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1. Situação do Autor
Além dessas invenções, outras se sucediam. Embora menos importantes, eram sem
dúvida mais espetaculares, como o avião, o submarino, o cinema, o automóvel, além das
rotativas e do linotipo que tornaram as indústrias do jornal e do livro capazes de
produções baratas e de atingir um público cada vez maior. Tudo isso refletia um avanço da
ciência, marcada pelo advento da teoria dos quanta, da relatividade, da radioatividade, da
teoria atômica, além do progresso em outros setores mais diretamente voltados à
aplicação, como a das ondas hertzianas, das vitaminas, do bacilo de Koch, das vacinas de
Pasteur etc.
Não é pois de se admirar que vigorasse um estilo de vida belle époque, com a
Exposição Universal. comemorativa do centenário da revolução, seguida da exposição de
Paris, simultânea com a inauguração do métro em 1900. O último quartel do século fora
marcado, além da renovação da literatura, do teatro e da música, pelo advento do
impressionismo, que tirou a arte pictórica dos ambientes fechados, dos grandes
acontecimentos e das grandes personalidades da monumentalidade, enfim para se voltar
aos grandes espaços abertos, para as cenas e os homens comuns para o cotidiano.
Não é pois de se admirar que essa época viesse também a assistir a uma nova vaga
de colonialismo, não mais o colonialismo da caravela ou do barco a vapor, mas agora o
colonialismo do navio a diesel, da locomotiva, do aeroplano, do automóvel e de toda a
tecnologia implícita e eficiente, além das novas manifestações morais e culturais. Enfim,
Durkheim foi um homem que assistiu ao advento e à expansão do neocapitalismo, ou do
capitalismo monopolista. Ele não resistiu aos novos e marcantes acontecimentos políticos
representados pela Primeira Guerra Mundial, com o aparecimento simultâneo tanto do
socialismo na Rússia como da nova roupagem do neocapitalismo, representada pelo
Welfare State.
Na Normale vai se encontrar com alguns homens que marcaram sua época. Entra em
1879 e sai em 1882, portando o título de Agrégé de Philosophie. Ali se tornara amigo íntimo
de Jaurès, que obtivera o 1º lugar na classificação de 1876 e saíra em 3º na agrégation de
1881; foi colega de Bergson, que entrou igualmente em 1876 em 3º lugar e saiu em 1881 em
2º. Dois colegas que se notabilizaram: o primeiro como filósofo, mas sobretudo como
tribuno, líder socialista, que se popularizou como defensor de Dreyfus e acabou por ser
assassinado em meio ao clima de tensão política às vésperas da deflagração da guerra em
1914; o segundo, filósofo de maior expressão, adotou uma linha menos participante e
muito mística, apesar de permanecer no index do Vaticano, e alcançou os píncaros da
glória, nas Academias, no Collège de France, na Sociedade das Nações e como Prêmio
Nobel de Literatura em 1928.
Entre esses dois homens – tão amigos mas tão adversos – Durkheim permaneceu no meio-termo e num plano mais discreto. O Diretor da
Normale era Bersot, crítico literário preocupado com a velha França e que chama a atenção do jovem Émile para a obra de Montesquieu. Sucede-o
na direção Fustel de Coulanges, historiador de renome que influencia o jovem Émile no estudo das instituições da Grécia e Roma. Ainda como
mestres sobressaem os neokantianos Renouvier e sobretudo o citado Boutroux.
Durante os anos em que ensinou Filosofia em vários liceus da província (Sens, St.
Quentin, Troyes), volta seu interesse para a Sociologia. A França, apesar de ser, num certo
sentido, a pátria da Sociologia, não oferecia ainda um ensino regular dessa disciplina, que
sofreu tanto a reação antipositivista do fim do século como uma certa confusão com
socialismo – havia uma certa concepção de que a Sociologia constituía uma forma
científica de socialismo.
