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ter duas significações: enquanto substantivo comum constrói seu território, renomeando o mundo a sua volta.
diz respeito à “tomada de consciência de uma situação Este território, oferece consistência mítica necessária, que
de dominação” [2] e a consequente busca pela faz dele, nascedouro de identidades [2].
identidade negra, já como substantivo próprio se Na poesia, o ponto de ruptura, momento em que o
refere ao processo de construção dessa oprimido passa a ter voz, tem inicio quando o negro deixa
identidade(logo transitório), um movimento que daria de ser apenas objeto do poema, aparecendo sempre como
um sentido positivo à palavra “negro”. 'o outro', sobre quem se fala, e passa a escrever o seu
Bernd [2] descreve vários momentos do percurso próprio discurso.
histórico de resistência dos negros, desde o Esta posição lhes permitiu sair de um lugar silencioso e
Marronage(no Haiti), do Quilombo dos Palmares(no esquecido, para ocupar um lugar poético de resistência,
Brasil), passando pelo “Negro Renaissance” nos nas palavras de Bernd [3], a literatura negra conseguiu
Estados Unidos, até o período de gestação da “sabotar a tradição, e inverter a ordem de modo a alterar
“Negritude”, quando “O Manifesto da legítima uma situação que a condenava a ocupar sempre os espaços
defesa”(1932) denuncia “a exploração do proletariado da penumbra e do esquecimento, e não os da claridade e
negro no mundo”. do prestígio”, tendo como princípio fundamental a
Todavia, dentro do próprio movimento da “reapropriação sistemática de um esquema referencial
Negrigute, surgiram caminhos diferentes: de um lado fundador e a consequente redemarcação de um território”.
Cesáire tentava conciliar marxismo e humanismo, É justamente por esse caminho, de descoberta das
num esforço de romper com o implante cultural minorias, seja pela literatura, pelo cinema, ou pela arte em
imposto pela cultura do branco, com o desejo de geral, e pela construção do conhecimento que
“redescobrir o seu país e suas coisas” a partir do ser contextualiza as questões, que tentaremos trabalhar este
negro. Do outro, a Negritude de Senghor defendia um tema em sala de aula.
Humanismo espiritualista, que acabou eternizando o
racismo com sua dicotomia - Branco: Razão / Negro: Agradecimentos
Emoção.
Não tardaram a surgir as primeiras críticas, estas Agradeço à Capes pelo apoio financeiro, ao prof. Sávio
diziam que o movimento deveria ser “meio” para uma Roberto Fônseca de Freitas pelas orientações e à todos os
sociedade sem classes, e não fim. Pois o grande envolvidos no PIBID-UFRPE.
problema do negro é a sua condição de oprimido,
logo, a questão racial, estaria mascarando a sua Referências
situação de proletariado e dificultando a solidariedade [1] SECAD. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-
entre os oprimidos. Raciais. Ministério da Educação/SECAD, Brasília: 2006.
Bernd [2] ainda destaca, que “a ênfase à
[2] BERND, Zilá. O que é Negritude. São Paulo: Brasiliense, 1988.
valorização puramente racial é um desvio do
movimento”, pois este busca o “desenvolvimento dos [3] ___________. Introdução à literatura negra. São Paulo: Brasiliense,
valores negros no interior do combate político”. Este 1988.
último ela considera como ponto positivo, já que, para
[4] FREITAS, S. R. F. Plano de Atividades do projeto: Literatura
“atingir a esfera universal é preciso passar pelo Africana em Língua Portuguesa: África em tela. Serra Talhada:
particular, específico”. É necessário um espaço onde a 2010.
identidade se estabeleça, crie raízes, para ser possível
uma experiência acolhedora da cultura do outro.
Quando direcionamos o olhar sobre a literatura,
como forma de resistência, no Brasil, ainda no
período pré-abolicionista, Luiz Gama vai de encontro
à literatura dominante, assumindo sua condição de
negro e ironizando a superioridade dos brancos no seu
poema “Quem sou eu?”. No período pós-abolicionista
através do Teatro Experimental do Negro(TEN) e da
imprensa negra, entre outros, há uma tentativa de
reconstrução do referencial cultural negro através de
manifestações da negritude. Posteriormente, o
discurso literário é quem vai assumir o principal
espaço na restauração cultural da identidade negra.
A partir deste ponto, é necessário falar do conceito
de literatura negra, que é assim chamada, por possuir
características muito particulares. Por exemplo, ao nos
voltarmos para a história da literatura, percebemos
que as instâncias legitimadoras, que atribuem valor e
consagram obras, não se prendem apenas a questões
estéticas, pelo contrário, parece haver um certo receio
perante obras com teor revolucionário, que contestem
a ordem vigente.
Nesta região se encontra a literatura negra, que
carregando o germe da contraliteratura, se instala
dentro do campo dominado pela literatura instituída, e