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RECURSOS DIDÁTICOS ALTERNATIVOS PARA A COMPREENSÃO DOS

PROCESSOS EROSIVOS NO MUNICÍPIO DE CACEQUI-RS

Silene Raquel Saueressig1


Cristina Cippolat Limana2
Edgardo Ramos Medeiros3

RESUMO:
Esse artigo refere-se ao projeto de extensão - 2009, realizado no município de
Cacequi no Estado do Rio Grande do Sul, junto a Escola Municipal Eulalia Irion, com
as turmas de 5º e 6º séries. No projeto aborda-se sobre a questão da educação
ambiental, na disciplina de Geografia, em relação aos processos erosivos dos solos
os quais são significativos naquela região. Para o desenvolvimento do projeto foram
confeccionados, como recursos didáticos alternativos, uma cartilha contendo fotos e
imagens da região e alguns conceitos importantes sobre rochas, minerais, formação
dos solos, degradação ambiental, entre outros. Utilizamos, também, maquetes e
realizamos, ainda, uma saída a campo na Voçoroca do Macaco Branco, também
localizada neste município.

PALAVRAS – CHAVE: educação ambiental, processos erosivos, solos.

1
Autor – Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal de Santa Maria, integrante do
Laboratório de Geologia Ambiental (LAGEOLAM) – silenepitanga@hotmail.com.br.
2
Co-autor - Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal de Santa Maria, integrante do
Laboratório de Geologia Ambiental (LAGEOLAM)– cristina.limana@yahoo.com.br
3
Orientador – Professor Titular do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) – edgardo@smail.ufsm.br
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INTRODUÇÃO

Os solos constituem-se em um recurso natural de fundamental importância


para a sociedade. Este pode ser entendido como o “sustentáculo da vida e todos os
organismos terrestres dele dependem direta ou indiretamente. É um corpo natural
que demora para nascer, não se reproduz e “morre” com facilidade. (LIMA, 2007, p.
02). Assim, devido a escala de tempo para sua formação o solo é considerado como
um recurso não-renovável.
Deste modo, em função de sua grande importância social, vem
desenvolvendo-se uma série de leis que buscam a preservação e manutenção dos
solos. Neste âmbito, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, insere-se
nas escolas a educação ambiental, como um tema transversal, o qual deve ser
trabalhado nas diversas disciplinas.
Alguns municípios localizados na região centro-oeste do Estado do Rio
Grande do Sul, incluindo-se o município de Cacequi, apresentam forte
desenvolvimento de processos erosivos como, ravinas, voçorocas, formação de
areais e consequentemente, o assoreamento significativo de muitas drenagens.
A vulnerabilidade dessa região aos processos erosivos está vinculada,
principalmente, a região geomorfológica, denominada de Depressão Central, a qual
constitui-se em uma região sedimentar. Contudo, a ação antrópica vem acelerando
os processos erosivos de modo significativo, através do uso intensivo do solo e da
retirada abusiva da vegetação nativa.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) estima-
se que no Brasil “o total de terras arrastadas pelas enxurradas é calculado em torno
de 2 a 2,5 bilhões de toneladas, anualmente”. Com vistas a esses números, busca-
se ressaltar a importância da conservação e preservação do solo, uma vez que
muito pouco pode ser feito após o solo ser erodido.
Assim sendo, buscou-se contribuir com a ciência geográfica, sobretudo nos
estudos relacionados à questão ambiental, desenvolvendo-se um sistema
metodológico de conhecimentos teórico-práticos, totalmente voltados para a região
oeste do estado, utilizando-se de materiais alternativos, como, sobretudo, a
confecção de uma cartilha, de maquetes e de saída a campo.
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1.1 PROCESSOS EROSIVOS

