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São Paulo
2005
Ana Maria de Godoy Teixeira
São Paulo
2005
Teixeira, Ana Maria de Godoy
Modelagem da dinâmica de uma
paisagem do Planalto de Ibiúna (1962-2000)
e inferências sobre a sua estrutura futura
(2019)
118 páginas
Comissão Julgadora:
(Manuel Bandeira)
AGRADECIMENTOS
Agradeço, desde já, a quem me pôs no mundo... Gloriosos Sr. Teixeira e Dona Margarida,
sempre me colocando no caminho do bem, do sonho, da infância & da vida adulta, do
compromisso, da realização, da luta, da independência, dos verdadeiros valores.
Agradeço à minha irmã, Inês, que, nos últimos anos, tem sido uma companhia intensiva à
divisão de conquistas e frustrações.
Agradeço à minha irmã Camila, ao meu irmão Gustavo e à minha sobrinha Marina. Estes,
sim, são os responsáveis pelos momentos de descontração únicos, seja em São Paulo, seja
na maravilhosa cidade de Ilhéus.
Agradeço à minha família de plantão: Jacyra, Mike, Simone, Michele e Tetel (estes últimos
internacionais), sempre dispostos a encontrar soluções para problemas diversos, que vão
desde pedidos de socorro para conter a explosão populacional de gatos em minha casa até
pedidos para encontrar fórmulas para cálculos dificílimos.
Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Jean Paul Metzger. Durante a graduação em
Ciências Biológicas, Jean Paul, para mim, sempre representou um ícone, um mito, uma
pessoa um tanto quanto inatingível. Durante o mestrado, Jean Paul foi, aos poucos, me
fazendo perceber o quão humano é, dotado de extrema sensibilidade, ética, determinação,
princípios. Entretanto, Jean Paul continua a representar um ícone, um mito, para mim.
Agradeço ao Prof. Dr. Britaldo Soares Filho e à sua equipe, principalmente ao Hermann, ao
William e à Eliana e à sua família, pela iniciação paciente ao mundo da simulação espacial,
e, porque não, pelos divertidíssimos momentos em Belorizonte.
Agradeço também a Giordano Ciocheti, pela extrema paciência, pelo carinho e pelas
oportunidades de reencontro com a velha-guarda são carlense ao som de muito samba-rock.
Agradeço aos amigos do Laboratório de Ecologia de Paisagens & Conservação. Miltinho
Astronauta e Alexandre Uezu, pela iniciação, também paciente, ao mundo do
geoprocessamento, e Wellington, por entender a minha fobia de vírus de computadores e
por manter o sistema todo funcionado, sempre! Agradeço à Cristina Simonetti, pela
iniciação à fotointerpretação. Ao William, por confiar parte dos seus dados a mim. Aos
companheiros de aflição e risadas nervosas, André Nogueira, Fabiana Umetsu e Flávia
Jesus. Às meninas cheias-de-graça Daniela Petenon & Mariana Vidal. À nova geração
lepaquiana: Leandro Tambosi & Alexandre Igari, que já chegaram com muitas coisas a
ensinar. E, é claro, à velha e divertida guarda do LEPaC: Pedro Develey, Tank, Renata
Pardini, Luciana Alves, Adriana Fidalgo, Daniela Ferraz, Carol, Mariana, Danilo, Rafael,
Kiwi, D2, Laura, Gerardo, Jorge, entre tantos outros. Em especial gostaria de agradecer à
velha-nova amiga Cristina Banks, uma companhia preciossísima em momentos aleatórios.
Agradeço à Tita e à Cristina Oka por terem me dado asas para voar ao me confiarem a
tarefa de dar continuidade a um velho sonho: a elaboração de material voltado à educação
ambiental para a população de Caucaia do Alto. E às Profas. Dras. Vânia Pivello e Silvana
Buzato e, mais uma vez, ao Prof. Dr. Jean Paul Metzger, entre outros tantos alunos, pelas
colaborações, correções e sugestões essenciais à quase-finalização desse projeto.
Agradeço às alemãs Jutta e Jana, por me mostrarem que a dinâmica de paisagens não se
restringe apenas à sobreposição de mapas e análise da influência de variáveis proximais.
Agradeço às minhas mães de plantão: Marisa Salles, Neuza Ciocheti e Maria Pia Castiglia.
Agradeço à minha rede de amigos Ana Crisitina, Indhira, Fábio Lima, Pluck, Thiago
Salgado, Magno, entre muitos, interligados de uma maneira ou de outra.
The study of the dynamics of land use and occupation in the Atlantic Forest regions is quite
important in order to understand the processes of deforestation and forest regeneration and
further for the territorial planning of a region that has historically been suffering serious
forest loss and fragmentation. The objective of this study was to i) quantify the landscape
dynamics from 1962 to 2000 in a specific Atlantic Forest region, assessing the importance
of the relevant variables (relief, hydrography, proximity with roads, urban areas or units of
use and land cover) in order to offer a guideline for changes; ii) infer over the future
changes of the structure (2019) and the potential implications in terms of biological
conservation. The region selected for this study, called Caucaia do Alto, is located in the
Ibiuna Plateau in the counties of Cotia and Ibiuna, in the State of São Paulo, not too far off
Sao Paulo. This is an essentially agricultural area, very heterogeneous, featuring different
kinds of land use and occupation such as agriculture, reforestation with exotic species,
urban and rural facilities, and fragments of forests and natural vegetation in an early
regeneration stage. The analysis of the historical development of this region has been
performed based on the visual interpretation of air photographs taken in 1962 (1:25,000),
1981 (1:35,000) and 2000 (1:10,000). These three mosaics with the relevant photo
interpretation and also the set of supporting data (obtained at 1:10,000 scale) used as close
variables were all entered in a georeferenced databank in the program ArcView© and
further reviewed in the program DINAMICA©.
During the period 1962 and 1981, the Caucaia do Alto region underwent a heavy
modification of its structure with a predominance of the regeneration process over
deforestation, which resulted in an expansion of the forest areas. This dynamics occurred
probably in connection with crops-sod rotations that feature long abandonment with further
cutting of the re-emerging natural vegetation. The intense regeneration observed may be
explained by the reduction of timber extraction and vegetal coal production after the end of
World War II and by the compliance to the Forest Code issued in 1965. On the other hand,
during the period of 1981 and 2000, deforestation was more intense and regeneration was
reduced, with a distinct loss of forest cover. This is the period that features the expansion of
urban developments, which are probably directly and indirectly responsible for
deforestation. The space trends show that deforestation has occurred preferentially in areas
more favorable to agricultural activities (flatter and low lands and with better access), while
regeneration has occurred in areas which are closer to the rivers, probably due to the
influence of legislative restrictions, in steeper areas and in those farther away from urban
settlements and roads.
The dynamics data also allowed inferences on the future spatial standard landscape
for Caucaia do Alto (2019) through the use of a spatial simulation program based on
cellular automata (DINAMICA©). The models used to generate future scenarios were based
on the trends observed between the years 1981 and 2000, and the year 2000 was chosen as
a validation parameter. Four different scenarios were selected, each one with 10 landscape
replicas (all told 40 separate landscapes were simulated): i) the actual scenario projected
the trends of the last 20 years (1981-2000), without any interference; ii) the optimistic
scenario simulated a condition of no deforestation and keeping the same regeneration
rhythm observed between 1981 and 2000; iii) the pessimistic scenario maintained the same
deforestation rate as in the past and increased agricultural stability thus avoiding forest
regeneration; and iv) the random scenario that was used as control scenario, followed past
trends similarly to the real scenario, yet taking out the influence of the close variables. All
the scenarios that were obtained had their landscape rates calculated in connection with
composition (forest cover) and configuration (spatial distribution in terms of fragments
number, size and degree of isolation/proximity). Results show that the optimistic scenario,
which is equivalent to a policy of “zero deforestation” is the only one capable of increasing
the forest cover and reduce the number of forest fragments in the landscape. When
compared to the real scenario of recent trends maintenance for landscape dynamics, this
scenario allows a projected increase of about 50% in the size of the largest fragment, it
doubles the fragments average area and increases almost three times proximity between
remaining forest fragments. On the other hand, in an adverse situation, where a greater
agricultural stabilization would occur and less abandonment of the land and therefore
interruption of natural regeneration (pessimistic scenario), there is a clear loss of forest
areas (1.238 ha), increase in the number of fragments, reduction of the size and closeness of
the fragments. These results indicate that firm interventions that avoid deforestation and the
maintenance of current regeneration rates would be highly beneficial in terms of
conservation.
RESUMO
CAPÍTULO 1 1
Introdução 2
Área de estudo 7
Métodos 10
Montagem dos fotomosaicos 10
Classificação das fotografias aéreas 14
Quantificação da dinâmica da paisagem 18
Análise dos dados 30
Resultados 32
Dinâmica da paisagem de Caucaia do Alto 32
Influência das variáveis proximais 36
Discussão 43
Período de 1962-1981 43
Período de 1981-2000 46
Localização dos desmatamentos 47
Localização das regenerações 48
Conclusão 50
Bibliografia 51
CAPÍTULO 2 57
Introdução 58
Área de estudo 63
Métodos 64
Variáveis proximais 68
Matrizes de mudanças e dos pesos de evidência 69
Calibração do modelo de simulação “ideal” 71
Cenários para o ano de 2019 72
Análise dos diferentes cenários 74
Resultados 80
Ordenação dos cenários para conservação de espécies florestais 91
Discussão 93
Conclusão 97
Bibliografia 98
INTRODUÇÃO GERAL
fonte: http://www.sosmataatlantica.org.br
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
Ibiún
fonte: http://www.sosmataatlantica.org.br
7371000
7369000
2.000
m
escala das fotografias 1:10.000
Para o presente trabalho, como fonte de imagens, foram utilizadas fotografias aéreas
obtidas nos anos de 1962 (1:25.000; 12 fotos), 1981 (1:35.000; 5 fotos) e 2000 (1:10.000;
61 fotos), adquiridas em uma empresa privada (BASE Aerofotogrametria S. A.). A
escolha das datas foi baseada na disponibilidade das imagens e na possibilidade de se obter
intervalos regulares (19 anos) entre os anos estudados.
