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Maria Aparecida Lopes Vasconcelos Barbosa

OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA MONOCULTURA


DA CANA-DE-AÇÚCAR NO MUNICÍPIO DE AMERICANO DO
BRASIL

Orientador: Jaqueline Silva Alves

Faculdade de Educação e Ciências Humanas de Anicuns


Anicuns/Goiás
Março/2006
2

Maria Aparecida Lopes Vasconcelos Barbosa

OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA MONOCULTURA


DA CANA-DE-AÇÚCAR NO MUNICÍPIO DE AMERICANO DO
BRASIL

Monografia apresentada ao curso de Geografia


Parcelada, como requisito para a obtenção do título de
licenciatura, pela Faculdade de Educação e Ciências
Humanas de Anicuns – FECHA.

Orientador: Jaqueline Silva Alves

Anicuns/Goiás
Março/2006
3

Maria Aparecida Lopes Vasconcelos Barbosa

OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA MONOCULTURA


DA CANA-DE-AÇÚCAR NO MUNICÍPIO DE AMERICANO DO
BRASIL

Monografia apresentada ao curso de Geografia


Parcelada, como requisito para a obtenção do título de
licenciatura, pela Faculdade de Educação e Ciências
Humanas de Anicuns – FECHA.

Data da Aprovação ___/___/___

Orientador: Jaqueline Silva Alves

_______________________________________________________

Examinadores:

_______________________________________________________

_______________________________________________________
4

“Tempo é aquilo que o homem está tentando


matar, mas que no fim acaba matando-o”.

(Herbert Spencer)
5

Por medo de ser injusta, agradeço a todos meus


colegas, amigos e professores que colaboraram
nessa minha jornada que está findando.
6

À minha Família
7

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Agradeço à professora Jackeline Silva Alves pela orientação prestada, pela


paciência e pelo apoio incondicional nos momentos de dificuldades; estas
palavras foram os meios pelos quais pude descrever a gratidão, carinho e
respeito.
8

LISTA DE SIGLAS

1 – Proálcool – Programa Nacional do Álcool

3 – Planalsucar – Programa Nacional de Melhoramento da cana-de-


açúcar
9

LISTA DE FIGURAS

1 – Nascente do Rio Uru......................................................................... 00


2 – Área em que predomina o cultivo da cana-de-açúcar....................... 00
3 – Processo de erosão, provocado pelo empobrecimento do solo e pelo
desmatamento....................................................................................................... 00
4 – Lavoura de cana plantada nas imediações do reservatório de água da
cidade.................................................................................................................... 00
10

RESUMO

Na elaboração da presente monografia, busquei conhecer a origem da cana-de-


açúcar, por ser a matéria prima da empresa Anicuns S/A, no mundo e
posteriormente no Brasil. Colhi informações sobre a fundação da empresa em 05
de janeiro de 1981, seu modo operacional, sua evolução, o aumento dos
fornecedores, a situação de seus empregados e também a produção. No campo,
foi obtido um levantamento onde constatou-se o choque ambiental, causando
graves danos ao potencial hídrico, ao cerrado e de poluição visível principalmente
no ar por causa das queimadas e outros fins. Sobre o cerrado verificamos que por
ser o terreno ideal, uma vez que atendendo todas as exigências impostas para o
seu uso como a limpeza do terreno, é percebido que todas as árvores e
vegetação rasteira são destruídas pelas grades aradoras, provocando a escassez
de água nos mananciais e assim comprometerá impiedosamente o futuro de
animais existentes e a vegetação nativa, podendo alcançar futuramente sua
extinção total. Constatei ainda que, a empresa, apesar de ser a maior geradora de
emprego desta região, os quais em sua maioria, são temporários, é responsável
pela ociosidade de inúmeros trabalhadores no período de entressafra. Entretanto,
a empresa trás benefícios à população, principalmente na questão do emprego.

