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SUJEITOS DAS
INFRAÇÕES. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DE CRIMES.
1. Infração Penal
1.1 – Conceito de infração penal: ato ou efeito de infringir, violar uma lei, ordem ou
tratado. Caracteriza-se por ser ato típico e antijurídico.
1.2 – Elementos das infrações penais: verbo que descreve a conduta, objeto
material (pessoa ou coisa sobre as quais recai a conduta), objeto jurídico (bem
jurídico ou interesse protegido pela norma penal) sujeitos ativo e passivo.
1.4 – Conceito de crime: Dentre outras definições, crime pode ser entendido como
fato humano contrário à lei; qualquer ação legalmente punível; ação ou omissão
contrária ao direito, a que a lei atribui uma pena. De acordo com o art. 1º da Lei de
Introdução ao Código Penal: “considera-se crime a infração penal a que a lei
comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa”.
1.5.1 – Conceito formal: é um ato típico e antijurídico. É, portanto, toda conduta que
atente ou colide frontalmente contra a lei penal editada pelo Estado.
a) Ato típico: ato material que se amolda perfeitamente aos elementos constantes
do modelo previsto na lei penal.
CRIME CONTRAVENÇÃO
Ação pública incondicionada, condicionada Ação pública sempre incondicionada
ou privada
A peça inicial do processo é a denúncia ou a A peça inicial do processo é sempre a
queixa denúncia
A tentativa é punível A tentativa não é punível
O elemento subjetivo é o dolo ou a culpa Basta a voluntariedade
3.1 – Sujeito ativo do crime – é quem pratica o fato descrito na norma penal
incriminadora. Só o homem possui capacidade para delinqüir. A lei emprega várias
denominações para expressar o sujeito ativo do delito: agente; indiciado (durante o
inquérito policial); acusado ou réu (durante o processo), sentenciado, preso,
condenado, recluso ou detento (para quem sofreu condenação). Sob o ponto de
vista biopsíquico, recebe o nome de delinqüente.
Obs: a pessoa jurídica também pode ser sujeita ativa de crime. A Constituição
Federal em seus arts. 173, § 5º, e art. 225, § 3,º determina que a legislação
ordinária estabeleça a punição da pessoa jurídica nos atos cometidos contra a
economia popular, a ordem e econômica e financeira e o meio ambiente. A Lei nº
9.605/98, em seus arts. 3º e 21 a 24, prevê essa responsabilidade com relação
aos crimes ambientais.
3.2 – Sujeito passivo do crime – é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado
pela conduta criminosa. Em regra, toda pessoa humana pode ser sujeito passivo
de crime, mas há casos em que a lei se refere à vítima em suas condições
especiais.
Assim, o sujeito passivo de determinados delitos só pode ser um incapaz, como o
recém-nascido no crime infanticídio (art. 123); menor em idade escolar no
abandono intelectual (art. 246); a mulher, nos crimes de estupro (art. 213) e rapto
(art. 219); o cônjuge traído no crime de adultério (art. 240); o Estado no crime de
peculato (art. 312); a coletividade no crime de porte de arma (art. 14 da Lei nº
10.826/2003). A pessoa jurídica também pode ser sujeito passivo do delito, desde
que a descrição típica não pressuponha uma pessoa física. Assim, uma indústria
pode ser vítima de furto, de dano ou de violação de sua correspondência
comercial. Discordam os autores quanto à possibilidade de a pessoa jurídica ser
sujeito passivo de crime contra honra (calúnia, difamação e injúria). A doutrina
majoritária é no sentido de que a pessoa jurídica não pode ser vítima de calúnia e
injúria, pois não pode ser sujeito ativo do crime que a calúnia pressupõe, nem
possui honra subjetiva (objeto jurídico da injúria), podendo ser vítima de difamação
em face de possuir, inegavelmente, reputação, boa fama (honra objetiva). O
homem morto não pode ser sujeito passivo, pois não é titular de direitos, podendo
ser objeto material do delito. À primeira vista, parece que o morto pode ser vítima
de crimes contra a honra, em face do art. 138, § 2º, do CP dizer que é “punível a
calúnia contra os mortos”. Acontece, porém, que o ultraje à memória dos mortos
reflete nas pessoas de seus parentes, que são os sujeitos passivos. Nos crimes de
destruição, subtração, ocultação e vilipêndio a cadáver (arts. 211 e 212 do CP), o
sujeito passivo é a coletividade, e, em particular, a família do morto. O homem
pode ser sujeito passivo antes de nascer, pois o feto tem direito à vida, sendo esta
protegida pela punição do aborto (arts. 124, 125 e 126 do CP). Os animais e as
coisas inanimadas podem ser objeto material do delito, mas não sujeito passivo.
