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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

MARCOS GABRIEL BASSOLI

MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO:


normas e diretrizes para a implantação de projetos no Brasil

FRANCA
2010
MARCOS GABRIEL BASSOLI

MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO:


normas e diretrizes para a implantação de projetos no Brasil

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”, para obtenção do Título de Bacharel em
Relações Internacionais.

Orientadora: Prof. Dra. Analúcia Bueno dos Reis Giometti

FRANCA
2010
Bassoli, Marcos Gabriel
Mecanismo de desenvolvimento limpo : normas e diretrizes
para a implantação de projetos no Brasil / Marcos Gabriel Bassoli.
–Franca : [s.n.], 2010
38 f.

Trabalho de conclusão (bacharelado – Relações Internacionais)


Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências Humanas
e Sociais.
Orientador: Analúcia Bueno dos Reis Giometti

1. Aquecimento global. 2. Desenvolvimento sustentável.


3. Protocolo de Quioto. I. Título
CDD – 301.31
MARCOS GABRIEL BASSOLI

MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO:


normas e diretrizes para a implantação de projetos no Brasil

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Humanas e


Sociais, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do
Título de Bacharel em Relações Internacionais.

BANCA EXAMINADORA

Presidente: _________________________________________________________________
Profa. Dra. Analúcia Bueno dos Reis Giometti

1º Examinador: _____________________________________________________________
Profa. Dra. Elizabete Sanches Rocha

2º Examinador: _____________________________________________________________
Prof. Dr. Augusto Zanetti

Franca, ____ de __________________ de 2010.


Dedico essa pesquisa à minha família,
sustentadora dos meus sonhos,
imprescindíveis para o despertar de cada dia.
E à minha bashert Lethícia Fadel,
por me permitir ser uma pessoa melhor.
AGRADECIMENTOS

Nesses quatro anos de graduação, foram muitos os fatores, situações e pessoas que
contribuíram direta ou indiretamente para a concretização de minha “épica” jornada, rumo ao
diploma de bacharel em Relações Internacionais, arraigada, sobretudo, de elevado
crescimento pessoal. Apesar do tamanho inversamente proporcional à sua importância,
gostaria de humildemente, nesse singelo trecho de folha, expor meus agradecimentos:

A Deus e aos espíritos bons, influentes nas demandas às quais me faltam respostas. E também
à minha família, pelo apoio, exemplo de vida e valores; constituintes das bases do meu ser.

À minha orientadora, Profa. Dra. Analúcia, grande semeadora de conhecimentos.

Aos meus companheiros de república: Redi, Bira, Java, PH, Toalha e Maraco, pelos melhores
quatro anos da minha vida, regados pelos causos memoráveis dos javas, e pela amizade que
eu desejo de todo coração perpetuar por muitos e muitos anos.

Aos meus conterrâneos, Bruno, Bruna, Goba, Lilian, Camila, Rachell e Naty pelos laços de
amizades sinceros e duradouros.

Aos grandes e especiais amigos que tive a honra de conhecer na faculdade, Grah, Sussa,
Maria Laura (minhas eternas vizinhas); Lê, Eric, G. Murari e Hostalácio, Ana, Bia, Gonzo,
Bocão, Nay, Naty, Bam, Lí, Farinha e todas as gerações de moradores da Taboca, com os
quais compartilhei momentos, ideias, sensações, desejos e muitas horas de conversa fiada.

A todos os bixos e bixetes; que estes entendam, sintam e honrem o que de fato é ser da Unesp
Franca; lugar onde, academicamente falando, eu nasci e cresci com muito orgulho.

Ao grupo Cenários Prospectivos, principalmente para o Prof. Dr. Samuel, à velha guarda e ao
primeiro triunvirato, por acreditarem no meu potencial e serem os responsáveis imediatos do
meu crescimento acadêmico. Desejo que as novas gerações de cenaristas logrem usufruir de
todo o sucesso e satisfação particulares dessa vertente de estudos.

A todo o grupo docente com que tive o prazer de me relacionar, pela paciência e
ensinamentos. Não obstante, também quero agradecer aos funcionários da graduação, r.u. e
biblioteca, tão indispensáveis quanto, para essa conquista.

Aos funcionários da agência do IBGE de Franca, que com o choque de culturas, foram
imprescindíveis para a minha melhor compreensão da beleza da cidade e pelo suporte
imensurável nessa reta final.

Enfim, a todos aqueles que por ventura não foram citados, e àqueles que fizeram parte da
minha vida nesses anos incríveis. Nem mesmo muitas lágrimas ilustrariam o tamanho da
gratidão e satisfação que sinto nesse momento. E que venham mais anos, viva à continuidade!

Faço minha mala e checo o meu rosto. Pareço um pouco mais velho. Pareço um pouco mais
frio. Hoje, meu coração não bate como costumava bater e meus olhos enxergam o mundo
com outro olhar. Com uma respirada funda e um grande passo, chego um pouco mais perto
do que procuro, por razões, de certa forma, nem tão desconhecidas assim...
"Quanto maior o bem, maior o mal
que da sua inversão procede."

(Rui Barbosa, 1920)


LISTA DE SIGLAS

AND – Autoridade Nacional Designada


CE – Conselho Executivo
CDM (Clean Development Mechanism) – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
CIMGC – Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima
COP – Conferência das Partes
CQNUMC – Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima
DCP – Documento de Concepção de Projeto
EOD – Entidade Operacional Designada
FDL – Fundo de Desenvolvimento Limpo
GEE – Gases de Efeito Estufa
IC – Implementação Conjunta
IPCC (Intergovernment Panel on Climate Change) – Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
ONU – Organização das Nações Unidas
PDD (Project Development Assistance) – Documento de Concepção do Projeto
PP – Participantes do Projeto
RCE – Reduções Certificadas de Emissões
RCEl – Reduções Certificadas de Emissões
RCEt – Reduções Certificadas de Emissões temporárias
UNFCC (United Nations Framework convention on Climate Change) – Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
BASSOLI, Marcos Gabriel. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: normas e diretrizes
para a implantação de projetos no Brasil. 2010. 38f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharel em Relações Internacionais) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2010.

RESUMO

Poucos assuntos recebem tanto destaque no Brasil e no mundo quanto o aquecimento global,
pautando-se como foco das discussões das autoridades científicas e políticas, e mesmo de boa
parte da sociedade como um todo. Não faltam provas de que esse aumento gradativo da
temperatura na Terra, alavancado por ações de ordem antrópica, afeta de maneira negativa a
economia dos países, e, em cenários mais alarmantes, pode efetivamente colocar em risco a
vida das espécies. Na tentativa de criar uma solução para a pendência, a comunidade
internacional, representada pela Organização das Nações Unidas, procurou estabelecer entre
si mecanismos que realizassem o controle e a prevenção dos danos ao meio ambiente. Dessa
forma, foram traçados programas com o intuito de incentivarem o desenvolvimento
sustentável no mundo, com o objetivo principal de se reduzirem as emissões de poluentes
como um todo. Nesse contexto, por meio do Protocolo de Quioto, foi introduzido ao cenário
internacional o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), revolucionando as interações
ambientais e econômicas das nações. Resumidamente, o MDL é o único mecanismo
internacional multilateral que propicia a cooperação entre países industrialmente
desenvolvidos e países em desenvolvimento, em prol da criação de projetos ambientalmente
sustentáveis. Detentor de um potencial energético respeitável, o Brasil assinala-se como uma
promessa digna de destaque no que tange à aprovação de atividades de projeto de MDL e da
posterior geração de Reduções Certificadas de Emissões (RCE). Visto isso, e sabido das
vastas exigências burocráticas, essa pesquisa, além de abordar o histórico das discussões
internacionais acerca do meio ambiente, terá como objetivo elucidar as etapas que permeiam
o ciclo necessário para a aprovação das atividades de um projeto de MDL, sobretudo em sua
trajetória nacional. Nesse sentindo, serão compiladas informações presentes nos manuais de
maior importância da área com o viés de auxiliar aqueles que planejam a implementação de
alguma atividade de projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

Palavras-chave: aquecimento global. desenvolvimento sustentável. Protocolo de Quioto.


Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. procedimentos de aprovação do projeto de MDL.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9

1. O PROTOCOLO DE QUIOTO ........................................................................................ 13


1.1 Breve histórico.................................................................................................................... 13
1.2 Os Mecanismo de Flexibilização........................................................................................ 15

2. O PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO DO PROJETO DE MDL .................................. 18


2.1 Estrutura institucional ......................................................................................................... 18
2.2 O ciclo do projeto de MDL................................................................................................. 19
2.2.1 A elaboração, aprovação e registro do DCP .................................................................. 21
2.2.2 Monitoramento, verificação, certificação e validação .................................................... 24
2.2.3 O processo de certificação de projetos de pequena escala ............................................. 25
2.2.4 O processo de certificação de projetos de florestamento e reflorestamento .................. 26

3. PROCEDIMENTOS PARA SUBMISSÃO DE ATIVIDADES DE PROJETO NO


ÂMBITO DO MDL NO BRASIL..................................................................................... 28

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 30


REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 34
ANEXOS ................................................................................................................................. 36
9

INTRODUÇÃO

O crescente aumento da temperatura terrestre registrado ao longo dos anos


pode sugerir uma relação com a crescente emissão e concentração de gases de efeito estufa na
atmosfera (GEE)1; e que estas, por ventura, teriam sido maximizadas com o advento da
revolução industrial. Nesse sentido, a intensificação do processo de aquecimento global pode
ser atribuída ao aumento da queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural),
presente nas mais variadas atividades do ser humano, tais como criação de energia via
termoelétricas, desmatamento de florestas, circulação de veículos, processos industriais, entre
outros.

Embora o clima da Terra passe por um processo natural de variação, comporta-


se como um alerta preocupante o fato de que a velocidade e a intensidade das mudanças
observadas sejam incompatíveis com o tempo necessário para a adaptação natural da
biodiversidade e dos ecossistemas às mesmas (GORE, 2006).

Resumidamente, o efeito estufa nada mais é do que esse processo natural de


regulação da temperatura na Terra. Como exemplificado na ilustração a seguir, a emissão de
radiação por parte do sol é transmitida em direção ao nosso planeta. Parte dessa energia é
absorvida, o que garante um clima próspero para a sobrevivência das espécies em diversas
áreas do globo. O restante da radiação é refletido na forma de radiação infravermelha. Os
gases de efeito estufa criam por sua vez uma película entre a atmosfera terrestre e o espaço
que acaba por bloquear e retransmitir parte da irradiação de volta para o planeta.

1
De acordo com as determinações do Protocolo de Quioto, são considerados gases do efeito estufa: dióxido de
carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hezafluoreto de enxofre (SF6), e as famílias dos
perfluorcarbonos PFCs e dos hidrofluorcarbonos HFCs.
10

Figura 1: The Greenhouse effect. Fonte: <http://unfccc.int/essential_background/feeling_the_heat/items/3157.php>.


Acesso em: 07 out. 2010.

Destarte, o fator de maior preocupação envolvendo a temática seria justamente


que o aumento considerável da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera intensifica
o processo de reflexão de raios infravermelhos aumentando consideravelmente a temperatura
terrestre ano após ano. As principais evidências do aquecimento global são visualizadas nas
extremas mudanças climáticas que algumas áreas apresentam na atualidade, tais como o
derretimento da calota polar, o aumento do número de tempestades, furacões, secas,
enchentes, ciclones, da acidez dos oceanos, entre outras catástrofes naturais.

Os relatórios divulgados pelo Intergovernment Panel on Climate Change


(IPCC)2, maior autoridade científica da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as
causas e efeitos do aquecimento global, evidenciam cenários preocupantes acerca das
consequências vindouras desse evento. São estimados, como impactos globais, sérios danos
aos ecossistemas, às bacias hidrográficas e à agricultura. Nesse sentido, o aquecimento global
seria responsável direta e indiretamente por prejuízos econômicos, sociais e ambientais, tais
como exemplo o aumento do número de óbitos devido à disseminação de doenças e enchentes
ou pela destruição de parques turísticos hoje existentes. Afetando assim todos os países do
globo.

2
Disponível em: <http://www.ecolatina.com.br/pdf/IPCC-COMPLETO.pdf>. Acesso em: 10/10/2010.
11

O aumento da conscientização global, principalmente a partir da década de 80,


de que as desmedidas ações antrópicas de utilização dos recursos naturais do planeta
demonstravam um sério risco à continuidade da existência da vida das espécies, iniciou uma
série de debates que culminaram na formulação de possibilidades para combater os efeitos
ocasionados pelo aumento da temperatura da Terra. Dessa arte, na busca de medidas que
auxiliassem na solução do embate, foram estabelecidas, nas discussões mantidas na ONU, três
principais diretrizes visando o combate ao problema do aquecimento global.

Essas três medidas, originárias das negociações mantidas pelos países-


membros da ONU, encontram-se principalmente no texto do Protocolo de Quioto, tratado
internacional que determina compromissos e metas concretas para a redução da emissão de
gases do efeito estufa no mundo. As soluções estipuladas permeiam principalmente a
adaptação à atual situação, o incentivo à busca por novas tecnologias e a política de ações
conjuntas para a redução da emissão dos gases. Esses instrumentos de redução de emissões se
baseiam, então, sobre:

 Implementação Conjunta (IC) de projetos;


 Comércio de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs);
 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

O Protocolo de Quioto, em suas determinações, criou uma espécie de mercado


comumente denominado de Mercado de Carbono. A comercialização de taxas de redução de
emissões possibilita que países desenvolvidos invistam em quantitativos de redução em outras
localidades com o intuito de minimizar os efeitos que a redução brusca das reduções de gases
tóxicos causaria em suas economias. Criando por essa via, alternativas para os países que tem
obrigação de efetivar reduções e possibilidades de investimento em países que ultrapassam
sua cota de redução nas emissões.

Segundo tais preceitos, aponta-se o papel destaque que países em


desenvolvimento, em especial o Brasil, exercem nesse contexto. As oportunidades de troca de
tecnologias, investimentos e o desenvolvimento sustentável, respaldados na implantação de
projetos no território brasileiro mostram-se como ganhos efetivos merecedores de incentivos.
Nesse contexto, o Brasil se destaca como um dos países como maior potencial de exportação
de créditos de carbono no mundo, principalmente pelas suas possibilidades de geração de
energia através de fontes renováveis.
12

A ideia da pesquisa surgiu diante do paradoxo estipulado entre a ampla


divulgação dos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e seus benefícios em
contrapartida ao quase desconhecido processo que engloba sua implantação e aprovação no
território brasileiro. Dessa maneira, visa-se a compreensão do terceiro instrumento de
redução, o MDL, como também, a manifestação dos procedimentos necessários para a
aprovação e implantação dessa linha de projetos no Brasil; com o objetivo da geração de
créditos de carbono para comercialização, conforme estipulado no Protocolo de Quioto.

Seguindo a linha de raciocínio utilizada na concepção do texto, após o breve


levantamento teórico acerca do aquecimento global, será iniciada no primeiro capítulo a
contextualização acerca da história envolvendo a aprovação do Protocolo de Quioto e dos
Mecanismos de Flexibilização.

Com a base necessária esclarecida, o capítulo dois dará enfoque às diretrizes


normativas necessárias para a aprovação dos referentes projetos. Nesse trecho, após a
apresentação da estrutura institucional envolvida, será esmiuçado todo o processo que um
projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo tem de percorrer para lograr que suas
atividades sejam aprovadas; abordando assim, desde as fases iniciais, pautadas na concepção
do programa de redução, passando pelas fases de validação e monitoramento e,
consequentemente, findando na expedição das certificações de redução de emissões. Como
último adendo, o capítulo segundo também comportará a análise do processo de certificação
para duas modalidades genéricas de projeto: os de pequena escala e os de
florestamento/reflorestamento.

