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RESUMO
As atuais características do ambiente de negócios têm conduzido as pequenas e médias
empresas a buscar estratégias que permitam sua permanência no mercado. Neste estudo, a
alternativa aparece sob a forma de organização em redes de cooperação a partir de um projeto
de políticas públicas criado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul e implementado na
região noroeste do Estado, em parceria com a Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Para compreender o processo de estruturação das redes e os
fatores críticos de sucesso da constituição delas, com base nos questionamentos propostos
pelo problema e objetivos da pesquisa, a metodologia utilizada constituiu-se num estudo de
caso múltiplo, enquadrado nas características das abordagens quanti-qualitativa (Trivinõs,
1987). Apresenta-se a descrição do Programa Redes de Cooperação e uma rápida
contextualização de duas redes de indústrias, caracterizando dois setores distintos, confecções
e metalurgia. Identifica-se os mecanismos de coordenação e as relações do processo de
formação e consolidação das redes de cooperação com o processo de desenvolvimento local e
regional, estabelecendo, por fim, um conjunto de fatores considerados críticos no processo de
formação, desenvolvimento e manutenção das redes de cooperação do tipo horizontais.
Introdução
As redes de empresas vêm surgindo como uma alternativa para as pequenas empresas,
que detêm um alto índice de mortalidade ainda nos primeiros dois anos de existência e que
vêem na atuação conjunta, uma estratégia que pode gerar vantagem competitiva na disputa
com grandes empresas, garantindo sua sobrevivência e crescimento. Nesse contexto, as
empresas têm buscado garantir sua permanência no mercado competitivo através de uma nova
lógica organizacional. O novo ambiente dos negócios exige mudança no modelo empresarial
da pequena empresa, que precisa buscar na parceria o meio de sobrevivência. Nesse contexto
altamente competitivo, o associativismo e a cooperação aparecem como estratégia às
pequenas empresas para conseguirem força competitiva (Casarotto Filho e Pires, 1999).
Como um fenômeno que vem tomando proporções cada vez maiores, as redes de
cooperação têm sido objeto de profunda análise e se constituem em projeto no âmbito de uma
política pública, no Estado do Rio Grande do Sul, como forma de fomento ao
desenvolvimento de pequenas e médias empresas.
Denota-se hoje a importância que vários autores (Bandeira e Becker, 2000; Barquero,
2002; Kliksberg, 2001; Putnam, 1996; Casarotto Filho e Pires, 1999) têm dado em relação ao
desenvolvimento endógeno e a importância das pequenas empresas no processo de
desenvolvimento local. As articulações entre empresas, entidades de apoio, órgãos públicos e
universidades aparentemente têm contribuído para o desenvolvimento de suas localidades.
Considerando o fato de que as redes de empresas fomentam a cooperação entre os parceiros e
possibilitam essa importante articulação entre setores importantes da economia local, através
da geração de empregos, da capacitação de pessoal, da geração de impostos, entre outros,
certamente o sucesso dessas redes interessa a toda a sociedade.
Para Porter (2000, p.27), a “receita” para a prosperidade passa pela mobilização de
todos os atores locais na busca de construir um ambiente propício à competição onde
encontram-se novas idéias, novas formas de fazer as coisas e, particularmente, da capacidade
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dos atores, em montar esse contexto. “A ironia é que, quanto mais globalizada for a economia,
mais ligada ao local serão as vantagens competitivas”. Nesse contexto, a cooperação entre
empresas e todos os atores da sociedade civil, precisam fazer parte desta solução.
Para Castells (2001), a história recente apresenta as redes como novas formas
organizacionais de sobrevivência. Para esse autor, “as redes são e serão os componentes
fundamentais das organizações”. A integração em redes tornou-se a chave da flexibilidade
organizacional e do desempenho empresarial.
Diante da importância da organização em redes para aumentar a competitividade das
PMEs e promover o desenvolvimento local/regional, tornou-se fundamental nesse estudo
saber como criar, manter e desenvolver uma rede horizontal de cooperação entre PMEs;
descobrir quais os fatores críticos de sucesso; como o processo gerencial das redes interfere
no gerenciamento das PMEs; e como a gestão das PMEs interfere de forma positiva ou
negativa na gestão das redes.
