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X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.

LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: A ÁFRICA EM TELA


Diego Kehrle Sousa1

Introdução As próximas etapas a serem desenvolvidas são: a) Mostra


de Cinema que apresentará aos alunos as obras
Ao observarmos as pesquisas realizadas pelo
cinematográficas selecionadas bem como os colocará
governo federal, referentes à educação, ou mesmo no
como críticos de cada exibição; b) Aulas e debates com
contato direto com alunos do ensino médio, se torna
alunos acerca do momento histórico-cultural de produção
evidente que a grande questão, no que tange a área de
de cada obra literária ou cinematográfica trabalhada; c)
Linguagens e códigos, é o baixo desempenho em
Preparação e execução de Concurso em que os alunos
relação a leitura e produção de textos. Este tipo de
elegerão melhor filme, melhor ator/atriz, melhor roteiro e
constatação, fornece dados suficientes para nos
melhor trilha sonora das obras exibidas na Mostra de
permitir pensar que, há algo de ineficiente no sistema
Cinema; d) Café Literário, que consiste na exposição e
através do qual estas atividades vem sendo
debates sobre contos, crônicas e poesias de escritores e
trabalhadas.
escritoras consagrados e dos próprios alunos; e)
O projeto “Literaturas de língua portuguesa: a
Levantamento de dados durante as atividades na escola
África em tela”, procura repensar as políticas de
para produção de artigos acadêmicos; f) Preparação e
ensino através da experiência de iniciação a docência
elaboração de publicações relativas ao projeto; g)
de discentes do curso de letras da UFRPE com alunos
Elaboração e aplicação de instrumentos para que o aluno
do ensino médio da Escola Estadual Methodio Godoy.
avalie o projeto; h) Avaliação do planejamento, das
A abordagem escolhida por este trabalho, opta pelo
atividades realizadas e dos resultados obtidos; i)
contato com a literatura africana em língua
Elaboração e apresentação do relatório de atividades do
portuguesa. Esta servirá de meio para que o aluno
primeiro ano do projeto.
vivencie a relação entre arte literária e outras
manifestações artísticas de forma prazerosa e crítica,
indo além do livro com eventos como a Mostra de Discussão
Cinema e o Café Literário. Assim, esta proposta tem Para pensar as questões étnico-raciais dentro do
como horizonte, a melhoria na qualidade do ensino ambiente escolar, entendemos que a escola carrega uma
médio das escolas públicas, direcionando suas ações inevitável influência do modelo social na qual está
com o intuito de trabalhar a Educação das Relações inserida, ou seja, as diversas formas de discriminação que
Étnico - Raciais alguns grupos sociais sofrem fora dali, também aparecem
Neste sentido, procuramos construir um diálogo dentro deste espaço.
diferente entre alunos e texto literário, para que este Ao mesmo tempo, a escola atua como agente de
ocorra de forma crítica, permitindo assim que o resistência, de construção de identidades diversas, de
estudante não apenas decodifique os textos com que lugar onde as diferenças sociais, étnico-raciais e culturais
se depara, mas que consiga atribuir-lhes sentido. devem coexistir [1]. Ela deveria ser um espaço onde
Sendo isto alcançado, para o aluno será possível negros(as) e não-negro(as) constroem sua cidadania,
pensar sobre o que lê, ele experimentará processos tendo consciência de que grupos étnico-raciais distintos,
que lhe permitirão se tornar um leitor ativo, que possuem seu próprio passado histórico-cultural. Se faz
trabalha criticamente diante daquilo que procura necessário um entendimento da importância dessas
entender. Esta é uma questão essencial para a diferenças para a própria construção da identidade dos
formação de sujeitos que possuam consciência de sua jovens, e para que estes possam atuar politicamente na
participação em coletividades, das relações que ali sociedade da qual participam.
ocorrem e da influência dessas relações em suas Para tanto, é preciso assumir que o modelo educacional
vivências. estabelecido, ainda não contempla questões como essas,
que há deficiência no diálogo sobre as relações étnico-
Metodologia raciais dentro da sala de aula. Este modelo reproduz
práticas discriminatórias ao não tratar de questões
A primeira parte do projeto, caracterizou-se pela
históricas e culturais dessas minorias. E ao não trazer
leitura da bibliografia selecionada, e por reuniões
estas discussões à superfície, não permite aos jovens
periódicas com o orientador para discussão e reflexão
pensar criticamente sobre a cultura da qual fazem parte.
sobre o Ensino de Literatura Africana de Língua
Para tentar compreender a realidade que se apresenta,
Portuguesa.
se faz necessária uma reconstrução histórica dos
Após alguns dias na escola, tendo contato com a
movimentos de resistência dos negros. Antes, porém, é
realidade do espaço, da comunidade escolar e dos
necessário entender a origem do esteriótipo, que ainda não
alunos, iniciamos a segunda etapa, que está em
desapareceu e que foi construído ao longo dos
andamento. Nesta fase temos nos dedicado a
séculos(pelas classes dominantes), principalmente para
elaboração de estratégias e materiais a serem
justificar a escravidão.
utilizados nos encontros com os alunos.
Para pensar sobre os movimentos de resistência dos
negros, é preciso atravessar o termo “negritude”. Ele pode

