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Sara Rodrigues 2016/2017

Empreitada
Do art. 1207 resulta que são três os elementos do contrato de empreitada:

 Sujeitos
São partes neste contra o dono da obra e o empreiteiro (que será uma pessoa singular ou colectiva
a quem foi encomendada a execução de uma obra).

Legitimidade em relação ao dono da obra: Coloca-se esta Bem locado: O proprietário pode
questão quando está em causa a modificação, manutenção ou mandar reparar ou modificar. Mas
reparação de bens existentes. Temos de verificar se o dono da não impede que o locatário se
obra tem poderes para mandar executar aqueles trabalhos. A coloque na posição de dono da obra.
falta de legitimidade não invalida o contrato de empreitada. No Mas se não for um caso de urgência,
entanto, pode dar azo a responsabilidade tanto em relação a terá de indemnizar a contraparte por
terceiros, como ao próprio empreiteiro. violação do contrato de
arrendamento e do direito de
propriedade.
Direitos do dono da obra
 Que no prazo acordado seja entregue uma obra realizada nos moldes convencionados
(direito subjectivo a exigir do empreiteiro a obtenção do resultado a que ele se obrigou).

 Fiscalizar a execução da obra para verificar se o


empreiteiro não ocultou vícios dificilmente detectáveis A fiscalização efectuada pelo dono da
depois de concluída, bem como se os materiais obra não exime o empreiteiro da
empregues são da qualidade acordada (art. 1209.º/1) - responsabilidade por defeitos da obra.
esta fiscalização não pode perturbar o andamento Se o dono da obra, no decurso da
ordinário da empreitada pelo que o empreiteiro pode-se fiscalização, se apercebe de um
opor à excessiva e sucessiva ingerência do comitente, defeito, pode recusar aceitação da
sob pena de depois dar a conhecer os processos técnicos obra ou aceitá-lo com reserva, exigindo
de produção utilizados por ele. Ademais, pode ser feita qualquer dos direitos que se
tanto pelo dono da obra como por um técnico por ele encontram nos arts. 1221.º e ss. Mas
contratado (designadamente quando estamos perante se o comitente se aperceber de um
uma obra complexa em que o respectivo dono não defeito da obra durante a sua
disponha de preparação técnica necessária para execução e não o indicou prontamente
proceder a uma fiscalização eficiente; na construção civil ao empreiteiro está contra os ditames
costuma ser um engenheiro). Outro factor bastante da boa-fé – se ele não menciona o
importante é que este direito deverá ser exercido de defeito e, mais tarde, se faz valer dessa
acordo com a boa-fé, significa isto que se, por exemplo, situação está a venire contra factum
o dono da obra não indica um vício de que se apercebeu proprium, sendo responsável pelos
aquando a fiscalização, não o deveria poder fazer valer danos causados ao empreiteiro.
na verificação final; se o fizer, o empreiteiro poderá
exigir uma indemnização por maiores encargos.

Temos de ter em atenção duas coisas aquando da fiscalização:


1. O comitente detecta vícios na execução da obra deve indicá-los ao empreiteiro não tendo o
direito de exigir a imediata reparação de tais defeitos. Mas se este verificar que a obra já padece de
inúmeros defeitos e que, consequentemente, há uma impossibilidade de execução da mesma pode
resolver o contrato antes da conclusão da obra (o prof. Romano Martinez tira esta ilação do art.
801.º/1).

2. O dono da obra verifica que os materiais a empregar não são da qualidade assegurada – não
pode exigir a sua substituição se este direito não tiver sido contratualmente estabelecido. Nestes

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casos, o comitente deve indicar a falha à contraparte e se esta não substituir os materiais o
contrato pode ser resolvido antes da conclusão da obra, caso se verifiquem os pressupostos.

Importância quanto ao pagamento


 Se o comitente não aceita a obra em razão dos vícios que ela tem – não está adstrito ao
pagamento do preço;
 Mas se ele retirar proveito da obra defeituosa – tem de pagar não o preço acordado, mas o
valor correspondente às vantagens que retira (art. 1222.º), de outra forma haveria
enriquecimento sem causa.

