arrombadas, onde parece haver sexo explícito, na
verdade sequer houve sexo. “Em uma cena onde Ljana sofre uma penetração dupla, a
maior reclamação dos dois atores foi a de que um ficava „roçando‟ no outro”. Segundo o
diretor, a produção encarregou-se de filmar a cena de ângulos que não dependessem de
sexo real para simular o estupro. Ljana Carrion diz que não faria um filme pornô se o
cachê oferecido não fosse realmente alto. Segundo Baiestorf, a atriz ganhou quinhentos
reais para filmar o Arrombadas. Já o preço da performance no Célula ela não conta.
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Produção de “Arrombada: vou mijar
na porra do seu túmulo!!!” (2007)
Performance no bar
Célula, em Florianópolis