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GEO

PERSPECTIVAS DO
MEIO AMBIENTE
NA AMAZÔNIA

amazonia
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Publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), pela Organização do Tratado de
Cooperação Amazônica (OTCA) e em colaboração com o Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP).

É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação para fins educativos, ou não-lucrativos, não sendo necessário
qualquer tipo de autorização especial do titular dos direitos, desde que indicada a fonte. O Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e a Universidad del Pacífico agradecem a
gentileza de receber um exemplar de qualquer texto cuja fonte tenha sido a presente publicação.

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O conteúdo deste documento não reflete necessariamente as opiniões ou políticas do PNUMA, da OTCA ou das
organizações parceiras com relação à situação jurídica de um país, território, cidade ou área sob sua autoridade, ou
com relação à delimitação de suas fronteiras ou limites.

Copyright ©2008, PNUMA e OTCA


ISBN: 978-92-807-2947-4
Job Number: DRC/1075/PA

Para mais informação:


Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Escritório Regional para a América Latina e o Caribe – Divisão de Avaliação e Alerta Rápido
Clayton, Ciudad del Saber, Edificio 132, Avenida Morse – Corregimiento de Ancón
Ciudad de Panamá – Panamá
Código postal 03590-0843
Telefone: (507)305-3100
Fax: (507) 305-3105
www.pnuma.org

Organização do Tratado de Cooperação Amazônica


HIS – QI 05, Conjunto 16, casa 21 – Lago Sul
Brasília – DF – Brasil
Código postal: 71615-160
Telefone: (55-61) 3248-4119/3248-4132
Fax: (55-61) 3248 4238
www.otca.info

Universidad del Pacífico


Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico
Av. Salaverry 2020 – Jesús María
Lima – Perú
Código postal: Lima 11
Telefone: (51-1)2190100
www.up.edu.pe/ciup
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❱❱❱ Equipe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Venezuela:
(PNUMA) Ministério do Poder Popular para o Ambiente: Maritza Reechinti; Insti­
• Ricardo Sánchez Sosa - Diretor Regional do Escritório Regional para a tuto Venezuelano de Pesquisas Científicas -IVIC: Ángel Fernández
América Latina e o Caribe
• Kakuko Nagatani - Oficial de Programa da Divisão de Avaliação e ❱❱❱ Assistentes
Alerta Rápido- Coordenadora do Projeto GEO Amazônia • Assistentes PNUMA
❱❱❱ COORDENAÇÃO TÉCNICA: • Cristina Montenegro - Coordenadora, PNUMA Brasil • Teresa Hurtado
• Ricardo Mellado
❱❱❱ Equipe da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica • Esther Mendoza
(OTCA)
• Francisco Ruiz – Secretário-Geral a.i. ❱❱❱ Assistentes CIUP
• Luis Alberto Oliveros - Coordenador de Meio Ambiente. • Daniel Anavitarte
• Aura Benavides
❱❱❱ COLABORAÇÃO: ❱❱❱ COM O APOIO DE: ❱❱❱ Equipe do Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico • Úrsula Fernández Baca
(CIUP) • Isabel Guerrero
• Rosário Gómez - Pesquisadora, Responsável Técnico do Projeto • Mariella Zapata
• Elsa Galarza - Pesquisadora, Responsável Técnico do Proyecto
BOLÍVIA ❱❱❱ Equipe de elaboração de mapas
Ministério do Desenvolvimento Rural, Agropecuário e Meio Ambiente ❱❱❱ Coordenação Geral Adolfo Kindgard. Universidade de Buenos Aires, Faculdade de Agrono-
• PNUMA: Kakuko Nagatani mia -Argentina; Hua Shi. UNEP/GRID - Sioux Falls - Estados Unidos
• OTCA: Luis Alberto Oliveros
BRASIL • CIUP: Rosário Gómez e Elsa Galarza ❱❱❱ Colaboradores:
Ministério do Meio Ambiente • Andrea de Bono. UNEP/GRID
❱❱❱ Comitê Técnico • Hugh Eva. JRC da União Européia - Itália
Bolívia: • Jaap van Woerden. UNEP/GRID
COLÔMBIA Vice-Ministério de Biodiversidade, Recursos Florestais e Meio Ambiente; • Mark Bryer. The Nature Conservancy.
Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial Direção Geral de Recursos Florestais: Jorge Antônio Arnez Martínez; Instituto
de Ecologia - Universidade Mayor de San Andrés: Mário Baudoin; Centro de ❱❱❱ Fotografia
Pesquisa em Agricultura Tropical -CIAT: Hugo Serrate, Raúl Aguirre • Diario El Comercio, Peru
EQUADOR • Conservation International, Peru, Bolívia
Ministério do Ambiente Brasil: • Programa de Desenvolvimento Alternativo nas Áreas de Pozuzo e
Ministério do Meio Ambiente: Muriel Saragoussi, Kelerson Costa; Insti- Palcazu, Peru
tuto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia -Imazon: Carlos Souza, • Arquivo da Biblioteca Amazônica, Peru.
GUIANA Kátia Pereira; Instituto Socioambiental, ISA: Alícia Rolla • GTZ - Cooperação Alemã para o Desenvolvimento
Agência de Proteção Ambiental • Ernesto Ráez, Peru
Colômbia: • Zaniel Novoa, Pontifícia Universidade Católica-Peru
Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial. • Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana, Peru
PERU Direção de Ecossistemas: Leonardo Muñoz; Instituto Amazônico de • Guiana: Sociedade de Pássaros Tropicais da Amazônia (agradecimento
Ministério do Ambiente Pesquisas Científicas, Sinchi: Uriel Múrcia, Juan Carlos Alonso; Instituto ao Fundo Mundial para a Natureza-WWF)
Alexander Von Humboldt: Dolors Armenteras, Mônica Morales • Instituto Imazon, Brasil
• Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
SURINAME Equador: • Greenpeace
Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e Meio Ambiente Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales
❱❱❱ Editoração gráfica, layout, diagramação e infografias
Guiana: Fábrica de Ideas
VENEZUELA Agência de Proteção Ambiental, Divisão de Gestão de Recursos Natu- Direção de arte e edição fotográfica: Xabier Díaz de Cerio
Ministério do Poder Popular para o Ambiente rais: Navin Chandarpal, Indarjit Ramdass Layout: Roger Hiyane
Capa: Xabier Díaz de Cerio
Peru: Diagramação: Ingrid Landaveri
Ministério do Ambiente (ex-Conselho Nacional do Am­biente). César Villa- Infografias: Mário Chumpitazi
corta; Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Fernando Rodríguez Multimídia: Frederik Corazao
Cuidado de edição em português: Simone Bastos Craveiro
Suriname: www.fabricadeideas.pe
Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e Meio Ambiente:
Mariska Milieu
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❱❱❱ Tradução dos documentos de trabalho Peru: • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés:
• Phil Linehan Associação Peruana para a Conservação da Natureza (Apeco); Governo Mário Baudoin
Regional de Loreto; Instituto Nacional de Recursos Naturais (Inrena) • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Kelerson Costa
❱❱❱ Tradução dos documentos em português • Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi):
• Antonio Ribeiro de Azevedo Santos Suriname: Uriel Gonzalo Murcia
Centro de Pesquisa Agrícola no Suriname; Fundo de Conservação • Colômbia: Instituto de Pesquisa Alexander Von Humboldt: Dolors
❱❱❱ Revisão do texto em português (Suriname); Milieu Sektie; Ministério do Planejamento, Florestas e Armenteras
• Claudia Helena Carvalho Ordenamento Territorial; Centro de Coordenação Nacional para o • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo González
Atendimento de Desastres; Instituto Nacional para o Meio Ambiente e • Equador: Fundação Equatoriana de Estudos Ecológicos (Ecociencia):
❱❱❱ Organização de plataformas de comunicação Desenvolvimento do Suriname; Universidade do Suriname; Fundação Malki Sáenz
Karlos La Serna, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico para a Conservação da Natureza (Suriname); Companhia de Água do • Peru: Conselho Nacional do Ambiente (Conam) (atual Ministério
Germán Chión, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico Suriname; Fundo Mundial para a Natureza (WWF) do Ambiente): Carlos Loret de Mola, César Villacorta, David Solano,
Verónica Mendoza
❱❱❱ Agradecimentos ❱❱❱ Colaboração especial • Peru: Instituto Nacional de Recursos Naturais (Inrena): Carlos Salinas
Nosso agradecimento a todas as pessoas e instituições que contribuíram Tim Killeen, Conservation Internacional • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Alberto Garcia Maurício
com informação e sugestões para a elaboração do GEO Amazônia. • Peru: Centro de Pesquisa da Universidade do Pacífico: Elsa Galarza,
❱❱❱ Colaboradores Rosário Gómez, Joanna Kámiche
❱❱❱ Contribuições institucionais • Adriana Rivera, Assessora do Programa Regional Amazônia OTCA- • Venezuela: Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC):
Brasil: DGIS-GTZ Ángel Fernández
Agência Nacional de Águas (ANA); Conselho Nacional de Seringueiros • Adriano Venturieri, Embrapa – Brasil • Conservation International: Carlos Ponce, Peru
(CNS); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Grupo • Antonio Brack, Ministério do Ambiente – Peru • Organização do Tratado de Cooperação Amazônica: Rosalia Arteaga,
de Trabalho Amazônico (GTA); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente • Annie Pitamber, Agência de Proteção Ambiental – Guiana Luis Alberto Oliveros
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Instituto Brasileiro de • Carlos Amat y León, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico– Peru • Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente: Ricardo
Geografia e Estatística (IBGE); Instituto Nacional de Colonização e • Carlos Aragón, Coordenador do Componente Florestal do Programa Sánchez, Kakuko Nagatani
Reforma Agrária (Incra); Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia Regional Amazônia OTCA-DGIS-GTZ
(Ipam); Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Ministério • Carlos Ariel Salazar, Instituto Sinchi – Colômbia Oficina de apresentação do projeto e identificação de problemas
da Educação; Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG); Ministério das • Carol Franco, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander ambientais. Villa de Leyva-Colômbia, de 16 a 19 de maio de 2006
Relações Exteriores; Ministério da Saúde; Universidade Federal do Acre; von Humboldt – Colômbia • Bolívia: Vice-Ministério de Biodiversidade, Recursos Florestais e Meio Am
Universidade Federal do Amazonas; Fundo Mundial para a Natureza • Cláudia Villa, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander biente – Direção Geral de Recursos Florestais: Jorge Antonio Arnez Martínez
(WWF) von Humboldt – Colômbia • Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Raúl R. Aguirre Vásquez
• Edith Alcorta, Plano Binacional Peru-Equador – Peru • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés:
Colômbia: • Eduardo Gudynas, Centro Latino-Americano de Ecologia Social, Claes– Mário Baudoin
Instituto Geográfico Agustín Codazzi; Instituto de Hidrologia, Meteorolo- Uruguai • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Kelerson Costa
gia e Estudos Ambientais (Ideam) • Fernando León, Instituto Nacional de Recursos Naturais, Inrena – Peru • Brasil: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon):
• Hans Thiel, Consultor florestal – OTCA Kátia Pereira
Equador: • Joanna Kámiche, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico – Peru • Brasil: Instituto Socioambiental (ISA): Alícia Rolla
Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso); Fundação • João Paulo Viana, Ministério do Meio Ambiente, Projeto Aquabio – Brasil • Brasil: Grupo de Trabalho Amazônico: Rosenilde Gregório dos Santos Costa
Equatoriana de Estudos Ecológicos (Ecociencia); União Internacional • Jorge Meza, Projeto Biodiversidade – OTCA • Colômbia: Ministério do Ambiente, Moradia e Desenvolvimento
para a Conservação da Natureza – Escritório Regional para América do • José Antônio Gómez, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Territorial (MAVDT): Sandra Suárez
Sul (UICN-Sul) Alexander von Humboldt – Colômbia • Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi): Luz
• Juan Carlos Bethancourt, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Marina Mantilla Cárdenas e Uriel Gonzalo Múrcia
Guiana: Alexander von Humboldt – Colômbia • Colômbia: Instituto de Pesquisa Alexander Von Humboldt: Fernando
Agência de Proteção Ambiental; Autoridade Central de Habitação de • Marlúcia Bonifácio, Museu Goeldi – Brasil Gast, Dolors Armenteras, Mónica Morales
Planejamento; Comissão Florestal da Guiana; Comissão de Terras e • Maria Luisa del Rio, Ministério do Ambiente – Peru • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales
Registros da Guiana; Conservation International-Guiana; Guyana Sugar • Paulo Roberto Martin, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, • Equador: Fundação Equatoriana de Estudos Ecológicos (EcoCiencia):
Corporation; Centro Internacional Iwokrama; Instituto Nacional de INPE – Brasil Malki Sáenz
Pesquisa Agrícola; Ministério da Agricultura; Ministério de Assuntos • Rita Piscoya, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária • Peru: Conselho Nacional do Ambiente (Conam) (atual Ministério do
Ameríndios; Ministério da Habitação e Águas; Guyana Water Incorpo- (Incra) – Brasil Ambiente): César Villacorta Arévalo
rated; Ministério dos Governos Locais e de Desenvolvimento Regional; • Sílvia Sânchez, Associação Peruana para a Conservação da Natureza, • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Alberto Garcia
Conselho de Desenvolvimento do Arroz da Guiana; Ministério de APECO – Peru Maurício
Assuntos Exteriores; Universidade da Guiana; Centro de Capacitação • Peru: Governo Regional de Loreto: Nélida Barbagelata
Florestal; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; ❱❱❱ Participantes nas oficinas • Suriname: Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e
Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola; Comissão Nacional de Oficina Metodológica. Lima-Peru, 27 e 28 de fevereiro de 2006 Meio Ambiente – Divisão de Meio Ambiente: Mariska Riedewald
Parques; Presidência da Guiana • Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Raúl R. Aguirre • Venezuela: Escritório de Gestão e Cooperação Internacional, Ministério
Vásquez do Ambiente e dos Recursos Naturais da República Bolivariana da
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Venezuela: Maritza Reechinti • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés: • Comissão Nacional de Parques: Yolanda Vasconcellos
• Venezuela: Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC): Mário Baudoin • Presidência da Guiana: Leroy Cort
Ángel Fernández • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Kelerson Costa
• Conservation International: Tim Killeen • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales Oficina de revisão final, Belém-Brasil, agosto de 2007
• União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN-Sul), • Colômbia: Instituto Sinchi: Juan Carlos Alonso, Uriel Murcia • Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Hugo Serrate
Escritório Regional para América do Sul – Equador: Consuelo • Colômbia: Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés:
Espinoza von Humboldt : Dolors Armenteras, Mónica Morales Mário Baudoin
• Peru: Conselho Nacional do Ambiente (Conam) (atual Ministério do • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Muriel Saragoussi
Oficina de apresentação do projeto e diálogo. Brasília-Brasil, 6 e 7 de Ambiente): César Villacorta • Brasil: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon):
dezembro de 2006 • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP): Fernando Carlos Souza, Kátia Pereira
• Agência Nacional de Águas, ANA: Paulo Augusto Tatsch, Viviani Rodríguez • Brasil: Instituto Socioambiental (ISA): Alícia Rolla
Pineli Alves • PNUMA: Kakuko Nagatani • Brasil: Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam):
• Conselho Nacional de Seringueiros (CNS): Atanagildo de Deus Matos • OTCA: Luís Alberto Oliveros Marcos Ximenes
• Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): Adriano • Associação de Universidades Amazônicas (Unamaz) • Brasil: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra):
Venturieri, Braz Calderano Filho • Conservation International: Tim Killeen Rita Piscoya, Thiago Silva Gomes
• Grupo de Trabalho Amazônico (GTA): Rosenilde Gregório dos • Brasil: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa):
Santos Costa Oficina de apresentação e discussão. Paramaribo-Suriname, de 17 a Adriano Venturieri, Adilson Serrão
• Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 18 de maio de 2007 • Brasil: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama): Adriana Carvalhal, Cláudia Enck de Aguiar, Gui • Centro de Coordenação Nacional para o Atendimento de Desastres: Renováveis (Ibama): Guilherme Pimentel Holtz
lherme Holtz, Humberto Colta Jr., Juan Marcelo de Oliveira, Kátia Cury R. Nasibdar • Brasil: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): José
Roseli, Rodrigo Paranhos Faleiro, Rodrigo Rodrigues • Centro de Pesquisa Agrícola no Suriname: K. Tjon Rocha Collares, Denise Kronemberger
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Adma Hamam • Companhia de Água do Suriname: H. Telgt • Brasil: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa): Arnaldo
de Figueiredo, Guido Gelli, José Enílcio Rocha Collares • Fundo de Conservação - Suriname: L. C. Johanns. Carneiro Filho
• Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra): Rita • Fundo Mundial para a Natureza, WWF-Guianas: H. Malone • Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG): Marlúcia Bonifácio Martins
de Cássia Condé de Piscoya, Thiago Silva Gomes • Fundação para a Conservação da Natureza – Suriname: Mohadin • Brasil: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – Universidade Federal
• Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam): Marcos • Instituto Nacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento do do Pará: Edna Castro
Ximenes Suriname: D. Burospan, S. Ramcharan • Colômbia: Ministério do Ambiente, Moradia e Desenvolvimento
• Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA): Luiz Cezar • Milieu Sektie: H. Uiterloo, M. Riedewald, S. Soetosenojo, H. Aroma, Territorial (MAVDT): Sandra Suárez
Loureiro de Azeredo A. Khoenkhoen, T. Elder, S. de Meza, P. Karjodromo, N. Tjin Kong Foek • Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi):
• Instituto Socioambiental (ISA): Fernando Mathias • Ministério do Planejamento, Florestas e Ordenamento Territorial: Uriel Gonzalo Murcia, Juan Carlos Alonso
• Ministério da Educação: Fábio Deboni Ch. Sieuw • Colômbia: Instituto de Pesquisa Alexander von Humboldt: Mónica
• Ministério do Meio Ambiente: Alexandre R. Duarte, Cláudia Ramos, • Universidade do Suriname: R. Nurmohamed Morales
Flávia Pires Lima, Kelerson Costa, Klinton Senra, Leonel Teixeira, Marcelo • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales
Mazzola, Márcia Paes, Marco Antônio Salgado, Marly Santos, Muriel Oficina de apresentação e discussão. Georgetown-Guiana, junho de 2007 • Guiana: Agência de Proteção Ambiental: Indarjit Ramdass
Saragoussi, Silvana Macedo, Volney Zanardi Jr. • Agência de Proteção Ambiental: Indarjit Ramdass, Khalid Alladin. • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Fernando Rodríguez
• Museu Paraense Emilio Goeldi, MPEG: Marlúcia Bonifácio Martins • Autoridade Central de Moradia e Planejamento: Fayola Azore • Suriname: Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e
• Ministério das Relações Exteriores: Sérgio Paulo Benevides • Comissão Florestal da Guiana: James Singh, Sonya Reece Meio Ambiente – Divisão de Meio Ambiente: Mariska Riedewald
• Ministério da Saúde: Kátia Regina Ern • Comissão de Terras e Registros da Guiana: Andrew Bishop, • Venezuela: Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC):
• Universidade Federal do Acre: Irving Foster Brown Bramhan and Singh Ángel Fernández.
• Universidade Federal do Amazonas: Jackson Fernando Rêgo • Conservation International – Guiana: Curtis Bernard
• Fundo Mundial para a Natureza (WWF): Ekena Rangel • Guyana Sugar Corporation: Anton Dey
• Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi) – Colômbia: • Centro Internacional Iwokrama: Raquel Thomas
Juan Carlos Alonso • Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola: Cleveland Paul
• Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt – • Ministério da Agricultura: Denzil Roberts
Colômbia: Dolors Armenteras • Ministério de Assuntos Ameríndios: Ronald Cumberbatch
• Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico – Peru: Elsa Galarza, • Ministério da Habitação e Água: Deborath Montouth-Hollingsworth
Rosário Gómez • Guyana Water Incorporated: Gladwin Tait
• Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Luís • Ministério dos Governos Locais e de Desenvolvimento Regional:
Alberto Oliveros Ramnarine Singh
• Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Brasil: • Conselho de Desenvolvimento do Arroz da Guiana: Kuldip Ragnauth
Cristina Montenegro, Bernadete Lange • Ministério de Assuntos Exteriores: Peggy McClennan
• Universidade da Guiana: Paulette Bynoe, Suzy Lewis
Oficina de revisão, Santa Cruz-Bolívia, de 11 a 13 de dezembro de 2006 • Centro de Capacitação Florestal: Rohini Kerrett
• Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Raúl Aguirre, • Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento: Nadine Livan
Hugo Serrate • Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola: Ignatius Jean
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PREFACIO:
Culminando um processo que tomou dois anos de tra- A falta de informação científica e de dados estatísticos consistentes dificulta que se
balho, do qual participaram cerca de 150 cientistas e façam comparações ou a agregação de tópicos ambientais, e a informação disponível
localmente não foi analisada e sistematizada de modo a contribuir para uma visão am-
pesquisadores de todos os países amazônicos, o Progra- biental sólida e integral.
ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) O GEO Amazônia tem como objetivo servir de subsídio aos tomadores de decisão das
e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica esferas nacional, subnacional e local dos países amazônicos, na construção de uma base
(OTCA) têm a grata satisfação de apresentar o relatório sólida para suas ações, de modo a assegurar a sustentabilidade a longo prazo das iniciati-
vas de desenvolvimento.
Perspectivas do Meio Ambiente na Amazônia – GEO
Amazônia. Queremos agradecer aos ministérios ou autoridades nacionais de meio ambiente e
demais entidades ligadas a essa área, assim como aos cientistas, aos pesquisadores e às
instituições dos países amazônicos pela valiosa colaboração, que tornou possível elabo-
Baseado na metodologia GEO (Global Environment Outlook), este singular relatório compre- rar o presente relatório. Destacamos particularmente a contribuição da Universidad del
ende uma avaliação completa e integral do estado de um ecossistema da maior relevância Pacífico, do Peru, na coordenação do complexo processo de formulação deste relatório.
para o planeta, compartilhado por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Suriname
e Venezuela. Não obstante todos os riscos ambientais a que a Amazônia está exposta, temos a convic-
ção de que os líderes regionais tomarão as decisões mais acertadas para deter a degra-
A Amazônia abriga uma enorme variedade de espécies da flora e da fauna e é uma impor- dação do meio ambiente e promover o desenvolvimento sustentável, fonte de bem-estar
tante área de endemismo, constituindo, assim, uma reserva genética de relevância mun- para seus habitantes e para toda a humanidade. Nosso maior desejo é que este relatório
dial. Além disso, em termos de recursos hídricos, a água produzida pela bacia amazônica contribua para esse processo.
representa aproximadamente um quinto de todo o escoamento superficial do planeta. E
não menos significativa é a função desempenhada por suas florestas, que atuam como um
importante sumidouro de carbono, absorvendo anualmente centenas de milhões de tonela-
das de gases causadores do efeito estufa.

A Amazônia tem uma longa e rica história de ocupação humana e cultural – atualmente,
mais de 38 milhões de habitantes vivem na região, cerca de 60% em cidades. A região está
vivendo uma rápida expansão da agricultura de monocultura e da pecuária tecnificada, bem
como das megaobras de infra-estrutura viária e energética, em conseqüência do crescimento
econômico regional e da globalização e expansão dos mercados internacionais.
ACHIM STEINER FRANCISCO J. RUIZ M.
Os países que compartilham essa rica e frágil região vêm dedicando seus esforços para con- Subsecretário-Geral das Nações Unidas e Secretário-Geral da Organização do
servar e desenvolver de forma sustentável a Amazônia, mas ainda têm de alcançar uma visão Diretor Executivo do Programa das Nações Tratado de Cooperação Amazônica a.i.
ambiental amazônica conjunta. Unidas para o Meio Ambiente
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INTRODUcaO:
Ainda é limitado o conhecimento a respeito o conceito de desenvolvimento sustentável
A Amazônia é um ecossistema de grande do funcionamento do complexo ecossiste- foi definido, e 7 anos desde a Cúpula Mun-
ma amazônico, que vai além das fronteiras dial sobre Desenvolvimento Sustentável,
valor por sua riqueza natural e cultural. entre os países que o integram. Apesar da onde se adotou o Plano de Implementação
existência de vários estudos sobre a região, de Johanesburgo da Agenda 21. Dentre as
Trata-se de um território ocupado por po- Amazônia sem mitos (Banco Interamericano iniciativas dessa natureza, os “Objetivos de
de Desenvolvimento; Programa das Nações Desenvolvimento do Milênio” podem ser
pulações de diversas origens, desde tem- Unidas para o Desenvolvimento; Secretaria destacados como a somatória dos esforços
Pro Tempore do Tratado de Cooperação para alcançar o desenvolvimento sustentá-
pos imemoriais. Além disso, é reconhecida Amazônica, 1992) foi o que expôs com vel e justo.
mais clareza os prejulgamentos ou mitos a
mundialmente por fornecer uma varieda- respeito da Amazônia. Esse trabalho foi uma Apesar disso, as evidências indicam que a
importante contribuição para promover uma Amazônia, um dos ecossistemas mais valio-
de de serviços ecossistêmicos não apenas visão regional da Amazônia. Dentre os diver- sos do planeta, está se deteriorando a um
sos mitos tratados pelo estudo, destacam- ritmo acelerado, sobretudo devido ao fun-
à população local, mas a todo o mundo. se: (i) a homogeneidade da Amazônia; (ii) cionamento não-sustentável das atividades
o vazio ou a virgindade amazônica; (iii) a ri- e pela predominância do critério de lucrativi-
queza e, ao mesmo tempo, a pobreza ama- dade no curto prazo, desconsiderando-se as
zônica; (iv) a Amazônia “pulmão da Terra”; externalidades das decisões econômicas. As
A Amazônia está vivendo um processo de (v) o indígena “freio ao desenvolvimento”; diferenças constituem um desafio impor-
(v) a Amazônia como solução ou panacéia tante ao gerenciamento dos problemas
degradação ambiental que se evidencia no para os problemas nacionais; e, por último, ambientais amazônicos, tanto no âmbito
(vi) a internacionalização da Amazônia. nacional como regional, mas, em vez de nos
aumento do desmatamento, na perda da fazerem recuar ou de nos dividirem, devem
O GEO Amazônia busca apresentar uma ser aproveitadas como uma oportunidade
biodiversidade, na contaminação da água, visão da Amazônia do ponto de vista dos para seguir fortalecendo a colaboração entre
países amazônicos com a participação dos os países amazônicos. A esse respeito, sua
na fragilização dos valores e modos de atores amazônicos e explicar, baseando-se preocupação com os problemas ambientais
em evidências científicas, que a Amazônia na Amazônia é inquestionável, traduzindo-se
vida dos povos indígenas, na deterioração é uma região heterogênea, de grandes em planos, programas e projetos. No entan-
contrastes tanto em riqueza natural e nos to, as respostas e ações ainda são limitadas
da qualidade ambiental nas áreas urba- aspectos físico-geográficos quanto nos se comparadas com a magnitude dos pro-
socioculturais, econômicos e político-institu- blemas ambientais a serem enfrentados.
nas. Essa situação é resultado de um con- cionais. As diferenças podem ser ressaltadas
inclusive em questões tão preliminares de Nessa conjuntura, o objetivo do GEO
junto de processos e forças motrizes que seu estudo como a própria denominação da Amazônia é contribuir com uma avaliação
região (o acento tônico da palavra “Amazô- ambiental integral do ecossistema amazôni-
afetam de maneira negativa seu complexo nia” recai na sílaba "ni" em alguns países) ou co à formulação de políticas e aos pro-
sua superfície. cessos de tomada de decisão, visando ao
ecossistema e os serviços proporcionados desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Vários anos transcorreram desde os memo- Na avaliação ambiental integral, utilizou-se
por este, e que se traduzem em perdas na ráveis primeiros acontecimentos e cúpu- a proposta metodológica formulada pelo
las internacionais em que se assumiram projeto GEO (Global Environment Outlook)
qualidade de vida para a população local, compromissos a favor do desenvolvimento do Programa de Nações Unidas para o Meio
sustentável. São 22 anos desde o lançamen- Ambiente (PNUMA), que foi adaptada para
nacional e de toda a região. to do relatório Nosso futuro comum, no qual fazer uma análise ecossistêmica. Ressalte-se
>15

que o GEO Amazônia, assim como os ou- pesquisa, as características mais marcantes
tros processos GEO, caracteriza-se por uma da Amazônia e seus antecedentes históri-
abordagem participativa, multidisciplinar, cos, a modo de contextualização do objeto Os resultados do GEO Amazônia não deixam dúvida
multissetorial e multiproduto. de estudo. No segundo capítulo, abordam-
se os diversos processos ligados à situação de que o chamado feito em Amazônia sem mitos se
A proposta metodológica de avaliação ambiental, como as tendências sociode-
ambiental integral consiste em analisar mográficas e econômicas, os processos de mantém vigente. Todos concordamos que é possí-
as pressões e forças motrizes por trás da mudança no uso do solo e as mudanças
situação ambiental, explicar a situação climáticas. No terceiro são tratados o estado vel pensar em uma Amazônia que avance rumo ao
dos principais componentes ambientais, e as tendências da biodiversidade, da flo-
avaliar os impactos da degradação do meio resta, dos recursos hídricos e ecossistemas desenvolvimento sustentável e que assegure o bem-
ambiente sobre os ecossistemas e o bem- aquáticos, dos sistemas agroprodutivos e
estar humano e estudar as principais ações dos assentamentos humanos. No quarto, estar humano das gerações presentes e futuras da
e respostas empreendidas pelos diversos analisa-se o impacto gerado pela degra-
atores para reverter o processo de degra- dação ambiental na Amazônia sobre os região, mas para isso se fazem necessários compro-
dação ambiental. Finalmente, concluído o ecossistemas naturais e sobre o bem-estar
diagnóstico, consiste em apresentar as pers- humano. No quinto capítulo, são tratadas as misso, determinação e ações coordenadas.
pectivas ambientais futuras da Amazônia, principais respostas direcionadas a frear o
baseadas na análise de cenários e de temas processo de degradação ambiental e seus
emergentes. respectivos impactos. No sexto, são traça-
dos quatro cenários prováveis e se busca Por último, deve-se lembrar que um projeto desta
Em síntese, a avaliação ambiental integral explicar a situação ambiental que poderá
procura dar resposta às seguintes perguntas: ocorrer na Amazônia, levando em conside- natureza não teria sido possível sem o apoio incon-
ração as hipóteses de cada cenário; além
1. O que está acontecendo com o am- disso, são apontados os temas emergentes dicional de pessoas e instituições dos oito países-
biente amazônico e por que razão? que demandam atenção. Finalmente, no
capítulo sete, são apresentadas as princi- membros da OTCA, que contribuíram com infor-
2. Quais são os impactos sobre o pais conclusões do estudo e se expõe um
ecossistema amazônico e o bem-estar conjunto de linhas de atuação que podem mação e dados para a elaboração e revisão deste
humano dessa situação ambiental? contribuir para se reduzir a degradação da
Amazônia. documento. Merecem destaque especial os partici-
3. O que está sendo feito em termos
de reação a essa situação ambiental? O GEO Amazônia contém um valioso pantes das diversas oficinas, graças a quem, atra-
levantamento de dados e fontes de informa-
4. Quais são as perspectivas ambien- ção que se espera servir de referência no vés de sugestões, contribuições e comentários, foi
tais futuras da Amazônia? processo contínuo de avaliação e monito-
ramento. Nesse sentido, buscou-se apoiar possível ter uma melhor compreensão regional dos
5. Que propostas de ação viabiliza- e aprofundar as instâncias de diálogo e de
riam um futuro desenvolvimento intercâmbio de informação, a fim de, dessa problemas ambientais da Amazônia. Finalmente,
sustentável? maneira, constituir-se em uma plataforma
para a coordenação e sistematização da expressamos nosso sincero reconhecimento a co-
Nessa avaliação, foram consultadas fontes informação disponível.
de informação importantes e atualizadas. operação germano-holandesa que, através do Pro-
É preciso destacar que nesse estudo se
trabalhou principalmente com a informação grama Regional Amazônia OTCA/DGIS/BMZ-GTZ,
disponível nas instituições oficiais dos res-
pectivos países amazônicos. Nesse sentido, cobriu os custos da presente publicação, assim
o GEO Amazônia está promovendo o mo-
nitoramento de indicadores ambientais nas como as também às pessoas e instituições que ge-
respectivas áreas amazônicas dos países,
com a finalidade de avaliar as mudanças nerosamente contribuíram com material fotográfi-
num futuro próximo.
co, que permitiu comunicar com mais objetividade
Este relatório está dividido em sete capí-
tulos. O primeiro apresenta o âmbito da os resultados do estudo.
>17

MENSAGENS-
CHAVE
❱❱❱ AMAZÔNIA, REGIÃO As mudanças ocorridas no uso do solo Ao longo da história, a mudança nas formas de produção que
DE GRANDES RIQUEZAS E amazônico decorrentes do crescimento afetam os ecossistemas e a qualidade
MUITOS CONTRASTES. de atividades econômicas, da construção
Amazônia foi o centro de de vida da população. Por outro lado, as
Desde as ocupações de infra-estrutura e do estabelecimento atração da população ex- políticas públicas também geram incen-

pré-colombianas e, mais
de assentamentos humanos têm gerado
uma acelerada transformação do ecos-
pulsa de áreas com limi- tivos para o desenvolvimento de ativi-
dades produtivas, que nem sempre são
recentemente, pelos co- sistema amazônico. Até 2005, o desma- tada atividade produtiva e criteriosas com a sustentabilidade.

lonizadores europeus, a
tamento acumulado na Amazônia era de
857.666km2, o que significa que ao longo
poucas possibilidades de ❱❱❱ AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Amazônia é uma área de do tempo, a cobertura vegetal da região foi emprego, ou, ainda, alvo SÃO UMA AMEAÇA PARA A
reduzida em aproximadamente 17%. Isso da colonização promovida AMAZÔNIA.
diversidades culturais, equivale a dois terços do território peruano
A região amazônica tem
sociais e biológicas. ou a 94% da superfície da Venezuela. pelas políticas públicas.
sido afetada pelo aumen-
A Amazônia abriga uma grande variedade Na primeira década do século XXI, a
de espécies da flora e da fauna e é tam-
A perda de biodiversida- maioria dos países amazônicos registrou
to da temperatura mé-
bém uma importante área de endemismos, de se evidencia no maior nessa região taxas de crescimento po- dia e pela modificação
que fazem da região uma reserva genética
de importância mundial para o desenvol-
número de espécies pulacional acima do respectivo patamar
nacional. Em quatro dos oito países ama-
do regime das chuvas.
vimento da humanidade. Por exemplo, ameaçadas. zônicos, mais da metade da população Tais mudanças alteram
numa área de apenas dez hectares da flo-
resta equatoriana de Yasuni, foram encon- Embora não se tenha informação preci-
amazônica é urbana, sendo afetada por
problemas ambientais, como o volume
o equilíbrio dos ecos-
tradas 107 espécies de anfíbios, concentra- sa, diversos estudos apontam para um cada vez maior de resíduos sólidos, a de- sistemas e aumentam a
ção que faz desta a região mais biodiversa
do planeta em relação a esse grupo e um
processo de erosão genética alarmante.
Apesar das mudanças ambientais, ainda
terioração da qualidade do ar e a conta-
minação dos corpos d'água.
vulnerabilidade tanto do
hotspot de biodiversidade. Se, por um lado, existem espaços sem intervenção ou que ambiente natural como
a Amazônia é conhecida pela abundância apresentam escassos sinais de interven- Em contrapartida, os recursos naturais das populações humanas,
em recursos naturais, como minérios, pe- ção na Amazônia, o que deveria ser um amazônicos atraíram importantes inves-
tróleo e gás natural, por outro, seus habi- estímulo para que todos os países se mo- timentos para megaprojectos de minera- particularmente das mais
tantes vêm enfrentando altos índices de bilizem conjuntamente em prol do desen- ção, de exploração de hidrocarbonetos e pobres.
pobreza, acima da média nacional. volvimento sustentável da região. de geração de energia hidrelétrica, bem
como para os setores agrícola e pecuá- A Amazônia também contribui para a geração
❱❱❱ A AMAZÔNIA ESTÁ MUDAN- ❱❱❱A DEGRADAÇÃO rio – em resposta às tendências do mer- de gases de efeito estufa por meio do desma-
DO A UM RITMO ACELERADO, AMBIENTAL DA AMAZÔNIA cado mundial de alimentos e de energia. tamento e da queima da floresta. As mudan-
E AS MODIFICAÇÕES NO ECOS- É RESULTADO DE FATORES Isso deu lugar a um desenvolvimento ças climáticas poderiam transformar 60% da
SISTEMA SÃO PROFUNDAS. INTERNOS E EXTERNOS. atípico da infra-estrutura viária e a uma região em savana ainda neste século.
>19

❱❱❱ A DEGRADAÇÃO DOS SER- hídricos da região poderia ser suficiente DE CIVIL, DEMONSTRARAM cada país. Portanto, é fundamental que
VIÇOS ECOSSISTÊMICOS AMA- para influenciar algumas das grandes cor- GRANDE DINAMISMO NOS as ações conjuntas dos oito países da
ZÔNICOS AFETA O BEM-ESTAR rentes oceânicas, que são importantes re- ÚLTIMOS ANOS AO EMPRE- região sejam fortalecidas para capitalizar
HUMANO, MAS É POUCO CO- guladoras do sistema climático global. A ENDER INICIATIVAS PARA as oportunidades de cooperação e in-
NHECIDA, INCLUSIVE QUAN- valoração econômica possibilita a adoção TRATAR DOS PROBLEMAS tegração amazônica. Assim, as políticas
TO A PERDAS ECONÔMICAS. de comportamentos estratégicos quanto AMBIENTAIS AMAZÔNICOS. públicas direcionadas à região têm de ser
ao aproveitamento do ecossistema ama- formuladas de modo coordenado, atri-
A riqueza da Amazônia zônico, por meio da determinação dos
No contexto de um pro- buindo ou reconhecendo novos papéis
não se baseia apenas na valores associados ao uso e ao não-uso cesso de integração, para os atores regionais e locais em todas
dos recursos. Em vista disso, promover as iniciativas de desenvolvimento susten-
oferta de bens tangíveis, estudos e ações de valoração econômi-
articulação e descentra- tável regional. Nesse sentido, os países
sustenta-se também no ca dos serviços ambientais amazônicos é lização, foram implemen- amazônicos deveriam buscar potenciali-
funcionamento dos seus uma prioridade regional.
tados vários instrumen- zar a atuação da Organização do Tratado
de Cooperação Amazônica (OTCA) como
vários ecossistemas na- ❱❱❱ A AMAZÔNIA COMEÇOU A tos nacionais que visam organismo intergovernamental.
turais e sistemas socio- SE ARTICULAR COM O SISTEMA à gestão planejada da
E A ECONOMIA DOS PAÍSES. ❱❱❱ O PAPEL DAS POLÍTICAS
culturais, que oferecem Nos países amazônicos Amazônia. De um modo PÚBLICAS RELATIVAS AO
uma gama de serviços subsistiu a visão da re- geral, os países contam APROVEITAMENTO DOS RE-
CURSOS NATURAIS, O FUN-
ecossistêmicos. gião como espaço peri- com planos de desen- CIONAMENTO DO MERCADO

férico pouco articulado volvimento sustentável, E A APLICAÇÃO DA CIÊNCIA,


Infelizmente, o bem-estar humano na re- TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
gião está sendo afetado pela degradação com a economia nacio- estratégias de desenvol- PARA O DESENVOLVIMEN-
ambiental, o que se constata na maior
nal, em razão da distân- vimento regional, instru- TO SUSTENTÁVEL SÃO TRÊS
incidência de doenças entre a população, DOS DETERMINANTES DAS
na elevação dos custos operacionais das cia com os principais mentos de zoneamento PERSPECTIVAS AMBIENTAIS
atividades econômicas, no agravamento
centros político-adminis- ecológico-econômico, DO FUTURO DA AMAZÔNIA.
dos conflitos sociais e no aumento da
vulnerabilidade em relação às mudanças trativos e da formulação além de programas e pro- A Amazônia é muito sensível a mudan-
climáticas.
de políticas fragmenta- jetos de âmbito regional, ças no funcionamento dos mercados,
razão pela qual a esse aspecto é dado
Há evidências de um aumento na inci- das e setoriais, que leva entre outros. maior peso na visão e na estratégia de
dência de doenças como a febre amarela, desenvolvimento regional. É necessário
a malária e o mal de Chagas, associado a uma gestão ambiental Os países têm empreendido novas concentrar esforços em três linhas de
a mudanças no uso do solo e a deter- limitada em termos de ações a fim de implementar instrumen- trabalho: conservação da floresta ama-
minadas intervenções antrópicas, dentre tos de gestão ambiental tais como os zônica e mudanças climáticas; manejo
elas a migração, o desmatamento e o ga- eficiência e eficácia. instrumentos financeiros ambientais, in- integrado de recursos hídricos; e manejo
rimpo. A Organização Mundial da Saúde clusive fundos de financiamento criados sustentável da biodiversidade e serviços
contabiliza entre 400 mil e 600 mil casos A Amazônia ainda não é considerada inteira- para viabilizar a execução de programas ambientais.
de malária por ano na Amazônia, de for- mente parte do “espaço ativo” nacional, na ambientais na Amazônia. Um exemplo
ma que, por menor que seja o aumento maior parte dos países da região, mas está deles é o Fundo Amazônia, do Brasil, A harmonização das políticas ambien-
no nível dessas doenças, o impacto nas se articulando, gradualmente, com o siste- que foi criado por meio do Decreto no tais em questões de relevância regional,
populações locais não será desprezível. ma político-administrativo, a sociedade e a 6.527, de agosto de 2008, para investir a geração e difusão de informação am-
economia nacional. Entre os países que con- em ações de prevenção, monitoramento biental na região e a promoção da valora-
Sabe-se, ainda, que, se as perdas de flo- seguiram isso, provavelmente o que mais e combate ao desmatamento. A expec- ção econômica dos serviços ambientais
resta na Amazônia passarem de 30%, progressos teve foi o Brasil. Por outro lado, tativa do Ministério do Meio Ambiente é amazônicos são exemplos de ações re-
haverá uma redução na liberação de va- os processos de descentralização em curso, de que esse fundo capte algo em torno comendadas para melhorar a perspectiva
por de água, o que implicará uma dimi- com diferentes níveis de avanço, procuram de um bilhão de dólares no primeiro ano ambiental da região. Os países amazô-
nuição das chuvas. Considerando que a fortalecer a governança ambiental a partir de funcionamento. nicos devem estender seus esforços de
água que escoa das florestas da Amazô- dos governos regionais e locais. integração e cooperação regional para a
nia para o oceano Atlântico representa Mas a Amazônia é uma unidade natu- construção de uma visão e um modelo
entre 15 e 20 por cento da descarga total ❱❱❱ OS ATORES DA REGIÃO ral e, por funcionar como tal, não pode conjuntos ao desenvolvimento sustentá-
mundial de água doce fluvial, uma alte- AMAZÔNICA, TANTO OS GO- ser conservada e gerida de forma isola- vel, em áreas que vão além da integração
ração na quantidade de água nos ciclos VERNOS COMO A SOCIEDA- da, baseada nos esforços individuais de energética e de infraestrutura.
>21

SUMARIO
EXECUTIVO
PARA OS TOMADORES DE DECISÕES

Capítulo 1 sentamentos humanos, etc. O GEO Amazônia utilizou gás. Não se pode afirmar, porém, que essas regiões ram nos últimos anos a expansão de um modelo de
AMAZÔNIA: TERRITÓRIO, informação geoespacial (referente aos três critérios tenham um nível de desenvolvimento elevado, já que produção que não leva em consideração critérios de
SOCIEDADE E ECONOMIA AO LONGO citados) para delimitar a Amazônia, gerando, assim, na maior parte dos casos os lucros não são reinvesti- aproveitamento sustentável e que acaba sendo muito
DO TEMPO um mapa composto da região: a "Amazônia maior" dos na região. mais danoso ao ambiente pelo fato de trazer con-
(8.187.965 km²) e a “Amazônia menor” (5.147.970 sigo recursos tecnológicos sofisticados. Ademais, a
A Amazônia é uma região da América do Sul km²). infra-estrutura viária e o desenvolvimento energético
caracterizada por riquezas e contrastes na- Capítulo 2 acompanham o crescimento do setor produtivo sem
turais e culturais. Dividida em florestas de terras A Amazônia é habitada desde tempos ime- DINÂMICAS NA AMAZÔNIA levar em consideração a perda de bens e serviços
baixas, ou planície amazônica, florestas de terras altas moriais. A questão da ocupação originária da re- ecossistêmicos. Paralelamente, a crescente demanda
e florestas alto-montanas, ("ceja de selva" ou "yun- gião apresenta lacunas e ainda hoje gera controvérsia, A dinâmica sociodemográfica está trans- por espécies da flora e da fauna selvagens estimula
gas"), drenada pelo rio Amazonas – o mais extenso sobretudo no que diz respeito à densidade e à forma formando rapidamente a Amazônia em uma o comércio ilegal de espécies, que é um importante
do mundo em comprimento e bacia hidrográfica – e como teria se dado esse processo. As ocupações região de maior densidade populacional e fator de erosão da biodiversidade.
seus mais de mil afluentes, a Amazônia abriga uma pré-colombianas na Amazônia foram formadas pelos de crescimento acelerado.
grande variedade de espécies da flora e da fauna, que povos Arawac, que se expandiram até as Antilhas, A população da Amazônia, que na década de 70 era Os processos socioeconômicos promove-
fazem dela uma importante área de endemismo. Por pelos Tupi-Guarani, da região do Chaco, e pela família de pouco mais de 5 milhões, atingiu 33,5 milhões de ram uma mudança acelerada no uso do solo
outro lado, a Amazônia também é sinônimo de diver- etnolingüística de origem Caribe, que adentrou a ba- habitantes em 2007, o que equivale a 11% da popu- na Amazônia. O crescimento da população, a
sidade cultural, com 420 povos indígenas diferentes, cia amazônica por um corredor de baixa pluviosidade. lação total dos países amazônicos. Trata-se de uma expansão de atividades econômicas e o desenvolvi-
86 línguas e 650 dialetos. Na zona peruano-equatoriana, registram-se vínculos população cujo crescimento está acima da taxa média mento de infra-estrutura levaram a uma modificação
culturais e comerciais entre a costa do Pacífico, o anual dos países, fruto de um processo associado às significativa da utilização do solo na região, resultando
Não existe uma definição universal para altiplano andino e a vertente oriental dos Andes (alta migrações espontâneas e às políticas de Estado de na fragmentação de ecossistemas, no desmatamento
a área amazônica. A Amazônia é heterogênea. Amazônia) no período de 3500 a 300 a.C. A atual colonização e povoamento. Como resultado, a densi- e na perda de biodiversidade. No Peru, por exemplo,
Assim, delimitá-la constitui tarefa por demais com- configuração do território que conhecemos como dade populacional da região amazônica passou de 3,4 a agricultura migratória e a pecuária foram responsá-
plexa. Desse modo, cada um dos países-membros da Amazônia resulta, em linhas gerais, do processo de hab./km², na década de 90, para 4,2 hab./km², no veis pelo desmatamento, até 2005, de uma área de
Organização do Tratado de Cooperação Amazônica ocupação da região pelos colonizadores europeus período 2000-2007. 857.666 km². Na Amazônia brasileira, a rede rodo-
(OTCA), instrumento de cooperação regional para entre os séculos XVI e XIX. viária decuplicou em 30 anos (1975-2005), dando
assuntos amazônicos comuns aos países-membros lugar ao desenvolvimento de novos assentamentos
– Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, O nível de desenvolvimento econômico A dinâmica econômico-produtiva, reagindo humanos. A produção cada vez maior de biocombus-
Suriname e Venezuela –, emprega critérios próprios varia muito na Amazônia. Existem áreas como à demanda dos mercados internacionais, tíveis dos últimos anos poderia acelerar mudanças no
na sua definição de Amazônia. Os mais comuns são: Orellana, no Equador, com um PIB per capita de gera uma pressão para o uso intensivo dos uso do solo na região.
físicos (p.ex., bacia hidrográfica), ecológicos (p.ex., US$25.628,22, e Putumayo, na Colômbia, onde esse recursos naturais na região. A produção de
cobertura florestal) e/ou de outro tipo (p.ex., político- indicador é de US$705,33. O fato de alguns locais madeira e de produtos florestais não-madeireiros A dinâmica econômica e social na Amazô-
administrativo). registrarem valores acima do PIB nacional se deve ao (particularmente a castanha-do-brasil), a explora- nia é responsável pela erosão cultural das
número relativamente pequeno de habitantes dessas ção de hidrocarbonetos e minérios, assim como a populações nativas. A população das comunida-
Além disso, é uma região heterogênea tanto em regiões e à exploração de uma grande quantidade expansão das lavouras e da pecuária para atender aos des nativas da região foi afetada pela degradação do
aspectos físicos quanto em diversidade de etnias, as- de recursos naturais, como minérios, petróleo ou mercados globalizados de commodities, estimula- meio ambiente, pela maior incidência de doenças,
>23

pelas carências alimentares e pela transculturação. É da bacia amazônica representa cerca de 20% A Amazônia tem cidades grandes, com mais de um dência na Amazônia. Nesse sentido, estudos indicam
ponto pacífico o fato de as dinâmicas econômica e de toda a água doce do mundo – a bacia capta milhão de habitantes, e cidades médias, que apresen- que há um aumento significativo na atividade do seu
social trazidas pela “modernidade” terem minado as entre 12.000 e 16.000 km³ de água por ano. No taram taxas de crescimento consideráveis nos últimos vetor e, portanto, na incidência da doença, quando o
instituições e práticas tradicionais, como o sistema de entanto, a disponibilidade de águas superficiais anos. Constata-se, ainda, um dinamismo na articulação desmatamento atinge 20% de uma determinada área
reciprocidade, afetando os modos de produção e a em cada um dos países da bacia amazônica de- entre os assentamentos humanos contíguos em zonas (Walsh; Molyneux; Birley, 1993; Foley et al., 2007). A
coesão social e cultural dos povos indígenas. pende, em grande medida, do tipo de uso e manejo de fronteira (p.ex., Cobija, Epitaciolândia e Brasiléia, ocorrência de doenças respiratórias também aumen-
que se faça neles. Por outro lado, a qualidade das na fronteira entre a Bolívia e o Brasil; e Caballococha, tou, neste caso devido aos incêndios florestais cada
O desenvolvimento científico e tecnológico águas superficiais da região amazônica está sendo Letícia e Tabatinga, na fronteira entre o Peru, a Colôm- vez mais freqüentes, assim como a do mal de Chagas,
na região foi limitado quanto à geração de afetada por diversas atividades antrópicas: rejeitos de bia e o Brasil). Todas elas apresentaram problemas favorecido pela substituição de vegetação primária e
alternativas para o aproveitamento sus- mineração, vazamentos de hidrocarbonetos, emprego ambientais, como maior volume de resíduos sólidos, pela expansão dos centros habitados, principalmente
tentável dos recursos naturais. Na Amazô- de agroquímicos na agricultura, despejos sólidos das perda de qualidade do ar e contaminação dos corpos daqueles com moradias precárias.
nia foram feitas importantes contribuições a fim de cidades e resíduos da transformação de culturas de d'água devido ao não-tratamento de esgoto.
aprofundar o conhecimento e o emprego de diversas uso ilícito, como a coca. A degradação ambiental está atingindo
espécies da flora e da fauna, mas o desafio está a economia local. São exemplos das perdas
em articular e difundir esses resultados. Na região Nítida expansão de sistemas agroproduti- Capítulo 4 econômicas causadas pela degradação dos serviços
também foram colocadas em prática inovações sem vos não-sustentáveis. A região apresenta siste- AS MARCAS DA DEGRADAÇÃO econômicos os seguintes: o aumento das pragas na
uma devida avaliação de seus impactos, por exemplo, mas de produção muito diferenciados em termos AMBIENTAL agricultura devido ao desaparecimento dos agentes
o uso de agroquímicos na monocultura e a incorpora- de escala, processos produtivos e articulação com naturais que as controlam, acarretando um aumento
ção de espécies da flora ou florestais. o mercado. Por um lado, viveu uma importante A degradação ambiental cada vez nos custos de produção em razão da maior demanda
expansão da agricultura de monocultura (soja) maior está alterando os serviços de agroquímicos; o desaparecimento de atividades
A Amazônia tem uma base institucional científico- e da pecuária intensiva, particularmente no Brasil ecossistêmicos amazônicos. O desma- turísticas com a perda de recursos paisagísticos e
tecnológica ampla, mas, apesar dos esforços de arti- e na Bolívia, onde avançaram sobre as áreas des- tamento compromete a capacidade de absor- da beleza cênica; e a redução na qualidade e dispo-
culação interinstitucional, predominam as iniciativas matadas, contribuindo, assim para o aquecimento ção de carbono da floresta e ainda contribui para nibilidade de água doce, cuja conseqüência é uma
independentes, pouco coordenadas entre si e restri- global e a perda de biodiversidade. No entanto, nos a liberação de carbono por meio das queimadas, demanda por mais investimentos em água e sanea-
tas em termos de difusão. A baixa disponibilidade de últimos anos também se observou o aparecimento que afetam a qualidade do ar. A fragmentação e a mento, a serem arcados pelo governo e pelas popula-
recursos financeiros e humanos na região representa de sistemas agroprodutivos sustentáveis, viáveis alteração das florestas por si sós já causam um im- ções locais. A pesca, um setor que movimenta entre
uma importante barreira para o desenvolvimento em pequena, média e grande escala, que se pacto considerável nos ecossistemas. Na Bolívia, por US$100 milhões e US$200 milhões por ano, poderá
científico e tecnológico. Em vários países da região baseiam no manejo integral dos componen- exemplo, as florestas que não sofreram perturbações ser afetada pela redução de espécies (Bayley; Petrere,
o orçamento total destinado à ciência, tecnologia tes econômico, social e ambiental. Esses têm uma quantidade de biomassa 43% maior que 1989; Petrere, 1989; Almeida et al., 2006; Barthem;
e inovação (CTI) representa menos de 1% do PIB, sistemas (agrosilvipastoril, agroflorestal e aquelas que foram afetadas por atividades econômi- Goulding, 2007).
como resultado da baixa prioridade dessa área na silvipastoril) conciliam a conservação dos cas, bem como 70% mais diversidade em espécies
agenda pública. serviços ecossistêmicos amazônicos e a de mamíferos de pequeno porte. O problema é que A degradação ambiental afetou as rela-
melhoria da qualidade de vida da população as evidências sobre os efeitos da degradação ambien- ções sociais e vem gerando cada vez mais
com a rentabilidade da atividade econômica. No tal nos serviços ecossistêmicos são ainda limitadas, o situações de conflito. O limitado alcance dos
Capítulo 3 entanto, os sistemas agroprodutivos sustentáveis têm que demanda mais pesquisa científica interdisciplinar marcos regulatórios, a falta de clareza na definição
A AMAZÔNIA HOJE tido um avanço limitado em comparação com com o propósito de melhorar a compreensão sobre dos direitos de propriedade e a escassez de recursos
os não-sustentáveis, devido aos incentivos a magnitude dos custos ambientais na Amazônia e para fazer cumprir a legislação em vigor ensejaram a
O desmatamento e a redução da biodiversi- do mercado e ao alcance limitado e pouco alertar para a urgência de uma ação conjunta a fim de invasão de terras, a ocorrência de processos de colo-
dade são responsáveis pela perda de hábi- duradouro das políticas públicas. tratar essa questão. nização não-planejados e o desenvolvimento de ati-
tats e pela fragmentação dos ecossistemas. vidades produtivas informais. Essa situação estimulou
A redução da cobertura florestal na Amazônia é uma A Amazônia viveu um processo de A degradação ambiental está afetando o emprego de meios escusos para obter acesso aos
realidade sem paralelo. No período 2000-2005 foram urbanização acelerado e não-plane- a saúde. O desaparecimento dos predadores recursos naturais, que são explorados de forma indis-
desmatados, por ano, 27.218 km², o que também jado que levou aproximadamente naturais dos agentes transmissores de doenças, criminada, sem levar em consideração os impactos
representa perdas em espécies da flora e da fauna. 62,8% de sua população a migrar a colonização/imigração, a exploração mineral, ambientais e sociais e desrespeitando os direitos de
Mas não é possível calculá-las devido a restrições de para as cidades. a construção de barragens e outras atividades que diversos grupos sociais locais. Nesse contexto, a che-
informação. A informação que existe sobre a situação Aproximadamente 21 milhões dos 33,5 alteram drasticamente as características do ecos- gada de modelos de ocupação do território indiferen-
da biodiversidade nos respectivos países se aplica ao milhões de habitantes da Amazônia sistema amazônico estão afetando a epidemiologia, tes às dinâmicas econômica, social e ambiental locais
nível local, não havendo dados estatísticos ou carto- vivem em zonas urbanas. Cinco dos a ecologia, os ciclos de vida e a distribuição de vírus. modificou o modo de vida tradicional, os costumes e
grafia geral para ilustrar essa realidade em nível de oito países que compartilham a região Na ilha de Marajó, registrou-se uma alta incidência de as crenças dos povos indígenas.
ecossistema. têm mais de 50% de sua população febre amarela em decorrência da migração, portada
amazônica assentada em áreas urbanas, para as áreas de ocorrência do vetor por pessoas Registra-se uma tendência ao aumento da
A Amazônia é da maior importância para o fato que reflete a importância do proces- não-imunes (Vasconcelos et al., 2001). vulnerabilidade diante de inundações, se-
equilíbrio hídrico global e continental, mas so de urbanização para a construção da cas e mudanças no clima. A ocupação desorde-
as ações voltadas à gestão integrada da estratégia de desenvolvimento sustentá- A malária, por outro lado, é uma das doenças nada do território com o estabelecimento de assenta-
bacia ainda são limitadas. O volume de água vel da região. transmissíveis que apresentam alta inci- mentos humanos precários em áreas sujeitas a risco,
>25