Deveres do dono da obra


 Tem de prestar o preço acordado (é um elemento essencial do
Caso de mora do comitente:
contrato de empreitada) –normalmente é pago no acto de aceitação
Depois de se tornar em
da obra (art. 1211.º/2). Caso se tenha estabelecido que o preço é
incumprimento definitivo, o
pago antes da aceitação da obra e o comitente não o faz, o
empreiteiro tem o direito
empreiteiro pode: excepção de não cumprimento (art. 428.º), bem
de resolver o contrato (art.
como suspender a execução dos trabalhos sempre que o dono da
801.º/2).
obra não efectue a prestação do preço nos termos acordados.

Aceitação da obra depois de concluída: Tem de ser executada sem defeito (ou com defeitos
insignificantes) e nos termos acordados. O comitente não está obrigado aceitar a obra por partes
se isso não foi acordado (art. 763.º/1): a aceitação por partes pode ter interesse, designadamente
no caso de tardar a realização de parte da obra ou se detectarem defeitos numa parte que não
afecta o todo. Qual é a importância da aceitação?
 Vencimento da renumeração (art. 1211.º/2);

Vencimento: Trata-se de uma regra supletiva, uma vez que no caso de coisas imóveis costuma-se
estabelecer que o preço seja pago escalonadamente, podendo-se acordar um preço a efectuar em
períodos determinados ou em função do trabalho executado. No caso de aceitarmos a obra por
partes, o pagamento também deve ser fraccionado.

 É nesta altura que se transfere a propriedade da obra para o comitente (art. 1212.º/1);

Transferência da propriedade: Só discutimos esta questão nas obras de construção e não nas obras
de alteração ou reparação. O art. 408.º estabelece o princípio geral, mas o nº2 diz-nos que este
não se aplica ao contrato de empreitada.
 Coisas móveis (art. 1212.º/1): Temos de ver se as matérias foram fornecidas pelo
empreiteiro (a transferência para o dono da obra dá-se com a aceitação por parte deste)
ou pelo dono da obra (se o comitente forneceu parte reduzida dos materiais, então perde
a respectiva propriedade quando forem incorporados na obra, ficando credor pelo preço
dos mesmos – o prof. entende que neste caso o dono da obra adquire a propriedade dos
materiais através do instituto da acessão industrial mobiliária (art. 1333.º); agora se ele
forneceu no todo ou em parte os materiais, a obra surge logo na propriedade do
comitente – o prof. entende que a transferência da propriedade verifica-se com a
conclusão da obra, sendo a aceitação irrelevante).

 Coisas imóveis (art. 1212.º/2): O dono da obra (proprietário do solo ou da superfície) é


proprietário da mesma, mesmo que os materiais sejam fornecidos na sua totalidade pelo
o empreiteiro a obra. Isto é, os materiais vão sendo adquiridos pelo comitente à medida
que forem incorporados na obra. Assim, a aceitação não tem como consequência a

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transferência da propriedade da obra. Agora, no caso do solo ou da superfície ser da


propriedade do empreiteiro a propriedade é deste, mesmo que os materiais sejam
fornecidos pelo comitente e sejam de valor superior ao terreno – neste caso, só se
transfere com a aceitação do comitente.

Com a celebração do contrato de empreitada, procedeu-se também à transferência da


propriedade do terreno (art. 1212.º/2) – a propriedade do terreno e da obra nele implantada
transfere-se para o comitente com a sua aceitação, mas tem de revestir a formalidade necessária
para a transferência da propriedade de imóveis.

A propriedade da obra pode transferir-se depois da aceitação por força da celebração de um


negócio autónomo (compra e venda, por exemplo). Além disso, de tanto o terreno como os
materiais empregues forem propriedade do empreiteiro, o negócio pode apresentar-se como uma
compra e venda de bens futuros, mas a obra não pode ser realizada segundo as directrizes e
fiscalização daquele a quem se destina.

 Assunção do risco (art. 1228.º);


 Responsabilidade por defeitos da obra.

