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E TECNOLOGIA DE SANTARÉM
APONTAMENTOS DE
GESTÃO FINANCEIRA (2º Ano/GE)
Rendibilidade e Risco –
Docente:
Março de 2010
ÍNDICE
2
INTRODUÇÃO. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
3
1. CONCEITO DE RISCO. TIPOS DE RISCO
Imaginemos que o Sr. Felizardo levanta toda a sua fortuna aplicada à taxa de x%
no Banco Beta e se dirige ao casino mais próximo com o objectivo de duplicar a sua
riqueza. Três horas mais tarde, o Sr. Felizardo sai cabisbaixo do casino: não só
perdeu toda a sua fortuna como ainda trouxe uma dívida!
A atitude das pessoas face ao risco pode tipificar-se nos seguintes termos:
Exemplos:
- o Investimento X é uma aplicação sem risco, que no final lhe renderá 1.000 €;
- o Investimento Y é uma aplicação para o mesmo prazo, com 50% de
probabilidade de ganhar 3.000 € e 50% de perder 1.000 €.
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E agora? Por qual dos dois investimentos optaria? Pelo Investimento X que não tem
risco e dá um retorno de 1.000 €, ou pelo Investimento Z que lhe dá um retorno
esperado de 1.400 € mas tem um nível de risco superior.
Rendimento Recebido
Taxa de Rendibilidade = × 100
Capital Inicial
- Capital Inicial: 10 €
- Ganhos de capital, ou seja, a diferença entre o preço de venda e o preço de
compra: 1,2 €
- Dividendos: 0,80 €
5
(1,2 + 0,8)
r= × 100 = 20%
10
Rendimento Previsto
Taxa de Rendibilidade Esperada= × 100
Capital Inicial
Esta possibilidade de perda que radica na incerteza1 quanto aos fluxos monetários
futuros – e decorrente rendibilidade – está intimamente associada à variabilidade (ou
volatilidade) desses fluxos: quanto maior for esta variabilidade, maior a incerteza
quanto ao previsível valor dos fluxos monetários e respectiva rendibilidade.
Esta conclusão é de fácil dedução. Imagine-se um indivíduo que deseja investir o seu
capital disponível por um ano, deparando-se com duas hipóteses para o fazer: investir
em obrigações (títulos de dívida) emitidos pelo Estado norte-americano ou em acções
de base tecnológica com sede num país em vias de desenvolvimento. O investidor irá
exigir uma remuneração claramente superior das acções da empresa tecnológica face
1
- Risco e incerteza são muitas vezes utilizados indiferentemente, para referenciar a variabilidade de rendimentos
associada a um determinado activo (ou investimento); mas em rigor, no risco, contrariamente à incerteza, é possível
estimar objectivamente as probabilidades dos acontecimentos.
2
- Recorde-se: um euro certo vale mais do que um euro com risco.
6
à das obrigações, estando, consequentemente, disponível para pagar menos pelas
primeiras do que pelas segundas.
7
rendimentos futuros (por exemplo, os juros de cupão de uma obrigação)
gerados por esse activo é feita a uma taxa superior, reduzindo o valor actual;
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2. MEDIÇÃO ESTATÍSTICA DO RISCO
Exemplo 1. Uma previsão meteorológica pode dizer: “Há 30% de hipótese de chover
amanhã e 70% de não chover.” Então, poderíamos estabelecer a seguinte distribuição
de probabilidade:
Acontecimento Probabilidade
Chover 30% = 0.3
Não chover 70% = 0.7
100% = 1.00
n
r = ∑i=1
ri p i ,
Para as acções A,
Estado da Rendibilidade Probabilidade
Economia (ri) (pi)
Recessão − 5% 0,2
Normal 20% 0,6
Prosperidade 40% 0,2
3
- De acordo com o Sistema de Normalização Contabilística (SNC): “Um acontecimento é provável quando a
possibilidade da sua ocorrência for superior à possibilidade de não ocorrência”.
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Para as acções B,
()
Assim, a taxa de rendibilidade esperada r para as acções A é:
n
r = ∑i =1
ri p i = (− 5%)(0,2) + (20%)(0,6) + (40%)(0,2) = 19%
Matematicamente,
∑(r − r)
2
σ= i pi
i=1
Para calcular σ, utilize a seguinte sequência (sendo conveniente construir uma tabela):
σ = ∑ (ri − r ) p i
2
i =1
● Passo 4: Por último, faça a raiz quadrada da variância para obter o desvio padrão
(σ).