1. Diego Kehrle Sousa é aluno do 4º período do curso de Licenciatura em Letras, bolsista PIBID/CAPES, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Unidade Acadêmica de Serra Talhada. E-mail: diegokehrle@gmail.com
Apoio financeiro: CAPES.
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ter duas significações: enquanto substantivo comum constrói seu território, renomeando o mundo a sua volta.
diz respeito à “tomada de consciência de uma situação Este território, oferece consistência mítica necessária, que
de dominação” [2] e a consequente busca pela faz dele, nascedouro de identidades [2].
identidade negra, já como substantivo próprio se Na poesia, o ponto de ruptura, momento em que o
refere ao processo de construção dessa oprimido passa a ter voz, tem inicio quando o negro deixa
identidade(logo transitório), um movimento que daria de ser apenas objeto do poema, aparecendo sempre como
um sentido positivo à palavra “negro”. 'o outro', sobre quem se fala, e passa a escrever o seu
Bernd [2] descreve vários momentos do percurso próprio discurso.
histórico de resistência dos negros, desde o Esta posição lhes permitiu sair de um lugar silencioso e
Marronage(no Haiti), do Quilombo dos Palmares(no esquecido, para ocupar um lugar poético de resistência,
Brasil), passando pelo “Negro Renaissance” nos nas palavras de Bernd [3], a literatura negra conseguiu
Estados Unidos, até o período de gestação da “sabotar a tradição, e inverter a ordem de modo a alterar
“Negritude”, quando “O Manifesto da legítima uma situação que a condenava a ocupar sempre os espaços
defesa”(1932) denuncia “a exploração do proletariado da penumbra e do esquecimento, e não os da claridade e
negro no mundo”. do prestígio”, tendo como princípio fundamental a
Todavia, dentro do próprio movimento da “reapropriação sistemática de um esquema referencial
Negrigute, surgiram caminhos diferentes: de um lado fundador e a consequente redemarcação de um território”.
Cesáire tentava conciliar marxismo e humanismo, É justamente por esse caminho, de descoberta das
num esforço de romper com o implante cultural minorias, seja pela literatura, pelo cinema, ou pela arte em
imposto pela cultura do branco, com o desejo de geral, e pela construção do conhecimento que
“redescobrir o seu país e suas coisas” a partir do ser contextualiza as questões, que tentaremos trabalhar este
negro. Do outro, a Negritude de Senghor defendia um tema em sala de aula.
Humanismo espiritualista, que acabou eternizando o
racismo com sua dicotomia - Branco: Razão / Negro: Agradecimentos
Emoção.
Não tardaram a surgir as primeiras críticas, estas Agradeço à Capes pelo apoio financeiro, ao prof. Sávio
diziam que o movimento deveria ser “meio” para uma Roberto Fônseca de Freitas pelas orientações e à todos os
sociedade sem classes, e não fim. Pois o grande envolvidos no PIBID-UFRPE.
problema do negro é a sua condição de oprimido,
logo, a questão racial, estaria mascarando a sua Referências
situação de proletariado e dificultando a solidariedade [1] SECAD. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-
entre os oprimidos. Raciais. Ministério da Educação/SECAD, Brasília: 2006.
Bernd [2] ainda destaca, que “a ênfase à
[2] BERND, Zilá. O que é Negritude. São Paulo: Brasiliense, 1988.
valorização puramente racial é um desvio do
movimento”, pois este busca o “desenvolvimento dos [3] ___________. Introdução à literatura negra. São Paulo: Brasiliense,
valores negros no interior do combate político”. Este 1988.
último ela considera como ponto positivo, já que, para
[4] FREITAS, S. R. F. Plano de Atividades do projeto: Literatura
“atingir a esfera universal é preciso passar pelo Africana em Língua Portuguesa: África em tela. Serra Talhada:
particular, específico”. É necessário um espaço onde a 2010.
identidade se estabeleça, crie raízes, para ser possível
uma experiência acolhedora da cultura do outro.
Quando direcionamos o olhar sobre a literatura,
como forma de resistência, no Brasil, ainda no
período pré-abolicionista, Luiz Gama vai de encontro
à literatura dominante, assumindo sua condição de
negro e ironizando a superioridade dos brancos no seu
poema “Quem sou eu?”. No período pós-abolicionista
através do Teatro Experimental do Negro(TEN) e da
imprensa negra, entre outros, há uma tentativa de
reconstrução do referencial cultural negro através de
manifestações da negritude. Posteriormente, o
discurso literário é quem vai assumir o principal
espaço na restauração cultural da identidade negra.
A partir deste ponto, é necessário falar do conceito
de literatura negra, que é assim chamada, por possuir
características muito particulares. Por exemplo, ao nos
voltarmos para a história da literatura, percebemos
que as instâncias legitimadoras, que atribuem valor e
consagram obras, não se prendem apenas a questões
estéticas, pelo contrário, parece haver um certo receio
perante obras com teor revolucionário, que contestem
a ordem vigente.
Nesta região se encontra a literatura negra, que
carregando o germe da contraliteratura, se instala
dentro do campo dominado pela literatura instituída, e

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