Disso resulta que em caso de lesão a coisas ou animais, sujeitos passivos são
seus proprietários (furto, dano, etc). Em certos casos é a coletividade, como na
contravenção de crueldade contra animais (LCP, art. 64).
3.3 – Objeto jurídico do delito: é o bem ou interesse que a norma penal tutela.
É o bem jurídico, que se constitui em tudo o que é capaz de satisfazer as
necessidades do homem, como a vida, a integridade física, a honra, o
patrimônio, etc.
3.4 – Objeto material do delito: é a pessoa ou coisa sobre que recai a conduta
do sujeito ativo, como o homem vivo no homicídio, a coisa no furto, o
documento na falsificação. Às vezes, o sujeito passivo coincide com o objeto
material. É o que ocorre no homicídio, em que o homem é o titular do objeto
jurídico (direito à vida) e, ao mesmo tempo, objeto material sobre o qual a ação
incide materialmente. Mas, mesmo nesses casos, como observava Aníbal
Bruno, não se confundem as noções jurídicas do sujeito passivo e do objeto
material do crime. Já no furto, a coisa é o objeto material; o possuidor, o sujeito
passivo.
4.3 – crime comissivo: aquele praticado através de uma ação. Ex: furto (art. 155)
4.4 – Crime omissivo: aquele que ocorre quando o agente deixa de praticar alguma
ação. Ex: omissão de socorro (art. 135)
4.6 – crimes materiais: são aqueles em relação aos quais a lei descreve uma ação
e um resultado, exige a ocorrência deste para que o crime esteja consumado. Ex:
no estelionato (art. 171), a lei descreve a ação (empregar fraude para induzir ou
manter alguém em erro) e o resultado (obter vantagem ilícita em prejuízo alheio), e,
pela forma como está redigido o dispositivo, pode-se concluir que o estelionato
somente se consuma no momento em que o agente obtém a vantagem ilícita por
ele visada.
4.7 – crimes formais: são aqueles em relação aos quais a lei descreve uma ação e
um resultado, mas a redação do dispositivo deixa claro que o crime consuma-se no
momento da ação, sendo o resultado mero exaurimento do delito. Ex: o art. 159 do
Código Penal descreve o crime de extorsão mediante seqüestro: seqüestrar
pessoa (ação) com o fim de obter qualquer vantagem como condição ou preço do
regaste (resultado). O crime, por ser formal, consuma-se no exato momento em
que a vítima é seqüestrada. A obtenção do resgate é irrelevante para o fim da
consumação, sendo, portanto, mero exaurimento.
4.8 – crimes de dano: são aqueles que pressupõem uma efetiva lesão ao bem
jurídico tutelado. Exs: homicídio, furto, etc.
4.9 – crimes de perigo: são os que se consumam com a mera situação de risco a
que fica exposto o objeto material do crime. Exs: periclitação da vida e da saúde
(art. 132), porte de arma (art. 14 da Lei nº 10.826/2003), etc.
4.10 – crimes comuns: são aqueles que podem ser praticados por qualquer
pessoa. Exs: furto, roubo, homicídio, etc.
4.11 – crimes próprios: são os que só podem ser cometidos por determinada
categoria de pessoas, por exigir o tipo penal certa qualidade ou característica do
sujeito ativo. Exs: infanticídio (art. 123), que só pode ser praticado pela mãe, sob a
influência do estado puerperal; corrupção passiva (art. 317), que só pode ser
cometido por funcionário público, etc.
4.12 – crimes de mão própria: são aquele cuja conduta descrita no tipo penal só
pode ser executada por uma única pessoa e, por isso, não admitem co-autoria.