Para compensar essa deficiência específica de formação, Durkheim tirou um ano de
licença (1885-86) e se dirigiu à Alemanha, onde assistiu aulas de Wundt e teve sua atenção
despertada para as “ciências do espírito” de Dilthey, para o formalismo de Simmel, além de
tomar conhecimento direto da obra de Tönnies, que lançara sua tipologia da Gemeinschaft
e Gesellschaft. Mas e surpreendente verificar-se que, apesar de certa familiaridade com a
literatura filosófica e sociológica alemã, Durkheim não chegou a tomar conhecimento da
obra de Weber – e foi por este desconhecido também.5 Isto não impede a Nisbet de dizer
que Durkheim, em companhia de Weber e Simmel, tenha sido responsável pela
reorientação das ciências sociais no século XX.6
Talvez o curto lapso de tempo entre suas principais obras tenha propiciado uma
notável coerência na elaboração e na aplicação de uma metodologia com sólidos
fundamentos teóricos. Além disso, escreveu uma série de importantes artigos para
publicação imediata e outros editados mais tarde, sobretudo seus cursos, que eram
sempre escritos previamente.
Sua intensa atividade intelectual pode ser comprovada também pela iniciativa,
tomada em 1896, de fundar uma grande revista, qual seja, L’Année Sociologique, que se
converteu num verdadeiro trabalho de laboratório, na expressão de Duvignaud. 7 Os
propósitos enunciados no prefácio do volume I não são apenas “apresentar um quadro
anual do estado em que se encontra a literatura propriamente sociológica”, o que
constituiria uma tarefa restrita e medíocre. Para ele, o que os sociólogos necessitam
“é de ser regularmente informados das pesquisas que se fazem nas ciências especiais, história do direito, dos costumes, das religiões,
estatística moral, ciências econômicas etc., porque é aí que se encontram os materiais com os quais se deve construir a Sociologia” (cf. Journal
Sociologique. p. 31).
O ambiente intelectual foi para Durkheim o mesmo que a água para o peixe, o que
ele herdou de seu pai e transmitiu aos seus filhos. Seu filho, morto na guerra, preparava
um ensaio sobre Leibniz. Sua filha casou-se com o historiador Halphen. Seu sobrinho
Marcel Mauss tornou-se um dos grandes antropólogos, colaborador e co-autor de “De
quelques formes primitives de classification”. A família praticamente se estende aos seus
discípulos, que se notabilizaram nos estudos sobre a Grécia (Glotz), os celtas (Hubert), a
China (Granet), o Norte da África (Maunier), o direito romano (Declareuil). Os mais
numerosos tornam-se membros da que ficou conhecida como Escola Sociológica
Francesa: além de Mauss, Fauconnet, Davy, Halbwachs, Simiand, Bouglé, Lalo, Duguit,
Darbon, Milhau etc. etc. Trata-se na verdade de uma escola que não cerrou as portas.
2. A obra
Em artigo publicado em 1900 na Revue Bleue (“La Sociologie en France ao XIXe
siècle”), defende a tese de que a Sociologia é “uma ciência essencialmente francesa”
(DURKHEIM, 1970: p. 111), dado seu nascimento com Augusto Comte. Mas, morto o
mestre, a atividade intelectual sociológica de seus discípulos foi sobrepujada pelas
preocupações políticas. E a Sociologia imobilizou-se durante toda uma geração na França.
Mas prosseguira, enquanto isso, seu caminho na Inglaterra, com Spencer e o organicismo.
A França pós-napoleônica viveu num engourdissement mental, que só se interromperia
momentaneamente com a Revolução de 1848 e, posteriormente, com a Comuna de Paris.
“É tempo de entrar mais diretamente em relação com os fatos, de adquirir com seu contato o sentimento de sua diversidade e sua especificidade,
a fim de diversificar os próprios problemas, de os determinar e aplicar-lhes um método que seja imediatamente apropriado à natureza especial
das coisas coletivas”(id., ibid. p. 125-26).
Nada disso podia fazer o organicismo, que não nos dera uma lei sequer.