O terceiro capítulo, tal como um complemento do anterior, contará especificamente


com o delineamento particular do processo brasileiro, exigido para a aprovação e validação
das atividades de projetos em âmbito do MDL juntamente à Comissão Interministerial de
Mudança Global do Clima. Por fim, em suas considerações finais, a presente pesquisa se
utilizará de organogramas explicativos, que se pautarão como um fecho, ilustrando todo o
conteúdo supracitado; com o intuito de resumir e facilitar a compreensão de todas as
indicações, provendo uma melhor assimilação às etapas exigidas para a aprovação de projetos
de MDL e os prazos requeridos pelos órgãos superiores.
13

1. O PROTOCOLO DE QUIOTO

1.1 Breve histórico

A movimentação internacional em prol das discussões que envolvem as


questões ambientais têm sua origem registrada já a algumas décadas. No ano de 1972, na
Suécia, essa temática esteve presente na Grande Conferência de Estocolmo. Nas reuniões
internacionais conseguintes, que versavam sobre o assunto, ficou cada vez mais clara a ideia
de que a preservação da biodiversidade pautava-se como assunto primordial para a
sobrevivência dos homens na Terra. Não obstante, esse assunto também deveria ser
administrado conjuntamente, tanto por “países em desenvolvimento”, quanto por países que já
atingiram um maior nível de industrialização.

Revelou-se imprescindível para a evolução das discussões a divulgação do


primeiro relatório de avaliação realizado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas. Com o respaldo oferecido pela autoridade da comunidade científica internacional
da época, este documento forneceu os subsídios fundamentais tanto para a condução das
negociações acerca dos mecanismos que viriam a ser adotados, como também serviu de
referência para a formação da opinião pública internacional sobre a questão da mudança
climática (GOLDEMBERG, on-line).

O primeiro instrumento internacional multilateral a versar sobre as alterações


climáticas da Terra surgiu nesse contexto. Em 1992, em conferência realizada na cidade do
Rio de Janeiro, a Eco-92, representantes de mais de 178 países projetaram a Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ou em inglês, United Nations
Framework Conference on Climate Change (UNFCCC). Segundo Gabriel Sister, (2007, p.7),
“a maior evolução do referido instrumento foi o reconhecimento por um grande número de
países de que o sistema climático é um recurso compartilhado cuja estabilidade pode ser
afetada por emissões de dióxido de carbono e outros gases que causam o efeito estufa.”
14

A Convenção-Quadro assumiria, então, o papel de um tratado internacional.


Uma vez com o projeto bem definido, e com a confirmação de que os países cumpririam o
acordo, tal instrumento seria enriquecido por sucessivas reuniões, com o intuito de que os
países signatários discorressem sobre as possibilidades de ação perante o problema do
aquecimento global. Também constariam atividades de análise de relatórios, com o objetivo
do desenvolvimento e implantação de técnicas para o cumprimento de metas em prol da
redução das emissões de gases do efeito estufa. Desde o início de sua vigência e até a
apresentação desta pesquisa, foram realizadas quinze reuniões denominadas de Conferencias
das Partes (COP).3

Pautando-se na importância dos resultados obtidos, destaca-se entre as demais,


a conferência de Quioto (COP-3), realizada no ano de 1997, na cidade de Quioto, no Japão.
Durante sua realização foi logrado o consenso a respeito das trocas de tecnologia e dos
mecanismos que seriam praticados e posteriormente compilados no documento que ficou
amplamente conhecido pela comunidade internacional como Protocolo de Quioto. Não
somente com o objetivo de mitigar o efeito estufa, a assinatura do tratado também tinha o
objetivo de incentivar o desenvolvimento sustentável nos países subdesenvolvidos.

Com o objetivo de reverter a tendência histórica de crescimento da temperatura


terrestre os países participantes da Convenção-Quadro foram divididos em dois grupos com
diferentes responsabilidades. O primeiro, denominado Anexo I4, seria formado principalmente
pelos países com alto grau de desenvolvimento industrial, como também pelos países
industrializados do leste europeu, recém-desfeitas repúblicas comunistas, que transitavam
para a economia de mercado. Esse bloco teria responsabilidades maiores com relação às
metas de redução das emissões de poluentes na atmosfera. Os demais países, apesar de não
necessariamente terem compromissos com as reduções, ficariam obrigados a elaborarem, para
controle, inventários nacionais de emissões de carbono (VIOLA, 2003).

A diferenciação dos países sustenta-se no princípio base do protocolo presente


em sua redação, onde as responsabilidades perante as mudanças climáticas seriam de todos,
porém diferenciadas. O acordo ratificado pelo protocolo, visando não apenas a redução de

3
Segundo dados do portal “COP16”, a décima sexta reunião terá espaço entre os dias 29 e 10 de dezembro de
2010, Cidade do México, México. Disponível em: <http://cc2010.mx/es/>. Acesso em: 15/10/2010.
4
São países integrantes do Anexo I: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Bulgária, Canadá, Dinamarca,
Eslováquia, Espanha, Estados Unidos da América, Estônia, Federação Russa, Finlândia, França, Grécia,
Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Letônia, Liechtenstein, Luxemburgo, Mônaco, Noruega, Nova
Zelândia, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do norte, República Checa,
Romênia, Suécia e Suíça.
15

CO2 da atmosfera, mas sim de todos os GEE, estabeleceu que os países do Anexo I deveriam
promover, entre os anos de 2008 e 2012, a redução de pelo menos 5% das emissões de
poluentes em relação aos índices catalogados em 1990, salvo alguns países com economia em
transição, detentores de outras datas como ano base. As reduções seriam catalogadas em
unidades de carbono, sendo que cada tonelada métrica de carbono representa uma unidade de
redução de emissão.5 Na tabela a seguir, encontram-se os países do Anexo I e suas respectivas
metas de redução.

Tabela 1: Anexo I e Metas de emissão. Fonte: BRASIL, 2004.

Países Integrantes do Anexo I do Protocolo de Quioto Metas de


Emissão de
CO2
Áustria, Bélgica, Bulgária, República Tcheca, Dinamarca, Estônia,
Comunidade Européia, França, Alemanha, Grécia, Itália, Liechtenstein,
Lituânia, Luxemburgo, Mônaco, Finlândia, Portugal, Eslováquia,
Eslovênia, Espanha, Países Baixos, Irlanda, Romênia, Suécia, Suíça,
Letônia, Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte -8%
Estados Unidos* -7%
Canadá, Hungria, Japão e Polônia -6%
Croácia -5%
Nova Zelândia, Federação Russa, Ucrânia 0%
Noruega 1%
Austrália 8%
Islândia 10%
*País que não ratificou o Protocolo de Quito

1.2 Os Mecanismo de Flexibilização

Se por um lado a adoção de medidas mitigadoras do aquecimento global pautava-se


como imprescindível às futuras gerações na Terra, por outro, as modificações no modo de

5
Índice divulgado pelo segundo relatório do IPCC, utilizado para uniformizar as quantidades dos diversos gases
de efeito estufa em termos de dióxido de carbono equivalente, possibilitando assim, que a redução na emissão
de outros gases possa ser quantificada.
16

produção que os países deveriam protagonizar acabava por interferir negativamente na


resolução da questão. Nesse sentido, com a intenção de assegurar uma transição
economicamente viável a todos, o Protocolo de Quioto, para a viabilização do alcance das
metas de redução por parte dos países do Anexo I, estabeleceu três mecanismos de
flexibilização:

 Implementação Conjunta (IC) de projetos;


 Comércio de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs);
 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

O art. 6° do Protocolo de Quioto6, contendo as informações base do primeiro


mecanismo mencionado, informa que somente países do Anexo I podem se utilizar de seus
benefícios. A IC possibilita que países do Anexo I transfiram ou adquiriam créditos de
redução de GEE entre si. Dessa forma, o mecanismo também possibilita o envolvimento de
setores privados, principalmente no que tange à área de transferência de tecnologias limpas de
desenvolvimento.

Com base no art. 17 do mesmo protocolo7, os países do Anexo I podem


negociar seus limites de emissões entre si, com o objetivo maior de cumprir suas metas de
redução. Ressalta-se que o respectivo mecanismo deve vir acompanhado de esforços
domésticos em prol da redução de emissões.