Palavras chaves: Origem da cana-de-açúcar, fundação da empresa, o choque


ambiental, benefícios econômicos.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................12
1 – CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAR ................................................................14
1.1 – A Produção da cana-de-açúcar e a formação econômica brasileira .......14
1.1.1 – A cana-de-açúcar na microrregião de Anicuns .............................16
2 – A INSTALAÇÃO DO COMPLEXO SULCROALCOREIRO NA
MICRORREGIÃO DE ANICUSN E AS TRANSFORMAÇÕES DECORRENTES
DESTE PROCESSO EM AMERICANO DO BRASIL/GO..................................18
2.1 – A expansão da monocultura canavieira no município e no estado .......19
2.2 – Outras peculiaridades da destilaria .......................................................20
3 – O CHOQUE AMBIENTAL............................................................................23
3.1 - A destruição do potencial hídrico ..........................................................23
3.2 – Comprometimento do cerrado ..............................................................24
3.3 – A poluição .............................................................................................25
CONCLUSÃO .......................................................................................................27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................29
12

INTRODUÇÃO
Vivemos num período marcado por preocupações ambientais, que derivam
das transformações que o ser humano tem provocado no meio ambiente; onde os
de tais transformações podem ser observados através das alterações ambientais
em todo o planeta.

É sabido que muitas das mudanças ocorridas na configuração da paisagem


de Americano do Brasil decorrem de práticas ‘despreocupadas’ do ser humano no
trato com os elementos que compõem o meio em que vive.

Devido às dificuldades econômicas encontradas por muitos dos pequenos


produtores da região em fazer produzir as suas terras, o arrendamento das
propriedades para a usina que beneficia esta matéria-prima, apresentou-se como
uma alternativa bastante viável, permitindo assim, que aumentasse de maneira
vultuosa o cultivo dessa doce gramínea em extensas áreas, causando impactos
sócio-ambientais expressivos.

Diante do exposto, o presente trabalho tratará basicamente sobre o


desenvolvimento da monocultura canavieira na região de Americano do Brasil,
ressaltando aquelas modificações que tal cultivo trouxe para a região em termos
de modificações ambientais.

Até a década de 1970, ou meados deste, a econômica da região era


baseada praticamente no desenvolvimento da agricultura (policultura) e pecuária.
Porém, a partir da década de 1980, em função da crise mundial do petróleo
ocorrida em anos anteriores, causada pela Guerra entre Irã e Iraque, o Governo
Federal Brasileiro, tendo como perspectiva amenizar os efeitos desta crise no
Brasil, criou o Proalcool, um programa de incentivo ao cultivo da cana-de-açúcar
para e produção de álcool.

Nesse sentido, o álcool, surgiu como uma alternativa de combustível em


meio ao cenário de crise.

Desde a instalação da Usina de Álcool, na região em estudo, verificou-se a


necessidade de ampliar a área para cultivo da cana-de-açúcar, matéria-prima
básica para a produção do álcool. A alternativa encontrada pela empresa foi
arrendar ou comprar terras na região, iniciando assim, o ciclo da monocultura
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canavieira, que perdura até os dias atuais encontrando-se em franca expansão,


tanto no que tange à áreas plantadas, como o aumento na produção, as
crescentes demandas tanto do álcool como do açúcar, e também como alternativa
de geração de renda para o pequeno proprietário rural, geradora de empregos
diretos e indiretos, dentre outros.

Como em qualquer outra cultura intensiva, decorre da homogeneização do


ambiente, problemas ambientais, como a contaminação do solo e dos veios
d’água, a degradação ambiental em função do desmatamento, a poluição do ar
causada pela queima da cana anteriormente ao corte e muitos outros que,
juntamente com estes, precisam ser analisados cuidadosamente.

Por ser uma planta de crescimento rápido, esta acaba exigindo muito do
solo, causando o empobrecimento deste. Uma outra questão que pode também
ser mencionada é a utilização intensiva do sistema de irrigação, o que provoca
uma relativa pressão sobre os recursos hídricos locais, provocando em algumas
situações degradação das nascentes e diminuição do volume d’água.

Além das situações mencionadas, deve-se levar em conta também, a


questão do uso de agrotóxicos para o cultivo; o que consequentemente exige um
manejo extremamente monitorado para não provocar prejuízos para o solo, e
poluição das águas à medida em que resíduos destes agrotóxicos sejam
carreados para dentro dos cursos d’água.