o uso inadequado da terra para atividades produtivas da última década, diversos instrumentos nacionais a outros tipos de ações, como se dá com as iniciativas sa na perda da cobertura florestal e na escassez de
e a falta de conhecimento sobre o funcionamento do voltados ao manejo planejado da Amazônia foram da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica água limpa, atingiu níveis alarmantes. Por último, os
ecossistema amazônico, sobretudo por parte da popu- implementados, no âmbito de um processo de inte- (OTCA), voltadas às questões ambientais de interesse impactos das mudanças climáticas já se fazem sentir
lação imigrante, tornam mais vulneráveis as comuni- gração, articulação e descentralização nos diversos mútuo (p.ex., gestão integrada da biodiversidade ou na região.
dades amazônicas. países. De um modo geral, os países contam com de recursos hídricos).
planos de desenvolvimento sustentável, estratégias ❱❱❱ No cenário "Luz e sombra" os países amazônicos
O aumento do desmatamento nas áreas de piemonte de desenvolvimento regional, instrumentos de zone- dedicaram muita atenção à área de ciência, tecnologia
dos Andes expõe as encostas à erosão hídrica, pro- amento ecológico-econômico, bem como programas Capítulo 6 e inovação para atingir o desenvolvimento sustentá-
duzindo o arrasto significativo de solo para as partes e projetos regionais, entre outros; em muitos casos, O FUTURO DA AMAZÔNIA vel. A OTCA participa como facilitadora de diversas
baixas. Isso leva ao desbarrancamento das margens porém, a carência de recursos financeiros e a sobre- iniciativas e a integração e o intercâmbio científico
dos rios e ao alargamento da calha destes, podendo posição ou falta de clareza sobre as competências Os atores amazônicos consideram que, no período com a rede de entidades acadêmicas estão em pleno
até resultar na modificação de seu curso. Se a perda dos governos nacionais, subnacionais e locais, freia o 2006-2026, as três principais forças motrizes das desenvolvimento. Fora isso, as parcerias entre os se-
de florestas for maior que 30%, a inibição das chuvas ritmo de aplicação desses instrumentos. mudanças ambientais na Amazônia serão: o papel das tores público e privado foram fortalecidas, com o que
será ainda mais intensa, dando lugar a um círculo políticas públicas relacionadas ao aproveitamento dos se conseguiu iniciar o diálogo entre ciência, iniciativa
vicioso que favorecerá incêndios na floresta, reduzirá As ações voltadas para a gestão integrada recursos naturais; o funcionamento do mercado; e o privada e demandas locais. Em 2026, a região amazô-
a liberação de vapor d'água e elevará a emissão de da bacia amazônica ainda são limitadas. A estímulo às áreas de ciência, tecnologia e inovação nica está dando seus primeiros passos em direção ao
fumaça na atmosfera, com a conseqüente supressão Amazônia é altamente importante para o equilíbrio para o desenvolvimento sustentável da região. Cabe desenvolvimento sustentável, tentando frear o avanço
drástica da precipitação (Nepstad et al., 2007). hídrico global e continental, mas a disponibilidade destacar que a Amazônia é muito sensível a mudan- dos inevitáveis impactos adversos das atividades
contínua de águas superficiais em cada um dos paí- ças no funcionamento dos mercados. produtivas tradicionais, que ainda têm importância na
A fragmentação e a degradação tornam a floresta ses amazônicos depende em larga medida do uso e economia regional.
mais vulnerável a incêndios florestais, pois permitem manejo adequados em cada um deles, num contexto Quatro cenários foram construídos: “Amazônia
a entrada de raios solares no interior da mata, aque- em que a gestão integrada dos recursos hídricos emergente”; “À beira do precipício”; “Luz e sombra”; e ❱❱❱ O mito da “Amazônia vazia” ainda está muito
cendo-a. Nesse contexto, os resultados obtidos por amazônicos é uma meta fixada, mas que ainda não “Inferno ex-verde”. enraizado na mentalidade dos servidores públicos
Nepstad (2007) são motivo de grande preocupação. foi alcançada. A OTCA, por exemplo, desenhou um e da sociedade dos países amazônicos em geral, no
Ele prevê que, até 2030, o desmatamento na floresta programa regional de gestão de recursos hídricos, jun- ❱❱❱ No futuro da “Amazônia emergente”, a gestão cenário “Inferno ex-verde”. O processo de ocupação
úmida amazônica poderá atingir 55% de sua superfí- to com o PNUMA e o GEF, a ser executado em breve. ambiental se aperfeiçoou, tanto pelo maior compro- e desenvolvimento dessa extensa região ainda se
cie. As taxas de mortalidade (doenças infecciosas/ve- Trata-se de um desafio de grande envergadura para a metimento dos governos como pela maior conscien- dá de forma pouco coordenada entre as iniciativas
tores, problemas de saúde e danos na infra-estrutura Amazônia. tização dos cidadãos a respeito da importância dos de cada país amazônico. A OTCA avançou pouco em
de atendimento médico) aumentarão devido às ondas ecossistemas e dos recursos naturais. As atividades termos de consenso para encontrar uma resposta à
de calor, à estiagem, aos incêndios e às enchentes A informação disponível sobre a Amazônia produtivas (mineração, hidrocarbonetos, agricultura) questão da insegurança ambiental e da disparidade
decorrentes das mudanças climáticas. ainda está fragmentada. A informação dispo- estão sujeitas a um controle maior e a requisitos mais econômica entre os países-membros e em nível
nível sobre os recursos e o meio ambiente da Ama- estritos, de acordo com o conceito “poluidor paga”. nacional. O quadro de pobreza entre a população
zônia encontra-se fragmentada, apresenta diferentes A principal carência da Amazônia nesse cenário é a amazônica se agravou, e a desigualdade atingiu
Capítulo 5 níveis de tratamento e não foi harmonizada entre os disponibilidade e o acesso limitados quanto a alterna- os maiores níveis registrados. Embora o mercado
RESPOSTAS DOS ATORES À países. Nos últimos anos, trabalhou-se para entender tivas tecnológicas ecoeficientes e ao aproveitamento mundial tenha apresentado oportunidades para que
SITUAÇÃO AMAZÔNICA os processos ecossistêmicos e humanos na região, da biodiversidade que beneficia as comunidades.. a Amazônia utilizasse os serviços ambientais de
mas ainda há muito que se aprender e entender. A forma sustentável, a limitada capacidade institucional
Atores amazônicos atuantes. Os atores da informação básica, assim como o monitoramento ❱❱❱ No mundo do cenário "À beira do precipício”, do setor público e o escasso desenvolvimento nas
região amazônica têm demonstrado grande dina- permanente, são as bases de um processo decisório a Amazônia se transformou no “último celeiro do áreas de ciência, tecnologia e inovação dos países
mismo nos últimos anos. Da parte dos governos, acertado, e esse é um desafio para os países amazô- mundo”, atendendo ao mercado internacional, que amazônicos não permitiram que questões-chave
evidenciam-se alguns esforços no que diz respeito nicos em conjunto. demanda produtos em maior quantidade e a pre- para a Amazônia fossem incorporadas a sua agenda
ao gerenciamento dos problemas ambientais amazô- ços mais baixos. O desenvolvimento de atividades internacional, e agora já é tarde: os ecossistemas
nicos, embora seu progresso em termos de planeja- Existem oportunidades para a cooperação econômicas na região para atender às demandas estão degradados e fragmentados, houve uma perda
mento e gestão estratégicos com visão de longo prazo e capacidade para agir. Enfrentar os desafios globais propiciou a execução de megaprojetos de irreparável de riqueza natural e cultural.
ainda seja limitado. No que se refere à sociedade da Amazônia requer o fortalecimento da capacidade infra-estrutura, como a IIRSA e a IIRSA II, voltados à
civil, sua atuação em termos de programas e projetos dos países e de suas redes institucionais conjuntas, expansão da malha rodoviária e da rede energética, Infelizmente, os cenários ora apresentados eviden-
para atender às suas prioridades foi bem-sucedida, o no sentido de facilitar a geração e o intercâmbio de visando melhorar a integração regional, o intercâmbio ciam que o estilo de desenvolvimento pelo qual os
que estimulou uma maior participação de sua parte conhecimento, promover a pesquisa/inovação e a de produtos e a mobilização dos fatores de produção, países amazônicos e suas sociedades optaram está
no processo decisório. A cooperação internacional e transferência e difusão de tecnologias e dar projeção como mão-de-obra. No que diz respeito ao marco reduzindo tanto as opções para o desenvolvimento
os organismos internacionais tiveram um importante à Amazônia entre os países da região e do mundo. regulatório, o aspecto mais importante a se destacar sustentável da região no futuro como a esperança
papel, contribuindo com recursos financeiros e tecno- Os países amazônicos têm trabalhado pela integração são as políticas públicas, que estão cumprindo seu de um desfecho alternativo para a Amazônia. Não há
lógicos para a execução dessas atividades. e cooperação regional nas áreas de integração física papel de promover a entrada de mais investimento na dúvida de que já é tarde para conservar a integridade
(p.ex., infra-estrutura para escoar a produção e desen- região, e não o contrário. O agravamento dos conflitos do ecossistema amazônico, no entanto muitas das
Os instrumentos para a gestão ambiental volvimento de serviços) e energética, mas a coopera- internos nas proximidades das fronteiras é motivo de decisões que tomemos hoje são cruciais para se de-
amazônica apresentaram avanços. Ao longo ção regional também tem de direcionar seus esforços grande preocupação. A degradação ambiental, expres- terminar em que medida “perder ou ganhar” entre a
>27

degradação ambiental e o desenvolvimento socioeco- países constitui uma base para a discussão desses tunidades de discussão e ação relativas às prioridades - Desenvolver pesquisa aplicada na área de ciências
nômico seria aceitável para os cidadãos amazônicos. temas em nível regional. Além disso, cabe destacar ambientais da região sejam aproveitados adequada- sociais visando aperfeiçoar o processo de formulação
que a implementação harmonizada desses instru- mente. Desse modo, é fundamental o fortalecimento de políticas específicas para a região.
Capítulo 7 mentos constitui-se em um passo estratégico para o da Organização do Tratado de Cooperação Amazôni-
A AMAZÔNIA POSSÍVEL planejamento do desenvolvimento amazônico com ca, assim como de outros organismos regionais que - Fortalecer os sistemas de informação existentes e
uma perspectiva regional. promovem o diálogo entre as autoridades nacionais, promover a sua articulação com os setores público e
A situação ambiental da Amazônia impõe grandes regionais, estaduais e/ou locais, e entre os especia- privado.
desafios à região, que apontam para a importância de ❱❱❱ Elaborar e implementar estratégias listas nos principais temas ambientais amazônicos. É
uma ação conjunta. As linhas de ação propostas resul- regionais que viabilizem o aproveitamento preciso, ainda, promover a participação dos diferentes - Elaborar e implementar uma estratégia de difusão
tam tanto de uma avaliação ambiental integral como sustentável do ecossistema amazônico. atores da sociedade civil nos processos de tomada de que permita uma adequada divulgação das questões
de um processo de consulta entre os oito países ama- Considerando que os países da Amazônia compar- decisão e elaborar mecanismos e meios para viabili- ambientais relativas à Amazônia entre diferentes
zônicos. Constituem um esforço voltado a impulsionar tilham diversos ecossistemas, faz-se necessária a zar as ações acordadas. setores do público.
o desenvolvimento sustentável da região. elaboração de estratégias conjuntas ou estreitamente
articuladas de gestão integral dos bens e serviços - Constituir o Fórum de autoridades ambientais regio- ❱❱❱ Promover estudos e ações de valorização
As linhas de ação sugeridas são: ecossistêmicos. Nesse aspecto, é preciso concentrar nais e locais da Amazônia e avaliar a necessidade e econômica dos serviços ambientais amazô-
esforços em três linhas de trabalho: conservação da a viabilidade da reativação e do aperfeiçoamento da nicos.
❱❱❱ Construir uma visão ambiental amazôni- floresta amazônica e mudanças climáticas; gestão in- Comissão Especial de Meio Ambiente da Organização A valorização dos serviços ambientais amazônicos é
ca integrada e definir o papel da região no tegrada de recursos hídricos; e gestão sustentável da do Tratado de Cooperação Amazônica. um assunto em torno do qual a região pode somar
desenvolvimento nacional. biodiversidade e dos serviços ambientais. Por outro esforços no sentido de que se reconheça o valor dos
A construção dessa visão será possível se alicerçada lado, é importante que as estratégias definidas sejam - Elaborar e implementar mecanismos, instrumentos diversos serviços ecossistêmicos proporcionados pela
no diálogo entre os diferentes atores amazônicos, em socializadas entre todos os atores, de modo a assegu- e meios para promover e viabilizar a coordenação, a região. Com base nisso, será possível formular políti-
articulação com os diversos níveis de governo. Esse rar sua participação para a consecução dos objetivos execução, o monitoramento e a avaliação dos acordos cas e instrumentos de remuneração que incentivem
processo enriquecerá os esforços dos países amazô- previamente definidos. regionais em vigor. o aproveitamento sustentável dos serviços ecossistê-
nicos no intuito de estabelecer uma visão ambiental micos.
integrada. Para tanto, propõe-se inicialmente a criação Com o intuito de facilitar a implementação dessas As redes universitárias existentes na região podem
do Fórum de Ministros de Meio Ambiente da Região estratégias, faz-se necessário elaborar uma estraté- ❱❱❱ Fortalecer os esforços de geração e difu- ser aproveitadas para identificar temas de interesse
Amazônica, o que facilitará o desenvolvimento de gia conjunta de financiamento. Tal medida permitirá são de informação sobre meio ambiente na comum e modalidades de colaboração para o desen-
uma agenda ambiental de ação conjunta, sendo este aprimorar as capacidades técnicas nacionais, realizar região. volvimento de estudos de valorização econômica nas
o primeiro passo para a constituição de fóruns de dis- investimentos de acordo com cronogramas compa- Considerando a importância da produção científica e áreas de recursos hídricos e biodiversidade.
cussão multissetoriais que envolvam atores relevantes tíveis para todos os países amazônicos e estreitar os da geração de dados nos países da região para a ade-
ao desenvolvimento dos Estados que compartilham a vínculos com a cooperação internacional. quada gestão das questões ambientais na Amazônia, ❱❱❱ Criar um sistema de monitoramento e
região. é crucial estabelecer medidas de sistematização e de avaliação dos impactos de políticas, pro-
❱❱❱ Incorporar a gestão de riscos à agenda articulação dos diversos esforços em curso, com a fina- gramas e projetos.
❱❱❱ Harmonizar as políticas ambientais pública. lidade de criar um sistema integrado de informação e, A fim de dar prosseguimento à implementação da
quanto aos temas de relevância regional. A heterogeneidade e a complexidade da Amazônia mais especificamente, de dados ambientais. Por outro agenda ambiental amazônica, deve-se contar com um
Serão necessários mecanismos que facilitem esse em um contexto de crescente vulnerabilidade a lado, é necessário estreitar os vínculos de cooperação sistema de monitoramento baseado em indicadores
processo, de modo a compartilhar as experiências eventos climáticos exigem a elaboração de políticas e científico-tecnológica entre os países, com o propósito de desempenho para os diversos temas abordados
nacionais, as lições aprendidas e a tecnologia de- medidas que estimulem uma adaptação às mudanças de elaborar e pôr em prática uma agenda de pesquisa pela agenda. De igual forma, é necessário realizar
senvolvida, e construir e implementar uma agenda climáticas. Assim, é importante que a gestão de riscos científica, com ênfase na pesquisa aplicada. periodicamente a avaliação do cumprimento das
conjunta de trabalho ou uma estratégia regional de seja incorporada nas avaliações ambientais estratégi- metas, segundo indicadores preestabelecidos. Nesse
gestão de recursos naturais (florestas, biodiversidade cas, quando da definição das estratégias de desenvol- Ademais, deve-se elaborar uma estratégia de difusão aspecto, um observatório ambiental amazônico cons-
e recursos hídricos, entre outros), capitalizar as boas vimento amazônico. Isso permitirá evitar ou reduzir os e comunicação de questões ambientais prioritárias tituiria uma ferramenta estratégica para a formulação
práticas desenvolvidas e construir sinergias em torno custos associados à ocorrência de desastres. levando em consideração os diversos segmentos do de políticas e de instrumentos de gestão.
da gestão de assuntos ambientais prioritários. público interessado (formuladores de políticas, em-
Um elemento fundamental associado à gestão de presários, estudiosos, ONGs e público em geral).
❱❱❱ Elaborar e implementar instrumentos de riscos é o monitoramento ambiental baseado em indi-
gestão ambiental integrada. cadores previamente definidos. Esse monitoramento As principais ações sugeridas a esse respeito são:
Reconhecendo que os países avançaram no desen- propiciará que futuras fontes de risco sejam identifi-
volvimento e na implementação de instrumentos cadas, facilitando o funcionamento dos sistemas de - Criar um sistema amazônico de informação ambiental
voltados à gestão ambiental na Amazônia, é preciso alerta antecipado. tendo em conta as plataformas existentes (sistemas de
somar esforços a fim de desenhar instrumentos de georreferenciamento e de estatísticas, entre outros).
ordenamento territorial e critérios para a condução
de avaliações de impacto ambiental e de avaliações ❱❱❱ Fortalecer a base institucional ambien- - Produzir pesquisa científica e tecnológica, para atender
ambientais estratégicas. Nesse sentido, o intercâmbio tal amazônica. aos problemas ambientais prioritários da região, e pro-
de experiências sobre os progressos obtidos pelos É importante que os instrumentos criados e as opor- mover o intercâmbio de experiências e de especialistas.
>29

INDICE
Prefácio

Apresentação
10

12
Capítulo 4
As marcas da degradação
ambiental 194

Mensagens-chave 16 4.1 Impactos sobre os serviços ecossistêmicos 196

Sumário executivo 20 4.2 Impactos sobre o bem-estar humano 202

4.3 Vulnerabilidade 212


Capítulo 1
Amazônia: território, sociedade e eco-
nomia ao longo do tempo 30 Capítulo 5
Respostas dos atores à situação
1.1 Características geográficas 32 amazônica 220

1.2 Âmbito do estudo 38 5.1 Governança ambiental 222

1.3 História e cultura 42 5.2 Atores na região 236

1.4 Novos modelos de ocupação territorial 56 5.3 Principais ações ambientais 240

Capítulo 2 Capítulo 6
Dinâmicas na Amazônia 64 O futuro da Amazônia 252

2.1 Dinâmica sociodemográfica 66 6.1 Apresentação 254

2.2 Dinâmica econômica 80 6.2 Hipóteses fundamentais 256

2.3 Mudanças no uso do solo 94 6.3 Uma visão da Amazônia no futuro 258

2.4 Ciência, tecnologia e inovação 96 6.4 Temas emergentes 274

2.5 Mudanças climáticas e eventos naturais 100 6.5 Conclusões 276

Capítulo 3 Capítulo 7
A Amazônia hoje 106 A Amazônia possível 282

FOTOGRAFÍAS: JUAN PRATGINESTÓS / acervo PPG7-GTZ


3.1 Biodiversidade 109 7.1 Conclusões 286

3.2 Florestas 130 7.2 Linhas de ação 288

3.3 Recursos hídricos e ecossistemas aquáticos 147 Bibliografia 292

3.4 Sistemas agroprodutivos 162 Índice de tabelas, gráficos, mapas e quadros 317

3.5 Assentamentos humanos 176 Acrônimos e siglas 320


a
AmazOnia:
TERRITÓRIO, SOCIEDADE E ECONOMIA

ao longo
do tempo
1.1
1.2 1.4

CARACTERÍSTICAS
AUTORES:

1.3

GEOGRÁFICAS
KELERSON COSTA Ministério do Meio Ambiente – Brasil
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru

NOVOS MODELOS
ROSÁRIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru

DE OCUPAÇÃO
ÂMBITO DO

HISTÓRIA E

TERRITORIAL
COAUTORES:

CULTURA
MARIO BAUDOIN Instituto de Ecologia / Universidade Mayor de San Andrés – Bolívia

ESTUDO
ZANIEL NOVOA Centro de Pesquisa em Geografia Aplicada/PUCP – Peru
RITA PISCOYA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – Brasil
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
FERNANDO RODRÍGUEZ Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana (IIAP) – Perú
CARLOS ARIEL SALAZAR Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP) – Peru
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
KAKUKO NAGATANI Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
32
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>33

A AMAZÔNIA É EXTENSA, HETEROGÊNEA E OCUPADA PELO HOMEM DESDE


tempos remotos. Nela diversos ecossistemas funcionam em estreita relação. FLORESTAS E RIOS; ABUNDÂNCIA DE
ÁGUA E DE VIDA NATURAL: ESSÊNCIA
Com a finalidade de oferecer um panorama da análise apresentada nas seções DA PAISAGEM AMAZÔNICA.
seguintes, neste capítulo identificamos as características geográficas que mais se
destacam na região, delimitamos o âmbito do estudo, apontamos os antecedentes
históricos da região e apresentamos os novos modelos de ocupação do território.

1.1|CARACTERÍSTICASgeográficas
As riquezas naturais e a diversidade social e cultural da Amazônia A Bacia Amazônica possui
fizeram dela o centro das atenções tanto entre os próprios países
amazônicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Suriname, afluentes nos dois hemisférios
Peru, Venezuela)1 como em todo o mundo. Esse enorme ecossis-
tema, complexo e heterogêneo, abriga a floresta tropical e a rede
do planeta; portanto o seu
hídrica mais extensas do planeta, sendo responsável por uma grande comportamento hídrico está
variedade de serviços ecossistêmicos. O rio Amazonas, que atravessa
essa extensa e valiosa área de vida natural e cultural, transmitindo uma sujeito à alternância das estações
sensação de vastidão e majestade, é reconhecido como o mais longo,
caudaloso, largo e profundo do planeta.
seca e chuvosa dos dois
hemisférios.
As características da Amazônia foram determinadas pelos diversos
processos geológicos, geomorfológicos, climatológicos, hidrográficos e
biológicos que ocorreram na América do Sul. O ecossistema amazôni-
co é resultado desses processos, e a interação deste com a população
humana moldou os padrões ambientais presentes na região.

Há mais de 100 milhões de anos, os territórios da América do Sul


(naquele período geológico só existia o atual escudo das guianas) e
da África começaram a se separar. Esses dois continentes comparti-
lham diversos grupos de plantas e animais nos níveis taxonômicos
de gênero, família e ordem. Até se unir fisicamente à América do
Norte, há aproximadamente 4 milhões de anos, a América do Sul foi
uma grande ilha. Esse encontro propiciou uma invasão de plantas e
animais de um bloco continental ao outro, e a influência de diversos
grupos de animais provenientes do norte gerou grandes mudanças na CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

fauna amazônica (Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana


[IIAP], 2001).

A subdução ou deslocamento da placa tectônica de Nasca por sob


a Placa Continental Sul-Americana deu início ao processo de formação
1AFrança possui um território na Amazônia com status de departamento ultramarino:
a Guiana Francesa.
34
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>35

QUADRO 1.1

ZANIEL NOVOA
ORIGEM ANDINO DO RIO AMAZONAS

A localização da nascente do rio Amazonas é um assunto que


há muito vem suscitando o interesse de cientistas, tendo
rendido diversas expedições ao longo do tempo. Todas as
expedições apontam para uma origem andina, na província de
Caylloma, na região de Arequipa (Peru).

Segundo o relatório da expedição Amazon Source, realizada em


1996, o Amazonas nasce na quebrada Apacheta, nas faldas do
nevado Quehuisha (5.170 m.s.n.m), nas coordenadas geográficas
15°31’05’’ de latitude sul e 71°45’55’’ de longitude oeste. Após
pequeno percurso, a quebrada Apacheta recebe as águas do rio
Ccacansa e, a seguir, do rio Sillanque. Na confluência dos rios
Carhuasanta e Apacheta, este passa a se chamar Loqueta, correndo
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

de sul a norte. O rio Carhuasanta nasce no nevado Choquecorao. Os


nevados Quehuisha e Choquecorao pertencem à cordilheira Chila,
uma seção da cordilheira ocidental dos Andes. A cordilheira Chila
constitui o divisor das águas continentais.
❱❱❱ O Amazonas inicia o seu percurso na
O relatório aponta os seguintes critérios por que o Apacheta é quebrada de Apacheta.
❱❱❱ Os formadores do rio Amazonas são rápidos e turbulentos na sua cabeceira ao atravessar o acidentado relevo andino. considerado o principal manancial: vazão (é seis vezes maior que a
do Carhuasanta) e morfologia. Esse último corresponde à ação das
águas do rio na definição do seu leito ao longo do tempo.
da cordilheira dos Andes. Entre essa cadeia O Amazonas nasce na quebrada Apache-
de montanhas e o escudo das guianas, há ta, das geladas águas que brotam de uma pe- A seguir apresentamos uma relação de alguns dos autores que se
O RIO AMAZONAS cerca de 15 a 20 milhões de anos, formou-se quena nascente localizado aos pés do monte debruçaram sobre a questão da nascente do Amazonas:
DESPEJA uma bacia estrutural sedimentar (IIAP, 2001). Quehuisha, na cordilheira de Chila, em Are-
NO OCEANO Cabe destacar que a bacia amazônica é bi- quipa (Peru), a 5.170 metros de altitude. O
ATLÂNTICO, EM hemisférica, motivo pelo qual seu comporta- Amazonas segue um percurso de aproximada-
mento hídrico está condicionado pela alter- mente 7.000 km até desembocar no oceano
MÉDIA, 220.000
nância das estações seca e chuvosa dos dois Atlântico. A determinação exata da extensão
M³/S, EMBORA NA
hemisférios. O rio Amazonas descarrega no do Amazonas é tarefa por demais complexa AUTOR ANO ORIGEM/NASCENTE
ÉPOCA DAS CHUVAS oceano Atlântico em média 220.000 m3/s em razão do deslocamento do seu curso, so-
POSSA ATINGIR S.J. SANTOS GARCÍA 1935 LAGUNA VILAFRO
de água. Quando a temporada das chuvas bretudo quando forma meandros divagantes
UMA VAZÃO DE ATÉ predomina na maior parte da sua bacia, sua na zona do rio Ucayali (Novoa, 1997; Martini, MICHEL PERRIN 1953 CERRO HUAGRA
300.000 M³/S. vazão atinge 300.000 m3/s. A maior capta- Duarte, Shimabukuro, Arai y Barrios, 2007). GERARDO DIANDERAS 1953 CERRO HUAGRA - RIO MONIGOTE
ção de água na bacia amazônica provém do
rio Madeira, afluente do rio Amazonas pela Sua largura varia com o regime das cheias, HELEN E FRANK SCHREIDER 1968 LAGUNA VILAFRO
margem direita. atingindo um máximo relativo de 5 km, em- NICOLÁS ASHESHOV 1969 NEVADO MINASPATA
bora, na época da cheia, em alguns setores,
CARLOS PEÑAHERRERA DEL ÁGUILA 1969 NEVADO MISMI - RIO CARHUASANTA
Uma característica da bacia amazônica encontrem-se alagadas faixas de 20 a 50 km
são os ciclos de vazante e cheia, que con- para além de ambas as margens. Há no seu LOREN MCINTYRE 1971 NEVADO CHOQUECORAO
dicionam diversos processos biológicos. Na leito numerosas ilhas, às vezes formando um WALTER BONATTI 1978 RIO HUARAJO
cheia o nível da água, e, por conseguinte, labirinto de canais. Na foz, o delta do Amazo-
a vazão do rio, aumenta significativamente, nas tem 320 km de largura. Os dois principais JEAN-MICHEL COUSTEAU 1982 NEVADO CHOQUECORAO
o que permite a dispersão dos elementos braços fluviais do delta, Macapá e Pará, com- JACEK PALKIEWICZ, ZANIEL NOVOA
1997 NEVADO QUEHUISHA - RIO APACHETA
aquáticos e melhora as condições de ali- põem a ilha de Marajó, sendo esta a maior GOICOCHEA
mentação dos recursos hidrobiológicos. Na ilha fluvial do mundo (48.000 km2). De acor- BOHUMIR JANSKÝ 1999 NEVADO MISMI - RIO CARHUASANTA
vazante há uma redução gradual da vazão, do com dados oficiais dos países-membros
NEVADO MISMI – REGIÃO ONDE SE LOCALIZAM AS
favorecendo a concentração da ictiofauna de OTCA, a região amazônica tem uma área
BOHUMIR JANSKÝ 2000 NASCENTES DOS RIOS CARHUASANTA, CCACANSA,
nos principais cursos d'água. Nessa época, de 5.147.970 a 8.187.965 km2, dependendo
APACHETA E SILLANQUE
o rendimento da pesca aumenta devido à do critério utilizado, abrangendo tanto terras
facilidade de captura. altas e das vertentes da cordilheira dos Andes Fonte: Novoa (1997), Janský et al. (2008)
36
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>37

QUADRO 1.2
predominam as formações próprias de floresta tropical úmi-
A AMAZÔNIA E O RIO AMAZONAS:
da, são identificadas três sub-regiões com características
SUAS PRINCIPAIS DIMENSÕES
específicas de clima e relevo, que podem ser delimitadas
de acordo com cotas de altitude. A floresta de planície ou
1. O Amazonas é o rio mais extenso do mundo, com planície amazônica, que se estende da foz do rio até 500
6.992,06 km (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais m.s.n.m., tem clima quente e úmido e precipitação entre
[INPE], 2008). 1.500 mm/ano e 3.000 mm/ano ou mais; apresenta um
relevo quase plano, com esporádica alternância de sistemas
2. O rio Amazonas tem a bacia hidrográfica mais extensa de colinas. A floresta alta, de clima quente e úmido, porém
do planeta. Diversos estudos fazem menção à área da com uma variação de temperatura entre o dia e a noite,
bacia amazônica. Alguns indicam 7.165281 km2 (Novoa, que ocorre até 1.000 m.s.n.m e possui vales estreitos de
1997; INPE, 2008); o da Agência Nacional de Águas do grande comprimento, onde os rios formaram terraços es-
Brasil (Brasil: Ministério do Meio Ambiente – Agência calonados em vários níveis; dependendo da orientação do
Nacional de Águas, 2006), 6.100.000 km2. relevo, as precipitações anuais podem passar de 5.000 mm/
ano em alguns locais. O clima e o relevo da alta montanha
3. O Amazonas possui a maior vazão (220.000 m3 por influenciam a rede hidrográfica. Por último, a floresta alto-
segundo, em média). Escoa mais água que os rios montana, “ceja de selva”, “yungas” ou outra denominação
Missouri-Mississipi, Nilo e Yangtzê juntos. local, que pode ocorrer até acima de 3.000 m.s.n.m., com
predominância de relevo muito abrupto, cânions profundos,
4. O Amazonas tem mais de mil afluentes, três dos quais gargantas e rios de correntezas rápidas e turbulentas; seu
têm mais de 3.000 km de extensão (Madeira, Purus e clima é úmido, porém muito contrastado no que se refere à
Juruá). temperatura, o que favorece a alta nebulosidade (setores da
“floresta de neblina”).
5. As bacias tributárias mais importantes do rio Amazonas
têm origem na cordilheira dos Andes; os demais tributários Em linhas gerais, a precipitação média na Amazônia varia
provêm da meseta brasílico-guianense e de setores que muito, entre 1.000 e 3.000 mm/ano. Estima-se que 60%
divisam com a bacia do Orinoco na Colômbia. das precipitações são recicladas por evapotranspiração, en-
tretanto, em áreas muito específicas, a precipitação é baixa,
6. A Amazônia contribui com aproximadamente 20% da por vezes inferior a 300 mm/ano. A temperatura média é
água doce que flui dos continentes para os oceanos. alta na região, embora mostre grande variabilidade espacial
e temporal (diminui à maior altitude). A temperatura média
7. A floresta amazônica representa mais da metade das anual flutua entre 24 e 26 °C.
florestas tropicais úmidas do planeta.
A marcada variação de temperatura e de umidade atmos-
8. É uma região megadiversa: dois dos países amazônicos férica com a altitude, tanto entre o dia e a noite como ao longo
– Brasil e Colômbia – têm um terço das plantas vasculares do ano, explica a configuração de “andares ecológicos” que
conhecidas no mundo. O Peru detém o recorde mundial favorecem a efervescência de biodiversidade nos setores da
❱❱❱ Os últimos contrafortes da cordilheira anunciam a proximidade da grande planície amazônica. de maior número de espécies de borboletas. vertente oriental dos Andes (floresta alto-montana e floresta
GUYANA AMAZON TROPICAL BIRDS´ SOCIETY / WWF
de nevoeiro), porém não impede a existência de uma impor-
9. Expressão de diversidade cultural: 420 povos indígenas tante ligação entre as áreas altas e baixas da Amazônia. Para
“A terra recebe como planícies tropicais. Assim, representa
entre 4% e 6% da superfície total da Terra
segundo a época do ano e o local; no es-
treito de Óbidos (Brasil) a sua profundidade
diferentes, 86 línguas e 650 dialetos. Aproximadamente
60 povos vivendo em situação de isolamento.
informação mais detalhada, veja as seções sobre biodiversi-
dade e florestas, no capítulo 3.
insultos e oferece e de 25% a 40% da superfície da América se aproxima dos 300 m. Na seção sobre
suas flores como Latina e o Caribe. recursos hídricos e ecossistemas aquáticos,
no capítulo 3, tais características são apre-
Nesses andares ecológicos ocorre uma variedade de ecos-
sistemas, reconhecidos como os mais ricos do mundo, onde
resposta.” Ao longo do seu curso, as águas do Ama- sentadas com maior detalhe. vivem povos indígenas desde tempos remotos. Os povos in-
zonas arrastam um enorme volume de se- dígenas são depositários de conhecimentos tradicionais sobre
dimentos em suspensão, que lhe conferem Cabe destacar que outras bacias e micro- Fontes: Novoa (1997), Organização do Tratado de Cooperação Amazônica as características e o uso da rica diversidade biológica: “Os
um aspecto barrento. Segundo estimativas, bacias hidrográficas, apesar de não perten- (OTCA), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e povos indígenas conheceram milhares de espécies vegetais
Global Environment Facility (GEF) (2006); OTCA (2007); Eduardo (2005);
106 milhões de pés cúbicos de sedimentos cerem à do rio Amazonas, têm uma estreita Brackelaire (2006). e as utilizaram com diversas finalidades. Coletaram frutos e
RABINDRANATH TAGORE são despejados diariamente no oceano. A relação com esta (p.ex.: a do rio Tocantins, sementes, utilizaram trepadeiras e cipós para construir suas
(1861-1941), FILÓSOFO massa de água que chega ao oceano Atlân- no Brasil). moradias e utensílios básicos; troncos de grandes árvores para
E ESCRITOR INDIANO. tico tem um raio de influência de mais de fabricar canoas e balsas, folhas de palmeiras para se prote-
100 km mar adentro. A profundidade média Na Amazônia, entendida neste contexto ger das inclemências do clima; bem como espécies com fins
do baixo Amazonas varia entre 10 e 30 m, como o setor da bacia amazônica em que mágico-medicinais” (Wust, 2005).
38
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>39
>39
SERGIO AMARAL / OTCA
MAPA 1.1a QUADRO 1.3
Contorno da Amazônia segundo o critério ecológico
A REGIÃO AMAZÔNICA PARA OS PAÍSES DA OTCA DE
ACORDO COM TRÊS CRITÉRIOS ALTERNATIVOS

Em razão da complexidade e heterogeneidade da região,


uma definição rígida da Amazônia geraria restrições. Por
esse motivo, neste documento utilizamos três critérios,
que são os mais empregados em diversos estudos:

a. Ecológico (ou biogeográfico): usa como indicador a


extensão correspondente ao bioma floresta tropical úmida
e subtropical sul-americano, localizado ao leste da
cordilheira dos Andes.

b. Hidrográfico: considera a extensão total da bacia


amazônica. No entanto, é preciso destacar que, quando
este critério é empregado na análise, faz-se também
referência a outras bacias ou microbacias que têm uma
estreita ligação com a amazônica.
MAPA 1.1b
Contorno da Amazônia segundo o critério hidrográfico
c. Político-administrativo: refere-se à área compreendida
pelos limites político-administrativos de diferente hierar-
quia estabelecidos para cada país e definidos como parte
❱❱❱ Entardecer em um rio da planície amazônica. da sua Amazônia.

1.2| ÂMBITODOESTUDO NOTAS:


a) O mapa segundo o critério ecológico ou biogeográfico foi elaborado com
base em arquivos e informação proporcionados por: Conservation Internatio-
nal / WWF, Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi) – Colombia,
Programa de Ordenamento Ambiental do Instituto de Pesquisas da Amazônía
A Amazônia é heterogênea. Assim, delimitá-la constitui tarefa por de- Peruana (IIAP), Centro de Pesquisa Agrícola Tropical – Bolivia (CIAT-Bolivia) e
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
mais complexa. Por esse motivo, cada um dos países-membros da Or-
ganização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), instrumento
da cooperação regional para assuntos amazônicos comuns aos países- b) O mapa segundo o critério hidrográfico ou de bacia foi elaborado mediante
membros – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Surina- arquivos e informação obtidos de: HydroShed (USGS/WWFInstituto
Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi) – Colombia, Programa de
me e Venezuela –, emprega critérios próprios na definição nacional de Ordenamento Ambiental do Instituto de Pesquisas da Amazônía Peruana
Amazônia. Tais critérios são: físicos (p.ex., bacia hidrográfica), ecológicos (IIAP), Centro de Pesquisa Agrícola Tropical – Bolivia (CIAT-Bolivia) , Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto Geográfico da
(p.ex., cobertura florestal) e/ou de outro tipo (p.ex., político-adminis-
MAPA 1.1c Venezuela Simón Bolívar.
trativos). Até países que utilizam os mesmos critérios podem empregar
Contorno da Amazônia segundo o critério político-administrativo
limiares diferentes (p.ex., cotas de altitude para diferenciar as regiões
andina e amazônica) ou definições próprias do que é contemplado por c) O mapa segundo o critério político-administrativo foi elaborado com base
cada critério. Além disso, a heterogeneidade da região não se refere em arquivos e informação da Colômbia: Ministério do Ambiente, Habitação e
Desenvolvimento Territorial e Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas
apenas aos aspectos físicos, mas também à multiplicidade de etnias, a (Sinchi); Peru: Conselho Nacional do Ambiente; Programa de Ordenamento
assentamentos humanos, etc. Ambiental do Instituto de Pesquisas da Amazônía Peruana (IIAP); Bolívia:
Devido à complexidade e Vice-Ministério de Biodiversidade, Recursos Florestais e Meio Ambiente;
Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT-Bolívia); Brasil: Ministério do Meio
De acordo com o critério político-administrativo, a região amazônica ocupa Ambiente do Brasil; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
uma superfície de 7.413.827 km2, que representa 54% do território dos heterogeneidade da região, neste Venezuela: Ministério do Ambiente e dos Recursos Naturais da Venezuela;
Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC); Instituto Geográfico da
oito países-membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazô-
documento são usados três Venezuela Simón Bolívar; Equador: Ministério do Ambiente; Centro de
nica (OTCA). No Brasil concentram-se 68% de toda a população amazô- Levantamentos Integrados de Recursos Naturais por Sensores Remotos
nica, seguido do Peru, com 9%. Em cinco dos oito países (Bolívia, Brasil, critérios fundamentais para definir (Clirsen) do Equador; Guiana: Agência de Proteção Ambiental; e Suriname: e
Minstério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e Meio Ambiente.
Guiana, Peru e Suriname), a área amazônica representa mais da metade
do respectivo território nacional (tabela 1.1). Levando-se em consideração a Amazônia: um critério ecológico,
esse critério, a Amazônia representa 3,5 vezes a soma dos territórios da outro hidrográfico e um terceiro Fonte: Produção original do GEO Amazônia, com a colaboração técnica do
PNUMA/GRID – Sioux Falls e da Universidade de Buenos Aires.
Espanha, França, Alemanha, Itália e do Reino Unido, 3,6 vezes o do México
e 75% o da China (mapa 1.3). político-administrativo.
40
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>41

QUADRO 1.4 MAPA 1.2a MAPA 1.3


CONTORNO DA AMAZÔNIA MAIOR Cobertura vegetal da Amazônia (2006)
A REGIÃO AMAZÔNICA PARA OS PAÍSES DA OTCA DE
ACORDO COM TRÊS CRITÉRIOS COMBINADOS
Áreas cultivadas e manejadas
A sobreposição de informação geoespacial referente aos Áreas de lavoura pós-inundação ou de irrigação (ou aquática)
Áreas de lavoura de sequeiro
três critérios anteriormente indicados para definir a Áreas de lavoura em mosaico (50 -70%) /vegetação (pastagem/ mata secundária/ floresta)(20 - 50%)
Amazônia gerou um mapa composto da região, no qual se Vegetação em mosaico (50 -70%) /vegetação (pastagem/capoeira/floresta) lavoura (20 – 50%)
Floresta perenifólia o semidecídua (>5m) aberta (15 - 40%)
identificam duas áreas: “Amazônia maior” e “Amazônia Floresta latifoliada (>5m) fechada (>40%)
menor”. A Amazônia maior compreende uma área de Região com florestas / floresta latifoliada decídua ( >5m) aberta (15 - 40%)
Floresta aciculifoliada decídua (>5m) fechada (>40%)
8.187.965 km2, o equivalente a 6% da superfície terrestre Floresta aciculifoliada decídua (>5m) fechada (>40%)
do planeta, 40% da superfície da América Latina e o Floresta aciculifoliada decídua ou perenifólia (>5m) aberta (>40%)
Floresta combinada latifoliada e aciculifoliada (>5m) fechada ou aberta (>15%)
Caribe, 85% do território dos Estados Unidos, mais de Floresta secundária e pastagem em mosaico
quatro vezes o território do México e 33 vezes o território Pastagem e floresta ou mata secundária em mosaico
Mata secundária fechada a aberta (>15%) (latifoliada ou aciculifoliada, perenifólia ou decídua)(<5m)
do Reino Unido. Em comparação com os países-membros Vegetação herbácea fechada a aberta (>15%) (pastagem, savana ou líquens / musgos)
da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica Vegetação escassa
Floresta latifoliada fechada a aberta (>15 %) regularmente alagada (de maneira temporária ou
(OTCA), corresponde a 60% da superfície total dos oito semipermanente), água doce ou salobre

países. A Amazônia menor abarca uma área de 5.147.970 Floresta secundária latifoliada fechada (>40%) permanentemente alagada, água salina ou salobre-
Pastagem ou vegetação florestal fechada a aberta (>15%) sobre solo regularemente alagado ou
km2, o equivalente a 4% da superfície da Terra e a 25% encharcado, água doce, salobre ou salina o empapado, água doce, salobre ou salina

da superfície da América Latina e o Caribe. Superfícies artificiais e áreas relacionadas (zonas urbanas >50%)
Áreas sem vegetação
Amazônia maior
Amazônia menor

MAPA 1.2b
CONTORNO DA AMAZÔNIA MENOR Fonte: Elaborado pela Faculdade de Agronomia da
Universidade de Buenos Aires e por GRID-Genebra/
PNUMA para o GEO Amazônia, com dados do GlobCover
ÁREA TOTAL ÁREA DE CONSERVAÇÃO (1) land cover data v2 2005-2006. European Space Agency,
(km²) (km²) kilômetros 2008, disponível em: <http://ionia1.esrin.esa.int>.
ÁREA %
AMAZÔNIA TABELA 1.1
8.187.965 1.713.494 20,93
MAIOR Superfície da Amazônia segundo critérios

AMAZÔNIA SUPERFÍCIE DA ÁREA SUPERFÍCIE DA ÁREA SUPERFÍCIE DA ÁREA AMAZÔNICA:


5.147.970 1.159387 22,52 ÁREA DO PAÍS (KM2) AMAZÔNICA: CRITÉRIO AMAZÔNICA: CRITÉRIO CRITÉRIO POLÍTICO-
IMPORTÂNCIA REGIONAL DA IMPORTÂNCIA NACIONAL
MENOR PAÍS AMAZÔNIA NACIONAL (%) DA AMAZÔNIA (%)
(A) HIDROGRÁFICO (km2) ECOLÓGICO (km2) ADMINISTRATIVO (km ) 2

(D PAÍS/D TOTAL) (D/A)


(B) (C) (D)

MUNDO 134.914.000(2) 13.626.314 10,10 BOLÍVIA 1.098.581* 724.000* 567.303** (b) 724.000* 9,8 65,9
BRASIL 8.514.876* 3.869.953* 4.196.943* 5.034.740* 67,9 59,1
COLÔMBIA 1.141.748 345.293* 452.572* 477.274* 6,4 41,8
ECUADOR 283.561* 146.688**(a) 76.761** (b) 115.613* 1,6 40,8
NOTAS:
GUIANA 214.960* 12.224** (a) 214.960* 214.960* 2,9 100,0
Amazônia maior: corresponde à maior extensão da área amazônica
com base em pelo menos um dos seguintes critérios: hidrográfico,
PERU 1.285.216* 967.176* 782.786* 651.440* 8,8 50,7
ecológico ou político-administrativo. SURINAME 142.800* - 142.800* 142.800* 1,9 100,0
VENEZUELA 916.445* 53.000* 391.296** (b) 53.000* 0,7 5,8
Amazônia menor: corresponde à menor extensão da área amazônica TOTAL 13.598.187 7.413.827 100
considerando-se os três critérios simultaneamente. Notas:
(1) É preciso lembrar que o cálculo da superfície da bacia amazônica é uma questão em aberto para a pesquisa. A informação inserida no mapa foi trabalhada com base em
(1) Área de conservação, na definição de The International Union for dados SIG fornecidos pelos países ao PNUMA. Deve-se salientar, ainda, que a superfície da bacia amazônica varia entre os estudos em questão, de 7.165.281 km2 (Novoa,
Conservation of Nature (IUCN): “Área de terra e/ou mar dedicada
especialmente à proteção e manutenção da diversidade biológica,
A região amazônica representa 1997; INPE, 2008) até 6.100.000 km2 (Agência Nacional de Água do Brasil – ANA). Essa diferença se explica, no segundo caso, pela exclusão dos rios Tocantins e Araguaia,
bem como de seus afluentes, da bacia do Amazonas. A bacia do Tocantins tem uma superfície aproximada de 900.000 km2. Para mais informações, consultar <http://www.
bem como de recursos naturais e culturais, que são geridas por meio
de instrumentos legais”. Fonte: World Commission on Protected Areas
60% da superfície total dos oito ana.gov.br/hibam>.
(WCPA, s.d.)
países amazônicos membros (2) A Venezuela e a Bolívia utilizam unicamente o critério hidrográfico na definição da Amazônia, entretanto essa superfície também é reconhecida como critério político-
administrativo, conforme explicação das autoridades responsáveis pelo assunto nesses países.
(2) A superfície mundial compreende todo o planeta Terra, incluídos os
corpos d'água continentais. Fonte: The United Nations Statistics da Organização do Tratado de (3) A informação foi inserida de acordo com os critérios usados pelos países.
Division (s.d.).
Cooperação Amazônica (OTCA). * Fontes oficiais nacionais: Bolívia: Instituto Geográfico Militar. Brasil: Ministério do Meio Ambiente (2006a). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (2004b).
Colômbia: Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial – Instituto Sinchi (2007). Equador: Instituto para o Ecodesenvolvimento Regional Amazônico
(Ecorae) (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Peru: Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana [IIAP] (2007). Suriname: Escritório Geral de Estatística.
Elaborado por: PNUMA/GRID – Sioux Falls e da Universidade de Buenos Aires. Venezuela: Instituto Geográfico da Venezuela Simón Bolívar (2008).
** Fontes não-oficiais nacionais que produziram informação sobre a Amazônia mediante pesquisas: (a) Freitas (2006). (b) Martini et al. (2007). Projeto Panamazonia II. INPE.
42
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>43

1.3| Históriaecultura
Considerada do ponto de vista continental, a história da Amazônia A outra corrente, mais recente, sustenta que a floresta
deve levar em conta pelo menos três aspectos: a diversidade geográ- tropical não teria sido apenas um receptor de tradições
fica e ecológica, que exerce influência nos processos e nas formas de culturais, mas também um centro gerador de inovações.
ocupação humana; a continuidade da presença humana na região, Baseia-se no fato de a Amazônia ser considerada um cen-
que remonta a mais de 12 mil anos atrás, apresentando rupturas e tro de domesticação de plantas, dentre as quais podemos
descontinuidades de forma e de processos de ocupação; e a diversi- citar a mandioca (Manihot esculenta) e a pupunha (Bac-
dade dos processos de colonização, iniciados pelos países europeus tris gasipaes).
no século XVI e retomados pelos novos Estados independentes que
surgiram na primeira metade do século XIX. Não obstante essa divergência, é fato que os povos
andinos e amazônicos mantiveram, por milênios, um in-
tenso relacionamento, que se dava na região de monta-
Habitantes da Amazônia Pré-Colonial nha entre 500 e 2.000 m.s.n.m., tendo como eixos de
deslocamento, de um modo geral, os rios que interliga-
A Amazônia é habitada desde tempos imemoriais. A questão da ocu- vam a região de serra com as áreas de floresta de menor
pação originária da região apresenta lacunas e ainda suscita muita altitude. Há vários registros arqueológicos relacionados à
polêmica, sobretudo no que diz respeito à densidade e à forma como presença desses povos desde o período pré-incaico, mas
teria se dado esse processo. São poucos os trabalhos de pesquisa foi somente durante o império Inca que essas relações se
sobre a sociedade amazônica pré-colombiana (Heckenberger, 2005; estreitaram. Cabe lembrar que os incas não conseguiram
Calandra; Salceda, 2004; Meggers, 1996), e se observam duas cor- submeter os povos amazônicos, como fizeram com ou-
rentes que buscam explicar a ocupação humana na região. A primeira, tros povos na região andina (Santos Granero, 1992).
a da arqueologia amazônica, desenvolvida a partir da década de 50
do século XX, por considerar que os grupos indígenas anteriores à Na zona peruano-equatoriana, a costa do Pacífico,
chegada dos europeus se organizariam como os de hoje (população o altiplano andino e a vertente oriental dos Andes (alta