“em lugar de tratar a Sociologia in genere, nós nos fechamos metodicamente numa
ordem de fatos nitidamente delimitados salvo as excursões necessárias nos
domínios limítrofes daquele que exploramos, ocupamo-nos apenas das regras
jurídicas e morais, estudadas seja no seu devir e sua gênese [cf. Division du travail]
por meio da História e da Etnografia comparadas, seja no seu funcionamento por
meio da Estatística [cf. Le suicide]. Nesse mesmo círculo circunscrito nos apegamos
aos problemas mais e mais restritos. Em uma palavra, esforçamo-nos em abrir, no
que se refere à Sociologia na França, aquilo que Comte havia chamado a era da
especialidade”(DURKHEIM, 1970: p. 126).
Sua preocupação foi orientada pelo fato de que a noção de lei estava sempre
ausente dos trabalhos que visavam mais à literatura e à erudição do que à ciência:
“A reforma mais urgente era pois fazer descer a idéia sociológica nestas técnicas especiais e, por isso mesmo, transforma-las, tornando
realidade as ciências sociais”(id., ibid. p. 127).
A superação dessa “metafísica abstrata” exigia um método, tal como o fez em Les
règles de la méthode sociologique. Mas estas não surgiram de elaborações abstratas
“desses filósofos que legiferam diariamente sobre o método sociológico, sem ter jamais entrado em contato com os fatos sociais. Assim,
somente depois que ensaiamos um certo número de estudos suficientemente variados, é que ousamos traduzir em preceitos a técnica que
havíamos elaborado. O método que expusemos não é senão o resumo da nossa prática”(id., ibid. p. 128).
“porque não existe fenômeno que não se desenvolva na sociedade, desde os fatos
físico-químicos até os fatos verdadeiramente sociais” (“La Sociologie et son
domaine scientifique.” Apud CUVILLIER, 1953: p. 179).
Nesse mesmo artigo (datado também de 1900), em que contrapõe suas concepções
àquelas formalistas de Simmel, e onde antecipa várias colocações posteriores (como sua
divisão da Sociologia, cf. p. 41), Durkheim fala também de um reino moral, ao concluir que:
“a vida social não é outra coisa que o meio moral, ou melhor, o conjunto dos diversos meios morais que cercam o indivíduo” (id., ibid. p. 198).
“Qualificando-os de morais, queremos dizer que se trata de meios constituídos pelas idéias; eles são, portanto, face às consciências individuais,
como os meios físicos com relação aos organismos vivos”(id., ibid.).
“Se existe um ponto fora de dúvida atualmente é que todos os seres da natureza, desde o mineral até o homem, dizem respeito à ciência positiva,
isto é, que tudo se passa segundo as leis necessárias” (id., ibid. p. 82).
“Ela [a Sociologia] tem um objeto. claramente definido e um método para estudá-lo. O objeto são os fatos sociais; o método e a observação e a
experimentação indireta, em outros termos, o método comparativo. O que falta atualmente é traçar os quadros gerais da ciência e assinalar suas
divisões essenciais. (...) Uma ciência não se constitui verdadeiramente senão quando é dividida e subdividida, quando compreende um certo
número de problemas diferentes e solidários entre si” (id., ibid. p. 100).
Parte de uma distinção entre ciência e arte. Aquela estuda os fatos unicamente para
os conhecer e se desinteressa pelas aplicações que possam prestar às noções que
elabora. A arte, ao contrário; só os considera para saber o que é possível fazer com eles,
em que fins úteis eles podem ser empregados, que efeitos indesejáveis podem impedir
que ocorram e por que meio um ou outro resultado pode ser obtido. “Mas não há arte que
não contenha em si teorias em estado imanente” (id., ibid. p. 112).8
Emile Durkheim: Sociologia JOSE ALBERTINO RODRIGUES
3. O método
“Todos os membros da tribo se encontram assim classificados em quadros definidos e que se encaixam uns nos outros. Ora, a classificação das
coisas reproduz essa classificação dos homens” (DURKHEIM, 1969: p. 402. Grifos do original).
Essa é, em última análise, a tese de Les formes élémentaires e que, naquele mesmo
texto, é igualmente enunciada como segue:
“Em resumo, se não estamos bem certos de dizer que essa maneira de classificar as
coisas está necessariamente implicada no totemismo, e, em todo caso, certo que ela
se encontra muito freqüentemente nas sociedades que são organizadas sobre uma
base totêmica. Existe pois uma ligação estreita, e não apenas uma relação acidental,
entre esse sistema social e esse sistema lógico” (id. ibid. p. 425. Grifos nossos).
