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Prof.

Roncalli Maranhão
Aplicação: Antropologia; Filosofia; Gestão e Desenvolvimento de Pessoas; OS&M; Arquitetura
Organizacional; Psicologia Organizacional; Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem.

Gerações apresentam diferentes No Brasil, o termo também é usado para quem


nasceu naquela época. Os "baby boomers" eram
perspectivas e metas profissionais jovens quando começou a ditadura. Essa é a
geração que lutou contra os militares, a geração da
Jovem Guarda, da Bossa Nova, do Tropicalismo, do
rock ´n´ roll e dos festivais aqui e lá fora.

“A ideia da geração ‘baby boomer’ foi construir uma


carreira que fosse sólida, na qual a gente tivesse
uma fidelização ao trabalho. Uma carreira que nos
realizasse, e não necessariamente nos oferecesse
apenas um aporte material”, afirma Cortella.

“Eu sou um clássico ‘baby boomer’, com 64 anos. A


geração minha era preocupada com o dever, a
segurança, em permanecer muito tempo numa
empresa”, diz Milton Pereira, diretor de
Nos últimos 50 anos, o intervalo entre uma desenvolvimento humano da Serasa Experian.
geração e outra ficou mais curto. Isso significa “Essas pessoas são provavelmente as que estão em
que pessoas de diferentes idades estão posições de presidência, de chefia, de diretoria. Os
convivendo cada vez mais seja em casa ou no seus pais os ensinaram a chamar de senhor e
trabalho. Entenda como pensa cada grupo de senhora, ou a pedir a bênção, a ter com os mais
idade. velhos uma figura de autoridade”, afirma Eline.
Fábio Turci São Paulo, SP
Regime militar no Brasil. Segunda metade dos anos
60. Década de 70. O Brasil vivia censurado pela
“Durante muitas décadas, definiu-se geração como Ditadura, mas um pouco depois, na década de 80,
sendo aquela que sucedeu a seus pais. Portanto, se eram jovens e assistiam às Diretas Já. É a geração
calculava como sendo uma geração o tempo de 25 X.
anos”, diz o educador Mário Sérgio Cortella.
Quem é da geração X conheceu a Aids e ficou com
“A questão é que, nos últimos 50 anos, nós tivemos medo dela, que levou Cazuza. Pintou a cara para
uma aceleração do tempo, do modo de fazer as derrubar o presidente. Viu a tecnologia entrar de vez
coisas, do jeito de produzir. A tecnologia é decisiva em casa. Pagou com cruzeiro, cruzado, cruzado
para criar marcas de tempo”, completa Cortella. novo.

O intervalo entre uma geração e outra ficou mais “Teve um componente de ‘deixa eu trabalhar mais,
curto. Hoje, já se pode falar em uma nova geração a para ganhar mais dinheiro’. Ele é apegado a títulos,
cada dez anos. Isso significa que mais pessoas apegado a cargos, gosta de deixar claro a posição
diferentes estão convivendo em casa, na escola, no em que está, porque, para ele, é mérito de muito
mercado de trabalho. esforço que ele teve”, diz Renato Trindade,
presidente da Bridge Research.
Para conhecer as gerações que, hoje, são colegas
de trabalho, nós agora vamos voltar na linha do “Aqui na empresa mesmo, eu sou da geração X. É
tempo. Nos acontecimentos de cada época, está a uma geração que tem um pouco mais de resistência
chave pra entender a cabeça de cada geração. à tecnologia, não tem esse afã, por exemplo, de
buscar inovação e estar sempre conectada à
Chegamos à metade dos anos 40. Terminou a inovação, e tem algumas resistências até na própria
Segunda Guerra Mundial, e nasceu uma geração. forma de trabalhar”, explica Alessandro Lima, CEO
Nos Estados Unidos, com a volta dos soldados para da E.Life.
casa, muitas mulheres engravidaram. Houve um
"boom" de bebês. Por isso, a geração que aí A geração seguinte cresceu num país que já era uma
começou é chamada de "baby boomers". “Uma democracia e uma economia aberta. Nos anos 90, o
geração que disse ‘eu não quero mais a guerra, eu Brasil foi melhorando e sendo respeitado depois do
quero a paz, eu quero o amor’”, afirma Eline Kullock, plano Real, e a internet abriu as portas do mundo
presidente do Grupo Foco. para a geração Y.