Assim, buscaremos diagnosticar os impactos ambientais causados pela


monocultura canavieira, bem como indicar algumas medidas que poderiam
reduzir os danos causados por esse tipo de cultura.
14

1 – CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAR

1.1 – A Produção da cana-de-açúcar e a formação econômica


brasileira

Poucas informações sistematizadas são encontradas na literatura


cientifica a respeito do cultivo e disseminação da cana-de-açúcar pelo mundo.
É provável que depois de ser introduzida como planta de jardim e ser
mascada, a cerca de 8.000 anos atrás, a cana tenha tido transferida aos poucos
de uma ilha para no Pacifico Sul e daí, durante pelo menos 3.000 anos para a
Península Malaia a Indochina. Sabe que, tanto na produção como na
comercialização sua expansão marcou vários séculos mundo a fora.

Só em 1.520, a cana-de-açúcar alcançou o México e chegou ao Brasil.


Trazida do Oriente e adaptada, primeiramente às regiões mediterrâneas,
a cana-de-açúcar foi implantada no período da colonização na costa Nordestina
do Brasil, principalmente nos Estados do Pernambuco e da Bahia.

A formação econômica foi consolidada no século XVI, através do cultivo


de cana-de-açúcar, que na época tinha valor expressivo no mercado europeu. O
cultivo da cana-de-açúcar, iniciou-se na faixa litorânea nordestina, onde se
processaram também os primeiros povoados, que além da cultura da cana-de-
açúcar, resguardavam a posse dessas terras.

– E como clima tropical do Brasil é do tipo ideal para esse cultivo e diante
do aumento da produção, tornou-se necessário a construção de estradas e
cidades portuárias para facilitar o escoamento do produto para o consumo externo
europeu. Pode-se dizer que a cana-de-açúcar deu sustentação ao processo de
colonização, tendo sido um das razoes de sua prosperidade nos dois primeiros
séculos (XVI e XVII).
15

A produção da cana-de-açúcar provocou uma reorganização do território


brasileiro. O auto preço do açúcar no mercado europeu propiciava a reprodução
do capital, fator que favoreceu a modernização do processo produtivo.
Em algumas regiões do Brasil, a cultura da cana-de-açúcar não foi tão
bem sucedida. Pos encontrava-se isoladas, o acesso era bastante laborioso.
Sabe-se que algumas regiões destacava-se apenas na produção de cachaça e
rapadura. Outras atividades como a agricultura de subsistência e a criação de
gado eram praticadas, porém não tinham valores tão significativos na economia
representando pouca importância comercial.

Com a concorrência do açúcar da beterraba, produzido na própria


Europa, a situação do mercado produtor brasileiro passou por grandes período de
crise.
Devido à produção vagarosa do açúcar, gerada pelo descumprimento
dos fornecedores na entrega da cana os engenhos centrais foram substituídos
através de financiamentos concedidos pelo governo imperial por meio de
concessão de exploração, e estes engenhos deveriam produzir açúcar de melhor
qualidade. (Andrade, 1994, pág. 19)

Surge então um período usineiro que passa a contar com infra-estrutura


(estradas) e também expansão da área cultivada, possibilitando cada vez mais o
aumento da produção.
Após 1930 expande-se as áreas dos canaviais em áreas antes cultivadas
com o café. Fato que levou o governo a intervir, limitando a produção, passando
também a proibir a instalação de novas fábricas.
Esse crescimento foi detido só por alguns anos, com a Segunda Guerra
Mundial (1939 – 1945), há uma desorganização do açúcar tornando difícil a
circulação do produto pelo território nacional através da navegação costeira. Com
isso, o governo passa a ser mais flexível para a instalação de novas usinas e
destilarias.
Diante desse contexto, o governo brasileiro passa a ser mais liberal no
que diz respeito a instalação de novas usinas e, sobretudo, com o
desenvolvimento de programas com o Planalsucar (Programa Nacional de
Melhoramento da cana-de-açúcar ) e o Proálcool (Programa Nacional do Álcool).
16

Essa atitude do governo contribuiu para que regiões como o centro-sul, se


beneficiasse, já que era uma área que contava com maior povoamento e também
um nível de renda maior. Isso levou São Paulo, em 1950, a despontar como o
maior produtor nacional.