A aceitação pode ser expressa, tácita (art. 217.º) ou presumida por lei (art. 218.º):
 Expressa: Protocolo assinado pelas partes;
 Tácita: Informa-se o empreiteiro de que a obra foi executada segundo o convencionado e
sem vício ou, por ex, quando o comitente vai buscar à oficina o veículo que lá foi reparado;
 Presumida: Na falta de verificação ou de comunicação.

A aceitação pode ser feita com ou sem reservas. Portanto, se o comitente detectar vícios aparentes
ou desconformidades com o convencionado poderá aceitar a obra com reserva, indicando essas
deficiências. No caso de ele considerar que a obra foi realizada a seu contento, aceitá-la-á sem
reserva – acarreta a liberação da responsabilidade do empreiteiro com respeito aos vícios
conhecidos (art. 1219.º/1). “vícios conhecidos”: o dono da obra sabia, bem como os defeitos
aparentes relativamente aos quais o comitente deveria ter tomado conhecimento, usando a
diligência normal (art. 1219.º/2). Neste nº2 estabeleceu-me uma presunção iuris tantum quanto ao
conhecimento do defeito, porque se considera aparentes os que são conhecidos do dono da obra.

Como é que determinamos se o defeito é aparente? Temos de ter em conta a capacidade de


percepção do dono da obra, a não ser que ele tenha incumbido nenhum técnico de proceder à
verificação da mesma (determinado defeito pode ser aparente para um especialista e não para um
leigo).

 Colaborar na execução do trabalho do empreiteiro para que este possa realizar a obra. Ex:
comunicar instruções, fornecer materiais. O empreiteiro não pode exigir a colaboração
necessária, mas o facto de não ser prestada espontaneamente dá-lhe o direito de invocar a
excepção de não cumprimento, pedir uma indemnização ou até usar a condição resolutiva
tácita (art. 801.º/2). No caso do dono da obra entrar em mora quanto a esta colaboração
tem de ser concedido ao empreiteiro um correspondente aumento de prazo para executar
a obra.
Incide sobre bens de terceiros: no caso de o
dono da obra ser locatário, adquirente com
Direitos do empreiteiro
reserva de propriedade ou ser realizada
 Direito de retenção sobre coisas criadas ou
uma sub-empreitada da obra nada obsta a
modificadas como garantia do pagamento do
que o direito de retenção tanto recaia sobre
coisas propriedade do dono da obra como
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de terceiro (com base num título legítimo),
pois o art. 754.º apenas faz referência a que
a coisa seja certa (não faz restrição quanto à
propriedade).
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preço e de certas indemnizações derivadas do incumprimento de deveres contratuais (art.


754.º e ss) – este direito pode incidir sobre coisas móveis e coisas imóveis (arts. 758.º e
759.º). Trata-se de um assunto muito debatido na doutrina. O prof. Romano Martinez
entende que tem aplicação o art. 754.º, uma vez que este é um instituto de âmbito geral; é
um direito de qualquer credor, desde que os pressupostos estejam preenchidos. Isto é,
relativamente ao primeiro caso, o empreiteiro está obrigado a entregar uma coisa e o
crédito do preço resulta de despesas (de construção, modificação, reparação) feitas por
causa dessa mesma coisa – ora, na opinião do prof. seria estranho admitir que se atribuísse
este direito a quem realiza benfeitorias e não se concedesse ao empreiteiro. Já
relativamente ao direito de retenção como garantia do pagamento de indemnização
derivada do incumprimento de deveres contratuais é mais discutível, mas nalgumas
situações justifica-se aplicar este regime.

O direito de retenção só pode ser exercido “contra o seu credor” – o empreiteiro não pode exigir o
pagamento a terceiro (o princípio da relatividade dos contratos não é alterado). Ex: o sub-
empreiteiro que goza do direito de retenção contra o empreiteiro não tem legitimidade de reter a
coisa para exigir o pagamento do preço ao dono da obra.