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“Esse é um profissional mais voltado para ele, para o


prazer. Ele não quer um trabalho sisudo, um trabalho
fechado. Ele não quer um chefe que diga para ele
somente o que ele deve fazer, ele quer participar”,
Funcionários com valores
diz Eline. diferentes geram conflitos em
empresas
“Ele quer uma evolução mais imediata, ele é
impulsivo, impaciente, então ele quer subir na
carreira, mesmo que seja de pequenos passos, ele
quer subir frequentemente, constantemente e
rapidamente”, afirma Trindade.

Exatamente como a parceira de negócios Rose


Russowski. Em dois anos e meio de empresa, duas
promoções. E pensa que ela está satisfeita? Após
um ano na mesma posição, Rose diz: “Já é tempo
suficiente, já conhece bastante, já tô bem
acostumada, está na hora de outra vir”.

Roberta Rossatti, 28, é outra legítima mulher da


geração Y. Inquieta até quando está num bom O profissional que valoriza a experiência, o Baby
emprego. “Eu tenho a mania de olhar para fora, de Boomer, muitas vezes enfrenta problemas com a
olhar para o mercado e saber o que as outras geração Y, jovens de até 30 anos com ideias
pessoas estão fazendo”, diz. É por isso que ela é fã novas e muita energia. Isso tudo pode deixar os
de Ronaldo, o fenômeno. Com 17 anos, o jogador foi mais velhos inseguros, principalmente a geração
para a Europa. “O cara que larga tudo e vai atrás do X, aquela que fica no meio das duas.
sonho, enfim, foi para uma série de países, mas que
teve um começo muito humilde”, completa. Fábio Turci São Paulo, SP

Nem o pai dela, que é corintiano, admira tanto o Quem vê o gerente de marketing da Boehringer
Ronaldo. Na verdade, o aposentado Eliseu Rossatti Ingelheim, Sérgio Pacheco, trabalhando, pensa em
é fã mesmo de um palmeirense. O goleiro Marcos já quê? “Para mim, é um menino ainda”, diz o consultor
defendeu o Palmeiras em mais de 500 jogos, mais de vendas da Boehringer Ingelheim, Carmelo
ou menos como Eliseu, um “baby boomer” que teve Locateli.
só três empregos a vida inteira. No último, ficou 20
anos. Mas o "menino" chegou pra ser o chefe. “E aí aquele
choque, poxa vida, eu, 47 anos, ter um gestor com
“Estabilidade é a coisa mais importante que tem. Eu 29, 28, como é que é isso?”, questiona Carmelo.
vesti uma camisa. Então, quando você veste uma “Isso é um nó, quando um Y chefia até um Baby
camisa, você vai lutar por ela. Meu sistema era esse, Boomer”, afirma a presidente do Grupo Foco, Eline
que a gente levantou essa companhia”, diz Eliseu. Já Kullock.
a filha está no terceiro emprego em dois anos.
Sérgio é da geração Y, aquela dos jovens com 30
Eliseu diz que se sentiria mal indo para a anos, ou menos, que têm pressa pra conseguir
concorrência. “Mal? Eu fui para a concorrência três reconhecimento e crescimento profissional e que
vezes! Eu sempre vou para a concorrência. Agora eu mudam de emprego com facilidade quando não
tô me sentindo mal”, responde Roberta, a filha. estão satisfeitos. Carmelo faz parte dos "Baby
Boomers", a geração de quem tem mais de 45 e
Se as diferenças são tão evidentes dentro de casa, valoriza a experiência, o tempo de empresa.
imagine então nas empresas, onde estão em jogo
carreiras, estratégias, dinheiro. “Quando as três se “É claro que é mais complicado você ter um rapaz
encontram no mercado de trabalho, dá um nó mais jovem, uma moça mais jovem te chefiando,
danado, porque um não sabe que o outro tem um você fica meio frustrado. Gente, lembre-se que o
modelo mental diferente, tem uma cabeça diferente, Baby Boomer, o poder para ele é importante, o saber
porque teve uma história e uma educação diferente”, é tudo. Isso está na cabeça do mais velho, que tem
explica Eline. certa dificuldade de aceitar”, fala Eline.

