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Processo de Execução
O direito a uma prestação é o poder jurídico conferido a alguém, para
exigir de outrem o cumprimento de uma prestação (conduta), que pode ser:
um fazer, um não-fazer, ou um dar (dinheiro ou coisa distinta). Este direito a
uma prestação precisa ser concretizado no mundo físico através da
realização da prestação devida.
Tutela jurisdicional executiva (execução) significa realizar o direito
material almejado pelo jurisdicionado, satisfazer o seu direito, entregar a
prestação jurisdicional em sua plenitude. Executar é fazer com que o
Estado, e somente ele, através da provocação da jurisdição, decida e
aplique ao caso concreto a realização do direito. O Estado juiz, através de
vários atos processuais, irá invadir a esfera patrimonial do devedor, para
compeli-lo a cumprir a prestação do título judicial ou extrajudicial.
Cabe ressaltar que na prestação do título extrajudicial não há
processo de conhecimento, o início da prestação jurisdicional é a própria
execução do título extrajudicial (a execução surgirá de forma autônoma). A
princípio, não há nem o contraditório.
A primeira codificação processual no Brasil ocorreu em 1939, o nosso
primeiro CPC. Antes disso, havia um decreto que era pouco abrangente. No
século XIX, iniciou-se um movimento de separação entre o processo civil e o
direito civil. Distinguiu-se assim o direito material do direito processual,
dando autonomia a esse último. Com o passar do tempo e com grande
influência da escola italiana, desenvolveu-se o processo de conhecimento
(Chiovenda), o processo de execução, e o processo cautelar. Alfredo dos
Aires, que elaborou o CPC de 1973, se pautou nessa influência italiana.
Apesar de serem autônomos, o direito material e o direito processual não
podem ser estudados separadamente.
Cabe lembrar que o processo de execução iniciou-se pensando
somente na obrigação de ressarcir, pagar (obrigação pecuniária). Com o
tempo, o processo de execução foi aprimorado, tendo como auge a Lei
11.232/05, que operou uma sensível reforma para o título executivo
extrajudicial, e a Lei 11.382/06, que também inovou nesse tema.
Atualmente, há o Princípio da “Atipicidade dos Meios Executivos”, criando
uma grande modificação, pois, antes dessa reforma, o magistrado só estava
autorizado a praticar atos executivos previamente expressos na lei, por
conta até da segurança jurídica. Depois das reformas, vigorou a atipicidade,
como grande exemplo há o art. 461, §5º, CPC que fala de “medidas
necessárias”, exibindo um rol exemplificativo. Assim, atualmente, a tutela
jurisdicional é efetiva.
Há duas formas de se executar, uma fundada em título executivo
judicial e outra fundada em título executivo extrajudicial. Para o título
judicial, há uma pré-fase, o processo de conhecimento, para liquidar a
obrigação antes de a executar. Para o título extrajudicial, não existe esta
pré-fase, não estando sujeito à liquidação (em regra), por ser líquido, certo
e exeqüível. Somente em caráter de exceção há a liquidação da obrigação
para executar um título extrajudicial.
Após a liquidação, em ambas as formas, se inicia o processo de
execução. O clássico exemplo de execução é a penhora, onde há invasão do
patrimônio do devedor. Como regra, o devedor responde com todos os seus
bens para cumprir a execução da obrigação. Em exceção há os bens
absolutamente impenhoráveis e o bem de família. Após a penhora, leva-se o
bem à hasta pública, ao leilão, para que seja vendido e o valor da venda
seja revertido para cumprir a obrigação de pagar. Com o pagamento,
extingue-se a execução.
Executar é satisfazer uma pretensão declarada, reconhecida em um
título executivo. O Estado-juiz promove a execução mediante atos ou
técnicas processuais, capazes de invadir a esfera patrimonial do devedor,
para satisfação de um direito.
A execução pode ser espontânea (voluntária ou direta), quando o
devedor cumpre voluntariamente a prestação (não há invasão ao
patrimônio do devedor), ou forçada (ou direta), quando o cumprimento da
prestação é obtido por meio da prática de atos executivos pelo Estado (há
invasão no patrimônio do devedor).
A execução surge ou pode surgir de forma autônoma ou ser apenas
uma fase de um procedimento. Na primeira, significa dizer que não há um
processo em curso. Na segunda, já existe um processo em curso,
tramitando em juízo, sendo a execução apenas uma fase posterior à fase de
conhecimento, havendo o juiz já conhecido da questão e declarado um
direito.
Cabe ressaltar que ainda remanesce o processo autônomo de
execução (art. 475-N CPC), em caráter de exceção, de sentença penal
condenatória transitada em julgado, de sentença arbitral (que não é
jurisdicional), de sentença estrangeira homologada pelo STJ e do acórdão
que julgar procedente revisão criminal. Também subsiste o processo
autônomo de execução de sentença proferida contra o Poder Público.
- Classificação da Execução:
1. Comum ou Especial:
A execução comum é uma obrigação de pagar, de fazer, de não fazer,
de entrega de coisa ou emissão de declaração de vontade, que servem a
uma generalidade de créditos.
Execução especial, significa dizer que existe um procedimento
próprio a ser observado, que ele não se dará nas formas de execução
comum, tendo como exemplo a execução contra a Fazenda Pública, que
possui um procedimento próprio, com a peculiaridade de que a Fazenda
Pública não é citada e pode opor embargos à execução. Outro tipo é a
execução de alimentos, que possui um rito especial próprio, inserido na Lei
de Alimentos.
