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OBTENÇÃO DA EQUAÇÃO DE TRANSPORTE DE ENERGIA

CINÉTICA DOS MOVIMENTOS TURBILHONARES E ANÁLISE


DE SUA RELAÇÃO COM O CAMPO DO ESCOAMENTO MÉDIO
E DE SEUS TERMOS

Flávio Bomfim Mariana


Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Avenida Prof. Luciano Gualberto, travessa 3 nº 380 - CEP -
05508-970 - São Paulo - SP - Brasil.
flavio.mariana@gmail.com

Resumo. O presente trabalho destina-se ao equacionamento da energia cinética turbilhonar a partir das equações
de Navier-Stokes e da equação da energia cinética do escoamento médio. Analisando os diversos termos da equação
é possível deduzir relações entre o campo do escoamento médio e do escoamento turbilhonar, mostrando inclusive o
acoplamento destas equações. Através desta análise também identificou-se quais termos estão relacionados com a
advecção da energia, assim como sua geração, sua transmissão turbulenta e também dissipação viscosa.

Palavras chave: Turbulência, Mecânica dos Fluidos, Modelagem Matemática

1 INTRODUÇÃO 2.1 Energia cinética do movimento


turbilhonar
A turbulência consiste em um
fenômeno de transporte altamente não linear de Para obter-se a equação que governa a
massa, momento, energia, que está presente na energia cinética do movimento turbilhonar, é
maioria das aplicações de engenharia (Pope, necessário partir da equação de Navier-Stokes
2000). Desta maneira, a análise destes (1), multiplicando-a por u ~ . Neste caso, serão
i
fenômenos consiste em uma importante
ferramenta para estudo destas aplicações. adotadas as hipóteses de que o regime em
questão é permanente em média e que o fluido
Dentro da dinâmica da turbulência,
uma das questões que mais chama a atenção é em questão é incompressível, se forma que ρ
como se mantém a energia cinética turbulenta. permanece constante. Define-se também o
Sabe-se que a origem desta energia encontra-se tensor de tensões, σ~ij , na equação (2).
no escoamento médio, o qual em geral perde
energia para a turbulência em grandes escalas. ~
Conforme a turbulência se torna velha, esta ∂u~i ~ ∂u~i 1 ∂σ ij
energia é dissipada por ação viscosa em
+uj = (1)
∂t ∂x j ρ ∂x j
pequenas escalas.
Essa dissipação de energia cinética
turbilhonar está ligada à transferência de energia σ~ij = − ~pδ ij + 2µ~sij (2)
das grandes para as pequenas escalas, através da
vorticidade. Entretanto, um primeiro passo Em um primeiro momento, será
consiste em compreender quais componentes analisada a parte esquerda da equação (1). Neste
influem na energia cinética do movimento caso, considerando o regime permanente,
turbilhonar, e como estes se comportam ~ e
considerando também a energia do escoamento multiplicando o termo restante por u i
médio. considerando a decomposição de Reynolds
temos

2 DESENVOLVIMENTO

1
∂u~ 1 ∂u~ Segundo Tennekes e Lumley (1972),
2

u~ j ⋅ u~i ⋅ i ⇒ u~ j i ⇒ como σ~ij é um tensor simétrico, o produto


∂x j 2 ∂x j
σ~ ∂u~ ∂x é igual ao produto de σ~ pela
(U j + u j ) ∂ ij i j ij

(U iU i + 2U i u i + (3) parte simétrica ~


sij da taxa de deformação
2 ∂x j
~
∂u ∂x , de forma que a equação (7) se torna
+ ui ui ) i j
a equação (8).
Rearranjando os termos da equação (3)
1~ ∂ ~
e tirando a média desta, é possível reescreve-la ui (σ ij ) ⇒
na forma da equação (4) ρ ∂x j
(8)
1 ∂ ~~
∂ 1  ∂
(U i ui ) +
(uiσ ij ) − 1 σ~ij ~sij
Uj  U iU i  + U j ρ ∂x j ρ
∂x j 2  ∂x j
∂ 1  ∂ 1  Aplicando a decomposição de Reynolds e
+U j  u i u i  + +u j  U iU i  + tirando a média desta, é possível obter então a
∂x j  2  ∂x j  2  equação (9).