Somente podem ser praticados pelo autor em pessoa Exs: falso testemunho (art.
342), pois ninguém pode mandar outrem praticar falso testemunho em seu lugar,
prevaricação (art. 319), dirigir veículo sem habilitação (art. 309 do CTB), pois só
pode ser cometido por quem está dirigindo o veículo.
4.13 – crimes principais: são aqueles que não dependem de qualquer outra
infração penal para que se configurem. Ex: homicídio, furto, etc.
4.15 – crimes simples: protegem um único bem jurídico. Exs: no homicídio visa-se
a proteção da vida; no furto, protege-se o patrimônio.
4.16 – crimes complexos: surgem quando há fusão de dois ou mais tipos penais,
ou quando um tipo penal funciona como qualificadora de outro. Nesses casos, a
norma penal tutela dois ou mais bens jurídicos. Exs; extorsão mediante seqüestro
(art. 159) surge da fusão dos crimes de seqüestro (art. 148) e extorsão (art. 158) e,
portanto, tutela o patrimônio e a liberdade individual; o crime de latrocínio (art. 157,
§ 3º) é um roubo qualificado pela morte e, assim, atinge também dois bens
jurídicos, o patrimônio e a vida.
4.18 – delito putativo: dá-se quando o agente imagina que a conduta por ele
praticada constitui crime, mas, em verdade, é um fato atípico
4.19 – crime falho: ocorre quando o agente percorre o iter criminis, mas não
consegue consumar o crime. É também chamado de tentativa perfeita.
4.20 – crimes vagos: são os que têm como sujeito passivo entidades sem
personalidade jurídica, como família, a sociedade, etc.
4.24 – crimes de ação livre: são aqueles que podem ser praticados por qualquer
meio de execução, uma vez que a lei não exige comportamento específico. Ex: o
homicídio pode ser cometido através de disparo de arma de fogo, golpe de faca,
com emprego de fogo, veneno, explosão, asfixia, etc.
4.25 – crimes de ação vinculada: são aqueles em relação aos quais a lei descreve
o meio de execução de forma pormenorizada. Ex: o crime de maus-tratos (art.
136), no qual a lei descreve em que devem consistir os maus-tratos para que
caracterizem o delito.
4.28 – crimes a distância: são aqueles em relação aos quais a execução ocorre
num país e o resultado em outro.
4.31 – crime unissubsistente: é aquele cuja ação é composta por um só ato e, por
isso, não admite tentativa. Ex: crime de injuria (art. 140)
4.32 – crime plurissubsistente: é aquele cuja ação é representada por vários atos,
formando um processo executivo que pode ser fracionado e, assim, admite
tentativa. Ex: homicídio, furto.
4.33 – crime doloso (art. 18, I do CP): é aquele cujo agente tem vontade de realizar
a conduta e produzir o resultado.
4.34 – crime culposo: (art. 18, II do CP): é aquele cujo agente não quer e nem
assume o risco de produzir o resultado, mas a ele dá causa por imprudência,
negligência ou imperícia.
4.35 – crime consumado (art. 14, I do CP): é aquele que ocorre quando reúne
todos os elementos do tipo incriminador.
4.36 – crime tentado (art. 14, II do CP): é aquele que ocorre quando o agente inicia
a execução mas não consegue consumar o crime por circunstâncias alheias à sua
vontade.
4.37 – crime impossível (art. 17 do CP): é aquele cuja conduta do agente jamais
poderia levar o crime à consumação, quer pela ineficácia absoluta do meio, quer
pela impropriedade absoluta do objeto. É também chamado de quase-crime.