Conforme o art. 12 do Protocolo de Quioto8, o MDL tem por finalidade assistir


os países partes do Anexo I que não conseguiriam cumprir suas metas de redução de emissões
em seu próprio território. Sendo assim, o único mecanismo de flexibilização que permite a
participação dos países emergentes no mercado de carbono. Para cumprir seus objetivos, o
mecanismo consente que, através da cooperação internacional, países que não fazem parte do
Anexo I, possam receber investimentos externos para a implantação de projetos de captura de
carbono em seu território. O instrumento de troca do MDL seriam justamente as Reduções
Certificadas de Emissões (RCEs)9, que podem ser utilizadas, pelos países do Anexo I, como
comprovações de suas metas de redução de emissões estabelecidas no Protocolo de Quioto
(MOREIRA, 2005, p.26).
6
Ver anexo A – art. 6 completo.
7
Ver anexo B – art. 17 completo.
8
Ver anexo C – art. 12 completo.
9
As Reduções Certificada de Emissões – RCEs – são as unidades certificadas de redução previstas no Protocolo
de Quioto, cada unidade é igual a uma tonelada métrica de equivalente de CO2, a partir do potencial global de
aquecimento.
17

É importante ressaltar que o MDL deriva da uma proposta brasileira.


Apresentada em maio de 1997 ao Secretariado da Convenção em Bonn, na Alemanha. A
proposta inicial foi a criação de um Fundo de Desenvolvimento Limpo (FDL), no qual os
países inadimplentes com relação às suas metas de redução de emissões depositariam valores
que seriam utilizados pelo países em desenvolvimento com objetivo de ajudar esses países no
desenvolvimento tecnológico de modo a evitar que os países em desenvolvimento
cometessem os mesmos erros dos países desenvolvidos (MOREIRA apud LEAL, 2005).

A proposta do Brasil não foi aceita, sendo substituída, em Quioto, pela criação
do MDL, que possibilita aos países desenvolvidos, que possuem metas de reduções descritas
no Protocolo de Quioto, a oportunidade de adquirir certificados de redução de emissões de
gases de efeito estufa em projetos gerados e implementados em países em desenvolvimento,
como forma de cumprir parte de suas metas de redução.

Dessa forma, o processo de inovação tecnológica vivido pelos países em


desenvolvimento seria arraigado pelas iniciativas sustentáveis, garantindo assim, a introdução
de modos de produção com menores intensidades de emissão de GEE, e ao mesmo tempo
contendo as aspirações da proposta inicial apresentada pelo Brasil. Não obstante, também
ressaltasse que o MDL deve ser utilizado apenas como forma de complementar o
cumprimento das metas estipuladas para os países do Anexo I. Por consequência dessa regra,
esses são compelidos a também gerarem políticas domésticas de desenvolvimento sustentável.
18

2. O PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO DO PROJETO DE MDL

2.1 Estrutura institucional

Durante as discussões da COP-7, ficou estabelecido que a estrutura


institucional de aprovação dos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo seria
composta pela Conferência das Partes (COP), pelo Conselho Executivo do MDL (CE) e pelas
Entidades Operacionais Designadas (EOD).

Segundo informações divulgadas no portal eletrônico do MDL10, além de


receber informações sobre os projetos, as funções da COP pautam-se na definição de regras e
metodologias relacionadas ao MDL. O Conselho Executivo tem creditado a si o papel de
supervisionar o funcionamento do MDL, credenciar as Entidades Operacionais Designadas,
registrar as atividades de projeto do MDL, emitir as RCEs, desenvolver e operar o registro do
MDL. Ainda sob a responsabilidade do Conselho Executivo, está o trabalho de estabelecer e
aperfeiçoar as metodologias utilizadas para a padronização das mais variadas etapas de um
projeto, tais como formulação da linha de base, estudos de monitoramento e cálculo de fugas.
Esses temas serão discutidos posteriormente por essa pesquisa.

Conforme registrado no art. 12 § 5°, do Protocolo de Quioto, Um projeto de


MDL apenas poderá ser implantado caso as reduções comprovadas sejam certificadas por
uma EOD, que por sua vez atestaria que o envolvimento dos países nas atividades é
voluntário e que o projeto contribuirá para o desenvolvimento sustentável do país hospedeiro,
além é claro de aprovar as atividades de projeto do MDL.

No Brasil, a Autoridade Nacional Designada (AND), que exerce o papel de


aprovação, ou não, de projetos é justamente a Comissão Interministerial de Mudança Global
do Clima (CIMGC), presidida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e vice-
presidida pelo Ministério do Meio Ambiente, indo de acordo com o disposto no art. 3º, inciso
10
Portal do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Ministério da Ciência e Tecnologia. Disponível em:
<http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/4007.html>. Acesso em: 20 out. 2010.
19

IV, do Decreto Presidencial de 7 de julho de 1999 que instituiu a referida Comissão, e


alterada pelo Decreto de 10 de janeiro de 2006.11 A respectiva Comissão ainda conta com
representantes dos Ministérios das Relações Exteriores; da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento; dos Transportes; das Minas e Energia; do Planejamento, Orçamento e Gestão;
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Casa Civil da Presidência da
República. Sua secretaria executiva é regida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.

2.2 O ciclo do projeto de MDL

O art. 12 do Protocolo de Quioto, que versa sobre o MDL, pauta-se


principalmente em dois objetivos fundamentais:

a.) Ajudar os países não signatários do Anexo I a conquistar o desenvolvimento


sustentável;
b.) Ajudar os países do Anexo I a lograrem suas metas de redução e limitação de emissões
de gases do efeito estufa.

Dessa arte, o MDL trabalha como um mecanismo de cooperação internacional,


estimulando o apoio dos países do Anexo I ao financiamento de projetos sustentáveis nos
países subdesenvolvidos. Promovendo, do mesmo modo, grande oportunidade para a
utilização de fontes energéticas renováveis. E ainda, possibilitando ganhos com transferências
tecnológicas e recursos externos por parte dos países do Anexo I interessados na obtenção de
CREs. Destaca-se também que a participação em um projeto de MDL fica aberta tanto para
entidades públicas quanto para entidades privadas que recebam autorização prévia das
primeiras, viabilizando, dessa maneira, parcerias entre o setor público e privado.

No que tange aos elementos centrais do acordo, a participação em um projeto


de MDL deve acima de tudo ser voluntária e respeitar uma série de princípios. O
questionamento da voluntariedade ganha importância a nível nacional principalmente nos
casos de necessidade da manutenção de reservas legais de vegetação. De acordo com o

11
Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/4016.html>. Acesso em: 14/10/2010.
20

Código Florestal Brasileiro, a Lei n° 4771, de 15 de setembro de 196512, prevê a imposição


legal, coagindo o proprietário rural a conservar a biodiversidade, protegendo a fauna e flora
nativas em parte de sua propriedade. Diante do exposto, essas atividades estariam
impossibilitadas de se enquadrarem como possíveis projetos de MDL, indo contrariamente ao
princípio da voluntariedade (SISTER, 2007, p.23).

Conforme os princípios da equidade e da suplementaridade, previstos no texto


do tratado, os países do Anexo I apenas podem se utilizar das RCEs vindouras de um projeto
consolidado como forma de suplementação às ações domésticas que os mesmos têm por dever
realizar, com o objetivo de reduzirem suas emissões de poluentes. As atividades específicas
também devem estar exclusivamente relacionadas a determinados tipos de gases do efeito
estufa e aos setores/fontes de atividades responsáveis pela maior parte das emissões, conforme
previsto no Anexo A do Protocolo de Quioto. O quadro a seguir demonstra a correspondência
entre os setores, as fontes de atividades e os respectivos gases do efeito estufa.

Setores Energia Processos industriais Agricultura Resíduos


Gases CO2 – CH4 – N20 CO2 – N20 – HFCs – PFCs – SF6 CH4 – N20 CH4
Queima de . Produtos minerais . Fermentação . Disposição
combustível entérica de resíduos
. Setor Energético . Indústria química sólidos
. Tratamento de
. Indústria de dejetos
. Tratamento
Atividades e Fontes

transformação . Produção de metais


. Indústria de . Cultivo de de esgoto
arroz sanitário
construção . Produção e consumo de
. Transporte halocarbonos e hexafluoreto . Solos agrícolas
de enxofre . Tratamento
. Outros Setores . Queimadas de efluentes
Emissões Fugitivas líquidos
. Uso de solventes prescritas de
de combustíveis cerrado
. Combustíveis . Incineração
. Outros . Queimadas de de resíduos
Sólidos
resíduo agrícolas
. Petróleo e gás
natural
Remoção de CO2*
Florestamento/reflorestamento
Remove: CO2 e Libera: CH4 – N2O – CO2
*Autorizadas pela Decisão n° 17/CP.7 do Acordo de Marraqueche. Apesar de haver emissões de gases do efeito
estufa o resultado líquido é de remoção.