Deveres do empreiteiro
 Realizar uma obra (art. 1207.º) em conformidade com o convencionado e sem vícios (art.
1208.º). Além disso, o contrato deve ser cumprido pontualmente (art. 406.º) e de boa-fé
(art. 762.º/2). Também importa ter em conta os deveres de cuidado e os deveres de
informação, designadamente os vícios do projecto ou dos materiais fornecidos pelo dono
da obra, de um iminente excesso do orçamento. Se o lugar do cumprimento do dever de
realizar a obra não tiver sido acordado ou não estiver na dependência da natureza dos
trabalhos a efectuar (ex: reparação de uma casa) deve ficar à descrição do empreiteiro,
uma vez que ele sabe qual é o melhor lugar para realizar a tarefa (ex: na sua oficina).

 Fornecer materiais e utensílios necessários à realização da obra (art. 1210.º/1). Esta


obrigação depende da natureza da obrigação assumida. Ex: numa reparação pode não ser
necessário fornecer materiais. Quanto à qualidade dos mesmos estes têm de corresponder
às características da obra e não podem ser de qualidade inferior à média (nº2), sendo que
esta “qualidade média” corresponde à aplicação dos juízos de equidade (art. 400.º/1).
Assim, se isto não for respeitado a obra será considerada defeituosa. Coisa diferente são os
materiais do tipo e qualidade acordados faltarem no mercado, porque aqui estamos
perante uma alteração necessária (art. 1215.º). Se o empreiteiro fornecer materiais com
qualidade superior à acordada pelo contrato e pelas características não pode exigir o
correspondente aumento do preço.

 Conservar a obra realizada até entregá-la ao comitente. Este dever existe na medida em
que o empreiteiro se obriga a efectuar a prestação de uma coisa, mas também quanto aos
materiais fornecidos pelo comitente até à sua incorporação na obra.

 Proceder à entrega da coisa no prazo estipulado ou após a respectiva aceitação. Se não for
acordado, então será entregue após a conclusão da obra. Em regra as despesas da entrega
correm por conta do empreiteiro, porque são despesas do cumprimento. Esta entrega
pode ser efectiva (ex: transferência da posse do automóvel) ou simbólica (ex: entrega das
chaves). Quanto ao lugar este depende do objecto da prestação – imóvel: deve ser no
lugar onde esta se encontra, mas pode haver uma entrega simbólica num lugar diferente;
móvel: deve ser entregue no local onde foi realizada (interpretação extensiva do art.
773.º/1).

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Lugar do pagamento efectuado pelo dono da obra


 Local onde a obra é entregue (analogia do art. 885.º/1);
 Se o preço tiver que ser pago antes ou depois da aceitação o lugar do cumprimento será o
domicílio do empreiteiro.

 Deveres acessórios, tais como esclarecimento, conselho, cuidado, segurança.

 Realização de uma obra


“Certa obra”: Abrange coisas incorpóreas ou é apenas corpóreas?
O prof. Romano Martinez entende que, perante a definição restrita do art., o contrato de
empreitada poderá ter por objecto a realização de coisas corpóreas materiais (ex: construir uma
casa) ou imateriais (ex: reparar um carro), mas não coisas incorpóreas mesmo que materializáveis.

No entanto, é um critério delimitativo que não apresenta uma solução definitiva, porque a
distinção entre coisas corpóreas imateriais e coisas incorpóreas não corresponde a um aspecto
intrínseco das mesmas; temos de determinar com base na interpretação da vontade das partes,
porque a mesma prestação pode corresponder a uma coisa corpórea imaterial ou a uma coisa
incorpórea.

Ex:
 Alguém encarrega um pintar para lhe pintar a casa – o contrato é de empreitada; o facto
de esse pintor ser um artista e ter sido encarregue de desenhar e pintar figuras
geométricas não altera a natureza do contrato.
 Se alguém encarrega um pintor, para com toda a liberdade e com base no seu espírito
artístico e criativo, pintar uma parede – o contrato não é de empreitada.