Buscou-se, assim, analisar os resultados de uma experiência de constituição de redes
interorganizacionais, identificar suas estratégias competitivas e o impacto dessa iniciativa no
processo de desenvolvimento regional. O estudo abrangeu a análise das redes Agivest e
Metal, constituídas a partir de uma política pública incentivada pelo Governo do Estado.
A estrutura do artigo apresenta, na seqüência, os objetivos norteadores do estudo; os
aspectos metodológicos empregados na pesquisa; uma rápida caracterização do programa
fomentador das redes de cooperação; e uma análise comparativa dos fatores críticos de
sucesso no processo de formação, desenvolvimento e manutenção das redes dos dois casos
analisados. Finalmente, traz algumas inferências sobre as relações destas redes com o
desenvolvimento local e regional.
1. Os objetivos do estudo
Os objetivos do estudo foram identificar os fatores críticos determinantes no processo
de formação, desenvolvimento e manutenção das redes horizontais de cooperação Agivest e
Metal, que proporcionaram vantagens competitivas e condições de sobrevivência das
organizações associadas às redes. Mais precisamente, buscou-se mostrar a evolução de
empresas associadas a partir da criação das redes; identificar os mecanismos de coordenação e
as estratégias competitivas das empresas participantes e das redes como um todo; e destacar
as possíveis relações do processo de formação e consolidação das redes de cooperação com o
processo de desenvolvimento local e regional.
A partir das evidências empíricas, foi possível classificar as redes sob o enfoque
teórico de alguns autores que dissertam sobre tema, validando a análise sob algumas
tipologias de redes e modelos de desenvolvimento.
Quanto à classificação, as redes Agivest e Metal podem ser caracterizadas como redes
horizontais de cooperação, segundo Amato Neto (2000, p. 50) e Marques e Aguiar (1993),
por se tratarem de um agrupamento de empresas similares, onde há mais de duas firmas
atuando no mesmo processo produtivo, articuladas em uma associação, com prazo
indeterminado de atuação.
Embora seja possível classificá-las como redes horizontais, devido à grande
diversidade de produtos, acaba acontecendo uma integração vertical também, dentro da
própria rede, como é o caso da rede Metal. Nesta rede existe uma relação de fornecedor
versus cliente entre algumas empresas que atuam em estágios diferentes do mesmo processo
produtivo (Marques e Aguiar, 1993; Santos et al, 1994; Lewis, 1992).
Na rede Agivest, essa integração vertical pode ser percebida quando os associados
assumem um encadeamento à frente na cadeia produtiva, ao criar pontos de venda, reduzindo
custos de intermediação e distribuição (Marques e Aguiar, 1993; Thompson e Strickland,
2002) e ingressando em uma atividade relacionada ao seu negócio, caracterizando uma
estratégia de diversificação concêntrica (Mintzberg, 2001, p. 327) para competir melhor no
mercado.
Uma mescla entre três tipologias propostas por Ernst (1994), pode ser percebida nos
dois casos: 1) redes de produtores – mais percebida na rede Agivest, pois os produtores
concorrentes juntaram suas capacidades de produção e recursos financeiros, tecnológicos e
humanos com a finalidade de ampliar seu portfólio de produtos, bem como sua cobertura
geográfica; 2) redes de clientes – percebida apenas na rede Agivest, inclui um encadeamento
à frente entre a indústria e canais de comercialização, cujos clientes (lojistas) são os próprios
associados; 3) redes de cooperação tecnológica – percebida nas duas redes, embora mais
explorada na rede Agivest, essa tipologia tem o objetivo de facilitar a aquisição de tecnologia
para projetos e produção de produtos, capacita o desenvolvimento conjunto dos processos e
da produção e permite o acesso compartilhado a conhecimentos científicos genéricos e de
pesquisa e desenvolvimento.
Para Lewis (1992), na busca de acelerar os processos para obter mais vantagens
competitivas, as empresas estabelecem alianças para atingirem objetivos distintos. Novamente
pode se perceber que não se aplica apenas uma tipologia desse autor às redes pesquisadas,
mas pelo menos duas, que são: 1) as redes de tecnologia – as empresas se aliaram com forças
externas de conhecimentos técnicos como outras empresas, a universidade (UNIJUÍ) e o
governo do Estado (através da Sedai), com o objetivo de aumentar a competência técnica de
todas as empresas associadas; 2) redes de desenvolvimento – com o objetivo de criar novo
valor, as empresas desenvolveram ferramentas para o desenvolvimento de novos produtos,
melhoria nos processos e produtos e criaram condições para inovações e investimentos.