II - CONDUTA
1. Conduta
1.2 – Teorias sobre a conduta: existem três teorias acerca da conduta: naturalista
ou causal, finalista e social.
a) Teoria naturalista ou causal – essa teoria foi exposta por Franz von Liszt. Para
essa teoria a ação é considerada um puro fator de causalidade, uma simples
produção do resultado, mediante o emprego de forças físicas. A conduta é, assim,
tratada como uma simples exteriorização de movimento ou abstenção de
comportamento, desprovida de qualquer finalidade. Segundo essa teoria, é
totalmente desnecessário, para efeito de caracterização do crime, saber se o
resultado foi produzido pela vontade do agente ou se decorreu de sua atuação
culposa, interessando apenas indagar quem foi o seu causador material. O único
nexo que importa estabelecer é o natural (causa e efeito), desprezando-se os
elementos volitivo (dolo) e normativo (culpa). Desse modo se, por exemplo, um
sujeito estivesse conduzindo seu veículo com absoluta prudência em via pública,
quando sem que pudesse esperar ou prever, um suicida se precipitasse sob as
rodas de seu carro e, em conseqüência, viesse a falecer, para a teoria naturalista,
o motorista, que não quis matar a vítima nem teve culpa nessa morte, cometeu um
homicídio. Em outras palavras, basta a relação natural de causa e efeito entre
conduta e resultado para a existência de crime. O dolo e a culpa são irrelevantes
para o enquadramento típico da conduta. Essa teoria acabou sendo largamente
empregada, até com certo desvirtuamento de seus fins, pelos regimes totalitários,
nos quais o Direito Penal tinha função precipuamente utilitária, atuando como
mecanismo de prevenção social contra o crime.
c) Teoria social – para essa teoria, que tem como um dos maiores expoentes
Hans-Heinrich Jescheck, a ação é a causação de um resultado socialmente
relevante. Assim, o Direito só deve cuidar daquelas condutas voluntárias que
produzam resultados típicos de relevância social. A partir da idéia de que o tipo
legal abarca sempre uma ação ou omissão anti-social, decorre uma importante
conseqüência: se o aspecto social integra o fato típico, para que o agente pratique
uma infração penal é preciso que, além da vontade de realizar todos os elementos
contidos na norma penal, tenha também a intenção de produzir um resultado
socialmente relevante. Pode-se dizer que a finalidade vai além da produção de um
resultado previsto em lei: é necessário, ainda, que o agente queira se comportar de
modo socialmente inadequado, produzindo um dano ou perigo de relevância.
Assim, se um comportamento, embora objetiva e subjetivamente típico, não
afrontar o sentimento de justiça, o senso de normalidade ou de adequação social
do povo, não se pode considerá-lo relevante para o Direito Penal. Por exemplo, um
jogador de futebol que, no calor de uma disputa, desfere um pontapé por trás no
seu oponente quando este se encaminhava com a bola em direção à meta do
agressor. A conduta, embora voluntária e finalística, produziu um resultado que,
apesar de típico, insere-se dentro do que o cidadão médio considera socialmente
compreensível. As críticas feitas a esta teoria residem na dificuldade de conceituar-
se o que seja relevância social da conduta, pois tal exigiria um juízo de valor, ético.
a) preexistentes: atuam antes da conduta. Ex: “A” atira em “B” e este não morre em
conseqüência dos tiros, mas de um envenenamento provocado por “C” no dia
anterior. O envenenamento não possui relação com a conduta de “A”, sendo
diversa de sua origem. Além disso, produziu por si só o resultado, já que a causa
mortis foi a intoxicação aguda provocada pelo veneno, e não a hemorragia interna
traumática produzida pelos disparos. Por ser anterior à conduta, denomina-se
preexistente. Assim, independente, porque não derivou da conduta; e é
preexistente porque atuou antes da conduta.
b) supervenientes: atuam após a conduta. Ex: “A” envenena “B”, que morre
posteriormente assassinado a facadas. O fato posterior não tem qualquer relação
com a conduta de “A”. É independente porque produziu, por si só, o resultado; é
absolutamente independente porque a facada não guarda nenhuma relação com o
envenenamento; é superveniente, porque atuou após a conduta.
b) concomitantes: atuam no mesmo tempo da conduta. Ex: “A” atira na vítima que,
assustada, sofre um ataque cardíaco e morre. O tiro provocou o susto e,
indiretamente, a morte. A causa do óbito foi a parada cardíaca, e não a hemorragia
traumática provocada pelo disparo. Trata-se de causa que, por si só, produziu o
resultado (independente), mas que se originou a partir da conduta (relativamente),
tendo atuado ao mesmo tempo desta (concomitante).