2. Direta ou Indireta:
A execução pode ser direta ou indireta. Relaciona-se aos meios
coercitivos. A execução direta (execução por sub-rogação) é sinônima de
execução forçada, onde o Estado invade a esfera patrimonial do devedor,
em substituição à conduta deste (ex.: transformação, busca e apreensão,
expropriação, etc). O Poder Judiciário prescinde de colaboração do
executado para efetivação da prestação devida.
3. Definitiva ou Provisória:
A execução de título judicial pode ser definitiva ou provisória (art.
475-I §1º). A execução provisória ocorrerá quando se tratar de decisão
judicial ainda passível de alteração, em razão de pendência de recurso
contra ela interposto (art. 475-O), a não ser que o recurso seja recebido em
seu duplo efeito (suspensivo e devolutivo). Já a execução definitiva,
ocorrerá quando não houver mais recurso cabível, quando a decisão tiver
transitado em julgado (salvo na hipótese de nulidade), não havendo
exigências adicionais para o credor-exequente (art. 475, I, §1º).
Para o título executivo extrajudicial, em regra, a execução é
definitiva. Porém, o devedor poderá não pagar a dívida e apresentar
embargos à execução. Se a sentença julgar os embargos improcedentes,
poderá haver apelação, fazendo assim com que a execução se torne
provisória (art. 587 CPC, alterado pela Lei 11.382/2006, em dissonância com
jurisprudência sumulada do STJ).
4. Princípio da Boa-fé Processual (Art. 14, II c/c art. 600, IV, CPC):
A boa-fé processual deve nortear todo o trâmite processual, inclusive
na execução. Como exemplo, quando o juiz determina que o réu indique
bens à penhora e esse se nega ou dá informação incorreta, sofre uma
sanção (art. 601, CPC).
Título Executivo
Liquidação da Sentença:
A sentença (lato sensu) é um título executivo judicial. Trataremos
aqui da liquidação da sentença, do julgado. A obrigação pode estar inserida
tanto na sentença quanto no acórdão e não ser líquida. Cabe lembrar que o
título executivo extrajudicial, em regra, não poderá ser liquidado, somente
quando houver conversão da obrigação em perdas e danos.
A) Modelos de Liquidação:
1. A liquidação pode surgir através de processo autônomo (inc. IV, V, VI, art.
475-N);
2. Pode surgir como uma fase do processo (fase executória);
3. Ou pode surgir através de um incidente.
A liquidação como processo autônomo é uma exceção (ex: sentença
arbitral). A liquidação como fase do processo é a regra, o meio mais comum,
o juiz irá sentenciar e após iniciar-se-á a fase de execução. A liquidação
incidental é aquela que surge através de um incidente processual, por
exemplo, quando o juiz determina a obrigação de entrega de coisa
(automóvel, por exemplo) e não se faz possível o cumprimento na forma
determinada, o cumprimento ocorrerá através de perdas e danos.
Cognição na liquidação:
Pode haver cognição na liquidação. O réu poderá oferecer algumas
“defesas” em sede de liquidação, apesar de não haver previsão legal nesse
sentido. Entretanto, há um entendimento majoritário dizendo que se pode
aplicar analogicamente a defesa nos casos do art. 475-L, sob forma de
impugnação. Qualquer fato que cause a inexigibilidade do título, que seja
superveniente à sentença do processo de conhecimento, deve ser suscitado
no momento da execução. A defesa oferecida (por exemplo, a exceção de
pré-executividade), ensejará o exercício da cognição pelo magistrado.
Espécies de liquidação:
Haverá liquidação todas as vezes que a sentença não determinar o
valor devido da prestação, não individualizar a obrigação.
a) Liquidação por cálculos (art. 475-B): é a mais tradicional, a mais
simples. Há doutrinadores que afirmam que não é espécie de liquidação,
pois implica necessariamente a aplicação de simples regra matemática,
seria para essa corrente uma simples operação aritmética.
Existem quatro hipóteses que podem incorrer nessa espécie de
liquidação:
- 1ª Hipótese (art. 475-B, caput): o autor apresenta a planilha de
cálculos, o réu concorda com a planilha, com os cálculos, e passa-se à
execução.
- 2ª Hipótese (art. 475-B, §3º): o juiz verifica ex officio a
incorreção dos cálculos e remete ao contador judicial. Pode ocorrer em caso
de benefício de gratuidade de justiça ou quando o juiz verificar que os
cálculos do autor estiverem equivocados.
- 3ª Hipótese (art. 475-B, § 4º): se o contador apresentar planilha
diferente da apresentada pelo autor, o devedor será intimado para pagar o
valor apresentado pelo autor, porém a penhora, constrição, será baseada
necessariamente nos cálculos do contador judicial.
- 4ª Hipótese (art. 475-B, §§ 1º, 2º e art. 362): caso o autor
precise de documentos que estão em poder do réu ou de terceiros, para que
possa apresentar os cálculos, o juiz intimará o réu ou terceiro, para
apresentação de tais documentos. Caso o terceiro não apresente os
documentos, o juiz utilizar-se-á da busca e apreensão. Se o documento
estiver em poder do réu, reputar-se-á a presunção de legalidade do cálculo
apresentado pelo autor. Caso não se logre êxito em localizar os
documentos, faz-se a execução por estimativa. É importante diferenciar do
caso em que há necessidade de nomeação de contador judicial, que será
caso de liquidação por arbitramento.
PENHORA