“Os estudos devem ter por finalidade dar ao espírito [ingenium no original latino] uma direção que lhe permita conduzir a julgamentos sólidos e
verdadeiros sobre tudo que se lhe apresente” (DESCARTES, Règles. 1970: p. 1) .
Apesar de Descartes utilizar a aritmética e a geometria nas suas exemplificações e demonstrações, fica claro que suas regras não se limitam às
matemáticas ali tomadas como protótipo das ciências. O tratamento dos fenômenos como coisa e uma constante nesse trabalho de Descartes, tal
como no de Durkheim. Assim, a Regra XV (de Descartes) recomenda que, ao se tomar a figura de um corpo, deve-se traçá-la e apresentá-la
ordinariamente aos sentidos externos.
“Todo método consiste na ordem e arranjo dos objetos sobre os quais se deve conduzir a penetração da inteligência para descobrir qualquer
verdade” (id., ibid. p. 29).
Confira:
Quase 70 anos após sua publicação, um sociólogo americano, Selvin, fez inserir um
artigo no American Journal of Sociology em que o estudo de Durkheim e considerado
“ainda um modelo de pesquisa social”, onde o método central utilizado é o da análise
multivariada (a introdução de progressivas variáveis adicionais permite aprofundar o
tratamento do problema até garantir generalizações seguras).12
• Merton apresenta-a como um dos melhores exemplos do que ele veio a chamar “teoria de
médio alcance” uma generalização segura à base de dados empíricos tratados com
precisão e segurança ao lado de A Ética Protestante e o Espírito Capitalista de weber
(MERTON, 1968: cap. 11, esp. p. 59 e 63).
“Assim Durkheim pôde descrever um conjunto de observações (as relações entre taxas de enfermidade mental e taxas de suicídio. para várias
regiões) que dariam um resultado (correlação positiva), se a enfermidade mental causasse o suicídio, e outro resultado diferente (correlação
insignificante), se operassem as causas sociais. Durkheim realizou depois estas observações e a correlação entre taxas de enfermidade mental e
taxas de suicídio resultou insignificante. Isto refutou a teoria alternativa (tal como estava formulada) e fez com que sua teoria fosse muito mais
veraz” (STINCHCOMBE, 1970: cap. 2, esp. p. 36).
• Madge, enfim (last but not least), mostra como Durkheim escolheu esse tema por três
razões: 1) o termo “suicídio” poderia ser facilmente definido; 2) existe muita estatística a
respeito; 3) é uma questão de considerável importância.
“Durkheim estava absolutamente seguro de sua tarefa, que era demonstrar que as ciências sociais podem examinar uma questão social
importante, sobre a qual outras pessoas haviam filosofado por muito tempo, e pôde mostrar, mediante a apresentação sistemática de fatos
existentes, que é possível chegar a conclusões úteis que podem ajudar com proposições práticas as ações futuras” (MADGE, 1967: cap. 2, esp. p.
16).
Essa reação visava antes de tudo a uma valorização do homem, para superar a
excessiva valorização dá máquina. Daí uma série de esforços no sentido de uma
concepção orgânica da sociedade, que instruiu tanto concepções conservadoras – tal
como a de Spencer – quanto socialistas – tal como a de John Ruskin.15 Na verdade,
qualquer tentativa de simplesmente explicar o social pelo orgânico esbarraria com os
preceitos metodológicos explicitados nas Règles.
Ao concluir Lés règles, Durkheim sintetiza seu método em três pontos básicos: a)
independe de toda filosofia; b) é objetivo; c) é exclusivamente sociológico e os fatos
sociais são antes de tudo coisas sociais. Buscando uma “emancipação da Sociologia”
(DURKHEIM, 1895: p. 140) e procurando dar-lhe “uma personalidade independente” (id.,
ibid. p. 143) diz claramente nas páginas finais:
“Fizemos ver que um fato social não pode ser explicado senão por um outro fato social e, ao mesmo tempo, mostramos como esse tipo de
explicação e possível ao assinalar no meio social interno o motor principal da evolução coletiva. A Sociologia não e, pois, o anexo de qualquer
outra ciência; é, ela mesma, uma ciência distinta e autônoma, e o sentimento do que tem de especial a realidade social é de tal maneira
necessário ao sociólogo, que apenas uma cultura especialmente sociológica pode prepará-lo para a compreensão dos fatos sociais” (id, ibid.).