As fotografias aéreas foram digitalizadas, gerando imagens de resoluções
equivalentes a 0,988 m em 1962, 1 m em 1981 e 1,333 m em 2000. Diferenças nos
detalhamentos escolhidos durante a digitalização amenizaram as diferenças nas escalas
originais das fotografias. Deve-se ainda ressaltar que a fotointerpretação foi realizada com
base na observação das fotografias em papel, com o auxílio de estereoscópio. A correção
geométrica foi feita baseando-se em uma única referência cartográfica, o fotomosaico de
2000 (erro médio de georeferrenciamento inferior a 5 m, UTM, SAD 1969, 23-S),
elaborado previamente (Metzger et al. 2002).
As fotos digitalizadas foram então georreferenciadas no programa Erdas© (versão
8.4, 1999) utilizando-se, em média, 30 pontos de controle bem distribuídos em cada
fotografia. O polinômio de 2º grau, que, além de descrever translação, rotação, escala e
obliqüidade da imagem, adiciona parâmetros de torção e convexidade (Loch 2000), foi o
que melhor respondeu aos testes de sobreposição das imagens feitos durante o
georreferenciamento. A seguir, as imagens corrigidas correspondentes a cada ano foram
sobrepostas, ainda no programa Erdas©, dando origem a três fotomosaicos distintos,
comparáveis entre si (Figuras 2, 3 e 4). Os desvios médios, representando os resíduos nos
registros das fotografias aéreas isoladas em relação ao georreferenciamento feito para o ano
de 2000, foram equivalentes a 7,8 m, para o ano de 1962, e 12,5 m, para o ano de 1981.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000
2.000
m
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000
2.000
m
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000
2.000
m
O fotomosaico de 1981, por apresentar uma escala mais “grosseira” (1:35.000), foi
utilizado como base para o estabelecimento das 5 classes de uso e cobertura da terra,
utilizadas para a realização da fotointerpretação, a saber: instalações rurais e urbanas,
campos agrícolas, reflorestamento, vegetação natural em estádio inicial de sucessão
secundária e vegetação natural em estádio médio a avançado de sucessão secundária
(Tabela 1). Tal classificação foi também utilizada para os anos de 1962 e 2000 (Figuras 5, 6
e 7). É importante ressaltar que as áreas naturais foram denominadas segundo resoluções nº
10 e 01 do CONAMA, datadas de 19/10/1993 e 31/1/1994, respectivamente, e resolução
conjunta SMA/IBAMA/SP-1, de 17/2/1994 (Diederichsen 2003). O procedimento de
classificação dos fotomosaicos foi feito com a utilização do programa ArcView© (versão
8.3, 1999-2002).
Tabela 1. Classes utilizadas nas fotointerpretações feitas para os anos de 1962, 1981 e
2000, com suas respectivas definições e termos utilizados ao longo do texto, na região de
Caucaia do Alto, SP (Metzger et al. 2002).
TERMOS UTILIZADOS AO
CLASSES DEFINIÇÃO
LONGO DO TEXTO
Edificações isoladas, bosques, cercas-vivas,
Instalações rurais e Instalações rurais e
edificações agrupadas, condomínios,
urbanas urbanas
loteamentos.
Agricultura anual, pastos limpo e sujo,
Campos agrícolas Agricultura vegetação herbácea rala a herbácea-
arbustiva, homogênea ou heterogênea.
Florestas plantadas com espécies exóticas,
Reflorestamento Reflorestamento
e.g. Pinus spp. e Eucalyptus spp.
Vegetação natural em
Vegetação herbácea-arbustiva a arbustiva,
estádio inicial de sucessão Vegetação inicial
homogênea ou heterogênea.
secundária
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000
Legend
Classes de uso e
2.000
62_0_5_tiff.tif m
cobertura das
VALUE
terras
escala 1:55.000
0 Não-analisado
1 Instalações rurais e urbanas
2 Agricultura
3 Reflorestamento
4 Vegetação inicial
5 Floresta
Figura 5. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, em 1962.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000
Legend
Classes de uso e 2.000
62_0_5_tiff.tif
cobertura das m
terras
VALUE
0
Não-analisado
1
Instalações rurais e urbanas
2
Agricultura
3
Reflorestamento
4
Vegetação inicial
5
Floresta
Figura 6. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, em 1981.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000
2.000
Classes de uso e m
62_0_5_tiff.tif
cobertura das
terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Instalações rurais e urbanas
2 Agricultura
3 Reflorestamento
4 Vegetação inicial
5 Floresta
Figura 7. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, em 2000.
Quantificação da dinâmica da paisagem
CLASSES FINAIS
Variáveis proximais
TRANSIÇÕES
CLASSES
Uso antrópico Vegetação inicial Floresta
Regeneração de
Uso antrópico
vegetação inicial Regeneração de
Corte de floresta
Vegetação inicial
vegetação inicial
Floresta Desmatamento de floresta
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
Intervalos de
hidro_n_dist_rec.tif
valores de
distância
Value (m)
0-25
0 - 25
7369000
25-50
25,00000001 - 50
50-100
50,00000001 - 100
100-200
100,0000001 - 200
200-300
200,0000001 - 300
300-400
300,0000001 - 400
>400
400,0000001 - 458
2.000
m
Figura 8. Mapa de distância (m) à rede hidrográfica da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
Intervalos de
valores de
hidro_n_dist_rec.tif
declividade
Value
(graus)
0-5
0 - 25
5-10
25,00000001 - 50
7369000
10-15
50,00000001 - 100
15-20
100,0000001 - 200
20-25
200,0000001 - 300
25-30
300,0000001 - 400
>30
400,0000001 - 458
2.000
m
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
Intervalos
hidro_n_dist_rec.tif
altimétricos
(graus)
Value
860-900
0 - 25
7369000
900-940
25,00000001 - 50
940-980
50,00000001 - 100
980-1.020
100,0000001 - 200
1.020-1.060
200,0000001 - 300
>1.060
300,0000001 - 400
>30
400,0000001 - 458
2.000
m
Figura 10. Mapa de intervalos (m) de valores altimétricos da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
estp_n_dist_rec.tif
Intervalos de
distância
<VALUE>(m)
0-50
0 - 50
50-100
50,00000001 - 100
7369000
100-200
100,0000001 - 200
200,0000001
200-400 - 400
400,0000001 - 800
400-800
800,0000001
800-1.600 - 1.600
1.600,000001 - 3.200
1.600-3.200
3.200,000001
>3.200 - 4.206,530762
2.000
m
escala do mapa-base: 1:10.000
Figura 11. Mapa de distância (m) às estradas principais da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
ests62_n_dist_rec.tif
Intervalos de
7371000
distância (m)
<VALUE>
0-50
0 - 50
50-100
50,00000001 - 100
100-200 - 200
100,0000001
200-400 - 400
200,0000001
7369000
400-600 - 600
400,0000001
600-800 - 800
600,0000001
800-1.000 - 1.000
800,0000001
1.000-1.200- 1.200
1.000,000001
1.200-1.400- 1.400
1.200,000001
>1.400
1.400,000001 - 1.559,495117
2.000
m
escala do mapa-base 1:10.000
Figura 12. Mapa de distância (m) às estradas secundárias de 1962 da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
ests62_n_dist_rec.tif
Intervalos de
distância (m)
<VALUE>
0-50
0 - 50
50-100
50,00000001 - 100
100-200 - 200
100,0000001
7369000
200-400 - 400
200,0000001
400-600 - 600
400,0000001
600-800 - 800
600,0000001
800-1.000 - 1.000
800,0000001
1.000-1.200- 1.200
1.000,000001
1.200-1.400
> 1.200
1.200,000001 - 1.400
>1.400
1.400,000001 - 1.559,495117
2.000
m
Figura 13. Mapa de distância (m) às estradas secundárias de 1981 da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
ests62_n_dist_rec.tif
Intervalos de
distância (m)
<VALUE>
00-50
- 50
50-100
50,00000001 - 100
7369000
100-200 - 200
100,0000001
200-400 - 400
200,0000001
400-600 - 600
400,0000001
600-800 - 800
600,0000001
800-1.000 - 1.000
800,0000001
1.000,000001
> 1.000 - 1.200
1.200,000001
1.200-1.400- 1.400
2.000
m 1.400,000001
>1.400 - 1.559,495117
Figura 14. Mapa de distância (m) aos núcleos urbanos de 1962 da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
nucleo81_n_dist_rec.tif
Intervalos de
distância
<VALUE>(m)
00-50
- 50
7369000
50-100
50,00000001 - 100
100-200 - 200
100,0000001
200-400 - 400
200,0000001
400-600 - 600
400,0000001
600-800 - 800
600,0000001
>800
800,0000001 - 886,3972168
2.000
m
Figura 15. Mapa de distância (m) aos núcleos urbanos de 1981 da região de Caucaia do Alto, SP.
Tabela 4. Extensão, em metros e em graus (declividade), dos intervalos estabelecidos para
o estudo da influência das variáveis proximais na dinâmica da paisagem de Caucaia do
Alto, SP.
INTERVALO
VARIÁVEIS
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10)
Hidrografia
50 a 100 a 200 a 300 a
(máx. = 0 a 25 25 a 50 > 400
100 200 300 400
458 m)
Declividade
0a5 5 a 10 10 a 15 15 a 20 20 a 25 25 a 30 >30
(máx = 32o)
Altimetria
860 a 900 a 940 a 980 a
(máx. = >1.020
900 940 980 1.020
1.051 m)
Estradas
principais 50 a 100 a 200 a 400 a 800 a 1.600 a
0 a 50 >3.200
(máx. = 100 200 400 800 1.600 3.200
4.207 m)
Estradas
secundárias
50 a 100 a 200 a 400 a 600 a 800 a 1.000 a 1.200 a
(1962) 0 a 50 >1.400
100 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400
(máx. =
1.559 m)
Estradas
secundárias
50 a 100 a 200 a 400 a 600 a 800 a 1.000 a
(1981) 0 a 50 >1.200
100 200 400 600 800 1.000 1.200
(máx. =
1.342 m)
Distância às
instalações
urbanas e 50 a 100 a 200 a 400 a 600 a 800 a
0 a 50 >1.000
rurais (1962) 100 200 400 600 800 1.000
(máx. =
1.060 m)
Distância às
instalações
urbanas e 50 a 100 a 200 a 400 a 600 a
0 a 50 >800
rurais (1981) 100 200 400 600 800
(máx. = 940
m)
Distância à
classe uso
50 a 100 a 200 a 300 a 400 a 500 a
antrópico 0 a 50 >600
100 200 300 400 500 600
(máx. =
688 m)
Distância à
classe
50 a 100 a 200 a 300 a 400 a 500 a 600 a
vegetação 0 a 50 >700
100 200 300 400 500 600 700
inicial (máx. =
720 m)
Distância à
classe floresta 50 a 100 a 200 a 300 a 400 a 500 a
0 a 50 >600
(máx. = 100 200 300 400 500 600
651 m)
Análise dos dados
A fim de analisar a influência das variáveis proximais na ocorrência dos processos de corte
de vegetação inicial, desmatamento e regeneração, tanto de vegetação inicial como de
floresta, utilizou-se um método baseado nos pesos de evidência. Trata-se de um método
bayesiano, originalmente utilizado na Geologia (Bonham-Carter 1994) e posteriormente
introduzido na modelagem espacial de dinâmica de paisagens pela equipe do Prof. Dr.