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Quando existe conflito de gerações numa empresa, organização, é a extensão do dia a dia. É o que faz
normalmente a geração Y está no meio. Esses ele ter prazer, então ele está trabalhando aqui, é
caçulas do mercado de trabalho têm energia, lógico, no seu local de trabalho, mas escutando uma
desenvoltura, intimidade com a tecnologia. E isso música, escutando um som que ele gosta e isso só
tudo pode deixar os mais velhos inseguros, colabora, só estimula”, afirma o gerente executivo da
principalmente a geração X, aquela que fica no meio Serasa Experian, Elcio Trajano.
das outras duas. É a geração das pessoas com mais
de 30 e menos de 45 anos, que viu os pais Outra característica da geração Y é a pouca
enfrentarem as crises da década de 80 e, por isso, paciência para reuniões muito longas. O jovem tira o
trabalhou duro para ter segurança financeira. celular do bolso e começa a mexer, para passar o
tempo. O pessoal mais velho acha falta de
“O X foi treinado, ele foi talhado a trabalhar e esperar educação.
um momento que seria o reconhecimento dele onde
ele sobe um degrau. Ele tem medo de perder o Quando o jovem Y quer falar com algum chefe, ele,
emprego justamente pra pessoas que aparentam ter muitas vezes, passa pelo gerente, normalmente da
mais energia do que ele, que podem eventualmente geração X, e vai logo à sala do diretor "Baby
trazer mais inovação e energia do que ele”, diz o Boomer". O gerente X não gosta e reclama que o Y
presidente da Bridge Research, Renato Trindade. não respeita a hierarquia. “O X se apega um pouco
na hierarquia, porque a hierarquia consolida o poder
Alessandro Lima, presidente de uma empresa, já viu deles. Esse é um problema que tem que ser
isso com funcionários dele. “A gente já observou gerenciado, de insegurança da geração X”, explica
casos na empresa de pessoas da geração X que não Milton.
aceitavam que uma ideia melhor, uma inovação
surgisse da geração Y”, conta. O próprio Alessandro O conflito entre as gerações atrapalha a produção da
é um X, geração que valoriza muito a carreira, mas empresa. O clima fica ruim. Chega ao extremo em
que vê os tempos mudarem. que o jovem da geração Y é demitido ou pede
demissão porque está insatisfeito. A empresa tem
“O que vai definir realmente promoção, ascensão na gastos, perde talentos e fica com a vaga aberta
carreira, é a competência. Então, não é mais tempo enquanto procura alguém para o lugar. E quem
de casa. Tempo de casa não garante mais nada”, garante que a história não vai se repetir com o outro
explica o diretor de desenvolvimento humano da funcionário que for contratado?
Serasa Experian, Milton Pereira. “Os X que abra o
olho, porque os Y tão chegando com diploma “Tumultua e acaba fazendo com que o objetivo da
atualizadíssimo”, completa empresa, que é olhar para fora, olhar para o
mercado, olhar para o cliente, olhar o que está
Alessandro reconhece que, na empresa, os acontecendo, se transforme num conflito interno.
contemporâneos dele perderam a briga. “A gente Acho que a empresa que vai ser a empresa do futuro
prefere trabalhar com a geração Y por ela estar mais é a que conseguir conciliar todas as gerações no
aberta a novos modelos de trabalho”, diz Alessandro. mesmo ambiente de trabalho”, diz Eline.

