You are on page 1of 8

1

TÍTULO: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DE PAPÉIS DE GÊNERO NA LITERATURA


BRASILEIRA POR MEIO DE CONTOS DE AUTORAS BRASILEIRAS

AUTORAS: ALINE OLIVEIRA GOMES DA SILVA e DESIREE BUENO TIBÚRCIO


CONTATO: aline131290@hotmail.com

OBJETIVO GERAL: Propor a reflexão, em conjunto com os alunos, sobreos papéis de


gênero na literatura, para que, por meio de uma análise das obras previamente
selecionadas, seja possível que os alunos identifiquem as problemáticas de gênero
abordadas pelas autoras e que por meio de um debate sociológico, relacionem-nas ao
cotidiano.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Identificar as problematizações acerca da Sociologia de gênero por meio da
literatura.

1. PRÁTICA SOCIAL INICIAL DO CONTEÚDO:


1.1 CONTEÚDOS ESPECÍFICOS A SEREM TRABALHADOS DURANTE A AULA:
a) Teoria de gênero;
b) Sociologia de gênero na literatura;
c) Literatura de gênero.

1.2 VIVÊNCIA COTIDIANA DOS ALUNOS

a) O que os alunos já sabem sobre o conteúdo?


O que é gênero na opinião deles? O que eles consideram como problemas
oriundos das distinções entre os gêneros no cotidiano? O que é machismo e feminismo
na concepção deles? Qual a distinção de machismo e feminismo? Eles conseguem

Edição Nº. 8, Vol. 1, jan./dez. 2018. Inserida em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/


2

identificar cenas de machismo no cotidiano? Reconhecem alguma situação machista


vivida por eles?

1.2 DESCREVER A PRÁTICA SOCIAL INICIAL


Iniciar questionando os alunos acerca dos gêneros, indagá-los sobre o que eles
consideram machismo e feminismo, pedir que eles identifiquem situações de machismo
no cotidiano deles.

2. PROBLEMATIZAÇÃO:
2.1 DISCUSSÃO SOBRE OS PROBLEMAS MAIS SIGNIFICATIVOS

Apresentar o significado etimológico das palavras gênero, machismo e feminismo e


explicar como esses conceitos foram formulados e utilizados desde sua conceituação.
Fazer uma contextualização histórica e antropológica sintética do patriarcado até o
surgimento do movimento feminista. Mostrar, sinteticamente, como o movimento ganhou
força recentemente com a popularização da internet e contextualizar com a realidade
deles.

2.2 DIMENSÕES DO CONTEÚDO A SEREM TRABALHADAS NA AULA:

DIMENSÃO SOCIOLÓGICA: Mostrar como são socialmente criados e entendidos os


papéis decada gênero.
DIEMENSÃO HISTÓRICA: Resgatar as divisões distintas de papeis para cada gênero ao
longo do tempo como os impactos na vida das mulheres e as lutas históricas pelos seus
direitos.
DIMENSÃO CULTURAL: Como foi constituída uma cultura que estigmatizaaqueles que
não seguem com os papeis previamente estipulados ao seu gênero.
DIMENSÃO LITERÁRIA: Explicar como a literatura tem a capacidade de refletir e criticar
o pensamento de sua época e como a sociologia por meio das teorias sobre gênero pode
permitir entender melhor a literatura e as problemas que se fazem presentes em obras
diversas.

3. INSTRUMENTALIZAÇÃO

Edição Nº. 8, Vol. 1, jan./dez. 2018. Inserida em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/


3

3.1 AÇÕES DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS:

1ª Etapa: Apresentar o tema e os objetivos da aula.


2º Etapa: Dar início à atividade da prática social inicial e realizar as perguntas aos alunos.
3º Etapa: Dividir a sala em 4 grupos e distribuir aos grupos os contosAmor, de Clarice
Lispector; A moralista, de Dinah Silveira de Queiroz;I lovemyhusband, de Nélida Piñon e
Tangerine-Girl, de Rachel de Queiroz e solicitar que sejamfeitas as leituras e o debate dos
contos em grupo.

