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Editorial

Do medo e da crise de liderança

As notícias negativas que todos os dias nos vão entrando pela casa dentro sobre a situação
económica e financeira do país estão a afectar a forma como os portugueses vivem. Estamos a
viver constrangidos e principalmente com medo do futuro. José Gil já nos tinha avisado que “é
o medo que nos tolhe e, directa e indirectamente nos inibe de expandirmos a nossa potência
de vida, e mesmo a nossa vontade de viver”.

A crescente sensação de pessimismo que nos rodeia, onde parece que estamos
constantemente a cair num buraco sem fundo, impede as pessoas de serem criativas e de se
sentirem bem com elas próprias. Existe uma sensação de muito medo do futuro, medo de
perder o emprego, medo de ficar fora da sociedade, de ser excluído do grupo social a que se
pertence, medo de não ser capaz de cumprir o que se promete. E esta situação é ainda mais
perigosa porque “o medo herda-se”, por isso, esta sensação que está a atravessar a sociedade
portuguesa pode passar de pais para filhos.

Clara Pinto Correia já nos tinha alertado que “é nítido que os resistentes estão a ficar
perigosamente cansados. E este cansaço requer preocupações acrescidas, porque antes da
padronização de um determinado esforço nunca se sabe ao certo quais são os nossos limites
orgânicos para a manutenção de um tipo de resistência a que ainda não estamos habituados”.
1
E neste contexto está-se igualmente a assistir a uma falta de liderança com a necessária
coragem e capacidade de resposta para ultrapassar situações difíceis. Como sempre, são as
pessoas que fazem a diferença, através das suas capacidades, das suas competências e dos
seus contactos, mas no país em que estamos a viver as capacidades de liderança ou estão
escondidas ou, pura e simplesmente não existem.

Em Montemor, tal como no resto do país, estamos a assistir a uma certa falta de liderança nas
diversas áreas da sociedade. Se questionarmos quem é o principal responsável pela cultura em
Montemor será que as respostas são consistentes. Quando olhamos para as questões de
ordem económica, e se discute quais são as empresas de referência, aquelas onde gostaríamos
mesmo de trabalhar, existe alguma resposta dada com entusiasmo? E nas questões políticas,
que são aquelas que marcam o ritmo da mudança, onde estão os líderes que o concelho
necessita para sair da situação onde actualmente se encontra e poder chegar um patamar
mais elevado de desenvolvimento? O líder tem de ter a visão certa do que pretende e de como
quer lá chegar. A visão “proporciona a “centelha” essencial que faz a diferença entre as
pessoas que simplesmente cumprem a rotina e as que estão realmente a tentar alcançar
alguma coisa. A visão é algo que nos transporta” 1.

Os partidos políticos mais influentes em Montemor estão claramente à procura de líderes para
a próxima década, face ao terminar de ciclo que a saída de Carlos Pinto de Sá vai obrigar no
final deste mandato autárquico. Contudo, a forma como cada um está a gerir esta situação é
bastante diferente. Para o PCP está cada vez mais clara a aposta na continuidade através de
Hortênsia Menino. Para o PSD, Sónia Ferro está a ganhar capital político fora do concelho para
lhe poder dar vantagem internamente. Para o PS a indefinição está a ser um problema, com os
actuais vereadores Vicente Roque e Rogério Pinto fora dos planos para o futuro, pelo que
Abreu Bastos e Capoulas Santos terão de definir rapidamente quem deverá ser o líder para o
concelho.

Mas será que são mesmo estes os líderes políticos montemorenses que o concelho necessita
na próxima década, onde o desafio de desenvolver Montemor vai ser cada vez maior , ou estes
protagonistas são apenas a face visível de uma sociedade com medo? Vamos esperar para ver.

A.M. Santos Nabo

Novembro 2010

1
BARNES, John A. ‘A Liderança Segundo John F. Kennedy’, Alfragide, 2008, Casa das Letras

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