Britaldo Soares Filho (Soares-Filho et al. submetido).
No presente estudo, foram analisadas as probabilidades a posteriori de ocorrência
dos eventos de desmatamento e regeneração em relação às variáveis proximais altimetria,
declividade, distância à rede hidrográfica, às estradas principais e secundárias, aos núcleos
urbanos e às três classes definidas na fotointerpretação. Foram utilizadas as seguintes
equações:
{ B}= log{D} + W
log D +
(1)
{ B}= log{D} + W
log D −
(2)
P B
{ }
D
{ }
+
W = ln (3)
P B
D
B
P D { }
{ }
−
e W = ln (4)
PB
D
para a ocorrência (D ) ou a não-ocorrência (D ) das transições relacionadas ao
()
desmatamento e à regeneração frente à presença (B ) ou à ausência B de um dado padrão
espacial, representado aqui pelas variáveis proximais categorizadas citadas na Tabela 4.
A fim de testar a significância da associação espacial entre a ocorrência das
transições referentes ao desmatamento e à regeneração a cada um dos intervalos definidos
para as variáveis proximais, utilizou-se uma medida de contraste entre os valores positivos
e negativos dos pesos de evidência calculados pelo programa DINAMICA©
(C = W +
)
− W − . Tal medida é considerada estatisticamente significante (95% de
probabilidade) caso C > 1,96 s (C ) , sendo que a variância do contraste é determinada por:
s2 = 1 + 1 1 1
área(B ∩ D ) (
área B ∩ D )+ (
área B ∩ D )+ (
área B ∩ D ) (5)
Os tipos de uso e cobertura das terras dominantes, para os três anos estudados, foram
representados por floresta (43,8% do total da paisagem em 1962, 48,3% em 1981, 33,3%
em 2000) e agricultura (36,2%, 37,7%, 35,8%). Em 1962 e 1981, instalações rurais e
urbanas (0,6%, 1,5%) e reflorestamento (2,2%, 3%) são pouco representativas, porém, em
2000, estas unidades tiveram significativo aumento (cobertura de 16,6% e 6,8%,
respectivamente). A vegetação inicial tendeu a uma constante redução ao longo do tempo
(1962: 17,2%; 1981: 9,6%; 2000: 7,6%).
Os dois intervalos de tempo foram bastante dinâmicos, sendo que, no período de
1962 a 1981, apenas 49,3% da área permaneceu inalterada (Tabela 5), enquanto entre 1981
e 2000, esta porcentagem aumentou para 54,2% (Tabela 6). No primeiro intervalo temporal
analisado (1962-1981), a dinâmica foi marcada por uma maior regeneração florestal em
relação ao desmatamento. Esse desmatamento ocorreu sobretudo para a instalação de áreas
de agricultura (852,82 ha, ou 26,1% do total de floresta em 1962, Tabela 5) e, em seguida,
para reflorestamento (3,5%) e instalações rurais e urbanas (0,8%). O mesmo ocorreu com o
corte de vegetação inicial, voltado principalmente ao estabelecimento de agricultura (393,7
ha, ou 30,7% do total de vegetação inicial em 1962, Tabela 5). A regeneração de floresta,
por outro lado, foi obtida igualmente a partir de vegetação inicial (46,9% do total de
floresta regenerado em 1981, 57,5% do total de vegetação inicial em 1962) e de agricultura
(47% do total regenerado, 27,2% do total de agricultura em 1962), sendo as regenerações a
partir de reflorestamento e instalações rurais e urbanas de baixa representatividade (Tabela
5). A regeneração de vegetação inicial, por sua vez, foi dada principalmente a partir de
áreas de agricultura (337,4 ha de vegetação inicial regenerada em 1981, 12,5% do total de
agricultura em 1962, Tabela 5). A transição de floresta para vegetação inicial (238,8 ha),
que provavelmente representa áreas desmatadas e posteriormente regeneradas, também
contribui significativamente para a formação de vegetação inicial em 1981 (Tabela 5).
Portanto, considerando-se a dinâmica florestal, o total de desmatamento observado
entre os anos de 1962 e 1981 na região de Caucaia do Alto foi de 1.232,5 ha, o que resulta
Tabela 5. Matriz de mudança para o intervalo compreendido entre os anos de 1962 e 1981,
em ha, na região de Caucaia do Alto, SP.
1981
Instalações
Vegetação
rurais e Agricultura Reflorestamento Floresta TOTAL
inicial
urbanas
Instalações rurais
5,13 20,92 0,85 6,39 11,61 44,90
e urbanas
em uma perda média anual de 64,9 ha. A regeneração florestal, por sua vez, foi equivalente
a 1.565,9 ha, resultando em um acréscimo anual de 82,4 ha/ano. Em relação à vegetação
inicial, no conjunto do intervalo temporal houve um acréscimo de 593,6 ha e uma perda de
1.162,9 ha. Na soma, esta dinâmica levou à retração da vegetação inicial e à expansão das
áreas florestadas (Figura 16).
O segundo intervalo temporal analisado (1981-2000) mostrou uma dinâmica marcada pelo
nítido aumento da área de instalações rurais e urbanas (incremento de 1.125,2 ha), e pela
predominância da perda de vegetação natural em relação à regeneração. O aumento das
instalações rurais e urbanas foi feito essencialmente em detrimento das áreas agrícolas
(602,3 ha), mas também de áreas florestais (395,3 ha) e de vegetação inicial (130 ha). As
áreas de floresta deram essencialmente lugar, em 2000, à agricultura (17,7% do total de
floresta em 1981) e às instalações rurais e urbanas (11%). De forma similar, o corte de
vegetação inicial foi voltado principalmente ao estabelecimento de agricultura (36,3% do
total de vegetação inicial em 1981) e de instalações rurais (18,3%). A regeneração de
floresta (424,5 ha), por sua vez, deu-se principalmente a partir de agricultura (50,3% do
total de floresta regenerado em 2000, 7,6% do total de agricultura em 1981) e da vegetação
inicial (45,5% da regeneração, 27,2% do total de vegetação inicial em 1981, Tabela 6). A
maior parte da vegetação inicial em 2000 era floresta em 1981 (359,1 ha, ou seja, 63,2% do
total de vegetação inicial em 2000, Tabela 6), sugerindo que houve corte florestal e uso
antrópico relativamente curto antes do abandono. Excetuando esta transição, a regeneração
de vegetação inicial foi dada principalmente pelo abandono de áreas de agricultura (112,2
ha, Tabela 6).
INSTALAÇÕES
830,16
RURAIS E URBANAS
354,82 735,77
VEGETAÇÃO
AGRICULTURA - 72,34 + 496,96 FLORESTA
INICIAL
427,16 238,81
- 163,51
REFLORESTAMENTO 993,67
Portanto, o total de desmatado entre os anos de 1981 e 2000 foi de 1.543,7 ha, o que
equivale a uma perda média anual de 81,2 ha, enquanto a regeneração florestal representou
apenas 424,6 ha (22,3 ha ao ano, Figura 17). A vegetação inicial, por sua vez, teve um
acréscimo de 479,8 ha e uma perda de 623,1 ha. Como resultado, no período de 1981 a
2000, houve tanto perda de área florestal (1.117,1 ha) quanto de vegetação inicial (143,3
ha, Figura 17).
Tabela 6. Matriz de mudança para o intervalo compreendido entre os anos de 1981 e 2000,
em ha, na região de Caucaia do Alto, SP.
2000
Instalações
Vegetação
rurais e Agricultura Reflorestamento Floresta TOTAL
inicial
urbanas
1 Instalações rurais
80,35 20,27 3,08 2,05 4,57 110,32
9 e urbanas
8
1 Agricultura 602,35 1.702,01 185,31 112,18 213,46 2.815,31
INSTALAÇÕES
231,33
RURAIS E URBANAS
- 953,27
120,73 193,32
VEGETAÇÃO
AGRICULTURA - 309,04 - 165,7 FLORESTA
INICIAL
429,77 359,1
- 953,27
REFLORESTAMENTO 1.184,6
Segundo as curvas de tendência obtidas com base nos valores de contraste para as variáveis
proximais analisadas, a regeneração de vegetação inicial no período compreendido entre os
anos de 1962 e 2000 ocorreu preferencialmente próximo a corpos d’água, em localidades
de maior declividade e mais afastadas das estradas secundárias (Figura 18). Entre os anos
de 1962 e 1981, a regeneração de vegetação inicial se deu também em regiões afastadas da
própria vegetação inicial e próximo das estradas principais. Já entre os anos de 1981 e
2000, a mesma regeneração ocorreu preferencialmente em locais próximos à vegetação
inicial e à floresta (Figura 18).