Apesar de uma interpretação muito pessoal – que não vem ao caso discutir aqui –
das formulações durkheimianas, Parsons ressalta que a metodologia de Durkheim é a do
"positivismo sociologista" (PARSONS, 1968: v. I, cap. IX, p. 460 et seqs.; para as citações a
seguir, ver p. 307, 61 e 343 respectivamente).17 Identificando-o como “herdeiro espiritual de
Comte”, seu positivismo implica “o ponto de vista de que a ciência positiva constitui a
única posição cognitiva possível” do homem face à realidade externa. Parsons ressalta
que a originalidade de Durkheim está em diferenciar-se de seus antecessores, para quem a
tradição positivista tinha sido predominantemente individualista. Ele elevou o “fator
social” ao status de elemento básico e decisivo para explicar os fenômenos que tinham
lugar no “reino social”, e que o social só se explica pelo social e que a sociedade é um
fenômeno sui generis, independente das manifestações individuais de seus membros
componentes. Parsons chama a atenção para o fato de que na obra metodológica mais
antiga de Durkheim (Division du travail) se encontram duas linhas principais de
pensamento:
“Uma, polêmica, e uma crítica do nível metodológico das concepções subjacentes do individualismo utilitarista. Outra, sua própria doutrina, é um
desenvolvimento da tradição positivista geral, a que a maior parte do argumento deste estudo se refere”.
4. O esquema teórico
“Essas normas impessoais do pensamento e da ação são aquelas que constituem o fenômeno sociológico por excelência e se encontram com
relação à sociedade da mesma forma que as funções vitais com respeito ao organismo: elas exprimem a maneira como se manifestam a
inteligência e a vontade coletivas” (apud CUVILLIER, 1953: p. 200-01).
5. Resumindo
Se ela apresenta lacunas – a ausência das classes sociais é um exemplo –, isto não
diminui o seu valor específico. Essa “falha”, bem como a ausência da pesquisa de campo
notada por Kroeber, não seriam antes fruto de indagações e preocupações posteriores a
ele e não propriamente de seu tempo?
Bibliografia de Durkheim
1893 – De la division du travail social. Paris, F. Alcan. (7.a ed. PUF, 1960)
1895 – Les règles de la méthode sociologique. Paris, F. Alcan. (Trad. port. de Maria Isaura
Pereira de Queiroz. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1972 )
1897 – Le suicide. Étude sociologique. Paris, F. Alcan. (11.a ed. PUF, 1969) (Trad. port. de
Nathanael C. Caixero e revisão técnica de Antônio Monteiro Guimarães Filho. Rio de
Janeiro, Zahar, 1982 )
2 – Comentando nos Annales (v. IV, 1899-1900) um livro que Alfred Fouillée. acabara de
publicar (La France au point de vue moral. Paris, Alcan, 1900), Durkheim mostra-se
convencido pela argumentação relativa “à une dissolution de nos croyances Morales” e,
apesar de discordar das soluções apontadas para os problemas de criminalidade,
concorda com a argumentação do A. e afirma: “Il en resulte un véritable vide dans notre
conscience morale" (DURKHEIM, 1969: p. 303). Já em 1888 ("Cours de Science Sociale")
reconhecia uma crise moral de seu tempo (DURKHEIM, 1970: p. 107).
6 – "The three minds are, in a very real sense, the essence of contemporary sociology"
(NISBET, 1965: p. 3) .
8 – Observe-se que Durkheim está usando arte não no sentido estético, mas no sentido
técnico, tal como se fazia na distinção que nos vem desde a antigüidade, entre: artes
mecânicas (carpintaria, por ex.), belas-artes (pintura, por ex.) e artes liberais (cf. o trivium e
o quadrivium que formavam as sete artes do programa pedagógico greco-romano), sendo
estas destinadas a liberar o espírito. V. LALANDE. "Art." Vocabulaire technique et critique
de la philosophie.
