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TERRA SANTA BÍBLICA

Roteiro de uma viagem – 15 a 24 Setembro 2010

Fomos este Verão numa viagem de dez dias a Israel e à Jordânia


com um grupo de amigos e amigos dos amigos. O que era para ser
sobretudo de turismo teve um cariz inesperado de alguma peregrinação
ao recordarmos muitos acontecimentos históricos descritos
principalmente nos Evangelhos. Acreditamos no essencial na história de
todos eles, que ocorreram por aquelas paragens e até naquela cidade
específica. Menos importante e por vezes até abaixo das nossas
expectativas é a questão do local exacto em que eles são descritos, mas
isso pouco importa para a sua veracidade e em nada abalou a nossa fé.

Propomo-nos narrar a nossa viagem sem dar importância à sua


sequência real, mas antes contando os episódios bíblicos que
revisitámos pela ordem cronológica da Bíblia. Arrumámo-los em cinco
grupos: 1) os acontecimentos ligados ao Antigo Testamento; 2) o início
do Novo Testamento; 3) a vida pública de Jesus; 4) a Sua paixão e
morte; 5) a vida dos cristãos e da Igreja. E dois grupos finais: 6) visitas
não ligadas à Bíblia; e 7) as pessoas.

Vamos a isso, pondo a viagem virada do avesso e convidando-


vos a acompanharem-nos num percurso por episódios que todos nós tão
bem conhecemos.

-1-
1 – Do Antigo Testamento

Começamos a história no monte Nebo (1), Jordânia, de onde


Moisés por volta de 1200 a.C. avista a Terra Prometida (Dt 32, 48-52)
após ter deambulado durante 40 anos pelo deserto, com o povo judeu.

Isto é ainda recordado na Festa dos Tabernáculos (2), em que os


judeus passam uns dias numa tenda feita junto das suas casas, às vezes nos
mais insólitos lugares. Aos nossos olhos, essa terra pareceu-nos um pouco
inóspita, e ainda por cima tinha de ser conquistada, mas, para uma população
que se queria fixar, foi valiosa. E povo judeu foi-se afirmando até que cerca
de dois séculos depois, David, um rei importante na sua consolidação,
conquista Jerusalém (2Sam 5, 6-10), faz dela a capital e constrói o seu
templo de forma magnífica e grandiosa. Dele resta o Muro Ocidental, que
nós, não Judeus, chamamos Muro das Lamentações (3). Do rei David
vimos também a sua urna no monte Sião (4) em Jerusalém.

-2-
2 – O início do Novo Testamento

E passamos ao Novo Testamento e à história de Jesus. Ele faz a grande


diferença entre judeus e cristãos. Os judeus ainda esperam o anunciado
Messias e nós cristãos acreditamos que já veio na pessoa de Jesus. Bem me
parece que os judeus podem bater com a cabeça no Muro das Lamentações,
à sua espera, e nós cristãos fazer de conta que ainda não demos por Ele.
Deixemos isso e passemos a factos.

Em Jerusalém vimos a Igreja de S.ta Ana (5), mãe de Maria, onde esta viveu
em pequena. Vamos encontrar Maria mais tarde em Nazaré, cidade da
Galileia, no sítio da Basílica da Anunciação (6) onde o anjo lhe aparece a
anunciar que ia ser mãe de Jesus, Deus feito homem. E Maria disse-lhe que
sim (Lc 1, 26-38).

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Entretanto, como Maria soube que
sua prima Isabel, já adiantada em
idade, estava grávida, foi visitá-la
como recordámos em Ein Karem,
na Igreja de S. João Baptista (7).
E foi lá que Maria recitou o
Magníficat (Lc 1, 39-56) e, mais
tarde Zacarias, o pai de João
Baptista, o Benedictus (Lc 1, 67-
79), dois hinos de louvor a Deus.

Saltamos agora para Belém, na Judeia, onde Maria e José estavam por causa
dum recensiamento quando esta deu à luz Jesus, e nós que nem pastores
estivemos lá para vê-lo e quem sabe adorá-lo. Lembramo-nos da gruta em
que Jesus nasceu, agora dentro da Igr. da Natividade (8) (Lc 2, 1-20).