FUNDACIÓN DEL BANCO CONTINENTAL


pouco numerosa e baixa densidade demográfica, sociedades pouco Amazônia) mantiveram vínculos culturais e comerciais no
hierarquizadas, etc.), aponta o meio ambiente, particularmente a po- período de 3500 a 300 a. C. A cerâmica da época é teste-
breza dos solos, como fator limitante para as sociedades humanas munha dessas trocas culturais e comerciais, processo que
locais, que as impediu de desenvolver culturas complexas no trópico foi liderado por grupos étnicos com freqüência de origem
úmido. Segue-se a essa afirmação que inovações culturais como a distante, caracterizados por serem sociedades complexas
cerâmica e a agricultura não poderiam ter surgido ali; logo deveriam e hierarquizadas. Essas trocas situaram-se ao longo dos
ter sido trazidas à Amazônia por diferentes grupos de imigrantes pré- eixos que correspondem aos rios Napo, Marañón, Ucayali e
coloniais, oriundos das áreas de difusão localizadas nos Andes e no Huallaga. Sal, ouro, algodão e óleo de tartaruga são alguns ❱❱❱ Índios da “montanha” em canoa. Aquarela de Baltazar Jaime Martínez Compañón (século XVIII). Extraído de
noroeste da América do Sul. dos produtos que eram negociados (De Saulieu, 2007). Macera, P., Jiménez Borja, A. e Francke I., Trujillo del Perú, editado por Fundación del Banco Continental, 1997, p. 190.
44
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>45

condicionaram o grau de desenvolvimento amazônica se assentava em núcleos de alta


das atividades econômicas nas diversas áreas densidade demográfica.
amazônicas: caça, extração, pesca, agricultu-
ra, entre outras (Meira, 2006). Algumas populações amazônicas pré-
coloniais produziram alterações na paisagem
A ocupação pré-colombiana da Amazô- com a drenagem e elevação de terrenos para
nia se deu a partir de diversos lugares. Uma a agricultura, habitação, defesa e sepultura,
das correntes migratórias chegou dos flan- por exemplo, em áreas da Bolívia, do Brasil,
cos orientais dos Andes, formada pela famí- da Guiana e da Venezuela (Beckerman, 1991,
lia Arawak, e se expandiu para o nordeste, p. 145; Roosevelt, 1991, p. 120), ou com a
até as Antilhas. A Tupí-Guaraní partiu da re- formação, involuntária, das chamadas "terras
gião do Chaco e seguiu duas direções: uma pretas de índios", que são terrenos de alta
chegou à porção central do Brasil; a outra, à fertilidade formados pela decomposição da
costa do Atlântico, no nordeste. Por último, matéria orgânica de antigos assentamentos
houve a corrente migratória da família etno- humanos. A descontinuidade na ocupação
lingüística de origem Caribe, que adentrou humana que se sucedeu à chegada dos eu-
a bacia amazônica por um corredor de baixa ropeus permitiu à floresta crescer novamente
pluviosidade. Os caribes introduziram cultu- nas áreas antes habitadas, ocultando as mar-
ras como o amendoim (Arachis hypogaea), cas da ação humana (Costa, 2002).
o milho (Zea mays) e o feijão (Phaseolus
vulgaris) (Morey; Sotil, 2000). Configuração
do território
Com as correntes migratórias, chegou
uma diversidade de formas de organização Em linhas gerais, a configuração atual do
social e de línguas. Por exemplo, os povos território que conhecemos como Amazônia
indígenas das famílias Máku, Tukano e Ara- é resultado do processo de ocupação da re-
wak, que vivem há mais de 2.000 anos na gião pelos colonizadores europeus entre os
região do rio Negro e nas áreas adjacentes. séculos XVI e XIX, que motivou não apenas
A família Arawak vive atualmente na Ama- conflitos entre os recém-chegados e os diver-
zônia brasileira, colombiana e venezuelana. sos povos autóctones, mas também disputas
Desse modo, nas línguas amazônicas estão entre Espanha, Portugal, Inglaterra, Holanda
presentes vozes andinas, guaranis e caribe- e França, no contexto das diferentes guerras
nhas. coloniais deflagradas nesse período. Segundo
o Tratado de Tordesilhas (1494), a América do
Na Guiana, os índios Warrau se estabe- Sul deveria ser dividida entre Espanha e Por-
❱❱❱ “O treze capitão, Cápac Apo Ninarua. Andesuyo.” (Huamán Poma de Ayala) leceram no ano 900 a. C. e as tribos Caribe tugal. No entanto, Inglaterra, França e Holanda, ❱❱❱ “Segunda senhora Cápac Mallquima. Andesuyo.” (Huamán Poma de Ayala)
e Arawak chegaram posteriormente. As prin- ao ocupar boa parte do litoral norte do conti-
cipais atividades realizadas pelos habitantes nente a partir do fim do século XVI, região que
Questionando a idéia de que o meio ambiente teria sido um fator limitante, nativos eram a agricultura de subsistência, hoje corresponde à Guiana, Guiana Francesa ções inglesas e holandesas que adentraram o grande rio pelo norte, partindo da
vários arqueólogos afirmam que havia condições para o desenvolvimento de a caça e a pesca. O termo guiana é um dos e Suriname, frustraram o pretendido domínio ilha de Marajó, até chegar à confluência do rio Xingu, travando longas batalhas
grupos humanos numerosos, especialmente nas várzeas (áreas de aluvião do legados dos habitantes nativos, que signifi- ibérico sobre todo o continente. com os portugueses pelo controle do curso inferior do rio e de sua foz. Não tendo
rio Amazonas e de alguns de seus afluentes). Esses grupos, organizados em ca “terra de muitas águas” (Guiana: Environ- sido bem-sucedidos nessa empreitada, conseguiram consolidar seu controle tão-
sociedades relativamente complexas, teriam se desenvolvido aproximadamente mental Protection Agency, 2007). Registros cartográficos holandeses e somente sobre a Guiana.
2.000 anos antes da chegada dos europeus. As margens do Amazonas teriam franceses do século XVII projetavam os do-
sido contínua e densamente povoadas entre 1000 a. C. e o século XVI. Estudos Na Amazônia peruana, destaca-se o de- mínios virtuais de seus países sobre o territó- Os franceses, estabelecidos em Caiena desde fins do século XVI, empreen-
na área de demografia histórica conduzidos por William Denevan na década de senvolvimento da cultura pré-incaica Cha- rio à época denominado “Região da Guiana”, deram várias tentativas de ocupar o atual litoral norte do Brasil, onde fundaram a
70 salientam que a população de toda a Amazônia passava de 5 milhões de chapoyas. Mas, de acordo com pesquisas muito mais extenso do que a que hoje co- cidade de São Luís, em 1612, e de onde depois se lançaram em direção ao oeste,
habitantes (Ribeiro, 1992, p. 79). do Instituto de Arqueologia Amazônica, esta nhecemos, também chamado de “Reino das até chegar ao rio Tocantins, num amplo projeto colonial denominado “França Equi-
tem como origem os Andes. O esplendor Amazonas”, delimitado, ao sul, pelo rio Ama- nocial”. Fracassadas suas pretensões de expansão territorial, estabeleceram-se na
Os assentamentos humanos pré-colombianos eram marcados por grandes dessa cultura se reflete em sítios arqueológi- zonas; ao oeste, pelo rio Orinoco; ao norte, Guiana (Costa, 2002).
contrastes. Existiram, por exemplo, comunidades grandes e sedentárias, e eco- cos, como as ruínas de Kuélap, os sarcófagos pelo Caribe; e ao leste, pelo oceano Atlântico
nomias de subsistência relativamente intensas (Heckenberger, 2005). A hete- de Carajia, os mausoléus de Revash, entre (Costa, 2002). Holandeses e ingleses concentraram-se particularmente nas regiões dos rios
rogeneidade da natureza amazônica deu lugar ao desenvolvimento de diversas outros. Quanto à população e densidade de- Essequibo, Demerara, Berbice e Suriname, alternando o controle dessas áreas
estratégias nas áreas de alimentos, tecnologia, medicina e comércio para melhor mográfica, Joaquín García (1993) cita diver- Nas quatro primeiras décadas do século desde meados do século XVII até o início do XIX. As colônias de Essequibo, De-
aproveitar os recursos naturais e, assim, assegurar a sobrevivência. Tais estratégias sas pesquisas que indicam que a população XVII, o Amazonas foi navegado por expedi- merara e Berbice foram fundadas e controladas pelos holandeses até as últimas
46
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>47

décadas do século XVIII. As diversas iniciati- uma estrutura administrativa relativamente


vas comerciais privadas daqueles primeiros complexa (Deler, 1987).
anos foram substituídas, em 1621, pelo mo-
nopólio da Companhia das Índias Ocidentais, No fim do século XVI, com o declínio da
que se estendeu até a segunda metade do exploração de ouro, o deslocamento dos inte-
século XVII, quando tanto o controle como resses para as minas de prata descobertas em
a administração das colônias passaram às Potossi e as grandes insurreições indígenas do
mãos das câmaras das cidades holandesas período, como a sublevação geral da Audiência
de Veere, Middelburg e Vlissengen (Farage, de Quito e a rebelião dos jívaros na Amazônia,
1991, p. 88-89). No final do século seguinte, a vertente oriental entrou em plena decadência
em 1796, os ingleses ocuparam esse territó- e os estabelecimentos espanhóis foram aban-
rio pela força das armas. Após uma sucessão donados ou destruídos (Deler, 1987).
de conflitos e a alternância do domínio, foi
comprado dos holandeses, em 1814, e inte- Após o fracasso dessas primeiras inicia-
grado às três colônias sob o nome de Guiana tivas, entre fins do século XVI e meados do

ARCHIVO BIBLIOTECA AMAZÓNICA: PRADO MAYOR Y GABEL SOTIL, RED AMBIENTAL


Inglesa, em 1831. XVII, a colonização espanhola da Amazônia
ficou praticamente nas mãos dos missioná-
Os ingleses foram os primeiros euro- rios. Isso porque, a fim de conter os excessos
peus a se instalar permanentemente no cometidos pelos conquistadores, a Coroa es-
rio Suriname, em 1656, dedicando-se ao panhola, por meio da Real Cédula de 1573,
cultivo da cana-de-açúcar. No entanto, em proibiu novas expedições armadas ao Orien-
1667, o Tratado de Breda pôs um fim à te e determinou que somente as ordens reli-
guerra anglo-holandesa, passando o con- giosas levassem a efeito a colonização dessa
trole da região aos holandeses com a as- região (Tibesar, 1989 p.16).
sinatura do acordo que selava a troca do
Suriname por Nova Amsterdã, na América O avanço português sobre a Amazônia,
do Norte, dentre outros. A região recebeu cujos primeiros marcos foram a conquista de
lavradores de cana-de-açúcar chegados do São Luís, tomada dos franceses em 1615, e a
litoral nordeste do Brasil, de onde os holan- fundação de Belém, no ano de 1616, seguiu
deses foram expulsos em 1654. o leito do rio Amazonas, em torno do qual se ❱❱❱ Colonizadores europeus exploraram e ocuparam a região entre os séculos XVI e XIX.
estruturou seu espaço de domínio na Ama-
Ainda na primeira metade do século XVI, zônia. Essa extensa planície revelava-se aos
os espanhóis empreenderam uma série de colonizadores portugueses como uma região que cobrou a vida de milhares de indígenas dores estabeleceram relações com os povos
incursões ao leste dos Andes, das quais a a ser explorada e ocupada, sobretudo depois A configuração atual da obrigados a trocar a cordilheira pela selva tro-
“Não herdamos a indígenas, seus habitantes originais.
mais célebre é a expedição de Gonzalo Pi- que Pedro Teixeira, fazendo o percurso opos- Amazônia é resultado do pical, para trabalhar em regime de servidão. terra dos nossos
zarro e Francisco de Orellana (1541-1542), to ao de Orellana, chegou a Quito subindo o Trabalhadores indígenas,
que desceu o rio Napo e foi a primeira de Amazonas e deslocando para muito além do processo de ocupação Ao longo dos séculos XIX e XX, as dispu-
antepassados; africanos e asiáticos
europeus que navegou até a foz do Amazo- meridiano de Tordesilhas os limites mais tar-
da região pelos tas fronteiriças na região foram aos poucos ela nos foi
de reivindicados por Portugal, na confluência se resolvendo. Algumas eram legado de
nas. Entretanto, várias incursões entre 1536
emprestada pelos As crônicas do século XVI, das quais se des-
e 1560 “permitiram adentrar de forma mais dos rios Napo e Aguarico, hoje em território colonizadores europeus antigas indefinições de limites; outras, da tacam as de Gaspar de Carvajal, que integrou
sistemática e fazer o reconhecimento de equatoriano. expansão territorial puxada pela intensifica- nossos filhos.” a expedição de Orellana, e as dos diversos
uma faixa de aproximadamente cem qui- entre os séculos XVI e ção da exploração de produtos da floresta. cronistas da expedição de Pedro de Ursua
lômetros de largura, compreendendo a Embora não possa ser considerado um As principais divergências quanto a limites e Lope de Aguirre, relatam a existência de
vertente externa da cordilheira oriental e o elemento determinante, o fator geográfico
XIX, o que motivou não entre os domínios espanhol e português na populações muito numerosas vivendo às
sistema subandino (depressões, pequenas exerceu um importante papel a favor dos apenas conflitos entre Amazônia foram solucionadas pelos tratados margens do Amazonas e na confluência des-
cordilheiras paralelas ao eixo geral dos An- portugueses, facilitando o deslocamento a de Madri (1750) e de São Ildefonso (1777), PROVÉRBIO SIOUX te com seus principais afluentes. Menos de
des e conjuntos de colinas formados pelas montante do Amazonas em um ambiente os recém-chegados que traçaram o contorno político do territó- um século depois, porém, a situação havia
terminações de seus contrafortes), que foi relativamente uniforme em toda a sua ex- rio amazônico. mudado: referindo-se à atuação dos jesuítas
incorporada provisoriamente à economia tensão, se comparando com as dificuldades
e os diversos povos
nas missões de Maynas, instaladas em 1638,
colonial” (Deler, 1987, p. 55). Tais incur- enfrentadas pelos espanhóis: o grande des- autóctones, mas também A colonização da Amazônia não se deu Jean Pierre Chaumeil (1988) observou que
sões marcaram o início de atividades como nível entre os Andes e as áreas amazônicas em espaços vazios. O território disputado e as sociedades com as quais os missioná-
o garimpo de ouro e o cultivo de algodão, de florestas de terras baixas, que significava disputas entre Espanha, dividido entre as potências coloniais euro- rios mantiveram contato haviam diminuído
assim como da formação de diversos nú- não apenas um obstáculo ao deslocamento Portugal, Inglaterra, péias não era de forma alguma um lugar de- bastante e seu modo de vida havia sofrido
cleos de população, edificados de acordo (relevo abrupto, rios não-navegáveis), mas sabitado, muito pelo contrário, e foi durante profundas mudanças com a presença dos
com um rigoroso plano de construção e de também uma rigorosa diferença climática Holanda e França. o processo de colonização que os coloniza- europeus, quer direta quer indireta.
48
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>49

canos foram muito importantes em algumas Fronteiras internas


regiões. Na Amazônia colonizada pelos portu-
gueses, os escravos africanos foram mais nu- Nas primeiras décadas do século XIX, os Esta-
merosos na porção oriental (São Luís e arredo- dos recém-independentes (Guiana e Surina-
res, Belém, baixo Tocantins, baixo Amazonas), me só conquistaram sua independência em
empregados principalmente nos canaviais e nas 1966 e 1975 respectivamente; a Guiana Fran-
lavouras de arroz e algodão; o mesmo aconte- cesa ainda é território francês) dispunham de
ceu no vale do Guaporé, perto da atual fronteira extensos territórios ainda não ocupados por
entre o Brasil e a Bolívia, desde a segunda me- suas incipientes sociedades, e, na maioria
tade do século XVIII. Essas populações negras dos casos, totalmente desconhecidos por
deram origem às centenas de quilombos que elas. Tratados do século XVIII, assim como as
até hoje existem na Amazônia brasileira. áreas de jurisdição das antigas unidades ad-
ministrativas do domínio espanhol, definiam,
Mas foi na Guiana, no Suriname e na embora freqüentemente de forma precária,
Guiana Francesa que, a partir do século os limites entre os novos países. No entanto,
XVII, os escravos africanos constituíram a uma grande distância separava os territórios

ARCHIVO BIBLIOTECA AMAZÓNICA: PRADO MAYOR Y GABEL SOTIL, RED AMBIENTAL


mão-de-obra principal, muito embora nos delimitados dos territórios efetivamente ocu-
domínios holandeses o trabalho escravo in- pados. De fato, a “conquista” e a ocupação
dígena tenha persistido quase até o século do território constituíram um processo com
XIX. Nessas colônias, a principal atividade avanços e retrocessos. Nesse sentido, nos se-
econômica não foi o extrativismo, mas a guintes parágrafos o termo “fronteira” alude
agricultura, quer em pequenas unidades, não aos limites entre Estados nacionais, mas
como aconteceu na Guiana Francesa, quer à frente de expansão de uma sociedade para
em unidades produtivas de grande porte o interior de seu próprio território, avançando
nas colônias holandesas, onde predominava sobre as terras ocupadas por povos indígenas
o sistema de plantação, cultivando-se exten- (Leonardi, 1996; Martins, 1997).
samente a cana-de-açúcar e, no século XVIII,
cacau, algodão e anil. No caso das antigas colônias espanholas,
a ocupação da região de floresta, baseada até
O Suriname foi a colônia que recebeu aquele momento principalmente na ação de
o maior contingente de escravos africanos. missionários, sofreu um grande revés com a
Ali, entre os séculos XVII e XIX, a população crise do sistema colonial e o enfraquecimento
branca residente nunca representou mais das missões nos territórios das antigas Audi-
Chaumeil aponta que, mesmo que a dores europeus foram responsáveis pelo No caso das antigas do que 7% da população escrava. Os es- ências de Lima, Quito, Charcas e Bogotá, bem
presença dos colonizadores não tenha sido despovoamento de áreas muito remotas, cravos promoviam fugas em massa, insta- como no Vice-Reinado de Nova Granada. Tal
No imaginário europeu, permanente e contínua em determinadas nas quais ainda não haviam conseguido se colônias espanholas, lando-se na mata, no interior do país. Ao situação foi gerada ainda pela grande rebelião
os povos indígenas regiões, em poucas décadas havia levado instalar, mas aonde chegaram, de maneira contrário do que ocorreu em outras regiões indígena liderada por Juan Santos Atahualpa,
amazônicos viviam em
vários povos à desestabilização, bem como direta ou indireta, por meio das expedições
a ocupação da região da América, onde os escravos fugitivos for- entre 1742 e 1752, pela qual diversos gru-
condições primitivas.
à diminuição da sua população, tanto pela para coletar produtos florestais ou das di- da floresta sofreu um mavam pequenas comunidades (que foram pos indígenas (como os Conibo, os Piro e os
disseminação de doenças quanto pelas versas ramificações do comércio de escra- destruídas pela repressão do homem bran- Amuesha) recuperaram o controle da selva
guerras cujo objetivo era capturar escravos. vos indígenas. grande retrocesso com a co ou permaneceram isoladas), no Surina- central do atual Peru, que estivera nas mãos
Esse fenômeno se acentuou nas décadas me os escravos mantiveram-se hostis ao dos espanhóis. Nesse país, por exemplo, o
seguintes, tanto que em meados do século As atividades econômicas desenvolvidas
crise do sistema colonial colonizador durante décadas. Dessas fugas avanço da fronteira interna em direção ao les-
XVIII quase todos os povos que habitavam na maior parte da Amazônia (pesca, agricul- e o enfraquecimento originaram-se grupos étnicos tais como os te foi praticamente nulo na primeira década
as várzeas do Amazonas foram extintos ou tura e coleta de produtos como cacau, cravo, Saramacá, Djuka, Paramaka, Matawai, Aluku após a independência (García Jordán, 1995).
sua população havia encolhido, e muitos quina, salsaparrilha, entre outros) baseavam- das missões nos e Kwinti, cujo direito sobre partes do terri- Continuaram a existir importantes núcleos
outros fugiram rumo aos altos cursos dos se na utilização de mão-de-obra indígena, tório surinamês é atualmente reconhecido. de população em Moyobamba e arredores,
afluentes (Porro, 1996, p. 37). Esses indí- explorada em diferentes modalidades de tra-
territórios das antigas Após a abolição da escravidão (na Guiana, no rio Marañón, mas até a década de 40 do
genas foram parcialmente substituídos por balho forçado. Tal situação perdurou no perí- audiências de Lima, em 1837, e no Suriname, em 1863), traba- século XIX a região ainda aparecia nos mapas
aqueles que se deslocaram para as mis- odo colonial, estendendo-se bem entrado o lhadores de diversas nacionalidades, parti- como “terras desconhecidas”.
sões, que se disseminaram de leste para século XIX e, em algumas áreas, inclusive nas Quito, Charcas, Bogotá, cularmente indianos, foram recrutados em
oeste, acarretando uma grande alteração primeiras décadas do século XX. regime de semi-servidão para substituir a Na Bolívia, as fronteiras de exploração da
e no Vice-Reinado de
na composição étnica e cultural das vár- mão-de-obra de origem africana, e as levas quina, embora de maneira tímida, continua-
zeas amazônicas. Transcorridos duzentos Embora tenha sido o trabalho indígena o Nova Granada. de novos imigrantes alteraram a composi- ram a avançar no Alto Beni, da mesma forma
anos das primeiras incursões, os coloniza- que predominou na Amazônia, os escravos afri- ção étnica da população. que a pecuária, a partir de Santa Cruz de la
50
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>51

QUADRO 1.5
Houve uma continuidade no emprego dos mé-
BOLÍVIA: ELOS ENTRE A AMAZÔNIA E OS ANDES
todos coloniais de ocupação do território e de ex-
ploração da força de trabalho. Em muitas regiões, a
violência praticada contra os povos indígenas foi ainda No fim do século XIX e início do XX, a região amazônica da
mais intensa do que no período colonial. O tráfico Bolívia viveu o auge da exploração da borracha. A borracha
de escravos indígenas para o Brasil – atividade ilegal gerou riqueza nas regiões em que era explorada, funda-
– praticado na região do rio Caquetá, Colômbia, re- mentalmente nos arredores de Cachuela Esperanza,
gistrou um crescimento de meados do século XIX até Riberalta e Guayaramerín. O desenvolvimento dos
1880 (Domínguez et al., 1996), e, ao longo do século departamentos de Bêni, Pando e do norte de La Paz foi
XX, as populações indígenas dessa região ainda eram muito limitado, principalmente pelas dificuldades de
submetidas à exploração de caráter semi-escravo (Hil- comunicação.
debrand; Bermúdez; Peñuela, 1997).
A criação da Corporação de Mineração da Bolívia, em
Fronteiras de expansão 1952, gerou um drástico aumento no consumo da carne
no século XIX produzida no Bêni, que era transportada por via aérea.
Esse auge foi a base do aumento do poder econômico na

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


Ao longo do século XIX, as diversas sociedades na- Amazônia boliviana. O rio Mamoré sempre foi uma das
cionais projetaram-se sobre seus territórios amazô- vias de comunicação com o resto do país, apesar de
nicos, motivadas, sobretudo, pelas diversas corridas extremamente custosa.
extrativistas, como as da quina e da borracha. Mas
esse avanço não se deu de modo uniforme em Não obstante as dificuldades de comunicação, sempre
todos os países. houve uma relação entre os Andes e o Trópico: as rotas de
extração da quinina em épocas pré-coloniais, a mineração
Nos países andino-amazônicos, o primeiro pro- do ouro no norte e, em décadas recentes, os processos
duto que implicou a migração para as áreas amazô- iniciados em 1985, quando do colapso da mineração nos
Sierra. No entanto, a maior parte do que até (1987), entre os séculos XVIII e XIX a histó- nicas, no século XIX, foi a quina, explorada nos An- Andes, que intensificou os fluxos migratórios em direção
então recebia a denominação de “Oriente”, rica soberania de Quito sobre as missões Povos indígenas: os valores des desde o século anterior e que possuía grande ao leste. Os corredores de comunicação Cochabamba-
conceito que abrangia todo o território ama- de Maynas, já decadentes naquela época, culturais são transmitidos aceitação nos mercados europeus em virtude de Santa Cruz e La Paz-Bêni viveram uma expansão da
de geração a geração.
zônico da Bolívia e também o Chaco, per- era apenas formal. Até mesmo depois de suas propriedades medicinais. A quina é produzida fronteira agrícola com a imigração de populações dos
manecia praticamente desconhecido e iso- criada a nova República do Equador (1830), numa área muito vasta e não se limita às terras Andes, processo que ocorre há mais de 50 anos.
lado do resto do país. Durante os primeiros a região amazônica só veio a receber mais amazônicas. No entanto, à medida que se esgotava
cinqüenta ou sessenta anos da República, os atenção do Estado equatoriano a partir de nas regiões próximas aos centros mais habitados – Elaboração: Baudoin, Mario (2007). Instituto de Ecologia. Universidade Mayor de

governantes concentraram seus esforços em 1860 (Esvertit Cobes, 1995). Na Venezuela, o método de extração consistia simplesmente em San Andrés. Bolívia.

projetos de concessão de terras públicas para o limite natural das “regiões selvagens e ig- derrubar as árvores –, a sua exploração avançava
colonização, em campanhas de reconheci- notas do interior”, para Alexander von Hum- rumo ao leste. Durante 34 anos, o comércio da
mento e na busca de uma saída ao Atlântico boldt, em 1800, eram as grandes cataratas quina foi muito significativo para as economias na-
pelos rios amazônicos (Jordán, 2001). do Orinoco, muito mais do que as decaden- Ao longo do século cionais, sendo esta, entre 1881 e 1883, o principal
tes missões jesuítas (Humboldt, 1985). produto de exportação da Colômbia, onde come-
Na Colômbia, a ocupação colonial do
XIX, as diversas çou a ser explorado na década de 70 daquele sé-
território do Caquetá, que correspondia a No caso do Brasil, pode-se identificar sociedades nacionais culo, nas regiões do alto Caquetá e alto Putumayo.
toda a floresta amazônica do país, sofreu diferentes situações no que diz respeito à Na Bolívia, a quina foi explorada em Caupolicán e,
um grande retrocesso com a expulsão dos ocupação da Amazônia, nas duas ou três projetaram-se sobre mais tarde, em Larecaja e no alto Beni. Esse pro-
jesuítas, em 1767, e a falência das missões décadas que sucederam à independência. duto foi tão importante para a economia boliviana
franciscanas, em fins do século XVIII. Tanto Em um dos extremos encontram-se: Belém,
seus territórios que levou o governo central a tomar medidas para
que a expedição do geral Agustín Codazzi antiga capital da Amazônia, colonizada pelos amazônicos, controlar sua comercialização (Domínguez; Gómez,
àquela região, iniciada na década de 50 do portugueses; o estado do Grão-Pará; e Ma- 1990; Zárate, 2001).
século XIX no âmbito da Comissão Coro- ranhão, independente do Estado brasileiro, motivadas,

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
gráfica Nacional, “importou uma mudança com autoridades coloniais próprias e subor- Nas áreas que dependiam exclusivamente da
fundamental na compreensão do Oriente dinadas diretamente a Lisboa, que impôs
sobretudo, pelas extração e do comércio da quina, houve um defi-
de Nova Granada e a conscientização tanto grande resistência à ruptura dos laços colo- diversas corridas nhamento geral da economia e da sociedade, le-
dos Governos como dos próprios granadi- niais e à integração ao Império do Brasil, em vando empresas à falência e povoados inteiros ao
nos” (Domínguez et al., 1996, p. 45). 1822. Belém foi o principal centro urbano a extrativistas, como abandono. No entanto, especialmente nos casos da
partir do qual portugueses e brasileiros se alta Amazônia colombiana e da Amazônia boliviana,
as da quina e da
A situação foi semelhante no território lançaram à Amazônia e o porto por meio do restou uma infra-estrutura de serviços e de sistemas ❱❱❱ A canoa é um veículo fundamental para o transporte
do atual Equador. Segundo Jean Paul Deler qual a região se comunicava com Portugal. borracha. viários mínima, que foi aproveitada quando tais áre- familiar ou de curta distância nos rios amazônicos.
52
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>53

as foram incorporadas à exploração de gomas elásticas.


Aliás, alguns dos principais comerciantes de quina con-
seguiram transformar seus negócios a fim de explorar e
comercializar borracha (Zárate, 2001).

O conhecimento sobre as propriedades e usos do


látex da seringueira foi transmitido aos portugueses
pelos Omágua, povo indígena do alto Amazonas, na
primeira metade do século XVIII, bem como a outros
grupos indígenas.

Durante décadas, o látex extraído na Amazônia bra-


sileira foi utilizado localmente apenas, limitando-se à
produção de seringas e à impermeabilização de roupas
e calçados. Em 1820, calçados produzidos com látex co-
meçaram a ser exportados pelo porto de Belém (Santos,
1980). Mas, na verdade, foi somente com o advento da
vulcanização, técnica que ampliou as possibilidades de
utilização industrial do látex, em 1841, que a demanda
mundial pelo produto cresceu ao ponto de deflagrar um
boom comercial que durou cerca de 70 anos, envolven-
do, em vários graus, todos os países amazônicos à época
independentes.

Foi também na década de 80 daquele século que a


produção de látex registrou um grande aumento na Bo-
lívia, na Colômbia, no Peru e no Equador, embora haja
registros de que era explorado desde a década de 60.
Disputas por territórios antes considerados espaços re-
REPORTAJE FOTOGRÁFICO: ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP

motos e “vazios” também foram movidas pela expansão


dessa atividade.

Na Colômbia, a produção de látex das décadas de 60


e 70 provinha das florestas da área de influência de Carta-
gena e do Panamá, na época ainda território colombiano.
Somente na década de 80 chegou à Alta Amazônia, onde
ocupou o lugar que havia pertencido à exploração de qui-
nina, e também às regiões dos rios Guaviare, Vaupés e
Negro. Na década seguinte atingiu o médio Caquetá e
o médio Putumayo, expulsando vários grupos indígenas
de suas terras, dentre eles os Witotos e os Boras (Domin-
guez; Gómez, 1990). Na Amazônia venezuelana, embora
economicamente menos importante que nos demais pa-
íses, seu impacto traduziu-se na exploração do território,
no fortalecimento dos poderes locais e na disseminação
de relações de trabalho semi-escravo (Iribertegui, 1987).
Na Guiana, praticava-se a coleta da balata nas cabeceiras

70
do Essequibo e em algumas áreas das margens do rio ANOS DUROU
Rupununi (Silva, 2005). A borracha foi explorada
APROXIMADAMENTE intensivamente durante o
Na Bolívia, as primeiras explorações de borracha nas
O BOOM COMERCIAL século XIX e contituiu na base

regiões do norte, no Acre, ocorreram na década de 70, e


DO LÁTEX EXTRAÍDO NA de uma importante dinâmica
AMAZÔNIA, EM BOA PARTE econômica e social. No
as empresas de grande porte se estabeleceram na déca- entanto, essa atividade esteve
da seguinte. As primeiras povoações da região, como Ri- DEVIDO AO ADVENTO DA associada à exploração da
beralta, instalaram-se junto com as operações de estabe- VULCANIZAÇÃO, EM 1841. mão-de-obra.
54
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>55

na vila com edificações muito precárias, na


década de 50, tornou-se uma grande cidade
no século XIX e foi, assim como Belém, uma
das primeiras do Brasil a contar com ilumina-
ção elétrica e água encanada.

As mudanças também afetaram o mundo


do trabalho: a mão-de-obra indígena conti-
nuou sendo usada em grande escala, quase
sempre nas mesmas condições do período
colonial, mas a Amazônia também incorpo-
rou grandes contingentes de trabalhadores
provenientes de outras regiões, como as
serras andinas e o semi-árido do Nordeste
do Brasil, que acabaram ultrapassando em
número os trabalhadores indígenas, produ-

SERGIO AMARAL / OTCA


zindo-se, assim, uma nova ruptura na com-
posição da população regional.

A região também acolheu imigrantes de


diversos países. Por exemplo, na construção
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

da estrada de ferro Madeira-Mamoré, no


Brasil, trabalharam pessoas de aproxima- O mundo do durante a Segunda Guerra Mundial, quando
damente 50 nacionalidades diferentes: da os consumidores europeus e estadunidenses
região, bolivianos, brasileiros, colombianos, trabalho também não puderam mais contar com a produção
equatorianos, peruanos e venezuelanos; de do sudeste asiático. A exploração da borracha
fora, cubanos, granadinos, irlandeses, suecos,
foi afetado pelas teve grandes impactos negativos nos povos
❱❱❱ Despovoamento e regime de servidão: conseqüências da colonização européia da Amazônia. belgas, chineses, japoneses, indianos, turcos, mudanças: a mão- indígenas em termos de autonomia e valores
russos, etc. (Hardman, 1988). O trabalho nas tradicionais.
matas de onde se extraía a borracha e nas de-obra indígena
“Não temos outro lecimentos comerciais, como a Casa Braillard, trada em áreas não-ocupadas pelas socieda- grandes obras cobrou seu preço em vidas hu-
continuou sendo Quanto à fauna, utilizada na alimentação
fundada em 1892 (Beltrán, 2001). des nacionais, como também facilitou o aces- manas: uma morte por tonelada de borracha principalmente, mas também destinada à
mundo para onde so ao Atlântico a partir das áreas amazônicas exportada; nas obras da Madeira-Mamoré, usada em grande exportação de peles e plumas, destaca-se a
nos mudar.” A expansão relativamente rápida das áre- das vertentes dos Andes. Além disso, permi- entre 1907 e 1912, cerca de seis mil homens
escala, mas a
grande pressão sofrida pelas espécies aquá-
as de exploração da borracha em boa parte tiu que locais extremos da região estivessem deram a vida por uma ferrovia que nunca foi ticas, como o pirarucu (Arapaima gigas) e o
da bacia amazônica, com o deslocamento ligados aos principais centros articuladores de concluída. peixe-boi (Trichechus manatus). Além des-
Amazônia também sas, diversas espécies de quelônios de água
de homens e mercadorias por milhares de comércio, independentemente das fronteiras
quilômetros, não teria sido possível sem a nacionais, bem como a vinculação de todos Na segunda década do século XX, o preço incorporou grandes doce, em particular a Podocnemis expanda,
Gabriel García Márquez. introdução da navegação a vapor, em 1853. estes a um mesmo processo de circulação do látex sofreu uma queda irrecuperável com conhecida como charapa, arrau ou tartaruga-
Esse avanço, fundamental para os meios de de mercadorias, sustentado pela extração e o surgimento das plantações no sudeste asi- contingentes de do-amazonas. Essa espécie, consumida des-
transporte regionais, além de aumentar sig- comercialização do látex. ático, que levou ao colapso da economia ba- trabalhadores de tempos pré-coloniais, difundiu-se bas-
nificativamente a capacidade de carga das seada nessa espécie (Santos, 1980, p. 237). tante nos séculos seguintes, principalmente
embarcações, reduziu de modo drástico a O crescimento da exportação de borracha Muitas áreas incorporadas pela fronteira de provenientes de nas áreas de colonização portuguesa, onde a
duração das viagens pelos rios amazônicos. produziu grandes mudanças na região, que extração de látex foram abandonadas, e an- exploração da tartaruga foi uma atividade co-
Até então, o transporte regional dependia recebeu investimentos inclusive de empresas tigos laços comerciais se fragilizaram e até outras regiões. mercial de grande importância regional (IIAP,
exclusivamente de pequenas embarcações européias e norte-americanas. A aceleração mesmo se desfizeram. Essa situação desatou 2001).
a vela ou a remo, motivo pelo qual uma via- do desenvolvimento urbano foi resultado não um processo de diversificação comercial das
gem de Belém a Manaus podia durar entre apenas do surgimento de novas povoações atividades extrativistas – extração de madeira, Os danos ambientais, embora não re-
40 e 90 dias, conforme a variação da vazão nas fronteiras de expansão, mas também do coleta de resinas, caça para comercialização presentassem uma ameaça maior à integri-
dos rios, a intensidade dos ventos e a estação crescimento de antigos núcleos urbanos. No de peles – e de abertura de novas fronteiras dade do bioma amazônico, com freqüência
do ano. Com os barcos a vapor, a mesma Peru, Iquitos, que tinha somente algumas extrativistas, como a da castanha-do-pará, colocaram em xeque a sustentabilidade da
viagem podia ser feita em oito dias. centenas de habitantes em 1870, transfor- no alto Tocantins. Vale lembrar, porém, que ocupação colonial: o esgotamento de alguns
mou-se numa cidade de dez mil habitantes, isso não significou o fim do comércio das recursos naturais deflagrou crises de natureza
A introdução dessa inovação técnica nos em 1896. Manaus também experimentou gomas elásticas. Este passou a ser realizado local, inviabilizando a permanência de assen-
rios amazônicos não apenas estimulou a en- um crescimento vertiginoso: de uma peque- em pequena escala e teve uma breve alta tamentos humanos nas áreas afetadas.
56
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>57

TABELA 1.2
Taxa de crescimento e PIB per capita das regiões amazônicas (em US$, ano 2000)

PBI PER CAPITA PBI PER CAPITA REGIÃO / TAXA DE CRESCIMENTO DO


REGIÕES 2005 NACIONAL 2005 (%) PIB 1995-2005
BOLÍVIA (a) 1.178,07 3,23%
BÊNI 817,81 69,42 0,84%
PANDO 1.489,10 126,40 4,75%
SANTA CRUZ 1.586,22 134,64 3,95%

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


BRASIL (b) 3.609,52 2,34%
ACRE 1.908,13 52,86 4,42%
AMAPÁ 2.521,51 69,86 3,60%
AMAZONAS 4.242,13 117,53 4,69%
MARANHÃO 1.019,55 28,25 4,45%
MATO GROSSO 3.769,99 104,45 7,70%
❱❱❱ O meio natural sustenta diversos modos de PARÁ 1.852,04 51,31 2,81%

1.4|Novosmodelos
vida na Amazônia. RONDÔNIA
RORAIMA
2.314,37
1.810,99
64,12
50,17
4,66%
7,79%

deocupação TOCANTINS 1.400,98 38,81 6,26%


COLÔMBIA (c) 2.018,35 12,95%
territorial AMAZONAS 940,95 46,62 13,90%
CAQUETÁ 1.111,15 55,05 11,63%
GUAINIA 769,73 38,14 12,72%
Os modelos de ocupação do território amazônico de séculos anteriores visão comum da Amazônia. As visões parciais e particulares
passaram por importantes mudanças até chegar ao que são hoje em dia: de cada país implicam uma diversidade de estruturas de GUAVIARE 1.210,03 59,95 5,75%
a velocidade de deslocamento dessas fronteiras e a intensidade das trans- organização da temática ambiental, e da amazônica, em PUTUMAYO 705,33 34,95 11,70%
formações que são capazes de promover levam a crer que o processo de particular, bem como de políticas, instrumentos e níveis de VAUPÉS 1.424,66 70,59 13,28%
ocupação dessas “últimas fronteiras do planeta” é irreversível. implementação (para mais detalhes, ver o capítulo 5). EQUADOR (d) 1.605,58 3,22%
MORONA SANTIAGO 705,94 43,97 -2,52%
Enquanto nos Andes a direção de avanço das fronteiras de expansão Atualmente, os países que fazem parte da região ama-
é a mesma de antigamente, no Brasil a situação mudou: uma alteração zônica apresentam níveis de desenvolvimento econômico NAPO 871,43 54,28 -4,13%
nas rotas de penetração acrescentou uma nova forma de ocupação muito diferentes. Um importante indicador disso é diferen- ORELLANA 25.628,22 1.596,20 97,61%
territorial ao antigo modelo. Até meados do século XX, a foz do rio Ama- ça entre os produtos internos brutos (PIB) dos países, ou PASTAZA 6.620,34 412,33 33,58%
zonas foi a porta de entrada para a Amazônia brasileira e a ocupação seja, o nível de valor agregado gerado por suas economias. SUCUMBIOS 10.083,96 628,06 63,86%
foi predominantemente ribeirinha. As principais cidades amazônicas Assim, países como o Brasil e a Venezuela têm um PIB ZAMORA - CHINCHIPE 990,77 61,71 0,21%
localizavam-se nas margens dos grandes rios, como ainda ocorre nos per capita de mais de US$3.000, e outros, como a Guia-
dias de hoje. As terras mais elevadas, na região do planalto brasileiro, na, de menos de US$1.000. Uma análise das economias
GUIANA (e) 960,61 1,73%
ao sul, e das guianas, ao norte, eram de difícil acesso, pois a navegação amazônicas fornece uma imagem mais clara dos níveis de PERU (f) 2.352,47 3,32%
pelos rios para chegar a elas é limitada por grandes cachoeiras que desenvolvimento econômico, como pode ser observado AMAZONAS 1.247,53 53,03 1,19%
correspondem à transição entre o planalto e a planície fluvial. Desde pelos indicadores da tabela 1.2.2
LORETO 2.136,18 90,81 0,31%
meados da década de 50 do século passado, quando o planejamento
regional definiu o que se conhece como a “Amazônia Legal”, a direção
MADRE DE DIOS 3.223,56 137,03 6,47%
desse avanço mudou e a ocupação passou a se dar a partir do centro SAN MARTIN 1.323,30 56,25 5,04%
do país, com estradas atravessando o planalto e ligando o resto do país A velocidade de deslocamento das UCAYALI 1.601,35 68,07 3,17%
às principais cidades amazônicas. Foi por essas estradas que se deslo- SURINAME (g) 2.551,00 3,35%
caram as novas fronteiras de expansão.
diferentes frentes de expansão
VENEZUELA (h) 5.117,04 1,97%
parece tornar irreversível o processo
O processo histórico de ocupação do território amazônico deu lu-
gar ao desenvolvimento de estruturas políticas, econômicas, sociais e de ocupação dessas “últimas (a) Fonte: Bolívia: Instituto Nacional de Estatística. (b) Dados de 2004. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (c) Dados de 2003.
Fonte: Departamento Administrativo Nacional de Estatística da Colômbia. (d) Dados de 2004. Valores das províncias correspondem ao valor
ambientais diferenciadas. A institucionalidade ambiental amazônica é bruto agregado. Fonte: Banco Central do Equador. (e) Fonte: Escritório de Estatística da Guiana. (f) Fonte: Peru: Instituto Nacional de Estatística e
gerida de maneira independente em cada país; apesar dos esforços
fronteiras do planeta”. Informática. (g) Fonte: Suriname: Escritório Geral de Estatística. (h) Fonte: Banco Central da Venezuela.

para empreender programas e projetos conjuntos, ainda não existe uma


2Para a elaboração da tabela utilizou-se o critério de divisão política maior
dos países, uma vez que os dados de PIB só estão disponíveis nesse nível.
58
CAPÍTULO1
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo

TABELA 1.3
Principais atividades produtivas na Amazônia

PAÍS PRINCIPAIS ATIVIDADES PRODUTIVAS NA AMAZÔNIA


Agricultura (milho, mandioca, legumes)
Hidrocarbonetos (petróleo, gás natural)
BOLÍVIA
Mineração (ouro, lítio, bauxita)
Exploração florestal (madeireira e não-madeireira [castanha])
Agricultura (milheto, pecuária)
Exploração florestal
BRASIL
Indústria (agroindústria, petroquímica, manufatura)
Mineração (ouro, cobre, bauxita, ferro)

SERGIO AMARAL / OTCA


Agricultura (café), pecuária
Exploração florestal
Hidrocarbonetos (petróleo)
COLÔMBIA Pesca (para consumo e ornamentais) ❱❱❱ A exploração de hidrocarbonetos e os megaprojetos de infra-estrutura alteram a integridade da floresta.
Indústria (agroindústria, aqüicultura)
Serviços (turismo, bancos, restaurantes)
Agricultura (banana, flores, cacau, café) “Em vez de pro- 27%, e Orellana, de 19%, ao passo que a na-
cional é de 48%. Enquanto na primeira região
cultura, a mineração e a exploração de hidro-
carbonetos, assim como a produção florestal,
EQUADOR Exploração florestal curar o que não apenas 14% da população são atendidos pela são muito importantes na geração de riqueza
Hidrocarbonetos (petróleo)
Agricultura (açúcar, arroz)
tens, encontra rede de água, e na segunda, 13%, esse índice para as nações amazônicas. No caso da agri-
no país é de 48%. cultura, destacam-se espécies como o milhe-
GUIANA Exploração florestal aquilo que nunca to, o arroz e o café. Os recursos minerais e
Mineração (bauxita, ouro) perdeste.” Destaque-se, ainda, que as regiões que energéticos encontram-se amplamente dis-
concentram atividades produtivas significati- tribuídos na Amazônia: bauxita, zinco, carvão,
Agricultura (dendê, café, milho)
vas experimentam um fluxo migratório mais manganês, ferro e uma grande quantidade
Mineração (ouro) intenso devido à maior oferta de emprego, o de outros minérios são explorados na região
PERU
Exploração florestal qual ocasiona um aumento na demanda por – e há vários outros a serem explorados –,
Hidrocarbonetos (petróleo, gás natural) serviços básicos que, em muitos casos, não bem como petróleo e gás natural. A explora-
Agricultura (arroz, banana) NISANGARATTA pode ser atendida. Some-se a isso o fato de ção florestal é também uma atividade econô-
SURINAME Mineração (ouro, bauxita) (HIMALAIA, 2000 A.C.) que apenas pequena parte dos ganhos eco- mica em crescimento, embora não-uniforme
nômicos é aplicada na região, resultando em quanto ao nível de industrialização. A maioria
Hidrocarbonetos (petróleo)
níveis de desenvolvimento muito reduzidos. dessas atividades são extrativistas e geram
Hidrocarbonetos (petróleo) O estado do Amazonas (Brasil) é uma exce- pouco valor agregado, fato que revela o po-
VENEZUELA ção: o crescimento da atividade industrial, de tencial de crescimento econômico da região
Turismo
caráter não-extrativista, foi responsável por um (para mais detalhes, ver capítulo 2).
Elaboração: Autores. desenvolvimento significativo.
Deve-se destacar que, no Brasil, ao contrário
Algumas regiões com níveis de PIB per dos demais países da região, desenvolveu-se
A análise do PIB per capita das regiões muito pelo contrário, o que se observa em sua capita 50% abaixo da média nacional (Ma- um cluster industrial de manufatura, localizado
amazônicas mostra que algumas regiões re- maioria são indicadores de pobreza elevados. ranhão e Tocantins, no Brasil; Amazonas, na cidade de Manaus. O principal estímulo para

500
gistram valores superiores aos do respectivo O Equador é um exemplo dessa situação. O Guainia e Putumayo, na Colômbia; e Morona esse crescimento foi a criação da zona franca,
país. Tal situação resulta do número relativa- PIB per capita de Orellana e Sucumbios é par- Santiago, no Equador) ainda têm recursos na- em meados da década de 60 do século XX.
mente pequeno de habitantes dessas regiões ticularmente alto porquanto nessas regiões se turais a ser explorados. A zona franca emprega diretamente em torno
e da exploração de uma grande quantidade concentram as principais jazidas de petróleo de 50.000 pessoas e indiretamente, 350.000,
INDÚSTRIAS de recursos naturais, como minérios, petró- do país, com cerca de 5 milhões de hectares Apesar das desigualdades no que tange distribuídas entre cerca de 500 indústrias, que
OPERAM NA leo ou gás (Amazonas, no Brasil, e Orellana, em regime de concessão; seus índices de po- ao desenvolvimento econômico, como se fabricam predominantemente eletrodomésti-
ZONA FRANCA no Equador), que constituem uma fonte de breza, no entanto, são mais elevados que o pôde observar na análise anterior, é possível cos, produtos de informática, equipamentos
DE MANAUS E valor agregado. Não se pode afirmar, porém, nacional: 84,2% em Sucumbios, 80,2% em apontar um aspecto comum entre os oito profissionais e componentes eletrônicos. Pro-
GERAM 400.000 que essas regiões tenham um nível de desen- Orellana e 55% no âmbito nacional. No que países: as principais atividades produtivas duzem-se também motocicletas, instrumentos
EMPREGOS DIRETOS volvimento elevado, pois na maior parte dos se refere ao saneamento público, Sucumbios desenvolvidas na Amazônia dependem da de relojoaria, produtos químicos, equipamentos
E INDIRETOS. casos os lucros não são reinvestidos na região; apresenta uma taxa de cobertura de esgoto de disponibilidade de recursos naturais. A agri- ópticos, brinquedos, etc.
60
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>61

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP

DANTE PIAGGIO / EL COMERCIO


ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP

JUAN PRATGINESTÓS / acervo PPG7-GTZ


O processo histórico de ocupação territorial da
Amazônia levou ao desenvolvimento de estruturas
políticas, econômicas, sociais e ambientais
diferenciadas. A institucionalidade ambiental da
ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP

ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO


Amazônia é gerida de maneira independente entre
os países; apesar dos esforços para empreender
programas e projetos conjuntos, ainda não existe
uma visão comum da Amazônia.
62
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>63

OS RIOS DA AMAZÔNIA: EIXOS DE


DRENAGEM, FONTE DE VIDA E MEIO
DE COMUNICAÇÃO.
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
A REGIÃO AMAZÔNICA
A Amazônia é uma região privilegiada em Francisco de Orellana Áreas de concentração da A biodiversidade amazônica
O conquistador espanhol, que integrava a biodiversidade no mundo A Amazônia ocupa apenas 6% da
biodiversidade. De acordo com o critério político- expedição empreendida por ordem de Francisco Existem quatro regiões no mundo superfície dos continentes, mas
administrativo, ocupa uma superfície de 7.413.827 Pizarro em busca do “País da Canela”, chegou privilegiadas em diversidade biológica, representa mais da metade das
com um grupo de homens ao Amazonas. Em florestas tropicais úmidas do planeta.
km2, que representa 54% do território dos oito fevereiro de 1542, tornou-se o primeiro europeu
todas elas florestas tropicais. Essas
florestas tropicais úmidas vêm sendo Abriga mais de 10% das espécies de
Selva africana
países-membros da OTCA. a percorrer o Amazonas em toda a sua extensão,
Amazonas
Selva asiática devastadas a um ritmo acelerado, que plantas do planeta, bem como uma
até sua foz, no oceano Atlântico. compromete a disponibilidade de bens quantidade de espécies animais
Madagascar e serviços ecossistêmicos no futuro. difícil de calcular.

Área total
Colômbia Área da Amazôn
1.141.748 km2 ia
477.274 km2 Venezuela
VENEZUELA Bacia Amazônica 916.445 km2

Equador
Equador 53.000 km2
SUPERFÍCIE DA FLORESTA AMAZÔNICA Território biodiverso
40%
GUIANA
283.561 km2
COLÔMBIA SURINAME 115.613 km2 O ecossistema amazônico é a maior área contínua de
Rio Branco Peru Colômbia Brasil Amazônia peruana
Rio Caquetá 8.514.876 km2 floresta tropical úmida do mundo, com aproximadamente 6 A Amazônia peruana detém o recorde mundial de
Do território Rio Negro
Rio Trombetas
Peru 5.034.740 km2 milhões de km2. Seu papel é essencial à diversidade e maior número de espécies de borboletas (4.000).
sul-americano é EQUADOR Rio Japura IQUITOS 1.285.216 km2
conservação da vida natural do planeta. Também se destaca pela concentração de répteis
considerado Rio Napo Rio Putumayo Turismo. Em 2007, os Bolívia Venezuela 782.786 km2
Amazônia. Peru (48%) e anfíbios (79%) com relação ao resto do
40 Rio Marañon Rio Jurua
países-membros da
Organização do Tratado
Fundada em 1757
Os solos amazônicos país.

mil 396.615
Rio Purús Rio Tapajós
Rio Ucayali de Cooperação Guiana Bolívia

1
Rio Madeira Rio Xingú habitantes (2005) 1.098.581 km2 Na floresta amazônica, os nutrientes encontram-se
Amazônica (OTCA) 724.000 km2 Amazônia brasileira Amazônia equatoriana
Espécies de plantas PERU BRASIL
lançaram a Iniciativa principalmente na biomassa.
foram identificadas na Rio Tocantins Concentra 54% das espécies de Concentra 53% do total
2009: Ano do Destino plantas, 73% das espécies de
2
bacia amazônica. As árvores têm alta capacidade de reabsorver os nacional de espécies de
Amazônia, com a mamíferos e 80% das espécies de mamíferos.
BOLÍVIA
finalidade de promover a Brasil nutrientes provenientes da decomposição de
O rio Amazonas nasce no matéria orgânica, através das raízes superficiais e aves existentes no território nacional.
desfiladeiro de Apacheta, no região amazônica como
departamento de Arequipa, destino de turismo
Suriname da abundância de fungos. Tucano

Peru. sustentável. Amazônia colombiana


6
5.000 m.s.n.m.
Florestas de Florestas das áreas
nevoeiro de piemonte
Florestas
de planície
3 São cobertos por uma camada de matéria
orgânica, fonte de nutrientes para as plantas. Os
nutrientes contidos na matéria orgânica são
Concentra 46% das aves
registradas no território
Onça

2 4.000 m.s.n.m. disponibilizados pela rica microfauna do solo. Para nacional.


Milhões de km , Amazônia Alto Amazonas. MANAUS Rã do gênero dendrobates
aproximada- 3.000 m.s.n.m. (critério hidrográfico) serem destinados à agricultura permanente,
mente, é a área
Bolívia, Colômbia, Brasil
2.000 m.s.n.m. Equador e Peru. Fundada em 1669 precisam primeiro ser desmatados. O efeito das
atual da
cobertura 1.000 m.s.n.m. Amazônia 1.646.602
BELÉM intensas chuvas nas áreas desmatadas provoca o
(critério ecológico) Baixo Amazonas.
florestal. 0 m.s.n.m. Brasil, Guiana, habitantes (2007) Brasil empobrecimento do solo, reduzindo, assim, sua
Suriname e Fundada em 1616 fertilidade.
Oceano Pacífico Oceano Atlântico Venezuela. 1.408.847 Boto-cor-de-rosa
habitantes (2007)
4 Nas áreas aluviais inundáveis, o solo é mais fértil
em razão da deposição de silte e argila, porém sua
Tucunaré

POPULAÇÃO AMAZÔNICA drenagem é deficiente. Os solos das áreas

39
não-aluviais nas restingas, nos morros e nas
Diversa e antiga, formada por variados grupos humanos: povos montanhas são enriquecidos pela biomassa que
indígenas, caboclos, ribeirinhos, população urbana, entre outros. sustentam.
Constitui a base de um complexo mosaico social e econômico. milhões de pessoas Camada superficial rica em
vivem na Amazônia húmus (material orgânico
Aguaruna maior, entre eles parcialmente decomposto) e

420
(Peru) diversos organismos. Jacaré-açu Pirarucu Pacu
Yagua
(Peru) Maku
(Brasil) BIODIVERSIDADE
povos indígenas, E PRODUTOS
detentores de valores Mais de 2.000 espécies de plantas identificadas
e de conhecimentos pela utilidade, como alimentos, medicamentos
tradicionais. Macrofauna.
e outros fins. Embuás,
minhocas,
Auca kunamaris minhocuçus,
indígena
Shipibo (Peru - Brasil) centopéias,
População e
(Equador) (Peru) formigas, etc.
Número de A ilha de Marajó é a maior
Número d enas ilha fluvial do mundo (48.000 km2).
País povos indíg pulação indí
gena Tambaqui
habitantes * Inclui a po
andina .
007) 175 de origem O zooplâncton é uma fração
sil 300.000 (2 Parcela da população Mesofauna. do plâncton constituída por
Bra 005) 59 0,28% (2001) Colêmbolos,
300.000 (2
seres que se alimentam de
Peru 005) 62 amazônica em cada país 16,0% (2005)
100% (2004) opiliões, matéria orgânica.
107.231 (2 100% (2002) nematóides, etc.
Colômbia 01) 25 5,0% (2005)
48.123 (20 2,2% (2005)
Bolívia 001) 17 13,6% (2007) Venezuela
37.362 (2 9,7% (2001) Suriname
Venezuela - Peru
- A camada inferior é formada por
Guiana 006) 10 Guiana um componente mineral de O fitoplâncton representa, junto
369.810 (2 Colômbia Equador com as plantas superiores que
Equador * - Brasil
partículas muito finas. Sua coloração
vivem na Amazônia, o primeiro
12.000 Bolívia Microfauna. Fungos, vermelha se deve da acumulação
Suriname bactérias e algas. de óxidos de ferro e alumínio. elo da cadeia alimentar.
>65
AUTORES:
ROSARIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
JUAN CARLOS ALONSO Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
DOLORS ARMENTERAS Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia

2.1
MÓNICA MORALES Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia
CARLOS SOUZA Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) – Brasil DINÂMICA
SOCIODEMOGRÁFICA
COAUTORES:
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil

2.2
FERNANDO RODRÍGUEZ Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana – Peru
URIEL MURCIA
MARLÚCIA BONIFACIO
Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Brasil
DINÂMICA
MARCUS XIMENES PONTE Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM) – Brasil ECONÔMICA
LEONARDO DE SÁ Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) / Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG) / Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) – Brasil
ARNALDO CARNEIRO FILHO Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) – Brasil

2.3 MUDANÇAS NO
USO DO SOLO

DINAMICAS 2.4 CIÊNCIA,


TECNOLOGIA E
INOVAÇÃO

NA 2.5 MUDANÇAS CLIMÁTICAS


E EVENTOS NATURAIS

AMAZONIA
66
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >67

TABELA 2.1
A SITUAÇÃO AMBIENTAL DA REGIÃO AMAZÔNICA É O RESULTADO DA População aproximada da Amazônia maior e da Amazônia menor (2005)

interação de um conjunto de forças motrizes sociodemográficas, econômicas, político- PRESSÃO DEMOGRÁFICA


institucionais e científico-tecnológicas, bem como da pressão exercida pelas mudanças ÂMBITO
POPULAÇÃO TOTAL
DENSIDADE
POPULACIONAL
(% DA AMAZÔNIA)
(2005)
no clima e no uso do solo, em estreita combinação. Esse conjunto de forças motrizes (HABITANTE/km²) ALTA
>100
INTERMEDIA
25 -100
BAXIA
< 25
é responsável por processos que condicionam as mudanças nos padrões de utilização
AMAZÔNIA MAIOR 38.777.600 4,74 0,61 2,81 96,58
dos recursos naturais e os impactos ambientais decorrentes desse uso, afetando
AMAZÔNIA MENOR 11.037.260 2,14 0,32 1,23 98,45
diretamente os serviços ecossistêmicos. Assim, é importante analisar as características
MUNDO 6.453.628.000 47,83 8,28 12,61 79,11
dessas forças e suas ligações com o funcionamento do ecossistema amazônico.
Notas:
Pressão demográfica: alta = mais de 100 hab./km2; intermediária = entre 25 e 100 hab./km2; baixa = menos de 25 hab./km2.

2.1|Dinâmica
Elaborado pelo PNUMA/GRID Sioux Fall a partir de GPWv3 e informação da Rede de Informação Internacional de Ciências da Terra (CEISIN) do
Instituto da Terra da Universidade de Columbia.

sociodemográfica MAPA 2.1a MAPA 2.1b


Densidade populacional da Amazônia maior e Densidade populacional da Amazônia maior e da
Conforme descrito no capítulo 1, do ponto de vista sociocultural a da Amazônia menor (1990). Amazônia menor (2005).
população amazônica distingue-se pela diversidade. Trata-se de uma
população heterogênea, com diferentes padrões de aproveitamento 0
1-4
0
1-4
dos serviços ecossistêmicos amazônicos. O crescimento populacional 5-9
10 - 14
5-9
10 - 14
na Amazônia está associado à progressiva demanda de seus habitan- 15 - 24
25 - 49
15 - 24
25 - 49
tes por bens e serviços tais como alimentos, energia elétrica, água 50 - 99
> 100
50 - 99
> 100
potável, esgoto, saúde, para atender às suas necessidades básicas. Amazônia maior
Amazônia menor
Amazônia maior
Amazônia menor
Fronteira internacional Fronteira internacional

POPULAÇÃO E FLUXOS MIGRATÓRIOS

A determinação do número de habitantes da região amazônica variará


de acordo com o critério empregado na definição da própria Amazô-
nia, assim como com a metodologia e o critério escolhidos por cada
país para definir sua respectiva população amazônica. Assim, a seguir
apresentaremos as populações correspondentes às Amazônias maior
e menor, conforme definidas no capítulo 1, calculadas com base em
informação demográfica georreferenciada e fontes internacionais. Na
seqüência, faremos uma análise da população amazônica mediante
informação estatística oficial dos países amazônicos.

Considerando os âmbitos das Amazônias maior e menor, em


2005 a população amazônica foi de, respectivamente, 38.777.600
e 11.037.260 habitantes (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente [PNUMA], 2008), como pode ser observado na tabela 2.1.
ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP

Comparando os mapas 2.1a e 2.1b, fica evidente não apenas o cres- Com base na informação divulgada pelos países amazônicos e
cimento da população, mas também a sua concentração no sul da nas taxas médias de crescimento anual registradas nos dois últimos ESTIMA-SE QUE CERCA DE

75%
Amazônia brasileira, no oeste da Amazônia (principalmente no Peru) períodos censitários, estima-se que em 2007 viviam na Amazônia
e ao longo do eixo do rio Amazonas (na área de Iquitos, Peru, na região 33.485.981 habitantes (cálculos do GEO Amazônia). Essa população
de fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru e nas aglomerações urbanas representa 11% da população total dos países-membros da OTCA.
de Manaus e Belém, no Brasil). Observa-se ainda um quase vazio O Brasil concentra 76% da população amazônica total, seguido do
demográfico na planície amazônica colombiana, equatoriana e vene- Peru, com 13% (tabela 2.2). Depreende-se desses dados que o Peru DA POPULAÇÃO TOTAL
zuelana, muito embora os dois primeiros países apresentem focos de ❱❱❱ Família de colonos, habitantes freqüentes das é o país andino-amazônico que tem a maior proporção de população DA AMAZÔNIA SE
população na base dos Andes. margens dos rios amazônicos. nacional assentada na região amazônica (16%). CONCENTREM NO BRASIL.
68
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >69

TABELA 2.2 O crescimento da população


População na Amazônia
amazônica está associado às
PAÍSES NÚMERO DE HABITANTES TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIO ANUAL
Notas: migrações, que são resultado
* Dados fornecidos por Melvy Aidde Vargas
BRASIL
1980
11.015.363
1991
16.146.059
2007
24.970.600
1980-1991
3,5
1991-2007
2,8 (“Demografía de la región amazónica: el das políticas nacionais de
caso de Bolivia”, 2005), baseados nos Cen-
COLÔMBIA
1985
1.607.093
1993
658.723
2005
960.239
1985-1993
-10,5
1993-2005
3,2
sos Nacionais Populacionais da Bolívia. Em:
Aragón (2005).
colonização e povoamento,
EQUADOR
1982
263.797
1990
372.533
2005
629.373
1982-1990
4,4
1982-2005
3,6
da expansão de atividades
No Peru, considera-se o critério ecológico.
GUIANA
1980 1991 2002 1980-1991 1991-2002
Fontes: Aragón (2005). Bolívia: Instituto Na- produtivas, do deslocamento
759.568 723.673 751.223 -0,4 0,3
cional de Estatística. Brasil: IBGE. Colômbia:
PERU
1981 1993 2005 1981-1993 1993-2005 Instituto Sinchi. Equador: Ecorae (2006). da população para
1.253.355 3.542.391 4.361.858 9,0 1,38 Guiana: Agência de Proteção Ambiental
1980 1993 2004 1980-1990 1980-2004
(2007). Peru: INEI-IIAP (2006). Suriname: regiões mais pacíficas, em
SURINAME Escrutório Geral de Estatística. Venezuela:
354.860 s.i 492.823 s.i 1,38
INE. Censo Geral Populacional e Domiciliar,
1981, 1990 e 2001.
decorrência da violência, e
1981 1990 2001 1981-1990 1990-2001
VENEZUELA*
45.667 55.717 70.464 2,2 2,16
do desenvolvimento de infra-
estrutura de transportes.
A população amazônica cresceu a uma taxa GRÁFICO 2.1
média anual de 2,3% no período 1990-2007, Taxa de crescimento médio anual da população amazônica (por país)
e o Equador foi o país que registrou a maior sionou-se a expansão em direção à região e
Década 1990-1980 Década 2000-1990
taxa média de crescimento anual (3,6%). Crescimento da população do país na década de 2000-1990
grandes fluxos migratórios adentraram áreas
Deve-se destacar que, nos primeiros anos indígenas no nordeste da região. A geografia
do presente século, o ritmo de crescimento 4,4 amazônica foi transformada e adaptada ao
Equador 3,6
da população amazônica tem sido superior à 1,8 desenvolvimento de um modelo de pecuária
taxa de crescimento populacional nacional da extensiva e ao surgimento da intensa explora-
maioria dos países amazônicos, sobretudo no 0,0 ção de petróleo, que impulsionaram a colo-
Equador, Colômbia e Brasil (gráfico 2.1). Bolívia 3,2 nização, gerando grandes impactos sobre os
2,9
territórios dos povos indígenas (Cofán, Inga,
O crescimento da população amazônica entre outros).

ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO


-10,5
está associado às migrações, que têm sido Colômbia 3,2
1,4
um processo contínuo na região. As migra- A região amazônica do Peru também
ções são resultado de condicionantes de experimentou, de modo precoce, um gran-
natureza diversa: por um lado, as políticas Brasil
3,5
2,8
de crescimento da população, que quadru-
nacionais de colonização e povoamento 1,4 plicou entre 1940 e 1981 (de 414.452 para
(p.ex., no Brasil e Peru) e a expansão de 1.796.283 habitantes), devido principalmente
atividades produtivas (p.ex., agricultura de 2,2 aos movimentos migratórios, que se intensifi-
Venezuela 2,2
monocultura, pecuária, mineração e explo- 2,1 caram na década de 60. Os departamentos
ração de hidrocarbonetos e de madeira); por para incentivar a ocupação da Amazônia, com de San Martin e Ucayali, por exemplo, torna-
outro, o contingente de pessoas deslocadas Família e moradia a criação de colônias agrícolas ao longo da es- ram-se importantes pólos migratórios em ra-
9,0
pela violência para regiões vizinhas mais Peru 1,7 indígenas na região de trada Transamazônica. Ademais, a expansão zão da expansão da fronteira agropecuária, e,
1,5 selva alta da Amazônia.
pacíficas. Além dessas, o desenvolvimento de pólos de desenvolvimento como Manaus, recentemente, por funcionarem como centros
de infra-estrutura de transportes estimula o por meio do turismo e da indústria, o desen- estratégicos de produção e processamento de
1,4
desenvolvimento de povoados. Tais fatores Suriname volvimento de projetos de geração hidrelétri- coca. No departamento de Madre de Dios, o
1,4
transformaram a Amazônia em uma válvula ca e de infra-estrutura rodoviária, assim como garimpo de ouro, a extração de madeira, a ex-
de escape para as tensões sociais da região de empreendimentos agrícolas, pecuários e ploração florestal não-madeireira (p.ex., casta-
-0,4
e levaram à ocupação de terras e ao desen- 0,3
florestais, atraíram um importante fluxo de nha) e, no período mais recente, a expansão
Guiana
volvimento de assentamentos humanos e 0,3 imigrantes, principalmente no norte do Mato do ecoturismo foram os responsáveis pela
empreendimentos agropecuários. -15 -10 -5 0% 5 10 15
Grosso e em Rondônia e Roraima. imigração. Com o crescimento demográfico e
as mudanças em referência ao uso do solo,
No Brasil, “Uma terra sem homens para Fontes: Aragón, Luis (2005). Bolívia: Instituto Nacional de Estatísticas. Brasil: IBGE. Colômbia: Instituto Sinchi. Na Colômbia, a Amazônia foi uma válvula a Amazônia peruana passou a ocupar uma
homens sem terra” foi o slogan usado pelos Equador: Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Peru: INEI-IIAP (2006). Suriname: de escape durante a chamada “etapa da vio- posição de destaque na economia nacional
Escritório Geral de Estatística. Venezuela: INE. Censo Geral Populacional e Domiciliar, 1981, 1990 y 2001.
governos da década de 70 do século passado lência”. Entre as décadas de 50 e 70, impul- (Barclay et al., 1991).
70
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >71

GRÁFICO 2.2 GRÁFICO 2.3


Densidade demográfica da Amazônia (por país) Amazônia: população urbana (%)

Década 1990 Década 2000 Década 1990 Década 2000

4,53
Peru 5,57

3,21 64,8
Brasil 4,96 Venezuela 75,22

3,22 55,79
Equador 5,44 Brasil 68,22

3,77 56
Guiana 3,92 Peru 61,67

2,49 47,5
Suriname 3,45 Bolívia 51,6

1,38 35,9
Colômbia 2,01 Colômbia 49,6

0,84
Bolívia 1,11 Guiana 28,4

0,30 22,0
Venezuela 0,38 Equador 24,9

Hab/km² 0 1 2 3 4 5 6 0 10 20 30 40 50 60 70 80
Nota: Não há informação disponível para o Suriname.
Fonte: Aragón (2005). Bolívia: Instituto Nacional de Estatísticas. Brasil: IBGE. Colômbia: Instituto Sinchi. Equador: Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Fontes: Aragón (2005). Bolívia: Instituto Nacional de Estatísticas. Brasil: IBGE. Colômbia: Instituto Sinchi. Equador: Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007).
Peru: INEI-IIAP (2006). Suriname: Escritório Geral de Estatística. Venezuela: INE. Censo Geral Populacional e Domiciliar, 1981, 1990 e 2001. Peru: Instituto Nacional de Estatística (2002). Suriname: Escritório Geral de Estatística. Venezuela: INE. Censo Geral Populacional e Domiciliar, 1981, 1990 e 2001.

Na Bolívia, o processo migratório teve início na década


de 70 com a distribuição gratuita de grandes extensões
que põe em evidência o dinamismo do cres-
cimento das cidades. No Brasil, a população
“Os negócios A população amazônica é diversa e antiga
e foi gradualmente formando um complexo
de terra a particulares, sob a condição de que estes inves- urbana passou de 55,8%, em 1991, para florestais podem mosaico social e econômico (ver capítulo 1).
tissem em produção – o que não aconteceu na maioria
dos casos. A política de conceder terras a quem estivesse
68,2%, em 2007 (ver gráfico 2.3). Somen-
te o Equador e a Guiana têm uma parcela
contribuir à Ela é composta de diversos grupos humanos,
tais como indígenas, colonos, habitantes ri-
interessado e praticamente de modo gratuito levou a uma de população rural de mais de 60% de sua geração de um beirinhos e urbanos, que formam a base da
reconcentração da propriedade agrária no leste do país
(Urioste, 2004). Os processos de colonização propicia-
população amazônica.
grande número diversidade cultural amazônica.

ram a expansão da fronteira agrícola na Amazônia bolivia- A dinâmica populacional no território de empregos Ainda nestes primeiros anos do sécu-
na, estabelecendo-se na região culturas como cana-de-
açúcar, milho, algodão, arroz e soja, no departamento de
amazônico levou ao surgimento de cidades
de diferentes tamanhos, que correspondem
e produtos de lo XXI, há locais remotos e quase intactos,
semelhantes aos que, 500 anos atrás, fo-
Santa Cruz, e coca, no Chapare (Unidade de Análise de aos núcleos produtivos e sociais em expan- exportação e ram descobertos pelos homens de Alonso
Políticas Sociais e Econômicas [Udape], 2004). são. Existem cidades de grande porte, como tornar produtivas Mercadillo, Díaz de Pineda ou Francisco de
Manaus (1.646.602 habitantes [Brasil: Insti- Orellana. Nas florestas da Bolívia, do Brasil,
De igual forma, no Equador, a exploração de petróleo, tuto Brasileiro de Geografia e Estatística – as terras da Colômbia, do Equador e do Peru ainda vi-
seguida da agropecuária, incentivou fluxos migratórios IBGE, 2007]) e Belém (1.408.847 habitan- degradadas, com vem povos que não mantêm contato com a
para a Amazônia. Na Guiana, a expansão da mineração tes [IBGE, 2007]), no Brasil; Santa Cruz de sociedade (grupos “não-contatados”). Esses
atraiu trabalhadores tanto do próprio país como de países la Sierra (1.545.648 habitantes [Instituto Na- base no manejo povos indígenas em isolamento ou não-con-
vizinhos. cional de Estatística da Bolívia - INE, 2008]), sustentável da tatados habitam lugares de difícil acesso na
na Bolívia; e Iquitos (396.615 habitantes floresta tropical, vivendo do aproveitamento
A densidade populacional da região amazônica pas- [Peru: Instituto Nacional de Estatística e In- floresta.” dos recursos desta. Os países com maior
sou de 3,4 hab./km2, na década de 90, a 4,2 hab./km2, formática - INEI, 2005]), no Peru; e cidades número de povos indígenas em situação de
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

no período 2000-2007. Tal incremento concentrou-se de porte médio, com menos de 100.000 isolamento são Brasil (40) e Peru (20) (Bra-
no âmbito urbano. Brasil, Colômbia e Equador registra- habitantes, através das quais as regiões pro- ckelaire, 2006).
ram os maiores crescimentos em densidade populacio- dutoras se articulam entre si, viabilizando a
nal na região, de 45% (gráfico 2.2). atividade econômica regional (p.ex., Yurima- ANTÔNIO BRACK Os povos indígenas são detentores de
guas, no Peru, e Lago Ágrio, no Equador). (EXTRAÍDO DE: BRACK, cultura e valores próprios e estão assentados
No que se refere à distribuição da população urbana A seção sobre assentamentos humanos, no A., LA BUENA TIERRA) em áreas as mais diversas. Tradicionalmen-
e rural no território, a primeira experimentou um aumen- ❱❱❱ O modo de vida dos povos indígenas baseia-se nos capítulo 3, dedica-se ao crescimento urbano te, convivem em harmonia com a natureza
to, principalmente no Brasil, na Bolívia e na Venezuela, o bens e serviços proporcionados pela natureza. na Amazônia. e possuem extenso conhecimento sobre os
72
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >73

TABELA 2.3 QUADRO 2.1


Povos indígenas – população
SURINAME:
POVOS INDÍGENAS E DIREITOS DE PROPRIEDADE
PAÍS NÚMERO DE HABITANTES NÚMERO DE GRUPOS ÉTNICOS NÚMERO DE FAMILIAS LINGÜÍSTICAS
O Suriname é um dos países da América do Sul que não
BOLÍVIA 48.123 (2001) 25 18 reconhece os direitos de posse da terra dos povos indíge-
nas. Em sete regiões do país vivem 45 povos indígenas,
BRASIL 300.000 (2007) 175 34 com uma população de cerca de 12.000 habitantes.
Para resolver essa situação, a Associação de Líderes das
COLÔMBIA 107.231 (2005) 62 n.d. Vilas Indígenas (VIDS, na sigla em inglês) vem promo-
vendo o diálogo com o governo. Nesse sentido, elaborou
EQUADOR 369.810 (2006) 10 n.d. uma proposta de lei sobre direitos dos povos indígenas
e apresentou abaixo-assinados aos órgãos de direitos
GUIANA n.d. n.d. n.d. humanos da Organização das Nações Unidas.

PERU 300.000 (2005) 59 15 Com isso, a VIDS está buscando melhorar a compreen-
são sobre a questão tanto no Suriname como no exterior.
SURINAME 12.000 n.d. n.d. Além dessa atuação no exterior, dá apoio aos diversos
povos indígenas do país nas áreas de mapeamento e
VENEZUELA 37.362 (2001) 17 n.d.

DANTE PIAGGIO / EL COMERCIO


capacitação para o uso sustentável dos recursos naturais.
n.d.: não disponível.
Notas: (1) Os dados do Brasil não incluem indígenas em situação de isolamento voluntário ou suas famílias lingüísticas. Elaboração: Mariska Millieu (2007). Ministério da Saúde. Suriname.
(2) No Equador, considera-se como população indígena tanto a amazônica quanto a andina assentada nessa região, procedente de outros povos indígenas da serra. Outra
fonte, Outra fonte, como o Serviço de Iniciativas Locais para a Amazônia Equatoriana (Silae) (disponível em: <http://www.silae.org>), registra uma população indígena
amazônica de 160.000 habitantes stricto sensu, i.e., com modos de vida ancestrais próprios da região e contato reduzido com o mundo exterior.

Fontes: Aragón (2005). Brasil: Instituto Socioambiental - ISA (2007). Bolívia: INE (2003), Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Peru: INEI-IIAP ❱❱❱ Mulher indígena descascando mandioca ou yuca,
(2006). Suriname: Escritório Geral de Estatística.
base da alimentação da população amazônica.

Os povos indígenas vários usos da flora e da fauna. Na Amazô- Há pouca informação disponível sobre a se contexto, grupos ecologistas e de defesa conflitos entre comunidades indígenas e em-
nia, existem 420 povos indígenas diferentes, área ocupada pelos povos indígenas da Ama- dos povos da floresta intensificaram as suas presas privadas são ainda comuns.
em isolamento ou 86 línguas e 650 dialetos (OTCA, 2007), nú- zônia. O Brasil registra 175 povos indígenas, ações políticas.
meros que traduzem a diversidade cultural com uma população de 300.000 habitantes Em muitos países amazônicos, a questão
não contatados amazônica. Esses povos têm uma dinâmica (1% da população brasileira amazônica) vi- A exploração dos recursos naturais da da exclusão social dos povos indígenas foi
vivem do demográfica própria, apresentando diversos vendo em 107.721.017 ha, área que repre- Amazônia em territórios indígenas por em- atendida em certas circunstâncias. O poder
níveis e perfis de fecundidade e mortalidade senta 21,52% da Amazônia Legal. No Brasil, presas madeireiras e de exploração de petró- estatal central criou e promoveu instâncias
aproveitamento dos e padrões de assentamento. Por exemplo, as terras indígenas recebem o devido reco- leo, por exemplo, sem a realização de consul- mais permeáveis voltadas aos povos indí-
transitam entre fronteiras e deslocam-se nhecimento como uma importante forma de ta às comunidades pertinentes ou sem seu genas, que facilitaram a negociação de me-
recursos da floresta, segundo padrões sociais, e não padrões proteger os direitos coletivos e a identidade consentimento, é responsável por inúmeros lhores condições ou de garantias para terem
em lugares de difícil geográficos. As mudanças socioeconômicas cultural dos povos indígenas. Além disso, casos de degradação do meio ambiente e atendidas suas necessidades. (OIT, 1996).
e ambientais ocorridas na região afetaram essas terras têm grande valor para a con- por expor ao perigo a sobrevivência desses
acesso na floresta profundamente a população indígena ama- servação da floresta, apesar de terem sido povos indígenas. A Convenção 169 da Orga- Pobreza
zônica, obrigando-a a modificar seu modo invadidas por garimpeiros, produtores agrí- nização Internacional do Trabalho (OIT) dis- O conceito de pobreza evoluiu, passando de
tropical. O Brasil e de vida e reduzindo seu número. No Peru, colas, madeireiros, pescadores e caçadores, põe sobre a participação e a consulta prévia um entendimento que se restringia ao ní-
o Peru são os dois por exemplo, em 1997 foram registrados 11 a fim de aproveitar seus recursos naturais, aos povos indígenas no que se refere ao uso vel de renda para uma visão mais integral e
grupos étnicos extintos e 18 em perigo de suscitando conflitos entre os invasores e os dos recursos naturais e ao seu direito de ter complexa, que leva em consideração fatores
países com o maior extinção. O processo de desaparecimento habitantes indígenas. Embora a população participação nos lucros e ser indenizados por culturais, geográficos e ambientais. Os povos
se dá de forma gradual, remontando à ocu- indígena tenha experimentado uma redução quaisquer danos que venham a sofrer em de- indígenas, assim como outras populações
número de povos
pação européia do território (ver capítulo 1). drástica nos últimos 25 anos, ultimamente corrência dessas atividades. No caso do Bra- tradicionais, vivem dos produtos da floresta
nessa situação. Some-se à chegada dos europeus o cresci- vem registrando uma recuperação numérica sil, país que também subscreveu essa Con- ou dos rios, fazendo uso de práticas extrati-
mento demográfico, o processo de desin- significativa (ISA, 2007). venção, os indígenas têm o usufruto exclusivo vistas (coleta de frutos, pesca ou caça). As-
tegração social e cultural de alguns grupos dos recursos naturais de seus territórios, tan- sim, seu bem-estar depende não apenas de
indígenas, a assimilação por outros grupos Por outro lado, a partir da década de 80 to para fins hídricos como energéticos ou de renda, mas também da disponibilidade e do
e a incapacidade de manter seus níveis de aumentaram as pressões nacionais e interna- mineração. Apesar de existirem normas que acesso aos recursos naturais, bem como de
população (Brack, 1997b) (tabela 2.3). cionais pela preservação da Amazônia. Nes- reconhecem esses princípios de participação, sua capacidade para manejá-los (Celentano;
74
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >75

Verissimo, 2007). Os pobres estão expos- à falta de água e a condições precárias de


tos a eventos que fogem de seu controle higiene, entre outros; e são vulneráveis aos
(doenças, violência, fenômenos naturais, fenômenos climáticos.
entre outros) e são mais vulneráveis a essas
situações. Carentes dos meios necessários Em 2004, 35% da população da Ama-
para se proteger, aproveitar oportunidades, zônia brasileira viviam em lares com insegu-
desenvolver aptidões e fazer valer seus di- rança alimentar média ou grave, enquanto
reitos, são excluídos e vivem precariamente no âmbito nacional a média foi de 21% da
(Roca Rey; Rosas, 2002). Somem-se a isso população. Mas há diferenças importantes
as maiores chances de serem pobres nos entre os estados: Roraima (52%) e Mara-
povoados e aldeias indígenas, além de a nhão (50%) detêm os piores índices (Ce-
brecha social ser mais profunda e diminuir lentano; Veríssimo, 2007).
muito lentamente.
No caso da Guiana, a pobreza diminuiu
A região amazônica é um bom exemplo tanto na área urbana como no litoral, sendo
da dualidade riqueza-pobreza. Trata-se de a maior redução observada em Georgetown.
uma área dotada de grande quantidade e A maioria dos pobres desse país vive na área
variedade de recursos naturais e culturais, rural e trabalha por conta própria no campo
onde boa parte da população vive em con- ou em atividades manuais.
dições de pobreza ou de pobreza extrema.
Embora a análise da pobreza se veja limitada A desigualdade social vai além das diferen-
do ponto de vista comparativo, pois esbarra ças de renda, estando também relacionada à
na diferença de metodologias empregadas discrepância no acesso aos serviços básicos
para sua medição, é evidente que a parcela (p.ex., água potável, esgoto, energia, coleta
da população que vive em situação de po- lixo, qualidade da construção da moradia e
breza é maior em boa parte da região ama- acesso à casa própria). A cobertura dos servi-
zônica do que no âmbito nacional. No Peru, ços básicos é diferenciada entre os países. A
por exemplo, a porcentagem da população Amazônia brasileira registra uma melhoria na
em situação de pobreza na região amazônica cobertura de abastecimento de água, que pas-
(48,4%) foi maior que a nacional (39,3%) sou de 48%, em 1990, para 68%, em 2005,
em 2007, num contexto em que esse grupo assim como na cobertura do saneamento, de
diminuiu na Amazônia de 60,3%, em 2005, 33% a 48% no mesmo período (IPEA, 2006
para 48,4%, em 2007. Além disso, a maior citado por Celentano; Veríssimo, 2007).
redução nos níveis de pobreza registrou-
ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP

se nas zonas urbanas, passando de 53,9% Na região andino-amazônica, deficiências


para 40,3% entre 2005 e 2007. A pobreza na cobertura dos serviços de água potável
extrema, de igual forma, apresentou uma e esgoto são um denominador comum en-
redução importante, de 25,5% para 17,8%, tre os países, afetando mais de 4 milhões
no mesmo período (Peru: INEI, 2008). de pessoas. 61% da população não contam
com água potável e 70% não têm serviço de
Na Amazônia brasileira, a avaliação do esgoto (Nippon Koei; Secretaria Geral da Co-
cumprimento dos Objetivos de Desenvolvi- munidade Andina [SGCA]; Programa de Água
mento do Milênio permitiu concluir que a e Saneamento [WAP], 2005).
parcela da população que vive em situação Embora o nível de pobreza na região amazônica seja uma

35% 4.000.000
de extrema pobreza diminuiu em 6 pontos A ausência de serviços básicos entre os ci- questão importante, a percepção predominante entre os próprios
percentuais, de 23%, em 1990, para 17%, dadãos excluídos, além de limitar sua qualidade povos indígenas e, principalmente, entre seus líderes é a de que
em 2005. No entanto, o quadro da pobreza de vida, afeta o meio ambiente local, já que eles não são pobres, e sim com outro modo de vida, mais harmo-
não mudou, mantendo-se em 45%. Outro aumenta a contaminação da água e do solo e nioso com a natureza, muito embora aos olhos de um ocidental
indicador de pobreza é a proporção de resi- danifica a fauna e a flora. De um modo geral, os DA POPULAÇÃO DA AMA- DE PESSOAS NA AMAZÔNIA DOS isso possa ser sinônimo de pobreza. São essas populações as que
dências em situação de insegurança alimen- grupos excluídos são os primeiros a ser atingi- ZÔNIA BRASILEIRA EN- PAÍSES ANDINOS NÃO TÊM ACES- geralmente se encontram entre os grupos mais vulneráveis da
tar. Segundo a FAO, entende-se por “inse- dos pela degradação ambiental, por exemplo, FRENTAVAM CONDIÇÕES SO AOS SERVIÇOS DE ÁGUA POTÁ- sociedade. Sua situação de pobreza, como nos demais casos, im-
gurança alimentar” a conjuntura em que as com a proliferação de mosquitos transmissores DE INSEGURANÇA ALI- VEL E ESGOTO. plica desemprego, desnutrição, analfabetismo (entre as mulheres
pessoas carecem de alimentos; têm acesso de malária, febre amarela e dengue, que têm especialmente), riscos ambientais e acesso limitado aos serviços
limitado a estes pelo baixo nível de renda; um profundo impacto na saúde humana e na
MENTAR MODERADA OU sociais e de saneamento, inclusive ao atendimento de saúde em
preparam-nos de forma inadequada devido qualidade de vida da população. GRAVE (2004). geral (OEA, 2000).
76
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >77

DANTE PIAGGIO / EL COMERCIO


❱❱❱ População em crescimento e maior demanda por serviços de saúde.

A taxa de mortalidade infantil é um indi-


cador que contempla as condições socioe-
conômicas, nutricionais e de saúde das fa-
mílias, como o acesso a serviços de saúde,
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

num contexto em que grande parte dos fato-


res que contribuem para a elevação da mor-
talidade infantil podem ser administrados de
maneira preventiva. Na Amazônia brasileira,
é notória a melhoria deste indicador. A taxa
de mortalidade infantil em crianças de um

LINO CHIPANA / EL COMERCIO


❱❱❱ A vacinação infantil ajuda a prevenir doenças e a reduzir a mortalidade infantil ano caiu de 51 para 36 mortes por mil nas-
cidos vivos entre 1991 e 2000. No grupo de
crianças abaixo de cinco anos, o número de
Saúde nização contra nenhum tipo de doença. A mortes teve queda ainda maior, de 67 para
A condição de saúde da população de- saúde dos imigrantes também está exposta 46 mortes por mil nascidos vivos (Celenta-
NO EQUADOR, pende do acesso a serviços de saúde e de às doenças tropicais, associadas ao ecossis- ❱❱❱ O Estado e as agências internacionais contribuem para melhorar as condições no; Veríssimo, 2007).
A TAXA DE infra-estrutura hospitalar e, sobretudo, da tema da floresta. Estudos conduzidos recen- de vida da população amazônica.
disponibilidade de pessoal médico para temente em Iquitos (Peru) mostraram que No Equador, a taxa de mortalidade in-
MORTALIDADE fantil foi de 39,5 por mil nascidos vivos
atender às suas necessidades. De um modo a transmissão de malária é maior nas áreas
INFANTIL FOI DE geral, os serviços de saúde existentes na desmatadas, porque o vetor dessa doença
TABELA 2.4
em 2001 (Instituto para o Ecodesenvol-

39,5
Amazônia brasileira: saúde e meio ambiente vimento Regional Amazônico do Equador
região amazônica são limitados em relação se prolifera abundantemente em terrenos
aos de outras regiões. Por esse motivo, a com água estagnada, característica dessas [ECORAE], 2006). No estado venezuelano
população vulnerável é mais suscetível a regiões (Vittor et al., 2006). DOENÇA NÚMERO DE CASOS POR 100.000 HABITANTES de Amazonas, o volume de investimentos
doenças gastrointestinais e respiratórias, públicos em saúde é limitado e a principal
PARA CADA 1.000
causadas pela contaminação da água e do O Instituto Socioambiental do Brasil (ISA), causa de consultas médicas é a diarréia
NASCIDOS VIVOS ar, assim como aquelas que se proliferam em publicação recente sobre a situação dos
AIDS Aumentou de 1,2, em 1990, para 12,4, em 2004
(Aragón, 2005).
(2001). em diversas condições ambientais, como povos indígenas brasileiros, destacou o au-
a malária. mento do número de mortes causadas por MALÁRIA Caiu de 3,3, em 1990, para 2,0, em 2004 AIDS, malária, dengue e tuberculose são
desnutrição infantil no Mato Grosso e o rea- as principais enfermidades registradas na
No passado, os booms de produção na parecimento da malária em Roraima. A essa TUBERCULOSE Caiu de 73, em 1990, para 48, em 2004 região amazônica, apresentando diferentes
Amazônia e a imigração desencadearam epi- situação soma-se a maior incidência de casos níveis de incidência. O aumento na incidên-
demias entre a população local e, particular- de tuberculose, epidemia que atinge várias tri- cia de malária nas áreas urbanas é particu-
Fonte: Aragón (2005).
mente, os nativos, que não recebiam imu- bos indígenas (ISA, 2006b). larmente significativo (tabela 2.4).
78
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >79
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

JUAN PONCE / EL COMERCIO


Educação de baixa qualidade e condições
de acesso difíceis, particularmente para
a população indígena, são desafios que
precisam ser enfrentados.

Educação
A região amazônica apresenta altas taxas de Na Guiana, o nível de escolarização nos domi- Infra-estrutura qualidade do serviço, situação esta que limita
analfabetismo, que variam segundo o país. cílios pobres está abaixo da média da popu- precária limita a o desenvolvimento de capacidades de uma
aprendizagem das
Na Bolívia e no Equador, por exemplo, o anal- lação. Menos de 15% dos chefes de famílias população altamente vulnerável, como expli-
crianças.
fabetismo atinge 12% da população amazô- pobres sequer concluíram o ensino médio. cado anteriormente (Hall; Patrinos, 2004).
nica, ao passo que na Venezuela 93% da Nas áreas rurais, a freqüência escolar é baixa.
população com mais de 10 anos não sabe A situação é ainda pior no interior do país, Assim, um desafio importante no que se re-
ler nem escrever. Na Amazônia brasileira, onde menos de 13% dos lares pobres termi- fere à educação na Amazônia é desenvolver
registrou-se uma redução de sete pontos naram o ensino médio. Além disso, 41% das programas coerentes com a realidade local,
percentuais, diminuindo de 20% para 13% famílias que vivem abaixo da linha da pobre- que propiciem uma compreensão dessa
da população acima de 15 anos entre 1990 za se dedicam à agricultura (Guiana: Agência complexa e rica região com base numa visão
e 2005. Além disso, o número de anos de de Proteção Ambiental [EPA], 2007) holística. De igual forma, deve-se monitorar a

JUAN PONCE / EL COMERCIO


estudo aumentou de 4,1, em 1990, para 5,9 qualidade do serviço em relação à desistên-
anos, em 2005. Observa-se, ainda, uma ele- Deve-se destacar que os resultados obtidos cia escolar e às competências conquistadas.
vação no número de meninos e meninas de no quesito educação são substancialmente Para tanto, tornam-se necessários sistemas
7 a 14 anos inscritos no ensino fundamental, piores entre a população indígena, o que de informação que possibilitem um acom-
de 85% para 96% entre 1990 e 2005 (Ce- coloca em evidência as restrições de acesso panhamento adequado do desempenho dos
lentano; Veríssimo, 2007). desse grupo ao ensino, bem como a baixa serviços de educação. ❱❱❱ As crianças se esforçam para chegar à escola.
80
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >81

A expansão da pecuária é
um estímulo a mudanças
no uso do solo e afeta os
serviços ecossistêmicos.

2.2|Dinâmica
econômica
Ao longo dos últimos 50 anos, a Amazônia foi ocupada por diver-
sos grupos humanos, que exploraram seus recursos naturais, como a
borracha, até aproximadamente 1945, e, num período mais recente,
A pequena
petróleo, gás e metais. A população que vive da mineração é cada vez porcentagem
mais importante na região: os garimpeiros são uma realidade que não
pode ser ignorada. A exploração florestal e de hidrocarbonetos cons- de terras usadas
titui também uma fonte importante de trabalho e de divisas; e, como
com eficiência
conseqüência dessas atividades, a infra-estrutura de comunicação na
é um aspecto
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

Amazônia teve um crescimento significativo no período recente.

De um modo geral, todas as atividades econômicas desenvolvidas preocupante da


na região amazônica geram pressão sobre os recursos naturais, que agropecuária na
variam em forma e magnitude. A seguir serão analisadas as tendências
das principais atividades produtivas na Amazônia nos últimos anos: Amazônia
agricultura e pecuária; exploração madeireira; mineração e energia; e
desenvolvimento da infra-estrutura viária.
Diversos tipos de atividades agrícolas são desenvolvi- rapidamente: em 1990 havia na Amazônia brasileira 26
A expansão da agropecuária dos na região (ver o capítulo 3 para mais detalhes sobre milhões de cabeças de gado; em 2006, 73,7 milhões.
os sistemas agroprodutivos). Há áreas agrícolas dedica-
A partir da década de 70, os governos de diversos países empreende- das, em boa parte, a culturas de subsistência, em especial Um aspecto preocupante das terras destinadas à agri-
ram grandes projetos de desenvolvimento e de construção de estradas mandioca, milho, arroz, feijão, banana e diversas fruteiras cultura e à pecuária na Amazônia é a baixa porcentagem
na Amazônia, incentivando a migração de pequenos agricultores com nativas ou introduzidas; e áreas onde são cultivadas es- de terras efetivamente usadas. O abandono de terras é
subsídios de diversos tipos. De maneira concomitante, instalaram-se pécies voltadas para a agroindústria, como dendê, cacau, muito alto em determinadas áreas da Bolívia e do Peru.
grandes propriedades na Amazônia, viabilizadas também por políticas urucum, fibras, chá, café. Mais recentemente, a consolida- Segundo Antonio Brack Egg (1997), entre 0,8 e 1 milhão

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


de Estado, fundamentalmente no Brasil. Com o tempo, ambas as si- ção, liderada pelo Brasil, do complexo de grãos (soja, ar- de quilômetros quadrados de terra na floresta amazônica
tuações produziram impactos na Amazônia. Tais impactos são visíveis roz, girassol, sorgo e milho), produtos que estão entrando foram colonizados ou ocupados. Dessa área, 40% cons-
hoje em dia, evidenciando-se pelos padrões de desmatamento tipo gradualmente na Bolívia, está expandindo rapidamente a tituem terras de uso agropecuário e florestal; 60% es-
“espinha de peixe” nos estados brasileiros de Rondônia, Acre e Rorai- fronteira agrícola para o interior da Amazônia (Soya en Bo- tão abandonadas, cobertas por florestas secundárias, ou
ma, no núcleo central, nas proximidades de Santa Cruz, na Bolívia, e livia, 2005; Sindicatos e Meio Ambiente na América Latina degradadas. Isso se deve à implantação de sistemas de
num de tipo menos ordenado, porém relacionado às rodovias, nas e o Caribe, 2005; PASQUIS, 2006). No que diz respeito à produção agropecuária sobre solos com aptidão florestal,
proximidades de Pucallpa e Iquitos, no Peru. pecuária, o Brasil é um dos países onde esta cresceu mais que transformaram a floresta em lavouras e pastagens.
82
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >83

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

DANTE PIAGGIO / EL COMERCIO


❱❱❱ Muitas áreas da floresta amazônica são convertidas para a agricultura de mercado sem as ❱❱❱ O cultivo da coca está muito arraigado nas regiões de selva alta e floresta de
devidas licenças ou cuidados ambientais. altitude (yungas) da Bolívia e do Peru.

Um dos A porção sudeste da Amazônia brasileira tores e pecuaristas a adentrar ainda mais as Esse tipo de produção, somado ao uso de 2007) indiquem que a economia de energia
apresenta cerca de 500.000 km2 de terras áreas de floresta à procura de novas terras. agroquímicos (fertilizantes, pesticidas e her- e a redução nas emissões de CO2 não sejam
agronegócios degradadas, das quais 15% se encontram A esse respeito é preciso lembrar que, se- bicidas), acelerou o ritmo do desmatamento NO CASO DA tão altos. Ainda não está clara qual a magni-
abandonadas (Ministério do Meio Ambiente gundo Nepstad e Campos (2006), ultima- em extensas áreas de floresta também nas COLÔMBIA, A ÁREA tude dos custos e benefícios da produção de
que mais cresceu do Brasil, 2004). As pastagens constituem mente o mercado vem exigindo um maior províncias amazônicas de Napo, Sucumbios, CULTIVADA DE biocombustíveis (Ballenilla, 2007).
e recebeu um sistema de produção inadequado às con- cumprimento da legislação e um melhor ge- Morona Santiago e Pastaza, no Equador. COCA CRESCEU

4,5
dições ecológicas da região amazônica, ten- renciamento de todas as fases da cadeia de A coca é um cultivo ancestral que se de-
investimentos do sido estabelecidas em áreas de encosta e produção de carne e grãos provenientes da Outra tendência recente que está afetan- senvolve nas regiões de floresta de altitude
de florestas de terras baixas, que vêm sendo Amazônia, o que se traduz em incentivos à do, e que poderia afetar ainda mais, os países e de nevoeiro (ver capítulo 1), e a ela se so-
nos últimos anos desmatadas em conseqüência da expansão conservação da floresta tropical. O desenvol- da Amazônia é a produção de biocombus- maram culturas como a papoula. Ambas se
é o da soja. da pecuária, da agricultura extensiva e da ex- vimento da produção agrícola extensiva nos tíveis (p.ex., biodiesel e etanol) derivados
VEZES em 19 ANOS. destinam principalmente, hoje em dia, à fa-
tração de madeira. oito países da região levou a uma elevação de produtos orgânicos, principalmente do bricação de entorpecentes. Concentrada na
nas taxas de desmatamento, que, no caso da milho e da cana-de-açúcar. A produção da Bolívia, na Colômbia e no Peru, a produção
A área do agronegócio que mais cresceu Amazônia brasileira, significou um aumento matéria-prima dos biocombustíveis exige de coca veio crescendo nos últimos anos
e recebeu investimentos nos últimos anos da superfície desmatada acumulada, de 41,5 uma agricultura intensiva, o que implica o com relação a 2003, ano em que foi regis-
é a da soja, e as tendências apontam para milhões de hectares, em 1990, para 58,7 emprego em grande escala de fertilizantes, trada a menor superfície cultivada de coca
uma maior demanda por este produto nos milhões de hectares, no ano 2000. Dessa pesticidas e maquinaria. Métodos agrícolas do período de 2000-2006. Na Colômbia, a
setores de ração para aves, suínos, peixes, área, boa parte acabou sendo convertida menos intensivos demandariam mais terras área de 15.500 hectares cultivada com coca
entre outros, assim como para alimentar a em pastagens. Contudo, há que se esclare- e custos muito elevados. Embora o Brasil seja em 1985 subiu para 85.750 em 2005. Isso
cada vez maior população mundial. No es- cer que a soja está ligada a apenas 5% da o principal produtor e exportador mundial de significa que a superfície cultivada com coca
tado de Mato Grosso, por exemplo, a soja área desmatada – a pecuária, por outro lado, açúcar e etanol, respectivamente 30 milhões no país se multiplicou por 4,5 no espaço de
ocupa mais de 5 milhões de hectares; a área responde por 75% das áreas desmatadas –, de toneladas e 17.500 milhões de litros por dezenove anos (Ministério do Meio Ambien-
total de lavouras desta espécie no Brasil é de muito embora o crescimento da sojicultura ano, a Amazônia Legal participa com menos te da Colômbia – Instituto Sinchi, 2007).
21 de milhões de hectares. A produção de seja uma ameaça em potencial. de 3% da produção nacional de cana-de-
algodão também teve um acentuado cres- açúcar, matéria-prima de ambos os produtos. Os impactos ecológicos do cultivo da
cimento nesse estado – a produtividade das De igual forma, o auge de monoculturas O principal argumento a favor da introdução coca e da produção da cocaína são os se-
lavouras passou de 1.390 kg/ha para 3.302 tais como o arroz e a cana-de-açúcar na re- dos biocombustíveis é que estes ajudariam guintes: forte erosão dos solos pelo manejo
kg/ha. Tal expansão da sojicultura na região gião de Bêni e de Santa Cruz, na Bolívia, foi a reduzir a emissão de gases de efeito es- inadequado e pelo estabelecimento de cul-
do cerrado e nas florestas estimula agricul- um importante fator de perda de floresta. tufa, muito embora estudos recentes (Russi, turas em áreas extremamente íngremes (que
84
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >85

GRÁFICO 2.4
Cultivo da coca nos países andino-amazônicos (hectares)
Bolívia Peru Colômbia

250.000 ha

200.000

150.000

100.000

50.000

0
1996 97 98 99 2000 01 02 03 04 05 06

Fonte: Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (2007).

deveriam funcionar como mata de proteção); invasão de No entanto, a perda da cobertura florestal decorrente do ❱❱❱ Toras de madeira apreendidas em operações de combate ao corte e comércio ilegal de produtos florestais.
ROLLY REYNA/ EL COMERCIO
áreas protegidas e destruição de ecossistemas únicos e não-cumprimento das normas levou alguns operadores
de sua biodiversidade; e grave contaminação dos cursos econômicos a definir a exploração florestal na Amazônia
de água pelo uso de grandes volumes de uma série de como uma atividade seletiva, oportunista e anárquica, “Somos a favor de queda desde 1998. Na Bolívia são pro- Ressalte-se que a maioria dos países ama-
substâncias tóxicas utilizadas na fabricação da droga, par-
ticularmente a pasta-base de cocaína. Estima-se que as
que resiste a todos os esforços no sentido de organizá-
la e adotar práticas de manejo florestal (Dourojeanni,
(de estradas), sim, duzidos aproximadamente 500.000 m3 por
ano; e, no Peru, 1,8 milhões de m3 por ano.
zônicos tem regimes de concessão florestal
ou propriedade privada regidos por normas
áreas desmatadas na Amazônia boliviana, colombiana e 1998). Nesse contexto, somente uma pequena parte do desde que exista Embora a exploração florestal desordenada de manejo florestal sustentável. Na Bolívia,
peruana para o plantio de culturas ilícitas variem entre
200 e 500 km2 em cada país, dependendo do ano avalia-
desmatamento da floresta amazônica pode ser atribuído
à exploração florestal.
uma política sem planos de manejo dificilmente leve à
extinção de espécies, é responsável pela di-
por exemplo, há dois milhões de hectares de
florestas certificadas; no Brasil, essa área che-
do e da fonte consultada (Sistema Integrado de Monitora- de preservação minuição da população e extinção comercial ga a 1,8 milhão de hectares. Observa-se, no
mento de Cultivos Ilícitos [Simci] II, 2005). Acrescente-se
a isso a contaminação decorrente do uso de herbicidas no
A pressão gerada pela exploração madeireira sobre a
floresta pode levar à extinção de espécies de grande valor
da floresta que de muitas delas. entanto, que a falta de controle e fiscalização
leva à ocorrência de práticas florestais não-
combate ao narcotráfico e nos programas de erradicação, econômico (Tabarelli; Cardoso da Silva; Gascón, 2004). incentive a Um fenômeno recente em matéria de ex- sustentáveis. Nesta área são os pequenos
tendência que, ao que tudo indica, não deverá mudar.
Nesse sentido, na Colômbia lançou mão da pulverização,
Há casos documentados de ciclos de crescimento eco-
nômico seguidos do colapso da atividade que geraram
agricultura e impeça ploração florestal na Amazônia é a chegada
de grandes investidores estrangeiros, princi-
extrativistas ilegais que geram os impactos
negativos mais sérios na floresta amazônica,
em especial com glifosato, para erradicar a coca, e isso fez desmatamento. No Brasil, durante a fase de crescimento a concentração palmente asiáticos, interessados na explora- por ser muito difícil controlar sua atuação.
com que a produção de coca se deslocasse para regiões econômico, a exploração madeireira gera receitas signi- da propriedade da ção florestal de grande escala. Esse proces-
onde antes não estava presente, aumentando, assim, o ficativas para os municípios, além de empregos diretos so, que teve início no Suriname e na Guiana, A extração ilegal de madeira, como qual-
desmatamento e a contaminação (Nações Unidas, 2007). e indiretos. No entanto, tais receitas mínguam com a terra nas mãos dos vem se expandindo rapidamente para o Brasil quer outro crime ecológico, é um problema
(gráfico 2.4). escassez de espécies de valor comercial, o que leva os latifundiários.” (Traumann, 1997) e outros países da região, que repercute nos planos econômico, so-
madeireiros a migrar para outros municípios, afetando sendo motivo de grande preocupação, já que cial e ambiental, ameaçando os esforços do
A exploração florestal novamente as economias locais (Schneider et al., 2000). nem todas as empresas oferecem garantias governo para conduzir uma boa gestão dos
não-sustentável Nesses casos, perdem-se ainda serviços ecossistêmicos quanto ao manejo (Sizer; Rice, 1995). Outro recursos naturais. Por outro lado, desesti-
(biodiversidade, ciclo hidrológico, entre outros). problema associado à atuação das madeirei- mula os países, os proprietários ou as em-
A exploração florestal, quando bem-manejada, não re- CHICO MENDES, ras de grande porte na Amazônia é a provável presas florestais que investem no manejo
presenta uma ameaça para os recursos da Amazônia. As tendências da produção florestal variam de país PRESIDENTE DO SINDICATO invasão por parte de camponeses sem terra sustentável dos recursos florestais, mas
Muitos países amazônicos contam com legislação que para país. Segundo o Imazon, em 2004 o indicador de DE TRABALHADORES que se segue à abertura de extensas áreas, que não são recompensados pelo merca-
regula o acesso aos recursos florestais, estabelecendo re- volume produzido (madeira em tora) para o Brasil foi RURAIS DE XAPURI, ACRE, com a conseqüente aceleração do desmata- do com melhores preços devido à grande
quisitos mínimos para o manejo sustentável da floresta. de 24,5 milhões de m3, apresentando uma tendência ASASSINADO EM 1988. mento na região. oferta de madeira barata, porém extraída
86
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >87
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
TABELA 2.5
Exploração de petróleo na Amazônia (2006)