Conto 1: Amor, de Clarice Lispector

Amor é um conto de Clarice sobre Ana. A mulher vivia uma rotina normal: dividia-
se entre seu marido, seus dois filhos e seu lar. Um dia, ao voltar do mercado, Ana nota no
bonde um senhor já de idade cego, intrigada com o homem quemastiga seu chiclete.
Concentrada no homem cego, Ana perde seu ponto, desce no Jardim Botânico e fica ali
até anoitecer, observando cada detalhe do loca. Ao notar-se sozinha grita para abrirem o
portão.
Em casa, Ana abraça o filho e após sentar-se em uma cadeira vai ajudar a
empregada com o jantar, sempre pensando no homem cego e na crueldade da vida.
Abraça o filho novamente, até machucá-lo. Todos vão embora e Ana olha-se no espelho
até o fogão fazer barulho e assustá-la, trazendo-a de volta à vida. A mulher abraça o
marido, dizendo que não quer que ele sofra, ele sem nada compreender apenas ri, ambos
vão dormir.
Os sentimentos de Ana passam por uma série de mudanças intimamente ligadas
com fatos corriqueiros do cotidiano da dona de casa. Essas mudanças no modo como a
mulher vê o mundo originam-se após as reflexões de Ana por ter visto o homem cego no
bonde. Até então, a personagem vivia sua rotina mecanicamente, com o vislumbre do
homem cego Ana vive um momento de questionamentos, mas que é esquecido conforme
a mesma retorna para sua casa e sua família, de modo a retornar à sua rotina mecânica.
O conto Amor faz parte do livro Laços de Família, de Clarice Lispector, que data
de 1960. "Amor" retrata um episódio da vida de uma mulher comum que devido a uma
situação gatilho, comoção ao ver um homem cego, começa a refletir e questionar sua
existência, o local que ocupa no mundo, suas relações afetivas e sua vida doméstica. Ana

Edição Nº. 8, Vol. 1, jan./dez. 2018. Inserida em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/


4

começa a ficar atordoada por se sentir sufocada por ter seguido “seu destino de mulher”.
Ana representa as donas de casa de classe média que vivem de acordo com os papéis
sociais e que vivem apenas para a família de modo a esquecerem do mundo que se
passa fora de suas casas, diante de algum acontecimento se choca e fica pensativa, mas
no final retorna para sua rotina de sempre.

Conto 2: A moralista, de Dinah Silveira de Queiroz

A narradora de A moralista conta que vivia em Laterra, acompanhada apenas de


seu pai e sua mãe, cuja fama de sua mãe era crescente devido ao seu trabalho como
conselheira espiritual da pequena cidade. A mãe da narradora chegou até mesmo a fazer
as missas, devido à falta de padre e passou a ser chamada de padra. Era responsável
pelos sermões de domingo no Círculo de pais e alguns ousavam chama-la de santa. Seu
marido era crédulo no poder espiritual da esposa, porém a filha desconfiava, não
acreditava que a mãe era um ser predestinado e conseguia ver claramente a
representação da mãe, que chegava a envergonhar a menina.
Um viciado é recebido na casa da família e a mãe decide acolhe-lo após ele pedir
ajuda. O moço larga o vício e muda seu jeito afeminado, passando a seguir a mãe para
todos os lugares. A companhia constante do rapaz à mãe causa desconfiança na
população da cidadezinha e desconforto em seu marido. Em uma ocasião a mãe rompe
laços com seu protegido. Após ter sido mandado embora, o rapaz se suicida e
encontramo corpo do moço balançando em uma árvore. Apesar da situação a mãe
continua com seu trabalho de conselheira, entretanto agora, sem muita convicção.
O conto narra o papel da mulher de maneira diferente, pois a personagem da mãe
Diferente de outras personagens femininas, não se limita apenas às suas
atividades do âmbito doméstico, pois ela exerce papel de destaque na sociedade e,
inclusive, a filha observa que ela, apesar de disfarçar, gosta muito de assumir papéis
importantes e públicos. A autora ao escrever o conto do ponto de vista da filha que narra
de maneira observadora e crítica sua mãe ocupando espaços de liderança religiosa e
moral na cidadezinha demonstra que a menina estranhava ao ver sua mãe ir contra o que
era difundido como papel esperado de uma mulher na sociedade. Destaca-se também no
conto o personagem do jovem afeminado que a moralista tenta corrigir, pois a autora
também subverte o papel masculino dominante no período (1950), bem como mostra que

Edição Nº. 8, Vol. 1, jan./dez. 2018. Inserida em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/


5

em um momento o menino é julgado por ser afeminado e em outro por aparentar ter
sentimentos por uma mulher casada.