B. Regeneração de floresta
3 2
2
1
[UA]/[VI]62-81
62-81 [UA]/[VI]62-81
62-81
C 1 C
[UA]/[VI]81-00
81-00 81-00
[UA]/[VI]81-00
0
0
-1 -1
0 100 200 300 400 500 600 700 0 100 200 300 400 500 600
Distância (m ) Distância (m )
Distância à rede hidrográfica Valores de declividade
2 1
0
[UA]/[VI]62-81
62-81 [UA]/[VI]62-81
62-81
C -1 C 0
81-00
[UA]/[VI]81-00 81-00
[UA]/[VI]81-00
-2
-3
-4 -1
0 100 200 300 400 0 5 10 15 20 25 30
Distância (m ) Declividade (graus )
Valores altimétricos Distância às estradas principais
2 1
1 0
[UA]/[VI]62-81
62-81
C [UA]/[VI]62-81
62-81
81-00
[UA]/[VI]81-00 C
81-00
[UA]/[VI]81-00
0
-1
-1
-2
860 900 940 980 1020 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Altimetria (m ) Distância (m)
1
2
1
C 0 [UA]/[VI]62-81
62-81 C [UA]/[VI]81-00
81-00
-1 -1
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 0 200 400 600 800 1000 1200
Distância (m ) Distância (m )
Distância aos núcleos urbanos (1962) Distância aos núcleos urbanos (1981)
1 1
C 0 [UA]/[VI]62-81
62-81 C 0 81-00
[UA]/[VI]81-00
-1 -1
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800
Distância (m ) Distância (m )
Figura 18. Valores de contraste referentes à regeneração de vegetação inicial nos intervalos
temporais compreendidos entre os anos de 1962-1981 e 1981-2000 na região de Caucaia do
Alto, SP. Os pontos preenchidos representam os valores de contraste significativos. As
curvas de tendência receberam ajustes polinomiais de segunda ordem.
3 1
0 [VI]/[VMA]62-81 [UA]/[VMA]62-81
C C 0
-1 [VI]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]81-00
-2
-3
-4 -1
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600 700
Distância (m ) Distância (m )
2 1
1
0 [UA]/[VMA]62-81
[UA]/[VMA]62-81
0
[UA]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]81-00
C C
[VI]/[VMA]62-81 [VI]/[VMA]62-81
-1 [VI]/[VMA]81-00
[VI]/[VMA]81-00 -1
-2
-3 -2
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400
Distância (m ) Distância (m )
Valores de declividade Valores altimétricos
2 3
2
1
[UA]/[VMA]62-81 [UA]/[VMA]62-81
1
[UA]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]81-00
C 0 C
[VI]/[VMA]62-81 [VI]/[VMA]62-81
0
[VI]/[VMA]81-00 [VI]/[VMA]81-00
-1
-1
-2 -2
0 5 10 15 20 25 30 860 900 940 980 1020
Declividade (graus ) Altimetria (m )
2 3
2
1 [UA]/[VMA]62-81
1
[UA]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]62-81
C C
[VI]/[VMA]62-81 [VI]/[VMA]62-81
0
0 [VI]/[VMA]81-00
-1
-1 -2
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Distância (m ) Distância (m )
Distância às estradas secundárias (1981) Distância aos núcleos urbanos (1962)
3 1
1
[UA]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]62-81
C 0 C 0
[VI]/[VMA]81-00 [VI]/[VMA]62-81
-1
-2
-3 -1
0 200 400 600 800 1000 1200 0 200 400 600 800 1000
Distância (m ) Distância (m )
2
[UA]/[VMA]81-00
C 1
[VI]/[VMA]81-00
0
-1
-2
0 200 400 600 800
Distância (m )
Figura 19. Valores de contraste referentes à regeneração de floresta [VMA] a partir de uso
antrópico [UA] e de vegetação inicial [VI] nos intervalos temporais compreendidos entre os
anos de 1962-1981 e 1981-2000 na região de Caucaia do Alto, SP. Os pontos preenchidos
representam os valores de contraste significativos. As curvas de tendência receberam
ajustes polinomiais de segunda ordem.
Distância à classe [VMA]
Distância à classe [UA]
2
1
0 1
-1
0
-2 [VI]/[UA]62-81
62-81 [VI]/[UA]62-81
62-81
C C
81-00 81-00
[VI]/[UA]81-00
-3 [VI]/[UA]81-00 -1
-4
-2
-5
-6 -3
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
Distância (m ) Distância (m )
2 1
1
[VI]/[UA]62-81
62-81 [VI]/[UA]62-81
62-81
C C 0
[VI]/[UA]81-00
81-00 81-00
[VI]/[UA]81-00
0
-1 -1
0 100 200 300 400 0 5 10 15 20 25 30
Distância (m ) Declividade (graus )
Valores altimétricos Distância às estradas principais
1 2
0 1
[VI]/[UA]62-81
62-81 [VI]/[UA]62-81
62-81
C C
[VI]/[UA]81-00
81-00 81-00
[VI]/[UA]81-00
-1 0
-2 -1
860 900 940 980 1020 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Altimetria (m ) Distância (m )
1 1
0
0
C [VI]/[UA]62-81
62-81 C -1 [VI]/[UA]81-00
81-00
-1
-2
-2 -3
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 0 200 400 600 800 1000 1200
Distância (m ) Distância [m]
Distância aos núcleos urbanos (1962) Distância aos núcleos urbanos (1981)
1 2
1
0
C [VI]/[UA]62-81
62-81 C 0 [VI]/[UA]81-00
81-00
-1
-1
-2 -2
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800
Distância (m ) Distância (m )
Figura 20. Valores de contraste referentes ao corte de vegetação inicial nos intervalos
temporais compreendidos entre os anos de 1962-1981 e 1981-2000 na região de Caucaia do
Alto, SP. Os pontos preenchidos representam os valores de contraste significativos. As
curvas de tendência receberam ajustes polinomiais de segunda ordem.
D. Desmatamento de floresta
2 1
1
0 [VMA]/[UA]62-81
[VMA]/[UA]62-81
0
[VMA]/[UA]81-00 [VMA]/[UA]81-00
C C
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]62-81
-1 [VMA]/[VI]81-00
[VMA]/[VI]81-00 -1
-2
-3 -2
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600 700
Distância (m ) Distância (m )
Distância à rede hidrográfica Valores de declividade
5 1
3
[VMA]/[UA]62-81 [VMA]/[UA]62-81
[VMA]/[UA]81-00 [VMA]/[UA]81-00
C 2 C 0
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]62-81
1 [VMA]/[VI]81-00 [VMA]/[VI]81-00
-1 -1
0 100 200 300 400 0 5 10 15 20 25 30
Distância (m ) Declividade (graus )
1 1
0 [VMA]/[UA]62-81 0 [VMA]/[UA]62-81
[VMA]/[UA]81-00 [VMA]/[UA]81-00
C C
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]62-81
-1 [VMA]/[VI]81-00 -1 [VMA]/[VI]81-00
-2 -2
860 900 940 980 1020 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Altimetria (m ) Distância (m )
2 4
3
1
2
[VMA]/[UA]62-81 [VMA]/[UA]81-00
C C
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]81-00
1
0
-1 -1
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 0 200 400 600 800 1000 1200
Distância (m ) Distância (m )
Distância aos núcleos urbanos (1962) Distância aos núcleos urbanos (1981)
1 2
[VMA]/[UA]62-81 [VMA]/[UA]81-00
C 0 C 0
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]81-00
-1
-1 -2
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800
Distância (m ) Distância (m )
A paisagem de Caucaia do Alto vem se mostrando, desde 1962, muito dinâmica, porém
com padrões de transição contrastantes para os dois períodos estudados. No primeiro
período, entre 1962 e 1981, houve um predomínio da regeneração florestal em relação ao
desmatamento, enquanto a situação inversa ocorreu no período seguinte, de 1981 a 2000.
Esta alteração na dinâmica da paisagem pode ser melhor entendida à luz das mudanças
sócio-econômicas ocorridas na região nos últimos 40 anos e pela aplicação da legislação
ambiental.
Período de 1962-1981
Este período é caracterizado por dois processos: i) uma alta rotatividade agrícola,
relacionada a altas taxas de abandono de áreas de agricultura e de desmatamento e ii) uma
intensa regeneração florestal, relacionada tanto ao abandono agrícola quanto à regeneração
de vegetação inicial, a qual resulta em um aumento da cobertura florestal.
A alta rotatividade agrícola está ligada ao uso do sistema de pousio por agricultores
da região, o qual é típico de paisagens que apresentam uma alta heterogeneidade (Metzger
2003), como a observada em Caucaia do Alto. Entre os anos de 1904 e 1905, o município
de Cotia apresentava 47,2% de suas terras ocupadas por capoeiras, 35,5% por campos,
9,7% recobertas por florestas e apenas 7,1% destinadas à agricultura (Seabra 1971). A
presença marcante de capoeiras e de campos, nesse período, refletia o predomínio do
sistema de roça, de atividades relacionadas a derrubadas para obtenção de lenha e madeira e
de agricultura itinerante. Mais tarde, com a entrada de estrangeiros (japoneses, italianos,
portugueses e espanhóis), a região foi conduzida à derrocada das atividades ditas “caipiras”,
isto é, de subsistência, uma vez que passaram a implementar uma cultura de caráter
comercial. Segundo dados fornecidos pela Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), a
produção agrícola, entre os anos de 1963 e 1964, era principalmente voltada a produtos
hortifrutigranjeiros, como tomate, batata, ovos, frango e alcachofra, entre outros, os quais
abasteciam as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Santos. As áreas cultivadas, naquele
período, não extrapolavam entre 18,8 e 56,8% das propriedades como um todo, sendo que o
restante era ocupado por floresta e capoeira relacionadas à “(...) obtenção da lenha e do
carvão vegetal (...) ou ainda com as formas de cultivo por rotação de terras, que, de modo
mais sistemático, existiam ainda em propriedades (...)” (Seabra 1971). Neste período, havia
ainda uma tendência, por parte dos proprietários, em rotacionar as suas culturas em solos
potencialmente mais férteis. Desta forma, eram escolhidos os solos recobertos por
vegetação natural, principalmente em estádios mais avançados de regeneração, explicando
assim as altas taxas de desmatamento observadas no período.
Um outro fator que possivelmente contribuiu tanto para a regeneração como para o
desmatamento, pode ter sido a ocorrência de arrendamentos em grandes propriedades,
geralmente pertencentes a japoneses ou a seus descendentes. Segundo Seabra (1971), os
japoneses que adquiriam grandes propriedades o faziam, em parte, para fins especulativos,
uma vez que “alugavam” pedaços de terra a famílias cujas culturas próprias já haviam sido
exterminadas pela decadência do cinturão caipira frente à expansão da agricultura de
caráter estritamente comercial. Por sua vez, Seabra (1971) destacou que parte das “matas e
capoeiras” encontradas nas propriedades era devida ao abandono de “arrendamentos
passados”.
A regeneração florestal está ainda relacionada ao processo de extração de lenha e
carvão vegetal, observado em praticamente toda a extensão florestal atlântica paulista
durante a primeira metade do século XX. A proletarização da comunidade local, de certo
modo, foi o ponto-chave para a expansão da produção de lenha e carvão vegetal. O carvão,
produto gerado a partir da derrubada das florestas, passou a substituir o valor monetário dos
excedentes da produção de subsistência, que antes eram comercializados pelos locais.
Entretanto, esse comércio não foi suficiente para elevar o padrão de vida da população
local, fazendo-os retornar ao plantio de produtos agrícolas ou submeterem-se aos
“vendeiros”, intermediários do comércio de carvão, que arrendavam florestas e contratavam
locais cujas terras encontravam-se esgotadas (Queiroz & Garcia 1968 apud Seabra 1971).
Langencuch (1968 apud Seabra 1971) ressaltou ainda que a atividade extrativista
relacionada à produção de lenha e carvão vegetal era uma das mais expressivas nos
arredores da cidade de São Paulo desde o fim do século XIX. Dean (1997), em sua obra
intitulada A Ferro e Fogo, enfatizou a contribuição das florestas primárias de Mata
Atlântica do estado de São Paulo para o comércio de combustível vegetal. As florestas
primárias eram tidas como recursos não-renováveis pelos exploradores, uma vez que as
espécies normalmente presentes em matas secundárias em estádios iniciais de regeneração
possuem lenha de menor densidade e carvão com quantidades reduzidas de carbono. Os
produtos oriundos de florestas secundárias eram geralmente utilizados para consumo
doméstico. O autor também apontou o aumento no fornecimento de lenha e carvão vegetal
devido à crise no abastecimento de produtos petrolíferos durante a Segunda Guerra
Mundial (com a adaptação de geradores de gás movidos à queima de carvão até mesmo em
carros), apesar de, já na década de 50, grande parte dos geradores de energia industriais
(89%) serem acionados à combustão interna ou por eletricidade. Entretanto, após 1960,
com o fim da guerra e a normalização do fornecimento de petróleo, a utilização de produtos
florestais destinada à geração de energia diminuiu sensivelmente. A instalação maciça de
fogões domiciliares movidos a gás, querosene ou energia elétrica contribuiu sobremaneira
para uma menor utilização de lenha e carvão vegetal. Provavelmente, essa diminuição na
dependência de produtos florestais para produção de energia, a partir da década de 60,
contribuiu para a significativa regeneração natural de florestas, em particular a partir do
abandono de áreas de vegetação em estádio inicial, observada no primeiro intervalo
temporal analisado (1962-1981). É importante ressaltar que, em visitas à área de estudo,
foram realizadas algumas entrevistas informais a pessoas residentes há pelo menos 40 anos
na região, nas quais foram confirmadas as atividades referentes à extração de lenha e
carvão vegetal, sendo a mesma não-seletiva, com o corte raso feito pela utilização de
correntes atadas a tratores (com. pess.).
Um outro fator que pode explicar a intensa regeneração florestal neste primeiro
período de estudo é a implantação do Código Florestal (Lei n o 4.771), em 15 de setembro
de 1965. Com a implantação do Código Florestal, diversas restrições acerca da exploração
de recursos naturais, principalmente em relação à extração de lenha e carvão vegetal,
passaram a vigorar, o que pode ter contribuído, também, para a diminuição desse tipo de
atividade antrópica. O Artigo 11, por exemplo, passa a exigir medidas preventivas quanto
ao controle de emissão de fagulhas no emprego de produtos florestais como combustível; o
Artigo 12 limita a extração de produtos madeireiros apenas em florestas plantadas não-
situadas em áreas de preservação permanente (APPs); o Artigo 14 (b) proíbe o corte de
espécies vegetais em extinção; o Artigo 19 prevê a retirada de espécies naturais, mas obriga
o proprietário a replantá-las; o Artigo 21 obriga siderúrgicas a manterem florestas próprias
para exploração racional; o Artigo 24, refere-se ao registro de estabelecimentos que
comercializam moto-serra e confere apenas a órgão competentes a autoridade de liberar
licenças de utilização da mesma, as quais devem ser renovadas a cada dois anos, entre
outros.
Período de 1981-2000
O intervalo temporal compreendido entre os anos de 1981 a 2000 foi caracterizado por um
intenso desmatamento, quantitativamente maior do que o observado no primeiro intervalo
temporal analisado, e pela explosão das áreas de instalação rural e urbana, principalmente
relacionadas a loteamentos. Estes dois processos parecem estar atrelados ao aumento de
culturas feitas em estufa, como verduras hidropônicas e flores (com. pess.), à instalação de
rede elétrica (linhão, detectado apenas em fotografias aéreas referentes aos anos de 1981 e
2000) e à melhora e duplicação da Rodovia Raposo Tavares, a qual é a principal via de
acesso entre a área de estudo e a cidade de São Paulo. Estes últimos fatores foram
provavelmente determinantes à expansão, em uma taxa bastante elevada, de loteamentos
destinados à construção de chácaras de fim-de-semana e condomínios em Caucaia do Alto.
Esse novo perfil “empreendedor” vem, nos últimos 20 anos, atraindo moradores da
metrópole, os quais, motivados pela facilidade do acesso via Raposo Tavares, elegeram a
região de Caucaia do Alto como um “paraíso ecológico”. A presença de remanescentes de
Mata Atlântica, os quais conferem à região um atrativo tanto para lazer como para moradia,
fazem da especulação imobiliária algo bastante rentável. Um levantamento realizado sobre
a UGRHI-10, da qual faz parte a região de Caucaia do Alto, também aponta que “a
proximidade com a região metropolitana de São Paulo é “(...) um atrativo para contínuo
parcelamento do solo e a criação de chácaras de recreio, muitas delas invadindo áreas
de vegetação nativa e preservação permanente (...)” (Secretaria de Recursos Hídricos e
Saneamento do Estado de São Paulo 2000). Esse mesmo levantamento classifica Ibiúna,
entre os demais municípios que compõem a sub-bacia do Alto Sorocaba, como um dos
municípios que mais recebeu autos de infração ambiental por desmatamento ilegal ou
irregular entre os anos de 1993 e 1995, com perda de grande área florestal.
É importante ressaltar que as instalações rurais e urbanas ocorreram não apenas em
áreas florestais (395 ha desmatados), mas também, e principalmente, em áreas agrícolas
(602 ha convertidos). A quantidade de área agrícola convertida a instalações rurais e
urbanas é semelhante à de área florestal convertida a agricultura, o que pode indicar que a
ampliação de loteamentos foi feito às custas de áreas agrícolas, porém estas, em
compensação, se expandiram sobre as áreas florestais. Os loteamentos seriam, assim,
indiretamente responsáveis pelo desmatamento. Esta tendência já havia sido observada por
Seabra (1971), que, em sua tese intitulada Vargem Grande: organização e transformações
de um setor do cinturão-verde paulistano, descreveu que “os elementos mais atuais e mais
dinâmicos da ação de São Paulo sobre a área estão relacionados de modo cada vez mais
significativo com a presença de chácaras e clubes de fim-se-semana de moradores de São
Paulo (...) (diga-se de passagem que Vargem Grande é servida, já há alguns anos, por
ônibus com freqüência urbana hoje com ponto final no bairro de Pinheiros)”. Ruiz-Luna &
Berlanga-Robles (2003), no noroeste do México, encontraram o mesmo padrão de dinâmica
de paisagem, apontando uma seqüência comum de substituição da vegetação natural por
áreas agrícolas, seguida de expansão urbana sobre os campos agrícolas.
Apesar desta expansão urbana, o período de 1981 a 2000 se caracteriza ainda por
um aumento na estabilidade das áreas agrícolas. A região de Caucaia do Alto ainda tem na
produção agrícola um importante suporte econômico, com a predominância de
propriedades de, em média, 10 ha (Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento do
Estado de São Paulo 2000), o que pode caracterizar, atualmente, uma agricultura de
caráter mais intensivo em detrimento do sistema de pousio sugerido pelas evidências
encontradas no intervalo 1962-1981. No intervalo compreendido entre os anos de 1981 e
2000, os proprietários diminuíram consideravelmente o abandono de seus cultivos, porém,
continuaram a desmatar áreas de vegetação natural, principalmente em estádios
sucessionais mais avançados, em taxas relativamente semelhantes às observadas no
intervalo temporal anterior (1962-1981), provavelmente em busca de solos mais férteis.
Tais evidências possivelmente indicam que as áreas agrícolas, já desgastadas pelo uso
intensivo, ao invés de serem simplesmente abandonadas, passaram a abrigar outros tipos de
usos antrópicos, como as instalações rurais e urbanas. A maior estabilidade agrícola
também se repercute em taxas bem menores, quando comparado com o período anterior, de
abandono agrícola para regeneração de vegetação inicial ou de matas, não mais
compensando o intenso desmatamento.
A região de Caucaia do Alto, SP, sofreu, ao longo do período temporal analisado (1962-
2000), dinâmicas diferenciadas, uma vez que, no primeiro intervalo (1962-1981), observou-
se transições relacionadas a processos de regeneração de valores quantitativamente maiores
do que aquelas relacionadas ao desmatamento, com expansão da cobertura florestal. O
segundo intervalo temporal analisado (1981-2000), por sua vez, apresentou marcante
processo de desmatamento, sendo este devido, em parte, pela substituição de vegetação
natural por agricultura e desta por instalações rurais e urbanas. Tal dinâmica leva à
conclusão de que a especulação imobiliária provavelmente é a principal responsável pelas
transições assistidas entre os anos de 1981 e 2000.
