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As bruxas wicca acreditam no poder da mulher e adoram uma antiga deusa pagã.
Elas realizam rituais mágicos, celebram a lua e a natureza e encaram a
sexualidade sem culpa. A religião tem mais de 12 milhões de adeptos no mundo,
foi legalizada nos Estados Unidos e não pára de crescer no Brasil.
As bruxas não acreditam em diabo —uma invenção cristã, segundo elas. Nem
fazem rituais satânicos. Para o bruxo Claudiney Prieto, “não existe magia do bem
e do mal. A magia é uma só. O que define resultados negativos ou positivos é a
ação do bruxo. O mesmo remédio pode curar ou matar, dependendo da intenção
com que é manipulado”, explica Prieto, primeiro brasileiro a lançar um livro sobre
o tema, autor de “Wicca, a Religião da Deusa” (editora Gaia). Segundo ele, o que
vale para os bruxos é o princípio da polaridade: “O bem e o mal estão dentro de
nós, não fora. Todos os seres contêm o negativo e o positivo, o feminino e o
masculino”, conclui.
A bruxaria moderna é baseada na mitologia celta (povo que vivia em 700 a.C.
onde hoje é a Escócia, Irlanda e norte da Inglaterra) mas utiliza elementos de
várias civilizações primitivas e muitas vezes recorre às teorias do psiquiatra Carl
Jung, que utilizou a mitologia para explicar a psique humana.
Foram elas que deram o maior impulso ao movimento depois de a religião ter sido
resgatada da clandestinidade pelo bruxo inglês Gerald Gardner, que ousou
publicar um livro em 1949, dois anos antes de cair a última lei contra a bruxaria
na Inglaterra. No Brasil, as bruxas —identificadas pelos seus colares e amuletos
com uma estrela de cinco pontas— estão sobretudo no Rio de Janeiro, São Paulo
e Brasília. Elas se reúnem nos chamados covens, grupos organizados que
ensinam e praticam a Arte, um dos muitos nomes da bruxaria, também chamada
de Antiga Religião ou Religião da Deusa.
A wicca tem várias tradições e por isso os covens, que geralmente têm no
máximo 13 pessoas, seguem uma filosofia básica, mas podem ter atuações
diferentes. Em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, o casal Angélica e Mário
Martinez são, respectivamente, sacerdotisa e sacerdote do coven Ceridween
(nome de uma deusa celta), fundado há dois anos. Martinez tem formação de
publicitário, trabalha numa grande empresa e costuma ser discreto sobre sua
religião. Angélica é gerente de um banco.
“No grupo, a sacerdotisa orienta as pessoas, ameniza conflitos e conduz os
rituais”, explica Angélica. Gaúcha, ela foi criada na religião espírita e conheceu
Mário há sete anos no dia 31 de outubro, o Ano-Novo das bruxas, numa festa de
Halloween. “Mário não me contou logo sobre a bruxaria, mas às vezes me fazia
perguntas estranhas e eu achava que ele era meio maluco”, conta a sacerdotisa,
que depois acabou atraindo toda a família para a nova religião. Para Angélica, a
wicca representou o aumento da percepção e da feminilidade. A religião da deusa
não vê heresia na vaidade feminina. “A natureza é bela e eu faço parte dela.
Cuidar do meu corpo e me enfeitar é uma forma de reverenciá-la”, acredita.
Martinez, o bruxo-sacerdote, tem 47 anos mas aparenta muito menos. “Lidar com
energia revitaliza. A maioria dos bruxos não aparenta a idade que tem”, justifica.
Nascido na Espanha, foi introduzido na bruxaria pelo avô e iniciado por uma
sacerdotisa inglesa, com apenas 17 anos. Em 1970, fundou um coven que durou
cinco anos. Depois os membros se dispersaram e ele pulou de coven em coven
até fundar o atual. O que dificulta o trabalho em grupo, segundo Martinez, é a
resistência das pessoas em enfrentar seus aspectos negativos. “Um coven é
como uma família. Tem que haver confiança, união e amor para que as pessoas
possam expor seus problemas e encarar sua própria violência, inveja e neuroses.
São facetas que todo mundo tem, mesmo sem consciência, mas é possível
transcendê-las com exercícios mentais e meditações. Ou se enfrenta e resolve os
problemas, ou o trabalho não evolui”, explica.
Caldeirão amoroso
Não é necessário ter qualquer dom especial para fazer parte de um coven (eles
serão naturalmente desenvolvidos depois), mas Martinez veta pessoas
emocionalmente instáveis ou interessadas somente em ganhos materiais.
Também não basta ingressar num coven para tornar-se bruxo. A iniciação é
precedida de um período de autodedicação que dura um ano e um dia.
O poder do desejo
Depois de iniciada, cada bruxa aprimora seu dom natural. Pode ter condições de
atuar na natureza, como provocar ou parar a chuva; desenvolver poderes
mediúnicos, como a telepatia; ou habilidades práticas, como manipular ervas.
Mas antes disso é preciso praticar e estudar muito.
Aprendiz de feiticeira
Além dos covens, há vários grupos de estudos de wicca. A religião considera que
para ser bruxa é necessário passar por uma iniciação, mas não é obrigatório filiar-
se a um coven e existem muitas bruxas que se auto-iniciam.