Laumann, Galaskiewicz e Mardsen (1978) definem dois tipos de redes: as redes
formadas pelo modo competitivo e as redes formadas pelo modo cooperativo. Pode-se dizer
que nas redes Agivest e Metal, identifica-se um pouco do modo competitivo, garantido pela
busca de metas particulares, através da autonomia nas operações e estratégias das empresas,
como também enfatiza a cooperação, quando os empresários percebem que o benefício é
maior quando os objetivos são buscados no coletivo. Essa relação entre o competir e o
cooperar é um dilema observado nas redes, percebido pela falta de comprometimento e pelo
comportamento oportunista de alguns associados, o que resultou, em grande parte, na redução
do número de associados nas duas redes.
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Grandori e Soda (1995) apresentam três tipos diferentes de redes: redes sociais, redes
burocráticas e redes proprietárias. Percebe-se uma mescla das tipologias de redes sociais e
burocráticas nas redes estudadas, não sendo possível classificá-las em apenas uma das
tipologias. As redes têm fortes características de informalidade nas relações interempresariais
e não existe poder centralizado de nenhuma empresa, caracterizando-as como redes sociais.
No entanto, existem documentos legais que formalizam as redes e uma coordenação central
que administra a rede e as relações entre os associados, nesse caso, caracterizando-as como
burocráticas assimétricas. A rede Agivest apresenta um grau um pouco maior de
burocratização, ao estabelecer alguns mecanismos de controle.
Vários autores como Miles e Snow (1992), Perrow (1992) e Casarotto Filho e Pires
(1999) desenvolveram modelos de organizações em redes. Dos modelos estudados, talvez o
que mais se aproxima às redes pesquisadas foi o modelo desenvolvido por Casarotto Filho e
Pires (1999), que propõem uma interconexão entre os diversos atores, como grandes
empresas, bancos, institutos de pesquisas e governos, com instrumentos de integração entre
pequenas e médias empresas, mas não reflete na íntegra a realidade observada. Todavia, a
Figura 1 mostra, de uma forma bastante simples, o modelo de articulação percebido nas redes
horizontais de cooperação estudadas. Mostra uma estrutura interativa, onde a rede aparece no
centro, interagindo com diversos públicos: com as universidades, através do apoio técnico
gerencial, com os governos, através de programas de políticas públicas e apoio dos poderes
públicos locais, com os mercados de consumo e com os fornecedores e, principalmente, com
as pequenas indústrias, estabelecendo uma estrutura de coordenação e articulação bastante
dinâmica.
indicadores, foi possível identificar, também, diferentes percepções e investimentos que cada
conjunto de associados tem em relação à rede que pertence.
Na Rede Agivest, os associados investem mais na qualificação dos seus funcionários,
na pesquisa e desenvolvimento de produtos, possuem mais controle de custos, mais empresas
possuem planejamento formal, mais empresas atribuem a evolução de suas empresas à rede,
todas as empresas acreditam que sozinhas não teriam se organizado, ou seja, a rede só existe
devido ao Programa Redes de Cooperação.
Na Rede Agivest, todas as empresas acreditam que a sua rede é um caso de sucesso,
enquanto que na Rede Metal, apenas 57% dos associados acreditam no sucesso de sua rede.
Na Rede Agivest, as empresas trocam mais informações com outros associados,
vendem em conjunto com negociações pela rede e utilizam mais os recursos da informática.
Nas compras em conjunto, no entanto, as empresas da Rede Metal têm negociado 7% a
mais do que os associados da Rede Agivest.
Todos os associados das duas redes atribuem a criação das redes ao Programa Redes
de Cooperação, confirmam que promoveram mudanças em suas empresas e aprenderam
muito se associando à rede.
Analisando os resultados da pesquisa, através de um conjunto de ações e estratégias
percebidas nas redes, é possível dizer que a estruturação em redes horizontais de cooperação
proporciona vantagens reais para as empresas associadas. Ao se associar a uma rede, o
empresário inicia um processo de adaptação a essa nova maneira de competir e promove
mudanças estruturais em sua empresa, tais como novas tecnologias de gestão, melhoria nos
processos produtivos, redução de custos, compartilhamento de marca, desenvolvimento de
produtos, novos mercados, novos negócios, enfim, uma infinidade de mudanças que
contribuem no crescimento do negócio.