10
Exemplo 3. Utilizando os dados do exemplo 2., calcule o desvio padrão de cada um
dos lotes de acções, construindo tabelas como as seguintes:
INVESTIMENTO A:
Probabilidade, %
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
-50 0 50
Rendibilidade, %
11
INVESTIMENTO B:
Probabilidade, %
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
-50 0 50
Rendibilidade, %
Acções A Acções B
Rendibilidade Esperada r () 19% 15%
Desvio Padrão (σ ) 14,28% 3,16%
Já para o lote B, o intervalo de 68% é 15% mais ou menos 3,16%, ou seja, entre
11,84% e 18,16%. Com um tão pequeno σ, há apenas uma pequena probabilidade de
que a rendibilidade de B seja muito inferior ou superior ao esperado; portanto, o lote
de acções B não é muito arriscado.
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Exemplo 5. Ainda utilizando os resultados do exemplo anterior:
Acções A Acções B
− 19% 15%
r
σ 14,28% 3,16%
−
0.75 0.21
σ /r
13
3. RELAÇÃO ENTRE RENDIBILIDADE E RISCO
Vimos anteriormente o risco e as suas fontes de incerteza. Nem todos os activos são
afectados de igual modo por estas fontes. Por exemplo, os títulos de dívida pública
têm um baixo risco de crédito, mas podem ter um elevado risco de taxa de juro. Por
outro lado, as acções têm um maior risco inerente do que as obrigações do mesmo
emitente e ambas sofrem negativamente com as subidas das taxas de juro.
Este é um dos axiomas mais importantes da gestão financeira, designado por trade-off
entre rendibilidade e risco: um investidor que quer correr baixo risco nos seus
investimentos terá uma rendibilidade mais baixa.
Deste modo, o conceito de rendibilidade também pode ser entendido como parte do
processo de decisão do agente económico face a um investimento financeiro: para um
dado risco, exige-se determinada rendibilidade. Assim, investir-se-á num
determinado produto financeiro se e só se a sua rendibilidade – a “rendibilidade
exigida” – for maior ou igual ao risco global associado a esse investimento.
Partindo deste princípio, e assumindo que todos os produtos financeiros podem ser
avaliados pelo potencial investidor tendo em conta a rendibilidade e o risco, podemos
hierarquizar os diversos tipos de produtos na chamada matriz rendibilidade/risco
apresentada no gráfico que se segue:
Rendibilidade
Esperada
•X
A+B
• Z Prémio de Risco
A
•Y
À diferença entre a rendibilidade exigida de um activo sem risco e de outro activo com
maior risco dá-se o nome de prémio de risco, representando aquilo que o investidor
exige a mais por não aplicar as suas poupanças em activos sem risco, em favor de
activos com maior risco.
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Se um activo se situar fora da linha traçada (como é o caso do activo X), a curto prazo
ele tenderá a deslocar-se para esta linha, pois todos os investidores racionais vão
querer comprar este activo, já que para o mesmo nível de risco de outros produtos que
se situam na linha (activo Z) ele tem associada uma rendibilidade esperada maior.
Assim, o seu preço vai subir e consequentemente a rendibilidade esperada diminuir,
conduzindo o activo X para a linha da matriz.
O activo Y, é um activo que tem o mesmo nível de risco que outros situados na linha
(activo Z), e uma rendibilidade esperada menor. Nestas circunstâncias, nenhum
investidor racional vai querer adquirir este activo, o que resultará na diminuição do seu
preço e consequente aumento da rendibilidade esperada. Assim o activo Y tenderá a
situar-se na linha da matriz.
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4. RISCO DE CARTEIRA E MODELO DE AVALIAÇÃO DE ACTIVOS (CAPM)
A maioria dos activos financeiros não são detidos isoladamente – fazem parte de
carteiras (portefólios). Por isso, a análise risco-rendibilidade (discutida nos pontos
anteriores) não deverá confinar-se a activos isolados. É importante olhar para carteiras
e para os ganhos da diversificação. O importante é a rendibilidade da carteira – não
precisamente a rendibilidade de um activo – e o risco da carteira.
∑w
j =1
j = 1 .0 .
16
wA e wB = ponderações (pesos ou fracções) dos fundos totais investidos nos
activos A e B;
O risco da carteira pode ser minimizado pela diversificação, ou seja, por apropriada
combinação dos activos. O grau em que o risco é minimizado depende da correlação
entre os activos envolvidos. Por exemplo, ao combinar dois activos com correlação
negativa perfeita (ρ = − 1), o risco da carteira pode ser completamente eliminado; e se
combinar dois activos com correlação positiva perfeita (ρ = + 1) nada faz para reduzir o
risco (ver exemplo a seguir). Um exemplo da última situação poderia ser a detenção
de acções de duas marcas de automóveis.