Abertura é o que a Y gerente de projetos Roberta No caso de Sérgio e Carmelo, a conciliação veio com
Rossatti espera do Alessandro, chefe dela. “Eu sinto o tempo. Bastou que Carmelo visse o jovem chefe
essa necessidade de aprender junto com a empresa em ação. “O cara realmente tem capacidade, ele não
e de passar pra empresa tudo aquilo que eu consigo está à toa no cargo que ele está”, fala Carmelo.
aprender. Mais do que a história da estabilidade, eu
quero poder participar dos processos”, avisa. “A idade ela passa desapercebida quando você
passa a olhar a competência técnica do profissional
O problema é quando essa participação vem de uma e aí a hierarquia não conta porque o objetivo é
forma que os mais velhos não assimilam direito. Por único”, diz Sérgio.
exemplo: o jovem Y senta na mesa de trabalho e fica
ouvindo música, navegando em redes sociais na Sérgio também é chefe de outro Baby Boomer,
internet. Um colega da geração X pensa que ele está Walmir, que ao mesmo tempo é quase um tutor para
só enrolando e não acha justo. o jovem gerente. “Ele tem o arrojo, a impulsividade
da juventude, e eu fico servindo como mais ou
Na verdade, a geração "Y" é assim mesmo: faz menos um guia ou um aparador da impulsividade
várias coisas ao mesmo tempo, inclusive o trabalho. dele. E nisso a gente acaba se completando”, fala o
“Ele nasceu, cresceu, com estímulos, de música, gerente de políticas de saúde, Walmir Guerra
internet, com amigos no colégio, isso vem para Caetano.

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“Acredito que eu vou aprender muito com ele, e vice crescimento é pelo seu potencial de realização. Seja
versa, também, acho que ele tem muito a aprender a idade que você tem, ou mais jovem, ou mais velho,
com a gente e a empresa só ganha com isso”. Fala não tem preconceito por nenhum dos lados”, afirma
Carmelo. Adriana.

E o que as empresas estão fazendo pra que os A empresa, do ramo farmacêutico, tem mais de 600
conflitos entre as gerações tenham sempre um final funcionários, bem distribuídos entre as diferentes
feliz, assim? É o assunto da reportagem de amanhã. gerações: os "baby boomers" (25%), nascidos entre
o fim da Segunda Guerra e a metade da década de
60; a geração X (42%), de quem nasceu entre a
segunda metade dos anos 60 e nos anos 70; e a Y
(32%), formada pelos nascidos dos anos 80 até
Empresas encontram desafios para meados da década de 90.
manter talentos da geração Y
Na empresa, a perspectiva de crescer e o tratamento
igual entre todos estimulam, principalmente, a
geração Y, que não dá muita bola para hierarquia. Já
a geração X tem que se acostumar a não ostentar
tanto o poder de chefe.