Em relação às hipóteses propostas neste trabalho, houve consistência entre os dois
períodos estudados. O desmatamento ou corte de vegetação inicial tende a ocorrer em áreas
mais propícias para a agricultura: terras mais planas e baixas e de fácil acesso, enquanto a
regeneração ocorre em áreas mais próximas aos rios, devido, provavelmente, à influência
da legislação, em áreas mais declivosas e mais afastadas dos centros urbanos e de estradas.
A regeneração de floresta foi a que melhor respondeu à proximidade a áreas naturais
preexistentes, sugerindo um efeito significativo da proximidade à fonte de propágulos,
conforme observado em outros estudos (Endress & Chinea 2001, DeWalt et al. 2003,
Metzger 2003).
Em última análise, os resultados obtidos em relação ao desmatamento concordaram
com as conclusões encontradas por Geist & Lambin (2002) em seu trabalho intitulado
Proximate Causes and Underlying Driving Forces of Tropical Deforestation, as quais
apontam que, nos trópicos, a substituição de vegetação natural por diferentes tipos de usos
antrópicos deve ser explicada por múltiplos fatores, não sendo possível identificar uma
única relação causal. Em Caucaia do Alto, o fim da exploração do carvão em larga escala, o
abandono ou a intensificação agrícola (dependendo do período), a aplicação da legislação
ambiental, a proximidade com a cidade de São Paulo e o aumento na facilidade de acesso
pela Raposo Tavares são fatores que vêm agindo conjuntamente na dinâmica da paisagem.
Esta, por sua vez, numa escala mais local, não ocorre ao acaso, sendo fortemente
determinada por características de relevo, hidrografia e proximidade de estradas e áreas
urbanas.
BIBLIOGRAFIA
Tabela 1. Classes utilizadas nas fotointerpretações feitas para os anos de 1981 e 2000, com
suas respectivas definições, na região de Caucaia do Alto, SP.
TERMOS
CLASSES UTILIZADOS AO DEFINIÇÃO
LONGO DO TEXTO
Instalações rurais e urbanas (edificações isoladas,
bosques, cercas-vivas, edificações agrupadas,
condomínios, loteamentos), campos agrícolas
Uso antrópico Uso antrópico (agricultura anual, campos limpo e sujo, vegetação
herbácea rala a herbácea-arbustiva, homogênea ou
heterogênea), áreas de reflorestamento (Pinus spp. ou
Eucalyptus spp., espécies exóticas).
Vegetação natural em estádio Vegetação herbácea-arbustiva a arbustiva, homogênea
Vegetação inicial
inicial de sucessão secundária ou heterogênea.
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000
2.000
81_0_3_tiff.tif m
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta
Figura 1. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, no ano de 1981.
¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000
2.000
81_0_3_tiff.tif m
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta
Figura 2. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, no ano de 2000.
Variáveis proximais
Para o presente estudo, foram escolhidas algumas variáveis proximais estáticas que
possivelmente representam os principais fatores que contribuíram para a conformação atual
da paisagem estudada, segundo o próprio histórico de ocupação: altitude, declividade,
distância à rede de drenagem, distância às estradas principais e secundárias e aos núcleos
urbanos.
Os mapas que representam as variáveis proximais estáticas de declividade (860 a
1.051 m) e altimetria (0 a 32°) foram gerados a partir de um modelo numérico baseado em
curvas de nível, consideradas em intervalos de 5 em 5 m, e digitalizadas com base em
cartas (1:10.000; aerolevantamentos de 1979) do Instituto Geográfico e Cartográfico do
Estado de São Paulo. Estas mesmas cartas serviram para definir o mapa de distância à rede
hidrográfica e às estradas principais e secundárias de 1981. O mapa de distância aos
núcleos urbanos, encontrados no ano de 1981, foi feito com base em uma classificação mais
detalhada da classe uso antrópico, na qual foram destacados os polígonos referentes às
instalações rurais e urbanas. (Consultar Figuras 8, 9, 10, 11, 13 e 15, Capítulo 1.)
As variáveis proximais dinâmicas (distância às classes uso antrópico, vegetação
inicial e floresta) foram obtidas através das próprias fotointerpretações realizadas para os
anos de 1981 e 2000 e tiveram suas distâncias recalculadas em cada uma das iterações
realizadas pelo programa DINAMICA©.
O passo seguinte consistiu na definição de intervalos de distância para cada variável
proximal estática utilizada (categorização). Procurou-se estabelecer o fatiamento das
distâncias a cada variável de maneira independente, uma vez que as mesmas apresentaram
distâncias máximas distintas entre si. Priorizou-se um fatiamento mais detalhado em
localidades próximas às variáveis propostas e um fatiamento grosseiro em áreas mais
distantes (Tabela 2).
Tabela 2. Extensão, em metros e em graus (declividade), dos intervalos estabelecidos para
o estudo da influência das variáveis proximais estáticas na dinâmica da paisagem de
Caucaia do Alto, SP.
INTERVALO
VARIÁVEIS
[1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9]
Hidrografia 100 a 200 a 300 a
0 a 25 25 a 50 50 a 100 > 400
[máx. = 458 m] 200 300 400
Declividade
0a5 5 a 10 10 a 15 15 a 20 20 a 25 25 a 30 >30
[máx = 32o]
Altimetria 860 a 900 a 940 a 980 a
> 1.020
[máx. = 1051 m] 900 940 980 1.020
Estradas principais 100 a 200 a 400 a 800 a 1.600 a
0 a 50 50 a 100 > 3.200
[máx. = 4207 m] 200 400 800 1.600 3.200
Estradas
secundárias 100 a 200 a 400 a 600 a 800 a 1.000 a
0 a 50 50 a 100 > 1.200
[1981] 200 400 600 800 1.000 1.200
[máx. = 1342 m]
Distância às
instalações
100 a 200 a 400 a 600 a
urbanas e rurais 0 a 50 50 a 100 > 800
200 400 600 800
[1981]
[máx. = 940 m]
O cálculo das probabilidades de ocorrência das transições entre as três classes de uso e
cobertura das terras (número de pixels de uma dada transição entre diferentes classes
dividido pelo número total de pixels da classe no período inicial, i.e. 1981) foi feito
utilizando-se o programa DINAMICA©, com base na sobreposição dos mapas inicial
(1981) e final (2000). Com isso, foi gerada uma matriz probabilística de mudança anual
(Tabela 3), obtida a partir de uma matriz para o período (1981-2000) pela propriedade de
matrizes ergódicas, a qual “anualiza” as matrizes de período convergindo-as a uma
distribuição estacionária (Soares-Filho et al. no prelo). Cabe ressaltar, aqui, que as matrizes
de mudança geradas não representam, per se, modelos espaciais, mas refletem apenas a
quantificação das mudanças em relação à paisagem como um todo, funcionando como
componentes primários do modelo de dinâmica de paisagens (Soares-Filho et al. no prelo).
Tabela 3. Matriz probabilística de mudança anual gerada com base no intervalo temporal
compreendido entre os anos de 1981 e 2000 na região de Caucaia do Alto, SP.
2000
TOTAL
(UA) (VI) (VMA)
(UA) Uso antrópico 2.797,8 120,7 231,3 3.149,8
1 (VI) Vegetação natural em estádio inicial de 193,3
429,8 88 711,1
9 sucessão secundária
8
1 (VMA) Vegetação natural em estádio médio
1.184,6 359,1 2.056,7 3.600,4
a avançado de sucessão secundária
Cabe ressaltar que, neste estudo, todas as transições entre as diferentes classes
foram consideradas possíveis, uma vez que o intervalo escolhido entre os anos analisados
(19 anos) possibilita tal dinâmica.
{ B}= log{D} + W
log D +
com (1)
P{B }
{ D}
+
W = ln D (2)
PB
{
Pi→ j
B I C I DK I N
}=e
∑ W +N
1 + e∑
W +N
(3)
A fim de se obter diferentes cenários para o ano de 2019, coerentes com o histórico de
evolução da paisagem de Caucaia do Alto entre os anos de 1981 e 2000, optou-se por
encontrar primeiramente um modelo de simulação espacial que, a partir do ano de 1981,
fosse capaz de gerar, como resultado, um mapa de uso e cobertura das terras semelhante à
fotointerpretação feita para o ano de 2000. Para isso, foram utilizados como dados de
entrada no programa DINAMICA©: i) o mapa de uso e cobertura das terras obtido para o
ano de 1981; ii) a matriz probabilística de mudança anual e iii) os pesos de evidência
previamente calculados para o intervalo 1981-2000. Diversas iterações foram então
realizadas, uma vez que o programa DINAMICA© disponibiliza ferramentas para
monitoramento e ajuste do processo de modelagem baseadas em duas funções: i) a função
expander, a qual controla apenas o grau de expansão ou contração de manchas
preexistentes de um tipo de uso ou cobertura das terras e ii) a função patcher, a qual
promove o surgimento de novas manchas, assim como o controle de variáveis relacionadas
ao tamanho médio, variância e formato das manchas geradas e valores de saturação de tipos
de transições (Soares-Filho et al. 2002).
A escolha do modelo para a realização da simulação de cenários futuros foi feita
comparando-se os mapas de uso e cobertura da terra simulados (n = 10 para cada um dos
modelos utilizados) à fotointerpretação realizada para o ano de 2000, através do cálculo de
diferentes índices de paisagem. Tais índices foram relacionados principalmente à
configuração das manchas de floresta, a saber, i) número de manchas (NP), ii) porcentagem
da paisagem coberta pela maior mancha de floresta (LPI), iii) média ponderada do tamanho
das manchas (AREA_AM) e iv) medida de agregação das manchas de mata (CLUMPY). A
partir destes índices, foram feitas análises multivariadas de agrupamento e ordenação
(análises de componentes principais) (Zar 1999) para definir qual dos modelos mais se
assemelhou com a paisagem real de 2000, em termos de configuração espacial.
Tabela 4. Matriz probabilística de mudança anual gerada com base no intervalo temporal
compreendido entre os anos de 1981 e 2000 na região de Caucaia do Alto, SP.