A reestruturação das empresas vem acontecendo, acompanhada de um processo de
formulação do planejamento estratégico, com mais intensidade na Rede Agivest. A Rede
Metal também vai percebendo a importância de ter um plano, tanto para a coordenação da
rede, quanto para as empresas em particular.
Percebe-se também, nas duas redes, que várias das escolas propostas por Mintzberg et
al (2000), no processo de formação das estratégias, estão presentes. Com mais ênfase
aparecem as escolas do aprendizado e empreendedora. A aprendizagem aparece durante todo
o estudo das redes. As estratégias, em grande parte emergentes, vão surgindo através de uma
socialização permanente das experiências individuais no processo coletivo, com ênfase no
modo cooperativo. O resultado disso leva a um processo de transformação em busca da
estabilidade. O espírito empreendedor, por outro lado, ainda é muito forte na gestão das
empresas. O empirismo predomina em grande parte do processo gerencial e produtivo.
A estrutura organizacional de uma rede de cooperação é um tanto peculiar. Cada rede
pode desenvolver uma arquitetura semelhante ou distinta, vai depender do ramo em que atua,
da forma como vai manter relações com o ambiente externo, que inclui os associados de um
lado e os demais atores (fornecedores, clientes, entidades de apoio, universidades, poder
público) do outro. Conhecer a forma como cada rede se estruturou é um fator importante para
compreender esse processo. A partir dos resultados encontrados nas redes foi possível realizar
uma análise comparativa que é apresentada no Quadro 1.
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al. (2000), de que as estratégias não podem ser puramente deliberadas ou emergentes, mas
deve haver uma mistura de ambas no processo estratégico.
Na Rede Agivest o processo de formulação das estratégias foi assumido, logo no
início, por um grupo de empresários que estabeleceu uma liderança informal na rede e trouxe
para o grupo, idéias, experiências pessoais e um forte espírito empreendedor, exercendo a
motivação do grupo. No entanto, a grande maioria dos associados, desde a constituição da
rede, sempre fez questão de exercer um processo democrático, participando e deliberando nas
assembléias.
A Rede Agivest constituiu uma estrutura de coordenação, contratou profissionais
especializados e aproveitou o potencial empreendedor de líderes associados, que se
diferenciou da estrutura da Rede Metal. A diretoria é bastante ativa e tem atuado na busca
constante da consolidação da rede e de novas vantagens para os associados. Tem
proporcionado mais articulação, mais controle e mais vantagens para os associados, refletindo
em um maior número de estratégias. Esta estruturação adequada da Rede Agivest tem
proporcionado interesse em melhorias nas empresas individuais dos seus associados.
Na Rede Metal, a estrutura de coordenação está bastante ligada aos próprios
associados, através das equipes de trabalho e da diretoria. Embora os associados adquiriram
vantagens se associando à rede e várias estratégias foram implementadas, existem
dificuldades na execução das estratégias porque a rede não possui estrutura funcional para tal
e, em contrapartida, os associados não dispõem de tempo para executar as ações da rede,
devido ao grande número de atividades em suas empresas.
4. Inferências sobre as relações das redes com o desenvolvimento local e regional: evidências
teóricas e empíricas
Para Porter (2000), a microeconomia tem se tornado um fator crucial para o
desenvolvimento. Embora a macroeconomia exerça influências no processo de
desenvolvimento, é a partir da articulação entre os diversos atores da sociedade civil que
constitui-se o tecido social e consegue-se montar o contexto regional determinante para a
competição. Nesse contexto, as redes de cooperação surgem como uma estrutura de
articulação capaz de aumentar a competitividade das empresas, interferindo ativamente nos
rumos do setor, pelo menos na região em que está presente esta forma de estruturação. Nas
redes, o setor é discutido e as entidades que se relacionam com as empresas associadas
(governos, universidades, bancos, associações comerciais e industriais e entidades de apoio)
são constantemente pressionadas para atender as demandas do setor.