“O RH das empresas está preocupado com a


maturação deste geração X para que ele seja mais
benevolente com essas questões de hierarquia, que
não são respeitadas pela geração Y. Muitas vezes,
quando essas duas gerações se batem, dado que a
geração Y não tem tantas âncoras, não tem tanta
responsabilidade, o que acontece? Ele vai trocar de
Os jovens querem progredir rápido e mudam empresa”, afirma Renato Trindade, presidente da
facilmente de emprego em busca do crescimento. Bridge Research.
Já as companhias tentam estimular essa geração
para mantê-los na equipe e melhorar a relação E se a geração Y gosta de prazer e de tecnologia, foi
dos Y com os Baby Boomers e os X. criado um cantinho para eles. “É um espaco
diferente, diferente de você estar ali, dia inteiro na
Fábio Turci / Marcos Losekann / Roberto Kovalick São frente de um computador, são oito horas. Então,
Paulo, SP / Londres, Reino Unido / Tóquio, Japão você vem aqui, dá uma distraída. A hora que você
volta, volta com mais gás, volta com mais vontade”,
Um cafezinho. Bate-papo. Um bom livro. E a vista diz Raphaela Guedes, analista de trade marketing.
panorâmica de São Paulo. Não é nenhum barzinho,
nenhum café, e o pessoal não está de folga. Todo o Uma empresa de tecnologia da informação também
espaço, na verdade, é a ante-sala do trabalho. incorporou o jeito mais informal da geração Y para
melhorar a convivência com os jovens. O jeans foi
O lugar é aconchegante, mas não tem mordomia liberado. Dá para trabalhar de casa duas vezes por
para ninguém. Todo mundo, de estagiários a semana. Os funcionários ainda viajam para ajudar
diretores, tem que pegar a própria xícara e, depois, comunidades de países pobres.
colocá-la na máquina de lavar. Acabou o tratamento Isso motiva o Y Eduardo Ikeda, coordenador de
VIP que só os chefes tinham. inteligência de mercado da IBM. “Você tem que
sentir que sua empresa, de alguma maneira,
“Quanto mais você subia na hierarquia, mais status contribui para um mundo melhor e, ao mesmo
você tinha. As salas iam crescendo, o local onde era tempo, ter qualidade de vida”, diz.
sua sala. Muitas vezes, você tinha o copeiro, copeira,
servindo café, fazendo os serviços, ou seja, A empresa está até criando um comitê para "discutir
mostrava que a hierarquia era presente e que tinha as relações". “Esse comitê é formado por pessoas de
as diferenças dentro da organização”, diz Adriana diferentes gerações, e elas vão fazer uma troca das
Tieppo, diretora de recursos humanos da Boehringer. necessidades de cada um”, explica Gabriela Herz,
consultora de RH da IBM.
Os chefes também perderam as salas. Agora, senta
todo mundo junto. Com as mudanças, a empresa Em outra empresa, que tem escritórios em 40
quer mostrar que há chance para todos. “O países, o intercâmbio é uma forma de estimular o

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pessoal. Uma das funcionárias foi enviada para No Brasil, as empresas se preocupam em não perder
Londres. os jovens talentos, mas, às vezes, para aproveitar
melhor a energia e a criatividade da geração Y, é
Jovens dos cinco continentes correm para Londres preciso puxar o freio deles. Em uma multinacional de
em busca de oportunidades. É a cidade que mais eletrodomésticos, existe uma área onde a geração Y
recebe estudantes brasileiros na Europa. Conseguir é estratégica: inovação.
também uma experiência profissional por lá pode
significar um salto e tanto na carreira. “É uma geração que tem muita vontade de mudar o
mundo, querem fazer tudo muito rapidamente e
Sorte e mérito de Daniela Godoy, de 28 anos. Ela olham as coisas de uma perspectiva diferente”,
entrou há pouco mais de um ano na filial brasileira de afirma Mário Fioretti, gerente de inovação da
uma empresa britânica. Logo, os diretores Brastemp.
identificaram várias habilidades na jovem:
capacidade de liderança, visão crítica, inglês fluente. Mas, no ambiente corporativo, inovação não é mudar
Daniela foi escolhida para ir a Londres por seis o mundo. “Inovação é pensar diferente. A ansiedade,
meses para ajudar a criar a política global de RH do misturada com a ordem e a disciplina que tem que
grupo. ter, para se ter um método. Eu diria que, de todas as
ideias que surgem, talvez menos de 10% são
“Carreira internacional, ter uma exposição aproveitadas, e como lidar com essa situação com
internacional, foi uma coisa que eu sempre quis. uma garotada que quer mudar o mundo?”, diz
Então, quando eu entrei numa empresa multinacional Fioretti.
que podia me dar essa possibilidade, eu corri atrás
disso”, diz Daniela. Como? Afinando a empresa com o perfil da geração
Y. “Ela é super aberta, é bem Y, por assim dizer, é
Mas e quando nem mesmo o mais talentoso dos bem informal. Você tem acesso a diretores, vice-
jovens encontra espaço para crescer? É o que presidentes, gerentes com uma facilidade tremenda.
acontece em muitas empresas japonesas. Os mais Acho que isso faz com que eu me sinta bem
velhos mandam, os mais jovens obedecem. E aproveitada, você é ouvida”, diz Juliana Harumi,
pronto. É a lógica de um sistema hierárquico especialista de inovação.
extremamente rígido que impera na sociedade
japonesa, chamado “senpai-kohai”, ou veterano- “A gente, às vezes, acha que todas as ideias são as
novato. O sistema tem origem no século XVI, quando melhores, que vão dar certo, e nem sempre é assim.
o Japão era comandado por chefes militares, os As conversas chegam a um ponto comum. A gente
shoguns. A sociedade era dividida em cinco troca muita ideia, então, se a ideia não vai para
categorias. frente, ela tem uma justificativa”, explica Fábio
Furlan, analista de inovação da Whirlpool.
O sistema foi abolido oficialmente No século 19, mas
a influência permanece até hoje. Há uma palavra em E enquanto muitas empresas estão se adaptando
japonês para definir como a sociedade japonesa pra não espantar a geração Y, outras nem precisam
como deve funcionar: “tate shakai”, ou seja, uma disso. Elas já nasceram pelas mãos desses jovens.
sociedade vertical, em que todo mundo sabe seu É o que você vai ver na próxima reportagem.
lugar, deve obediência para quem está acima e
manda em quem está embaixo. Quem mais sofre O Jornal da Globo entrou até na sede do Facebook,
com isso são os jovens, já que a ascensão se dá, por na Califórnia. Ele foi criado por Mark Zuckerberg, um
tempo de serviço e não por mérito ou talento. gênio da geração Y que virou milionário. Mas, dentro
da empresa, ele é um funcionário igual aos outros.
Um professor universitário que estuda o tema diz que
o Japão terá que tornar as relações entre as
gerações mais flexíveis pra concorrer com países
que dão chances aos mais novos. Um dos
ganhadores do Nobel de Química deste ano
endureceu o tom. Radicado há 40 anos nos Estados
Unidos, Ei-ichi Negishi aconselhou todos os jovens
pesquisadores japoneses a abandonar o Japão,
como ele fez, porque, no país onde nasceram, não
haveria futuro para eles.