Conto 3: I love my husband, de Nélida Piñon

Em I Love My Husband Nélida Piñon traz uma mulher casada que narra sua vida
com seu marido. Apesar de a narradora iniciar o conto afirmando: “Eu amo meu marido”
(PIÑON, 2000, p. 451), é notório o descontentamento com sua posição de submissa
dentro da família e sua passividade na sociedade. Ela limita-se a ser a sombra do marido,
que trata-a conforme o machismo característico da sociedade. A narradora sofre uma
crise interna sobre seus valores, porém não posiciona-se, ela apenas divaga
interiormente, ao mesmo tempo em que exibe a imagem da dona de casa exemplar. Ela
silencia-se enquanto sofre uma opressão psicológica. Ela revela sua identidade como
omissa, estagnada quanto aos fatos e dependente da figura masculina, o temor de uma
vida diferenciada que possui: a de ser uma simples sombra do marido, revelando, uma
possível identidade vigente na sociedade. A narradora vive a vida por meio de seu
marido, pois é o único a trazer-lhe a vida.
A esposa chega a esboçar uma tentativa de emancipação, questionando o marido
sobre o futuro, acaso alguma mudança ocorresse no modo como eles viviam. Porém ela
recua um enfrentamento, pois ela, na condição de mulher não viveu nada exceto sua
condição de esposa submissa e não sabe como agir frente aos desafios. Ele ambiciona
crescimento financeiro, social e material e ela vive apenas para servi-lo. A mulher passa a
questionar sua condição e vive uma crise de contraditoriedades, ao que o marido não
compreende o que ocorre com sua esposa.
O conto retrata uma submissão feminina exagerada, dominada por um
patriarcalismo que dita as regras das convenções sociais de gênero, cujos papeis são
extremamente marcados, e simbolizam muitas angústias que mulheres reais vivem. Em I
lovemyhusband a mulher só realiza-se a partir de um relacionamento bem sucedido, sua
completude só é possível ao ser possuída sexualmente pelo seu marido e não deve
nunca questionar seu papel. E apesar de todos os “galopes” (456) que a esposa dá ao
questionar-se, o conto termina da mesma forma que começou: “Ah, sim, eu amo meu
marido.” (PIÑON, 2000, p. 451).

Edição Nº. 8, Vol. 1, jan./dez. 2018. Inserida em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/


6

Conto 4: Tangerine girl, de Rachel de Queiroz

O Conto passa-se no sertão cearense, é usual em Rachel de Queiroz a valorização


dos aspectos sociais regionalistas. O conto traz um dirigível e a fascinação de uma
menina pelo objeto, que representava algo surreal e intocável. O dirigível era algo
totalmente fora de sua realidade e sempre a fascinava.
A menina entra em contato com a tripulação depois que um navegador nota-a,
devido ao seu cabelo ruivo que se destacava dentre as folhas verdes, sacudindo uma
toalha ao vento. Ele conforta-se de vê-la, em meio à solidão de estar trancado em um
dirigível cheio de homens, sem nunca serem notados. O soldado americano, preso no
dirigível, sente a liberdade na menina, e ela, por sua vez, presa em sua rotina caseira,
sente a liberdade no soldado, voando dentre as nuvens. Agradecido, o soldado solta uma
caneca para a menina, que passa a viver um amor platônico.
Esse gesto torna-se um rito: do céu caíam uma variedade de presentes e a menina
passa a estudar inglês e sonhar com o dia que encontraria o soldado americano. Os
soldados do dirigível, e da base americana, apelidaram-na de Tangerine Girl, seja pela
cor dos fios do cabelo da menina, seja pelo pomar que permeava a casa. Entretanto,
enquanto a menina acreditava ser sempre o mesmo tripulante, o amor pela Tangerine Girl
era compartilhado por todos eles, que a enviam um bilhete, convidando-a para uma festa.
No encontro ela descobre que seu amado eram todos os tripulantes, que se
revezavam para atirar-lhe presentes, de modo que ela era um passatempo para todos e
não uma figura amorosa para o soldado que permeava seus sonhos. O que antes a
fascinava, transformou-se em dor e choro. Após todos apresentarem-se, um deles
oferece-lhe o braço, mas ela menina foge, pois não era como as meninas da cidade que
namoravam marinheiros, ela acreditara em uma ilusão que ela mesma criara. Os
soldados não perceberam nem o choque que a menina levou e nem sua decepção. Ao
passar dos dias, os presentes continuaram a cair, mas permaneceram na areia e eles
nunca mais viram a Tangerine Girl.
O conto busca retratar as diferenças de gênero, onde a menina simboliza o
romantismo e a fragilidade e os soldados representam o amor masculino idealizado, mas
que logo se rompe devido às diferenças de perspectiva e significado presentes em torno
do romance na realidade dos personagens. A autora busca ir contra o que se espera de
um conto romântico, e em vez de enfatizar relacionamentos doces e meigos onde