 Pagamento do preço
Esta retribuição é um elemento essencial, uma vez que se não for estabelecido um preço estar-se-á
perante um contrato gratuito de prestação de serviço – o código civil fala em preço como o valor
expresso em unidades monetárias (Soares Martinez), pelo que na empreitada o dono da obra não
fica obrigado a uma prestação em géneros. Assim, se no momento da conclusão do contrato, a
retribuição não for estabelecida em dinheiro estamos perante um contrato misto acoplados,
germinados ou duplo tipo, porque uma das partes se obriga à prestação típica de outro contrato e
outra parte à prestação típica de outro contrato. Ex: O proprietário de certo prédio antigo bem
localizado numa cidade e de um terreno nos arredores contrata um empreiteiro para este lhe
construir um edifício neste terreno, recebendo em contrapartida o velho prédio. Aplicamos o
regime da empreitada na parte correspondente à execução de uma obra.

Fixação do preço
 Normalmente é fixado até ao momento da celebração do negócio jurídico.
 As partes podem estabelecer que o preço da obra é determinado por cada artigo (ex: o
empreiteiro obriga-se a fazer 20 cadeiras a X€ por objecto) – implica a perfeita
diferenciação e divisão das partes que integram a obra, com respeito ao todo a obter. Mas
também podem estabelecer que o preço é determinado por medida, caso em que o preço
total depende da dimensão que estar tiver depois de concluída (ex: o empreiteiro obriga-
se a rasgar uma estrada por Xkm) – aqui não há uma absoluta identidade e continuidade
qualitativa do todo, mas com partes quantitativamente determinadas em razão da sua
extensão.
 A renumeração também pode ser feita em função do tempo No mesmo contrato de
de trabalho (ex: o empreiteiro obriga-se a fazer um muro e empreitada podem-se
combinar duas ou mais
formas de fixação do5
preço!
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será pago tendo em conta o nº de dias que leve a executar a obra).


 O dono da obra também pode pagar pela mão-de-obra no caso de fornecer os materiais
(empreitada por administração co-interessada).

Caso as partes não estabeleçam uma forma de fixar o preço ou se o orçamento tem como finalidade
uma mera orientação tem que se estabelecer um critério para assentar o valor desta prestação do
dono da obra. O prof. Romano Martinez, tendo em conta o art. 1211.º, entende que a perfeição do
contrato não depende da fixação do preço, pelo que este, apesar de ser um elemento integrador
da noção de empreitada, pode ser determinado em momento ulterior ao do ajuste.

 O art. 1211.º/1 remete para as regras da compra e venda (art. 883.º)

Revisão
Quando é estabelecido um preço o empreiteiro não pode pedir qualquer acréscimo, mesmo que os
salários ou os materiais tenham aumentado. No entanto, as partes podem estipular uma cláusula
de revisão de preços – neste caso, a renumeração será alterada em função dos condicionalismos e
na medida do critério acordado. Não havendo esta cláusula, o prof. Romano Martinez entende que
se aplica unicamente as regras gerais respeitantes à resolução ou modificação dos contratos por
alteração das circunstâncias (art. 437.º e ss). O que impede, tendo em conta a alteração anormal e
os riscos próprios do contrato, que se restabeleça o equilíbrio entre prestações.

Forma e execução do contrato


 Formação do contrato
Não tem qualquer especificidade, recorre-se às regras gerais.
 Salvo disposição em contrário, pode ser celebrado por mero consenso das partes (art.
219.º)
 O formalismo não foi estabelecido em relação ao contrato de empreitada, porque
acarretaria alguns inconvenientes – dificuldade de celebrar contratos de pequeno valor,
demoras, incómodos e despesas para a conclusão do contrato.

 Alterações ao plano convencionado


São transformações que não modificam a natureza e não têm autonomia em relação à obra
convencionada – modificar o tipo ou a qualidade, a estrutura, o tempo ou o lugar da execução.

Alteração da iniciativa do empreiteiro


O empreiteiro não pode fazer alterações no plano convencionado sem autorização do dono da
obra (art. 1214.º em paralelo com o art. 406.º/1); o objectivo é que o empreiteiro não eleve o
custo da obra. Assim, a autorização por parte do dono da obra para proceder a estas alterações tem
de ser dada por escrito, fixando-se o aumento do preço (art. 1214.º/3).

Nos contratos em que o preço tenha sido determinado por medida, unidade, tempo de trabalho
esta autorização não tem que ser por escrito – pode ser verbal (art. 222.º/2). A prova de que a
autorização foi dada cabe ao empreiteiro (art. 342.º/1).