O grau de articulação e cooperação entre as instituições, pessoas, governos e demais
atores da sociedade dão origem às estruturas dinâmicas e articuladas, capazes de aumentar as
forças regionais para competir no mundo globalizado. Para Putnam (1996, p. 169-170), a
contradição entre competição e cooperação pode ser explicada quando, em uma rede, as
empresas competem acirradamente no campo da eficiência e da inovação em produtos, mas
cooperam nos serviços administrativos, na aquisição de matérias-prima, no financiamento e
na pesquisa. Essas pequenas empresas combinam baixa integração vertical com alta
integração horizontal. O resultado é uma estrutura econômica tecnologicamente adiantada e
altamente flexível que se mostra indicada para competir no dinâmico mundo econômico.
Essa nova forma de organização (redes) cria um ambiente propício ao
desenvolvimento das pequenas empresas que conseguem chegar mais facilmente nos
mercados, melhorar a infra-estrutura, os processos produtivos e o gerenciamento. Essas
facilidades seriam difíceis de obter se as empresas permanecessem sozinhas. Em conjunto, as
empresas também conseguem mobilizar maior ajuda de governos e entidades de apoio e
pesquisa. Tudo isso remete a um novo modelo de pensar as estratégias, destacando a
importância de uma grande mobilidade social no território em que as empresas estão
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inseridas, gerando um pacto social (Putnam, 1996) que incentive a flexibilidade e a inovação.
Os fatores socioculturais, denominados por Putnam como capital social, tem papel importante
para explicar o sucesso desse modelo em algumas regiões.
As evidências tornam possível afirmar que é preciso pensar as estratégias dentro de um
contexto regional, ampliando a percepção de que o ambiente microeconômico é capaz de
exercer influências sobre o destino das organizações e que este, por sua vez, é a principal
fonte de riqueza que uma região possui. Para Porter (2000, p. 28), “a prosperidade econômica
não é responsabilidade de um único protagonista. Ela é determinada por todos os setores da
sociedade civil. Educadores, trabalhadores, profissionais liberais, todos precisam fazer parte
da solução. Chegou o momento de os empresários não se concentrarem somente nas
estratégias de suas próprias empresas. Chegou o momento em que cada homem de negócio
deve se transformar em um estadista”.
A partir da constatação de que o microambiente exerce influências tanto na elaboração
das estratégias das organizações, quanto no desenvolvimento local e considerando que a
proposta do governo de Estado do Rio Grande do Sul foi de incentivar a articulação
local/regional com o Programa Redes de Cooperação, procurou-se destacar os principais
benefícios deste programa no processo de desenvolvimento local e regional:
1. Maior utilização de estratégias – em conjunto, as empresas compartilharam mais
informações, multiplicando o conhecimento e promovendo um aprendizado de forma mais
rápida, acelerando assim a curva de experiência e gerando vantagens competitivas que
permitem sua sobrevivência ou até mesmo o crescimento econômico. A redução de custos, a
marca compartilhada, a troca de informações, entre outras, são vantagens que proporcionam
às empresas maior competitividade, segundo Porter (1999), Kotler (1999, p.29), Motta (2001).
Para Hamel e Prahalad (1995), a estratégia envolve olhar em volta e análise interna, como
também, nas relações com o ambiente. As redes têm mostrado maior capacidade de análise
tanto nas suas empresas individuais, quanto na estrutura de coordenação das próprias redes e
têm promovido relações com diversas instituições que têm assegurado uma dinâmica diferente
no contexto local e regional.
2. Crescimento das empresas - utilizando mais estratégias, as empresas conseguiram
crescer. Organizadas em rede, as empresas ficaram diferentes dos seus concorrentes e essa
diferença constituiu uma mistura de vantagens competitivas (Zacarelli, 2002, p. 166), que
resultou em melhoria no gerenciamento de seus negócios, aumentando o faturamento e, com
isso, gerando mais impostos e mais empregos.
Considerando as afirmações de McRae (1998) de que “o sucesso ou o fracasso de
qualquer país nos próximos trinta anos, depende do crescimento”, é possível concluir que, se
existe crescimento para as micro e pequenas empresas, isso poderá refletir no sucesso de suas
regiões, nos locais onde estão instaladas, com possíveis repercussões no desenvolvimento do
país como um todo.