Depois a Sagrada Família voltou para casa, em Nazaré, no local em que está
a Igr. de S. José (9) e que, segundo a tradição, foi a casa em que Jesus
cresceu aprendendo com S. José o ofício de carpinteiro (Lc 2, 4-5 e 39-40).

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3 – A vida pública de Jesus

A vida pública de Jesus, o tempo em que Ele pregou e ensinou,


centralizou-se na Galileia. Recordemos que Jesus era judeu e mais não
queria que trazer verdade e humanidade a uma religião dominada por
burocratas.

Jesus viveu em Cafarnaum (10), uma cidade importante junto ao Mar


da Galileia e lá são descritos muitos dos seus milagres, como a cura do servo
do centurião (Mt 8 5-13), a cura da sogra de Pedro (Mt 8, 14-16) ou a cura
dum paralítico (Mt 9, 1-8). Também vimos sob uma moderna e bonita igreja
aquela que pode ter sido a casa de S. Pedro e, pode-se dizer, a primeira
igreja.

Mesmo por detrás de Cafarnaum, subimos ao Monte das Bem-


Aventuranças (11), onde foi proclamada uma das mais belas páginas para a
conduta humana (Mt 5, 1-12 e Lc 6, 20-38), e bem perto, em Tabgha (12),
fomos ver o local da multiplicação dos pães (Mt 14, 13-21).

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Ao atravessar o ameno Mar da Galileia (13) de barco, relembrámos
tanto a pesca milagrosa (Lc 5, 1-11) como Jesus a acalmar a tempestade (Mc
6, 47-52).

A oração do Pai-Nosso foi-nos recordada em Jerusalém, na iIgreja do


Paternoster (14), no Monte das Oliveiras, onde está escrita em quase duas
centenas de línguas e dialectos diferentes (Mt 6, 9-15). Mas Jesus percorreu
Israel do seu tempo como vimos em Jerusalém, nas ruínas da piscina de
Betzatá (15), onde Cristo curou um paralítico (Jo 5, 1-9).

E foi longe dalí, no cimo do


monte Tabor (16), que estivemos
no local em que Jesus apareceu a
alguns discípulos, transfigurado,
juntamente com Moisés e Elias
(Mt 17, 1-8).

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4 – Morte e Ressurreição de Jesus

Vem depois um pequeno mas intenso período da vida de Jesus,


extremamente importante para a vida e fé cristã. É o tempo que vai da sua
condenação e morte à Ressurreição e Ascensão – o final dos Evangelhos.

Recordemos a situação política e religiosa da época. Naquele tempo,


em Israel, o domínio era romano e o povo subjugado era o judeu. Vimos em
Cesareia (17), junto ao Mediterrâneo, as ruínas do palácio dos
governadores, na altura Pôncio Pilatos.

Os romanos toleravam a religião judaica, que era dominada por uma


casta de sumos sacerdotes e pelos fariseus, a quem Jesus fez frente or causa
da sua arrogância e intransigência. Tal como em casos similares na nossa
época, Jesus foi um alvo a abater e o Templo uniu-se ao poder político
romano para o liquidar (Mt 27, 1-2). Recordemos então os passos que demos
nesta reconstituição.

Iniciámos o nosso percurso pela sala do Cenáculo, no monte Sião


(18), onde Jesus comeu a refeição pascal judaica com os discípulos, aquela
que seria a Última Ceia (Mc 14, 12-25)e onde lhes daria os últimos
ensinamentos (Jo 13,3-16,23).
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Seguimos Jesus ao Horto de Getsémani (Mt 26, 36-46) na base do
Monte das Oliveiras junto da Ig. da Agonia (19) (ou de Todas as Nações),
onde, no seu sofrimento e solidão, a oração lhe deu o único conforto antes
de, ali mesmo, ser entregue por Judas (Mt 26, 47-56).

Recordámos estes momentos também na Igr. Dominus Flevit (20)


que exalta no choro a humanidade de Cristo. Levado aos sumos sacerdotes,
seguimos nós também para S. Pedro em Galicanto (21) onde Jesus passou a
noite antes de ser levado a Pilatos e Pedro O negou por três vezes (Mt 26,
69-75).

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E é aqui que entramos na Via Sacra, que reconstitui as últimas horas
dum condenado inocente. Iniciámo-la no Colégio de Omar (22) (Lc 23, 13-
25), onde outrora fora a fortaleza romana Antónia e onde Jesus foi
condenado. E, seguindo Jesus Cristo e os milhares de pessoas que como nós
têm feito a Via Dolorosa, caminhamos pelas ruas de Jerusalém (23) (Lc 23,
26-32), por onde Jesus, exausto, levava a cruz (ignorado pelos turistas e
vendedores), caindo mais à frente, olhando a sua destroçada mãe, ajudado
acolá por Simão Cireneu e confortado por Verónica, até que, despojado das

vestes, é crucificado, morre e é sepultado, como revivemos na Basílica do


Santo Sepulcro (24) (Lc 23, 33-42). Mas nós, logo de seguida, celebrámos a
Sua Ressurreição na missa numa capela da Igreja Católica (25) na própria
Basílica (Lc 24, 1-11).

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Todo o percurso
foi bem compreendido
ao vermos mais tarde a
maquete de Jerusalém
(26) do início da era
cristã, no Museu de
Israel.

Depois, recordámos, em Emaús (27), a caminhada que o Senhor fez


com os discípulos assustados (Lc 24, 13-35) – e, tal como eles, partilhámos o
pão – e, em Tabgha, numa capela (28) junto ao Mar da Galileia, vimos o
local onde Cristo confiou a Pedro a sua Igreja (Mt 16, 13-20).

A Ascensão de Jesus foi-


nos referida como sendo no alto
do monte das Oliveiras (29) (Lc
24, 50-53).

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5 – A vida dos cristãos e da Igreja

E vem agora a altura em que um pequeno punhado de homens e


mulheres que foram testemunhas da vida e obra de Jesus Cristo proclamaram
aquilo a que chamaram a Boa Nova. Foi o início da Igreja. A Igreja de
Cristo, ponto final. Não a Igreja Católica, nem a Igreja Ortodoxa, nem a
Evangélica, nem Luterana, Calvinista, Pentecostal, etc., etc., etc.

Vímos no Cenáculo (30), na sala onde tinha decorrido a Última


Ceia, o Espírito Santo descer sobre os discípulos ali reunidos dando-lhes
força para essa tarefa (Act 2, 1-4).

Deslocamo-nos para Joppe – Jafa, most. de S. Pedro (31) –, onde Pedro


numa visão é convidado a comer alimentos impuros para os judeus (Act 10,
9-16). É um convite à abertura da Igreja aos não judeus e sinal importante à
sua universalidade.

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De volta ao monte Sião em Jerusalém, na Igr. da Dormição (32),
celebramos um dos locais onde segundo a tradição, Maria adormeceu no
Senhor antes de ser elevada aos céus.

Quase no fim, voltamos à Jordânia, também nosso ponto de partida,


para a Igr. de S. Jorge em Madaba (33), onde encontramos o mais antigo
mapa da Terra Santa, feito em mosaicos. Era, como disse o Tozé, o Google
Earth da época, para orientar os peregrinos daquele tempo. Por último,
voltámos a Belém, à Igreja da Natividade, mas agora à gruta de S.
Jerónimo (34), onde, segundo a tradição, este, por volta do século IV,
traduziu a Bíblia para o latim, a Vulgata, que é a versão oficial da Igreja.

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6 – Visitas não ligadas à Bíblia

Saindo do percurso bíblico, mas continuando a ordem anárquica, não


podemos deixar de referir outros must da viagem.

O Museu do Holocauto (35). Um memorial de bom gosto a uma


tragédia da humanidade que não deve ser esquecida, para não haver o risco
de se repetir. É simultaneamente uma homenagem às capacidades de uns
homens em sobreviver às atrocidades e à forma como outros são
homenageados como árvores frondosas que dão oxigénio e auxílio aos que
estão a asfixiar. Queira Deus que sirva de mote à tolerância entre isrealitas e
palestinianos.