Quadro 1: Reduções de emissões de gases de Efeito Estufa. Fonte: LOPES, 2002, p. 12.

12
O texto encontra-se disponível na íntegra em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm>.
Acesso em 16 out. 2010.
21

Conforme o exposto por Sister (2007, p. 14), para que sejam validadas as
RCEs, as atividades do MDL devem, obrigatoriamente, passar pelas etapas de validação:

(1) Elaboração do Documento de Concepção do Projeto (DCP)13;


(2) Validação/aprovação;
(3) Registro;
(4) Monitoramento;
(5) Verificação/Certificação;
(6) Emissão e aprovação das RCEs.

2.2.1 A elaboração, aprovação e registro do DCP

De acordo com o abordado por Marchezi (2008, p.9), o primeiro passo para a
aprovação de um projeto é a elaboração do Documento de Concepção do Projeto,
responsável por informar as partes envolvidas no projeto e as principais diretrizes das
atividades planejadas. O DCP deverá constar de um relatório completo, detentor
principalmente das metodologias utilizadas para os cálculos e os estudos que envolverão a
atividade como um todo. A íntegra do DCP, aprovado pela COP-8 encontra-se disponível
para download no portal eletrônico do Ministério da Ciência e Tecnologia 14. Uma vez que
escolhida a EOD, buscar-se-á a validação e aprovação do desígnio junto ao órgão. O projeto
dar-se-á como digno de aprovação, se o seu documento de concepção transparecer em seu
corpo de redação os seguintes itens:

 Que se trata de um projeto voluntário, aprovado por ambas as partes;


 Que as atividades atenderão ao princípio da elegibilidade15;
 Existirá de fato uma redução adicional nas emissões de GEEs;
 Foi detalhado o limite do projeto (project boundary) e consideradas possíveis
“fugas” (leakage);
 Que a análise de impacto ambiental foi realizada e documentada, respeitando a
legislação ambiental do país hospedeiro;

13
Ou do inglês, Project Design Document (PDD).
14
Link para o download: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/14442.html>. Acesso em 20 out.
2010.
15
De acordo com o previsto no Protocolo de Quioto.
22

 Que está integrado ao documento um plano de monitoramento das futuras


atividades;
 Que o período de obtenção dos créditos foi definido.16

Com isso, garante-se que as emissões antropogênicas de gases do efeito estufa


(GEE) serão menores do que as que ocorreriam na ausência do projeto; e/ou o sequestro de
carbono será maior do que aquele que ocorreria em sua ausência.

O detalhamento do limite do projeto abrange todas as emissões de GEE que


sejam significativas para os projetos de MDL e que estarão sob o controle dos participantes
das atividades. Já o cálculo das fugas corresponde à quantificação de eventuais emissões de
GEE pelas próprias atividades do projeto, que apesar de indesejadas, devem ser mensuradas.
A metodologia de cálculo das fugas e do limite do projeto deve conter a descrição de todas as
fórmulas utilizadas pela equipe técnica organizadora do Documento de Concepção do Projeto
para o cálculo das emissões de GEE do projeto de MDL (LOPES, 2002, p.26).

Também nessa fase, é criada a linha base do projeto, caracterizada pela


elaboração do cenário que representaria as emissões antropogênicas de GEE que ocorreriam
na ausência do projeto e servindo de base tanto para a verificação da adicionalidade do projeto
quanto para a quantificação das RCEs. Estas são calculadas pela diferença entre as emissões
da linha de base e as emissões verificadas no decorrer das atividades do MDL, incluindo as
fugas. O gráfico a seguir ilustra exatamente essa diferença entre as perspectivas de um
ambiente natural (linha de base) comparadas com as mudanças previstas pela projeção da
atuação do projeto (pós-projeto), resultando por sua vez na adicionalidade, ou seja, na
previsão de redução de GEE aferida ao projeto (SISTER, 2007, p. 15).

16
Período de sete anos, com no máximo duas renovações; ou período de dez anos sem renovação.
23

Gráfico 1: Adicionalidade para legitimidade de projetos de MDL. Fonte: YOUNG, 2007.

A descrição e o estabelecimento de metodologias para o cálculo da redução de


emissões de poluentes, e mesmo a descrição das fórmulas utilizadas para os resultados
obtidos, são imprescindíveis para as fases posteriores de revisão e monitoramento, tornando-
se obrigatórias. De acordo com as orientações do Conselho Executivo do MDL, a linha base
do projeto e os procedimentos metodológicos que o nortearão devem se enquadrar e ser
justificados entre alguma das alternativas abaixo:

 Emissões status quo: emissões atuais ou históricas, conforme o caso;


 Condições de mercado: emissões de uma tecnologia reconhecida e
economicamente viável, levando em consideração as barreiras para o
investimento;
 Melhor tecnologia disponível: a média das emissões de atividades de projetos
similares realizadas nos últimos cinco anos anteriores à elaboração do documento
de projeto, em circunstâncias sociais, econômicas, ambientais e tecnológicas
similares, e cujo desempenho esteja entre os primeiros 20% de sua categoria.

Não obstante, as partes poderão também propor metodologias inovadoras,


dependendo, contudo, da aprovação do Conselho Executivo (LOPES, 2002).

Uma vez superada essa etapa, o projeto pode ser registrado diante do Conselho
Executivo do MDL, processo que tende a ocorrer em oito semanas após a entrega do relatório
e se trata, basicamente, da aprovação formal, necessária para a continuidade do processo de
aprovação. Além de poder aceitar a proposta, caso as práticas estejam de acordo com as
modalidades e procedimentos requeridos; o órgão superior poderá ainda tornar pública,
24

através da Entidade Operacional Designada, a decisão de revisão do projeto, caso este não
esteja de acordo com suas exigências. Esse procedimento possibilita que uma atividade de um
projeto negada possa vir a ser reconsiderada, de acordo com os itens necessários para sua
validação (BRASIL, 2008, p. 27).

2.2.2 Monitoramento, verificação, certificação e validação

De acordo com o guia desenvolvido por Vidigal Lopes (2002, p. 32), após a
aceitação formal do pedido, a etapa subsequente ocorre com o início dos trabalhos de
monitoramento, que analisarão, de acordo com as especificações determinadas na fase de
apresentação do DCP, se os resultados obtidos estão de acordo com as expectativas. Os
participantes do projeto (PP) estarão incumbidos dessa atividade; sendo de sua
responsabilidade também o envio de relatórios e a comunicação imediata de alterações, que
deverão ser submetidos à revisão e aprovação da EOD que as partes estabeleceram. Essa etapa
de verificação tem o objetivo de identificar se as reduções realmente estão acontecendo e que,
sobretudo, estas sejam adicionais, ou seja, não ocorreriam sem a iniciação das atividades do
projeto.

Pois bem. O que se cumprirá a partir desse ponto será a revisão periódica e
independente do projeto por parte da EOD, procedendo assim, com a fase de verificação e
monitoramento externo às atividades realizadas. Posteriormente, o que se espera é a
certificação por parte do Conselho Executivo do MDL, consistindo em uma comprovação
formal de que as emissões ou sequestro de carbono estão ocorrendo de acordo com o que foi
previamente estabelecido. A certificação é baseada no relatório de verificação e considerada
definitiva 15 dias após ter sido recebida pelo Conselho Executivo do MDL (SISTER, 2007).