6 – Relevância causal da omissão (art. 13, § 2º): o art. 13, § 2º, do Código Penal
trata da questão do nexo de causalidade nos denominados crimes omissivos
impróprios, também chamados de comissivos por omissão. Nessa espécie de
delito, a simples omissão seria atípica, mas, como o agente tinha um dever de
evitar o resultado e não o fez, responde pelo resultado delituoso que deveria ter
evitado. Estabelece o dispositivo que a omissão é penalmente relevante quando o
omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a
quem:
6.1 tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. Ex: dever de
proteção e assistência para com os filhos. A imposição resulta da lei civil. Assim, o
pai que intencionalmente deixa de alimentar seu filho recém-nascido, causando
sua morte, responde pelo homicídio doloso. O simples fato de não alimentar a
criança uma única vez é atípico, mas, na medida em que o pai tem o dever legal de
alimentá-la e deixou de fazê-lo, provocando com isso a sua morte, responde pelo
crime.
1 – Tipicidade
Com efeito, o art. 121 do Código Penal, ao tratar do crime de homicídio, descreve a
conduta de matar alguém. Assim, quem efetua um disparo e provoca a morte da
vítima tem uma adequação típica direta ou imediata, pois ele a matou. Suponha-se,
entretanto, que alguém tenha apenas emprestado a arma para que o sujeito
matasse a vítima. Ora, quem emprestou a arma não matou ninguém e, em
princípio, não poderia ser punido. A tipicidade de sua conduta, entretanto, decorre
da norma de extensão do art. 29 do Código Penal: quem, de qualquer modo
concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade. Assim, ocorre a adequação típica mediata ou indireta do partícipe,
havendo extensão ao tipo do art. 121. Da mesma maneira, a tentativa seria atípica
não fosse a norma e extensão do art. 14, II, do Código Penal, uma vez que o art.
121, em tese, só pune quem mata e não quem tenta matar mas não consegue.
2 – Tipo penal: é uma norma que descreve condutas criminosas em abstrato.
Quando alguém, na vida real, comete uma conduta descrita no tipo penal, ocorre a
chamada tipicidade. Os tipos penais estatuem proibições de condutas na vida em
sociedade, estabelecendo penas àqueles que venham a desrespeitá-las. Assim,
quando o legislador estabelece uma pena de reclusão, de 6 a 20 anos, para quem
mata alguém, está, em verdade, proibindo a conduta de matar. O tipo penal, para
que consiga descrever a conduta incriminada, serve-se de elementares e
circunstâncias.
3 – Erro de Tipo
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
O erro de tipo é aquele que faz com que o agente, no caso concreto, imagine não
estar presente uma elementar ou uma circunstância componente da figura.
Assim, como conseqüência do erro do tipo, temos a exclusão do dolo. Se a
conduta recai sobre uma qualificadora ou causa de aumento de pena,
desconsideram-se estas. Ex: uma pessoa casa com pessoa já casada, sem
conhecer a existência do casamento anterior. Ela não responde pelo crime, por não
ter agido com dolo, uma vez que desconhecia o fato de já ser casada a outra
pessoa; alguém recebe um veículo idêntico ao seu das mãos do manobrista e o
leva. Não comete o crime de furto porque imagina que o veículo era seu; matar um
homem com um tiro pensando ser um animal.
3.1 – Erro de tipo e delito putativo por erro de tipo – no erro de tipo, o agente não
quer praticar o crime, mas por erro acaba cometendo-o. O agente não sabe que
está cometendo o delito e, portanto, não responde por este. No delito putativo
(imaginário) por erro de tipo ocorre a situação inversa, ou seja, o sujeito quer
praticar o crime, mas por uma errônea percepção da realidade, executa uma
conduta atípica. Ex: uma pessoa quer furtar um objeto que supõe ser alheio, mas
se apodera de um objeto que lhe pertence. Nessa hipótese não se aperfeiçoa a
figura típica do furto, que exige a subtração de coisa alheia móvel e, por isso,
também não há crime. Segundo a doutrina, podem ocorrer as seguintes hipóteses
de delitos putativos:
a) delito putativo por erro de tipo: ocorre quando o agente, por equívoco, imagina
estar praticando todas as elementares de um crime, quando, na verdade, não está.