 Se a autorização for válida, o comitente deve aceitar a obra com modificações introduzidas
no plano e o empreiteiro tem o direito de exigir o respectivo aumento do preço.
 Se a autorização não for válida, a obra é havida como defeituosa. Mesmo assim, se o
comitente a aceitar não lhe pode ser exigido qualquer aumento do preço (nem qualquer
indemnização com base no enriquecimento sem causa – art. 1214.º/2).

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Alterações necessárias
Para evitar imperfeições da obra ou em consequência de direitos de terceiros há que proceder a
alterações (art. 1215.º/1) – estas alterações necessárias podem não ser imputáveis a nenhuma das
partes; mas sendo imputável a uma das partes, esta ou a contraparte, pode recorrer ao art. 1215.º,
mas o culpado suporta os danos resultantes dos erros ou omissões do projecto.

 As partes chegam a acordo quanto às modificações a introduzir no contrato: Modificação


do negócio jurídico derivada de mútuo consenso (art. 406.º/1) que segue os termos gerais
(art. 219.º e 222.º/2).

 As partes não chegam a acordo quanto às modificações a introduzir no contrato: Compete


ao tribunal determinar quais as alterações que devem ser introduzidas no plano
convencionado, fixando as correspondentes modificações quanto ao preço e prazo de
execução (art. 1215.º/1, 2ª parte). O empreiteiro pode começar a executar as alterações
que lhe parecem necessárias antes da decisão do tribunal, correndo o risco de realizar uma
obra defeituosa (art. 1214.º/2).

 NÃO ABRANGE A ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS (art. 437.º - ex: se o legislador


estabelece que os prédios novos com mais de dez andares, incluindo os que estejam em
construção, têm que possuir aquecimento central)
 NÃO ABRANGE A IMPOSSIBILIDADE SUPERVENIENTE NÃO IMPUTÁVEL ÀS PARTES (art.
1227.º).

Quem suporta os prejuízos da alteração? Temos de ter em conta o risco da obra (art. 1228.º).

Alterações exigidas pelo dono da obra


Trata-se de modificar o contrato mediante manifestação unilateral de vontade (art. 1216.º*
excepção ao art. 406.º/1). No entanto, este direito não é ilimitado – o empreiteiro pode recusar a
execução destas modificações quando excedam no seu valor a quinta parte do preço total
convencionado e, por outro, realizar as alterações que impliquem uma modificação da natureza da
obra (o empreiteiro pode não ter disponibilidade financeira ou meios técnicos para executar a obra
em condições diferentes).

 A lei não exige que as alterações ordenadas pelo dono da obra sejam dadas por escrito.
 Há aqui um princípio de equivalência das prestações (art. 1216.º/2 e 3) – estas
modificações levam a que o empreiteiro tenha direito a um aumento do preço proporcional
ao acréscimo das despesas e a um prolongamento se se justificar. Mas se destas alterações
resultar uma diminuição das despesas ou do custo do trabalho então o empreiteiro tem
direito ao preço inicialmente estipulado.
 Se as alterações implicaram uma inutilização de trabalhos já efectuados estes não são
deduzidos ao montante do preço total da empreitada, mas o comitente tem de pagar a
importância despendida com as demolições a que houver procedido.

Obras novas e alterações posteriores à entrega


As obras novas ou trabalhos extra-contratuais são aqueles que têm autonomia relativamente à
obra prevista no contrato (ex: elevação de outro andar) ou que foram realizados depois da entrega
(art. 1217.º/1).

O empreiteiro pode recusar-se a realizar quaisquer obras novas e alterações posteriores à entrega
da iniciativa do comitente. Mas se o empreiteiro estiver de acordo em executar aquilo que lhe é
proposto pelo dono da obra, e não exigido, estar-se-á perante um novo contrato de empreitada.

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No caso do empreiteiro, por sua iniciativa e sem autorização da contraparte, realizar uma obra
autónoma ou introduzir alterações na obra depois de a ter entregado, o comitente poderá recusá-
la ou exigir a sua eliminação caso seja possível (art. 1217.º/2).