Uma vez emitida, a declaração de certificação é encaminhada a ambas as partes


envolvidas e também ao Conselho Executivo do MDL. Através da certificação, torna-se
possível a solicitação da emissão das RCEs relativas à quantidade reduzida e/ou sequestrada
de carbono, sendo que cada unidade de RCE corresponde a uma tonelada métrica de dióxido
de carbono. Esse procedimento também respeitará o prazo de quinze dias; excetuando os
casos onde as partes ou três ou mais membros do Conselho Executivo pedem revisão das
RCEs emitidas, prorrogando o prazo para o parecer em mais trinta dias (LOPES, 2002).
25

As RCEs certificadas então são depositadas pelo administrador do registro do


MDL, subordinado ao Conselho Executivo, em uma conta aberta em nome das partes, bem
como dos participantes do projeto do MDL. Do valor a ser depositado é deduzido uma parcela
equivalente a 2% do valor total, que será utilizada em favor de um fundo de adaptação, cujos
favorecidos serão os países mais vulneráveis às adaptações adversas da mudança do clima.
Ainda, outra parcela, a ser determinada pela COP por recomendação do Conselho Executivo
do MDL, pode ser utilizada para cobrir as despesas do próprio projeto (BRASIL, 2006).

Como ponto sobressalente, destaca-se que a maior parte das fases de aprovação
de um projeto de MDL é de acesso público. De maneira explicativa, as próprias RCEs
atribuídas aos que apresentaram algum projeto certificado, são formalizadas e
disponibilizadas em endereço eletrônico, a saber: http://cdm.unfccc.int/Issuance/cers_iss.html.

2.2.3 O processo de certificação de projetos de pequena escala

A COP-8, desenvolvendo as discussões iniciadas no acordo de Marraqueche,


dividiu as atividades dos projetos de MDL em pequena e larga escala, aprovando o modelo
proposto contendo as diretrizes do Documento de Concepção de Projeto e as modalidades e
procedimentos para projetos de pequena escala (LOPES 2002). Faz-se necessário frisar que os
projetos de pequena escala são beneficiados com um ciclo de aprovação mais ágil e
desembaraçado, em relação ao descrito até agora, tendo o caminho percorrido até a emissão
das RCEs realizado com menor burocracia. Sendo as regras aplicáveis estabelecidas pelo
Conselho Executivo do MDL e aprovados pela COP17, são intitulados projetos de pequena
escala os que exercem:

 atividades energéticas renováveis com capacidade máxima de produção equivalente a


15 megawatts;
 atividades de melhoria da eficácia energética, que reduzam o consumo de energia até o
equivalente a 15 gigawatts/hora por ano;
 outras atividades que reduzam as emissões antrópicas e concomitantemente emitam
menos de 15 quilotoneladas de dióxido de carbono por ano.

17
O DCP para projetos de pequena escala está disponível na seção de formulários relativos ao MDL do site do
MCT: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/14442.html>. Acesso em 20 out. 2010.
26

 atividades de florestamento ou reflorestamento que devem gerar remoções antrópicas


líquidas de gases do efeito estufa por sumidouros inferiores a oito quilotoneladas de
dióxido de carbono por ano e que sejam desenvolvidas ou implementadas por
comunidades e indivíduos de baixa renda.

Impedidos de pautarem-se como um componente separado de uma atividade de


projeto mais ampla, as atividades de um projeto de pequena escala seguirão os estágios do
ciclo de um projeto especificado nas modalidades e procedimentos para um mecanismo de
desenvolvimento limpo contido no Anexo I da Decisão n° 17/CP-718. Conforme o documento,
os procedimentos serão simplificados, em consonância com o descrito em sua introdução:

(a) As atividades de projeto poderão ser agrupadas ou combinadas em uma pasta nos
seguintes estágios do ciclo de projeto: documento de concepção de projeto,
validação, registro, monitoramento, verificação e certificação. O tamanho do
conjunto total não deve exceder os limites estipulados na alínea c, parágrafo 6, da
decisão 17/CP.7;

(b) As exigências para o documento de concepção de projeto serão reduzidas;

(c) As metodologias de linhas de base por categoria de projeto serão simplificadas


para reduzir o custo de desenvolvimento de uma linha de base de projeto;

(d) Os planos de monitoramento serão simplificados, incluindo exigências


simplificadas de monitoramento, para reduzir os custos com o monitoramento;

(e) A mesma entidade operacional poderá realizar a validação, a verificação e a


certificação.

Segundo a própria análise de Sister (2007), o reconhecimento e autorização de


projetos de pequena escala no âmbito do MDL por parte da Conferência das Partes da
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC), foi
diretamente responsável para que um maior número de projetos fossem implantados e
beneficiados pelas oportunidades geradas pelo Protocolo de Quioto, incluindo os
implantandos no Brasil. Segundo a última compilação do site da CQNUMC, de 17 de agosto
de 2010, 43% das atividades de projetos nacionais eram de pequena escala.

2.2.4 O processo de certificação de projetos de florestamento e reflorestamento

Segundo enunciado por Lopes (2002), o termo “reflorestamento” aplica-se à


implantação de florestas em áreas naturalmente florestais que, por ação antrópica ou natural,
18
Disponível em: <http://www.mct.gov.br/upd_blob/0006/6701.pdf>. Acesso em: 16 out. 2010.
27

perderam suas características originais, sendo a data de 31 de dezembro de 1989 utilizada


como marco temporal para essa constatação. Por outro lado, entende-se como "florestamento"
a conversão induzida, diretamente pelo homem, de área que não era florestada naturalmente
por mais de 50 anos, em terra florestada. Ambas as modalidades preveem a prática do plantio,
da semeadura e/ou da promoção induzida de fontes naturais de sementes.

A COP-9, realizada em Milão, na Itália, aprovou as modalidades e os


procedimentos necessários para as atividades de projetos de florestamento e reflorestamento
no âmbito do MDL. Nada mais justo, uma vez que essa modalidade sustentável deva ser
realizada com extrema cautela, pois os resultados das intervenções antrópicas, muitas vezes,
podem ser contraproducentes, causando sérios impactos ambientais nas áreas em que se é
praticada.

Entre os requisitos específicos apontados na reunião e contidos nas normas do


estabelecidas na COP-9, destaca-se principalmente que o valor mínimo da cobertura de copa
das árvores seja de 30%; que o valor mínimo da área trabalhada tenha um hectare e; que as
árvores tenham pelo menos cinco metros de altura. Em relação ao ciclo do processo, as
mesmas seis etapas deverão ser seguidas, a saber: (I) elaboração do DCP19; (II)
validação/aprovação; (III) registro; (IV) monitoramento; (V) verificação/certificação; (VI)
emissão e aprovação das RCEs, todas também seguindo o modelo abordado anteriormente.

A adicionalidade de um projeto dessa natureza deverá ser comprovada por


meio do aumento das remoções líquidas de GEE por sumidouros, que devem ultrapassar a
soma das mudanças dos estoques de carbono que teriam ocorrido em sua ausência. Apesar da
relativa semelhança de requisitos, modalidades e procedimentos para com os projetos
genéricos de MDL, os de reflorestamento e florestamento terão sua singularidade pautada na
emissão de RCEs, podendo estas serem de duas naturezas distintas (LOPES, 2002).

Destarte, as RCEs serão consideradas de caráter temporário (RCEt) quando as


atividades perderem a validade ao final do período de compromisso subsequente àquele em
que foi emitido. Em contrapartida, as RCEs serão ditas de longo prazo (RCEl), quando
emitidas de um projeto cuja atividade perde a validade ao final do período de obtenção de
créditos, ou no caso de um período renovável de obtenção de créditos da atividade de
florestamento e reflorestamento (SISTER, 2007).

19
Assim como os outros DCPs, o mesmo encontra-se disponível no site do MCT:
<http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/14442.html>. Acesso em: 20 out. 2010.
28

3. PROCEDIMENTOS PARA SUBMISSÃO DE ATIVIDADES DE PROJETO NO


ÂMBITO DO MDL NO BRASIL

Embora o ciclo de aprovação de um projeto de MDL já tenha sido detalhado,


caberá a essa pesquisa levantar também as particularidades da etapa de aprovação em âmbito
nacional de atividades dessa categoria. Assim sendo, uma vez manifestado o interesse da
regularização de um projeto, as partes nacionais deverão seguir uma série de procedimentos
específicos, presentes principalmente no art. 3 da 1ª Resolução da CIMGC20, principalmente
os correlatos ao envio de documentos à Secretaria Executiva da Comissão Interministerial.