Para Barquero (2002), os processos de inovação, o desenvolvimento empresarial, a
formação de redes, o desenvolvimento urbano e a dinâmica institucional são mecanismos que
influenciam os processos de acumulação de capital. Quando existe uma interação entre esses
fatores, produz-se um efeito sinérgico capaz de condicionar o crescimento e o progresso das
cidades, regiões e países. No caso do Rio Grande do Sul, as políticas públicas estimularam
esses processos, através da criação do programa Redes de Cooperação e outros de consultoria
pública, capacitando as regiões que responderam aos desafios, especialmente para enfrentar as
dificuldades impostas pela globalização.
3. Geração de empregos – o crescimento das empresas reverteu em crescimento na
oferta de empregos também. As redes mostram uma evolução de 107% (Agivest) e 51%
(Metal) na geração de empregos nas empresas, após o ingresso nas redes. O desenvolvimento
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endógeno, proposto por Barquero (2002), define que o crescimento acontece a partir das
localidades, das regiões, ou seja, “de dentro para fora”. A geração de renda, evidenciada pelo
aumento do faturamento dos empresários e pela geração de empregos contribui para o
aumento da inclusão social das pessoas, pois melhora, em tese, a repartição da renda na
região em que a indústria está instalada, aumentando o processo de pertença regional, com
uma capacidade crescente de definir o seu próprio destino, pois estimula a capacidade
crescente da região de apropriar-se do excedente econômico ali gerado, revertendo em
benefícios para a própria região (Dallabrida, 2000).
4. Novos negócios e parcerias – a partir das redes também surgiram possibilidades de
outros negócios correlacionados. Durante o desfile de lançamento da marca Agivest, surgiu a
idéia da criação de um curso técnico de moda, que já foi realizado pela Escola Francisco de
Assis - EFA, vinculada à UNIJUÍ, e teve a participação de associados da Rede Agivest. Isso
vai mudando as características culturais do local, que vai descobrindo o potencial
empreendedor para novos negócios e dinamiza o setor. A UNIJUÍ lançou uma grife com sua
marca e a Rede Agivest fornece alguns produtos. Novos pontos de venda também foram
criados pelas empresas associadas à Rede Agivest nos municípios de Caxias do Sul,
Farroupilha (venda para lojistas), Ijuí e Augusto Pestana (venda para consumidores).
Muitas empresas associadas às duas redes investiram na ampliação de seus negócios,
adquirindo prédios, máquinas e promovendo a capacitação de seus dirigentes e funcionários.
As redes também têm despertado o interesse do meio acadêmico. Muitos trabalhos nos níveis
de graduação, especialização e pós-graduação têm surgido nas universidades.
4.1 Evidências empíricas a partir da percepção dos atores locais
Ao falar sobre a sua percepção na relação entre as redes de cooperação e o
desenvolvimento regional, a reitora da UNIJUÍ, Universidade parceira no Programa do
Governo do Estado, manifestou seu depoimento quanto a importância desse processo:
“O Programa Redes de Cooperação proporcionou a união de nossas empresas, um princípio de
cooperação, porque em rede nós somos grandes, nós somos fortes, podemos ir à frente e fazer produtos
que realmente possam dizer que vale a pena esse tipo de trabalho. Descobrimos como, pela cooperação,
nós podemos buscar a capacitação cotidiana para melhor gerir as empresas. A universidade aprendeu
muito. É uma iniciativa que além de ter o Estado como um grande parceiro, com a universidade e com
os empresários, também nos impulsiona a integrar com administrações municipais e com outras tantas
instituições. E é nesse envolvimento que a cooperação se fortalece e nos faz todos grandes, sem
podermos dizer que um é maior ou menor que outro. Devemos trabalhar para que o incentivo às redes
continuem nos próximos governos como uma política de Estado. Se dois governos, mesmo de partidos
diferentes, de ideologias diferentes, entenderam que era importante, é porque o desenvolvimento está
acima dos partidos, está acima das ideologias, e é uma coisa importante”.
Como pode ser percebido, nas palavras de representantes ativos da sociedade regional
e de instituições que estão envolvidas nesse programa de redes de cooperação, essa forma de
organização das empresas tem sido aprovada, especialmente no formato em que vem se
desenvolvendo, através de políticas públicas oriundas da Secretaria de Desenvolvimento e dos
Assuntos Internacionais do Estado do Rio Grande do Sul, em parceria com instituições
importantes para os contextos regionais, como universidades e administrações públicas
municipais.
