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Como uma rapariga descalça, a noite caminhava leve e lenta sobre a relva do
jardim. Era uma jovem noite de Junho, a primeira noite de Junho. E debruçada
sobre o tanque redondo ela mirava extasiadamente o reflexo do seu rosto.
Do jardim via-se a casa, uma casa grande cor-de-rosa e antiga que, toda
iluminada nessa noite de festa, espalhava no jardim luzes, brilhos, risos, música e
vozes. A luz recortava o buxo dos canteiros e a música misturava-se com o baloiçar
das árvores.
Pelas janelas abertas avistavam-se pares dançando e vestidos claros de
raparigas, vestidos que flutuavam entre os passos e os gestos. Vultos de
namorados passavam entre as cortinas e vinham apoiar-se no peitoril das janelas,
inclinados sobre a noite. Às vezes um riso mais agudo cortava, como um pequeno
punhal, a água lisa dos tanques.
Sophia de Mello Breyner Andresen
I
1. Situa o texto na obra a que pertence.
2. Tal como em quase todos os contos maravilhosos, a protagonista Lúcia sofre
uma transformação.
Em que consistiu essa transformação?
Essa mudança trouxe a felicidade a Lúcia? Justifica.
Refere-te à importância dos sapatos no conto.
II
1. «Como uma rapariga descalça a noite caminhava leve e lenta sobre a relva
do jardim.»
Identifica os recursos estilísticos que tornam a noite mais expressiva, seguindo
estes passos:
a) a noite é apresentada como se fosse uma pessoa.
b) estabelece-se um paralelo entre a noite e uma rapariga.
c) O modo como a noite caminhava é caracterizado através de dois adjectivos.
d) Esses adjectivos têm sons muito semelhantes.
III
Escolhe uma destas actividades:
1. Imagina a conversa ao telefone de uma das raparigas presentes no primeiro
baile com uma amiga que lá não esteve. Assunto da conversa: o sapato roto
abandonado no meio da sala.
2. Com o mesmo tema da questão anterior, imagina a carta que a rapariga
presente no primeiro baile terá enviado à amiga.