+uj

(U i ui ) + u j ∂  1 u i ui  ⇒ 1 ∂
(
U i ∑ ij + u i ∑ ij + U iσ ij + u iσ ij )
∂x j ∂x j  2  ρ ∂x j
∂ 1  ∂ 1  1
⇒U j  U iU i  + U j
∂x j  2 
 ui ui  +
∂x j  2 

ρ
(∑ ij S ij + ∑ ij s ij + σ ij S ij + σ ij s ij ⇒)
1 ∂
+uj

(U i ui ) + u j ∂  1 u i ui  ⇒ (
U i ∑ ij +u iσ ij )
∂x j ∂x j  2  ρ ∂x j
(4) 1

ρ
(∑ ij S ij + σ ij sij )
Ainda, utilizando a equação da
continuidade (5), é possível reescrever a (9)
equação (4) na forma da equação (6)
Aplicando então a decomposição de
∂u i Reynolds na equação (2) e substituindo na
=0 (5) equação (9), temos então
∂xi
1 ∂
∂ 1  ∂ 1  ρ ∂x j
(
− U j P + 2 µU i S ij − u j p + 2 µ u i sij )
Uj  U iU i  + U j  ui u i  +
∂x j  2  ∂x j  2  1
∂ ∂ 1 
(6) − (− PS ij + 2 µS ij S ij − ps ij + 2 µ sij sij )
+ (
U i ui u j + )  ui ui u j 
∂x j  2
ρ
(10)
∂x j 
Uma vez que a contribuição da pressão
Neste segundo momento, será
para o trabalho de deformação é nula, conforme
analisada a parte direita da equação (1). Neste
~ temos ilustra a equação (11), podemos então escrever a
caso, multiplicando esta parte por u i equação (10)

1~ ∂ ~
ui (σ ij ) ⇒ 1 ∂ (u~iσ~ij ) − pδ ij sij = − psii = − p
∂u i
=0 (11)
ρ ∂x j ρ ∂x j ∂xi
(7)
1 ∂ ~
− σ~ij (u i )
ρ ∂x j

2
1 ∂ escoamento médio: aquele ao lado esquerdo da
ρ ∂x j
(
− U j P + 2 µU i S ij − u j p + 2 µ u i sij ) igualdade e o último ao lado direito da
igualdade. No primeiro, existe uma relação com
1 a variação da energia cinética turbulenta ao

ρ
(2µS S ij ij + 2 µ sij s ij ) longo do escoamento.
O segundo termo, − u i u j S ij , consiste
(12)
em um fenômeno de deformação por trabalho e
Desta forma, igualando as equações (6) está diretamente ligado com a transferência de
e (12) (partes esquerda e direita da equação de energia cinética do escoamento médio para o
Navier-Stokes, multiplicadas por u~ ) temos turbilhonar. É importante notar que este termo
i aparece em ambas as equações (14) e (15),
porém com sinal trocado, confirmando que se
∂ 1  ∂ 1  trata de uma grandeza transferida do campo
Uj  U iU i  + U j  ui ui  médio para o turbilhonar (normalmente, mas o
∂x j  2  ∂x j  2  contrário também é possível).
∂ ∂ 1 
+ (
U i ui u j + )  ui ui u j  =
∂x j ∂x j 2  2.3 Identificação dos termos da equação
1 ∂
=
ρ ∂x j
(
− U j P + 2 µU i S ij − u j p + 2 µ u i sij ) Como descrito anteriormente, o termo
do lado esquerdo da igualdade está relacionado
com a advecção da energia cinética do
1

ρ
(2µS S ij ij + 2 µ sij sij ) movimento turbilhonar. Entretanto, é mais
interessante analisar os termos à direita da
(13) igualdade, que justamente causam esse
transporte da energia.
Desta equação (13), é necessário Os termos dentro da derivada estão
subtrair ainda a equação da energia cinética do relacionados com a redistribuição de energia
escoamento médio, ilustrada na equação (14). cinética turbilhonar. O primeiro deles,
Logo, temos a equação da energia cinética do ∂ 1
movimento turbilhonar apresentada na equação u j p , está ligado ao trabalho devido ao
(15).
∂x j ρ
gradiente de pressão do escoamento. O segundo
∂ 1  ∂
Uj  U iU i  = termo, 2ν u i sij , está ligado ao transporte
∂x j  2  ∂x j
da energia pelas tensões viscosas. Já o terceiro
∂  U jP  1 ∂
 − + 2νU i S ij − U i u i u j  (14) termo, − u i u i u j , faz a redistribuição da
∂x j  ρ  2 ∂x j
− 2νS ij S ij + u i u j S ij energia cinética por causa das flutuações de
velocidades turbulentas.
Os demais dois termos, mais
∂ 1  importantes, consistem em trabalhos de
Uj  ui ui  = deformação e estão ligados ao ganho e à perda
∂x j  2  da energia cinética turbilhonar. Como descrito
∂  1 1  anteriormente, o termo − u i u j S ij está
−  − u j p − 2ν u i s ij + u i u i u j 
∂x j  ρ 2  diretamente ligado com a transferência de
energia cinética do escoamento médio para o
− 2ν sij sij − u i u j S ij turbilhonar (e vice-versa).
(15) Por fim, o último termo ( − 2ν sij sij ) é
taxa no qual as tensões viscosas causam
trabalho de deformação na taxa de deformação
2.2 Relação com a energia cinética do
flutuante. Este termo sempre causará um
escoamento médio
decréscimo da energia cinética, pois é
Da equação (15), é possível perceber 2 quadrático em sij .
termos onde existem relações com o

3
Ui - vetor da velocidade média do
escomento
3 RESULTADOS E CONCLUSÕES
ui - vetor da flutuação da velocidade do
Através da obtenção do escomento
equacionamento da energia cinética turbilhonar, ρ - massa específica do fluido
dois importantes fenômenos são descritos σ~ij - tensor das tensões do escoamento
matematicamente: a transferência de energia do
escoamento médio e a dissipação viscosa desta ∑ ij - tensor das tensões do escoamento
energia. Como a geração e dissipação são médio
causas freqüentes de erros na solução numérica
das equações, deve haver cuidado especial com σ ij - tensor das tensões do escoamento
a modelagem destes termos. flutuante
Freqüentemente, estes termos recebem ~
p
a nomenclatura de P (produção) e ε - pressão do escoamento
(dissipação), sendo este último semelhante ao P - pressão média do escoamento
utilizado em modelos de turbulência, como por p - pressão flutuante do escoamento
exemplo o k- ε . Como este escoamento é ~
s - tensor taxa de deformação do
ij
altamente não-linear, seria recomendada uma
análise de ordem de grandeza para a resolução escoamento
de problemas, seja em uma tentativa de S ij
- tensor taxa média de deformação do
viabilizar uma solução analítica, ou mesmo escoamento
reduzir os requisitos computacionais para a
solução numérica. sij - tensor taxa flutuante de deformação
Compreendendo melhor estes do escoamento
processos de transferência do escoamento médio
para o turbilhonar, um próximo passo
interessante consiste no estudo da vorticidade,
ferramenta de transporte da energia das grandes 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
escalas até as escalas onde ocorrerá a dissipação
viscosa. TENNEKES, H. LUMLEY, J. L.. A First
Course in Turbulence. Cambridge, MIT Press,
1972.
4 NOMENCLATURA POPE, S. B. Turbulent Flows. New York,
Cambridge University Press, 2000, 771p.
u~i - vetor da velocidade do escomento

OBTENTION OF TURBULENT KINETIC ENERGY EQUATION AND ANALYSIS OF IT’S


INTERACTION WITH THE MEAN FLOW FIELD AND IT’S TERMS

Flávio Bomfim Mariana


Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Avenida Prof. Luciano Gualberto, travessa 3 nº 380 -
CEP - 05508-970 - São Paulo - SP - Brazil
flavio.mariana@gmail.com

Abstract. This report is the development of the kinetic energy of turbulence from the Navier-Stokes equations and
from the kinetic energy of the mean flow equation. Analyzing the several terms of this equation it is possible to
deduct interactions among the mean flow field and the turbulent field, showing the coupling of these equations.
Through this analysis, it has been also identified which terms are related to the energy advection, as well as it’s
generation, turbulent transport and viscous dissipation.

Keywords: Turbulence, Fluid Mechanics, Mathematical Modeling

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