É o caso da pessoa que furto coisa sua, achando que era alheia e da mulher ingere
substância abortiva sem estar grávida.
b) delito putativo por erro de proibição: ocorre quando o agente supõe estar
praticando um crime, mas, na realidade, não há norma incriminadora definindo o
fato. O erro aqui se refere à existência da norma penal incriminadora. Exs: sujeito
pratica ato no Brasil achando que é crime quando, na realidade, é crime em outro
país;
c) delito putativo por obra do agente provocador: pela Súmula 145 do Supremo
Tribunal Federal, não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna
impossível sua consumação. Trata-se do flagrante preparado. Em resumo, tem-se
entendido que, havendo flagrante por ter sido o agente provocado pela Polícia, há
crime impossível.
- Erro de tipo vencível ou inescusável: quando o agente poderia ter evitado o crime
se agisse com o cuidado necessário no caso concreto. Nessa modalidade, o erro
de tipo exclui o dolo, mas o agente responde por crime culposo, se houver
previsão legal.
- Erro de tipo invencível ou escusável: quando se verifica que o agente não poderia
ter evitado o crime, uma vez que empregou as diligências normais na hipótese
concreta. Nesse caso, exclui-se o dolo e a culpa.
– Erro sobre o objeto: o agente imagina estar atingindo um objeto material, mas
atinge outro. Ex: alguém, querendo furtar um aparelho de videocassete, entra na
casa da vítima e, por engano, acaba pegando o aparelho de som. O erro é
irrelevante e o sujeito responde pelo crime.
– Erro sobre a pessoa: o agente com a conduta criminosa visa a certa pessoa, mas
por equívoco, atinge outra. Ex: querendo matar João, o sujeito efetua um disparo
contra Antonio, que muito se assemelha a João. Nesse caso, o sujeito responde
pelo crime.
Enquanto que no erro de tipo há erro quanto aos elementos constitutivos do tipo
penal, no erro de proibição não há essa falsa percepção da realidade, mas,
simplesmente, uma não apreensão do caráter criminoso do comportamento, ou
seja, o agente careceria da consciência de atuar contrariamente ao direito
(consciência da ilicitude). Assim, por exemplo, um estrangeiro que portasse
pequena quantidade de entorpecente para consumo pessoal, imaginando que tal
fosse permitido entre nós, à semelhança de seu país de origem. Há portanto, erro
de proibição quando o autor supõe, por erro, que seu comportamento é lícito.
Nessa hipótese, o agente atua voluntariamente e, portanto, dolosamente, porque
seu erro não incide sobre elementos do tipo; mas não há culpabilidade, já que
pratica o fato por erro quanto à ilicitude da conduta. Não é possível censurar-se de
culpabilidade o autor de um fato típico penal quando ele próprio, por não ter tido
sequer a possibilidade de conhecer o injusto de sua ação, cometeu o fato sem se
dar conta de estar infringindo alguma proibição. O agente, no erro de proibição, faz
um juízo equivocado sobre aquilo que lhe é permitido fazer na vida em sociedade.
6.2 – Arrependimento eficaz (art. 15, 2ª parte) – o agente, já tendo realizado todos
os atos da execução, mas antes da consumação, pratica uma nova ação, que evita
a produção do resultado. Neste caso, o agente também não responde pela
tentativa, mas apenas pelos atos já praticados. Ex: o agente quebra o vidro de um
carro para furtar o toca-fitas. Após retirá-lo do painel, ele imediatamente resolve
colocá-lo de volta no local.
7 – Arrependimento posterior: é causa obrigatória de redução de pena aplicável
(nos termos do art. 16 do Código Penal) aos crimes cometidos sem violência ou
grave ameaça à pessoa, em que o agente, por ato voluntário, repara o dano ou
restitui a coisa antes do recebimento da denúncia ou queixa. Ex: o agente quebra o
vidro de um carro, furta o toca-fitas, levando-o consigo, entretanto, antes da
denúncia ou queixa resolve devolvê-lo ao proprietário. Se o agente resolve reparar
dano somente após o recebimento da denúncia ou queixa, incidirá apenas a
atenuante genérica do art. 65, III, “b”.
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado
o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.