Diante desse contexto, o governo brasileiro passa a ser mais liberal no


que diz respeito a instalação de novas usinas, e sobretudo, com o
desenvolvimento de programas como o: Planalsucar (Programa Nacional de
Melhoramento da cana-de-açúcar ) e o Proálcool (Programa Nacional do Álcool).

Estes programas, além de estimularem a expansão canavieira,


usinavam também competir com o mercado internacional e desenvolver uma
alternativa biológica para fazer baixar a importação do petróleo, e com estes
programas, esta atividade produtiva foi implantada de forma expressiva nos
Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Maranhão.

1.1.1 – A cana-de-açúcar na microrregião de Anicuns

Como é sabido, a ocupação e povoamento da região central do Brasil


ocorreu em função da busca por minerais como o ouro e pedras preciosas, sendo
os bandeirantes paulistas os principais responsáveis por este processo.
Anhanguera foi o primeiro bandeirante que veio explorar economicamente as
terras goianas, encontrando ouro na cabeceira do Rio Vermelho.

As origens de Anicuns, remontam ao ciclo do ouro no território goiano, tendo


sido descoberto ouro em suas terras por volta de 1809.

Com a instalação de um posto de jesuítas, este passou a ser ponto de


pouso e descanso de tropeiros e animais que iam da província de Minas Gerais
para a cidade de Goiás. A riqueza do solo, a boa fertilidade e a extração do ouro
começaram a atrair cada vez mais aventureiros e garimpeiros para esta região.

Com o declínio da atividade mineratória, a coroa portuguesa encontrou


como alternativa econômica, a pecuária e a agricultura, que até então, eram de
subsistência. (CHAUL apud OLIVEIRA, 2003, p. 8),
17

“ao longo do século XIX manteve-se como atividade de


subsistência principalmente por falta de mercado. A produção
estava organizada especificamente, em regime de economia
excedente. Implantada nas zonas de terras da mata com utilização
de técnicas e métodos de cultivo predatórios, a agricultura exauria
o solo em pouco tempo, tornando-se atividade economicamente
itinerante este subsetor da economia agrária permaneceu, ate o
início deste século como atividade complementar e subsidiária da
pecuária. O excedente agrícola, quando havia, era colocado no
restrito local”.

A atividade agrícola nesta região surgiu para abastecer os mineradores, no


que tange aos gêneros de primeira necessidade, e o básico para o consumo dos
próprios agricultores.

O município de Americano do Brasil, inserido na denominada microrregião


de Anicuns, possui uma de 134 km², localizando-se a 98 km à Oeste de Goiânia,
mais especificamente entre as coordenadas de 16°25’472” de latitude sul e
longitude oeste de 49°98’278”, a uma altitude de 920 metros.

A maior parte das terras do município está localizada no planalto espigão


divisor de águas. Na porção oeste e sudoeste do município, o relevo é acidentado
com terras de alta fertilidade.

Uma das características do meio físico que chama especial atenção na


região é a ocorrência de inúmeras nascentes pertencentes a importantes bacias
hidrográficas, como a do Rio Paranaíba. – nascem os rios Turvo e Rio dos Bois e
do Rio Araguaia (com rios como o Fartura, Uru e Tocantins). Outro fato importante
e talvez único no Brasil é que estas nascentes geralmente situam-se à 200 metros
uma da outra, sempre pelo espigão divisor de águas.

Figura 1: Nascente do Rio Uru


Autor: BARBOSA, Maria Aparecida Lopes Vasconcelos. Dez./2005.
18

A base econômica do município é centrada no setor agropecuário,


destacando-se atualmente, a pecuária de leite e a produção de cana-de-açúcar,
que conforme dados obtidos em 2001, ocupava cerca de 37% da extensão
territorial do município, mas que, numa previsão superficial, hoje ocupa mais de
50% das terras agricultáveis do município. Atualmente está sendo implantado no
município uma empresa mineradora que desenvolverá a extração dos minérios
cobre e níquel.

O município de Americano do Brasil conta hoje, com cerca de 5.138


habitantes, computados os moradores em zona rural e urbana, ocupando ao todo,
uma área de 131,5 km². Fonte (IBEG).