A lista de exigências, referidas no art. 3, será composta pelo DCP específico de


redução de emissões de pequena escala/larga escala ou ainda de projeto de reflorestamento,
sendo este último também dividido entre pequena e larga escala. O documento deverá ser
enviado tanto na versão em inglês quanto em sua tradução fiel para o português, a fim de que
tanto o Conselho Executivo quanto a Comissão Interministerial possam avaliar os projetos.

O documento descrevendo as contribuições ao desenvolvimento sustentável,


comumente chamado de “Anexo III”, deverá enfatizar as contribuições das atividades do
projeto, deixando-as separadas de outras possíveis atividades desenvolvidas pelo autor
responsável pelo projeto. Os itens que deverão ser abordados pautam-se em: sustentabilidade
ambiental local; desenvolvimento das condições de trabalho e a geração líquida de empregos;
distribuição de renda; capacitação e desenvolvimento tecnológico; e integração regional e a
articulação com outros setores. Lembrando que, as reduções das emissões vindouras do
projeto não se constituem em sustentabilidade local, mas sim, global.

Partindo da premissa de que o projeto de MDL se relaciona indiretamente com


atores que vão além das partes que darão entrada ao processo, se faz obrigatório a
comunicação das atividades com todas as partes afetadas pelas atividades. Visto isso, devem
ser enviadas cartas-convite com aviso de recebimento, claramente endereçadas, quinze dias
antes do período de validação do projeto, com explicações acerca das diretrizes do referido
projeto, aos principais atores interessados ou afetados. Entre os muitos atores que podem ser

20
O documento pode ser lido na íntegra no portal eletrônico do Ministério da Ciência e Tecnologia:
<http://www.mct.gov.br/upd_blob/0023/23433.pdf>. Acesso em: 18 out. 2010.
29

lembrados, destacam-se os de ordem política (prefeituras, câmara de vereadores, assembleias


legislativas), os de ordem jurídica (Ministério Público da União), e também os de origem
civil, tais como associações comunitárias ou Organizações não Governamentais. Por último,
todas as cópias devem ser endereçadas juntamente à Comissão Interministerial acompanhadas
pelos avisos de recebimento (BRASIL, 2008, p.19).

De acordo com o inciso III do supracitado artigo da resolução, as partes


também deverão providenciar o Relatório de Validação (Validation Report) da atividade do
projeto preparado pela EOD designada. Esse relatório, que também deve ser traduzido para o
português, tem por obrigação fazer menção à versão do documento de concepção e às
metodologias utilizadas. Além disso, o relatório de validação necessita ser livre de qualquer
ressalva ou pendência.

Afora o envio dos documentos mencionados anteriormente, um projeto de


MDL que vise certificação, também precisa ser associado a uma sequência de declarações
assinadas pelos participantes nacionais do projeto:

 Declaração sobre o responsável pelo projeto e meios de contato do mesmo;

 Declaração de conformidade com a legislação ambiental;

 Declaração de conformidade com a legislação trabalhista;

 Declaração comprobatória da competência da Entidade Operacional Designada pelas


partes;

Como alvitre, outros inscritos complementares, que as partes considerarem


pertinentes para a fundamentação do projeto, também poderão ser anexados ao conjunto de
documentos. Uma vez compilada, a documentação deverá ser endereçada ao Secretário
Executivo da CIMGC. Como resposta, os pedidos podem ser aprovados; aprovados com
ressalvas; serem pertinentes de revisão ou terem sua carta de aprovação anulada e revogada.
Pautando-se no primeiro cenário, a Carta de Aprovação será encaminhada após a reunião da
Comissão Interministerial que aprovou o projeto. Sendo por sua vez, emitida pelo Sr. Ministro
da Ciência e Tecnologia no menor prazo possível (BRASIL, 2008).
30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As informações dessa pesquisa tiveram como objetivo apresentar um breve


histórico a respeito das discussões internacionais sobre as mudanças climáticas; e, que
culminaram na ratificação do Protocolo de Quioto. Uma vez explorado o assunto, o foco do
texto voltou-se aos três principais mecanismos de flexibilização propostos no acordo
internacional supracitado, que por sua vez, alimentariam o mercado internacional de carbono.
Posteriormente, a ênfase do trabalho foi destinada à terceira iniciativa apresentada – o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – principalmente no que tange à temática dos ciclos
de aprovação de um projeto de MDL.

De modo geral, as atividades de projetos do Mecanismo de Desenvolvimento


Limpo são passíveis de negociação e mostram-se interessantes à maioria dos países. Para as
nações em desenvolvimento, destaca-se o incentivo ao desenvolvimento sustentável
viabilizado pelas novas oportunidades de investimento e pelo atrativo de capitais externos.
Por sua vez, os países signatários do acordo e pertencentes ao Anexo I, também teriam seu
benefício garantido ao serem auxiliados a atingirem suas metas de redução de emissões de
gases de efeito estufa de forma custo-efetiva.

Não obstante, as atividades relacionadas a esse tema também envolvem outros


agentes, tais como organizações não governamentais, corporações, corretores, bancos de
desenvolvimento e outros investidores. Assim, são criadas também novas oportunidades de
projetos e negócios, podendo resultar desde a difusão de tecnologias, passando pela promoção
do marketing institucional e até mesmo a diversificação de carteiras de investimento.
Sobretudo, o resultado final de cada projeto contempla a promoção do desenvolvimento
sustentável e contribui para a mitigação dos efeitos da mudança do clima na Terra.

Na figura a seguir, encontramos uma representação básica sobre os produtos


das atividades de um projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, e as possíveis ações
subsequentes que os investidores podem tomar uma vez detendo as Reduções Certificas de
Emissões – RCEs.
31

Figura 2: Possíveis resultados de um projeto de MDL. Fonte: LOPES 2002.

Há clara sinalização de que o governo brasileiro vem desempenhando papel


fundamental na viabilização e fomento dos projetos de MDL. Corroboram com esse fato, não
só o papel de destaque nas discussões que anteciparam sua gênese, mas também sua ativa
contribuição para o fortalecimento dos Mecanismos de Flexibilização e o grande potencial
energético disponível em território nacional. Segundo dados divulgados pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia, checados na entrega dessa pesquisa, o Brasil ocupa a terceira posição
do ranking de países com maior quantidade de projetos, dos quais 7% são de origem
brasileira. Não obstante, com relação aos projetos já aprovados, o país também detém o
terceiro lugar, com 175 dos 2.323 projetos registrados junto ao Conselho Executivo do MDL.

No que tange às fases do ciclo de aprovação, foram discutidas as seis etapas


necessárias para a consolidação das atividades de um projeto de MDL, com o viés de se
garantirem as RCEs. Com o intuito de aglutiná-las, e tornar mais didática sua compreensão,
apresenta-se o quadro a seguir, resumindo todo o processo analisado até agora.
32

Entidade
Etapa Definição
Responsável
1. Primeira etapa do ciclo do projeto. Documento que
Documento de contempla todas as informações necessárias para a Participantes
Concepção do validação/registro, monitoramento, verificação e do projeto
Projeto – DCP certificação das RCEs.

Validação é o processo de avaliação independente de uma Entidade


atividade de projeto por uma Entidade Operacional Operacional
Designada, tendo o DCP como base dessa análise. Designada
2.
Aprovação é o processo pelo qual a Autoridade Nacional (EOD) e
Validação/
Designada das partes envolvidas confirmam a participação Autoridade
Aprovação
voluntária e também onde a AND do país anfitrião do Nacional
projeto atesta que as atividades desenvolvidas pelo projeto Designada
contribuirão para o desenvolvimento sustentável da região. (AND)

3. Aceitação formal da atividade do projeto, pré-requisito Conselho


Registro para as etapas subsequentes. Executivo

Monitoramento das atividades do projeto, que deve


4.
apresentar a compilação de dados para o cálculo da Participante
Monitorament
redução das emissões de gases de efeito estufa, de acordo s do projeto
o
com a metodologia de linha de base estabelecida no DCP.