No grupo coordenado por Leny Alves, terapeuta de vidas passadas que estuda
esoterismo desde os anos 80, as aprendizes estão na faixa dos 20. Raquel de
Carvalho, 24, começou sua busca espiritual aos 14, transitou pelas religiões
Seicho-no-Ie, Hare Krishna (chegou a morar um ano no templo) e depois quase
caiu na conversa de um “mago” de araque, que tentou seduzi-la. “Nessa época,
eu fiquei desiludida e rezei para encontrar um caminho de luz.” Quando conheceu
a wicca, Raquel achou que a deusa havia escutado sua prece. Improvisou a auto-
iniciação em sua casa e acredita que o fato de reverenciar uma entidade feminina
é a causa de seu ciclo menstrual ter se estabilizado pela primeira vez na vida e
ela ter conseguido engravidar após quatro anos de tentativas. “A deusa é a
própria natureza. A conexão com essa força mexe com tudo, incluindo o aspecto
fisiológico.”
Fora dos encontros quinzenais, rituais e estudos ficam por conta das aprendizes.
Para a webdesigner Luciana Basbaum, é melhor ser uma wicca solitária do que
entrar em grupos de propósitos duvidosos. “Através da internet, já soube de um
coven onde as mulheres têm que transar com o sacerdote”, denuncia.
Mulheres na fogueira
Feitiço perfumado
“Ao direcionar toda a energia mental para uma situação, cria-se um ato de poder.
O encantamento se faz com essa força”, explica a bruxa Leny Alves.
Sedução
Na sexta-feira, antes do encontro com o homem amado, preparar um banho de
banheira com três punhados de pétalas de rosas vermelhas, três punhados de
cravos-da-índia, três punhados de canela em pau e algumas gotas do seu
perfume usual. Acender uma vela vermelha e tomar o banho, acariciando o
próprio corpo para despertar sua sexualidade. Fazer tudo ritualisticamente, com
atenção e intenção.
Prosperidade
Entre seis da manhã e meio-dia, encher um pote com grãos de milho. Segurar o
pote com as duas mãos e mentalizar tudo o que deseja conquistar, pedindo ajuda
ao sol. Coloque o pote num lugar que funcione como um altar. Todos os dias,
mentalize sua intenção à mesma hora.
Saúde
Preparar dois baldes para o banho. O primeiro com água morna e três punhados
de sal grosso. Derrubar a água sobre o corpo, do pescoço para baixo (não molhar
a cabeça ainda). O segundo balde deve ser preparado com três punhados de
erva sálvia, três punhados de arruda e três punhados de pétalas de rosas
brancas. Acenda uma vela verde mentalizando-se curada. E verta a água desde o
alto da cabeça.
Princípio de imanência
Tudo é sagrado, tudo está ligado. O que afeta um afeta todos.
Magia transformadora
Rituais e encantamentos evocam o mundo sagrado, desenvolvem o poder
pessoal e transformam a vida de acordo com o nosso desejo.
Liberdade responsável
Faça o que quiser, desde que não faça mal a ninguém.
Lei tríplice
Tudo aquilo que é feito, para o bem ou para o mal, retorna triplicado.
Reencarnação
As bruxas acreditam que o corpo morre, mas o espírito não.
Lei da polaridade
Tudo contém o seu oposto. Todas as pessoas têm aspectos femininos e
masculinos. Estados de ânimo e estados mentais negativos podem ser
transformados em positivos.
Alegria e sexualidade
A celebração da vida é a base da bruxaria. A sexualidade é uma manifestação do
poder criador, desvinculada de qualquer noção de culpa ou pecado.
O altar da bruxa
Toda bruxa tem seu altar particular, com instrumentos mágicos. Os elementos
básicos são sempre os mesmos. Mas cada bruxa também pode acrescentar
objetos associados a sua história pessoal ou ao feitiço que deseja realizar.
Pentagrama
A estrela de cinco pontas é o símbolo da bruxa.
Os quatro elementos
Terra, areia, sal e cristais representam a terra; a água pode ser colocada num
cálice; o incenso simboliza o ar; uma vela ou uma lamparina remetem ao fogo.
Bastão
Também pode ser uma espada. Serve para traçar o círculo mágico e impede a
aproximação de energias indesejáveis.
Corda ou fita
Cada nó dado na corda representa um pedido ou intenção.
Athame
Punhal com lâmina dupla, é um símbolo fálico que representa o poder masculino.
Também é usado para traçar o círculo mágico.
Duas velas
Uma para a Deusa, a outra para o Deus.
Caldeirão
Representação do útero feminino, serve também para queimar incenso e fazer
poções com ervas.
Sites de bruxaria
www.abrawicca.cjb.net
br.geocities.com/witchcraft2000_br/
www.abruxa.hpg.com.br
www.geocities.com/caminhodewicca/
www.templodadeusa.com.br/
www.syntonia.com/novaera/claudioamos/
www.geocities.com/pipeline/4048
www.geocities.com/nove_luas/
br.clubs.yahoo.com/clubs/noveluas