PAÍS PRODUÇÃO DE PETRÓLEO (BARRIS/ANO) PRINCIPAIS ÁREAS DE PRODUÇÃO

COLÔMBIA 4.611.786 PUTUMAYO

BOLÍVIA 2.744.161 SANTA CRUZ

BRASIL 16.753.500 URUCU (AMAZONAS)

EQUADOR 182.693.891 SUCUMBIOS, NAPO, ORELLANA, PASTAZA

GUIANA - -

PERU 16.500.615 UCAYALI, LORETO

SURINAME 4.800.000 -

VENEZUELA - -

TOTAL 243.822.237 -

Fontes: Ministério de Minas e Energia da Colômbia <http://www.minminas.gov.co>, Ministerio de Minas e Energía do Brasil <http://www.mme.gov.br>, Ministério de
Minas e Energía do Ecuador <http://www.mEnergia.gov.ec>, Ministério de Energia e Minas do Perú <http://www.minem.gob.pe>, Ministério de Hidrocarbonetos e
Energia da Bolívia <http://www.hidrocarburos.gov.bo>.
❱❱❱ As técnicas artesanais utilizadas no garimpo são um importante fator de contaminação da água e do solo.

ilegalmente. Trata-se de uma situação alarmante nos temente. O enorme volume de recursos hídricos da Ama- A exploração Santiago e Zamora-Chinchipe. Estima-se que estuário do Amazonas e o piemonte dos An-
países amazônicos, cujas autoridades nem sempre têm zônia possibilita ainda a geração de energia hidrelétrica, 40% do território de Morona Santiago esteja des (TCA, 1995; Barthem; Goulding, 1997;
estrutura suficiente para fiscalizar e controlar a ativida- fundamental para o crescimento da economia. mineral é uma sob concessão de mineradoras, situação que Goulding; Barthem; Ferreira, 2003a).
de. De acordo com os dados para 2005 do Inrena e da dá origem a sérios conflitos com as comunida-
Comissão Multissetorial de Combate ao Corte Ilegal, Mineração importante ameaça des indígenas pelo uso e pela contaminação A mineração clandestina também está
estima-se que mais de 221.000 m 3 de madeira, ou A mineração sempre foi, e ainda é, uma ameaça impor- aos ecossistemas da água. Calcula-se que existam entre cem mil presente na fronteira entre o Brasil e a Ve-
15% da produção nacional do Peru, sejam extraídos tante para os ecossistemas aquáticos e terrestres da ba- e duzentos mil garimpeiros na Colômbia, algo nezuela. Na Amazônia venezuelana encon-
ilegalmente todos os anos, o equivalente a US$44,5 cia amazônica, especialmente no escudo guianense, nas aquáticos e próximo disso no Peru e o dobro no Brasil (Ins- tram-se tanto garimpos como operações de
milhões (Banco Mundial, 2006). montanhas andinas da Bolívia e do Peru, e na região do tituto Socioambiental [ISA], 2006). mineração de bauxita de grande escala, mas
piemonte, na Colômbia. O garimpo de ouro é mais extenso
terrestres da bacia não ocorre a exploração de hidrocarbonetos.
A exigência de certificação pelo Conselho de Manejo e destrutivo quando feito em pequena escala, já que em amazônica. A produção de ouro na Amazônia brasilei- Os níveis de contaminação por mercúrio em
Florestal (FSC, na sigla em inglês) para a comercialização de grande escala as operações industriais costumam ser ob- ra vem declinando desde o início da década grande parte do pescado consumido pela
produtos madeireiros no exterior é o principal incentivo para jeto de uma melhor regulação. Até o momento, a contami- de 90, mas se estendeu até a bacia do alto população desses lugares estão acima do li-
a erradicação da extração ilegal. No entanto, cerca de 70% nação por mercúrio nos tributários amazônicos decorrente Madre de Dios (Peru) e as terras altas da re- mite recomendado pela legislação brasileira
da madeira da Amazônia são destinados ao mercado interno do garimpo de ouro parece ter sido mínima e localizada. gião de Bêni, na Bolívia. Hoje em dia, a exis- (Goulding et al., 2003b; Barthem, 2004). Na
(Rodríguez, 1995), com a exceção do Peru, onde nos últimos No entanto, em alguns rios com alto teor de acidez e pouca tência de milhares de garimpeiros de ouro na fronteira entre a Colômbia e o Brasil, existem
anos mudanças no regime de uso das florestas exploradas sig- carga de sedimentos, a atividade pode gerar problemas bacia alta do Madre de Dios gera uma série problemas com a mineração de ouro, e no
nificaram um aumento no volume e no valor das exportações, mais sérios ao aumentar a sedimentação, alterando o leito de problemas ambientais em decorrência da Equador a contaminação se dá por arsênico.
que passaram de US$45,3 milhões, em 1997, para US$169 natural desses rios (Franco; Valdés, 2005; Usaid, 2005). contaminação da água por mercúrio, do des-
milhões, em 2005 (Banco Mundial, 2006). vio do rio por meios artesanais e da lavagem Na Guiana, somente os diamantes são
Na bacia amazônica, o ouro se origina nos escudos guia- com metais pesados. No entanto, há tam- produzidos por empresas de mineração de
Mineração e energia: nense e brasileiro, sendo extraído de depósitos aluviais lo- bém a possibilidade de que a concentração grande porte de capital estrangeiro; o ouro e
novas fontes, mais produção calizados nos grandes rios e desfiladeiros. No caso do Brasil, de mercúrio na bacia do Madre de Dios seja a bauxita são explorados por pequenas e mé-
entre 1960 e 1990 as principais regiões produtoras de ouro mais elevada que em outras regiões ao les- dias empresas. O investimento externo na mi-
Ouro, bauxita, zinco, carvão, manganês, ferro e um grande foram o norte do estado de Mato Grosso, às margens do rio te da bacia amazônica por causa do intenso neração é muito dinâmico. O mercado é for-
número de outros minérios e recursos energéticos encon- Tapajós, o garimpo de Serra Pelada, no Pará, e o estado de processo de erosão nos Andes. No que se mado por empresas canadenses, australianas
tram-se amplamente distribuídos na bacia amazônica. A Amapá, onde essa atividade era realizada tanto por empre- refere à pesca, conforme foi mencionado no e brasileiras. Em menor escala, os garimpeiros
Amazônia também possui grandes reservas de petróleo sas de grande porte como por garimpeiros. No Equador, a capítulo 3, a mineração afeta particularmente do Brasil também exercem uma forte pressão
e gás natural, muitas das quais foram descobertas recen- mineração de ouro e cobre ocorre nas províncias de Morona os grandes bagres que se deslocam entre o sobre a Amazônia guianense.
88
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >89

MAPA 2.2 QUADRO 2.2


No Suriname, a situação não é muito diferente. O garimpo
Principais estradas na Amazônia ENERGIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
de ouro em pequena escala tem uma longa história no
país, ao passo que a de grande escala não prosperou de-
vido à falta de estradas, o que encarece a produção. Além O Brasil prioriza a energia gerada pelas usinas hidrelétricas
População 2006 dos garimpos, a mineração do tipo "porknokking" reali- na sua matriz energética. Em 2004 a geração hidrelétrica re-
0 - 50000 zada pelos maroons (ver descrição no capítulo 1) tam- presentou cerca de 94% do consumo total de eletricidade
50001 - 100000 bém gera sérios problemas de contaminação pelo uso de do país, cuja capacidade instalada atual é de 90.732 MW. O
100001 - 200000 mercúrio, da mesma forma que na Guiana. No Suriname Brasil desenvolveu uma ampla capacidade tecnológica na
Anna Pegina
200001 - 500000
predomina o capital canadense na mineração, com im- área de construção de grandes barragens. Desde a década
Georgetown
Bartica Rose Hall
Nieuw-Nikerina Paramaribo
500001 - 1636837
Puerto Ayacucho New Amsterdam Corriverton Spring
portantes concessões no distrito de Brokopondo. de 80, vem acumulando experiência na gestão de comple-
Amazônia maior
xos energéticos, tendo criado uma base institucional que
Pacaraima Uiramuta
Normandia Olapoque
Amazônia menor
Exploração de petróleo
Boa Vista Bonfim

San José del Guavia Pavimentada assegura aos atingidos e interessados participação na toma-
San Vicente del Cag
Florencia
Não pavimentada Embora exista petróleo em toda a bacia, boa parte dos de- da de decisões. O potencial energético de origem hídrica
Puerto Asis

Nueva Loja
Macap
pósitos passíveis de exploração encontra-se no oeste da da Amazônia brasileira é de 112.039 MW, o que representa
Castanhal
Francisco de Orellana
Puyo
Ananindeua
Aabaetetuba
Braganta
Amazônia, e os maiores campos de petróleo e gás estão 43% do potencial hidrelétrico nacional, mas somente 10%
Belém
Macas
El Estrecho
Manaus Parintins
Santarém
Paragominas
Sao Luis
localizados perto dos Andes, na Colômbia, no Equador, no são aproveitados.
Iquitos Itacoatira

Zamora
Caballococha Tefé
Manacapuru
Altamira
Tucuruí Peru e na Bolívia. A exploração comercial de petróleo na
Leticia Itaituba Caxias

Yurimaguas
Marab Imperatriz
Timon
Amazônia brasileira praticamente limita-se à região do rio No que se refere aos aspectos socioambientais relaciona-
Tarapoto
Parauapebas
Urucu, um tributário do Coari, de onde é bombeado para dos à construção de barragens, o Brasil conta com uma
Tocache
Pucallpa Ji-Paran
Araguaína
as margens do rio Tefé – do rio Urucu extrai-se também legislação avançada, uma sociedade civil organizada e um
Tingo María Santa Rosa do Purus
Porto Velho
gás natural. As maiores refinarias de petróleo da Amazônia ministério público preocupado em minimizar as conseqü-
Ariquemes
situam-se nas proximidades da confluência dos rios Ama- ências negativas advindas da execução dessas obras. Além
Rio Branco

Capixaba Nova Mamoré Palmas


Assis Brasil
Guayaramerin
Ibería
Cobija
Riberalta Cacoal
Sinop Gurupi
zonas e Negro, em Manaus, mas há pouca informação disso, foram estabelecidos métodos complexos de gestão
Puerto Maldonado Costa
Marques Vilhena sobre a contaminação por petróleo no rio Amazonas. nas áreas afetadas. Por isso, é muito provável que a hidroe-
letricidade continue sendo a principal fonte de energia elé-
Pimenteiras do Oest

Tangar da Serra
San Borja
Trinidad
Ascension de Guaray
Vrzea Grande
C. ceres
Cuiabá Primavera do Leste Peru, Colômbia e Equador têm oleodutos que se esten- trica do Brasil e que a Amazônia seja o principal fornecedor.
Barra do Garças

Yapacani Montero
San Ignacio San Matias Rondónopolis
dem dos campos de petróleo até as refinarias localizadas nos Uma iniciativa brasileira de destaque no campo energético
Andes e na costa do Pacífico, como o Terminal Yanácu, por é o uso dos biocombustíveis produzidos com cana-de-açú-
Santa Cruz

Puerto Suarez
exemplo, sobre o rio Marañón. Situado ao norte da reserva car. O Brasil produz 32 bilhões de litros de álcool por ano,
Pacaya-Samíria, dele parte o oleoduto do norte do Peru, que metade de toda a produção mundial.
transporta óleo cru do rio Amazonas através dos Andes. Só
Fonte: produção original do GEO Amazônia, com a colaboração técnica de UNEP/GRID - Sioux Falls e da Universidade de Buenos Aires, com dados de Bolívia:
Conservation International e INE; Brasil: IBGE; Colômbia: CIAT e DANE; Equador: INEC; Guiana: EPA; Peru: INEI; Suriname existe um poço de petróleo em Pacaya-Samíria, e o governo
detém os direitos de exploração em duas áreas dentro da re- Elaboração: Marcos Ximenes Ponte. Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia [IPAM].
serva. Na Guiana, a única informação disponível revela que,
na bacia do rio Takatu, vêm sendo desenvolvidos programas
de exploração de petróleo (TCA, 1995; Goulding; Barthem;
Ferreira, 2003a). Como se pode observar na tabela 2.5, o situados em áreas protegidas ou de amortecimento
Equador é o país que tem a maior produção de petróleo na estão sendo licitados para exploração de petróleo
região amazônica (74,9% da produção total). As províncias (Peru: Defensoria do Povo, 2007). Essa situação
de Sucumbios, Napo, Orellana e Pastaza registram os maio- reflete a grande pressão da indústria do petróleo
res níveis de atividade petrolífera, mas também apresentam sobre o ecossistema amazônico.
uma grande diversidade humana e natural. Infelizmente, os
impactos ambientais do setor de petróleo não foram devi- Embora algumas dessas áreas de exploração
damente controlados e os vazamentos de petróleo e outros de petróleo tenham sido descartadas no passa-
tipos de contaminação constituem uma ameaça para a flo- do devido ao difícil acesso, neste momento os
resta e seus habitantes. altos preços do petróleo e do gás justificam a
retomada dos trabalhos de exploração. Manter
As reservas de petróleo e gás natural estão localizadas um equilíbrio adequado entre a exploração de
em algumas das áreas mais sensíveis em termos ecológicos. hidrocarbonetos e a conservação de ecossiste-
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

Um exemplo claro dessa situação é a sobreposição de lotes mas críticos só é viável se forem estabelecidas
destinados à exploração de petróleo e áreas naturais protegi- exigências e condições ambientais rigorosas e
das (ANP). No Peru, por exemplo, encontram-se operações específicas, incluindo o fortalecimento dos mar-
de exploração nas seguintes áreas naturais protegidas: Reser- cos regulatórios nacionais e a garantia de parti-
va Nacional Pacaya-Samíria, Reserva Comunal Machiguenga cipação nos lucros e de compensações para as
e Zona Reservada Pucacuro. Além disso, outros onze lotes áreas afetadas e as populações locais.
90
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >91

TABELA 2.6
já concedeu as licenças para a construção das
Principais hidrelétricas da bacia amazônica
usinas de Santo Antônio e Jirau. Os estudos de
impacto ambiental das duas usinas do comple-
xo localizadas a jusante, em território brasileiro,
PAÍS USINA HIDRELÉTRICA ÁREA DO RESERVATÓRIO (km²) POTÊNCIA INSTALADA (MW) identificaram impactos de grandes proporções,
que afetariam os peixes, a fauna, a flora, a po-
SERRA DA MESA 1.784 1.275
pulação, os sedimentos e a propagação de do-
CANA BRAVA 139 465
enças tropicais.
SÃO SALVADOR 104 243
PEIXE ANGICAL 294 452
Os impactos diretos das barragens sobre
IPUEIRAS 934 480
LAJEADO 626 902 a população são a malária e a esquistos-
TUPIRANTIS 370 620 somose, que já ocorrem na região. Dada a
BRASIL ESTREITO 590 1.087 experiência adquirida com a construção de
SERRA QUEBRADA 386 1.328 outras grandes barragens na região amazô-
nica, como a de Tucuruí, é preciso levar em
MARABÁ 1.115 2.160
consideração a expansão do hábitat dos veto-
TUCURUÍ I 4.200*
TUCURUÍ 2.430 res (mosquitos e moluscos) dessas doenças
TUCURUÍ II 8.370

SERGIO AMARAL / OTCA


(FOBOMADE, 2005). A construção de barra-
COARACY NUNES 23 68 gens implica o alagamento de grandes áreas.
SAMUEL 579 216 No Suriname, por exemplo, a construção da
BALBINA 2.360 250 barragem de Afobaka, em 1963, resultou no
TOTAL BRASIL** 11.734 13.746 alagamento da metade do território do povo ❱❱❱ Novas estradas, mais desenvolvimento?
SURINAME AFOBAKA 1.560 100 saramacca (cerca de 1.560 km2 de florestas
* Capacidade atual. tropicais), deslocando 6.000 habitantes.
**Total referente às hidrelétricas presentes nesta tabela.
aumentado para 268.900km. Entre o Brasil
Fontes: Adaptado do Plano Estratégico de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica dos Rios Tocantins e Araguaia. Em: Agência Nacional de Água (2006); Goulding; Barthem;
Existem ainda esforços locais no senti- e os demais países amazônicos foram regis-
Ferreira (2003a); Namuncura (2002); Lopes; Cardoso (2006).
do de adotar fontes alternativas de energia, trados, nos últimos dois anos, dois projetos EM 1975, A
como os painéis solares usados em comu- de infraestrutura viária com a Bolívia, quatro
AMAZÔNIA
nidades isoladas do Brasil. A necessidade com o Peru, e um projeto com cada um dos
BRASILEIRA TINHA
O complexo As reservas de gás natural da Amazônia os do rio Negro, Anisa, Zamora, Hidroabanico de conciliar as demandas energéticas com a demais países. Dentro de cada país amazô-
29.400 KM DE
foram descobertas há bem menos tempo. A (esse último atualmente em execução). Muitos proteção e conservação de áreas importantes nico existem também numerosos projetos
hidrelétrico do jazida de gás de Camisea, no Peru, é um dos desses projetos estão associados ao desenvol- para a biodiversidade criou novos desafios de estradas novas ou de melhoramento das ESTRADAS. EM 2004,
maiores projetos energéticos da América do vimento da mineração. tanto para a indústria energética como para existentes, o que totaliza um custo de muitos QUASE 30 ANOS
rio Madeira terá Sul. Este megainvestimento, de 1,4 bilhão de a comunidade ambientalista. Os países ama- bilhões de dólares, cuja previsão é de que DEPOIS, A REDE
impactos de dólares, bombeia gás natural de depósitos lo- Na maior usina hidrelétrica da Amazô- zônicos apresentam uma demanda de mo- provenha de capital público e privado. RODOVIÁRIA DA
calizados a quatro mil metros de profundidade, nia, de Tucuruí, foram conduzidos estudos dernização e expansão econômica e novas REGIÃO AUMENTOU
grande magnitude na região de floresta do baixo Urubamba. A Bo- de impacto ambiental que revelaram alguns empresas estrangeiras vêm demonstrando O desenvolvimento da infra-estrutura viária PARA 268.900 KM.
lívia também possui reservas de gás capazes de dos efeitos variáveis e complexos desses em- um interesse crescente em investir na região no Brasil é o caso de maior destaque da Amazô-
sobre os peixes, abastecer os países da região, o que implicará preendimentos na atividade pesqueira local, devido ao potencial dos recursos de petróleo nia, refletindo em certa medida o momento que
a fauna e flora, no futuro a execução de projetos de infra-estru- como uma significativa elevação do risco de e gás para atender à demanda internacional. estão atravessando os demais países. O Plano
tura na Amazônia para escoar o produto. desaparecimento das populações de peixes de Integração Nacional de 1970 promoveu uma
a população, os nas proximidades das cachoeiras (Usaid, Ampliação da grande mudança na infra-estrutura da região,
sedimentos e a 2005; Fórum Boliviano do Meio Ambiente e infra-estrutura viária não só em termos de construção de rodovias,
Usinas hidrelétricas Desenvolvimento [FOBOMADE], 2005). mas também de portos e aeroportos, e o início
propagação de A construção de usinas hidrelétricas e de bar- O aproveitamento das enormes reservas de de uma complexa rede de comunicações.
ragens para outros fins não alterou o fluxo de Destaque-se que o maior projeto hidroe- recursos naturais na Amazônia gera a ne-
doenças tropicais. água na região, mas tem potencial para modifi- nergético da Amazônia, o Complexo Hidrelétri- cessidade de desenvolver projetos de infra- Além da construção da rodovia Belém-
car o ciclo de descarga dos rios. No entanto, até co do rio Madeira, se vier a se concretizar, irá re- estrutura. Nesse sentido, os grandes projetos Brasília, observou-se uma alta densificação
o momento não há indícios de redução do nível presar o segundo rio mais caudaloso da bacia. de energia, transporte e comunicação são da malha rodoviária nos estados do Ma-
anual de descarga dos rios amazônicos. O Brasil Devido às suas características e à sua origem uma tendência crescente. ranhão e Tocantins e no leste do Pará, de
é o único país amazônico que tem represas de andina, o rio Madeira transporta a metade da Mato Grosso e de Rondônia. As primeiras
grande porte na região, e as maiores são as de carga de sedimentos da bacia e drena uma das A respeito da infraestrutura viária, em estradas, precárias, foram abertas por fazen-
Tucuruí e Balbina (Goulding Barthem; Ferreira, regiões de maior diversidade física e biológica particular, em 1975, a Amazônia brasileira deiros e madeireiros e depois pavimentadas
2003a), muito embora o Equador tenha deze- do mundo, que é compartilhada por três paí- contava com 29.400km de estradas que, pelos estados e municípios, embora ainda
nove projetos de represamento em vista, como ses: Bolívia, Brasil e Peru. O governo do Brasil em 2004, quase 30 anos depois, haviam existam muitas não-pavimentadas.
92
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >93

QUADRO 2.3
A maior extensão de rodovias pavimentadas da região
encontra-se nos estados do Maranhão, Pará e Tocantins, jus- BRASIL: PLANO SUSTENTÁVEL DA RODOVIA BR-163
tamente onde estão os grandes eixos viários que avançam
pela Amazônia. Em 1975, a Amazônia brasileira tinha 29.400 O Plano de Desenvolvimento Sustentável Regional da área de influ-
km de rodovias, dos quais 5.200 km eram pavimentados. ência da rodovia BR-163 para o trecho Santarém-Cuiabá foi elaborado
Em 2004, a extensão da malha rodoviária da região passou com o intuito de garantir o desenvolvimento sustentável e evitar os
para 268.900 km, dos quais 246.600 km não-pavimenta- impactos negativos dos processos que historicamente acompanharam
dos, ou seja, em pouco menos de trinta anos cresceu dez o asfaltamento de rodovias na Amazônia. O Plano foi preparado com
vezes (Ximenes, 2006). Dadas as tendências atuais, é previ- base na experiência adquirida com o Programa Piloto para a Proteção
sível que o aumento no número de rodovias venha a ocorrer de Florestas Tropicais do Brasil – PPG7 e em conformidade com os
nas regiões em que há uma carência destas, como nos es- princípios do Plano Amazônia Sustentável. Essa rodovia atende uma
tados do Amazonas e Acre, significando possivelmente uma das áreas de maior potencial econômico e diversidade social e biológi-
maior pressão sobre os ecossistemas e os recursos naturais ca da Amazônia. Ali vivem comunidades tradicionais, populações urba-
amazônicos nos próximos anos. nas e rurais e mais de trinta povos indígenas, totalizando de 2 milhões
de pessoas numa área que representa 24% da Amazônia brasileira.
As estradas informais merecem uma análise especial
pelo importante papel que tiveram na ocupação da Amazô- Um grupo de 21 ministérios e órgãos federais definirá suas ações com
nia. Existem milhares de quilômetros de estradas informais, base nas prioridades estabelecidas pelos governos estaduais e munici-
construídas em terras públicas, particularmente em áreas pais e pela sociedade civil.
de floresta, sem nenhum planejamento e sem as devidas Considerando que o Plano de Desenvolvimento Sustentável Regional
autorizações exigidas por lei. Um estudo feito pelo Imazon e o governo buscam fortalecer as políticas de gestão participativa, fo-
no estado do Pará, na área com a maior concentração de ram realizadas quinze consultas para tratar da criação de áreas protegi-
rodovias ilegais abertas para ter acesso aos recursos naturais, das, da viabilização de oportunidades econômicas de base sustentável
revelou que a extensão das estradas quadruplicou em um e da consolidação de políticas de monitoramento e controle ambiental
período de dez anos, passando de 5.042 km, em 1990, com o objetivo de reduzir a degradação dos recursos naturais.
para 20.769 km, em 2001. A maioria encontra-se em terras
públicas, reservas e áreas indígenas. Assim que as ações forem implementadas, muitas empresas e órgãos
governamentais terão de intensificar a fiscalização da agricultura e do
Assim, os novos projetos têm de contemplar ações sociais transporte de produtos madeireiros ilegais. O Ministério do Meio Am-
e ambientais com o objetivo de reduzir seu impacto. A Inicia- biente, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), vem
tiva de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana trabalhando no combate ao desmatamento no Parque Xingu e nas
(IIRSA) objetiva promover o desenvolvimento da infraestrutu- terras indígenas Kaiabi, Baú e Menkrangnoti. A região será beneficiada
ra sob uma perspectiva regional, buscando a integração física com a criação de 10,6 milhões de hectares de unidades de conser-
dos países da América do Sul. É um ambicioso programa vação. Outras unidades de conservação serão criadas pelos governos
multinacional financiado BID, pela CAF e em parte pelo Brasil, dos estados do Amazonas e Pará, com o apoio do governo federal.
que envolve pela primeira vez os doze países do continente.
Entre suas metas está a construção de rodovias (em torno O Plano prevê ainda investimentos em infra-estrutura viária e em
de 300), pontes, hidrelétricas, gasodutos e outras obras de redes de energia elétrica. O governo investiu também no zoneamento
infra-estrutura. Segundo Killeen (2007), embora não exis- econômico-ecológico de toda a área de influência da BR-163. Além
tam previsões quanto ao impacto total dos investimentos da disso, serão desenvolvidos instrumentos para viabilizar o ordenamento
IIRSA, sabe-se que estes irão desencadear uma combinação territorial e a gestão ambiental da área. O Instituto Nacional de Coloni-
de forças que gerará uma perfeita tempestade de destruição zação e Reforma Agrária (Incra), a Polícia Rodoviária Federal e o Insti-
ambiental e social na Amazônia, além de colocar em perigo tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
a sobrevivência de comunidades indígenas que tentam se (Ibama) serão fortalecidos na região. Órgãos como a Polícia Federal e o
adaptar a um mundo globalizado. A IIRSA poderá intensificar Exército também integram o plano de operações conjuntas com a mis-
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

os fatores que põem em risco a sobrevivência da Amazônia, são de desarticular quadrilhas de invasores de terras públicas e com-
entre os quais as mudanças climáticas e a derrubada das bater a ilegalidade e o crime na região. Serão desenvolvidas ações para
florestas para fins agrícolas (Killeen, 2007). a promoção da cidadania por meio de programas de assistência social
às famílias mais pobres, erradicação do trabalho infantil e combate ao
As rodovias são instrumentais para o desenvolvimento, e a trabalho escravo. O Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária
sua necessidade é indiscutível. A questão é o planejamento do (Pronera) também ampliará suas redes de atendimento na região.
território. A história da Amazônia está repleta de desastres eco-
A CONSTRUÇÃO DE
lógicos e sociais e, em muitos casos, econômicos associados
ESTRADAS NA AMAZÔNIA
às rodovias, como a Marginal da Selva, no Peru, e a BR-364, no Elaboração: Muriel Saragoussi, Ministério do Meio Ambiente (Brasil).
AVANÇA SEM PARAR. Brasil, entre outras tantas dezenas (Dourojeanni,1998).
94
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >95

o desmatamento (COE, 2008). (Ver capítulo


3.)

Na maioria dos países evidencia-se um


avanço limitado na implementação de proces-
sos de ordenamento territorial para organizar o
desenvolvimento sustentável local, nacional e
regional que contribuam para o aproveitamento
sustentável do território e a redução do número
de conflitos. As políticas públicas de ocupação
da Amazônia concentraram-se no desenvol-
vimento de infra-estrutura viária para promo-
ver a conectividade e o acesso ao mercado. É
preciso destacar o compromisso do Brasil de
implementar políticas públicas que promovam
o desenvolvimento sustentável da região, para
o qual conta com o Plano de Desenvolvimento
Sustentável da Amazônia. O Brasil começou a
dar impulso a essa visão em 2000, assumindo
o compromisso de transversalizar a gestão am-
biental nas políticas públicas. A Guiana e o Suri-
name, por outro lado, têm áreas com baixo nível

2.3|MudançasNO de exploração ou inexploradas, tendo, portanto,


a oportunidade de planejar e organizar o apro-
veitamento sustentável dos seus recursos com
usodOsOlo base numa abordagem integral, multissetorial e

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


participativa que permita reavaliar a relação en-
tre cultura-natureza e bem-estar. A Colômbia,
No decorrer da história, o processo de ocupação territorial na grande por outro lado, estabeleceu os fundamentos de
região amazônica não ficou à margem das dinâmicas socioeconômi- sua política para o desenvolvimento sustentável
cas. A percepção da Amazônia como um enorme espaço vazio com da região amazônica como parte do processo
grandes riquezas e oportunidades para o desenvolvimento de ativida- da Agenda Amazônia 21.
des econômicas diversas incentivou processos de ocupação que não
levaram em conta a interação com as culturas nativas nem com os ❱❱❱ O desmatamento é o primeiro passo do intenso Assim, o processo acelerado de ocupação
frágeis ecossistemas. Essas mudanças, aceleradas pelo uso do solo, processo de mudança no uso do solo na Amazônia. territorial em uma região caracterizada pela
principalmente a perda significativa de área de floresta, chamam a fragilidade dos ecossistemas não só pertur-
atenção e causam preocupação na comunidade internacional. bou o equilíbrio destes como também acar-
expandir a fronteira agrícola e descongestionar as zonas As mudanças mineração informal; a exploração ilegal de madeira; os me- retou dinâmicas socioeconômicas e gerou
Hoje, quinze anos após a apresentação da obra Amazônia sem periféricas com a transferência dessas populações para gaprojetos de infra-estrutura, como barragens e rodovias (ver demandas, que constituem fatores de pres-
mitos (Banco Interamericano de Desenvolvimento [BID]; Programa lá, ignorando que a região já está habitada e que as no uso do a seção 2.2); as lacunas do ordenamento jurídico, como a são sobre a qualidade ambiental. O cresci-
das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD]; Tratado de Co- pessoas que ali vivem também têm direitos. não-definição dos direitos de propriedade; a limitada capa- mento das cidades sem sistemas adequados
operação Amazônica [TCA], 1992), que assinala que um dos mitos é
solo são o cidade de fazer cumprir a lei e de aplicar sanções; os incen- de gestão de resíduos sólidos, por exemplo,
o “vazio amazônico”, é importante reiterar e enfatizar o tema de modo A Amazônia não é nem virgem nem um espaço vazio, resultado de tivos do mercado; e as mudanças de atitude e de valores leva à disposição inadequada destes nos cor-
a organizar e ordenar o aproveitamento da região. Nesse sentido, vale onde a natureza se preserva tal qual o fora no passado, intac- da população. A força e a importância relativas de cada fator pos d´água ou no solo, afetando a oferta de
relembrar o exposto no relatório: ta. Mas também não constitui um imenso laboratório onde um processo variam de país a país (ver capítulo 1 e seção 2.1). bens e serviços ecossistêmicos.
as forças da natureza atuam sem a intervenção humana.
“É comum referir-nos à Amazônia como uma das últimas fron- Na realidade, a região tem uma longa história de ocupação
de ocupação Considerando que o uso do solo é determinado por suas Por outro lado, o desenvolvimento inten-
teiras da humanidade e como um imenso espaço vazio que é pre- humana [...]” (BID; PNUD; TCA, 1992, p. 16-7). acelerada e características físicas, químicas e ecológicas, qualquer modifi- sivo de atividades como a agricultura, a mi-
ciso ocupar. Alguns até acreditam tratar-se de uma região virgem. cação nestas afetará o funcionamento de seus ecossistemas neração e a exploração de hidrocarbonetos,
Essas idéias são comuns tanto em países extra-regionais, especial- As mudanças no uso do solo na Amazônia são resulta- desordenada e, conseqüentemente, o fornecimento de bens e serviços. assim como a eliminação de resíduos quími-
mente do hemisfério norte, como naqueles da própria região. Os do de um processo de ocupação acelerada e desordenada As mudanças no uso do solo afetam a disponibilidade e/ou cos, também afetam a qualidade dos corpos
primeiros preocupam-se sobretudo em manter a Amazônia intacta, do território ao longo do tempo, que modificou a cobertura
do território qualidade dos recursos naturais e serviços ecossistêmicos, d´água e do solo.
como uma reserva natural para toda a humanidade, esquecendo vegetal amazônica. Entre os fatores subjacentes dessas mu- ao longo do por exemplo, a erosão do solo e o assoreamento dos corpos
que há pessoas que vivem na região e que precisam prosperar. danças no uso do solo encontram-se a dinâmica regional de d'água, a fragmentação da paisagem, a introdução de espé- Entre 1986 e 2006, por exemplo, na re-
Já as nações que têm a Amazônia sob sua jurisdição a conside- produção, tal como a expansão da fronteira agrícola (impul- tempo. cies e a retirada de espécies nativas, a alteração dos ciclos gião peruana de Huaypêtue, Madre de Dios,
ram uma grande oportunidade de explorar as riquezas naturais, sionada principalmente pelas monoculturas) e a pecuária; a hidrológico e biogeoquímico, a contaminação atmosférica e a paisagem típica da floresta amazônica se
transformou num deserto em decorrência do
garimpo de ouro (IIAP, 2007).
96
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >97

GRÁFICO 2.5
Amazônia: número de artigos publicados (por ano)

850
800
750
700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
1956 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05

FÁBRICA DE IDEAS
Fonte: CLAES (2008).
Elaboração para PNUMA.

❱❱❱ O número de pesquisas e publicações científicas sobre a Amazônia é cada vez maior.

melhoradas, sementes transgênicas, produ- Apesar dos esforços de coordenação inte-


“A informação
2.4|Ciência,tecnologia tos agroquímicos, etc. Alguns dos avanços
obtidos foram introduzidos na Amazônia sem científica e
rinstitucional, predominam as iniciativas inde-
pendentes. Assim, embora se desenvolvam

einovação
a devida avaliação de seus impactos, entre
eles o emprego de agroquímicos na mono-
tecnológica é a importantes pesquisas na região, estas esbar-
ram na limitada divulgação, articulação e aplica-
cultura e a incorporação de espécies da flora chave para um ção. A Organização do Tratado de Cooperação

A riqueza natural e cultural da Amazônia faz com que a região seja Por tratar-se a Amazônia de um importante centro de
ou florestais. O desenvolvimento científico e
tecnológico também está associado ao regis-
desenvolvimento Amazônica (OTCA) realiza simpósios, seminá-
rios e oficinas regionais e internacionais com
muito atraente como espaço para a promoção do desenvolvimento megabiodiversidade, os estudos sobre variados aspectos tro de patentes, por meio das quais se pro- inovador na a finalidade de socializar e capitalizar os traba-
científico e tecnológico. De fato, os cientistas de outras regiões do
mundo costumam ver a Amazônia como um laboratório aberto e de
da biodiversidade amazônica são muito numerosos. Mais
da metade dos artigos científicos registrados no banco
tege a propriedade intelectual da inovação,
resguardando-se, assim, o retorno do investi-
Amazônia.” lhos de pesquisa, bem como de promover a
coordenação e o intercâmbio interinstitucional
fácil acesso. Nesse aspecto, o desenvolvimento científico e tecnológi- de dados GEO Tracking tratam da Amazônia, abordando mento privado. para o desenvolvimento científico e tecnológi-
co se constitui numa força motriz que pode alterar a disponibilidade assuntos como ecologia, ciência ambiental, geociência e co regional. Em 2006, por exemplo, a OTCA e
e qualidade dos recursos naturais, bem como a qualidade ambiental meteorologia. No entanto, há uma demanda cada vez A Amazônia deu importantes contribui- o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia
na região, além de, obviamente, contribuir para o seu progresso eco- maior pelo aprofundamento da caracterização e avaliação ções para melhorar o conhecimento e o uso (Concytec) organizaram o Primeiro Simpósio
nômico. nutricional de espécies priorizadas, crescimento e desen- de diferentes espécies da flora e da fauna: ANTONIO BRACK Científico Amazônico, em Iquitos, Peru. Os
volvimento vegetativo, caracterização do desenvolvimen- nela foram descobertas novas formas de (EXTRAÍDO DE: BRACK, seguintes temas foram considerados prioritá-
Um indicador sobre o interesse científico pela Amazônia é o nú- to reprodutivo, tecnologia para o aproveitamento integral vida e desenvolvidos métodos alternativos A., LA BUENA TIERRA) rios para a região: gestão da água, criação de
mero de artigos publicados nos periódicos científicos especializados. e desenvolvimento de estratégias de comercialização e que permitem aumentar a produtividade do peixes de água doce para consumo humano
Desde 1956, observa-se um crescimento gradual no número de ar- marketing, entre outros (Mantilla, 2006). solo, ao mesmo tempo em que se preservam (aqüicultura), biotecnologias aplicadas ao cul-
tigos publicados e, da década de 90 em diante, esse número tem os serviços ecossistêmicos, etc. Contudo, o tivo de plantas de interesse comercial, manejo
experimentado um aumento significativo (gráfico 2.5). A Amazônia não é alheia ao desenvolvimento cientí- desafio reside em articular e difundir esses das florestas e conservação da biodiversidade
fico e tecnológico internacionais, que experimentou um resultados. (Concytec, 2006). Nesse sentido, a OTCA está
Mais de 95% dos artigos sobre a Amazônia publicados nas revis- aumento considerável em razão das crescentes deman- formulando uma Estratégia de Ciência e Tecno-
tas científicas arbitradas contidas no banco de dados Web of Science das dos setores agroprodutivo, alimentar, cosmético e A institucionalidade científico-tecnológica logia para a Conservação e o Aproveitamento
foram escritos em inglês, o que mostra o interesse da comunidade farmacêutico. Esse desenvolvimento está voltado princi- da Amazônia é ampla. Os países da região con- Sustentável da Biodiversidade Amazônica.
acadêmica internacional pela Amazônia. É curioso notar que o número palmente para a elevação da produtividade das lavouras tam com institutos de pesquisa especializados
de artigos publicados em português é mais que o dobro dos publica- e a redução dos custos de manejo, entre outros aspectos. na Amazônia, que desenvolvem redes de cola- A baixa disponibilidade de recursos fi-
dos em espanhol (análise do GEO Tracking). Nesse sentido, foram desenvolvidas sementes e mudas boração e intercâmbio (ver quadro 2.4). nanceiros e humanos, contudo, representa
98
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >99

QUADRO 2.4
uma importante barreira para o desenvol-
vimento científico e tecnológico. Como se INSTITUIÇÕES DE PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
não bastasse a baixa prioridade da ciência, SEDIADAS NA AMAZÔNIA
tecnologia e inovação na agenda pública,
em vários países da região o orçamento Os países amazônicos compreenderam que, para valorizar
total destinado à área representa menos os recursos naturais, conservar a biodiversidade e admi-
de 1% do PIB. Não foram encontradas nistrar adequadamente os ecossistemas desse território,
informações específicas sobre a dotação é preciso contar com instituições de ciência e tecnologia
orçamentária para o desenvolvimento de especializadas na Amazônia. Atualmente existem três que
ciência e tecnologia na Amazônia. se destacam na Amazônia, caracterizadas principalmente
por ter certo grau de autonomia e sua sede principal em
Contrastando com esse cenário, cabe cidades amazônicas. Por ordem de antiguidade, são elas:
destacar os avanços científicos, tecnológicos
e de inovação capitaneados pelo Brasil na O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
região. Nessa área, a Ministério de Ciência (INPA), criado em 1952 e inaugurado em 1954, na cidade
e Tecnologia, em coordenação com outros de Manaus, Brasil, tem como objetivo pesquisar o meio
ministérios, criou um Programa de Pesquisa físico, as condições de vida e o bem-estar humano na
para o Desenvolvimento Científico e Tecno- Amazônia Legal do Brasil. É uma unidade de pesquisa que
lógico da Amazônia. goza de relativa autonomia e depende do Ministério de
Ciência e Tecnologia.

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


O Brasil conta ainda com a Empresa Bra-
sileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
vinculada ao Ministério de Agricultura, Pecu-
ária e Abastecimento. Esta instituição tem
como objetivo gerar tecnologia para o setor
agroindustrial e, em especial, desenvolver ❱❱❱ A inovação tecnológica na produção industrial permite melhorar o
3 IMPORTANTES INSTITUIÇÕES
DA ÁREA DE CIÊNCIA E
TECNOLOGIA ESTÃO SEDIADAS
alternativas tecnológicas para melhorar a efi- aproveitamento dos produtos amazônicos. EM CIDADES DA AMAZÔNIA.
ciência dos sistemas agroprodutivos.

Além disso, o desenvolvimento da ro- por meio de consultas a indígenas, a proba- de alimentos, fármacos e cosméticos. A constante pro-
bótica aplicada a diferentes campos trouxe bilidade de sucesso aumenta para uma de cura por medicamentos novos e mais eficientes para

95%
vantagens como a identificação oportuna de cada cinco mil. Dessa forma, de acordo com combater o câncer, o diabetes, as infecções microbia- O Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP),
problemas ambientais e a redução dos cus- tais evidências, os conhecimentos tradicio- nas, os problemas cardíacos, as dores e as inflamações organismo criado pelo artigo 120 da Constituição peruana
tos sociais. A cidade de Manaus, no Brasil, nais permitem reduzir o tempo necessário levou a um incremento nas pesquisas sobre produtos de 1979, é uma instituição técnica e autônoma respon-
é um importante pólo de desenvolvimento para o desenvolvimento de novos produtos, naturais vegetais. sável pelo inventário, pela pesquisa, pela avaliação e pelo
dessa área. ao mesmo tempo em que aumentam a pro-
DOS ARTIGOS controle dos recursos naturais da Amazônia peruana. É
babilidade de que estes produtos venham a SOBRE A AMAZÔNIA Assim, o desenvolvimento científico e tecnológico considerado pessoa jurídica de direito público interno e
As áreas de ciência e tecnologia baseiam- ser desenvolvidos de fato (Chadwick, 1990 PUBLICADOS na Amazônia pode optar entre dois caminhos a seguir: tem autonomia econômica e administrativa. Sediado na
se cada vez mais nos bens oferecidos pela citado por Belmont; Zevallos, 2004). NAS REVISTAS o da conservação dos serviços ecossistêmicos, da valo- cidade de Iquitos, está ligado ao poder executivo por meio
natureza e nos conhecimentos tradicionais CIENTÍFICAS rização dos conhecimentos tradicionais e da geração de do Ministério da Produção.
para desenvolver novos produtos alimentí- As universidades também são atores im- benefícios econômicos no médio e longo prazo; e o que
ARBITRADAS FORAM
cios, farmacêuticos e cosméticos. No entan- portantes no desenvolvimento da ciência e é alheio à conservação dos serviços ecossistêmicos e O Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sin-
to, as comunidades locais nem sempre par- tecnologia na Amazônia. Um dos temas que ESCRITOS EM visa apenas aos ganhos econômicos no curto prazo. chi), criado pela Lei 99 de 1993 como entidade científica
ticipam de forma equitativa na distribuição vêm sendo cada vez mais pesquisados é o INGLÊS. vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, possui auto-
dos benefícios derivados do aproveitamento grande número de espécies vegetais com Desenvolver o conhecimento científico sobre a nomia administrativa, personalidade jurídica e patrimônio
da biodiversidade e dos conhecimentos tra- propriedades medicinais. Essa linha de pes- Amazônia de modo a contribuir para melhorar as con- próprio. Sediado na cidade de Letícia, tem por objetivo a
dicionais. Segundo cálculos de M. J. Balik, quisa tem contado com o valioso apoio de dições de vida da população num contexto de desen- realização e divulgação de estudos e pesquisas científicos
a identificação etnobotânica realizada por grupos indígenas, que oferecem os seus co- volvimento sustentável é um desafio que há de ser de alto nível relacionados com a realidade biológica, social
membros das comunidades indígenas pode nhecimentos sobre as propriedades curativas encarado. Para promover a pesquisa básica e aplicada e ecológica da Amazônia colombiana.
ser de quatro a cinco vezes mais eficaz na das diversas espécies da flora. e o intercâmbio dos conhecimentos existentes, é pre-
detecção de compostos ativos para o de- ciso que exista maior cooperação. Entre as linhas de
senvolvimento de produtos farmacêuticos. Os últimos quinze anos viveram o res- pesquisa que necessitam ser desenvolvidas, destacam- Elaboração: Fernando Rodríguez Achung, IIAP.
Através de amostragem aleatória, identifi- surgimento do interesse por produtos natu- se: bioprospecção, cadeias produtivas (pesca e agroin-
cou-se um espécime com potencial comer- rais e suas possíveis aplicações no controle dústria), manejo florestal, recursos hídricos, saúde e
cial para cada dez mil espécies amostradas; de pragas agrícolas, bem como nos setores tecnologia de alimentos e modelagem ambiental.
100
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >101

GRÁFICO 2.6
Níveis da seca na região amazônica
30
MENOS DE nivel de agua (m)

1%
25

20

15
DA MASSA ANUAL
DO RIO AMAZONAS 10
PROVÉM DO DEGELO
5
NOS ANDES. Rio Negro em Manaus-anos secos

S O N D E F M A M J J A
HLT
2004-05
1925-26
1963-64
1982-83
1997-98

❱❱❱ As inundações atingem cada vez mais a Amazônia: a perda de cobertura florestal expõe o solo e
favorece o avanço da erosão e do assoreamento.
DANIEL BELTRA / GREENPEACE

118
HLT
116 2004-05

2.5|Mudanças curto prazo. O IPCC reafirmou que as principais mudan-


ças no regime climático são o aumento da temperatura
mundial, a elevação do nível dos oceanos e uma maior
Embora a Amazônia não tenha uma par-
ticipação importante na geração dos gases
de efeito estufa, responsáveis pelo aqueci-
114
112

CLIMÁTICASE freqüência dos eventos climáticos extremos. É possível mento global, a situação se inverte se levar- 110
constatar a ocorrência de alterações no clima de todo mos em consideração a emissão de gases 108
EVENTOSNATURAIS o nordeste da América do Sul, incluindo a região ama- decorrente de mudanças no uso do solo (o 106
zônica, no último século, seguindo essa tendência. No capítulo 4 detalha os possíveis impactos do 104
Às diversas forças motrizes que incidem sobre a Amazônia já apre- século XX, o recorde de temperatura média mensal foi desmatamento no clima da região amazôni- Rio Amazonas-Iquitos (nível de água)
102
sentadas neste capítulo, soma-se a pressão exercida pelas mu- superado em 0,5 a 0,8 °C (Pabón, 1995; Pabón et al., ca e do mundo em geral). Fonte: Marengo et al. (2007). S O N D E F M A M J J A
danças no clima mundial. A Amazônia tem um forte vínculo com a 1999; Quintana-Gómez, 1999), e na região amazônica
GRÁFICO 2.7
configuração e modificação do clima. Em primeiro lugar, a floresta registrou-se uma tendência de aquecimento de +0,63 A tendência para o aumento da seca e
Precipitações na região amazônica
age como um gigantesco consumidor de calor, absorvendo a me- °C em um período de 100 anos (Vitória et al., 1998). Di- do calor poderia ser reforçada pela morte da
Índice de precipitação fluvial no norte da Amazônia
tade da energia solar que chega até ela por meio da evaporação versos estudos confirmam o aumento das temperaturas, floresta úmida na Amazônia oriental, em con-
da água pela folhagem. Os efeitos da energia captada pela floresta todavia em diferentes magnitudes. seqüência da substituição da floresta por ve-
amazônica estendem-se pelo mundo por meio de ligações deno- getação de savana e do semi-árido. Segundo
minadas “teleconexões climáticas”, muitas das quais ainda se está Nobre e Oyama (2003), essa situação pode-
começando a compreender. Em segundo lugar, trata-se de uma rá levar à transformação de 60% do território
reserva ampla e relativamente delicada de carbono, que pode ser da Amazônia em savana ainda neste século.
liberado na atmosfera por meio do desmatamento, da seca e do O gráfico 2.6 ilustra as tendências do volume
fogo, contribuindo para o aumento de gases de efeito estufa. Em e nível de água dos rios Negro e Amazonas
terceiro lugar, a água que escoa das florestas amazônicas para o A seca e o calor possivelmente nos anos secos em comparação com a mé- 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
oceano Atlântico constitui entre 15 e 20% da descarga total mun- dia, pondo em evidência seu impacto em
dial de água doce fluvial, volume talvez suficiente para influenciar se tornariam mais intensos com termos de diminuição do volume de água, e,
Índice de precipitação fluvial no sul da Amazônia

3
algumas das grandes correntes oceânicas, que são importantes portanto, na intensidade da seca.
reguladoras do sistema climático. (Nepstad, 2007).
a morte da floresta úmida na 2

1
Amazônia oriental e sua substituição As tendências de precipitação na Amazô-
0
A mudança do clima constitui uma ameaça para a Amazônia, nia não estão totalmente claras. Como se de-
com implicações de escala global. O Painel Intergovernamental so- por vegetação do tipo cerrado e preende do gráfico 2.7, a variação no nível de
-1

-2
bre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Chan- chuva ao longo de várias décadas apresentou
semi-árido, processo que poderia -3
ge, ou IPCC na sigla inglesa) salientou no seu último relatório que tendências opostas nas regiões norte e sul 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
as mudanças climáticas já estão ocorrendo e são irreversíveis no atingir 60% do seu território. da bacia amazônica (Marengo; Bhatt; Cun- Fonte: Marengo (2004) TAC.
102
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >103

QUADRO 2.5
ningham, 2000). O período de 1950-1976 foi chuvoso
no norte da Amazônia, ficando mais seco a partir de 1977 AMAZÔNIA: REGULADORA DO CLIMA
(IPCC, 2001), o que sugere uma variabilidade climática,
mas não um padrão definido de chuvas. A Amazônia exerce uma grande influência no transporte
de calor e de vapor d´água para as regiões localizadas em
Por outro lado, as mudanças climáticas influenciam di- latitudes mais altas. Tem ainda um papel muito importante
retamente o derretimento das geleiras dos Andes. Mas, se- no seqüestro de carbono atmosférico, com o que contri-
gundo Carlos Nobre, mesmo que as geleiras desapareçam bui para a redução do aquecimento global.
totalmente devido ao aquecimento global, seu efeito na va-
zão do rio Amazonas será muito pequeno e possivelmen-
te imperceptível na foz. Algumas constatações do projeto Com o desmatamento, a floresta deixará de atuar como
Páramo Andino (Páramo Andino Project, 2007) corrobo- reguladora do clima. O aumento da temperatura e a
ram essa afirmação: especialistas andinos calcularam que diminuição do nível das precipitações nos meses secos
o degelo representa aproximadamente 7 bilhões de m3/ poderão significar a savanização da Amazônia. Segundo
ano, o que representaria menos de 1% da massa anual do Marengo et al. (2007), os mapas de futuros cenários
rio Amazonas, isso sem levar em consideração que parte climáticos gerados pelos diferentes modelos do IPCC
do degelo escoa para os rios da vertente do Pacífico. Os apontam para um aquecimento sistemático em diferentes
pequenos rios dos Andes serão, portanto, muito afetados, regiões da América do Sul, inclusive na Amazônia, muito
gerando impactos ecológicos na região e afetando o abas- embora diferentes modelos com concentrações de gases
tecimento de água e o aproveitamento hidrelétrico. de efeito estufa iguais indiquem projeções climáticas re-
gionais discrepantes, especialmente com relação à chuva.
Um dos eventos climáticos cujas freqüência e intensida-
de aumentarão será o El Niño Oscilação Sul (ENOS), o qual
é, por sua vez, uma força motriz que explica a variabilidade
climática na América Latina (IPCC, 2007). O ENOS está as- ESSAS AMEAÇAS IMPÕEM GRANDES
sociado a estiagens no nordeste brasileiro, no altiplano pe- DESAFIOS. PARA SUPERÁ-LOS,
ruano e boliviano e na costa pacífica da América Central, DEPENDEMOS DA CRIATIVIDADE E DA ❱❱❱ A alteração do ciclo de chuvas na Amazônia já está ocasionando secas intensas, que
bem como anomalias nas precipitações no sul do Brasil e INICIATIVA DO MEIO CIENTÍFICO E, NO têm um forte impacto na ictiofauna e nas características dos solos.
no noroeste do Peru (Horel; Cornejo-Garrido, 1986). Foi o QUE SE REFERE À TOMADA DE DECISÕES, DANIEL BELTRA / GREENPEACE

que aconteceu nos anos 1997-1998, quando a seca foi res- DA ESFERA POLÍTICA.
ponsável por incêndios devastadores no estado de Roraima, Os rios amazônicos cia negativamente muitos sistemas hídricos ra todos os anos, contribuindo assim para o
e, no ano de 2005, quando um El Niño moderado reduziu amazônicos; (iii) mudanças na composição aquecimento global. Os incêndios são parti-
as chuvas ao longo do rio Negro, um importante tributário Marengo et al. (2007) também indicam que as áreas mais têm um papel de nutrientes dos rios devido a alterações na cularmente prejudiciais por fragmentarem os
do rio Amazonas. Cabe dizer que, de acordo com estudo sensíveis da floresta estariam localizadas entre o Tocan- produtividade da floresta, as quais atingem hábitats e gerarem impactos mais extremos
recente de Marengo et al. (2008), a seca que assolou o tins e a Guiana, atravessando a região de Santarém, que
importante no ciclo os organismos aquáticos; e (iv) níveis mais (Nepstad, 2007; Laurance; Williamson, 2001;
Brasil em 2005 foi causada pelo aquecimento das águas do apresenta padrões de precipitação mais parecidos com os e balanço hídricos elevados de sedimentação e assoreamento Cochrane; Laurance, 2002).
oceano Atlântico, e não pelo El Niño. No entanto, é consenso do Cerrado. Essa Amazônia seca teria uma vegetação do dos leitos dos rios que nascem na base da
no meio científico que o evento El Niño será mais freqüente tipo savana e apresentaria taxas mais elevadas de evapo- da região. Mudanças cordilheira dos Andes. Estudo divulgado em fevereiro de 2008
e intenso por causa do aquecimento global. transpiração, fazendo com que seus solos tendessem a ser por uma equipe composta de cientistas de
mais secos durante os meses de estiagem. A região ficaria
nesse regime Os rios da Amazônia exercem um impor- várias nacionalidades, da Universidade de
Todas essas mudanças ameaçam os ecossistemas muito mais vulnerável aos incêndios florestais, o principal afetam o hábitat e tante papel no ciclo e no balanço hídrico da re- Oxford, do Instituto Potsdam, entre outros,
terrestre e aquático da Amazônia. Esse último será parti- agente de conversão da floresta em savana. gião. As mudanças nesse regime (quantidade, concluiu que a floresta amazônica é a segun-
cularmente atingido pelo aumento da temperatura, que o comportamento qualidade e temporalidade) afetam o hábitat e da região mais vulnerável do planeta, depois
resulta em maior evaporação da água superficial e maior Essas ameaças representam um grande desafio. Enfrentá- o comportamento de muitas plantas e espécies do Ártico. Assim, em razão do desmatamento
transpiração das plantas, produzindo, assim, um ciclo hi- las demandará muita criatividade e iniciativa do meio
de muitas plantas de animais; algumas delas já estão apresentan- acelerado que vem causando a savanização
drológico mais intenso. Caso de fato ocorra uma redução científico, bem como da esfera política, no que se refere à e espécies de do sinais de adaptação às mudanças. gradual do seu território, a Amazônia, além de
no nível de precipitação durante a estação da seca, os tomada de decisões, exigindo grandes articulações multi- ser gravemente afetada pelas mudanças cli-
impactos no regime hidrológico da Amazônia serão mais institucionais e interdisciplinares para encontrar soluções animais. Outro efeito das secas ocorridas na Ama- máticas globais, poderá fechar um círculo vi-
intensos (Nijssen et al. , 2001). tecnicamente inovadoras e comprovadamente sustentáveis. zônia em razão das mudanças climáticas foi cioso no comportamento do clima em escala
o aumento na freqüência, e possivelmente global. As sociedades amazônicas reconhe-
As mudanças climáticas ameaçam os ecossistemas na intensidade, dos incêndios florestais (ver cem que as alterações climáticas terão como
aquáticos amazônicos de várias formas, por exemplo: Elaboração: Leonardo de Sá (INPE/MPEG/MCT). mais detalhes na seção 3.2). O desmatamen- conseqüências uma piora dos problemas de
(i) aquecimento da temperatura das águas, o que afe- to e os incêndios florestais são responsáveis saúde da população e a elevação os níveis de
ta algumas espécies de peixes e animais; (ii) redução pelo lançamento de centenas de milhões pobreza da região. Assim, é imperioso que as
da precipitação durante os meses secos, o que influen- de toneladas de gás carbônico na atmosfe- providências pertinentes sejam tomadas.
104
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >105

O PIRARUCU OU PAICHE (ARAPAIMA GIGAS)


É O MAIOR PEIXE DOS RIOS AMAZÔNICOS.
DANIEL SILVA / EL COMERCIO
A oferta hídrica da bacia amazônica é resultado da combinação de seis Principais rios do mundo. Não há RIO AMAZONAS, com 6.992,06 km
Os cinco principais contaminantes.
unanimidade a respeito da extensão dos Garimpo de ouro (lavagem da areia com o
afluentes que nascem na Cordilheira dos Andes, captando as águas principais rios do mundo. A dificuldade de uso de bombas e dragas, nos rios, e dos
das geleiras e das chuvas, e de outros seis que se originam na planície medir seu comprimento total decorre do
RIO NILO, com 6.671 km
veios), com o emprego de mercúrio como
amazônica. Seus doze principais afluentes são responsáveis pela grande tamanho das bacias hidrográficas e do RIO YANGTZÉ, com 6.380 km método de amalgamação.
fato de que os rios correm, em parte, por Exploração de petróleo.
captação total de 12 mil a 16 mil km3/ano de água líquida. territórios muito acidentados, tornando RIO MISSOURI, com 6.270 km Culturas ilícitas.
bastante complexa a tarefa de localizar suas Culturas industriais que usam agroquímicos.
nascentes. RIO AMARELO OU HUANG HE, com 5.464 km Resíduos urbanos.