Cada vez mais, o desenvolvimento tem passado por uma nova lógica, que trata
justamente da questão de fortalecer as regiões a partir das pessoas e dos empreendimentos que
estão presentes na localidade. Agir no local, tem se constituído em importante estratégia de
fortalecimento e estímulo de crescimento. Os resultados, especialmente nas indústrias,
permanecem nos locais em que elas estão inseridas. Geram renda e empregos na região.
No entanto, é fundamental pensar no global, onde o mercado e os concorrentes estão. É
de onde vem a renda para a sobrevivência dos empreendimentos.
Essa tese é corroborada por Barquero (2002), quando fala em desenvolvimento
endógeno, um tipo de desenvolvimento que vinha na contramão do modelo até então vivido,
mas que a cada dia toma mais força, mostrando ser um dos caminhos. Para esse autor, é
preciso considerar as localidades como elementos em eterna dinâmica.
Por outro lado, segundo Putnam (1996), é necessário chamar a atenção de que as
políticas baseadas nas relações de cooperação devem ser promovidas junto a ambientes
sociais onde já existe alguma prática de cooperação, ou onde as dificuldades para a
cooperação sejam mínimas, facilitando o crescimento do capital social. Percebe-se, no
entanto, um alto grau de desistência de empresas associadas às redes e uma fraca participação
da maioria das administrações públicas municipais, o que configura um cenário de inúmeras
barreiras à cooperação ou, pelo menos, na manutenção dessa dinâmica de cooperação
proposta.
A proposta do governo do Estado, através de sua Secretaria de Desenvolvimento e dos
Assuntos Internacionais, é alavancar o crescimento dos pequenos empreendimentos e isso se
mostrou viável, a partir dos resultados desta pesquisa. A comprovação é evidenciada pelos
resultados econômicos apresentados pelas redes e pela opinião dos atores que participam
ativamente nas localidades em que estas redes estão inseridas.
Embora as evidências apontam para contribuições no processo de desenvolvimento
local e regional, essa pesquisa não trabalhou dados econômicos e objetivos que pudessem
comprovar tal desenvolvimento. A análise dos fatores críticos de sucesso das duas redes
estudadas e os depoimentos dos agentes envolvidos, sejam eles das redes e/ou de lideranças
estratégicas locais/regionais, entretanto, permitem dizer que a constituição dessas duas redes
contribuiu no processo de desenvolvimento da região onde estão inseridas.
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pela afirmação de que unir-se em uma rede de cooperação primeiro, nem sempre significa
criar a rede mais competente para liderar o jogo no mercado e, por isso, podem perder essa
posição para o imitador mais rápido e eficaz.
Os resultados obtidos com esse trabalho levam a uma reflexão de que o processo de
formação, desenvolvimento e manutenção de redes horizontais de cooperação é dificultado
quando os fatores críticos evidenciados não são observados, ou então, não são corretamente
analisados. A ausência de um dos fatores pode comprometer a sobrevivência da rede e,
conseqüentemente, anular as possíveis vantagens das empresas associadas. Espera-se que os
resultados apresentados nesse estudo possam contribuir, de alguma forma, para reflexão dos
dirigentes e associados das redes Agivest e Metal, na busca do aumento da eficácia e
eficiência das redes e efetividade das empresas associadas. A pretensão também é de que os
diversos atores envolvidos com o processo de desenvolvimento local e regional possam tirar
contribuições desse estudo, levando em consideração os fatores críticos de sucesso, para
melhorar suas relações com as redes e fomentar essa alternativa que, como se pode ver, tem
contribuído para o desenvolvimento das organizações e das regiões onde eles estão inseridos.
Entende-se oportuno registrar duas proposições finais a título de recomendação. A
primeira, refere-se à continuidade da pesquisa em outras áreas da gestão de redes, como
distribuição, sistemas de informações e marketing. A segunda recomendação sugere a
possibilidade da SEDAI desenvolver um sistema de informações nas coordenações das redes,
dentro do Programa Redes de Cooperação, auxiliando na construção de um banco de dados
para as redes e reiterando a importância do gerenciamento de informações entre rede e
empresas.
Por último, espera-se que este estudo tenha trazido contribuições de relevância
acadêmica para a área de gestão das organizações e do desenvolvimento local e regional,
despertando questionamentos para novas pesquisas.
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