Um dos agentes externos mais importantes na transformação da paisagem é


a erosão. Existem vários tipos de erosão, no entanto, a erosão causada pela água
da chuva constitui-se no processo erosivo de maior relevância aqui no Estado do Rio
Grande do Sul.
Os processos erosivos desenvolvem-se de acordo com as características de
cada local ou região. Deste modo, devem ser consideradas questões referentes à
geologia, geomorfologia e pedologia, a vegetação e, sobretudo, a interferência da
ação antrópica.
A erosão é um processo natural e ocorre em todas as paisagens, seu
conceito está ligado ao “desgaste da superfície do terreno com a retirada e o
transporte dos grãos minerais” (BIGARELLA, 2005, p. 884). Seu processo inicia-se
quando a gota d’água da chuva atinge o solo desprotegido. Assim, o impacto da
gota desagrega as partículas do solo favorecendo, então, a selagem deste e a
formação de poças d’água. Este processo inicial de desagregação do solo é
conhecido de acordo com GUERRA (2005, p. 175), por splash, ou ainda, erosão por
salpicamento.
Quando as poças se rompem inicia-se outra etapa do processo erosivo: o
escoamento em lençol. Através deste, aos poucos, formam-se pequenos sulcos, os
quais podem evoluir para ravinas. Caso a água continuar escorrendo de forma
concentrada nas ravinas, aprofundando-se tanto lateral como verticalmente, esta
poderá evoluir para uma voçoroca. De acordo com GUERRA (2005, p. 183), as
voçorocas apresentam “paredes laterais íngremes e, em geral, fundo chato,
ocorrendo o fluxo de água no seu interior durante os eventos chuvosos. Algumas
vezes, as voçorocas se aprofundam tanto, que chegam a atingir o lençol freático”.
A região oeste do estado constitui-se em uma área vulnerável aos processos
erosivos por estar localizada na região geomorfológica conhecida como Depressão
Central. Esta área é formada, basicamente, por rochas sedimentares oriundas das
Formações Botucatu e Guará.
Contudo, o forte desenvolvimento de ravinas, voçorocas e areais, na maioria
das vezes, está vinculado à retirada da vegetação nativa e do uso intensivo do solo
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através da atividade agropecuária. De acordo com BIGARELLA (2003, p. 884) “a
erosão acelerada afeta principalmente as vertentes mais íngremes, as encostas
mais arenosas, ou aquelas despidas de vegetação, bem como as terras utilizadas
inadequadamente na agricultura, as quais se tornam, em pouco tempo, degradadas
e impróprias ao uso”.

1.2 MAQUETES E CARTILHA

Nas escolas, percebe-se a importância do livro didático nas aulas de


Geografia, em função de suas ilustrações – figuras ou imagens – as quais são
fundamentais para uma criança conseguir abstrair o sentido de alguns conceitos e
paisagens geográficas. Apesar disso, apresenta-se uma lacuna com relação às
características geográficas locais ou, até mesmo regionais, considerando-se que o
livro didático é amplo e bastante sintético, principalmente com relação aos
processos de degradação ambiental que se desenvolvem na região.
Para muitos alunos, o livro didático é uma das principais referências, se não a
única, de um material de leitura que possa lhe acrescentar algum tipo de saber.
Mesmo nas escolas, o acesso à diversidade de instrumentos de ensino, a exemplo,
o acesso a internet, maquetes, livros científicos, atlas são, ainda, bem restritos,
sendo o livro didático o recurso mais abundante.
Pensando nessas circunstâncias é que se desenvolveu a cartilha e as
maquetes, visando sempre um melhor aproveitamento do projeto por parte dos
alunos.
As maquetes são instrumentos que proporcionam à criança o entendimento
real do relevo através da tridimensionalidade das mesmas. Assim, “a maquete
aparece como o processo de restituição do “concreto” (relevo) a partir de uma
“abstração” (curvas de nível), concentrando-se aí sua utilidade” (SIMIELLI, 1991,
p.06).
A cartilha, por vez, foi confeccionada com textos em linguagem acessível,
fotos e imagens da região, as quais exemplificam os textos e tornam o conteúdo
menos abstrato e, também, mais interessante, já que os alunos se identificam com
as fotos que veem.
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1.3 SAÍDA A CAMPO