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“A nossa geração é muito rápida, internet e tudo


mais, então a gente quer tudo com muita ansiedade”,
afirma Mariana Matheus, 17 anos.

Na linha do tempo, a geração Z nasceu a partir de


meados dos anos 90. O mundo desses jovens
sempre teve internet, e-mail, celular, e, a toda hora,
aparece uma novidade. O ritmo ditado pela
Ritmo da tecnologia é decisivo tecnologia é decisivo para formar a personalidade da
para formar a personalidade da geração Z.

geração Z “Essa geração atual não compreende a si mesma, a


geração Z, sem que haja digitalização do mundo, das
relações, da vida. Ela não se compreende e não
compreende a vida fora disso”, diz o educador Mário
Sérgio Cortella.

“Às vezes, é o computador ligado, conversa, jogo,


música, o celular do lado, a TVA ligada, essas coisas
todas, e você vai prestando atenção em tudo que
está acontecendo”, explica Rodrigo Lavorato, 17
anos.

O mundo desses jovens, nascidos em meados de “Um menino entra hoje na empresa como um trainee
1990, sempre teve internet, e-mail, celular, e, a e ele acha que, se em 2 anos, ele não for um dos
toda hora, aparece uma novidade. A tecnologia diretores, ele é um fracassado, se ele é da geração
também molda uma geração em que a Y. Ele não tem ideia de tempo, de maturação de
comunicação é instantânea e nem sempre carreira. A geração Z agudiza essa situação”, afirma
depende do olho no olho. Cortella.