9 – DURKHEIM, 1953: cap. 1.°, itens II e III, p. 35 et seqs. "Montesquieu compreendeu não
somente que as coisas sociais são objeto de ciência, mas contribuiu para estabelecer as
noções-chave indispensáveis para a constituição dessa ciência. Essas noções são em
número de dois: a noção de tipo e a noção de lei" (p. 110) .
13 – Cf. HAGENBUCH, W. Economia Social. Rio de Janeiro, Zahar Ed., 1961. cap. IV, esp. p.
165 et seqs.
14 – Segundo o citado artigo de Selvin (apud NIsBET, 1965: p. 121), replicação "é o
reestudo sistemático de uma dada relação em diferentes contextos".
15 – O termo orgânico ocupa uma importante posição entre os saint-simonianos. Para eles
o desenvolvimento da humanidade se alternou em "épocas críticas" (períodos de crise, de
negação, de dissolução) e "épocas orgânicas" (períodos em que reina um pensamento
unificado e uma concepção coletiva da vida). Tal emprego é feito pelo carbonário Buchez
(Cf. ISAMBERT, Fr.-André. "Époques critiques et époques organiques. Une contribution de
Buchez à l'élaboration de la théorie sociale des saint-simoniens." Cahiers Internationaux
de Sociologie. 1959. v. XXVII (nova série), p. 131-52, esp. p. 140) e pelas exposições gerais
dessa escola (cf. BOUGLÉ e HALÉVY (org.). Doctrine de Saint-Simon. Exposition, première
année, 1829. Nova ed. Paris, Marcel Rivière, 1924. Segunda sessão, p. 157-78, esp. p. 161).
As concepções são diferentes, mas é certo que se tratava de um termo em voga, antes do
advento do organicismo. Cf. também WILLIAMS, Raymond. Cultura e Sociedade. São
Paulo, Cia. Ed. Nacional, 1969. cap. VII, esp. p. 152-55.
16 – COSER, 1971: p. 141, reconhece. o conceito de função como desempenhando um
papel crucial na obra de Durkheim, mas assinala igualmente a ocorrência de outros
procedimentos analíticos.
18 – "Sem dúvida, os fenômenos que concernem à estrutura têm qualquer coisa de mais
estável que os fenômenos funcionais, mas entre as duas ordens de fatos não existem
senão diferenças de graus. A própria estrutura se reencontra no vir a ser [devenir] e não se
pode esclarecê-la senão com a condição de não perder de vista esse processo de vir a ser.
Ela se forma e se decompõe sem cessar; ela é a vida que atingiu um certo grau de
consolidação; e distingui-la da vida de onde ela deriva ou da vida que ela determina,
equivale a dissociar coisas inseparáveis" (apud CUVILLIER, 1953: p. 190). Cuvillier, em
nota a essa página, diz: "Vê-se aqui o quanto é falso se acusar Durkheim, tal como ainda
se faz comumente [por Gurvitch], de não ter percebido senão o lado cristalizado,
estereotipado [figé] da vida social".
19 – Na falta de um texto especial nesta seleção, convém remeter o leitor à 2.a lição de
L'éducation morale, onde a moral é definida como "um sistema de regras de ação que
predeterminam a conduta", as quais .nos dizem como devemos agir – "e bem agir é
obedecer bem" (DURKHEIM, 1925: p. 21). É clara a vinculação com a autoridade. Daí esta
colocação complementar: "A moral não é pois apenas um sistema de hábitos, é um
sistema de comando" (id., ibid. p. 27). Não se pode perder de vista a lição básica das
Régles de que a moral é um fato social e que se impõe aos indivíduos por intermédio da
coerção social.
21 – O outro é Gurvitch, que, não obstante, reconhece ser a obra sociológica de Durkheim
"o esforço mais bem sucedido, até o presente, de junção entre teoria sociológica e
pesquisa empírica" (GURVITCH, 1959b : p. 3) .
Bibliografia: