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INTRODUÇÃO
resultando em mudanças na composição e
Grandes extensões territoriais de florestas
diversificação das comunidades que nela
sofreram transformações significativas,
habitam. Isto acaba por isolar e reduzir as áreas
especialmente no último século. O Bioma
que são propícias à sobrevivência das
Atlântico brasileiro, que envolve a Floresta
populações, causando extinções locais e
Ombrófila Densa, a Floresta Ombrófila Mista e a
reduzindo a variabilidade genética das mesmas,
Floresta Estacional Semidecidual, além de
conseqüentemente, levando a perda de
ecossistemas associados, originalmente cobria o
biodiversidade (METZGER, 1999).
território brasileiro com cerca de 100 milhões de
A expansão da fronteira agrícola foi o
hectares de extensão. Atualmente restam apenas
principal fator de fragmentação florestal no
5% de suas florestas primárias, caracterizando-se
Brasil. Consorciada com o crescimento
como a mais fadada ao desaparecimento, dentre
populacional dos grandes centros urbanos, que
as Florestas Tropicais do mundo. (REIS, et al.,
ocorreu de forma demasiadamente desordenada,
1999)
tem-se um quadro caótico de destruição em
Esta pequena porção da floresta original se
massa da vegetação nativa, causando danos
encontra na forma de pequenos fragmentos, que
irreparáveis não somente a biodiversidade animal
tem despertado grande interesse para programas
e vegetal, mas também ao ser humano, pois a
de repovoamento vegetal em áreas degradadas
manutenção e o equilíbrio de um ecossistema
(NREAMP, 2000).
saudável resulta em qualidade de vida para todos
A fragmentação é, na grande maioria das
os organismos vivos presentes sobre a Terra.
vezes, um processo antrópico de ruptura da
continuidade das unidades de uma paisagem,
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Bióloga, UFPR, Departamento pós-graduação em Engenharia Florestal. E-mail: elisangelaronconi@terra.com.br
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Engenheiro Florestal, IPE – Instituto de Pesquisas Ecológicas. E-mail: vicente@ipe.org.br
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Doutor em Ciências Florestais, UFPR, Departamento pós-graduação em Engenharia Florestal. E-mail:
nogueira@floresta.ufpr.br
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Cad. biodivers. v. 4, n. 2,dez. 2004
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Os agricultores são capacitados através de O IPE também fornece todo o material para
cursos ministrados pela equipe técnica do IPE – a instalação e manutenção dos viveiros. Em
Instituto de Pesquisas Ecológicas - a tratarem contrapartida, os agricultores são responsáveis
adequadamente a dormência das sementes que pela mão-de-obra necessária para todo o processo
requerem este tratamento e a conduzirem a de produção das mudas.
semeadura de modo a maximizar o processo.
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famílias presentes nos assentamentos vizinhos ao Assim, conclui-se que os viveiros florestais
Parque (PEMD) destinam uma faixa para plantios comunitários constituem uma importante
consorciados com espécies florestais nativas e ferramenta nos planos de recuperação ambiental
exóticas na interface entre fragmento e matriz, do Pontal, contribuindo para a redução de
reduzindo assim, os efeitos de borda que atingem impacto nos fragmentos florestais presentes nos
os fragmentos (CULLEN JR. et al.,2003). assentamentos rurais. Também seu caráter sócio-
Em relação aos corredores ecológicos, econômico se torna fundamental, pois o aumento
METZGER (1999) os define como sendo da geração de renda familiar, conciliado ao
estruturas lineares na paisagem que diferem das conforto ambiental, resulta em maior qualidade
unidades vizinhas e que ligam, pelo menos, dois de vida para estas famílias assentadas, fazendo da
fragmentos que anteriormente eram unidos. reforma agrária no Pontal não somente uma
Em uma paisagem fragmentada como a do história de lutas e conflitos, mas também uma
Pontal, esses corredores são de fundamental história de consciência e conservação ambiental.
importância para reduzir o isolamento das
espécies e até recolonizar fragmentos recipientes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(VALLADARES-PÁDUA et al., 1997).
Dentre os módulos agroflorestais
implantados no Pontal com a utilização das BALIEIRO, F.C.; et al. “Formação de mudas de
Acácia holosericea e Acácia auriculiformis:
mudas provenientes dos viveiros comunitários, resposta a calagem, fósforo, potássio e
pode-se citar o Projeto Café com Floresta e o enxofre” Revista Árvore, Viçosa, vol. 2, n.
projeto Recuperação de Áreas de Reserva Legal. 25, p.183-191, 2001.
Assim, em muitos assentamentos já BELTRAME, T. P. et al., “Sistemas
existem famílias produzindo e comercializando agroflorestais na recuperação de áreas de
café orgânico, através de sistemas agroflorestais. reserva legal: um estudo de caso no Pontal do
Atualmente existem 43 “ilhas” com café no Paranapanema, São Paulo” In: ANAIS I
Pontal, com aproximadamente um hectare cada CONGRESSO NACIONAL DE
AGROECOLOGIA, 2003, Porto Alegre.
(LIMA, 2003). Também 27 hectares de área de
reserva legal em dois assentamentos da região CARNEIRO, J. G. A. Produção e controle de
qualidade de mudas florestais. Curitiba:
estão sendo recuperados a partir de módulos
UFPR/FUPEF, 1995.
agroflorestais (BELTRAME et al., 2003).
Portanto, além do caráter econômico CARVALHO, P.E.R. “Técnicas de recuperação e
manejo de áreas degradadas” In:
atribuído diretamente a comercialização das Reflorestamento de propriedades rurais
mudas, e indiretamente as produções dos para fins produtivos e ambientais: um guia
Sistemas Agroflorestais implantados, torna-se para ações municipais e regionais.”
evidente que estes viveiros desempenham um Brasília: EMBRAPA, 2.000, pp 251-258
importante papel na conservação da CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências
biodiversidade do Pontal, gerando uma paisagem humanas. São Paulo: Cortez, 2000
mais harmoniosa em meio a tantos conflitos CULLEN JR., L. et al., “Trampolins ecológicos e
agrários. zonas de benefício múltiplo:ferramentas
Também é importante ressaltar que os agroflorestais para a conservação de
viveiros têm uma importante contribuição social paisagens rurais fragmentadas na Floresta
Atlântica Brasileira” Revias Natureza e
na vida dessas famílias, uma vez que na maioria
Conservação. vol.1, n.1, p. 37-46, 2003.
dos viveiros, são as mulheres as responsáveis
pelos cuidados com o viveiro, envolvendo-as no GALVÃO, A.P.M. & MEDEIROS, A.C.S.
Restauração da Mata Atlântica em áreas
espaço de produção e geração de renda familiar. de sua primitiva ocorrência natural.
Colombo: Embrapa Florestas, 2002.
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