Fábio Turci São Paulo, SP A tecnologia também molda uma geração em que a
comunicação é instantânea e nem sempre depende
do olho no olho. Parece contraditório, mas eles se
“Lerdeza”, diz Marco Briani, 17 anos, quando
comunicam tanto que ficam isolados na própria casa.
perguntado sobre o que o deixa impaciente. Parece
aquela impaciência da geração Y? Mas é pior.
“Pessoas que fazem tudo muito devagar ou que “Sabe que eu levei ele no otorrino, porque achava
demoram para entender uma coisa me causam que ele tinha problema de surdez? Porque eu abria a
irritação extrema”, completa Marco. porta do quarto, falava com ele, na quarta, na quinta
vez, quando eu estava berrando, é que ele me
Uma nova leva de jovens chama a atenção de respondia. Aí o otorrino falou que o ouvido dele é
educadores e especialistas em recursos humanos. seletivo, ele só ouve o que ele quer. Mãe acho que
Eles ainda não chegaram à universidade, mas já não é uma coisa que ele gosta muito de ouvir”, diz
demonstram que vão ter um comportamento Sandra, sobre o filho Marco.
diferente no mercado de trabalho. Os dias de caçula
da geração Y vão acabar. Vem aí a geração Z. “A gente fica menos na sala. A sala não é mais um
lugar de convívio da família e eles vão para os seus
“Eu acho que o que tira a paciência dele é quando quartos, mas a gente não pode dizer que eles
ele não consegue rapidamente o que ele precisa, o fizeram isso sozinho. Os seus pais ajudaram a
que ele quer, de mim ou de alguma situação. Porque educar dessa forma”, afirma Eline Kullock, presidente
não é a internet, não é o computador, que, ‘tuf’, já do Grupo Foco.
está lá”, diz Sandra Mara Azevedo, mãe de Marco.
“Mas se é agora é agora!”, replica Marco. “Tá vendo? “A maioria das famílias não acompanha esses
Quando é agora, é agora. Só que o seu agora às adolescentes. Eles ficam sozinhos porque os pais
vezes é um pouco agora demais, entendeu?”, trabalham. Dessa forma, eles estão acostumados a
completa Sandra. ficar com eles mesmos, independentes, a fazer as
coisas do jeito que eles querem e quando eles
querem. Então, no momento que eles têm que

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dividir, isso se torna muito difícil”, diz a professora


Desirée Azevedo.

É uma geração conhecida como individualista.


Pensando no futuro, esses jovens podem ter muita
dificuldade de trabalhar em equipe. E tanto o
trabalho em equipe quanto a paciência essa geração
precisa cultivar. Quando chegar nas empresas, ela
vai ter que se acostumar a ajudar os mais velhos
com a tecnologia, como acontece em casa. E já
imaginou tratar um colega ou um chefe assim?

“Tentei ensinar minha avó uma vez. Não deu certo.


Porque ela não conseguia nem mexer no mouse. Ela
não conseguia entender como o mouse se movia na
tela. Ela não conseguia. Fiquei dois minutos e
desisti. Falei ‘Vó, vai cozinhar’”, diz a estudante
Andrea Teixeira.

A geração Z há de ter o seu lugar, assim como as


outras. Os baby boomers, experientes e que vestem
a camisa da empresa. A geração X, mais dedicada
ao trabalho, e que combina um pouco da experiência
dos mais velhos com o pique dos mais novos. E a
geração Y, cheia de ideias, de energia, de
capacidade para inovar.

“Essas gerações que convivem podem ter uma


relação de aprendizado ou podem ter uma relação
de rejeição. Essa mescla de gerações oferece um
aumento de repertório para soluções. Empresas
inteligentes mesclam gerações nos projetos, nas
equipes, para obter aumento de repertório e,
portanto, de arsenal de respostas”, conclui Cortella.

Respeitadas as habilidades de cada uma, todas as


gerações têm o seu espaço. “Se eu tiver que alocar
pessoas numa função de planejamento, eu diria que
esse é o baby boomer. Para definir orçamentos,
quanto vai custar, eu diria que são os práticos da
geração X. Esses vão saber alocar recursos muito
bem. Para partir para ação, eu diria a geração Y, que
é mais imediatista, não quer planejar, quer sair na
rua vendendo, criando. Então, se a gente puder fazer
esse círculo, todas elas vão se complementar muito
bem”, diz Eline.

“É uma troca, entendeu? Eu sempre tive facilidade,


sempre busquei retirar o melhor das pessoas mais
velhas porque eles têm sabedoria”, explica Júlia
Rizzi, estudante.

Fonte: http://g1.globo.com/jornal-da-globo/ acesso em


21/11/10.

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