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Fórum 2
Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas
Escolares:
“ (…) os bibliotecários escolares têm grandes desafios pela frente, na medida em que
contribuem para o desenvolvimento da sua escola como uma comunidade inclusiva, interactiva e
fortalecedora da aprendizagem, especialmente agora, no contexto de um intenso ambiente
tecnológico e de informação. Estes desafios centram-se particularmente em torno da prática
profissional que o faz estar informado pela investigação, uma pedagogia direccionada para a
construção do conhecimento, e, no contexto emergente da educação baseada em resultados,
um foco na prática baseada em evidências onde a contribuição central do papel educativo do
bibliotecário escolar para os resultados da aprendizagem é claramente compreendido,
documentado e louvado.”
Ross J Todd
Professores Bibliotecários Escolares: resultados da
aprendizagem e prática baseada em evidências
68th IFLA Council and General Conference, 2002
Há quem lhes chame tempos difíceis, quem lhes chame perigosos. Eu acho que
poderão ser difíceis, perigosos mas que são, sobretudo, deslumbrantes e desafiadores. O
ritmo de mudança que se vive no nosso tempo é, por vezes, estonteante. Quantas vezes
nem nos apercebemos das múltiplas transformações, invenções e novidades que
diariamente vão surgindo e das suas implicações a vários níveis, nomeadamente no plano
educativo. Numa época em que tanto se fala em Sociedade da Informação, Cultura da
Informação e em Economia da Informação, a Escola, instituição que acolhe e “prepara” as
“gerações do futuro” parece ser, muitas vezes, um espaço de resistência a muitas dessas
mudanças que os nossos tempos vão trazendo. A Escola continua a manter, tantas vezes,
vezes demais, um ethos organizacional e de existência muito centrado em práticas
individuais, pouco habituadas à (auto) crítica e à reflexão que deve sustentar a acção.
Práticas e Modelos na Auto-Avaliação da BE
DREN T3 2010
Neste contexto, as Bibliotecas Escolares portuguesas constituem um domínio de acção
pedagógica particularmente sensível: por um lado, porque têm sido, na minha óptica, um
dos raros sectores da acção educativa que têm conseguido manter um rumo sustentado,
inovador e continuado, apesar de inúmeras vicissitudes políticas; por outro lado, porque pela
sua natureza e domínio de acção as Bibliotecas Escolares e, a fortiori, todas as Bibliotecas,
enfrentam desafios enormes na sua existência. O paradigma de Biblioteca está a mudar
profunda e rapidamente e torna-se imperioso responder a este desafio e reflectir sobre ele.
É neste contexto que perspectivo a existência de um Modelo de Avaliação para as
Bibliotecas Escolares e nestes pressupostos entendo que a existência de um processo
sistemática de auto-avaliação é absolutamente incontestável pois só através da reflexão e
da avaliação das práticas se pode ajustar estratégias e “medidas a tomar com vista ao
melhoramento do desempenho da BE (MABE). Um processo de trabalho e de melhoria com
metas exequíveis só é possível se avaliarmos a realidade existente. Esta parece-me ser a
grande virtualidade do Modelo e o facto de ser aplicado ao universo da Rede de Bibliotecas
Escolares de todo o país (apesar de apontar para uma utilização flexível, com adaptação à
realidade de cada escola e de cada BE) parece-me indiscutível enquanto factor de
igualdade, de objectividade possível e de rigor, determinando até que ponto a missão e os
objectivos estabelecidos para a BE estão ou não a ser alcançados. Um modelo como este
pode constituir um instrumento de boa gestão (permitindo indagar o grau de eficiência dos
serviços prestados e de satisfação dos utilizadores da BE), alicerçada num plano de
desenvolvimento que constituirá, por certo um factor de afirmação e de reconhecimento da
BE, permitindo sempre – e este constitui um contributo essencial - identificar as práticas bem
sucedidas e os pontos fracos que, como é referenciado, importa melhorar.
Nesta perspectiva parece-me indiscutível que a existência de um Modelo que seja –
como me parece que este pode ser – um contributo, entre outros aspectos:
♦ para a melhoria do sucesso educativo no contexto de uma escola;
♦ para o aperfeiçoamento das práticas de articulação curricular e
desenvolvimento do processo de ensino e na aprendizagem;
♦ para a valorização da BE enquanto espaço de acesso à informação e ao
conhecimento.
♦ para a promoção da ideia de aprendizagem aos longo da vida.
A avaliação pressupõe reflexão e muitas vezes, a voragem dos dias, só questionamos
se as nossas práticas têm sentido e são as mais adequadas quando nos vemos
confrontados com a obrigação de realizar a avaliação. A mudança de paradigma em termos
de avaliação, também referenciada na literatura, nomeadamente em Todd (2002), ampliou
as práticas das bibliotecas escolares colocando a ênfase no valor acrescentado pela
biblioteca escolar, “capaz de produzir resultados que contribuam de forma efectiva para os
objectivos da escola em que se insere” (MABE). Nesta perspectiva, a divulgação dos
resultados constitui também um elemento importante de ligação à comunidade e de
justificação do contributo que lhe é dado pela Biblioteca Escolar.
O Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar (MABE), proposto pela RBE e
recentemente (Outubro de 2010) objecto de nova revisão, constitui um documento complexo
muito bem estruturado e, a meu ver, neste âmbito, sem paralelo no universo
Educacional português.
A análise atenta do documento permite-nos perceber a sua lógica intrínseca e também
os seus pressupostos e implicações. Desde logo através da afirmação de um conceito
central:
“(…) a biblioteca escolar (BE) constitui um contributo essencial para o sucesso
educativo, sendo um recurso fundamental para o ensino e para a aprendizagem.”
O modelo destaca a existência de factores críticos de sucesso com a definição e
levantamento de acordo com as áreas nucleares de funcionamento e exemplos de acções
Práticas e Modelos na Auto-Avaliação da BE
DREN T3 2010
para a melhoria por domínio a avaliar: A - Apoio ao desenvolvimento curricular, B - Leitura e
literacia, C – Projectos, parcerias e actividades livres de abertura à comunidade, D- Gestão
da BE.
Nesta lógica, torna-se necessário alterar profundamente muitas das práticas mais
enraizadas na Escola e na maneira como a BE nela se integra. É preciso melhorar os níveis
de colaboração entre a equipa da biblioteca escolar e os restantes professores na
identificação e selecção de recursos, no desenvolvimento de actividades conjuntas
orientadas para o sucesso dos alunos, na melhoria do acesso e qualidade dos serviços
prestados, na adequação da colecção e dos recursos tecnológicos às necessidades
educativas da escola. Mas é preciso superar a lógica episodicamente colaborativa para
ganhar regularidade de práticas de trabalho e, sobretudo, elevar o patamar de articulação
para níveis de planificação conjunto em que a BE ganhe uma nova centralidade na vida da
Escola para ter um verdadeiro impacto no processo de ensino e de aprendizagem. Neste
sentido o MABE chama atenção “(…) que as bibliotecas escolares podem contribuir
positivamente para o ensino e a aprendizagem, podendo estabelecer-se uma relação entre a
qualidade do trabalho da e com a BE e os resultados escolares dos alunos.”
Esta perspectiva de integração da BE implica, obviamente, que o processo de auto-
avaliação seja, também ele, como defende o MABE objecto de um envolvimento de toda a
escola: “Espera-se que o processo de auto-avaliação mobilize toda a escola, melhorando
através da acção colectiva as possibilidades oferecidas pela BE”; “Pretende-se avaliar a
qualidade e eficácia da BE e não o desempenho individual do/a coordenador/a ou elementos
da equipa da biblioteca, devendo a auto-avaliação ser encarada como um processo
pedagógico e regulador, inerente à gestão e procura de uma melhoria contínua da BE”. A
avaliação do papel da BE associa, nesta lógica, a noção de valor acrescentado: “O valor não
é algo intrínseco às coisas mas tem sobretudo a ver com a experiência e benefícios que se
retira delas: se é importante a existência de uma BE agradável e bem apetrechada esse
facto deve estar associada uma utilização consequente nos vários domínios que
caracterizam a missão da BE, capaz de produzir resultados que contribuam de forma
efectiva para os objectivos da escola em que se insere” (MABE).
Neste processo acaba por ser valorizado, de igual modo, um conceito que Ross Todd
(artigo de 2008) destaca particularmente, o de “Evidence-Based practice” que altera de
forma significativa a perspectiva tradicional da gestão de uma BE, como de qualquer outra
organização. Neste contexto, Ross Todd dá relevo às práticas de questionamento e
inquirição contínua. Esta perspectiva traz profundas implicações ao nível do planeamento do
trabalho, da metodologias utilizadas (centrando-as numa perspectiva de projecto e de
investigação-acção) e, obviamente, no próprio perfil do professor-biblotecário, destacando o
seu papel de liderança e a sua capacidade de inovação e de integração na comunidade
escolar, enfatizando, desta forma o seu contributo para a melhoria das práticas educativas e
dos resultados escolares dos alunos. Roos Todd (2002), salienta o papel crucial da BE na
construção do conhecimento, numa lógica construtivista do processo de
ensino/aprendizagem, em articulação com os currículos e com os objectivos dos projectos
curriculares de turma e do Projecto Educativo de Escola, adequando a colecção e os
recursos tecnológicos ás diferentes necessidades. Nesta perspectiva ganha particular relevo
a literacia da informação enquanto actividade nuclear da BE. Quando, como referi
anteriormente, as BE estão num momento de viragem, nomeadamente com a crescente
valorização da TIC, importa perceber claramente o seu impacto e as transformações que
implicam.
A estrutura adoptada pelo modelo parece-me bastante lógica e adaptada àquilo que se
espera hoje das BE, centrada nos quatro os domínios objecto de atenção:
A. Apoio ao desenvolvimento curricular
B. Leitura e literacia