As saídas a campo constituem-se em um instrumento importante para a


materialização do conteúdo estudado em sala de aula pelos alunos.
Durante a saída a campo os alunos podem caminhar ao redor das voçorocas,
ver o afloramento do lençol freático, como se dá a evolução da voçoroca através do
desbarrancamento lateral, ver a importância das raízes das árvores no processo de
segurar a parede da voçoroca, entre outros, e compreender o grande problema que
estes processos de erosão causam ao meio ambiente. Juntamente com estas
constatações podem ser retomados os temas sobre erosão, preservação do solo e a
importância vegetação da região com relação à diminuição da erosão e proteção do
solo.
As saídas a campo devem sempre ser valorizadas e realizadas na medida do
possível. Através do apoio de instituições a escola consegue inserir-se na sociedade
efetivamente e melhorar a qualidade do ensino, visto que o enfoque dado pelo
professor em campo materializa o conteúdo trabalhado em sala de aula, e é neste
sentido que,
O estabelecimento de laços com instituições, como órgãos de governo,
universidades, organizações não-governamentais, empresas e centros
culturais, possibilitam um rico aprendizado, visto que a aprendizagem in
loco de educação ambiental também é parte integrante do ensino da
temática ambiental. O envolvimento do educando com os problemas locais
adquire um maior significado, podendo resultar na participação da escola
nos movimentos de defesa do meio ambiente. Dessa forma, um dos
princípios a serem observados no ensino da educação ambiental, ou seja, a
abrangência, será contemplado, já que a referida modalidade da educação
conseguirá atingir a totalidade dos grupos sociais (CASTRO; SPAZZIANI;
SANTOS, 2008, p. 172).

2. MATERIAL E MÉTODO

Para um possível desenvolvimento do pensamento crítico da realidade com


relação à degradação ambiental, buscou-se o entendimento não só dos aspectos
naturais como também antrópicos. Assim sendo, procurou-se adotar o método
geossistêmico, que conforme FIDELIS (2009, p.4), “deriva da Teoria Geral dos
Sistemas de Bertalanffy, e é definido como um conjunto de elementos
interdependentes que interagem com objetivos comuns formando um todo”. De
acordo com MOREIRA (2000, p. 30), “o famoso artigo de Georges Bertrand (1968)
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representa o marco inicial – pelo menos entre nós – da proposta de Paisagem e
Geografia Física Global, através do Geossistema, que emerge como novo
paradigma”.
Procura-se, deste modo, uma reflexão não apenas sobre os aspectos físicos
referentes à geologia, geomorfologia, clima, vegetação, como, sobretudo, a ação
antrópica a qual tem sido apontada como um dos principais agentes no processo de
aceleração da degradação ambiental. Deste modo, acrescenta-se que:

Fica bem claro que o geossistema e sua análise é uma tentativa de melhoria
na investigação da “Geografia Física”. Fica também muito claro que a
modelização dos geossistemas à base de sua dinâmica espontânea e
antropogênica e do regime natural a elas correspondente visa, acima de
tudo, promover uma maior investigação entre o natural e o humano
(MOREIRA, 2000, p. 47).

Assim, na busca de se atingir esse entendimento de relações entre o meio


natural e humano, procurou-se desenvolver instrumentos que viabilizassem o
aprendizado por parte dos alunos de 5ª e 6ª séries. Para tanto, desenvolveu-se
alguns instrumentos de apoio como a cartilha, as maquetes, amostras de minerais e
rochas para manuseio e visualização dos alunos, além de uma saída a campo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com relação à construção das maquetes e da cartilha os resultados foram


satisfatórios, dentro do que se esperava. Foram construídas três maquetes, uma
correspondendo às províncias geomorfológicas do estado do Rio Grande do Sul
(figura 01) e duas mostrando o desenvolvimento dos processos erosivos (figura 02)
todas muito claras no que estava se querendo representar e ensinar aos alunos.
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Figura 01: Províncias Geomorfológicas do Estado do Rio Grande do Sul.


Org.: SAUERESSIG, S. R.

Figura 02: Representação do desenvolvimento de uma voçoroca.


Org.: SAUERESSIG, S. R.