2019
Uso antrópico Vegetação inicial Floresta
O modelo de simulação em perspectiva aleatória, por sua vez, baseou-se apenas nas
tendências de transição entre os diferentes tipos de uso e cobertura das terras contidas nas
matrizes probabilísticas de mudança, sendo que os valores calculados para os pesos de
evidência foram zerados para todas as variáveis proximais utilizadas. Este modelo foi
construído com o intuito de verificar a estrutura espacial para o ano de 2019 da paisagem de
Caucaia do Alto caso não houvesse restrições quanto à localização espacial dessas
mudanças, e relacioná-la ao padrão encontrado para os demais cenários gerados, a saber,
real, pessimista e otimista.
O modelo em perspectiva pessimista seguiu os padrões de mudanças espaciais
estabelecidos pelos valores dos pesos de evidência encontrados para o intervalo 1981-2000.
Porém, as probabilidades de mudança contidas na matriz previamente calculada foram
alteradas, sendo que as transições de regeneração à floresta a partir de áreas de uso
antrópico e de vegetação inicial foram impossibilitadas (as probabilidades de ocorrência
relacionadas a essas transições foram igualadas a zero) e os valores correspondentes às
regenerações a floresta foram adicionados tanto à probabilidade de permanência da classe
uso antrópico como à probabilidade de transição entre vegetação inicial e uso antrópico
(Tabela 5).
2019
Uso antrópico Vegetação inicial Floresta
2 Uso antrópico 0,9952 0,0048 0
0 Vegetação inicial 0,1278 0,8722 0
0
0 Floresta 0,0168 0,0187 0,9646
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta
Figura 3. Cenário real para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
81_0_3_tiff.tif
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta
Figura 4. Cenário aleatório para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
81_0_3_tiff.tif
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta
Figura 5. Cenário pessimista para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
81_0_3_tiff.tif
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta
Figura 6. Cenário otimista para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
Os resultados obtidos para cada simulação foram, ainda, valorados, tomando-se
como parâmetro uma paisagem dita “ideal” à conservação da diversidade de espécies
florestais. Uma paisagem próxima ao “ideal” deve apresentar simultaneamente: uma
extensa área de cobertura florestal; um pequeno número de manchas; uma mancha
relativamente grande a fim de atuar como fonte de propágulos às manchas menores;
tamanho médio das manchas preferencialmente de grande extensão e elevado grau de
conectividade, o que implica em uma menor probabilidade de essas manchas encontrarem-
se isoladas na paisagem, facilitando, assim, a movimentação dos diversos organismos entre
as mesmas, o que corrobora à sobrevivência das populações (Forman 1995, Metzger 1999).
Cada paisagem foi pontuada, para cada índice calculado, de 1 a 40, em função de sua
ordem em relação ao valor ideal, e os pontos para cada índice de paisagem foram, então,
somados. O resultado é um índice de qualidade da paisagem. Quanto maior este índice,
mais próxima está a paisagem, em relação às demais, da condição ideal para a conservação
de espécies florestais.
RESULTADOS
Dinâmica 1981-2000
Tabela 8. Matriz de mudanças de uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto,
SP, obtida entre os anos de 1981 e 2000, em hectares.
2000
TOTAL
Uso antrópico Vegetação inicial Floresta
120,7 193,3
VEGETAÇÃO
AGRICULTURA - 309 - 165,8 FLORESTA
INICIAL
429,7 359,1
- 953,3
REFLORESTAMENTO 1.184,6
Figura 7. Dinâmica de mudança de uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto,
SP, observada entre os anos de 1981 e 2000, em hectares.
7000
6000
5000
Uso antrópico (ha)
REAL
4000
ALEATÓRIO
ha
PESSIMISTA
3000
OTIMISTA
2000
1000
0
1981 2000 2019
Intervalos
(a)
800
700
600
Vegetação inicial (ha)
500 REAL
ALEATÓRIO
400
ha
PESSIMISTA
300 OTIMISTA
200
100
0
1981 2000 2019
Intervalos
(b)
4.000
3.500
3.000
2.500
Floresta (ha)
REAL
ALEATÓRIO
2.000
ha
PESSIMISTA
1.500 OTIMISTA
1.000
500
0
1981 2000 2019
Intervalos
(c)
Figuras 8(a), 4(b) e 4(c). Uso e cobertura da terra em relação às classes de (a) uso
antrópico, (b) vegetação inicial e (c) floresta na região de Caucaia do Alto, SP (1981-2019),
frente a diferentes cenários para o ano de 2019.
500
400
REAL
ALEATÓRIA
NP
300
PESSIMISTA
OTIMISTA
200
100
0
1981 2000 2019
F = 199,16
Intervalos P < 0,05
420
400 B
380
B
360
340
320 A
NP
300
280
260
C
240
220
200
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos
Figura 10. Média e desvio padrão do número de manchas (NP) de floresta frente a
diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista, OTIMista) de uso e cobertura da
terra para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP. Os cenários que não diferiram
significativamente são representados por letras que se repetem.
O cenário que apresentou a maior porcentagem de área total ocupada pela maior
mancha de floresta foi o otimista ( X = 11,49 %), seguido pelo cenário real ( X = 7,93 %),
aleatório ( X = 4,19 %) e pessimista ( X = 2,41 %). Todas as diferenças foram
significativas (p < 0,05), salvo, mais uma vez, os cenários pessimistas e aleatório (p =
0,116) (Figuras 11 e 12). Estes dois últimos valores foram menores do que o obtido no ano
de 2000 (6,45 %). Porém, nota-se que a maior perda no tamanho do maior fragmento
ocorreu entre 1981 e 2000, sendo que nenhum dos cenários para 2019 permite retornar a
valores próximos aos de 1981 (Figura 11).
30
25
20
LPI (%)
REAL
ALEATÓRIA
15
%
PESSIMISTA
OTIMISTA
10
0
1981 2000 2019
Intervalos F = 54,707
p < 0,05
Figura 11. Porcentagem da paisagem ocupada pela maior mancha (LPI) de floresta
frente a diferentes cenários de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região
de Caucaia do Alto, SP.
14
C
12
10
A
F = 54,707
8 p < 0,05
LPI
6
B
4
B
0
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos
Figura 12. Média e desvio padrão da porcentagem da paisagem ocupada pela maior
mancha (LPI) de floresta frente a diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista,
OTIMista) de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto,
SP, em porcentagem. Os cenários que não diferiram significativamente são representados
por letras que se repetem.
12
10
REAL
AREA_MN (ha)
8
ALEATÓRIA
ha
PESSIMISTA
6
OTIMISTA
4
0
1981 2000 2019
Intervalos F = 2.586,34
p < 0,05
Figura 13. Área média das manchas (AREA_MN) de floresta, em hectares, frente a
diferentes cenários de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região de
Caucaia do Alto, SP.
14
13
D
12
11
10
9
AREA_MN
7
A
6
B
5
4
C
3
2
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos
Figura 14. Média e desvio padrão da área média das manchas (AREA_MN) de floresta, em
hectares, frente a diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista, OTIMista) de uso e
cobertura das terras para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
Os cenários otimista ( X = 73,75 m) e aleatório ( X = 82,46 m) foram aqueles que
apresentaram manchas florestais de menores distâncias (ENN_MN), o que, a princípio,
indica um menor grau de isolamento nessas paisagens. Por outro lado, as paisagens geradas
pelos modelos real e pessimista tiveram, como resultado, valores maiores de ENN_MN
(real: X = 103,37 m, aleatório: X = 100,22 m), o que indica um maior grau de
isolamento para esses cenários, que não diferiram significativamente entre si (p = 0,265)
(Figuras 15 e 16). Todos os cenários apresentaram a distância média entre as manchas de
(VMA) maiores do que a observada para o ano de 2000 (71,91 m).
120
100
80
ENN_MN (m)
REAL
ALEATÓRIA
60
m
PESSIMISTA
OTIMISTA
40
20
0
1981 2000 2019
F = 139,84
Intervalos p < 0,05
Figura 15. Distância média (ENN_MN), em metros, entre as manchas de floresta frente
a diferentes cenários de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região de
Caucaia do Alto, SP.
110
A
105
A
100
95
90
ENN_MN
A
85
B
80
C
75
70
65
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos
Figura 16. Média e desvio padrão da distância média (ENN_MN), em metros, entre as
manchas de floresta frente a diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista,
OTIMista) de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto,
SP. Os cenários que não diferiram significativamente são representados por letras que se
repetem.
5000
4000
REAL
PROX_MN
ALEATÓRIA
3000
PESSIMISTA
OTIMISTA
2000
1000
0
1981 2000 2019
F = 89,896
Intervalos
p < 0,05
Figura 17. Proximidade média (PROX_MN) entre as manchas florestais frente a diferentes
cenários de uso e cobertura da terra para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
1100
1000
C
900
800
700
600
PROX_MN
500
400 A
300 AB
200
B
100
-100
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos
Figura 18. Média e desvio padrão da proximidade média (PROX_MN) entre as manchas de
floresta frente a diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista, OTIMista) de uso e
cobertura das terras para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP. Os cenários que
não diferiram significativamente são representados por letras que se repetem.
Ordenação dos cenários para conservação de espécies florestais
O desmatamento observado na região de Caucaia do Alto entre os anos de 1981 e 2000 foi
equivalente, em dados brutos (baseados apenas nas quantidades de floresta observadas nos
anos de 1981 e 2000), a 1.543,7 ha (81,2 ha/ano), ou seja, a 42,9% da área florestal presente
no ano de 1981. No estado de São Paulo, por sua vez, a perda da Floresta Atlântica, entre os
anos de 1995 e 2000, foi estimada em 50.458 ha (10.092 ha/ano), ou seja, 1,7% da área
florestal observada em 1995 (3.046.341 ha) (SOS Mata Atlântica/INPE 2002).
Transformando-se ambas as taxas anuais de desmatamento em termos percentuais, para fins
comparativos, tem-se que, para o intervalo 1981-2000, na região de Caucaia do Alto, a taxa
de desmatamento obtida foi equivalente a 2,9%/ano, enquanto que, para o estado de São
Paulo, a mesma taxa igualou-se a 0,3%/ano. Portanto, a região de Caucaia do Alto
apresentou uma taxa estimada de desmatamento da Floresta Atlântica muito superior em
relação à observada no estado de São Paulo, o que demonstra uma rápida aceleração na
ocupação das áreas de floresta na região estudada. Essas taxas são maiores do que as
encontradas em regiões de expansão de fronteira agrícola, como no caso do município de
Ariquemes, Estado de Rondônia, com taxas de 2,2%/ano, em pleno arco do desmatamento
amazônico (Ferraz et al. 2005). O rápido desmatamento em Caucaia se deve, em particular,
ao crescente avanço de loteamentos para construção de chácaras de fim-de-semana e de
condomínios voltados principalmente à população da cidade de São Paulo (ver capítulo 1).