2 – A INSTALAÇÃO DO COMPLEXO SULCROALCOREIRO NA


MICRORREGIÃO DE ANICUSN E AS TRANSFORMAÇÕES
DECORRENTES DESTE PROCESSO EM AMERICANO DO
BRASIL/GO

A Destilaria Anicuns S/A, foi fundada em 05 de janeiro de 1981, pela


Senhora Brasilice de Souza Parrode, com a finalidade de produzir álcool, através
do beneficiamento da cana-de-açúcar.

Sua implantação ocorreu, paralelamente ao contexto histórico nacional e


estadual, tudo com fomentos do governo do general Ernesto Geisel.

Tal empresa ainda é popularmente conhecida pelo nome de Proálcool (grifo


meu), devido ao nome do programa governamental que fora lançado no mesmo
período em que a empresa fora fundada.

O investimento inicial foi muito alto, uma vez que a empresa, através de
seus administradores, optou pela compra das máquinas, caminhões movidos a
álcool e outros veículos, bem como toda a estrutura, nada sendo então,
terceirizado.

Os trabalhadores do campo, compostos por homens e mulheres,


denominados de “bóias-fria”, eram transportados em caminhões, sem nenhuma
19

segurança, não possuindo equipamentos adequados de proteção, sendo que


muitos não tinham sequer registro em carteira de trabalho.

As dependências da empresa deixavam muito a desejar, pois não havia até


então um projeto funcional, que privilegiasse as questões atinentes à geração dos
resíduos da cana-de-açúcar. Naquele momento, inclusive a vinhaça era lançada a
céu aberto, causando um grande mau cheiro nas proximidades.

A partir do quarto ano de funcionamento, a empresa começou a perceber


que o projeto inicial continha grandes deficiências, uma vez que os produtores se
mostravam desanimados com o retorno obtido nas lavouras. (SOUTO, et al. 2002,
p. 24).

Nesse sentido, encontravam-se desestimulados a ampliar os canaviais.


Assim, a empresa passou a ter dificuldades em manter sua frota de maquinários e
os caminhões movidos a álcool não estavam correspondendo às expectativas.

Isto causou estagnação na empresa, que passou operar com dificuldades,


propiciando que o empreendimento fosse vendido para um grupo nordestino, com
tradição neste ramo empresarial, o qual ampliou o negócio e fez grandes
modificações no projeto de trabalho e na própria estrutura da empresa, bem como
na maneira de negociar com arrendatários de terras.

2.1 – A expansão da monocultura canavieira no município e no estado

Proprietários de imóveis rurais da região, com a perspectiva de um ganho


maior e mais fácil, passaram a arrendar suas terras para a Usina de Álcool.
Diante deste contexto, todo o processo produtivo é controlado pela empresa, a
qual cuida de todo o processo de manejo do solo, cultivo e colheita da cana,
fazendo com os arrendatários deixassem de cultivar por conta própria.

Segundo informações obtidas junto a arrendatários de terras como os Srs.


Orlando Francisco de Carvalho e Domingos Ferreira, o contrato de arrendamento
feito entre a Usina e os proprietários de terras geralmente têm duração média de
cinco a oito anos, sendo pago mensalmente em dinheiro, conforme a quantidade
hectares arrendados.
20

As condições de trabalho dadas aos trabalhadores, experimentou grandes


melhorias, pois todos passaram a ter registro em carteira, fundaram o sindicato
para a categoria; melhorias nas condições de transportes, os quais passara a ser
transportados para o campo em ônibus, proporcionando aos mesmos melhores
condições de trabalho.

Na atualidade, a empresa tem um funcionamento prático, organizado em


departamentos e setores, acompanhamento rigoroso em todos os locais de
atuação e uma estrutura que possibilita o departamento financeiro cumprir todos
os compromissos em dia.

Com a prática de arrendamento, os proprietários de imóveis rurais passaram


a obter lucratividade com o negócio, aumentando assim o interesse em arrendar
suas propriedades para a empresa. Em 1999, a Anicuns S.A. Álcool e Derivados
possuía uma área cultivada de aproximadamente 4.000 hectares.