Agentes químicos. Aumentam as


concentrações de nitratos, o que propicia
CONTAMINAÇÃO POR HIDROCARBONETOS Águas residuais. Volume de PROBLEMÁTICA o crescimento de algas e a eutrofização de LEITO DOS RIOS E TIPOS DE ÁGUA
salmoura produzida pela exploração lagos e várzeas, afetando os demais
Quando os hidrocarbonetos, os rejeitos da mineração ou outros dejetos Extração de ouro. Para se Cursos e corpos d'água organizados sob diferentes condições
de petróleo na Amazônia. organismos dos ecossistemas aquáticos.
contaminantes entram em contato com o solo, inicia-se um processo de evaporação obter um grama de ouro, são geológicas, topográficas e geomorfológicas, gerando ambientes
e percolação que altera a troca gasosa da cobertura vegetal com a atmosfera. utilizados de um a três gramas aquáticos diferenciados.
Produção de salmoura
(barris/ano) de mercúrio, além de cianureto
e detergentes. Isso significa que
1 Na superfície, animais
invertebrados, como 7 Os peixes contaminados
afetam a saúde dos
EQUADOR 496.030.437 são lançados cerca de 24 kg de
mercúrio por quilômetro
Produção de cocaína. A produção de
pasta-base de cocaína utiliza em média duas
aranhas e centopéias, e animais e dos seres 41.883.750 toneladas de precursores químicos (ácido
vertebrados, como humanos que se
BRASIL quadrado de rio.
mamíferos ou répteis, alimentam deles. sulfúrico, cal, gasolina, querosene, permanganato Águas brancas
conseguem fugir com PERU 41.251.537 de potássio e amônia) por hectare de coca
Nascem nas regiões mais antigas da bacia (escudos
mais facilidade. Água potável. Só 46% da processada, elementos tóxicos que são
do Pré-Cambriano e Paleozóico). Como seu nome
COLÔMBIA 11.529.465 população têm acesso a esse despejados nos rios amazônicos após serem
indica, trata-se de sistemas com alta transparência,
serviço. A água para consumo usados.
baixo pH e reduzida produtividade, pelas
2 Os seres microscópicos
que participam do
humano está contaminada em
grande medida, porque quase
características de seus solos, em geral arenosos.
processo de formação e Bacia de drenagem. Porção do
território de cada país cujas águas 70% dos aterros sanitários são a
oxigenação do solo
morrem instantaneamente. céu aberto. Estima-se que os rios Corte. O desmatamento é uma
escoam para a bacia amazônica.
amazônicos recebam 1,7 milhões ameaça cada vez maior à Águas brancas Várzeas
de toneladas de dejetos e 600 l/s disponibilidade de água, uma vez São águas bastante produtivas e com muitos Corpos d'água formados pelas cheias dos rios
3 No rio, a primeira
comunidade biológica a PERU 66,5 %
de lixiviados. que interfere no ciclo hidrológico. nutrientes. Possuem um pH neutro, entre 6,2 e 7.
Sua turbidez se deve à carga de sedimentos
na planície amazônica, dotados de uma grande
riqueza em fauna e flora aquática. Constituem
ser afetada é a de o meio de vida para uma importante parte da
inorgânicos, argilas illita e montmorillonita,
plâncton, que morre por BOLÍVIA 66 % população ribeirinha amazônica.
asfixia. transportadas dos Andes para as planícies aluviais.
BRASIL 57,7 % Cobertura do serviço de água ASSOREAMENTO
4 Morrem também as potável e saneamento (países andino-amazônicos) Em razão do intenso desmatamento, principalmente nas vertentes
plantas responsáveis pela EQUADOR 46 % do piemonte dos Andes, o assoreamento está aumentando nos rios
produção de alimentos e
oxigênio para os demais
Rede de água Saneamento da planície amazônica, favorecendo transbordamentos e a
animais. COLÔMBIA 38,5 %
45,2% 24,4%
alteração do curso e da dinâmica dos rios. Aguas negras
BOLÍVIA
Meandros Nascem na planície amazônica. Apresentam baixos
6 Nos peixes, os
contaminantes
COLÔMBIA 33,5% 26,0% Esgoto. A maior parte das áreas
habitadas da Amazônia não conta com
Escassez de peixes. Redução da
quantidade de algumas espécies de peixes.
Curvas pronunciadas na trajetória dos rios
quando estes chegam à planície amazônica.
valores de pH, maior transparência e alta concentração
de ácidos orgânicos, como os húmicos, que lhes
bloqueiam as vias Apresentam formas e desenvolvimento conferem essa cor. Tais condições fazem com que os
respiratórias, e os que EQUADOR 29,0% 21,1% rede de esgoto. O esgoto é lançado no rio Em determinadas regiões, a população O desmatamento
conseguem se salvar sem tratamento, tornando-se uma fonte enfrentou fome por esse motivo. A morte dos
produz freqüentes variados, mas geralmente se caracterizam pela ecossistemas de águas pretas tenham menor
desbarrancamentos na erosão das margens côncavas e acumulação produtividade. As áreas alagadas por esses rios são
apresentam altos níveis 40,3% 33,7%
5 Nos mamíferos
aquáticos, o petróleo de contaminação.
PERU de contaminação para a fauna, a flora e os
seres humanos.
peixes por contaminação e a sua posterior
decomposição causam doenças. A atividade
época das chuvas.
de sedimentos nas margens convexas. conhecidas no Brasil como igarapés.
destrói sua camada
natural de isolamento
VENEZUELA 20,0% 15,0% pesqueira não corre sério risco, mas a Rios rápidos
térmico. Também afeta exploração indiscriminada de certos recursos Na sua breve passagem pelo setor da
ocasiona a diminuição da oferta natural de Isso contribui para o
sua capacidade de assoreamento dos rios cordilheira, os rios correm encaixados e
flutuação, fazendo com peixes. quando estes atingem a turbulentos, em conseqüência das condições
que morram afogados.
Pesca na Amazônia PIRARUCU planície amazônica. topográficas e geológicas predominantes.
A pesca é a principal fonte de proteína das populações
Saltos e cachoeiras
locais da Amazônia, sendo mais importante do que a caça. São formações geológicas presentes no curso
NAVEGAÇÃO FILHOTE
dos rios quando estes atravessam terrenos
Apesar de ser a via de comunicação natural mais importante da América do Sul, o tráfego internacional de embarcações no rio Amazonas rochosos resistentes à erosão das águas.
Consumo diário. Encontram-se nos contrafortes dos Andes e Santarém.
é modesto, devido ao reduzido número de núcleos comerciais e industriais nas suas margens e à falta de infra-estrutura de navegação. (g/pessoa/dia) Conta com um porto privado, que
no Escudo das Guianas.
CACHARA dispõe de silo gigante capaz de
Iquitos e Yurimáguas. Letícia. Tabatinga. Médio Amazonas 369 armazenar 60 mil toneladas de grãos. A Belém.
São portos do tipo flutuantes. Contam Situa-se na margem esquerda do rio Porto com grande atividade Manaus. Situada às margens do rio partir daqui, a soja é exportada para o Seu porto fluvial é a porta de entrada para a
com infra-estrutura de atracamento, Amazonas. Por ser uma cidade de comercial, localizado na fronteira Baixo Amazonas 490-600 TUCUNARÉ Negro, principal afluente da margem mercado europeu. Está ligada com o sul Amazônia brasileira e é considerado o mais dinâmico
armazenagem e equipamento fronteira, possui características com a Colômbia e o Peru, a 1.600 esquerda do Amazonas . Por suas da Amazônia por meio da rodovia do norte do Brasil. Belém é o ponto de partida para
necessário para manipulação de carga. especiais para o comércio fluvial. km acima de Manaus. Alto Amazonas 500-800 docas passa boa parte do comércio BR-163 Cuiabá–Santarém. visitar praias e locais ecoturísticos.
TAMBAQUI fluvial brasileiro.
Alto e médio Putumayo 246
IQUITOS LETICIA 0,5 m 1 m 1,5 m 2 m MANAOS SANTARÉM BELÉM
TABATINGA
370 km 1.461 km 427 km 321 km
>107

ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS
RECURSOS HÍDRICOS E

AGROPRODUTIVOS
BIODIVERSIDADE

FLORESTAS

ASSENTAMENTOS
SISTEMAS

HUMANOS
3.2 3.3
3.1 3.4
3.5

A
En esta sección se identifican los factores

AMAZONIA
que afectan la situación ambiental en la región.

HOJE
108
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >109

AUTORAS:
DOLORS ARMENTERAS - Instituto Alexander Von Humboldt – Colômbia
MÓNICA MORALES - Instituto Alexander Von Humboldt – Colômbia

CO-AUTORES:
MARLÚCIA BONIFÁCIO - Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Brasil
MARIA LUÍSA DEL RIO - Ministério do Meio Ambiente – Peru
CAMILO CADENA - Instituto Alexander Von Humboldt – Colômbia
ELSA GALARZA - Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ROSÁRIO GÓMEZ - Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru

3.1|Biodiversidade A biodiversidade amazônica é


A Amazônia é uma região com extraordinária biodiversidade de impor-
sinônimo de abundância e de
tância mundial, tanto em termos de espécies e ecossistemas como de complexos ecossistemas que se
variações genéticas, com grande potencial econômico a ser explorado.
Evitar que essa diversidade biológica diminua em decorrência da per- desenvolveram sobre um vasto
da e transformação de habitats e ecossistemas, da extinção de espé-
cies, da redução da diversidade genética e da introdução de espécies
território.
exóticas, entre outras causas, é um dos maiores desafios ambientais
enfrentados pelos países que compõem a região.

Apesar de sua grande heterogeneidade, de um modo geral, a Ama-


zônia apresenta muitas semelhanças nos padrões de biodiversidade,
riqueza de espécies e endemismo, o que também se verifica nas
causas e nos impactos das alterações ambientais, bem como em
oportunidades de proteção e aproveitamento.

BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA

A biodiversidade amazônica é sinônimo de abundantes e complexos


ecossistemas, que se desenvolveram em um vasto território sem ter
seus padrões de funcionamento afetados por fronteiras geopolíticas.
A Amazônia contribui com diversos produtos de grande importância
SEBASTIÁN CASTAÑEDA/ EL COMERCIO

para o mundo (p.ex., a borracha e o cacau). Contudo, evidencia-se na

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
região um processo de degradação da biodiversidade compreendida
não só como um conjunto de ecossistemas e espécies, mas também
como diversidade genética e cultural.

Os povos indígenas da região são detentores, usuários e pro-


tetores da diversidade genética e de conhecimentos tradicionais
A CRIAÇÃO DE TRACAJÁ PERMITE O de valor ancestral. Alguns estudos indicam que os povos indígenas ❱❱❱ Biodiversidade exótica e de rara
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE UMA ATIVIDADE da Amazônia utilizam aproximadamente 1.600 espécies de plantas beleza que surpreende o mundo.
PRODUTIVA QUE BENEFICIA A POPULAÇÃO. medicinais para curar diversos males, número este possivelmente
maior em razão do alto grau de endemismo das plantas amazônicas.
110
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >111

TABELA 3.1 TABELA 3.2


Tipos de florestas inundáveis na Amazônia Número de espécies por grupos reportados nos países da Amazônia

TIPO DE PLANTAS MAMÍFEROS AVES RÉPTEIS ANFÍBIOS


TIPO DE CICLO TIPO DE ÁGUA TIPO DE FLORESTA INUNDÁVEL PAÍS
INUNDAÇÃO TOTAL / AMAZÔNIA TOTAL / AMAZÔNIA TOTAL / AMAZÔNIA TOTAL / AMAZÔNIA TOTAL / AMAZÔNIA
Branca Várzea estacional
Anuais e regulares dos rios BOLÍVIA 20.000 / n.d. 398 / n.d. 1.400 / n.d. 266 / n.d. 204 / n.d.
Negra e cristalina Igapó estacional
BRASIL 55.000 / 30.000 428 / 311 1.622 / 1.300 684 / 273 814 / 232
Água salgada Manguezal
SAZONAL COLÔMBIA 45.000 / 5.950 456 / 85 1.875 / 868 520 / 147 733 / n.d.
Movimentos da maré
Recirculação de água doce Várzea de maré EQUADOR 15.855 / 6249 368 / 197 1.644 / 773 390 / 165 420 / 167
GUIANA 8.000 198 728 137 105
Eventos torrenciais (chuvas) Florestas de planos de inundação
PERU 35.000 / n.d. 513 / 293 1.800 / 806 375 / 180 332 / 262
Branca Florestas de pântanos permanentes SURINAME 4.500 200 670 131 99
PERMANENTE
Negra e cristalina Igapó permanente VENEZUELA 21.000 / n.d. 305 / n.d. 1.296 / n.d. 246 / n.d. 183 / n.d.
Fonte: Prance (1979).
n.d.: Não disponível para os países cujos territórios se estendem além da Amazônia.

Fontes: Castaño (1993); Rueda-Almonacid, Lynch e Amezquita (2004); Mojica et al. (2002); Ecociência, Ministério do Ambiente (2005); Ibisch e Mérida (2004); Funda-
ção Amigos da Natureza (FAN, s.d). Brasil: Sociedade Brasileira de Herpetologia. Disponível em: <http://www.SBherpetología.org.br> (para o total do Brasil), Ávila-Pires,
Hoogmoed e Vitt (2007). Peru: Sistema de Informações sobre a Diversidade Biológica e Ambiental da Amazônia Peruana (Siamazonia). Disponível em: <http://www.
A região amazônica Infelizmente, grande parte desses conheci- derada uma área relativamente homogênea, siamazonia.org.pe>.
mentos etnobotânicos está se perdendo de- estudos recentes revelam uma heterogenei-
é fundamental vido à aculturação ou ao desaparecimento dade espacial e diferenças florísticas em locais
de alguns povos indígenas (Álvarez, 2005). que anteriormente se acreditava semelhantes
para a manutenção (Tuomisto; Ruokolainen, 1997). tação (agricultura ou coleta de produtos natu- Perigo de Extinção (CITES) em todos os
do equilíbrio PADRÕES DA rais), na produção de artesanato e na medicina países amazônicos.
BIODIVERSIDADE As explicações sobre a grande diversida- tradicional. Existem mais de 2.000 espécies
climático global e de de espécies e padrões biogeográficos da de plantas identificadas como de utilidade na A alta biodiversidade da região também
De um modo geral, os ecossistemas seguem Amazônia baseiam-se em diferentes fatores, alimentação e na medicina, bem como na pro- favoreceu o desenvolvimento de atividades
a conservação e o um padrão latitudinal no planeta: os ecossis- como climáticos e históricos (Simpson; Ha- dução de óleos, graxas, ceras, etc. (Secretaria econômicas como aqüicultura, ecoturismo,
uso da diversidade temas tropicais são mais ricos em espécies ffer, 1978; Josse et al., 2007), e nas dife- Pro Tempore do Tratado de Cooperação Ama- zootecnia, agroindústria, caça ou extração
que os temperados frios de altas latitudes renças geológicas e geomorfológicas para zônica, 1995). A pesca é a principal fonte de florestal (de espécies madeireiras e não ma-
biológica, cultural e (Walter, 1985; Gaston; Williams, 1996). Ob- a heterogeneidade espacial, que originaram proteínas das populações locais da Amazônia, deireiras) (ver seções 3.2 e 3.4).
serva-se um padrão semelhante em níveis ambientes com uma alta diversidade no que mais importante que a caça.
dos conhecimentos taxonômicos mais altos (gêneros, famílias) se refere a sistemas de drenagem e à quali- A característica mais marcante dessa
tradicionais. (Blackburn; Gastón, 1996), atribuído tanto a dade do solo, responsáveis por importantes A caça e pesca da fauna silvestre ama- região é a sua floresta (ver seção 3.2). Na
fatores físicos (por exemplo, clima, geologia, diferenças na composição e estrutura dos zônica tem como principal objetivo servir Amazônia, há cinco grandes categorias
edafologia, barreiras geográficas, etc.) como ecossistemas. Josse et al. (2007) destacam de alimento para as populações locais; sua de vegetação (Kalliola; Puhakka; Danjoy,
à capacidade das espécies de ocupar e se a importância de se aplicar critérios especí- utilização na medicina ou na produção de 1993; Dominguez, 1987; Prance, 1979,
adaptar às condições abióticas e bióticas do ficos de acordo com as diferentes zonas, so- artesanato tradicional é menos freqüente. 1985; Huber, 1981; Sierra, 1999):
meio ambiente. bretudo quando estas apresentam grandes Assim, grandes mamíferos, por exemplo,

MUSUK NOLTE/ EL COMERCIO


diferenças entre si, como ocorre na Amazô- porcos-do-mato, antas, roedores, veados ❱❱❱ Florestas inundáveis: divididas em sete sub-
A Amazônia é considerada uma das áreas nia. Por exemplo, indicam que, no caso da e primatas, bem como tartarugas aquáti- categorias segundo o regime de inundação e o
mais ricas do mundo em termos de diversida- zona montanhosa, os pisos altitudinais e o cas e terrestres, representam a principal tipo de água (Prance, 1979).
de biológica – estima-se que cerca de 10% bioclima são critérios essenciais, ao passo fonte de carne de silvestre (Secretaria Pro
do total das espécies de plantas se encontram que na planície aluvial, topografia, hidrogra- Tempore do Tratado de Cooperação Ama- ❱❱❱ Florestas de terra firme: incluem as flores-
nessa região (Prance et al., 2000). Além disso, fia e dinâmica das cheias são fatores que zônica, 1995). Outra destinação da fau- tas de campina (campinarana) e os comple-
a região é fundamental para a manutenção explicam a distribuição espacial das comu- na amazônica é a captura para servir de xos de florestas altas (piemonte, serra). Os ricos ecossistemas
do equilíbrio climático global, a conservação nidades vegetais. animais de estimação, atividade comercial aquáticos oferecem aos
e uso da diversidade biológica e cultural e a limitada e regida pelas normas da Conven- ❱❱❱ Tepuis e pantepuis habitantes da Amazônia
preservação dos conhecimentos tradicionais. A grande diversidade de espécies da flora ção sobre o Comércio Internacional das muitas espécies de peixes
Embora por muitos anos tenha sido consi- e fauna amazônica é aproveitada na alimen- Espécies da Fauna e Flora Selvagens em ❱❱❱ Savanas montanhosas para sua alimentação.
112
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >113

BIODIVERSIDADE:
grande variedade de
espécies de animais e
plantas/endemismos/
gradiente de diversidade

❱❱❱ Savanas secas e úmidas: encontram-se O Brasil, além de ter a maior extensão ter-
junto a diversos tipos de vegetação aquática ritorial do continente, registra o maior núme-
e de brejo ao longo do sistema fluvial da ba- ro de espécies de plantas, mamíferos, aves,
cia amazônica. répteis e anfíbios dos oito países em questão,
com algo em torno de 58.000 espécies. Em
As plantas apresentam de leste a oeste termos de riqueza biológica, atrás do Brasil
um claro gradiente de diversidade, e a maior vêm a Colômbia, com cerca de 49.000 es-
abundância de espécies encontra-se nos pécies, o Peru, com 38.020, e a Bolívia, com
contrafortes dos Andes (Gentry, 1988). O 22.268, considerando-se os cinco grupos
mesmo pode ser observado com relação às anteriores (tabela 3.2).
espécies de animais (Brown, 1999). Gentry
(1988) atribui esse fenômeno à presença de Na Amazônia brasileira concentram-se
solos mais férteis, à maior precipitação pluvial 54% das espécies de plantas, 73% das de
e ao menor grau de sazonalidade dos climas mamíferos e 80% das de aves existentes
do alto Amazonas. no território nacional. O Peru se destaca
pela concentração de espécies de répteis
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

Além disso, muitas das espécies de plan- (48%) e anfíbios (79%) com relação ao
tas podem ser especialistas edáficas, e sua número total de espécies no território na-
distribuição geográfica estaria correlacionada cional, para os grupos anteriormente refe-
à distribuição de tipos específicos de vegeta- ridos. A Amazônia equatoriana concentra
ção, como ocorre na região amazônica (De 53,3% do total nacional de espécies de
Oliveira; Daly, 1999). No entanto, o que tam- mamíferos; e a colombiana, 46% das aves
bém acontece com freqüência é uma área registradas em seu território nacional.
com um mesmo tipo de vegetação, ou pouca
variedade, possuir espécies com padrões ge- Dinerstein (1995) destaca o arco ociden- pteridófitas (levando em conta apenas as No caso do Equador, o instituto Ecociência
ográficos de distribuição totalmente diferen- tal da Amazônia, em particular as áreas próxi- partes baixas), 311 de mamíferos, 1.300 de e o Ministério do Ambiente (2005) distinguem Mais de 30.000 plantas,
muitas delas espécies
tes, atribuídos geralmente a eventos históri- mas ao piemonte dos Andes, como uma zona OS POVOS aves, mais de 163 de anfíbios e 1.800 de dois grandes ecossistemas na Amazônia: a
arbóreas, estão
cos e à divergência evolutiva das populações de conhecida e extraordinária diversidade de AMAZÔNICOS peixes continentais. floresta úmida amazônica e a floresta inundá-
presentes na Amazônia
(Prance, 1982; De Oliveira; Daly, 1999). espécies e endemismos. Em todo caso, é vel amazônica. No primeiro, são conhecidas
amplamente aceito que a flora e fauna ama-
UTILIZAM Na Amazônia colombiana, o Instituto 8.042 espécies, divididas em plantas (6.249),
brasileira.

DIVERSIDADE DE ESPÉCIES zônica não só não foram documentadas em APROXIMADAMENTE Sinchi, com base em dados do Herbário aves (773), peixes (491), mamíferos (197),

1.600
sua totalidade, como que tampouco há uma Amazônico Colombiano (COAH), relata anfíbios (167) e répteis (165). No segundo,
Seis dos oito países que integram a OTCA contagem total para a região, e que novas um total de 214 famílias botânicas com menos rico em biodiversidade, há um total
pertencem ao grupo de países megadiver- espécies são incorporadas constantemente 5.950 espécies, das quais 226 são plantas de 1.060 espécies, representadas por peixes
sos. Apenas para citar um grupo biológico, aos inventários da fauna e flora amazônicas não-vasculares e 5.274 vasculares (Institu- (425), aves (366), répteis (139), anfíbios (83)
ESPÉCIES DE PLANTAS
Brasil, Colômbia e Peru abrigam um terço (Da Silva; Rylands; Da Fonseca, 2005; Prance to de Hidrologia, Meteorologia e Estudos e mamíferos (47). Por último, cabe ressaltar
de todas as plantas vasculares conhecidas et al., 2000). MEDICINAIS NA Ambientais [Ideam], 2004); e o Sistema que muitas dessas espécies provavelmente
no planeta (Mittermeier et al., 1999; Peru: CURA DE DIVERSAS de Informações sobre a Biodiversidade da ocorrem em ambos os ecossistemas.
Sistema de Informações sobre a Diversidade No caso da Amazônia brasileira, Lewin- DOENÇAS. Colômbia aponta um total de 868 espécies
Biológica e Ambiental da Amazônia Peruana sohn (2005) afirma que há 30.000 espé- de aves, 140 de anfíbios, 85 de mamíferos O Peru detém o recorde mundial de nú-
[Siamazonia], 2007). cies de plantas superiores, 300 de plantas e 147 de répteis. mero de espécies de borboletas (4.200), e
114
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >115

tabela 3.3
Áreas protegidas restritas na bacia amazônica

SUPERFÍCIE PROTEGIDA
CATEGORIA N°
(HECTARES)
Parques nacionais 9 2.865.656
Reservas nacionais 6 3.990.900
Estações biológicas 1 135.000
BOLÍVIA
Refúgios da vida silvestre 3 270.000
Santuários 1 1.500
TOTAL 20 7.263.056

Parques nacionais 21 19.101.420


Reservas biológicas 9 3.638.184
Estações ecológicas 15 6.765.915
BRASIL Estações ecológicas estaduais 8 4.590.225
Parques estaduais 42 6.623..239
Reservas biológicas estaduais 5 1.284.513
TOTAL 100 42.003.496

Parques nacionais naturais 11 4.904.768


Reservas nacionais naturais 2 1.947.500
COLÔMBIA
❱❱❱ Os lepidópteros (borboletas), de múltiplas combinações de cores, Santuários de fauna e flora 1 8
encontram-se entre os insetos mais belos e variados da Amazônia. TOTAL 14 6.852.276
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

Parques nacionais 3 1.098.435


contabiliza 20% das espécies de aves do A diversidade biológica aquática da Ama- Reservas ecológicas 1 403.103
planeta (Peru: Sistema de Informações so- zônia também é muito rica e, do mesmo EQUADOR Reserva de produção faunística 1 655.781

4.200
bre a Diversidade Biológica e Ambiental da modo que a química de suas águas, diversa Reserva biológica 1 4.613
Amazônia Peruana [Siamazonia] disponível e complexa. Diferentes estudos reportam TOTAL 6 2.161.932
em: <ht tp://w w w.siamazonia.org.pe>; haver em torno de 3.000 espécies de algas
Parques nacionais 2 7.870.000
Brack, 2004). Parte dessa riqueza ficou na região (Ehrenberg, 1843; Forsberg et al., GUIANA
ESPÉCIES DE evidenciada no Projeto Binacional Peru- 1993; Putz; Junk, 1997; Sant’anna; Martins,
TOTAL 2 7.870.000
BORBOLETAS Equador intitulado “Paz e Conservação da 1982; Scott; Gronblad; Croasdale, 1965; Parques nacionais 9 7.467243
FORAM Biodiversidade”, apoiado pela Conservation Thomasson, 1971; Uherkovich, 1976, 1984; Reservas nacionais 3 2.412.759
REGISTRADAS NO International (Peru: Instituto Nacional de Uherkovich; Rai, 1979; Uherkovich; Franken, PERU Santuários nacionais 2 131.609
Recursos Naturais [Inrena] – Conservation 1980). Em contraste com essa riqueza, a Santuário histórico 1 32.592
PERU, NÚMERO
International, 1997), que, em apenas três densidade de microalgas é muito baixa, o
CONSIDERADO TOTAL 15 10.044.203
semanas, coletou 800 espécies vegetais que se explica pela reduzida mineralização
RECORDE pertencentes a 94 famílias na Cordilheira das águas amazônicas. Parques nacionais 1 8.400
MUNDIAL. do Condor (departamento de Amazonas), SURINAME Reservas naturais 5 544.170
muitas delas desconhecidas da ciência. As plantas aquáticas (macrófitas) são as de TOTAL 6 552.570
Uma das famílias que se destacou foi a das maior produção primária anual e representam
orquídeas, com 26 espécies. Entretanto, o 65% do total da rede alimentar aquática, se- Parques nacionais 1 1.360.000
projeto também revelou que nessa área de guidas pelas florestas inundadas, com 28%. VENEZUELA Monumentos naturais 4 300.015
grande diversidade de flora há muitas es- Por outro lado, em termos de biomassa, as flo- TOTAL 5 1.660.015
pécies de animais ameaçados de extinção, restas ocupam o primeiro lugar, devido a suas
como o macaco-aranha (Ateles belzebuth), grandes árvores, e são seguidas por perifiton e TOTAL DA BACIA 168 78.407.518
o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus), a fitoplâncton, com 5% e 2%, respectivamente
lontra (Lontra longicaudis), entre outros. (Barthem; Goulding, 2007).
Fonte: Adaptado e atualizado da Iniciativa Amazônica, com base nas fontes originais seguintes: Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) – Comissão Especial do Meio
No lado equatoriano, foram encontradas Ambiente para a Amazônia. Brasil: Ministério do Meio Ambiente (2008). Colômbia: Unidade de Parques Nacionais Naturais (UAESPNN). Peru: Instituto Nacional de
2.030 espécies de plantas, 613 de aves, Na Amazônia, foram identificadas 2.500 Recursos Naturais (Inrena) (2007a).

56 de sapos e rãs, etc. espécies de peixes, número maior que o re-


116
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >117

ramente em território brasileiro; os demais Quadro 3.1


endemismos também ocupam áreas nos ÁREAS MANEJADAS NA AMAZÔNIA
outros países amazônicos.
Este mapa inclui “Áreas de Conservação”
Tais áreas variam consideravelmente em e outras áreas manejadas que contribuem,
tamanho nos oito países estudados, bem ao menos em parte, para a conservação
como no que se refere à perda, degradação da biodiversidade. As “Áreas de Conser-
e fragmentação de hábitat em decorrência vação” são aquelas cuja principal
do desmatamento, da pecuária, de cultivos função é a proteção e a manutenção
ilícitos e, principalmente, da extração de da biodiversidade, bem como dos

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
madeira (Gascon et al., 2001; Sierra, 1999; recursos naturais e culturais associa-
Armenteras et al., 2006). Esses processos dos. Além disso, essas áreas são
não estão distribuídos de forma uniforme manejadas de acordo com instrumen-
entre essas oito grandes áreas. As de Ron- tos jurídicos e estão em conformida-
dônia e Xingu, por exemplo, perderam en- de com as categorias I – VI da UICN.
tre 10% e 50% de sua cobertura florestal
original. A de Belém representa um caso Estão representadas no mapa as seguin-
extremo, onde resta menos de um terço tes áreas, por país:
gistrado no oceano Atlântico. Sabe-se tam- da floresta original. Napo, Inambari, Guiana
Tartarugas aquáticas e bém que a maior parte da biomassa pesquei- e Tapajós, por outro lado, perderam menos ❱❱❱ Bolívia: Áreas de Conservação: Parque
terrestres ocorrem em ra, em particular a dos peixes detritófagos de 10% de suas florestas (Da Silva; Rylan- Nacional, Reservas da Vida Silvestre e Área
abundância nos rios e nas
(que se alimentam de matéria orgânica de- ds; Da Fonseca, 2005). Natural de Manejo Integrado (inclui as Áreas
lagoas da Amazônia, mas
seu hábitat está cada vez
composta), está relacionada à produtividade Protegidas de Cotapata, Aguaragüe e Iñao,
mais ameaçado. primária de lagoas e áreas inundáveis (Arau- Alguns estudos binacionais fornecem que ainda não contam com Planos de
jo-Lima et al., 1986; Forsberg et al., 1993). exemplos das especificidades dos ende- Manejo e cuja gestão se baseia em Planos
mismos na Amazônia. Por exemplo, o pro- Operacionais Anuais); outras áreas: Terras
Entre os peixes, destaca-se o pirarucu jeto binacional Equador-Peru, mencionado Indígenas (inclui áreas reivindicadas). Amazônia maior Áreas de conservação
(Arapaima gigas), que mede mais de 2,5 anteriormente, concluiu que a Cordilheira Amazônia menor Outras áreas manejadas

214
m e chega a pesar 200 quilos. Nos brejos e do Condor apresenta um alto nível de en- ❱❱❱ Brasil: Áreas de Conservação: Parques Divisa nacional
nas lagoas de águas tranqüilas vivem diver- demismo devido à sua proximidade com Nacionais, Reservas Biológicas, Estações
sos tipos de cobras, como a sucuri (Eunectes a região conhecida como “depressão de Ecológicas, Parques Estaduais, Estações
murinus), e de jacarés (Alligatoridae). A tarta- Huancabamba” ou passagem de Porculla, Ecológicas Estaduais e Reservas Biológicas
FAMÍLIAS Fonte: Produção original do GEO
ruga aquática conhecida como tartaruga-da- que é o limite de distribuição de muitas Estaduais. Outras áreas: Terras Indígenas. ❱❱❱ Peru: Áreas de Conservação: Parques Amazônia, com a colaboração técnica
BOTÂNICAS amazônia (Podocnemis expanda), a maior espécies da flora das regiões norte e cen- Nacionais, Reservas Nacionais, Santuários do UNEP/GRID – Sioux Falls e com
COM 5.950 de água doce do mundo, que chega a pesar tral dos Andes (Peru: Inrena – Conservation ❱❱❱ Colômbia: Áreas de Conservação: Nacionais, Santuários Históricos.
dados de Conservation International
(para a Bolívia); IBGE e MMA (para
ESPÉCIES FORAM até 45 kg, e o tracajá (Podocnernis unifilis), International, 1997); e o estudo binacional Parques Nacionais Naturais, Reservas o Brasil); Unidade Administrativa
Especial do Sistema de Parques
RELATADAS assim como rãs e anfíbios (Álvarez, 2005) da NatureServe (2007) sobre os sistemas Nacionais Naturais, Áreas Naturais Únicas ❱❱❱ Suriname: Áreas de Conservação: Nacionais Naturais e CIAT (para a
também vivem nas lagoas. ecológicos da bacia amazônica do Peru e (Monumentos Naturais), Santuários de Flora, Parques Nacionais, Reservas Naturais. Outras Colômbia); OTCA (para o Equador);
NA AMAZÔNIA Agência de Proteção Ambiental (para
da Bolívia identificou 84 desses sistemas Santuários de Fauna, Vias Parques. Outras áreas: Reserva Florestal, Áreas de uso
COLOMBIANA. ÁREAS DE ENDEMISMO ao longo de 1.249.281 km 2 . Sabe-se que áreas: Resguardos indígenas (constituídos múltiplo.
a Guiana); IIAP (para o Peru); Serviço
Florestal do Suriname, Ministério do
quinze deles são comuns aos dois países, pelo INCORA e, mais recentemente, pelo Trabalho e OTCA (para o Suriname e a
Venezuela).
As áreas de endemismo (i.e., áreas bem dos quais sete ocorrem apenas na Bolívia e INCODER. Estabelecidos pelo Decreto n.o ❱❱❱ Venezuela: Áreas de Conservação:
definidas com concentração de espécies dez no Peru (Josse, 2007). 1320, de 1998). Parques Nacionais, Monumentos Naturais

2.500
de distribuição restrita, compondo uma
biota única e, por esse motivo, insubstituí- ÁREAS DE CONSERVAÇÃO ❱❱❱ Equador: Áreas de Conservação: Parques
veis) são particularmente importantes para Nacionais, Reservas Ecológicas, Reservas de
a Amazônia, pois contribuem com elemen- Todos os países amazônicos têm um sistema Produção Faunística, Reservas Biológicas.
ESPÉCIES DE tos para a reestruturação dos processos nacional de áreas protegidas, além de alguma
PEIXES FORAM de formação da biota da região (Da Silva; outra categoria de conservação e uso sustentá- ❱❱❱ Guiana: Áreas de Conservação: Parques
IDENTIFICADAS Rylands; Da Fonseca, 2005). Estes auto- vel dos recursos naturais. As áreas de conserva- Nacionais (por exemplo, o Parque Nacional
NA AMAZÔNIA, res (2005) identificam oito grandes áreas ção vêm aumentando em número e extensão, de Kaieteur e a Floresta Tropical de Iwokra-
NÚMERO SUPERIOR de endemismo de mamíferos terrestres na sobretudo desde a década de 90 do século ma, cada um dos quais com sua própria
Amazônia, quais sejam: Napo, Imeri, Guia- XX. As áreas protegidas cobrem uma superfície legislação – de origem parlamentar) e a
AO REGISTRADO NO na, Inambari, Rondônia, Tapajós, Xingu e de mais de 700 mil quilômetros quadrados, o Reserva de Moraballi (protegida no marco da
OCEANO ATLÂNTICO. Belém. Dessas oito, quatro se situam intei- equivalente a 12% da bacia amazônica e a 4% Lei Florestal). Outras áreas: Terras Indígenas.
118
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >119

MAPA 3.1 PERDA DE BIODIVERSIDADE


Mapa das principais áreas de fronteira com ocorrência de tráfico ilegal
A biodiversidade amazônica está sob uma
pressão cada vez maior, que tem como
resultado a redução da diversidade. Essa
pressão é exercida, diretamente, pela des-
truição dos ecossistemas amazônicos e,
indiretamente, através do uso e aproveita-
mento não-sustentáveis da biodiversidade,
bem como da introdução de espécies exó-
ticas. Além disso, o aquecimento global e
a maior ocorrência de incêndios florestais
alteram as condições necessárias ao fun- Flores amazônicas:
cionamento adequado dos ecossistemas. expressão da
biodiversidade de
As políticas públicas promoveram pro- grande beleza natural.
cessos de colonização e o desenvolvimen-
to de atividades produtivas sem levar em
consideração a ocupação ordenada do ter-
ritório. Nesse sentido, os diferentes países
desenvolveram programas de expansão da
fronteira agrícola, para a qual o desmata-
mento (corte ou queima) é uma atividade

SEBASTIÁN CASTAÑEDA / EL COMERCIO


SEBASTIÁN CASTAÑEDA/ EL COMERCIO
prévia necessária. Somam-se a esse cená-
rio atividades como a exploração mineral e
petrolífera e a execução de obras de infra-
Fonte: Rivera (2007). (O documento da referência ainda possui caráter de Documento de Trabalho não-referendado pelos países.) estrutura.

A superexploração dos recursos naturais


da soma dos territórios dos oitos países mem- tada afetam a eficiência e eficácia de sua renováveis da Amazônia, sobretudo madei-
bros da OTCA. Os países com maior superfície gestão (OTCA, 2007). ra e diversos outros componentes da biodi-

84
protegida são Brasil e Peru, com respectiva- versidade, é resultado dos incentivos ofere-
mente 54% e 13% da superfície protegida da Além dos sistemas nacionais de áreas cidos aos diferentes atores sociais. A falta
Amazônia (tabela 3.3). protegidas, os países podem adotar medi- de definição sobre os direitos de proprie-
das alternativas para a conservação da bio- dade, bem como de um sistema eficaz que
SISTEMAS
As categorias de manejo das áreas pro- diversidade. O Peru, por exemplo, elaborou garanta a sua aplicação, estimula um com-
tegidas variam. Algumas fontes indicam um Sistema Regional de Áreas Protegidas
ECOLÓGICOS portamento predatório que visa à obtenção
que há pelo menos vinte e três categorias para a Região de Loreto (Procrel) em 2007, FORAM de benefícios no curto prazo sem levar em
diferentes na região amazônica, que além que recebe apoio do governo regional de IDENTIFICADOS consideração os custos ambientais, sociais
de proteção da biodiversidade, pesquisa, Loreto e foi desenvolvido no marco do pro- EM 1.249.281 KM² e econômicos intergeracionais envolvidos.
educação e ecoturismo, incluem o mane- cesso de descentralização como um pro- DA BACIA De igual modo, o escasso conhecimento
jo de recursos florestais, como se dá nas grama inovador para a Amazônia peruana. a respeito dos diversos serviços ecossis-
unidades de conser vação no Brasil. No Além dele, outras formas de conservação
AMAZÔNICA DO têmicos e de seu valor não contribui para
caso da Guiana, em 2001 foi formulada a cargo da iniciativa privada vêm ganhando PERU E DA a adoção de práticas de manejo sustentá-
uma estratégia para a criação de um sis- impulso, quais sejam: servidão ambiental, BOLÍVIA. vel. No caso da exploração madeireira, por
tema de áreas protegidas. Apesar de ain- áreas de conservação particular, conces- exemplo, de início se emprega o corte se-
da não haver um sistema estabelecido, sões para a conservação, concessões para letivo, mas, no médio prazo, predominam
já existem duas áreas protegidas, criadas o ecoturismo, etc. de um modo geral o corte indiscriminado
por lei: o Parque Nacional de Kaieteur e a e a conversão do solo para outros fins. Em

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
Reserva de Floresta Tropical de Iwokrama A despeito dos esforços nacionais, a bai- países como Peru e Bolívia, o desenvolvi-
(Agência de Proteção Ambiental [EPA] , xa disponibilidade de recursos econômicos mento da agricultura migratória é respon-
2007). Embora as áreas de conservação e a limitada coordenação regional condi- sável pelo desmatamento acelerado da flo-
sejam um instrumento valioso, alguns cionam a efetiva conservação por meio de resta e, por conseguinte, por alterações nas
estudos indicam que a insuficiência de sistemas de áreas protegidas ou unidades condições do hábitat da biodiversidade (ver
recursos e a coordenação regional limi- de conservação (OTCA, 2007). seção 3.4). O uso não sustentável também
120
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >121

o aproveitamento não sustentável desses A destruição das


bens e serviços acarretou a redução de
grandes extensões naturais, gerando des- florestas tropicais
matamento e a fragmentação de hábitats. A
destruição de florestas tropicais tornou-se
chamou a atenção
foco das atenções no mundo pelo fato de do mundo, porque
esses ecossistemas serem fundamentais
para a estabilidade de processos globais, esses ecossistemas
como o ciclo do carbono, a regulação hi-
drológica, a conservação e manutenção da
são elementos
biodiversidade, entre outros, assim como fundamentais
por sua possível influência sobre o clima
global (Fearnside, 1995; Fearnside, Lima à estabilidade
De Alencastro; Alves Rodríguez, 2001).
de processos
De um modo geral, os processos de ocu- globais, como o
pação do território amazônico se dão em
três etapas. A primeira envolve atividades ciclo do carbono,
típicas de extração de madeira, lenha e fi- a regulação
bras, que levam à diminuição do número
de árvores adultas (Nepstad et al., 1999). A hidrológica, a
segunda gira em torno das queimadas, que
tendem, por um lado, a reduzir o banco de conservação e
sementes do solo e, por outro, a elevar as manutenção da
taxas de mortalidade de sementes e plântu-
las em razão da concorrência com espécies biodiversidade, e
pioneiras e trepadeiras (Cochrane; Schulze,
1999; Gascon; Williams; Da Fonseca, 2000, por seus possíveis
Perez-Salicrup, 2001). A terceira etapa está efeitos no clima
ligada à caça e à perda de hábitats, proces-
sos que eliminam os agentes dispersores de global.

SEBASTIÁN CASTAÑEDA / EL COMERCIO


sementes (Laurance, 2001; Silva; Tabarelli,
2000, 2001) e, por conseguinte, ocasionam
a perda, muitas vezes irrecuperável, de es-
pécies nos ecossistemas amazônicos.

A fragmentação dos ecossistemas na-


turais (por “fragmentação” entende-se a
divisão de áreas contínuas em subunida-
está relacionado à extração de espécimes fauna silvestre (principalmente a avifauna) os Estados Unidos, maior comprador de des parcial ou totalmente desconexas) é
da biodiversidade ou de parte destes, que (mapa 3.1). Apesar dos esforços da Con- animais silvestres do mundo. Segundo es- resultado do desenvolvimento de infra-
A NATUREZA
geralmente está ligada ao comércio ilegal. venção Internacional sobre o Comércio In- timativas do Herbário do Brasil, 38 milhões estrutura, da ocupação humana ou de prá-
A introdução de espécies está associada ternacional das Espécies da Fauna e Flora
AMAZÔNICA É de animais silvestres são contrabandeados ticas agrícolas de menor ou maior escala
principalmente aos sistemas agrícolas e Selvagens em Perigo de Extinção (CITES) TÃO ABUNDANTE, pelas fronteiras brasileiras todos os anos. (monocultura) (ver seção 2.2). Esse pro-
pecuários. Como era de esperar, tudo isso para freá-lo, esse tipo de comércio é pro- DIVERSA E cesso afeta em grande medida a qualidade
acarreta a modificação e/ou perda dos há- piciado, em alguns casos, pelo desenvol- SURPREENDENTE QUE REDUÇÃO DO HÁBITAT, do hábitat e acarreta uma perda importante
bitats amazônicos. vimento de projetos de infra-estrutura e AS PROPRIEDADES FRAGMENTAÇÃO E na riqueza de espécies (Laurance, 1998;
pelos assentamentos humanos em suas DE MIMETISMO TRANSFORMAÇÃO DE Laurance et al., 2000). Esses impactos es-
O tráfico ilegal de espécies é a terceira áreas de influência (Rivera, 2007). Dos DE ALGUMAS ECOSSISTEMAS tão relacionados aos efeitos de borda, que
maior atividade ilícita do mundo. A diversi- vinte e um países onde é permitida a ven- produzem mudanças físicas e bióticas nos
ESPÉCIES, COMO fragmentos remanescentes, traduzindo-se
dade biológica amazônica não está alheia da dessas espécies, cinco fazem parte da Não há dúvida de que os ecossistemas na-
à dinâmica desse mercado: na região trafi- bacia amazônica (Brasil, Peru, Venezuela, ESTA ORQUÍDEA, turais fornecem bens e serviços essenciais em uma abundância de espécies pioneiras
cam-se ilegalmente espécies madeireiras, Bolívia e Colômbia) e têm como mercado NÃO PASSAM para o homem (Millennium Ecosystem e em alterações nos bancos de germoplas-
não madeireiras (p.ex., orquídeas) e da um grupo de onze países, entre os quais DESPERCEBIDAS. Assessment [MEA], 2006). No entanto, ma que afetam consideravelmente a demo-
122
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >123

grafia e as características da comunidade, um aumento de 15% em relação ao ano


além de pôr em risco a regeneração natural anterior, decorrente do crescimento acele-

15%
e o funcionamento da floresta (Laurance rado dos preços internacionais dos alimen-
et al., 1997; Gascon et al., 2000; Benítez; tos, que estimulou a expansão da produção
Martínez, 2003). agropecuária (Brasil: Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais [INPE], 2008).
FOI O AUMENTO O desenvolvimento de obras de infra-es-
DA TAXA DE trutura (promovido pelo governo ou ilegal) Embora concentre mais da metade das
DESMATAMENTO EM desencadeia uma série de eventos que, além áreas de floresta tropical do mundo, o ritmo
2007 COM RELAÇÃO de afetar a biodiversidade e os ecossistemas, do desmatamento na Amazônia segue muito
AO ANO ANTERIOR. geram mais destruição que as florestas plan- acelerado, produzindo alterações nos padrões
tadas (Fearnside, 2005; Soares-Filho et al., de perda de ecossistemas (Malhi; Baldocchi;
2004). As trilhas que facilitam a extração de Jarvis, 1999; Laurance, 1998; Whitmore, 1997;
madeira geralmente antecedem as estradas Brasil: INPE, 2008; Lima; Gascon, 1999).
e ampliam a fronteira para a exploração agrí- Como conseqüência desse processo, têm-se a
cola e pecuária (ver capítulo 2, seção 2.2). perda de hábitats de diversas espécies e uma
A extração de madeira provocou a degrada- maior fragmentação e isolamento dos ecos-
ção dos ecossistemas e, além disso, tornou sistemas remanescentes, que podem afetar

27.151
algumas áreas mais suscetíveis a incêndios seus processos ecológicos, sua estrutura, sua
em decorrência: (i) do aumento da inflama- dinâmica e seu funcionamento, tanto em nível
bilidade da floresta e (ii) da diminuição do de ecossistemas como de espécies e genes
número de dias de estiagem, fazendo com (Carvalho; Vasconcelos, 1999; Gascon et al.,
Km² FORAM que o sub-bosque (grupo de arbustos en- 1999; Davies; Margules, 1998; Laurance; Fer-
DESMATADOS contrado abaixo ou perto de uma floresta) reira; Ranking-de Merona, 1998; Laurance et
ANUALMENTE NA alcance condições de inflamabilidade (Fearn- al., 2000; Nepstad et al., 1999).