Activo σ W
A 20% 1/3
B 10% 2/3
= 0.0089 + 0.0089ρ AB
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σ p = 0.0089 + 0.0089 ρ AB = 0.0089 + 0.0089(−1) = 0.0089 − 0.0089 = 0 = 0
Quando comparamos os resultados de a); b); e c), verificamos que uma correlação
positiva entre os activos aumenta o risco de uma carteira acima do nível observado
para a correlação zero, enquanto que uma correlação negativa perfeita elimina aquele
risco.
Note-se que os títulos X e Y têm uma correlação negativa perfeita, enquanto os títulos
X e Z têm uma correlação positiva perfeita. Observe o que acontece ao risco da
carteira quando X e Y, e X e Z são combinados. Assuma que os fundos são
igualmente distribuídos entre os dois títulos em cada carteira (os quadros em Anexo
desenvolvem os cálculos relativos a esta análise):
De novo, os dois títulos com correlação negativa perfeita (XY) resultam num risco
global igual a zero.
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Desvios-padrão de algumas acções
(1981/94, %'s anuais)
Acções Desvio
padrão
AT & T 21,4%
Biogen 51,5%
Bristol-Myers Squibb 18,6%
Coca-Cola 21,6%
Compaq 43,5%
Exxon 12,1%
Ford Motor 28,0%
General Electric 19,6%
McDonald's 21,7%
Microsoft 53,6%
S&P 500 15,2%
Fonte: Brealey e Meyers, 5ª Edição
rj = rf + β (rm – rf),
em que:
19
A componente chave do CAPM, o beta (β ), é uma medida da volatilidade do título
relativamente ao título médio. Por exemplo: β = 0.5 significa que o título tem apenas
metade da volatilidade, ou do risco, do título médio; β = 1.0 significa que o título é de
risco médio; e β = 2.0 significa que o título é duas vezes mais arriscado do que o risco
médio.
O termo β (rm – rf) representa o prémio de risco, a rendibilidade adicional exigida para
compensar os investidores por assumirem um determinado nível de risco.
Assim e por outras palavras, a equação do CAPM (ou da LMT) mostra que a taxa de
rendibilidade exigida (ou esperada) de um determinado título (rj) é igual à rendibilidade
requerida para títulos que não têm risco (rf) mais um prémio de risco exigido pelos
investidores para assumirem um determinado nível de risco. Quanto maior o grau de
risco sistemático (b) maior a rendibilidade pretendida pelos investidores para um dado
título.
20
ANEXO
Covariância e correlação aplicada aos títulos X, Y e Z
ACTIVOS FINANCEIROS
2 2 2
Anos Xt (%) Yt (%) Zt (%) (Xt-Xm) (Yt-Ym) (Zt-Zm) (Xt-Xm) (Yt-Ym) (Zt-Zm)
20X1 10 50 10 -20 20 -20 400 400 400
20x2 20 40 20 -10 10 -10 100 100 100
20X3 30 30 30 0 0 0 0 0 0
20X4 40 20 40 10 -10 10 100 100 100
20X5 50 10 50 20 -20 20 400 400 400
Média (%) 30 30 30 --- --- Variância 200 200 200
--- --- --- --- --- --- D.-Padrão (%) 14,14 14,14 14,14
Anos (Xt-Xm) x (Xt-Xm) x (Yt-Ym) x
x (Yt-Ym) x (Zt-Zm) x (Zt-Zm)
20X1 -400 400 -400
20x2 -100 100 -100
20X3 0 0 0
20X4 -100 100 -100
20X5 -400 400 -400
Covariância -200 200 -200
Coef.Corr -1 1 -1
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Rendibilidade e Risco de Carteira (2 Hipóteses com 2 Títulos)
(Factores de cálculo)
Título X : Título X :
Quota 50% Quota 50%
Rendib (%) 30 Rendib (%) 30
Variância 200 Variância 200
Desvio-Padrão (%) 14,14 Desvio-Padrão (%) 14,14
Título Y : Título Z :
Quota 50% Quota 50%
Rendib (%) 30 Rendib (%) 30
Variância 200 Variância 200
Desvio-Padrão (%) 14,14 Desvio-Padrão (%) 14,14
Carteira X,Y: Carteira X,Z:
Covariância -200 Covariância 200
Correlação -1 Correlação 1
(Matriz de Variância/Co-Variância)
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