No ano de 2000, a empresa passou a produzir, alem do álcool combustível,


também o açúcar e, para tanto, necessitou aumentar a área cultivada, o que não
representou um problema já que o negocio de arrendar terras para cultivo de
cana-de-açúcar é lucrativo para o proprietário das mesmas, conseguindo a
empresa aumentar em mais de 100% a área cultivada, somando na atualidade
mais de 19.000 hectares.

2.2 – Outras peculiaridades da destilaria

De acordo com informações do gerente industrial dessa usina, Rivaldo


Teixeira dos Santos, o quadro da empresa é composto por funcionários
permanentes e temporários, sendo permanentes os responsáveis pela
administração e temporários os trabalhadores do campo, que atuam somente no
período da sabra, alem dos serviços terceirizados.

Dentre os denominados trabalhadores permanentes, estão os diretores,


chefes de departamento, encarregados, fiscais de campo, auxiliares de
escritórios, vigias, etc.
21

No grupo dos trabalhadores temporários encontram-se os indivíduos que


lidam com o corte da cana, na irrigação, no plantio e aplicação de herbicidas, bem
como os responsáveis por carga e descarga de sacas de açúcar.

Os cortadores de cana trabalham no período da safra que se inicia no final do


período chuvoso, geralmente, no mês de abril, estendendo-se até o final do corte
da lavoura. Esses trabalhadores reúnem-se em pontos estratégicos da cidade,
por volta das cinco horas da manhã, onde são apanhados por ônibus que fazem o
transporte desses trabalhadores para o campo, cujo e o retorno geralmente de dá
por volta de 5 horas da tarde, não havendo atividades aos domingos, mas
trabalham aos sábados até por volta de duas horas da tarde.

O corte de cana chega a empregar cerca de um mil e duzentos


trabalhadores todos os anos.

A irrigação é feita nas áreas em que já foi feito o corte da cana, por meio de
motores instalados em represas, geralmente feitas no leito dos rios, ficando os
trabalhadores encarregados de substituir a direção dos canos espalhados na
lavoura, sempre que for necessário trocar a tubulação de lugar. A água é lançada
por canhões que cobrem uma área de aproximadamente 1.000 m², sendo esse
serviço feito durante todo o dia ininterruptamente. Os trabalhadores que fazem
esse serviço trocam de turno de atividade semanalmente, realizando a remoção
da tubulação da irrigação durante todo o período de estiagem.

Os plantadores realizam suas atividades, geralmente, no período chuvoso,


momento em que fazem o replantio das lavouras e o cultivo de novas terras. O
replantio acontece, em média, entre a cada cinco ou oito anos, dependendo da
espécie de cana cultivada.

A empresa já possui em partes de suas lavouras, uma espécie de cana que


deve ser replantada somente após 10 anos. Aos plantadores são oferecidos os
mesmos meios de transporte dos demais trabalhadores e a atividade é realizada
somente durante o dia.

O controle de pragas da lavoura de cana é feito parte manual, parte


mecanizada. Ou seja, há ainda a aplicação de herbicidas através de bombas
costais, transportadas por trabalhadores que desenvolvem essa atividade,
considerada uma das mais perigosas da lavoura. É feito somente durante o dia,
22

em áreas onde não é possível utilizar tratores, ou em áreas onde a cana esta
mais crescida, o que torna inviável a locomoção dos tratores em seu meio, já que
correria o risco de danificar a lavoura.

Esses trabalhadores recebem salário fixo e o prazo de duração do contrato


de trabalho geralmente é de seis meses a um ano.

A empresa também emprega pessoal no processo de carga e descarga do


açúcar produzido pela empresa. Geralmente esses trabalhadores são
responsáveis pela descarga das sacas de açúcar em armazéns destinados a
estocagem e também pela carga de caminhões responsáveis pelo transporte do
açúcar para fora das dependências da indústria ou dos armazéns, quando
vendido.

Vários serviços da empresa são terceirizados, com isso, fica então


dispensada de fazer grandes investimentos em departamentos como de
transporte e de maquinários.

A empresa contrata tratores para o lançamento de herbicidas, inseticidas,


aração, nivelação, sulcagem da terra, curvas de nível e adaptados para colocar a
cana no caminhão do transporte do campo para a usina.