A cartilha, que tinha por objetivo ser um instrumento de auxilio para melhor
exemplificar os conteúdos, foi desenvolvida com textos simples, de fácil
compreensão para os alunos, com figuras que facilitam o entendimento de um tema
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quando este ainda é desconhecido, ou por vezes, difícil de ser imaginado como,
por exemplo, o movimento das placas tectônicas, o ciclo das rochas e até mesmo a
estrutura do planeta, além das fotos que retratam com clareza os problemas da
região onde eles vivem como o desenvolvimento dos processos erosivos, a exemplo
as voçorocas, o assoreamento dos rios, a insuficiência de mata ciliar.
Quanto aos alunos, estes se mostraram interessados, questionadores dos
conteúdos, curiosos com relação aos temas abordados e mesmo em sala de aula
conseguiam fazer algumas correlações com situações vividas em seus cotidianos,
além de conseguirem adotar uma linguagem mais técnica em seus questionamentos
ao final do projeto. Durante a saída a campo (foto 01) os alunos conseguiam
correlacionar os fenômenos de erosão com, por exemplo, a formação de bancos de
areia no leito dos rios indicando o assoreamento do canal do rio. O desenvolvimento
de voçorocas, ravinas, afloramento do lençol freático também foram trabalhados.

Foto 01: Saída a campo com os alunos de 5ª e 6ª séries da Escola


Municipal Eulália Irion, Cacequi-RS.
Fonte: SAUERESSIG, S. R.

Por conseguinte, em uma análise qualitativa, este projeto alcançou um nível


muito bom de aproveitamento. Nem sempre os alunos conseguem correlacionar os
fenômenos com suas causas e consequências, pois isto exige uma visão ampla de
conhecimentos e de abstração da paisagem.
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4. CONCIDERAÇÕES FINAIS

Todo trabalho que visa educação ambiental é de grande importância nos dias
atuais, principalmente quando aplicado junto a crianças ou alunos jovens.
Esperamos que o projeto venha como ponto de partida para um melhor
entendimento entre as relações do ser humano e da natureza e que resulte em um
futuro com uma sociedade mais bem preparada nas tomadas de decisões, de
planejamento e manejo do meio ambiente.
Para que o trabalho seja bem desenvolvido e que se obtenham bons
resultados, é importante muita dedicação e empenho por parte de todas as pessoas
envolvidas no projeto. Da mesma forma, é de grande importância a oportunidade
oferecida pela Universidade, pois permite vencer as barreiras e ir em busca de
desafios, que se bem orientados resultam em boas obras.
Assim, temos como cumprido um de nossos papeis aqui nesta Instituição
Federal, a de atuar junto à sociedade e buscar melhorar o ensino brasileiro, tão
precário, por sinal, e isto com técnicas simples, porém, muito eficientes como as
maquetes e as saídas de campo.

REFERÊNCIAS

BIGARELLA, J. J. Processos erosivos. In:_. Estrutura e origem das paisagens


tropicais e subtropicais. Florianópolis: Ed UFSC, 2003. v. 3, cap15, p.884-938.

CASTRO, R. S. de. SPAZZIANI, M. de L. SANTOS, E. P. dos. Universidade, Meio


Ambiente e Parâmetros Curriculares Nacionais. In:_. Sociedade e Meio Ambiente:
a educação ambiental em debate. São Paulo: Cortez, 2008. cap 5, p. 157-179.

FIDELIS, A. C.; FERREIRA, I. M. Estudo da paisagem numa abordagem


geossistêmica. In: XI SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA DA UFG, 11., 2009,
Goiás. Anais eletrônicos... Goiás: UFG, 2009. Disponível em:
<http://www.cchla.ufrn.br/geoesp/arquivos/artigos/ArtigoAmbienteRecife.pdf>.
Acesso em: 09 dez. 2009.

GERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da (org.). Processos erosivos nas encostas. In:_.


Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 6ª ed. Rio de janeiro:
Bertrand Brasil, 2005. cap. 4, p. 149-197.
10
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/solo/degradacao.html>.
Acesso em: 11 dez. 2009.

LIMA, V. C.; LIMA, M. R. de. Formação do solo. In_.: O solo no meio ambiente:
abordagem para professores do ensino fundamental e médio e alunos do ensino
médio. Curitiba: Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, 2007. cap 1, p. 1-11.

MOREIRA, C. A. de F. Geossistemas: a história de uma procura. São Paulo:


Contexto, 2000.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA ENSINO FUNDAMENTAL.


Disponível em:<http://www.zinder.com.br/legislacao/pcn-fund.htm> Acesso em: 08
dez. 2009.

SIMIELLI, M. E. R. Do Plano ao Tridimensional: a maquete como recurso didático.


Separata do Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n. 70, p. 5-21, 1991.

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