Impossibilidade de cumprimento
 Impossibilidade originária: produz a nulidade do negócio (art. 401.º/1) – sendo o contrato
nulo não há que discutir o sue problema de incumprimento. Esta questão liga-se à
invalidade física do objecto. Ex: o empreiteiro obriga-se a reparar o telhado de uma casa
que fica destruída num incêndio. Mas temos de ter em atenção, pois esta impossibilidade
verifica-se apenas no caso de a obra não ser de todo realizável e não no caso de puder ser
realizada com defeitos. Assim, a impossibilidade da prestação relativamente à pessoa do
empreiteiro não acarreta a nulidade (art. 401.º/3), há incumprimento. Ademais, também
não é nulo o negócio que as partes celebraram na expectativa de vir a ser possível (art.
401.º/2).

 Impossibilidade superveniente: Temos de verificar se ela é imputável ao empreiteiro


(equipara-se ao não cumprimento e acarreta a responsabilidade do empreiteiro – art.
801.º/1) ou se ela não é imputável a nenhuma das partes (a obrigação do empreiteiro
extingue-se (art. 790.º) e o comitente fica desobrigado do pagamento do preço (art.
795.º) – salvo as regras gerais do art. 1227.º).

Risco: Repartição do risco por impossibilidade de execução da prestação (art. 1227.º, 2ª parte –
devemos aplicar na impossibilidade de execução da obra, mas também das alterações necessárias
por analogia. Ex: se tivermos que demolir parte da obra já construída, o dono da obra tem de
pagar essa fracção, deduzindo o valor proporcional correspondente ao lucro do empreiteiro) vs
risco por perda da coisa (art. 1228.º/1 – aqui temos de verificar quem é o dono da obra. A regra é
que o risco corre por conta do proprietário aplicando-se à obra, mas também aos materiais que
nela incorporar).

 O empreiteiro corre o risco da remuneração;


 O dono da obra corre o risco do trabalho e despesas.

Atenção a quatro situações:


1. Construção de coisa móvel com materiais fornecidos pelo empreiteiro e a obra perece por
causa não imputável a nenhuma das partes:

2. Construção de coisa móvel com materiais fornecidos pelo dono da obra e a obra perece por
causa não imputável a nenhuma das partes:

3. Construção de coisa imóvel em que o solo é propriedade do dono da obra e a obra perece por
causa não imputável a nenhuma das partes:

4. Construção de coisa imóvel em que o solo é propriedade do empreiteiro e a obra perece por
causa não imputável a nenhuma das partes:

O dono da obra pode desistir da empreitada a todo o tempo (art. 1229.º) – nos termos da lei, pode
haver uma desistência depois de a obra estar concluída, mas antes de ser aceite. Se a obra não
padecer de defeitos a indemnização corresponde ao preço total da obra. Esta desistência é uma
faculdade discricionária, não carece de fundamento, apresenta-se como insusceptível de
apreciação judicial e não carece de qualquer pré-aviso, nem de forma especial.

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Extinção do contrato
 Verificação da obra
Depois de concluída, o empreiteiro deve avisar o dono da obra que ela está em condições de ser
verificada. O comitente verifica se foi realizada nas condições convencionadas e se não apresenta
vícios (art. 1218.º/1) – a falta de verificação importa a aceitação da obra sem reservas (art.
1218.º/2 e 5).

As despesas de verificação, na falta de convenção em contrário, correm por conta do empreiteiro.


Mas existem casos em que, por força das circunstâncias, a verificação de protela no tempo (ex: é
concedido ao dono da obra um período experimental) e portanto os encargos correm por conta do
comitente. Caso o comitente encarregue um perito de proceder à verificação da obra também é o
comitente que paga, já se for feito pelo empreiteiro então é este que paga (art. 1218.º/3).

Depois de verificada, o resultado deve ser comunicado ao empreiteiro (art. 1218.º/4). Se não
comunicar: aceitação da obra sem reservas.

Ao invés de aceitar, o comitente pode rejeitar a obra.

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