Os serviços realizados por tais máquinas são pagos em hora ou por área,
de acordo com cada atividade. Geralmente, os operadores são os próprios donos
das máquinas ou funcionários por eles pagos.

Outra atividade da empresa que é terceirizada é o transporte do pessoal que


trabalha na indústria e no cultivo e corte da cana.

O mesmo acontece com o transporte da cana do campo até a usina, que é


feito com o uso de caminhões adaptados para tal atividade, geralmente com
reboques, que são grandes carretas acopladas na traseira do caminhão.

Em termos de produção, a usina, até o ano de 1999, produzia apenas


álcool. O açúcar só passou a ser produzido em 2000, atingindo nesse primeiro
ano, a marca de 200.000 (duzentas mil) sacas, chegando nessa ultima safra o
incrível número de 1.000.000 (um milhão) de sacas.
23

3 – O CHOQUE AMBIENTAL

3.1 - A destruição do potencial hídrico

O corte da cana-de-açúcar inicia-se no mês de abril, que coincide com o


final do período chuvoso e, como a renovação da lavoura origina-se da brota, está
só acontece com a ajuda de irrigação do solo.

Essa pratica é feita usando o potencial hídrico da região, o qual é formado


por pequenos cursos d’água, uma vez que, como já mencionado anteriormente,
estamos situados em uma região composta somente por nascentes que são: Rio
Turvo, Rio Uru e Rio dos Bois, sendo este ultimo, um afluente do Rio Paranaíba.

Para a irrigação, é usado o sistema de jateamento de água, com o auxilio de


motores potentes, movidos à óleo diesel e que são colocados às margens dos
rios, levando a água até o campo através de tubulações móveis instaladas para
esse fim.

Como é sabido, no período da estiagem o volume de água dos rios sofre


uma diminuição natural e, com o processo de irrigação adotado pela usina no
cultivo da cana, reduz-se em muito o potencial hídrico desses cursos de água e,
conseqüentemente provocando a secagem da orla dos rios que dão origem aos
brejos, dizimando com inúmeras pequenas nascentes ao longo desses rios.

Como a água é lançada na irrigação, é absorvida em sua totalidade pelo


solo, não retornando para os rios. E, para agravar mais ainda o problema, é
notado o desmatamento das matas ciliares, causando freqüentes erosões nas
margens dos rios, bem como seu assoreamento.

Todo esse conjunto de anormalidades torna cada vez mais difícil a


recuperação do fluxo normal das águas.

Todos os anos, esse processo de irrigação se repete e, com a expansão da


área cultivada, o problema vem se agravando, ameaçando cada vez mais, o
potencial hídrico da região.
24

3.2 – Comprometimento do cerrado

Para arrendar uma área de terras, a empresa verifica vários fatores tais
como topografia do terreno, ou seja, ele deve dar condições à mecanização da
lavoura, possibilidade de água e facilidade de retirada da cana-de-açúcar, bem
como a distância da usina.

O terreno ideal, que atende às exigências, geralmente é encontrado no


cerrado, que predomina na maior parte desta região. E isto está provocando a
total eliminação desse importante ecossistema, uma vez que, ao arrendar uma
área, o primeiro passo dado pela empresa é fazer a limpeza do terreno, sendo
que todas as arvores são arrancadas com o auxilio de máquinas de esteira e a
vegetação rasteira é destruída pelas potentes grades aradoras.

Figura 2: Área em que predomina o cultivo de cana-de-açúcar.


Autor: BARBOSA, Maria Aparecida Lopes Vasconcelos. Dez./2005.

Esse processo muda por completo a paisagem natural da região, já que o


cerrado está sendo substituído pela lavoura de cana-de-açúcar e, mesmo que um
dia essa cultura deixe de existir, a possibilidade de recuperação da vegetação
nativa é nula.

Vemos ainda, a questão do avanço do processo de erosão do solo,


empobrecido pelo cultivo extensivo da cana-de-açúcar. O solo empobrece e perde
25

a rigidez, tornando-se comum o surgimento de valas que se expandem, não


podendo ser contidas, mesmo com a implantação de sistema de curvas de nível.