Edição Nº. 8, Vol. 1, jan./dez. 2018. Inserida em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/


7

príncipes e princesas, mas sim com pessoas reais que sofrem com o desenrolar de
situações causadas por diferenças sociais como as diferenças econômicas e de gênero.
Fonte: Contos retirados de: MORICONI, Ítalo (Org.) Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2000.

4º Etapa: Solicitar aos grupos que compartilhem com o restante da turma os pontos
elencados após a leitura e debate.
5º Etapa: Relacionar as situações presentes nos contos com a sociedade patriarcal e o
cotidiano deles e encerramento da aula

3.2 RECURSOSHUMANOS E MATERIAIS: Aula expositiva, fotocópias dos contos, lousa


e giz.

4. CATARSE
4.1 SINTESE: Objetiva-se com esta aula exercitar a imaginação sociológica e a leitura
literária em conjunto com os alunos para que estes que possam compreender
sociologicamente a relação entre a literatura e as esferas sociais da vida; a relação entre
os conceitos sociológicos que compõe as diversas esferas da temática abordada na aula
e como estas foram formuladas e utilizadas ao longo do tempo até chegar à internet hoje.

4.2 EXPRESSÕES DA SÍNTESE: Ao final do conteúdo será aplicada uma questão


dissertativa sobre o tema, para que os alunos expliquem a utilização dos conceitos no
cotidiano deles: “Vocês acham que os papéis de gênero apresentados nos contos ainda
existem no Brasil? Qual a relação desses papéis com o machismo no Brasil, atualmente?
Exemplifique sua resposta.”.

5. PRÁTICA SOCIAL FINAL: Encerrar a aula explicando a importância do conteúdo


dentro da sociologia de gênero e como entender os conceitos de gênero, identidade,
machismo, feminismo, dentre outros, sinteticamente, a partir dos autores constantes nas
referências (Beauvoir, Butler, Castello Branco, Cavalcanti, Duarte, Helena, Hollanda e
Scott) e como estes conceitos nos permitem compreender melhor os problemas que
perpassam os diferentes grupos sociais ao longo do tempo e comoestes ainda
encontram-se atuais e precisam ser problematizados.

REFERÊNCIAS:

Edição Nº. 8, Vol. 1, jan./dez. 2018. Inserida em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/


8

BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Fatos e mitos. Tradução de Sérgio Milliet. 4. ed.
São Paulo: Difusão epopeia do livro, 1949.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão de identidade. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CASTELLO BRANCO, Lúcia. O que é escrita feminina. São Paulo: Brasiliense, 1991.
CAVALCANTI, Ildney et al (Org). Da mulher às mulheres: dialogando sobre literatura,
gênero e identidades. Maceió: EDUFAL, 2006.
DUARTE, Constância Lima; ASSIS DUARTE, Eduardo de; BEZERRA, Kátia da Costa
(Org). Gênero e representação na Literatura Brasileira. Belo Horizonte, UFMG, 2002. (col.
Mulher & Literatura, v. 2).
GASPARIN, João Luiz. Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. 3.ed. Campinas,
SP: Autores Associados, 2005.
HELENA, Lúcia. Ficção e gênero (gender) na literatura brasileira.Gragoatá. Niterói:
EDUFF, 1996, N. 1.2. sem. 1996, p. 23-34.
HOLLANDA, Heloísa Buarque de. O que querem os dicionários? Introdução a ensaístas
brasileiras. Rio de Janeiro. Rocco, 1993.
_____. Elas escrevem o épico. Florianópolis: Mulheres, Santa Cruz do Sul: EDUNISC,
2005. Fundação Perseu Abramo, 2004. (Coleção Brasil Urgente).
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995, p. 71-99.

Edição Nº. 8, Vol. 1, jan./dez. 2018. Inserida em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/

You might also like