ERNESTO ARIAS/ EL COMERCIO


AMAZÔNIA NO side, 2005; Nepstad et al., 2004).
PERÍODO 2000- Variações na cobertura florestal causam
A conversão e a perda de hábitats na mudanças climáticas em escala local e regio-
2005.
Amazônia têm ocorrido de forma intensa, nal, bem como alteram os ciclos hidrológicos
e as taxas de desmatamento vêm aumen- e até mesmo aceleram os processos de de-
tando. Esse cenário está ligado à elevação sertificação. No período 2000-2005, a área ❱❱❱ A abertura de estradas prejudica a integridade da floresta, inclusive da fauna que esta abriga.
dos preços dos produtos agropecuários no desmatada na Amazônia foi de 27.151 km2
mercado internacional, tendência por sua por ano (ver a seção 3.2 deste capítulo).
vez associada às políticas públicas desen- Eventos extremos (p.ex., inundações, e Equador são os países que apresentam Os serviços
volvidas para frear o desmatamento (Soa- Laurance et al. (2002) apontam a seve- tempestades e terremotos), que em geral a maior quantidade relatada, seguidos de
res-Filho et al., 2006) (ver seção 3.4). Os ridade da estação da seca, além da infra- vêm aumentando em freqüência e intensida- perto pelo Peru. No entanto, é importante ecossistêmicos e
índices de desmatamento na Amazônia bra- estrutura de transporte e da densidade de no mundo todo, notadamente na região, esclarecer que os critérios utilizados pelos
sileira aumentaram no período 1988-2004 demográfica, como fator responsável pelo também alteram as características do hábitat países para determinar o grau de ameaça
a biodiversidade
(Fearnside, 2005), principalmente devido desmatamento e pela perda de hábitats na e, conseqüentemente, afetam a biodiversida- varia muito, bem como entre os diferentes apresentam sinais
à expansão da pecuária, mais da metade Amazônia brasileira. Algumas evidências de. Isso significa que o aumento da vulnerabi- grupos de organismos vivos. Cabe ressal-
atribuída às fazendas de médio e grande mostram que o desmatamento tropical da lidade da biodiversidade não é conseqüência tar ainda que algumas espécies em risco de deterioração: o
porte (Laurance et al., 2002). Por outro Amazônia brasileira e boliviana se concen- apenas da ação antrópica, mas também da não constam da lista vermelha.
lado, as taxas de desmatamento caíram sig- tra nos ecossistemas mais secos, pelo fato ocorrência de eventos extremos.
número de espécies
nificativamente no período 2005-2006. Em de serem mais vulneráveis ao fogo (Lau- Após uma análise das categorias de ameaça extintas, ameaçadas
2006, esse processo registrou uma queda rance et al., 2002; Steininger et al., 2001). ESPÉCIES AMEAÇADAS E “em perigo crítico”, “em perigo” e “vulnerável”,
de 25%, que pode ser explicada pela efi- Por outro lado, os efeitos do aumento das PERDA DE ESPÉCIES por grupo biológico (quadro 3.5), o Equador foi e em perigo crítico
cácia dos programas e projetos públicos de emissões de CO 2 na fixação de nitrogênio apontado como o país com o maior número de
combate ao desmatamento que envolvem ou os relacionados à poluição atmosférica e O maior número de espécies extintas foi espécies relatadas, seguido do Brasil. Esse últi-
aumentou.
a participação das populações locais (Brasil: às mudanças climáticas, por exemplo, ainda relatado no Brasil, um dos países com mo constitui o território onde aparentemente
Ministério de Relações Exteriores, Ministério não são inteiramente compreendidos, mas maior riqueza biológica entre os oito ana- prevalecem os níveis mais elevados de amea-
da Ciência e Tecnologia, Ministério do Meio dados preliminares sugerem que maiores lisados (tabela 3.4), conforme destacado ça a mamíferos, aves, répteis, peixes e inverte-
Ambiente, Ministério de Minas e Energia e emissões podem causar alterações signi- anteriormente. Quanto às demais catego- brados diferentes de moluscos, em categorias
Ministério do Desenvolvimento, Indústria ficativas na composição de espécies e na rias de ameaça, segundo as listas verme- médias e altas de ameaça. A Colômbia, por sua
e Comércio Exterior, 2007). Em 2007, no estrutura da floresta amazônica (Clark et al., lhas da União Internacional para a Con- vez, ocupa o primeiro lugar entre as oito nações
entanto, a taxa de desmatamento registrou 2003; Lewis et al., 2004). servação da Natureza (UICN), Colômbia em termos de quantidade de anfíbios amea-
124
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >125

TABELA 3.4 çados. Por último, para moluscos e plantas, o


Número de espécies extintas, ameaçadas de extinção e outras em cada categoria da lista vermelha, por país (2006) Equador apresenta os níveis mais elevados de
espécies consideradas vulneráveis, em perigo e
EXTINTAS EM SOB RISCO / em perigo crítico.
EM QUASE DADOS NÃO INSPIRA
PAÍS EXTINTAS NA PERIGO VULNERÁVEIS DEPENDE DE
PERIGO AMEAÇADAS INSUFICIENTES PREOCUPAÇÃO
NATUREZA CRÍTICO CONSERVAÇÃO
Até o momento, não há informações
suficientes para a elaboração de uma lista
BOLÍVIA 1 0 14 32 108 5 65 47 1.611
de espécies ameaçadas da Amazônia, com
a exceção da Guiana e do Suriname, que
BRASIL* 10 2 125 163 342 ** ** ** **
consideram seu território parte da Amazô-
nia. O Brasil, por meio do Ministério do Meio
COLÔMBIA 6 0 106 210 298 7 133 204 2.049
Ambiente (Fundação Biodiversitas), informa
que há 60 espécies ameaçadas nessa parte
EQUADOR 6 0 311 778 1.091 6 347 367 1.859
do país, entre mamíferos (19), aves (16),
GUIANA 0 0 6 10 55 4 21 53 922 outros invertebrados (5) e plantas (20).

PERU 2 0 45 90 389 11 105 197 1.912 Os serviços ecossistêmicos amazôni-


cos e, particularmente, sua biodiversidade
SURINAME 0 0 7 9 49 1 17 39 823 apresentam um processo de sensível de-
terioração: o número de espécies extin-
VENEZUELA 1 0 30 52 151 6 52 135 1.497 tas, ameaçadas e em perigo crítico é cada
vez maior. Evidencia-se também o pouco
Fonte: Para todos os países, exceto o Brasil: International Union for Conservation of Nature (IUCN, 2006). conhecimento a respeito desses ecossis-
O Brasil não adota oficialmente a classificação da UICN. As ONGs comprometidas com a conservação da biodiversidade utilizam a classificação da UICN, motivo pelo que temas complexos e do seu valor, situação
os totais aqui apresentados não coincidem com os totais do quadro mostrado a seguir.
que não contribui para melhorar a forma
Fonte: Relatório técnico – Revisão da lista de espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção. Conservation Internacional. Dezembro/2002. ** Sem informações. como são tratados nem para sua conser-
vação. Por último, para completar esse ce-
nário, os conhecimentos tradicionais dos
TABELA 3.5 povos indígenas, que são os mais afetados
Número de espécies ameaçadas, por grupo de organismos, por país por essa mudança acelerada no hábitat e
pela redução de biodiversidade, são pouco
OUTROS valorizados.
PAÍS MAMÍFEROS AVES RÉPTEIS ANFÍBIOS PEIXES MOLUSCOS PLANTAS TOTAL
INVERTEBRADOS
Os serviços ecossistêmicos amazôni-
BOLÍVIA 24 32 3 23 0 0 1 71 154 cos e, particularmente, sua biodiversida-
de apresentam um processo de sensível
BRASIL 69 160 20 16 154 40 163 108** 622 deterioração: o número de espécies ex-
tintas, ameaçadas e em perigo crítico é
COLÔMBIA 38 88 16 217 28 0 2 225 614 cada vez maior. Evidencia-se também o
pouco conhecimento a respeito desses
EQUADOR 34 76 11 165 14 48 0 1.832 2.180 ecossistemas complexos e do seu valor,
situação que não contribui para melhorar
GUIANA 11 3 6 9 18 0 1 23 71 a forma como são tratados nem para sua
conservação. Por último, para completar
PERU 46 98 8 86 8 0 2 276 524 esse cenário, os conhecimentos tradicio-
nais dos povos indígenas, que são os mais
SURINAME 11 0 6 2 19 0 0 27 65 afetados por essa mudança acelerada no

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
hábitat e pela redução de biodiversidade,
VENEZUELA 26 25 13 71 26 0 3 69 233 são pouco valorizados.

Fontes: IN MMA N.° 3 de 27/05/2003; IN MMA N.° 5 de 21/05/2004 e IN N.° 52 de 08/11/05; IN MMA N.° 5 de 21/05/2004, IN N.° 52 de 08/11/05 e IN N.° 3 Muito embora estejam sendo desenvol-
de 27/05/2003 – inclui invertebrados aquáticos e terrestres; Portaria N.° 37-N de 3 de abril de 1992; contudo, o MMA está atualizando a lista da flora em extinção com
uma previsão atual de que o número de espécies de flora ameaçada de extinção alcançará a marca de 1.500. vidos programas e projetos com o objetivo
Brasil: A lista de espécies da fauna ameaçadas de extinção pode ser encontrada nas Instruções Normativas (IN) do Ministério do Meio Ambiente. A IN N.° 5, de de estimular a conservação da biodiversi-
21/05/04, possui dois anexos: o primeiro, com a lista das espécies de peixes e invertebrados aquáticos, e o segundo com uma lista de peixes e invertebrados aquáticos
sobreexplotados ou ameaçados de sobreexplotação. Algumas das espécies apresentadas no relatório da Conservation Internacional foram removidas da lista de espécies ❱❱❱ Dentre os habitantes da Amazônia, destaca-se o grande número de espécies de dade, seu alcance, diante da magnitude da
ameaçadas e incorporadas na lista de espécies sobreexplotadas ou ameaçadas de sobreexplotação. anuros, de diferentes formas e tamanhos e de cores chamativas. degradação, ainda é limitado.
126
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >127

Quadro 3.2
BOLÍVIA: USO E APROVEITAMENTO DE RECURSOS
FLORESTAIS NÃO MADEIREIROS: A CASTANHA
(BERTHOLLETIA EXCELSA H.B.K.)

A Bertholletia excelsa HBK (família Lecythidaceae) é


uma das espécies predominantes no alto das florestas
de terra firme da Amazônia, especialmente no Brasil,
no Peru e na Bolívia, com uma área de distribuição de
aproximadamente 325 milhões de hectares. Às vezes,
chega a ter mais de 50m de altura, e seus frutos, de
tamanho considerável, armazenam entre 15 e 25 se-

SERGIO AMARAL / OTCA


mentes envolvidas por uma casca lenhosa e dura. Essas
sementes são conhecidas como castanhas e, apesar de
não serem um dos frutos secos mais comercializados
do mundo (1% ou 2% do volume total comercializado
❱❱❱ A Amazônia abriga uma grande variedade de espécies internacionalmente), são consideradas uma das alter-
de macacos. nativas mais viáveis para o uso sustentável da floresta
amazônica, em virtude das características auto-ecológicas
da espécie e do fato de o grosso da colheita ser realizado
em floresta naturais com níveis mínimos de alteração.

No norte da Bolívia, essa espécie concentra-se nas regiões


de Pando, Bêni e La Paz, onde também ocorre o benefi-
ciamento e a comercialização da castanha. Embora alguns
questionem a importância desse produto para a melhoria
da qualidade de vida das populações rurais amazônicas,
atualmente cerca de 170.000 pessoas tiram o seu susten-

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
to de alguma atividade relacionada à produção da casta-
nha. Além disso, ela representa uma parcela significativa
das estatísticas de exportação da Bolívia como produto
não tradicional, particularmente desde que a produção
de borracha natural sofreu uma redução significativa.
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
❱❱❱ O galo-da-serra andino. Muitos consideram a castanha uma das espécies-bandeira
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

da conservação da floresta amazônica, apesar de cálculos


mostrarem que a área que seria efetivamente preservada
com a extração dessas sementes corresponderia a cerca
de 6% da área total de distribuição potencial da espécie.

MILHÕES DE ANIMAIS Somando-se a isso o crescente interesse por iniciativas


SILVESTRES SÃO como a certificação orgânica, o agronegócio e o comércio
CONTRABANDEADOS TODOS justo, aparentemente estão dadas todas as condições
OS ANOS NA AMAZÔNIA. para que a castanha seja transformada em um produto
modelo de uso sustentável da floresta amazônica.
FALHAS NA DEFINIÇÃO
DOS DIREITOS DE
PROPRIEDADE ESTIMULAM Fonte: Stoian (2004).
UM COMPORTAMENTO
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

PREDATÓRIO COM RELAÇÃO


À BIODIVERSIDADE,
NO INTUITO DE OBTER
BENEFÍCIOS NO CURTO
PRAZO.
128
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >129

A ONÇA, JAGUAR
OU OTORONGO
(PANTHERA ONCA)
É O MAIOR FELINO
DA AMAZÔNIA E O
TERCEIRO MAIOR
DO MUNDO.

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
130
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >131

AUTORES:
CARLOS SOUZA - Instituto do Homem e Meio Ambiente da
O BURITI, AGUAJE OU MORICHE (MAURITIA
Amazônia (Imazon) – Brasil FLEXUOSA) É UMA PALMEIRA TÍPICA DAS
ELSA GALARZA - Centro de Pesquisa da Universidad del FLORESTAS INUNDÁVEIS DA AMAZÔNIA.
Pacífico (CIUP) – Peru

CO-AUTORES:
LUIS ALBERTO OLIVEROS - Organização do Tratado de Coo-
peração Amazônica (OTCA)
KATIA PEREIRA - Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia (Imazon) – Brasil

3.2|FLORESTAS
A floresta amazônica, considerada uma das mais importantes do pla-
neta, é formada por vários ecossistemas naturais (Foley et al., 2007).
Sua importância reside na vasta área de floresta tropical remanescen-
te, que oferece vários serviços e produtos ambientais valiosos (fárma-
cos, enzimas, banco genético, etc.). Dentre os serviços ambientais,
destacam-se o fato de a floresta possuir alta diversidade biológica
(Fearnside, 1999; Dirzo; Raven, 2003), sua capacidade de captura e
armazenamento de carbono (Defries; Asner; Houghton, 2004), além
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

do balanço energético e da regulação hidrológica em escala continen-


tal e global (Foley et al., 2007).

A floresta amazônica está sujeita a fortes pressões de fenômenos


naturais (secas e incêndios) e de origem antrópica (principalmente
atividades produtivas). Diferentes atividades econômicas, tais como
a agricultura migratória, a pecuária extensiva, a agroindústria, a explo-
ração madeireira não-regulada e a urbanização acelerada, causam a
degradação e/ou a perda de cobertura florestal, afetando os ecossis-
temas muitas vezes de forma irreversível.
Quadro 3.3
A FLORESTA AMAZÔNICA COBERTURAS DA AMAZÔNIA COLOMBIANA

Dentre as inúmeras propostas de classificação das florestas amazôni- Em 2001, as coberturas naturais ou que apre- ha (1,12%); e, com menos de 1%: arbustos
A importância da floresta
cas (Moran, 1993; Whitmore, 2001; Stone et al., 1994; Saatchi; Stei- sentavam processos mínimos de transformação (44.050 ha); vegetação secundária (328.755
nenger; Tucker, 2008), a mais recente (Saatchi et al., 2008) permite amazônica reside na extensa área totalizavam cerca de 95%. As coberturas estão ha); culturas anuais ou transitórias (12.698
identificar dezesseis classes de cobertura vegetal. Em conjunto, es- distribuídas da seguinte forma: florestas naturais, ha); áreas agrícolas heterogêneas (72.475
sas classes constituem quatro categorias: florestas densas, florestas de floresta tropical remanescente 43.311.755 ha (90,75%); pastagens cultivadas, ha); e zonas urbanas (5.178 ha).
abertas, florestas inundáveis e vegetação não-florestal. Ayres (1993) e nos valiosos serviços e produtos 2.186.524 ha (4,58%); vegetação herbácea natu-
sustenta que na floresta tropical amazônica podem ser encontrados ral, 833.232 ha (1,75%); corpos d'água, 535.614 Fonte: Sinchi (2007).
tipos vegetacionais complexos, como floresta de terras altas, floresta ambientais que ela proporciona.
132
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >133

Quadro 3.4
DIVERSIDADE DA VEGETAÇÃO DA AMAZÔNIA PERUANA
A classificação da diversidade de plantas da Amazônia peruana, elaborada em 2004 pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia Peru-
ana por intermédio do Projeto Biodamaz (Convênio Peru-Finlândia), baseia-se na composição de um mosaico de imagens Landsat
TM e na identificação de 24 unidades vegetais.

I. VEGETAÇÃO NATURAL
1. PLANÍCIE AMAZÔNICA
a. Vegetação de planície aluvial. Exposta à inundação sazonal do fluxo das cheias dos rios; em planícies baixas de origem recente
e sub-recente.

- Floresta sucessional arbustivo-arbórea (vegetação do complexo de orillares – igarapés)


- Pântanos herbáceos com predominância de gramíneas
- Pântanos herbáceo-arbustivos, associados a palmeiras espinhosas
- Buritizais densos ou comunidades puras de Mauritia flexuosa
- Buritizais mistos ou associações mistas com “renacos” (Ficus sp. e Coussapoa sp.)
- Buritizais mistos ou comunidades dispersas de Mauritia flexuosa
- Pântanos arbustivo-arbóreos e buritizais do setor “Abanico de Pastaza”
- Vegetação tipo savana com predominância de gramíneas e palmeiras dispersas (pampas do Heath)
- Florestas de várzea cobertas pelas águas negras do Rio Nanay
- Bambuzais densos ou comunidades puras de Guadua (ver grupo B)
- Bambuzais mistos ou comunidades de Guadua e outras árvores (ver grupo B)
- Campinas de areias brancas (Varillales) (laterais dos rios Nanay, Pintoyacu e Chambira) (ver grupo B)

SERGIO AMARAL / OTCA


b. Vegetação de terrenos de altura ou “de terra firme”. Não inundável pelas cheias dos rios, com exceção da vegetação em terrenos
de drenagem pobre devido ao acúmulo de água da chuva; em planícies onduladas, planícies altas e colinas.

- Bambuzais densos ou comunidades puras de Guadua (ver grupo A)


❱❱❱ Aspecto da floresta arbustivo-arbórea, produto das inundações estacionais.
- Bambuzais mistos ou comunidades de Guadua e outras árvores (ver grupo A)
- Buritizais de altura ou palmeirais de Mauritia flexuosa em terraços altos de planície com drenagem pobre (ver grupo C)
- Campinas de areias brancas (Varillales) (setor Allpahuayo – Mishana) (ver grupo A)
A floresta densa densa, cerrado inundável e floresta inundável. (Cochrane; Laurance, 2002). A floresta den- - Florestas de planícies altas coluviais úmidas ou florestas de terrenos em delta do piemonte andino
Fora dos limites da floresta amazônica, a ba- sa, predominante na Amazônia, estende-se - Florestas de planícies coluviais altas em terrenos do tipo glacis do piemonte andino
predomina na cia amazônica está coberta por uma extensa por uma área de 3,936 milhões de km2. O - Florestas de colinas da planície amazônica
savana nas cabeceiras de bacia dos escudos Brasil abriga a maior extensão de florestas - Florestas de colinas dissecadas com padrão de drenagem dendrítico, do setor Pucacuro – Nanay – Chambira (Hoja Seca del Nanay)
Amazônia e está brasileiro e guianense. A floresta de neblina densas do mundo, com 2.538 milhões de
2. MONTANHAS
distribuída em é um tipo especial de vegetação que ocorre km2, seguido do Peru, com 446,6 mil km2, e
c. Florestas de montanhas baixas
entre 1.500 e 3 mil metros de altitude, na da Colômbia, com 324,6 mil km2. Os demais
uma área de 3,936 vertente oriental dos Andes, exposta a cons- países, em conjunto, respondem por 1%-3% - Buritizais de altura ou de Mauritia flexuosa em terraços altos intermontanhas, com drenagem pobre (ver grupo B)
tantes ventos carregados de umidade. Acima do total de florestas amazônicas densas.
milhões de km². de 3 mil metros de altitude, a vegetação pode
- Florestas de colinas altas de planície ou florestas de montanhas baixas dissecadas da Serra do Divisor
- Florestas secas tropicais
A maior parte das mudar bruscamente (Goulding; Barthem; Fer- Nas florestas abertas, que apresentam - Florestas úmidas de montanhas andinas (ver grupo D)
reira, 2003a). um dossel menos fechado do que o das flo-
florestas densas restas densas, predominam palmeiras, cipós d. Florestas de montanhas altas
A área de cobertura florestal estima- e bambus. Esse tipo de floresta prevalece no
encontra-se no da para a Amazônia varia de acordo com a leste da Amazônia, no Brasil; no Sudoeste, na
- Florestas úmidas de montanhas andinas (ver grupo C)

Brasil, seguido do fonte, oscilando em torno de 6 milhões de fronteira entre o Brasil, a Bolívia e o Peru; e II. VEGETAÇÃO ANTRÓPICA
km2 (Saatchi et al., 2008). A floresta densa no noroeste, na Colômbia. Há também áre-
Peru e da Colômbia. é composta de florestas tropicais ombrófilas as menores de florestas abertas na porção e. Complexos de vegetação sucessional com mais de três séculos
úmidas, de terra firme e de florestas em tran- norte, no Escudo Guianense. Estima-se que - Restolhais
sição. A predominância de árvores de grande esse tipo de floresta ocupe aproximadamen- f. Complexos de vegetação sucessional com mais de três séculos
porte e valor comercial para a produção de te 610.000 km2.
madeira (Lentini et al., 2005) torna essas flo- - Áreas desmatadas (centros habitados e complexo de chácaras e vegetação secundária (purmas) em “terra firme")
restas suscetíveis à pressão da atividade ma- Por sua diversidade e produtividade - Áreas desmatadas com cultivo de palmeiras (por exemplo, Palma de El Espino)
deireira (Uhl; Vieira, 1989; Asner et al., 2005) aquática, as planícies aluviais ou várze- - Áreas desmatadas em floresta tropical seca.l
e, em algumas regiões, também a incêndios as representam um importante ambien- Fonte: Projeto Diversidade Biológica da Amazônia Peruana (Biodamaz) (2004).
134
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >135

682.124
Km² É A ÁREA DESMATADA
ACUMULADA REGISTRADA
NO BRASIL ENTRE 2000 E 2005,
REPRESENTANDO 79,5% DO
DESMATAMENTO TOTAL DO
PERÍODO.

A vegetação não-florestal é encontrada


te ecológico (Goulding, 1980; Goulding, em diferentes tipos de savanas com árvores
1988; Forsberg et al., 1993; Araújo-Lima et de pequeno porte e fuste freqüentemente
al., 1986; Junk 1983, 1997). Essas áreas se retorcido, espaçadas no terreno. Nessa classe
estendem ao longo dos rios e permanecem incluem-se, ainda, áreas desmatadas ou flo-
quase que inteiramente submersas durante restas secundárias. Segundo estimativas, esse
a estação das chuvas. No entanto, a com- tipo de vegetação abrange 1,131 milhões de
plexidade do sistema de inundações, que km2 da Amazônia (Saatchi et al., 2008).
pode ser influenciado por chuvas locais,
pelo transbordamento de rios e pela maré DESMATAMENTO
(Goulding; Barthem; Ferreira, 2003a), difi- NA AMAZÔNIA
culta a identificação exata das áreas sujeitas ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

a alagamento. As várzeas dos rios de águas Diversas pesquisas foram realizadas em to-
brancas estão relativamente bem conserva- dos os países que compõem a Amazônia,
das na região a montante da confluência do com o objetivo de determinar o ritmo do
Purus com o Amazonas, no Brasil, onde o desmatamento na região. No entanto, seus
impacto da pecuária ou da agricultura ainda resultados divergem em razão da ausência
é muito baixo. Por outro lado, as várzeas do de sistemas de monitoramento precisos e do
rio Amazonas encontram-se alteradas no emprego de diferentes metodologias, ou, ain-
baixo Purus, notadamente em Santarém, da, devido ao difícil acesso a esses dados ou O processo de to está associado às pressões das ativida- biodiversidade, particularmente naquelas
no estado do Pará. Na área onde o baixo por estes não estarem atualizados. Não obs- des agrícolas e pecuárias (Hecht, 2005) e áreas onde há redução de ecossistemas O desmatamento
Amazonas recebe os rios Tapajós e Xingu tante, é possível afirmar que a floresta tropi- desmatamento nas da extração de madeira (tanto legal como naturais remanescentes e alto grau de en- nas encostas
há um tipo especial de várzea, influenciada cal úmida amazônica foi seriamente afetada ilegal) (Asner et al., 2005); ao uso de seus demismo (Capobianco, 2001 citado por favorece a erosão,
por inundações e o transbordamento de nos últimos anos, sofrendo uma redução de
florestas tropicais recursos naturais em geral (mineração, re- Fearnside, 2005). O desmatamento pro- sendo responsável
pela perda de solo
rios (Barthem, 2001). No Brasil, as várze- sua cobertura vegetal. acarreta uma cursos florestais não-madeireiros) (Peres; voca, ainda, erosão, compactação do solo
e pelo arrasto de
as de marés podem ser vistas ao longo da Barlow; Laurance, 2006); a políticas go- e perda de nutrientes (Fearnside, 2005),
sedimentos para os
área compreendida entre a confluência do A tabela 3.6 revela que no período 2000- perda global de vernamentais, por exemplo, a construção conforme mencionado na seção 3.1. rios amazônicos.
Xingu com o Amazonas e os manguezais. 2005 o desmatamento acumulado na Ama- de rodovias (Neptstad et al., 2001; Soares-
Essa vegetação é intensamente explorada zônia atingiu 857.666 km2 (85,8 milhões
biodiversidade, Filho et al., 2004) e outras obras de infra- O Brasil apresenta a maior área desma-
por empresas madeireiras e agricultores de de hectares), provocando uma redução da especialmente em estrutura; e ao crescimento demográfico tada acumulada: 682.124 km2. Isso signifi-
pequena escala (Anderson, 1999; Barros; cobertura vegetal da região de aproximada- (Fearnside, 1993; Kaimowitz, 1997), den- ca que, do total desmatado entre 2000 e
Uhl, 1995). Segundo Saatchi et al. (2008), mente 17% – o equivalente a cerca de 67% áreas com alto grau tre outros fatores. Eventos naturais como 2005, 79,5% correspondem a esse país,
esse tipo de floresta ocupa uma extensão e 94% da superfície dos território peruano e secas extensas, que aumentam o número e seguido do Peru, com 8,2%, e da Bolívia e
de 527.000 km2; o Brasil abriga 64% do to- venezuelano respectivamente.
de endemismo. a intensidade dos incêndios, também atin- Colômbia, com 5,3 e 3,4%, nessa ordem.
tal de planícies aluviais, seguido da Bolívia, gem as florestas. Os demais países participam com percen-
com 11%, e do Peru e da Colômbia, com As causas do desmatamento são muitas tuais inferiores a 2% do total. Ressalte-se
7% cada. e afetam cada país com diferente intensida- O processo de desmatamento nas flo- que os valores apresentados devem ser en-
de. Na floresta amazônica, o desmatamen- restas tropicais acarreta a perda global de tendidos como preliminares, uma vez que
136
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >137

QUADRO 3.5 os dados não são homogêneos para todos TABELA 3.6
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA os países durante o período da análise. Desmatamento da Amazônia nas décadas de 1980, 1990 e no período 2000-2005

As estimativas da área anual desmatada DESMATAMENTO ANUAL


entre as décadas de 80 e 90 revelam um ÁREA DESMATADA ACUMULADA (km²)
(km²/ANO)
decréscimo de 13% – de 23.619 km2 para
20.550 km2 –, fundamentalmente em razão PAÍS
da redução das áreas desmatadas no Brasil % DA ÁREA TOTAL
para 16.503 km2/ano e no Peru para 783 1980-1989 1990-1999 2000-2005 DESMATADA 1980-1989 1990-1999 2000-2005
km2/ano. No entanto, durante esse mesmo AO 2005
período, as taxas de desmatamento anual da
Bolívia e do Equador cresceram 8,7% e 78%
BOLÍVIA1 15.500 24.700 45.7352 5,3% 1.386² 1.506² 2.247²
respectivamente (tabela 3.6).
PADRO MAYOR / GABEL SOTIL / RED AMBIENTAL

Laurance et al. (2002) assinalam os índi- BRASIL3 377.500 551.782 682.124 79,5% 19.410 16.503 22.513
ces absolutos de desmatamento e fragmen-
tação da floresta Amazônia brasileira como
os mais altos do mundo. Essa percepção foi COLÔMBIA4 19.973 27.942 29.3025 3,4%, n.d. 664 942
confirmada em 2004, ano em que o desma-
tamento anual registrou a segunda taxa mais EQUADOR5 n.d. 3.784 8.540 1,0% 2125 378 3884
elevada de sua história, com 27.379 km2,
segundo dados do INPE/Prodes. A mais ele-
vada da história do Brasil ocorreu em 1995, GUIANA5 n.d. n.d. 7.390 0,9% n.d. n.d. 2105
quando 29.059 km2 de florestas foram des-
matados (Lentini et al., 2005). Nos estados PERU5 56.424 64.252 69.713 8,2% 2.611 783 1235
brasileiros mais afetados pelo desmatamento
É sabido que o desmatamento se concentra nas áreas de transição – Mato Grosso e Rondônia –, há uma forte
entre florestas e o cerrado (savana tropical), ao longo de estradas e expansão da atividade agrícola e pecuária, SURINAME5 n.d. n.d. 2.086 0,2% n.d. n.d. 2425
na fronteira do Acre com Rondônia (Houghton; Hackler; Lawrence, fundamentalmente para o plantio de soja e
2000; Cardille; Foley, 2003; Soares-Filho et al., 2004). Mas ainda há a criação extensiva de gado. A Amazônia bra-
VENEZUELA5 n.d. 7.158 12.776 1,5% n.d. 716 5535
lacunas na compreensão sobre o desmatamento na Amazônia. Até sileira, por exemplo, registrou um aumento
pouco tempo atrás, a finalidade da caracterização do desmatamento anual de áreas cultivadas de cinco milhões
feita por satélites era estimar as mudanças ocorridas em áreas de de hectares, em 1990, para oito milhões de TOTAL 451.924 666.076 857.666 100% 23.619 20.550 27.218
“florestas” e “não-florestas” no transcorrer do tempo. Hoje, a paisa- hectares, em 2002, segundo o Instituto Bra-
gem amazônica é muito mais dinâmica e complexa, com ciclos de sileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Fontes:
derrubada, cultivo, pastoreio e crescimento de florestas secundárias, Instituto do Homem e do Meio Ambiente da 1 Steininger et al. (2001).
2 Killeen et al. (2007).
que resultam em um mosaico complexo de interação entre floresta Amazônia (Imazon) revela que o ataque às 3 Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia [Prodes] (2007).
tropical, terras sob diferentes regimes de manejo e florestas secundá- florestas está associado à apropriação ilegal 4 Sinchi (2007).
rias em recuperação (Fearnside, 1993; Nepstad et al., 1999; Cardille; de terras públicas e à construção de estradas 5 Soares-Filho et al. (2006).

Foley, 2003). É particularmente importante identificar as regiões onde clandestinas abertas no meio da Amazônia,
há regeneração de floresta secundária, por representarem importan- tanto por garimpeiros em busca de ouro e
tes áreas para a captura de carbono (Houghton; Hackler; Lawrence, diamantes como por madeireiros. bém aumentou na Bolívia e no Equador, mas a se repetir de forma permanente. A segun- A investida contra
2000) e reservatórios temporários de diversidade genética, bem caiu acentuadamente no Peru e na Venezue- da envolve o emprego de técnicas aprimo-
como por fornecerem um determinado grau de recuperação e/ou No período 2000-2005, o desmatamen- la (tabela 3.6). radas para o cultivo da coca; no entanto, as florestas está
conservação do solo. to na Amazônia aumentou para 27.218 km2/ essas terras também são abandonadas de-
ano, principalmente em razão do desmata- Na Amazônia peruana, a agricultura mi- vido à pressão do Estado, que luta contra a
associada à
mento no Brasil, que atingiu a surpreendente gratória e o cultivo de folha de coca são as expansão do cultivo para fins ilícitos. apropriação ilegal
Fonte: Foley et al. (2007). média de 22.513 km2 anuais, representando duas principais causas do desmatamento.
um aumento de 16% e 36,4% em relação A primeira compreende o corte e a queima A derrubada de árvores para cultivos de terras públicas
às décadas de 80 e 90 respectivamente. Não de pequena escala realizada pela popula- ilícitos, a expansão da fronteira agrícola, os
obstante, cabe destacar a desaceleração sig- ção, com o objetivo de desenvolver uma novos assentamentos e a pecuária bovina
e à abertura
nificativa registrada entre 2005 e 2007, ano agricultura rudimentar, geralmente em so- extensiva são as principais causas do des- de estradas
em que o desmatamento anual caiu para los de qualidade agrícola limitada, motivo matamento da Amazônia colombiana. As
1.224 km2, ou seja, 59% a menos do que no pelo qual são aproveitados somente por taxas de desmatamento variam de 0,97% clandestinas.
pico de 2004. O desmatamento anual tam- um curto espaço de tempo, levando o ciclo a 3,73% em áreas altamente povoadas, e
138
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >139

tabela 3.7
em 0,23% nas áreas de baixa densidade
Principais causas do desmatamento e da degradação florestal
demográfica (Armenteras et al., 2006).

PAÍS PRINCIPAIS CAUSAS DO DESMATAMENTO E DA DEGRADAÇÃO FLORESTAL Na Bolívia, o avanço da fronteira agro-
pecuária na última década foi a causa do
aumento da taxa de desmatamento ilegal
em terras aptas ao uso florestal (licenças
Agricultura de subsistência por migração de sem-terra (Killeen et al., 2007) para a mudança de uso do solo são con-
Sojicultura, pecuária (Steininger et al., 2001) cedidas com base em critérios técnicos es-
BOLÍVIA tabelecidos pela autoridade competente).
Pastagens para a atividade pecuária (Pacheco, 1998)
Atividade madeireira No entanto, as causas subjacentes são a
insegurança na posse da terra, a vantagem
econômica comparativa das atividades agro-
pecuárias em face das atividades florestais,
a insuficiência de mecanismos de controle
Pastagens para a atividade pecuária (Arima; Barreto; Brito, 2005) e fiscalização do desmatamento, lacunas
Agricultura mecanizada (Nepstad; Moutinho; Soares-Filho, 2006) na legislação, dentre outras. O número de
Infra-estrutura: estradas e hidrelétricas (Fearnside; Laurance, 2002) incêndios florestais também aumentou,
BRASIL
Assentamentos de reforma agrária (Brandão; Souza, 2006) em muitos casos em decorrência do des-
Atividade madeireira (Lentini et al., 2005) matamento. O departamento de Santa Cruz
Apropriação de terras públicas concentra 75% do desmatamento; Pando
e Bêni contribuem com 20% (Bolívia: Uni-
dade de Controle do Desmatamento e de
Incendios Florestais [Ucdif] 2007).

Colonização espontânea (Armenteras et al., 2006)


O desmatamento no Equador teve ori-
COLÔMBIA Pastagens para pecuária (Idem, 2006)
gem na abertura de estradas para a cons-
Cultivos ilícitos (Idem, 2006)
trução de oleodutos, as quais franquearam
o caminho à colonização de terras amazô-
nicas. Durante décadas, as políticas de co-
lonização estatal, fortemente influenciadas
Política de colonização e fronteiras vivas, agricultura de subsistência (Wunder, 2003) pela necessidade de firmar presença nas
ECUADOR
Infra-estrutura associada à produção de petróleo áreas de fronteira, incentivaram a mudança
do uso do solo da floresta para a agricultura
rudimentar e a pecuária, gerando um flu-
xo migratório e, com este, pressões muito
Agricultura (Guiana: Agência de Proteção Ambiental, 2007).
fortes sobre a região amazônica (Wunder,
GUIANA Extração de bauxita (idem, 2007).
2003). A indústria da madeira, responsável
Garimpo (idem, 2007).
por aproximadamente um terço do des-
matamento, é a que mais constrói vias e
promove o avanço dos colonizadores pela
Estradas (Maki; Kalliola; Vuorinen, 2001)
floresta adentro. Os traficantes de terras e a
PERU Reforma agrária (Álvarez, 2003)
construção de estradas estimulam a coloni-
Atividade madeireira
zação e a fragmentação dos ecossistemas.
 
Embora a Guiana não registre níveis ele-
vados de desmatamento, o incremento das

ANTONIO ESCALANTE/ EL COMERCIO


SURINAME Garimpo (Peterson; Heemskerk, 2001)
exportações de madeira e o interesse cres-
cente pelos biocombustíveis alimentam a
preocupação de que o desmatamento venha
a aumentar no país. Da mesma forma, o Su-
Agricultura e atividade pecuária riname apresenta um nível reduzido de des-
VENEZUELA
Garimpo de ouro matamento, decorrente, quase que exclusiva-
mente, da extração de madeira. No entanto, a ❱❱❱ Os cultivos ilícitos são um vetor importante do desmatamento em alguns países
concessão de importantes áreas de floresta, andino-amazônicos.
140
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >141

Empresas que variam de 25 a 40% do território (entre floresta também vêm empobrecendo em to-
sete e 12 milhões de hectares), a empresas dos os anos como resultado da degradação
madeireiras asiáticas asiáticas para a extração de madeira, modi- ligada à exploração de madeira (Nepstad et
ficaram recentemente esse cenário (World al., 1999), aos incêndios (Cochrane; Schulze,
entraram na Guiana, Rainforest Movement [WRM], 2000). 1999) e à fragmentação de florestas (Lau-
obtendo concessões rance et al., 2000), dentre outras causas. As
A Venezuela abriga parte da maior ex- hidrelétricas também geram impactos dire-
florestais tensão de florestas tropicais virgens ou com tos como o alagamento de extensas áreas
alterações não-significativas. As taxas mais de floresta; e indiretos, como a migração
importantes, de 25 altas de desmatamento nesse país foram re- populacional (Junk; Mello, 1999; Fearnsi-
a 40% do território. gistradas na década de 80, como resultado de; Laurance, 2002). A degradação florestal
de investimentos do governo e de bancos gera alterações parciais – temporárias ou
multilaterais de investimento na exploração permanentes – na composição e estrutura
de minério de ferro e bauxita, bem como das florestas (Lambim; Turner; Geist, 2000).
em usinas de aço e alumínio, represas e Outros elementos que podem levar à degra-
uma infinidade de indústrias leves, todas in- dação das florestas são a caça, a extração
terligadas por uma rede de estradas e linhas de recursos não-madeireiros e a invasão de
de alta tensão que atravessam as cidades espécies exóticas (Peres; Barlow; Laurance,
criadas recentemente para fornecer mão- 2006), mas, como esses distúrbios não são
de-obra às indústrias. Outra causa do des- detectados pelos instrumentos de sensoria-
matamento na Venezuela é a expansão da mento remoto, não há informações sobre sua
Na Venezuela, fronteira agrícola que, entre 1980 e 1990, localização e extensão.
pulou de 24 para 32 milhões de hectares
a conversão da (WRM, 2000). A conversão da floresta em A exploração florestal seletiva, também
floresta em terras terras agrícolas não contribuiu muito para considerada uma atividade que degrada as
solucionar o déficit de alimentos no país, florestas, consiste na extração de várias ár-
agrícolas facilitou mas acarretou a transformação de um gran- vores de espécies comerciais valiosas por
de número de terras públicas originalmente hectare sem o emprego de técnicas de
a transferência de florestais em propriedade privada, inclusive aproveitamento florestal de baixo impacto.
grandes extensões no interior de reservas florestais. Por não ser regulada, tem se mostrado ex-
tremamente devastadora. Em média, cada
de terras públicas, A mineração industrial também gera im- árvore removida pode danificar seriamente
pactos diretos e indiretos nas florestas. O até trinta árvores, mais pela operação em
originalmente desmatamento e a contaminação da flores- si do que por qualquer outro motivo: quan-
cobertas de matas, ta por resíduos químicos e resultantes da do uma árvore é derrubada, arrasta consigo
própria atividade são exemplos de impac- várias árvores vizinhas devido à presença
à propriedade tos diretos (Uhl; Bezerra; Martini, 1993). de cipós, causando sérios prejuízos para o
Os impactos indiretos ocorrem quando a meio ambiente. Essa prática pode, inclusi-
privada, inclusive
mineração atrai grandes fluxos migratórios, ve, provocar o ressecamento do solo e do
dentro de reservas que contribuem para aumentar o desma- sub-bosque, aumentando sua propensão
tamento nas áreas adjacentes aos projetos a incêndios (Asner et al., 2006). A maqui-
florestais. de mineração. Embora os impactos da mi- naria pesada empregada no corte seletivo
MIGUEL BELLIDO / EL COMERCIO

neração industrial ocorram principalmente de árvores não-regulado pode afetar gra-


no Brasil, o garimpo, em especial de ouro, vemente o solo. As vias de penetração na cerca de US$44,5 milhões, o equivalente A atividade madeireira é uma das principais
também atrai milhares de pessoas no Suri- floresta construídas por esses madeireiros a 221.000 m3 de madeira (Banco Mundial, causas da degradação florestal, por reduzir Boa parte da madeira
name, na Guiana e no próprio Brasil, países ilegais freqüentemente são utilizadas por co- 2006). No Equador, um caso emblemático o estoque das florestas e das espécies de comercializada na
que têm os rios contaminados com o mer- lonos para penetrar ainda mais na floresta e é o do Parque Nacional Yasuni, uma área valor comercial (Cochrane; Schulze, 1999; Amazônia é de origem
cúrio e o cianeto de sódio, empregados na convertê-la para a agricultura migratória. que abriga povos em isolamento voluntário Gerwing; Farias, 2000; Fredericksen; Frede- ilegal, extraída de terras de
extração mineral (Muezzinoglu, 2003). e que, embora seja uma área protegida, vem ricksen, 2002), criando um ambiente propí- comunidades nativas ou de
concessões florestais.
No Peru, a extração ilegal de madeira, es- sendo alvo da extração de cedro. cio a incêndios (Holdsworth; Uhl, 1997) e
DEGRADAÇÃO DA FLORESTA pecialmente o mogno, é feita por pequenos aumentando o risco de extinção de espé-
madeireiros, que invadem terras sob conces- Diferentemente do desmatamento que cies nativas (Martini; Rosa; Uhl, 1994).
O desmatamento e seus impactos associa- são florestal ou comunidades nativas e em- elimina por completo as florestas, a extra-
dos não são as únicas ameaças à integridade pregam a extração seletiva. O Inrena calcula ção não-sustentável de madeira afeta de Embora mais visível do que o corte
das florestas amazônicas. Extensas áreas de que, em 2006, o corte ilegal movimentou modo parcial sua estrutura e composição. seletivo, a expansão da infra-estrutura,
142
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >143

TABELA 3.8
Número de focos de incêndio na Amazônia

# HOT PIXELS
PAÍSES 2003 2004 2005 2006
N° % N° % N° % N° %

BOLÍVIA 1.764 9 4.291 14 4.532 16 2.855 16

BRASIL 17.941 88 26.742 85 23.723 83 14.316 83

OUTROS PAÍSES 611 3 275 1 260 1 144 1

TOTAL 20.316 31.308 28.515 17.315


Nota: Um foco indica a existência de fogo no elemento de resolução (pixel), que varia de 1 km x 1 km a 5 km x 4 km. Em um pixel pode haver um ou vários incêndios.
Fonte: <http://www.dpi.inpe.br/proarco/bdqueimadas/>.

principalmente a construção de estradas, INCÊNDIOS FLORESTAIS


também é uma das causas da fragmenta- NA AMAZÔNIA
EM MÉDIA, FORAM ção da floresta amazônica, atingindo par-
REGISTRADOS ticularmente o Brasil (Fearnside; Laurance, Os incêndios florestais representam uma

24.000
2002; Nepstad et al., 2001), o Peru (Maki; grande ameaça à integridade das florestas

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
Kalliola; Vuorinen, 2001) e o Equador – tropicais (Rudel, 2005). O fogo tem sido
neste país, associada à atividade petrolí- utilizado como ferramenta para a limpeza
fera. No Peru, por exemplo, entre 1981 e de pastagens e áreas agrícolas da floresta
FOCOS DE 1996 o desmatamento aumentou rapida- amazônica (Kato; Kato; Denich; Vlek, 1999)
INCÊNDIOS mente ao longo da Rodovia Interoceânica e para a queima da floresta após o corte de
FLORESTAIS POR (Naughton-Treves, 2004). No Brasil, 80% árvores (Fearnside, 2005). Os incêndios não-
do desmatamento estão concentrados controlados de pastagens e áreas agrícolas
ANO NO PERÍODO
em um raio de 50 km das estradas ofi- geralmente se alastram pelas bordas das
2003-2006, EM TODA ciais (Asner et al., 2006). Essa situação é florestas adjacentes (Nepstad et al., 1999; de calor, incêndios ativos) ajudam a entender pode ser observada também ao longo das O desmatamento e o
A REGIÃO. agravada por agricultores sem terra com Cochrane; Schulze, 1999) e, após a retirada as dimensões reais do problema. estradas que atravessam a porção central da corte seletivo tornam
a abertura de vias ilegais para a retirada da madeira presente nessas áreas, a maior floresta no Brasil, acompanhando a exten- a floresta amazônica
de recursos naturais (madeira e ouro) e incidência de radiação solar e o acúmulo de No período 2003-2006, a média anual são das estradas Transamazônica (BR-230), muito mais propensa a
a ocupação de terras públicas (Brandão; resíduos decorrentes da exploração facilitam de focos de incêndio foi de 24 mil. O maior Santarém-Cuiabá (BR-163) e BR-317, que liga incêndios.
Souza, 2006). O mapeamento com ima- a penetração do fogo na floresta, gerando número de incêndios foi registrado em 2004, a Amazônia ocidental brasileira ao Pacífico.
gens de satélite permitiu identificar, em um impacto ainda maior (Holdsworth; Uhl, com 31.308 focos, e o menor em 2006, com Essas áreas apresentam fronteiras recentes
2003, cerca de 173.000 km de estradas 1997). Uma vez queimada, a área se torna 17.315. O Brasil liderou o ranking de países de desmatamento.
ilegais na floresta amazônica. Da mesma mais vulnerável a novos incêndios, aumen- amazônicos com o maior número de incên-
forma, o desenvolvimento de centros ur- tando substancialmente os danos resultantes dios entre 2003 e 2006, com uma média de Durante a última metade do século XX,
banos aumenta a pressão sobre as flores- (Cochrane; Schulze,1999). 85% do total, seguido da Bolívia, com uma uma das principais transformações ecológicas
tas remanescentes localizadas em um raio média anual e 14% no mesmo período. Os na região amazônica foi a redução do intervalo
de 20 km destes (Barreto et al., 2006), Os mapas mostram a localização e a demais países participaram com uma média entre incêndios florestais. Os intervalos de sé-
agravando a fragmentação das florestas extensão das florestas degradadas por in- de 1% do número total de incêndios. culos que antes separavam um evento de ou-
e a degradação resultantes da explora- cêndios. Os estudos locais baseados em tro deram lugar a períodos de cinco a quinze
ção madeireira e de incêndios florestais, sensoriamento remoto e o levantamento de Grande parte dos focos de calor está con- anos em algumas florestas (Cochrane; Schul-
assim como empobrecendo a fauna e a informações de campo indicam que a área centrada no limite sul da floresta amazônica, ze, 1999; Alencar; Nepstad; Vera Díaz, 2006),
flora com a caça e a extração de recursos afetada pelos incêndios é muito maior do ao longo do chamado “arco do desmata- tornando-as mais suscetíveis a queimadas
madeireiros não-florestais (Peres; Barlow; que aquela explorada pela atividade madei- mento”, no Brasil, e na zona central da Bolívia subseqüentes. O ponto ecológico crítico da
Laurance, 2006). reira. Dados de queimadas localizadas (focos (gráfico 3.1). Uma concentração de incêndios floresta amazônica é atingido quando esta se
144
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >145

Gráfico 3.1
Distribuição dos focos de incêndios na floresta Amazônica (2003-2006)

2003 2004

2005 2006

ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO


❱❱❱ O preparo do campo para o cultivo passa inicialmente pela derrubada e queima da floresta.

torna tão inflamável que a queimada periódica altamente inflamáveis podem se estabelecer
freqüente é praticamente inevitável. no sub-bosque, elevando consideravelmente

400
sua suscetibilidade ao fogo. A queima dessas
Segundo Nepstad (2007), o corte seleti- florestas danificadas leva à morte de mais ár-
vo não-regulado, a estiagem e o fogo estão vores e à invasão por pastos, samambaias e
reduzindo a cobertura florestal em grandes bambus, fechando-se um círculo vicioso.
MILHÕES DE porções da Amazônia, permitindo que uma
Fuente: Base de datos del sensor MODIS.

TONELADAS quantidade cada vez maior de luz penetre Por último, como mencionado na seção
Focos de incêndios Bioma Amazônico Países Rios

DE CARBONO na fina camada de combustível do substra- 2.5, o aquecimento global é outro tipo de
SÃO LANÇADOS to florestal. As árvores que morrem ou que pressão ambiental que pode levar à “savaniza-
POR ANO NA são extraídas por madeireiros (Nepstad et ção” de extensas áreas da floresta amazônica A essa preocupação ambiental soma-se
al., 2005), assim como as que perecem em (Nobre; Lahsen; Ometto, 2007). O desmata- o fato de que cerca de 400 milhões de to-
Na última metade do século XX,
ATMOSFERA COMO
RESULTADO DA
decorrência da seca ou de incêndios, abrem mento, seguido da queima de florestas, contri- neladas de carbono são lançadas anualmen- uma das principais transformações
o dossel da floresta para a entrada dos po- bui para as emissões de carbono. Somente na te na atmosfera, em decorrência do corte e
DERRUBADA DAS derosos raios do sol equatorial, que secam Amazônia brasileira as emissões podem atingir das tradicionais queimadas na floresta ama- ecológicas na Amazônia foi a redução
MATAS E DAS a fina camada de combustível sobre o solo. 0,2 gigatonelada de carbono por ano (Nobre; zônica. A esse volume, Asner et al., (2005) do intervalo entre os incêndios
TRADICIONAIS Além disso, a maior intensidade de luz solar Nobre, 2002). Projeções baseadas em mo- acrescentam outros 100 milhões de tone-
QUEIMADAS NA no interior da floresta permite o estabeleci- delos climáticos para a América do Sul, para ladas resultantes do corte seletivo, ou seja, florestais.
mento de mais plantas que demandam luz 2100, indicam, no cenário mais pessimista, um volume cerca de 25% maior de gases de
AMAZÔNIA. para se desenvolver, aumentando a inflama- que a temperatura média da Amazônia pode efeito estufa em relação à previsão original,
bilidade da floresta. Embora ainda raros na subir até 8 ºC e causar fortes chuvas (Marengo o que poderia alterar os prognósticos para a
Amazônia, pastagens, samambaias e bambus et al., 2007). mudança climática em escala global.
146
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >147
ANTONIO ESCALANTE / EL COMERCIO

AUTORES:
JUAN CARLOS ALONSO GONZÁLEZ
KATTY ALEXANDRA CAMACHO GARCÍA
MARCELA NÚÑEZ AVELLANEDA
EDWIN AGUDELO CÓRDOVA
Pesquisadores do Grupo Ecossistemas Aquáticos Amazônicos,
Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
A PAISAGEM AMAZÔNICA TEM
NOS GRANDES RIOS UM DE SEUS CO-AUTORES:
COMPONENTES ESSENCIAIS. ELSA GALARZA - Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Lima
LUIS ALBERTO OLIVEROS - Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
KAKUKO NAGATANI - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)

3.3|RECURSOSHÍDRICOS
EECOSSISTEMASAQUÁTICOS
Como foi exposto no capítulo 1, a bacia amazônica é a mais extensa
do planeta e ocupa mais de um terço da superfície do subcontinente
sul-americano. As bacias tributárias mais importantes do rio Amazonas
têm sua origem na Cordilheira dos Andes, e outros tributários se ori-
ginam nas mesetas guianenses, brasileiras e áreas contíguas da bacia
do Orinoco (Colômbia).

A Amazônia possui uma ampla disponibilidade de recursos hídri-


cos, que supera em muito a demanda regional. No entanto, o desma-
tamento representa cada vez mais uma ameaça para a disponibilidade
de água, visto que interfere no ciclo hidrológico. Da mesma forma, as
atividades econômicas desenvolvidas na região (agricultura, minera-
ção, entre outras), assim como a acelerada urbanização, constituem
forças motrizes com impactos negativos na qualidade da água.

Os recursos hídricos da Amazônia têm características variadas e,


por esse motivo, contam com uma grande riqueza de ictiofauna. Em-
bora os recursos pesqueiros em geral não sejam sobreexplorados, há
indícios de redução do volume de algumas espécies em determinadas
zonas, causada tanto pela alteração da qualidade da água como pela
pressão exercida pela pesca para satisfazer as necessidades alimenta-
res da população.

OS RECURSOS HÍDRICOS Seis dos doze principais


NA BACIA AMAZÔNICA
afluentes do Amazonas
A referida disponibilidade hídrica da bacia amazônica resulta da combi-
nação de vários elementos. As nascentes de seis dos dozes principais estão em suas cabeceiras
afluentes que desembocam diretamente no Amazonas têm nas cabe- ligados de alguma forma à
ceiras algum tipo de relação com a cordilheira dos Andes, pois captam
águas de seus picos nevados (por exemplo, do Mismi, no Peru) e das cordilheira dos Andes.
148
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >149

GRÁFICO 3.2
Contribuição das principais sub-bacias hidrográficas
amazônicas para a descarga total da bacia

SERGIO AMARAL / OTCA


Fonte: Goulding; Barthem; Ferreira (2003a).
❱❱❱ O “encontro das águas” é o nome dado à confluência dos rios Negro e
Amazonas, cada um levando águas de diferente qualidade, origem e coloração.