Figura 3: Processo de erosão, provocado pelo empobrecimento do solo e pelo


desmatamento. (Foto tirada na estrada que liga Americano do Brasil ao povoado de
Boa Vista, Município de Anicuns)
Autor: BARBOSA, Maria Aparecida Lopes Vasconcelos. Dez./2005.

3.3 – A poluição

Como se trata de uma cultura onde é muito utilizado produtos químicos no


cultivo, a poluição do solo e das águas é inevitável.

Geralmente é usado agrotóxicos desde o processo de preparação do solo,


como produtos para inibir o nascimento de pragas e eliminar insetos.

Depois que as plantas nascem, novamente é aplicado herbicidas que


inevitavelmente chegam ao leito dos rios, provocando a poluição de todo o meio
ambiente, quer seja ar, água ou solo.

Esse uso excessivo de agrotóxicos para controle de pragas acaba


contaminado o solo e, por conseguinte, alcançando os veios de água do subsolo,
comprometendo todo um ciclo de águas e, por conseguinte, contaminando
também todo o ecossistema que depende dessa água para sobreviver.
26

E, por fim, é feita a queima antes da colheita, processo que lança uma
grande quantidade de cinzas sobre as cidades próximas ás lavouras como
Americano do Brasil, Anicuns, Adelândia e Avelinópolis.

Figura 4: Lavoura de cana plantada nas imediações do reservatório de água da


cidade, já em perímetro urbano.
Autor: BARBOSA, Maria Aparecida Lopes Vasconcelos. Dez./2005.

Como é percebido, o cultivo da cana-de-açúcar no município de Americano


do Brasil, está inserida até em locais considerados proibidos pelo Ministério da
Saúde. Uma vez que, durante todo o tratamento dessa gramínea, é lançado sobre
a plantação de cana, agrotóxicos de alta periculosidade para a saúde humana. E
sem nenhuma preocupação, resíduos para destes poluentes atingem o
reservatório de água potável da cidade.
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CONCLUSÃO

Como vimos anteriormente, a implantação de uma espécie de cultura


em larga escala é capaz de transformar sobremaneira o meio ambiente. É o que
vem acontecendo na região.

Houve uma grande transformação tanto econômica como social e


ambiental na região, fazendo com que o cenário aqui existente se modificasse.

Como era uma região marcada pela grande presença de fortes e


constantes chuvas, houve uma diminuição considerável do índice pluvial, devido
ao desmatamento de matas nativas provocado pelo cultivo de cana-de-açúcar.

Podemos perceber que qualquer monocultura extensiva pode mudar de


maneira significativa a região, mas é possível reduzir esses impactos se forem
adotadas técnicas de desenvolvimento sustentável, com a preservação do meio,
reflorestamento de margens de rios, entre outras medidas.

Além do mais, muito pouco pode se fazer para reduzir a poluição do


solo por agrotóxicos, já que cada vez mais, o controle de pragas das lavouras é
feito por meio desses produtos.

No entanto, para reduzir os impactos ambientais causados pela lavoura


de cana-de-açúcar, os donos de usinas, em parceria com a sociedade em geral e
órgãos competentes, podem adotar medidas como reflorestamento de margens
de rios, criação de reservas biológicas em áreas consideradas inadequadas para
cultivo de cana-de-açúcar e rotação de cultura, o que seria o indicado para se
evitar o empobrecimento do solo, como tem acontecido muito na região.

Em resumo, a sociedade deve se atentar mais para o que vem


acontecendo à sua volta, de modo a tomar iniciativas no tocante à implementação
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das medidas acima mencionadas. Somente assim será possível reduzir os


impactos causados pelo cultivo extensivo da cana-de-açúcar.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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nova ordem mundial. São Paulo, 2002, Ed. HICITEC, Págs. 111-145.

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9. OLIVEIRA, Cláudia Aparecida do Nascimento. A formação territorial de


Goiás e a expansão canavieira no município de Anicuns. Monografia
apresentada à Faculdade de Educação e Ciências Humanas de Anicuns
(Bacharelado em Geografia). 2005.

10. SOUTO, I. C. OLIVEIRA, L. C. MENDES, W. Os impactos ambientais


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Anicuns-GO. (Monografia apresentada à Universidade Estadual de Goiás, no


curso de Gestão Pública) Anicuns, 2003.

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