Verificação é o processo de auditoria periódico e


5. independente realizado pela EOD para revisão das Entidade
Verificação/ reduções de emissões vindouras do projeto analisado, com Operacional
Certificação o intuito de verificar se a redução nas emissões de fato Designada
ocorreram.

Encerra o ciclo aprobatório do projeto. Quando existe a


certeza de que as reduções de gases do efeito estufa
6. Conselho
decorrentes das atividades do projeto são reais,
Emissão Executivo
mensuráveis e de longo prazo. Sendo assim, emitidas as
RCEs, creditadas aos participantes do projeto.
Quadro 2: As etapas do ciclo do projeto. Fonte: Lopes 2002.

Insta, finalmente, como forma de enriquecer o conteúdo exposto, a


apresentação de dois organogramas. O primeiro desses modelos apresenta toda a matéria
exposta no quadro acima, permitindo uma análise visual e ampla de todo o conteúdo exposto,
principalmente concentrado no Capítulo 2 dessa pesquisa. Já o segundo, pretende esclarecer
mais objetivamente a segunda etapa do ciclo de um projeto, a de aprovação nacional, tal como
debatido no Capítulo 3.
33

Figura 3: Ciclos de aprovação de projeto. Fonte: LOPES, 2002.

Figura 2: Prazos para submissão, divulgação e aprovação de projeto. Fonte: BRASIL, 2008.
34

REFERÊNCIAS

BRASIL. Comissão Interministerial de Mudança do Clima. Resolução n° 1. 11 de set. 2003.


Disponível em: <http://www.mct.gov.br/upd_blob/0023/23433.pdf>. Acesso em: 20 out.
2010.

________________________. Resolução n° 3. 24 de mar. 2006. Disponível em:


<http://www.mct.gov.br/upd_blob/0006/6701.pdf>. Acesso em: 20 out. 2010.

BRASIL. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Que institui o novo Código Florestal brasileiro.
Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil: Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm >. Acesso em: 20 out. 2010.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. MDL Ilustrado. Tradução de Anexandra de A.


Ribeiro, v, 8.0, jul. 2009. Disponível em:
<http://www.mct.gov.br/upd_blob/0204/204967.pdf>. Acesso em: 20 out. 2010.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia, Comissão Interministerial de Mudança Global


do Clima. Manual para Submissão de Atividades de Projetos no Âmbito do MDL.
Brasília, jul. 2008.

BRASIL. Protocolo de Quioto e Legislação Correlata. Coleção Ambiental – v.3. Senado


Federal. Brasília: Subsecretaria de Edições Técnicas, 2004.

Endereço virtual. Portal do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Ministério da


Ciência e Tecnologia. Disponível em:
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out. 2010.

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35

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<http://www.memorial.sp.gov.br/memorial/AgendaDetalhe.do?agendaId=793>. Acesso em:
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MARCHEZI, Roberta da S. M.; AMARAL, Sergio P.; SANTOS, Helio R. da F.; CARDOSO,
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Limpo. Texto apresentado na II Conferência da América da Sul sobre Mudança Climática.
São Paulo, 2007.
ANEXOS
37

ANEXO A

Artigo 6 do Protocolo de Quioto

1. A fim de cumprir os compromissos assumidos sob o Artigo 3, qualquer Parte incluída no


Anexo I pode transferir para ou adquirir de qualquer outra dessas Partes unidades de redução
de emissões resultantes de projetos visando a redução das emissões antrópicas por fontes ou o
aumento das remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa em qualquer setor
da economia, desde que:
(a) O projeto tenha a aprovação das Partes envolvidas;
(b) O projeto promova uma redução das emissões por fontes ou um aumento das remoções
por sumidouros que sejam adicionais aos que ocorreriam na sua ausência;
(c) A Parte não adquira nenhuma unidade de redução de emissões se não estiver em
conformidade com suas obrigações assumidas sob os Artigos 5 e 7; e
(d) A aquisição de unidades de redução de emissões seja suplementar às ações domésticas
realizadas com o fim de cumprir os compromissos previstos no Artigo 3.
2. A Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo pode, em sua
primeira sessão ou assim que seja viável a partir de então, aprimorar diretrizes para a
implementação deste Artigo, incluindo para verificação e elaboração de relatórios.
3. Uma Parte incluída no Anexo I pode autorizar entidades jurídicas a participarem, sob sua
responsabilidade, de ações que promovam a geração, a transferência ou a aquisição, sob este
Artigo, de unidades de redução de emissões.
4. Se uma questão de implementação por uma Parte incluída no Anexo I das exigências
mencionadas neste parágrafo é identificada de acordo com as disposições pertinentes do
Artigo 8, as transferências e aquisições de unidades de redução de emissões podem continuar
a ser feitas depois de ter sido identificada a questão, desde que quaisquer dessas unidades não
sejam usadas pela Parte para atender os seus compromissos assumidos sob o Artigo 3 até que
seja resolvida qualquer questão de cumprimento.

ANEXO B

Artigo 17 do Protocolo de Quioto

A Conferência das Partes deve definir os princípios, as modalidades, regras e diretrizes


apropriados, em particular para verificação, elaboração de relatórios e prestação de contas do
comércio de emissões. As Partes incluídas no Anexo B podem participar do comércio de
emissões com o objetivo de cumprir os compromissos assumidos sob o Artigo 3. Tal
comércio deve ser suplementar às ações domésticas com vistas a atender os compromissos
quantificados de limitação e redução de emissões, assumidos sob esse Artigo.
38

ANEXO C

Artigo 12 do Protocolo de Quioto

1. Fica definido um mecanismo de desenvolvimento limpo.


2. O objetivo do mecanismo de desenvolvimento limpo deve ser assistir às Partes não
incluídas no Anexo I para que atinjam o desenvolvimento sustentável e contribuam para o
objetivo final da Convenção, e assistir às Partes incluídas no Anexo I para que cumpram seus
compromissos quantificados de limitação e redução de emissões, assumidos no Artigo 3.
3. Sob o mecanismo de desenvolvimento limpo:
(a) As Partes não incluídas no Anexo I beneficiar-se-ão de atividades de projetos que resultem
em reduções certificadas de emissões; e
(b) As Partes incluídas no Anexo I podem utilizar as reduções certificadas de emissões,
resultantes de tais atividades de projetos, para contribuir com o cumprimento de parte de seus
compromissos quantificados de limitação e redução de emissões, assumidos no Artigo 3,
como determinado pela Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste
Protocolo.
4. O mecanismo de desenvolvimento limpo deve sujeitar-se à autoridade e orientação da
Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo e à supervisão de
um conselho executivo do mecanismo de desenvolvimento limpo.
5. As reduções de emissões resultantes de cada atividade de projeto devem ser certificadas por
entidades operacionais a serem designadas pela Conferência das Partesna qualidade de
reunião das Partes deste Protocolo, com base em:
(a) Participação voluntária aprovada por cada Parte envolvida;
(b) Benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo relacionados com a mitigação da mudança
do clima, e
(c) Reduções de emissões que sejam adicionais as que ocorreriam na ausência da atividade
certificada de projeto.
6. O mecanismo de desenvolvimento limpo deve prestar assistência quanto à obtenção de
fundos para atividades certificadas de projetos quando necessário.
7. A Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo deve, em sua
primeira sessão, elaborar modalidades e procedimentos com o objetivo de assegurar
transparência, eficiência e prestação de contas das atividades de projetos por meio de
auditorias e verificações independentes.
8. A Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo deve assegurar
que uma fração dos fundos advindos de atividades de projetos certificadas seja utilizada para
cobrir despesas administrativas, assim como assistir às Partes países em desenvolvimento que
sejam particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da mudança do clima para fazer face
aos custos de adaptação.
9. A participação no mecanismo de desenvolvimento limpo, incluindo nas atividades
mencionadas no parágrafo 3(a) acima e na aquisição de reduções certificadas de emissão,
pode envolver entidades privadas e/ou públicas e deve sujeitar-se a qualquer orientação que
possa ser dada pelo conselho executivo do mecanismo de desenvolvimento limpo.
10. Reduções certificadas de emissões obtidas durante o período do ano 2000 até o início do
primeiro período de compromisso podem ser utilizadas para auxiliar no cumprimento das
responsabilidades relativas ao primeiro período de compromisso.

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