Com a ampliação das vias de acesso que ligam a metrópole à Caucaia do Alto, SP (Revista
em Cotia 2002), o desmatamento tende a se intensificar ainda mais.
É interessante notar que pequenas mudanças nas matrizes de transição podem
resultar em paisagens muito distintas em termos de cobertura e configuração florestal. O
cenário otimista, que equivale a uma política de “desmatamento zero”, é o único capaz de
aumentar a quantidade de mata e reduzir o número de manchas florestais da paisagem.
Quando comparado ao cenário real, de continuidade nas tendências recentes de dinâmica de
paisagem, o cenário otimista permite o aumento em cerca de 50% no tamanho da maior
mancha, dobra a área média das manchas e aumenta em quase três vezes a proximidade
entre as manchas florestais remanescentes. Por outro lado, numa situação adversa, onde há
uma maior estabilização agrícola e menor abandono das terras com conseqüente
interrupção da regeneração natural (cenário pessimista), há uma nítida perda de áreas
florestais (1.238 ha) e aumento no número de manchas. Em relação a uma situação de
continuidade das tendências atuais, o cenário pessimista reduz pela metade o tamanho da
maior mancha e o tamanho média das manchas, reduzindo a um terço a proximidade entre
as manchas florestais.
As implicações desses últimos cenários em termos de conservação da
biodiversidade florestal podem ser drásticas, uma vez que: i) a conservação das maiores
manchas em cada um das paisagens obtidas (dadas pelo índice de paisagem LPI) é de
importância máxima à conservação de espécies de interior; ii) é preferível manter manchas
extensas a manchas de tamanho reduzido, uma vez que as mesmas são afetadas por efeitos
de borda mais acentuados e iii) a escolha por manchas de habitat natural agregadas pode
garantir uma maior chance à manutenção da diversidade biológica do que aquelas isoladas
por tipos de matrizes tidas como impermeáveis aos fluxos biológicos (Ranta et al. 1998).
Além de se aproximar mais desstas condições espaciais ótimas, o cenário otimista é o único
que permite um aumento na cobertura florestal em relação a 2000, resultando em 37,8% de
matas na região. Esse valor está acima de um suposto limiar de fragmentação, proposto por
Andrén (1994), abaixo do qual os efeitos da fragmentação tenderiam a se acentuar. Dessa
forma, a configuração espacial no cenário otimista seria mais propícia à conservação de
espécies sensíveis à diminuição da área florestal, como as espécies da avifauna Trogon
surrucura, ou as espécies de aves com maior sensibilidade à conectividade de manchas
florestais, como Basileuterus leucoblepharus e Pyriglena leucoptera (Uezu et al. 2005). O
cenário pessimista, por sua vez, gerou paisagens pouco propícias à conservação da
diversidade biológica florestal, tanto em termos de cobertura florestal (16,7%), bem abaixo
do limiar de fragmentação, quanto em termos de disposição espacial dos fragmentos
florestais remanescentes. Nessas paisagens, possivelmente, seriam encontradas apenas
algumas espécies menos sensíveis à fragmentação, como, no caso de aves, Batara cinerea e
Chiroxiphia caudatta (Uezu et al. 2005). A presença dessas espécies em ambientes menos
favoráveis é possível apenas pelo fato de as mesmas serem capazes de se deslocar através
da matriz e de utilizá-las como fonte de recursos e como extensões de suas áreas de vida, o
que, a princípio, não demanda necessariamente altos índices de conectividade.
Outro resultado relevante é obtido pela comparação dos cenários reais e aleatórios.
Ambos foram gerados pela mesma matriz de transição anual (de acordo com a tendência
atual), porém diferem na distribuição espacial das transições entre os diferentes tipos de uso
e cobertura das terras, sendo aleatório em um dos casos e dependente dos pesos de
evidência em outro. A análise dos índices da paisagem mostra claramente que a presença de
tendências espaciais, definidas pelos pesos de evidência, as quais direcionam os processos
de desmatamento e regeneração, são preferíveis à preservação da diversidade biológica
florestal a processos de caráter totalmente estocástico.
É importante ressaltar, no entanto, que os diferentes cenários, valorados a priori
pelos índices de paisagem preestabelecidos, podem não refletir a real condição para a
conservação das espécies florestais. Isso ocorre porque as mesmas apresentam diferentes
vulnerabilidades aos fenômenos de extinção local, sendo que essas diferenças são dadas
principalmente pelos próprios atributos biológicos das espécies. Em particular, espécies de
grande porte, que estão situadas no topo da cadeia alimentar, de maior longevidade, de
pequeno sucesso reprodutivo e que dependam diretamente de estratos arbóreos são
geralmente tidas como vulneráveis. Castro e Fernandez (2003) observaram que uma mesma
paisagem pode se apresentar fragmentada a uma dada espécie, porém, para uma outra
espécie, a mesma paisagem pode ter um caráter predominantemente contínuo, dada a
habilidade, inerente à espécie, em utilizar os corredores e até mesmo a matriz para se
movimentar de uma mancha florestal a outra. Uma metapopulação subdividida em
populações locais confinadas em manchas de floresta, mas que recebam periodicamente
indivíduos imigrantes, pode ter sucesso em uma paisagem altamente fragmentada, desde
que a mesma possua uma matriz permeável a essa população. Ademais, além da estrutura
da paisagem e das características intrínsecas das espécies, é necessário também considerar a
qualidade ou estrutura da vegetação presente nas diferentes manchas. Manchas de maior
tamanho podem apresentar uma baixa qualidade da vegetação devido a características
históricas de perturbação, enquanto, em outras situações, manchas de menor tamanho
podem apresentar estruturas de vegetação relativamente mais íntegras. Com isso, manchas
florestais de menor porte podem ter maior interesse à conservação do que manchas extensas
(Harrison & Fahrig 1995).
Dado esse contexto, pode-se dizer que os cenários otimistas gerados foram tidos
como os de maior viabilidade à manutenção da biodiversidade florestal apenas partindo-se
do princípio de que os índices de paisagem escolhidos seriam suficientes para inferir sobre
tal pressuposto, independente da qualidade da vegetação e da percepção inerente de cada
espécie em relação aos cenários obtidos. Os cenários gerados em perspectiva realista, por
sua vez, são os que, após os cenários otimistas, apresentaram melhores condições
estruturais e de composição à manutenção das espécies florestais, dadas tanto pela soma
dos valores estabelecidos para os índices de paisagem como pela presença da maior
quantidade de vegetação inicial em relação aos cenários otimista e pessimista. Finalmente,
como esperado, os cenários pessimistas e aleatórios apresentaram os piores resultados
estruturais e certamente representam a configuração espacial menos propícia à conservação
florestal na região de Caucaia do Alto. É importante ressaltar que as diferentes paisagens
(réplicas), geradas a partir de um mesmo cenário, foram agrupadas de maneira
significativamente distinta em relação à maioria dos índices de paisagem, mostrando grande
coerência nos cenários propostos.
Segundo simulações de diferentes cenários para o ano de 2100 feitas por Sala et al.
(2000), a principal força motriz responsável pela redução da biodiversidade para os
ambientes tropicais, como no caso da Floresta Atlântica, está relacionada à mudança no uso
e cobertura das terras. Apesar das limitações deste trabalho, que está baseado
essencialmente em uma interpretação estrutural das paisagens, fica claro o potencial do uso
de programas de simulação espacial de paisagem, tal como o DINAMICA©, como uma
primeira ferramenta à compreensão dos processos históricos de evolução do uso e cobertura
das terras e avaliação das conseqüências em termos de conservação biológica. Os
resultados ressaltam que intervenções firmes, impedindo o desmatamento e mantendo as
taxas atuais de regeneração, seriam altamente benéficas em relação à conservação da
biodiversidade. Uma perspectiva promissora para o aperfeiçoamento das análises feitas,
subsidiando de forma mais consistente as tomadas de decisão por gestores territoriais, seria
acoplar aos modelos de dinâmica de uso e cobertura das terras, os modelos de dinâmica de
populações em paisagens fragmentadas, particularmente em biomas ameaçados, como no
caso da Mata Atlântica. Outro aperfeiçoamento estaria relacionado ao uso de dados de
cunho social para a predição de cenários, como os já utilizados em previsões relativas ao
desmatamento da Floresta Amazônica a partir de redes viárias (Soares-Filho et al. 2004).
CONCLUSÃO
Os diferentes cenários gerados para a região de Caucaia do Alto, SP, mostraram que as
paisagens otimistas foram aquelas que apresentaram as maiores semelhanças às paisagens
ditas “ideais” à conservação da diversidade de espécies florestais no ano de 2019, com base
nos índices de paisagem. Uma política baseada no “desmatamento zero”, a qual,
teoricamente, já está em vigor desde a implantação do Decreto n° 750, de 10 de fevereiro
de 1993, em conjunto com àquela que prioriza a proteção de áreas de APP, garantiria esse
tipo de cenário à região, em um futuro próximo. Por sua vez, o cenário real, tido com base
nas tendências observadas entre os anos de 1981 e 2000, seria uma segunda opção a uma
paisagem “conservacionista”, bastando, para isso, que os tomadores de decisão baseassem
os planejamentos futuros no histórico de mudanças no uso e cobertura das terras ocorrido
na região. Entretanto, deve-se ressaltar que este último cenário não é o desejável,
principalmente por ter sido modelado pelas elevadas taxas de desmatamento observadas
entre 1981 e 2000. Porém, tal cenário é preferível em detrimento dos cenários aleatório,
onde as transições se dão sem qualquer restrição à sua localização, e pessimista, o qual
incrementa ainda mais as taxas de desmatamento e diminui as relacionadas à regeneração.
BIBLIOGRAFIA
Este estudo, a partir da análise das mudanças no uso e ocupação das terras entre os anos de
1962 e 2000, na região de Caucaia do Alto, SP, mostrou que