Petra (36), a fantástica cidade do comércio e dos mortos. Só o


desfiladeiro valia a visita. Não temos palavras para aquilo que não foi feito
para ser um cenário de uma grande produção de Hollywood… mas quase
parecia.

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Jerash (37), uma cidade da Decápole, uma boa surpresa. Sabíamos
que Roma tinha grandes cidades ao redor do Mediterrâneo, mas não
esperávamos ver uma tão grande e bem preservada na Jordânia

Mar Morto (38): experiência muito divertida, mas para uma vez. Se
o Arquimedes tivesse ido connosco também se fartava de gozar; mas não nos
convidem para umas férias ali.

7 – As pessoas

E, já agora, o que também foi importante, as pessoas:

A população no global afável e simpática, demasiado persistente


quando mete comércio. No entanto, ficámos com um especial fraquinho
pelos Jordanos que nos pareceram mais abertos no contacto directo.

Os três excelentes guias, o judeu Alex, o muçulmano Yousef e a


cristã Nancy, cada qual no seu género, potencializaram o interesse da
viagem. Ficámos a pensar que, se até os guias de religiões diferentes se dão
tão bem, porque não se hão-de dar assim os políticos e os religiosos?

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E o “chefe espiritual”, o nosso amigo Zé Luzia. Foi bom como
dinamizou e despertou em todo o grupo uma abertura à vertente mais
espiritual da viagem. Nem sempre concordámos com os seus tempos
alargados, mas o defeito em parte até pode ter sido nosso. Um abraço ao Pe.
Zé.

O grupo dos 41 funcionou muito bem. Éramos todos amigos, ou


amigos de amigos, da Anita e do Tozé, que sabiamente geriram o convívio
geral, e todos nos demos como velhos conhecidos nesses dez dias, sem fazer
grandes capelinhas.

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Já agora anexamos um quadro resumo com a ordem real da viagem:

dia Local geográfico Local da visita


16 Nazaré Basílica Anunciação (6) e Igr. S. José (9)
Tabor Monte Tabor (16)
Margens M. Galileia Igr.multipl. pães (12), Primado Pedro (28)
Cafarnaum (10),
Mt Bem-Aventuranças (11)
travessia do m. da Galileia (13)
17 Jordânia Jerash (37)
18 Petra (36) ( e Amã de passagem)
19 Monte Nebo (1)
Madaba (Ig. S. Jorge) (33)
Mar Morto (38)
20 Jerusalém Muro Lamentaç.(3), Esplanada das
Mesquitas, Cap. Sta. Ana (5)
e Piscina Betzatá (15)
Igr. Agonia (19),
Mt. Oliveiras (29): Igr.Paternoster (14) e
Igr. Dominus Flevit (20)
S. Pedro em Galicanto (21)
21 Via Sacra – (22) (23) (24) (25)
Mt. Sião: Sala do Cenáculo (18) (30),
Igr.Dormição (32) e túmulo David (4)
Museu do Livro e maquete (26)
22 Jerusalém Museu do Holocausto (35)
Ein Karem Igr. S. João Baptista (7)
Belém Ig. Natividade (8) e gr. S. Jerónimo (34)
23 Emaús Ruínas (27)
Cesareia Marítima Palácio governador e aqueduto (17)
Joppe (Telavive Igr. S. Pedro (31)
sobre rodas)

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E finalizamos com um desejo:

Que em breve, por aquela “santa” mas conturbada terra, as pessoas


valham por si e não por usarem chapéu preto com uns canudos ridículos, ou
uma rígida e submissa burka, ou terem de ter pernas e braços tapadinhos.
Que os vários muros que separam as pessoas, uns de nove metros de altura e
muitos quilómetros de extensão, outros invisíveis à vista mas sentidos no
coração, sejam derrubados por não terem razão de existir e todos se possam
sentar à volta da mesma mesa a comer um belo prato de húmus, a deliciosa
pasta de grão muito apreciada naquelas paragens.

Os turistas militantes e peregrinos reticentes

Rita e Miguel

Outubro de 2010

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