As mudanças chuvas, que, em algumas regiões de altitude hídrico entre os ecossistemas terrestres e
dos Andes, podem chegar a 8.000 mm de aquáticos. Portanto, as mudanças climáticas rio Orinoco e as do rio Negro, recebendo a depende, em grande medida, do adequado O volume total
climáticas precipitação anual e que, na vertente da Cor- poderiam alterar a disponibilidade de água denominação de “Braço Casiquiare”, na Ve- manejo desse recurso por parte do país vi-
dilheira, oscilam entre 2.500 e 5.000 mm/ na Amazônia, embora no presente não exista nezuela; ou na Guiana, entre os rios Negro zinho situado a montante, e não apenas no de água líquida
poderiam alterar a ano. Esses regimes pluviais, somados aos das evidência científica de que isso esteja ocor- e Takutu (Barthem; Guerra; Valderrama, que se refere ao aspecto aquático, mas ao
captada pela bacia
disponibilidade de áreas de drenagem dos outros seis afluen- rendo. (Mais detalhes são encontrados no 1995; Barthem, 2001; Brasil: Agência Na- ecossistema amazônico todo.
tes e do resto dos tributários menores que capítulo 4.) cional de Águas [ANA], 2002a; Colômbia: amazônica situa-
água na Amazônia, se originam na planície amazônica (onde as Sinchi, 2002; Goulding et al., 2003b, 2003; O desaparecimento de cobertura vegetal
precipitações variam de 1.500 a 3.000 mm/ Águas superficiais Barthem et al., 2004; Cummings, 2006; natural, que já atinge aproximadamente 17% se entre 12.000 e
embora no ano), perfazem um total de água líquida cap- A superfície de cada um dos países que Peru: IIAP, 2006). da cobertura original (ver seção 3.2), é a prin-
16.000 km³/ano.
presente não exista tada pela bacia amazônica na faixa de 12.000 drenam para a rede hídrica amazônica cipal força motriz a afetar a disponibilidade
a 16.000 km3/ano (Salati; 1983, Goulding et corresponde, segundo diversos estudos, Do ponto de vista da contribuição de de água. Os altos níveis de desmatamento
evidência científica al., 2003b; Barthem et al., 2004). aproximadamente às seguintes parcelas de cada país em volume de água para a bacia atribuídos à expansão das atividades agrícola,
seus territórios: 38,5% da Colômbia; 46% amazônica, Colômbia, Equador e Peru par- pecuária e madeireira, somados aos das áre-
de que isso esteja Entretanto, algumas estimativas indicam do Equador; 46,5% do Brasil (ou 57,5% se ticipam com 30% da vazão no canal princi- as desmatadas para o cultivo de espécies de
ocorrendo. que a saída de água através dos diferentes ca- a sub-bacia do rio Tocantins for incluída); pal do rio Amazonas; os rios Madeira (Peru, uso ilícito na Amazônia boliviana, colombiana
nais fluviais oscila entre 5.500 e 6.700 km3/ 66,5% do Peru; e 66% da Bolívia. Quan- Bolívia e Brasil) e Negro (Brasil) participam e peruana, causam alterações no uso do solo,
ano, e isso significa que os 60% restantes re- to aos demais países (Venezuela, Guiana com outros 30%, e o restante é captado em as quais afetam o abastecimento de água e
tornam à atmosfera por meio da evapotrans- e Suriname), que de um modo geral não território brasileiro (gráfico 3.2) (Brasil: ANA, os serviços ecossistêmicos.
piração da floresta amazônica (Salati, 1983; drenam para o interior da bacia amazôni- 2002a, Goulding; Barthem; Ferreira, 2003).
Sioli, 1984; Goulding et al., 2003; Calasans; ca, durante os períodos de fortes chuvas e A redução da cobertura vegetal tem um
Levy; Moreau, 2005; Cadavid, s.d.), proces- inundações as águas de diferentes bacias Assim, a disponibilidade de águas super- efeito ambiental cumulativo em toda a bacia.
so fundamental para assegurar o equilíbrio eventualmente se misturam, como as do ficiais em cada um dos países amazônicos Está comprovado que o volume de água que
150
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >151

TABELA 3.9
Cobertura da rede de abastecimento de água e de saneamento na região amazônica

PORCENTAGEM DE COBERTURA (%)


PAÍS
ÁGUA ENCANADA SANEAMENTO
BOLÍVIA 45,2 24,4

BRASIL 63,0 9,0

COLÔMBIA 33,5 26,0

EQUADOR 29,0 21,1

GUIANA s.i. s.i.

SURINAME 92.0 s.i

PERU 40,3 33,7

VENEZUELA 20,0 15,0

Nota: s.i. = sem informação disponível.


Fontes: Gutiérrez; Acosta; Salazar (2004); Nippon Koei Lac Co. (2005); IBGE (2006); INEI (2006); Supelano (2006); GEO Brasil – Recursos Hídricos (2007); Suriname
(2002); Banco Mundial (2005).

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
“A Amazônia tem uma determinada região deixa de receber conhecidos dados estatísticos para nenhum
após ser desmatada será proporcional à in- dos países amazônicos, é possível que o po-
que ser preservada, tensidade e à freqüência das precipitações, tencial hídrico da região seja muitas vezes
não para isolá-la, mas assim como à quantidade de biomassa re- maior. Há províncias hidrogeológicas identi- ❱❱❱ Todos os habitantes amazônicos têm direito a água limpa e saudável.
para estudá-la, para tirada da floresta (Usaid, 2005; Marengo et ficadas na Bolívia e na Colômbia, entre elas a
al., 2006; Troncoso; Carneiro; Tomasella, Amazônia, à qual se atribui um grande poten-
explorar a floresta, não 2007). Desse modo, havendo menos cober- cial (García et al., 2001; Van Damme, 2002; ❱❱❱ A contribuição das águas subterrâneas de Letícia (fronteira tripartite Brasil-Colôm-
de forma extrativista, tura vegetal, reduz-se a evapotranspiração e, Instituto Colombiano de Geografia e Minera- aos serviços públicos é relativamente peque- bia-Peru), é sabido que a prática de cons-
ainda, promove-se a erosão e um aumento ção [Ingeominas], 2004). O Brasil também na em relação a suas grandes possibilidades. truir poços pouco profundos, para assegurar A PRODUÇÃO
mas de uma maneira do escoamento superficial, em conseqüên- confirma tal potencial e indica que o elevado Por exemplo, no Brasil, o estado do Amazo- o abastecimento contínuo e abundante de DE ÁGUA
totalmente nova. O cia da queda direta da chuva sobre o solo índice pluviométrico e a abundante água su- nas usa 25% de suas fontes subterrâneas de água limpa, difundiu-se entre as comunida- SUBTERRÂNEA
desprotegido. Esse aumento no escoamento perficial favorecem a recarga dos sistemas de água disponível para abastecimento público; des indígenas da margem do rio Amazonas e EM ALGUMAS
Brasil deveria liderar superficial, por sua vez, implica uma maior aqüíferos (Pedrosa; Caetano, 2002). as famílias da zona urbana (Nippon Koei Lac
ÁREAS
o desenvolvimento vazão na bacia, acelerando a saída de água ❱❱❱ Na região há um grande número de po- Co.; Comunidad Andina; Water and Sanita-
PERMITIRIA
do sistema. Assim, o serviço ambiental pres- Embora não se possa precisar a oferta de ços rasos domésticos. Por exemplo, na cida- tion Program [WSP], 2005).
da nova economia da tado pela bacia amazônica como reguladora água subterrânea, identificaram-se diversas de de Belém, Brasil, contabilizou-se um total
ABASTECER
CIDADES COM
floresta.” do ciclo hidrológico, que vai além da própria atividades que fazem uso dela. Assim, por de 20.000 poços, utilizados em residências, Na Guiana e no Suriname, países amazô-
POPULAÇÕES DE
bacia, influenciando o equilíbrio hídrico dos exemplo, Pedrosa e Caetano (2002) apon- hotéis, hospitais, pequenas indústrias, etc. A nicos costeiros, o sistema aqüífero litorâneo
países da América do Sul, está se perden- tam uma série de usos no âmbito da Amazô- construção e conservação precárias desses é a fonte mais importante de água subterrâ- 20.000 A 70.000
do cada vez em maior proporção (Nepstad; nia brasileira, que poderiam ser a tendência poços fazem deles um foco de contaminação nea – na Guiana, abastece 90% da população HABITANTES
Campos, 2006; Troncoso; Carneiro; Toma- geral em outros países: dos aqüíferos. que reside nas áreas baixas (US Army Corps of COM UMA ÚNICA
sella, 2007). Engineers Mobile District and Topographic En- PERFURAÇÃO.
Carlos Nobre, Científico ❱❱❱ A maior parte da água subterrânea se No Peru, segundo o Inrena (2006), foram gineering Center, 2001, Guiana: EPA, 2007).
del Instituto Nacional Águas subterrâneas destina ao consumo humano, e a porcen- contabilizados 2.802 poços residenciais, sete
de Investigaciones Somando-se ao anterior panorama o po- tagem de água utilizada em outras ativida- agrícolas, 20 pecuários e 10 de uso indus- Diversos estudos na América Latina in-
Espaciales – INPE, Brasil. tencial da região no que se refere a águas des (irrigação, pecuária, indústria, etc.) é trial na cidade de Pucallpa (bacia do Ucayali). dicam que, em algumas áreas, a produção
subterrâneas, a respeito do qual não são inferior a 10%; Com relação à área de influência da cidade de água subterrânea é de 200 a 700 m3 /
152
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >153

TABELA 3.10
hora, o suficiente para abastecer cidades de tros urbanos, esses serviços são precários
Estimativa de resíduos sólidos e de lixiviados produzidos na bacia amazônica
20.000 a 70.000 habitantes com uma única ou inexistentes, embora estejam incluídos
perfuração (Unesco, 1996, citado em Global nos indicadores médios (Nippon Koei Lac O ABASTECIMENTO
PAÍS RESÍDUOS SÓLIDOS (T)* CÁLCULO DE LIXIVIADOS (L/S)** RESÍDUOS SÓLIDOS LANÇADOS AOS RIOS (T)
Water Partnership [GWP] – South American Co., 2005, Supelano, 2006) (ver a seção DE ÁGUA POR MEIO
Technical Advisory Committee [Samtac], 3.5 para mais detalhes sobre algumas cida- 94.275 5 18.855
DE REDE LOCAL FOI BOLÍVIA
2000). Esses dados sinalizam uma oportu- des). A esse respeito, o Brasil é o país que
nidade para avaliar a disponibilidade hídrica apresenta os melhores indicadores globais, RELATADO PARA
BRASIL 5.438.584 388 1.087.716
dos aqüíferos subterrâneos em nível regional seguido por Bolívia e Peru. QUASE

80%
e, principalmente, para definir, entre os paí- COLÔMBIA 254.802 24 50.960
ses da bacia, parâmetros mínimos para um As condições das áreas rurais na Ama-
aproveitamento adequado, de acordo com a zônia relativas ao uso e a serviços de água EQUADOR 47.654 6 9.530
origem, profundidade e destinação da água podem variar. O abastecimento de água por
que possa ser captada desses reservatórios. meio de rede local está presente em quase DAS POPULAÇÕES AO
GUIANA - - -
80% dos centros urbanos ao longo da calha LONGO DA CALHA
USOS MÚLTIPLOS E QUALIDA- central do rio Amazonas (com restrições no CENTRAL DO RIO PERU 2.445.906 155 489.181
DE DOS RECURSOS HÍDRICOS horário de serviço). O maior problema en- AMAZONAS.
frentado por essas cidades é a baixa quali- SURINAME 90.000 7 18.000
Os recursos hídricos na Amazônia destinam- dade dos serviços de saneamento básico
se principalmente às atividades agrícolas e (esgoto, fossas sépticas), que se torna mais VENEZUELA 37.000 3 7.400
pecuárias, seguidas por outros usos indus- grave próximo da fronteira entre a Colômbia O esgoto da
triais. Todas elas geram impacto na qualidade e o Peru. Isso significa que as águas servidas TOTAL AMAZÔNIA 8.408.224 589 1.681.644
do recurso, em maior ou menor escala. Por e residuais da maior parte dos centros popu-
maioria dos centros
outro lado, apesar de abundante na região, lacionais vão dar diretamente nos ecossiste- povoados é lançado * Para a estimativa de resíduos sólidos, multiplicou-se a taxa de produção per capita na bacia (0,2 – 0,4 t/ano) pelos dados populacionais de cada país.
a cobertura do abastecimento de água para mas aquáticos próximos às residências, sem
consumo da população amazônica é ainda receber nenhum tipo de tratamento, o que diretamente nos ** A fórmula empregada para o cálculo da vazão de lixiviados é Q = K x NT x LIA x 1 litro, na qual Q = vazão em l/s; e K = constante de permeabilidade. Para os locais
protegidos com material de cobertura, K = 0,1; e, para os desprovidos de material de cobertura, com os resíduos ao ar livre, K = 0,6. NT = quantidade total de resíduos
reduzida, o que leva a crer que se trata de um faz delas o principal vetor de doenças como despejados no local em toneladas. LIA = média da precipitação anual em mm/ano. Para desenvolver a fórmula, considera-se o valor de 0,6 para a constante e a exis-

problema de gestão do serviço. a dengue e a malária.


ecossistemas tência de aterro de 10 anos. Adaptado de: “Guía para la elaboración del plan de gestión integral de los residuos sólidos” da Unicef (Plan de Gestión Integral de Residuos
Sólidos [PGIRS], Município de Miraflores, Departamento de Guaviare, Colômbia).
aquáticos próximos
Água para uso doméstico Uma das questões que afetam as águas
O consumo médio de água pela população utilizadas nas proximidades dos centros habi- às moradias, sem
oscila entre 100 e 200 litros/pessoa/dia, se- tados está ligada ao saneamento básico, haja 61,70 m3 /s; e Suriname, com 61,13 m 3 /s insumos do processo de mecanização. Os
gundo o estrato socioeconômico e as neces- vista que cerca de 70% dos resíduos sólidos
nenhum tipo de (Goulding; Barthem; Ferreira, 2003a; Peru: primeiros levam a um aumento nas concen-
sidades das zonas urbanas ou rurais (Lopes; são despejados a céu aberto. Calcula-se que tratamento. Inrena, 2006; Supelano, 2006; US Army trações de nitratos, que propiciam o cresci-
Na maior parte
Neto; Villas-Boas, 1998; Colômbia: Instituto os rios amazônicos recebam 1.700.000 t de Corps of Engineers Mobile District and To- mento de algas e a eutrofização de lagos e
de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Am- dejetos e que 600 l/s de lixiviados cheguem pographic Engineering Center, 2001). áreas inundáveis; os segundos contêm com- das comunidades
bientais [IDEAM], 2002; Brasil: ANA, 2002a; ao meio ambiente (tabela 3.11) (Nadalutti, postos bioacumuláveis (p.ex., organoclora-
Equador: Conselho Nacional de Recursos Hí- 2002; Brasil: IBGE, 2006; GEO Brasil – Re- Embora as dimensões do desmatamen- dos), que afetam os demais organismos dos afastadas dos
dricos [CNRH], 2002). Considerando o valor cursos Hídricos, 2007). to provocado pela agropecuária comecem a ecossistemas aquáticos, sobretudo peixes,
mais alto, de 200 litros/pessoa/dia, e a po- ser significativas, a principal ameaça se con- que, na maior parte da Amazônia, são a base
principais centros
pulação amazônica dos oito países, estimada Uso da água na produção centra nos setores de cada sub-bacia onde a da dieta dos habitantes locais (GWP-Samtac, urbanos, os
em 33.485.981 habitantes, conclui-se que os A maior demanda de água provém da agro- atividade é realizada. No Brasil, por exemplo, 2000; Centro Latino-Americano de Ecologia
habitantes da bacia amazônica necessitam pecuária, setor em que o Brasil está bem à a agropecuária desenvolve-se intensamente Social [Claes], 2005; Pasquis, 2006; Bar- serviços públicos
de 77,51 m3 /s de água para satisfazer ple- frente dos demais países da bacia amazôni- nas cabeceiras dos rios Xingu e Tapajós (Puty; them; Goulding, 2007).
namente suas necessidades domésticas, o ca. A demanda brasileira se situa entre 60 e Almeida; Rivero, 2007; Troncoso. Carneiro;
relacionados à
equivalente a 0,036% das águas superficiais 250 m3/s, dependendo da fonte consultada Tomasella, 2007), e na Bolívia, Colômbia e Além disso, é preciso levar em conta o água são precários
que o sistema despeja no mar. (Brasil: ANA, 2002a, 2002b; GEO Brasil – Peru, nas áreas da vertente do Andes, preci- cultivo de espécies de uso ilícito e a produção
Recursos Hídricos, 2007), e está ligada às samente próximo às nascentes dos grandes de pasta base de cocaína, que utiliza em mé- – quando não
Não obstante a existência de excesso extensas áreas de lavoura ao sul e sudeste tributários do rio Amazonas (Goulding et al., dia duas toneladas métricas de insumos quí-
micos (ácido sulfúrico, cal, gasolina, querose-
inexistentes –, mas
de oferta hídrica, observa-se, na análise do território amazônico, com uma projeção 2003; Barthem et al., 2004; Inrena, 2006;
da cobertura dos serviços públicos relacio- de crescimento da área irrigada dos atuais Supelano, 2006). ne, permanganato de potássio e amônia) por esse dado não
nados com o uso da água (água potável e 92.000 ha para 300.000 ha, em 2020 (Pla- hectare de coca processada (Embaixada dos
saneamento) para cada um dos países da no Nacional de Recursos Hídricos, 2006). Dessa forma, a agropecuária gera um Estados Unidos de América, 2001; Escritório se distingue nos
OTCA, que em nenhum dos casos esta é su- Os demais países que dispõem de informa- duplo impacto negativo: o proveniente do das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, indicadores médios
perior a 60% (tabela 3.10). Na maioria das ção relativa à água destinada á agricultura próprio desmatamento e o ocasionado pelo 2005; Salazar; Benites, 2006). Na Colômbia,
comunidades afastadas dos principais cen- são: Colômbia, com 76 m 3 /s; Peru, com uso de fertilizantes, pesticidas, herbicidas e essas culturas vêm sendo controladas com da região.
154
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >155

TABELA 3.11
mento [Fobomade], 2005). Calcula-se que derrames, o que, somado às estratégias de
QUadro 3.6
Volume de águas residuais (salmoura) originadas
o meio ambiente na Amazônia brasileira biossegurança e aos cuidados preliminares
pela atividade petrolífera na Amazônia
O GLIFOSATO E SUAS CONCENTRAÇÕES: tenha recebido 2.300 toneladas de mercú- EM MÉDIA SÃO a serem adotados pelas empresas petrolífe-
IMPACTO SOBRE OS PEIXES NATIVOS rio até 1994, e que essa taxa seja de 150 UTILIZADOS ras, permite supor que os efeitos negativos

2,5
t/ano atualmente (Mann, 2001; Programa poderiam ser minimizados de forma mais
das Nações Unidas para o Desenvolvimento eficaz (GWP-Samtac, 2000). PAÍS PRODUÇÃO DE SALMOURA (BARRIS/ANO)
No Instituto de Aquicultura dos Llanos (IALL), [PNUD], Tratado de Cooperação Amazônica
da Colômbia, foram conduzidos experimentos [TCA]; Banco Interamericano de Desenvol- De todos os usos dados ao recurso hí-
COLÔMBIA 11.529.465
de toxicidade (concentração letal 50 – CL50) vimento [BID], 1992). BARRIS DE ÁGUA drico na bacia amazônica, o hidrelétrico é o
para o glifosato (120 mg/l-1) em pirapitinga POR BARRIL que definitivamente demanda maiores vo-
(Piaractus brachypomus). Como resultados, A esse respeito, pesquisas recentes lumes e, na mesma medida, gera maiores
BOLÍVIA s.i.
DE PETRÓLEO
observaram-se: uma ação tóxica nas guelras, no verificaram a ocorrência natural de certa impactos. Nesse sentido, se, por um lado, os
fígado, nos rins, na pele e no cérebro dos peixes; quantidade de mercúrio no meio ambien- EXTRAÍDO NA países andino-amazônicos ainda não apro- BRASIL 41.883.750
redução do nado e da freqüência respiratória; te, e estimam que a exploração de ouro AMAZÔNIA. veitaram tal potencial, por outro, o Brasil já
e retardamento de resposta a estímulos. Os contribuiria apenas com 3% do mercúrio conta com 24 hidroelétricas instaladas, que EQUADOR 496.030.437
autores recomendam avaliar as concentrações total presente na bacia. Por isso, é pre- alagaram mais de 11.700 km2 do território
de glifosato presentes nos corpos d’água próxi- ciso analisar com cautela a questão da amazônico (Brasil: Ministério de Minas e GUIANA s.i.
mos às áreas de pulverização, a fim de definir a bioacumulação de mercúrio em peixes Energia, 2006; Lopes; Cardoso, 2006; GEO
susceptibilidade das espécies neles presentes. migratórios que chegam a regiões onde Brasil – Recursos Hídricos, 2007). PERU 41.251.537
não há atividade mineral, mas que serão
Fonte: Eslava; Ramírez; Rondón (2007).
consumidos pela população, motivo que Para obter um Os problemas diretamente ligados a SURINAME s.i.
faz deste um problema regional (Swee- essas áreas alagadas são o assoreamento,
ting; Clark, 2000; Crossa; Alonso, 2001;
grama de ouro, o crescimento exagerado de macrófitas, a VENEZUELA s.i.
Goulding; Barthem; Ferreira, 2003a; Bar- são utilizados diminuição da pesca à jusante das repre-
glifosato, herbicida cujos níveis de pulverização variam them et al., 2004). De todo modo, esse sas e um aumento no número de casos TOTAL 590.695.189
entre 17 e 30 l/ha e que demonstrou ter efeitos adversos processo tem como efeito alterações no de um a três de doenças que têm como vetores orga-
nos organismos dos ecossistemas aquáticos (Eslava; Ra- pH da água (<4) na região em questão, nismos aquáticos (Goulding et al., 2003;
mírez; Rondón 2007). acidificando os corpos receptores e limi-
gramas de Oliveira, 2003). Com a construção dessas
Fonte: Ministério de Minas e Energia da Colômbia (<http://www.minminas.gov.co>); Ministério de Minas
e Energia do Brasil (<http://www.mme.gov.br>); Ministério de Minas e Energia do Ecuador (<http://www.
menergia.gov.ec>); Instituto Nacional de Estatística e Informática (<http://www.inei.gob.pe>).
tando a presença da flora e fauna aquáti- mercúrio, além barragens, verificou-se que o represamen-
O uso de água pelo setor industrial não ultrapassa 4,0 ca, e, em certos casos, a contaminação do to dos rios não havia afetado o fluxo do
m3 /s por país, e está mais relacionado com os grandes lençol freático (Van Damme, 2002, Osava; de cianureto escoamento na região; quanto a alterações
centros urbanos. No entanto, essa cifra deve estar subes- 2005, Salazar; Benites, 2006).
e detergentes. no ciclo de descarga, não há evidências de
Quadro 3.7
A geração
timada, posto que a maioria das indústrias utiliza água do redução anual na vazão dos rios amazôni-
subsolo por meio de poços, e esse tipo de captação não A extração de petróleo também utiliza Isso significa cos (Oliveira, 2003). A represa de Afobaka,
EFEITOS SOCIOAMBIENTAIS CAUSADOS POR EM- hidrelétrica
PREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS: A REPRESA
foi quantificado de maneira adequada (Pedrosa; Caetano, volumes significativos de água. Para cada
que são
no Suriname, apresentou alguns dos incon-
DE AFOBAKA EM SURINAME requer um
2002). A mineração, por outro lado, demanda grandes barril de petróleo extraído, empregam-se, venientes que podem advir das obras de
quantidades de água, como no caso da exploração de em média, 2,5 barris de água, que sai enri-
lançados cerca infra-estrutura hidrelétrica. enorme volume
ouro com o uso de dragas. As dragas processam milhares quecida sob a forma de salmoura (sulfatos,
de litros por segundo, misturados, porém, com os sedi- bicarbonatos e cloretos/± 200.000 ppm). de 24 kg de ESTADO DOS ECOSSISTEMAS A construção da represa de Afobaka (Brokopon-
de água, sendo
mentos das áreas desmatadas ou do leito dos rios onde a Estima-se que, por ano, sejam produzidos
mercúrio por
AQUÁTICOS do), em 1963, pela Suralco, filial da empresa responsável
exploração é conduzida. Essa atividade é responsável pelo até 590 milhões de barris de água residual estadunidense Alcoa, com o objetivo de fornecer
aumento dos sólidos em suspensão nos corpos d’água e (tabela 3.13). Diluir esses sais a concentra- quilômetro Os tipos de água e sua qualidade são aspec- eletricidade a suas usinas de alumínio, implicou pelos maiores
por alterar o funcionamento do hábitat natural das espé- ções próximas às das águas amazônicas (± tos amplamente estudados nos países que a inundação da metade do território do povo
cies aquáticas (Goulding; Barthem; Ferreira, 2003a, Bar- 7 ppm) requer pelo menos 3,75 m3 /s por quadrado de pertencem à bacia amazônica (Salati, 1983; Saramacca (1.560 km2), deslocando 6.000 habi-
impactos
them et al., 2004). cada 1.000 barris diários (Gómez, 1995a;
rio.
Sioli, 1984; Junk, 1997; Mcclain; Victoria; Ri- tantes. A decomposição da vegetação submersa ambientais.
GWP-Samtac, 2000; Martínez, 2005). No chey, 2001). O aspecto mais estudado é a produziu gás sulfúrico em grandes quantidades,
Entretanto, o problema mais sério está relacionado caso particular da Colômbia, os contínuos caracterização físico-química das águas ama- tornando a água ácida devido à falta de oxigênio
com o emprego de químicos na extração de ouro. Esti- atentados contra a infra-estrutura de petró- zônicas; taxonomia e ecologia do fitoplânc- e causando a morte da flora e fauna da bacia.
ma-se que, para obter um grama de ouro, sejam utiliza- leo provocaram derrames estimados em ton e do zooplâncton, macroinvertebrados e
dos de um a três gramas de mercúrio, além de cianureto 5.000 barris por dia, que afetaram os solos produtividade vêm a seguir. Esse conjunto de
Fonte: World Rainforest Movement [WRM] (2000).
e detergentes. Isso significa que são lançados cerca de e as águas circundantes (Ecopetrol, 2003). referências ilustra o mosaico de ambientes
24 kg de mercúrio para cada quilômetro quadrado de rio aquáticos amazônicos que dão origem à sig-
(Gómez, 1995b; Sweeting; Clark, 2000; GWP-Samtac Acredita-se que, graças a sua grande nificativa diversidade de organismos aquáti-
2000; Mann, 2001; Franco; Valdés, 2005; Ibish; Mérida, vazão, os sistemas fluviais amazônicos têm cos e que sustentam atividades extrativas tão
2004; Fórum Boliviano Meio Ambiente e Desenvolvi- alta capacidade para diluir salmouras ou importantes como a pesca.
156
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >157

Quadro 3.8
SEDIMENTOS NOS RIOS AMAZÔNICOS

Devido às fortes precipitações recebidas e ao forte


gradiente topográfico de norte a sul, a Cordilheira dos
Andes está sujeita a intensos fenômenos de erosão
que enriquecem os rios andinos da bacia amazôni-
ca com grandes quantidades de matéria, quer em
forma de partículas (sedimentos), quer dissolvida.

Laraque, Guyot e Filizola (no prelo) ressaltam a dificuldade


de se avaliar a variabilidade anual dos fluxos sedimentares
na Amazônia devido à inexistência de séries longas de
amostragem. Quando disponíveis, estas se referem
normalmente a bacias de pequeno tamanho, como é o
caso do rio Piray, próximo a Santa Cruz de la Sierra, na Bolí-
via. A análise dessas séries sedimentares em bacias
pequenas revela a grande variabilidade anual da erosão na
região montanhosa, onde, por exemplo, uma cheia
extrema de vários dias de duração, provocada por El Niño
de 1982-1983, alterou o valor da mediana interanual.

SERGIO AMARAL / OTCA


❱❱❱ Os rios são as “estradas” que possibilitam a comunicação entre os povos amazônicos. NA BACIA DO RIO MADEIRA, APENAS
40% DO MATERIAL ERODIDO DOS
ANDES CHEGA AO AMAZONAS.
Boa parte da Tipos de água um pulso de inundação marcado pela ele- ❱❱❱ Região da Amazônia central: Nesta província encon-
As águas da região amazônica podem ser vação e diminuição das águas (Junk; Bailey; tram-se os rios de pequena ordem conhecidos como iga- Na saída dos Andes, vários fatores (mudança abrupta do
economia classificadas em três categorias, de acordo Sparks, 1989), que propicia mudanças na rapés, os quais percorrem as matas, e alguns lagos que se gradiente topográfico, diversos processos geodinâmicos,
com sua origem e localização: dinâmica fluvial e lacustre, na hidrologia e alimentam tanto do rio Amazonas como de seus peque- variações litológicas) produzem rápidas variações na
amazônica e da na física, química e biologia das águas. nos tributários. Trata-se de uma área de extrema pobreza capacidade de transporte das correntes de água, e os
base alimentar dos ❱❱❱ Região andina, pré-andina e de formações geoquímica, o que se reflete em baixos valores de condu- fenômenos que se observam variam de um ponto a
aluviais: As águas provenientes deste setor ❱❱❱ Região do Escudo das Guianas e do Maciço tividade. Isso se evidencia, inclusive, nos lagos do vale do outro da Cordilheira. No Equador, por exemplo, os
seus habitantes são barrentas e amareladas (águas bran- Central Brasileiro: São áreas geologicamen- Amazonas, os quais apresentam limitação de nutrientes primeiros dados obtidos sugerem que o fluxo de sedi-
cas). Por receberem material advindo de te muito antigas, onde se originam as águas em algumas épocas, influenciando, assim, o desenvolvi- mentos do rio Napo, quando entra em território peruano,
fundamenta-se formações geológicas recentes da Cordi- negras e as águas claras. As águas negras mento e as estratégias de vida da biota aquática. provém, em partes iguais, das bacias andinas e da erosão
na diversidade lheira dos Andes, arrastam grande quanti- caracterizam-se pela baixa mineralização, de sedimentos no Equador. Na Bolívia, ao contrário do
dade de sedimentos, que são depositados expressa pela reduzida condutividade (8-60 Diversidade de peixes que se observa no Equador, verifica-se uma abundante
de organismos em bancos, nas planícies de inundação, ou µS.cm-1)1 e ambientes ácidos (4,0-6,0). como fonte de alimento e renda sedimentação nas vertentes dos Andes e em declivida-
formam ilhas (Furch, 1984). A mineraliza- Nessa zona nascem os rios Negro e Urubu Boa parte da economia amazônica e da base alimentar des muito mais suaves. Na bacia do rio Madeira, apenas
aquáticos, em ção (60-200 µS.cm-1) e o pH (6,0-8,0) (Brasil), Madeira (Bolívia), Yavari (Peru), Iga- de seus habitantes fundamenta-se no aproveitamento da 40% do material erodido nos Andes chega ao Amazonas.
especial de peixes. desses ambientes são maiores que os das raparaná (Colômbia), entre outros. As águas diversidade de organismos aquáticos, sobretudo peixes, Estima-se que o fluxo total de material sedimentar
outras duas regiões. Os rios que nascem claras atravessam regiões com solos areno- que constituem um importante fator de dinamização eco- exportado pelo Amazonas ao oceano Atlântico seja de
nesta formação apresentam um gradiente sos e, por esse motivo, perdem a maior parte nômica, social e cultural na região. Desde a década de 90 600 a 800 x 106 t.ano-1 (Filizola, 2003). Vale destacar
de diminuição de sua mineralização (Mc dos materiais em suspensão; têm composi- do século XX, os recursos pesqueiros movimentam entre que os complexos processos de erosão e transferência
Clain; Victoria; Richey, 2001) à medida que ção química similar à das águas negras, mas US$100 milhões e US$200 milhões por ano (Bayley; Pe- sedimentar evidenciados nas distintas partes da bacia
se afastam de sua origem. Exemplos dis- sua transparência é maior. Exemplos dos rios trere, 1989; Petrere; 1989; Almeida et al., 2006; Barthem; estão sendo estudados e quantificados.
so são os rios Mamoré e Ichilo, na Bolívia; que se classificam neste grupo são Trombe- Goulding, 2007), isso graças à alta diversidade de peixes
Amazonas-Solimões, no Brasil; Caquetá/Ja- tas, Xingu e Tapajós. Cada um dos afluentes, da Amazônia, estimada entre 1.200 e 2.500 espécies. A
Fonte: Laraque, Guyot e Filizola (no prelo).
purá e Putumayo/Izá, na Colômbia; Napo de águas claras ou de águas negras, fornece pesca comercial e de subsistência gira em torno de 200
e Pastaza, no Equador; e Tambopata, Ma- minerais ou dilui as águas do grande rio Ama- espécies; dessas, 30 representam o principal volume de
rañón, Yuruá, Ucayali e Madre de Dios, no zonas, gerando um gradiente leste-oeste. pescados na bacia (Géry, 1984; Barthem; Guerra; Valder-
Peru. Nesses rios produz-se anualmente rama, 1995; Barthem; Goulding, 2007).
µS.cm-1 = medida de condutividade que representa a
concentração de íons na água.
158
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >159

GRÁFICO 3.3
Desembarque médio anual por país no período 1988-1998 (a) e estimativa do
consumo de peixe dos habitantes rurais e ribeirinhos na Amazônia (b)

(a) (b)
t/ano t/ano
160.000 160.000

140.000 140.000

120.000 120.000

100.000 100.000

80.000 80.000

60.000 60.000

40.000 40.000

20.000 20.000

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


0 0
Bolívia Brasil Colômbia Peru Bolívia Brasil Colômbia Equador Peru

Fonte: adaptado de Barthem, Guerra y Valderrama (1995); Tello (1998); Perú: Fonte: adaptado de Cerdeira, Ruffino e Isaac (1997); Batista, Inhamus, Freitas y
Direpe (2001); Barthem (2004); Batista (2004); Batista, Isaac y Viana (2004); Freire (1998); Fabré y Alonso (1998); Agudelo, Alonso y Moya (2006).
Isaac, Milstein y Ruffino (2004); Viana (2004); Junior y Almeida (2006); Colom-
bia: Incoder (2006).
❱❱❱ Os peixes dos rios amazônicos encontram-se na base da alimentação dos povos da região.

them; Goulding, 2007): (i) pirabutón, bocachico ou


Em 1988, o volume total de pescado bacia (Cerdeira; Rufino; Isaac, 1997; Batista O consumo de curimatã; yaraqui, palometa, garoupa ou pacu; e dou-
proveniente dos principais por tos pes- et al., 1998; Fabré; Alonso, 1998; Agude- rado sempre foram as espécies mais comercializadas Quadro 3.9
queiros na bacia foi de 166.000 tonela- lo; Alonso; Moya, 2006). Assim, segundo peixe per capita nos diferentes anos; (ii) Brachyplatystoma vaillanti ALERTA DE SOBREPESCA DE DOURADO (BRACHYPLATYS-
das, dividido da seguinte forma: Bolívia, essas estimativas, os ecossistemas aquáti- caiu para 13.000 t/ano em 2000; (iii) Prochilodus ni- TOMA ROUSSEAUXII) E PIRAMUTABA (B. VALLANTII)
3.000; Brasil, 150.000; Colômbia, 3.000; cos oferecem aos habitantes da Amazônia
entre as famílias gricans apresentou crescimento significativo próximo
e Peru, 10.000 (Tratado de Cooperação 200.000 t/ano de peixe (gráfico 3.3). rurais e ribeirinhas ao ano 2000, atingindo 32.600 t/ano; (iv) pintadillo, Os adultos e pré-adultos de dourado são capturados ao
Amazônica [TCA]; Food and Agriculture doncella ou surubim e Brachyplatystoma rousseauxii longo do leito principal do rio Amazonas e em seus
Organization [FAO], 1991). Dez anos mais Da soma das estimativas para a produ- de diferentes ultrapassaram o volume de 10.000 t/ano em 2000, principais afluentes, ao passo que os juvenis são pesca-
tarde, conjugando as estatísticas disponí- ção com fins comerciais e para a destinada e o primeiro deles começa a ganhar importância nas dos intensamente nos estuários. De igual forma, grande
veis para os mesmos países, calculou-se ao consumo próprio, obtém-se algo próximo
regiões da bacia estatísticas dos três países. quantidade de juvenis de piramutaba é capturada por
um total de 170.000 t/ano, o que aponta a 400.000 t/ano, volume que havia sido cal- varia de 250 a 800 redes de arrasto. O dourado já apresenta os primeiros
para cer ta estabilidade, pelo menos no culado por Bayley e Petrere (1989) para a Casos semelhantes foram registrados na Amazônia indícios de sobrepesca; no caso da piramutada, tal
que diz respeito ao volume capturado Amazônia e que está bem aquém do poten- g/dia. central quando, na década de 80, a frota pesqueira situação já se confirmou. Emitir um alerta rápido a
(Bar them; Guerra; Valderrama, 1995; cial de 900.000 t/ano sugerido por Merona de Manaus se viu obrigada a se deslocar a distâncias respeito da ameaça de um colapso da pesca dessas
Tello, 1998; Peru: Direção Regional de (1993). Assim, não fosse a excessiva utiliza- superiores a 500 km para manter os níveis de pro- espécies serviria para incentivar os governos dos países
Pesca [Direpe] , 2001; Bar them, 2004; ção de determinados recursos, que acarreta dução de tambaqui. Apesar disso, não se conseguiu amazônicos a estudar planos operacionais em nível
Batista, 2004; Batista; Isaac; Viana, 2004; a diminuição da oferta natural, seria possível atingir a produtividade original (Bayley; Petrere, 1989; macrorregional, cujas medidas, definidas de forma
Isaac; Oliveira; Ruf fino, 2004; Viana, concluir que a atividade pesqueira não está TCA – FAO 1991; Barthem et al., 1995; Isaac; Milstein; conjunta, sejam aplicadas e monitoradas em ambos os
2004; Júnior; Almeida, 2006; Instituto seriamente ameaçada. Rufino, 1996). Recentemente, na região da Alta Ama- lados das fronteiras.
Colombiano de Desenvolvimento Rural zônia, a espécie denominada popularmente como “le-
[Incoder], 2006). Esse compor tamento fica evidente chero” perdeu sua importância comercial e está sendo
quando se analisam os dados disponíveis substituída por outra, conhecida como “mota” (Petrere, Fonte: Adaptado de Bayley; Petrere (1989); Ruffino; Barthem (1996);
Barthem; Goulding (1997); Japan International Cooperation Agency (JICA)
No que se refere ao consumo local de para Brasil, Colômbia e Peru dos anos 2001; Petrere et al., 2004). Em outros países da bacia, (1998); Fabré; Alonso (1998); Agudelo et al., (2000); Petrere (2001); Petrere
peixe, que não envolve trocas comerciais 1994, 1995, 1996 e 2000 (gráfico 3.4) como a Guiana e o Suriname, a pesca na Amazônia et al., (2004); Alonso e Pirker (2005); Fabré et al., (2005); Almeida (2006);
(Isaac; Milstein; Rufino, 1996; Tello, 1998; é de subsistência, motivo por que não se conta com Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO)
e, conseqüentemente, não aparece nas es-
(2006); Barthem; Goulding (2007).
tatísticas oficiais, calcula-se que varie entre Direpe, 2001; Bar them, 2004; Batista, dados a seu respeito; e, no caso do Suriname, a pesca
250 e 800 g/pessoa/dia entre as famílias 2004; Isaac et al., 2004; Viana, 2004; In- é realizada na zona costeira (Tratado de Cooperação
rurais e ribeirinhas, nas distintas regiões da coder, 2006; Almeida et al., 2006; Bar- Amazônica [TCA], 1991).
160
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >161

Gráfico 3.4
Principais espécies desembarcadas no Brasil, Colômbia e Peru* no período 1994-1996 e em 2000
A aqüicultura não pode ser

150
ESPÉCIES
A. ANO 1994 C. ANO 1996
ORNAMENTAIS concebida como um substituto
35.000 Toneladas 35.000
Toneladas
FORAM REGISTRADAS à pesca tradicional, mas sim
30.000 30.000
NA COLÔMBIA E NO PERU PARA
25.000 25.000
EXPORTAÇÃO, ENTRE ELAS como uma alternativa viável na
20.000 20.000
OTOCINCLOS E ARAUANAS. Amazônia.
15.000 15.000
10.000 10.000
5.000 5.000
0 0 Em razão do caráter migratório e transfronteiriço das ao passo que a da pesca seja a exportação, a preços de
BAV PRN SEM PSE MYL BRA BRY POT TRI HYP HOP PLA COL BAV PRN SEM PSE MYL BRA BRY POT TRI HYP HOP PLA COL principais espécies que sustentam a pesca na Amazô- mercado mais elevados (Almeida et al., 2006).
Espécies Espécies nia, seria conveniente integrar o conhecimento básico de
cada país sobre as espécies, assim como as iniciativas Os peixes ornamentais são também um exemplo da
B. ANO 1995 D. ANO 2000 de operação e de administração pesqueira dos países. biodiversidade amazônica no que diz respeito à pesca.
Toneladas 35.000 Toneladas 35.000 Tal integração permitirá chegar a acordos internacionais No mundo, as exportações anuais de peixes ornamen-
30.000 30.000 para controlar o setor de pesca, definir instrumentos de tais ultrapassam US$200 milhões, dos quais a Amazônia,
25.000 25.000
menor impacto e incluir áreas estratégicas de preserva- dependendo do ano, responde por entre US$6 milhões
ção para as diferentes etapas de desenvolvimento das e US$11,5 milhões por ano, que correspondem a cerca
20.000 20.000
espécies (p.ex., desova, reprodução e crescimento) (Ru- de 20 a 25 milhões de unidades vivas/ano das 30 a
15.000 15.000 ffino; Barthem, 1996; Barthem; Goulding, 1997; Agu- 50 espécies mais aproveitadas (gráfico 3.5). O Brasil se
10.000 10.000 delo et al., 2000; Ruffino, 2000; Petrere, 2001; Alonso; destaca como produtor, com 16 milhões de unidades,
5.000 5.000 Pirker, 2005; Fabré et al., 2005; Alonso et al., 2006; seguido pelo Peru, com 9 milhões, e pela Colômbia, com
0 0 Barthem; Goulding, 2007). É preciso proteger as rotas 1,9 milhões (gráfico 3.6) (FAO 2002; Perdomo, 2004;
BAV PRN SEM PSE MYL BRA BRY POT TRI HYP HOP PLA COL BAV PRN SEM PSE MYL BRA BRY POT TRI HYP HOP PLA COL migratórias dos peixes durante todo o seu ciclo de vida, Pereira, 2005; Júnior; Almeida, 2006; Prang, 2006).
Espécies Espécies a fim de assegurar sua dispersão e o repovoamento dos
ambientes aquáticos. Nesse sentido, os megaprojetos Na Amazônia brasileira são comercializadas cerca de
BAV: Brachyplatystoma vaillanti (pirabutón, piramutaba, manitoa); PRN: Prochilodus nigricans (bocachico, curimatá); SEM: Sema- de infra-estrutura são as principais ameaças à conec- 180 espécies ornamentais, das quais as mais captura-
prochilodus spp. (yaraquí, jaraqui); PSE: Pseudoplatystoma spp. (pintadillo, surubim, doncella); MYL: Mylossoma spp. (palometa, tividade e ao contínuo ambiental da bacia amazônica das são o cardeal e o néon tetra (Pereira, 2005; Terra
garoupa); BRA: Brachyplatystoma rousseauxii (dorado, dourada); BRY: Brycon cephalus (sábalo, matrinxa); POT: Potamorrhina (Barthem; Goulding, 1997; Petrere, 2001; Alonso; Pirker, da Gente, 2005; Freitas; Rivas, 2007). Na Colômbia e
spp. (branquinha); TRI: Triportheus spp. (sardina, sardinha); HYP: Hypophthalmus edentatus (mapará, maparate); HOP: hoplias 2005; Barthem; Goulding, 2007). no Peru, são exportadas mais de 150 espécies, sendo
malabaricus (traíra); PLA: Plagioscion spp. (curvinata, pescada); COL: Colossoma macropomum (gamitana, tambaqui) otocinclus e aruanãs as mais representativas (Perdomo,
Fonte: Adaptado de: Isaac; Milstein; Rufino (1996), Tello (1998), Peru: Direpe (2001), Barthem (2004), Batista (2004), Isaac; Milstein; Rufino (2004), Viana (2004), Colôm-
Desde a década de 80, fala-se da aqüicultura como 2004; Campos-Baca, 2005; Sanabria, 2005; Rodríguez-
bia: Incoder (2006), Almeida et al. (2006), Barthem; Goulding (2007). uma alternativa viável na Amazônia, que poderia contribuir Sierra, 2007). Essa última espécie, de características
para minimizar o impacto causado pela pesca excessiva exóticas, apresenta algum nível de ameaça por ser de
* Os dados referentes ao Brasil, no período 1994-1996, incluem a pesca em Belém, Santarém e Manaus (exceto para 1996, para o qual não se dispõe de informação dos
frigoríficos de Belém); no ano 2000, incluem a pesca continental dos estados do Pará e do Amazonas. Para a Colômbia, correspondem ao volume desembarcado em Letícia; de algumas espécies, ao mesmo tempo em que permi- porte médio e apta para o consumo. São comerciali-
e, para o Peru, à região de Loreto. tiria manter ou melhorar a oferta em épocas de menor zados suas larvas e alevinos (Júnior; Almeida. 2006;
abundância no meio natural. Nesse sentido, as críticas a Rodríguez-Sierra, 2007). A soma das exportações da
respeito da aqüicultura, tachada de absurda ou antieco- Guiana, Venezuela e Equador não chegam a 2% do total
Gráfico 3.6
Gráfico 3.5 nômica diante da vocação pesqueira da bacia, devem ser comercializado nos países amazônicos (Cabrera, 2005;
Volume de pescado exportado pelo Brasil,
Exportação de pescado anual na bacia amazônica revistas no intuito de fortalecer seu potencial, tendo em Prang, 2006).
Colômbia e Peru na bacia amazônica
no período 1995-2003 (Brasil, Colômbia, Peru) vista a enorme disponibilidade de água de diferentes ti-
pos e qualidades na região (Junk, 1983; Barthem; Guerra; O comércio de aruanãs, assim como o de outras
Valor Volume
Valor US$1.000 Unidades (milhões de peixes)
Brasil Peru Colômbia
Valderama, 1995; Val; Ramos; Rabelo, 2000). espécies ornamentais, é motivo de conflitos de uso e
12.000
35 Unidades (milhões de peixes)
de legislação na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.
40 De fato, essa alternativa de produção não pode ser Uma medida estratégica nesse sentido seria uma admi-
10.000 30
35
8.000 30 25 concebida como um substituto às atividades pesquei- nistração conjunta entre os países envolvidos por meio
25 20 ras tradicionais, mas sim como uma oportunidade de de planos de manejo coordenados. Desse modo, ao
6.000
20 15 desenvolvimento, que já vem recebendo apoio de al- compartilhar responsabilidades, o compromisso entre
4.000 15 guns governos, sobretudo nas proximidades dos grandes consumidores e instituições produziria efeitos mais con-
10
10
2.000
5 5 centros urbanos (Belém, Manaus e Iquitos) (Barthem; cretos. (FAO, 2002; Instituto Colombiano de Desenvol-
0 0 0 Goulding, 2007). É possível que a perspectiva da aqüi- vimento Rural/Traffic – América do Sul/World Wildlife
1995 96 97 98 99 2000 01 02 03 1995 96 97 98 99 2000 01 02 03 cultura seja abastecer os mercados locais a baixo custo, Fund – Colômbia, 2005).
162
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >163

AUTORA:
ROSÁRIO GÓMEZ - Centro de Pesquisas da Universidad del
Pacífico (CIUP) – Peru

CO-AUTORES:
MARLÚCIA BONIFACIO - Instituto del Hombre y el Medio
Ambiente de la Amazonía (Imazon) – Brasil
ELSA GALARZA - Centro de Pesquisas da Universidad del
Pacífico (CIUP) – Peru
CAMILO GONZALEZ - Ministério do Ambiente – Equador
URIEL MÚRCIA - Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas,
Sinchi – Colômbia
LUIS ALBERTO OLIVEROS - Organização do Tratado de Coo-
peração Amazônica (OTCA)
RITA PISCOYA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA) – Brasil
FERNANDO RODRÍGUEZ - Instituto de Pesquisas da Amazô-
nia Peruana (IIAP) – Peru
MURIEL SARAGOUSSI - Ministério do Meio Ambiente – Brasil

3.4|SISTEMAS
AGROPRODUTIVOS
Os sistemas agroprodutivos compreendem o manejo, pela população,
do conjunto de recursos biológicos e naturais com o fim de produzir
alimentos e outros bens não-alimentícios, assim como de conservar
serviços ecossistêmicos importantes para a sociedade. Diversos siste-
mas agroprodutivos são desenvolvidos na Amazônia, através dos quais
se aproveita a riqueza da região em matéria de serviços ecossistêmicos.
Entretanto, tais sistemas se desenvolvem e funcionam de forma diferen-
ciada entre os países da região, inclusive no contexto de cada país.

SISTEMAS AGROPRODUTIVOS AMAZÔNICOS

A qualidade do solo é fundamental para sustentar a produção nos


sistemas agroprodutivos. Os solos amazônicos em geral são pobres
INSTITUTO IMAZON

devido à pequena espessura de sua camada de matéria orgânica. A


matéria orgânica é fonte de nutrientes para as plantas, os quais são
disponibilizados pelos microorganismos do solo. Assim, a diversidade ❱❱❱ Sistemas de produção não-sustentáveis estão avançando sobre a Amazônia.
microbiana é fundamental para o funcionamento de um ecossistema,
em virtude dos diferentes processos realizados pelos microorganis-
mos, tais como decomposição da matéria orgânica, reciclagem de particularidades que variam de acordo com o tempo que suportam (Rodríguez, 1995). Cabe ressaltar produção, e, ainda, à coexistência de sistemas Os solos
nutrientes e agregação do solo (Peña; Cardona, 2007). Além disso, a passam alagadas e com seu teor de nutrientes, poden- que o conhecimento sobre as características de produção tradicionais com sistemas moder-
matéria orgânica atua como camada amortecedora ou protetora do do distinguir-se brejos, ilhas, praias, planícies, restingas e desses solos e sobre o aproveitamento de nos e altamente técnicos. O desenvolvimento amazônicos e sua
solo contra agentes ou processos erosivos. várzeas. Esse tipo de solo é suscetível à erosão hídrica e, seu potencial, bem como das espécies e/ou dos sistemas agroprodutivos é condicionado
frágil fertilidade:
portanto, à perda de fertilidade; por isso, quando a mata variedades aptas para nele serem desenvol- pelo processo de ocupação do solo na Ama-
Os solos amazônicos apresentam características diferentes, que é derrubada para o estabelecimento de culturas agríco- vidas, é limitado. zônia (ver seção 1.2.) e pelas dinâmicas socio- as lavouras têm
variam entre as áreas aluviais e as não-aluviais. Os solos das áreas las, rompe-se o frágil equilíbrio natural do ecossistema e econômicas nas áreas contíguas à região.
aluviais inundáveis possuem maior fertilidade natural, uma vez que as chuvas se encarregam de provocar seu rápido empo- Os sistemas agroprodutivos amazônicos produtividade
são enriquecidos de sedimentos de silte e argila, depositados pelas brecimento. Os solos em áreas não-aluviais são aqueles são heterogêneos, quer no que se refere às Os sistemas agroprodutivos desenvolvi- inferior à de outras
águas, todos os anos. Sua drenagem, porém, é deficiente e, de modo que se encontram em restingas, socalcos, colinas e mon- formas de produção e à sua escala quer ao dos na Amazônia são os seguintes: agrossil-
geral, passam boa parte do ano sob a água. As terras ribeirinhas têm tanhas e que se enriquecem a partir da biomassa que acesso aos recursos naturais e ao destino da vopastoril, agroflorestal, silvopastoril, agrossis- regiões produtoras.
164
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >165

Quadro 3.10 Quadro 3.11


tema de enriquecimento florestal, agricultura ças do mercado internacional, que tem interesse na ex-
BABAÇU: OPORTUNIDADES E LIMITAÇÕES A AGRICULTURA NA AMAZÔNIA RIBEIRINHA
(p.ex., monocultura) e pecuária extensiva. O pansão agrícola (p.ex., cana-de-açúcar e soja), estimulam
DO RIO UCAYALI (PERU)
sistema agrossilvopastoril consiste no manejo Características a expansão da fronteira agrícola sobre os ecossistemas da
integrado de lavoura, pastagem e exploração Palmeira nativa das regiões Norte e Nordeste do Brasil. floresta tropical (Killeen; Da Fonseca, 2006).
florestal de produtos madeireiros e não-ma- - Estende-se por cerca de 13 a 18 milhões de ha. Os primeiros indígenas e colonos da Amazônia peruana
deireiros. O sistema agroflorestal se baseia - Ocorre nos estados do Maranhão, do Piauí, do Tocantins, de Goiás, assentaram-se nas margens do rio Ucayali. Esses povos Ao longo do processo histórico de ocupação terri-
no manejo de cultivos consorciados e no do Mato Grosso, do Amazonas e do Pará. ribeirinhos desenvolveram diversas atividades produtivas, torial, a Amazônia foi vista como um território vazio de
desenvolvimento de sinergias com espécies - O Maranhão concentra em torno de 55% da área total de babaçuais. como a pesca e a agricultura. grande potencial produtivo (ver capítulo 1). Foi por esse
florestais apropriadas, de modo que contribui - Dele podem ser obtidos aproximadamente de 64 subprodutos (óleo, motivo que as políticas públicas implementadas a partir
para melhorar a produtividade agrícola e a etanol, metanol, celulose, produtos artesanais, farinhas, glicerina, etc.). A complexidade e a diversidade do sistema agroecológico de 1960 realizaram investimentos em infra-estrutura e
conservação do solo, bem como para reduzir - Possibilidade de obtenção de crédito de carbono com a substitui- ucayalino determinam as atividades agrícolas nas diferen- promoveram processos de colonização e de ampliação
o uso de agrotóxicos. O sistema silvopastoril ção de carbono mineral pelo procedente do babaçu, um produto tes épocas do ano (Bergman, 1990; De Jong, 1995). Um da fronteira agrícola nessa região. Cabe ressaltar que a
associa a pecuária ao manejo de pastagens florestal não-madeireiro que permite manter a palmeira em pé. elemento importante nesse sistema são os diversos tipos atividade agrícola na Amazônia apresenta diferenças entre
e à exploração florestal. O agrossistema de de terras aptos para a agricultura, que aparecem e os produtores ribeirinhos, que cultivam as várzeas ou as
enriquecimento florestal se traduz no mane- CARACTERÍSTICAS DOS MERCADOS desaparecem ao longo das margens, conforme as margens dos rios, e os que praticam a agricultura no meio
jo de espécies florestais madeireiras ou não- variações do rio. da floresta.
madeireiras. Todos esses sistemas envolvem IMPORTÂNCIA FAIXA DE
TAMANHO RELATIVA PREÇOS
o manejo integral da unidade produtiva, con- RELATIVO Entre os cultivos ribeirinhos, destacam-se: banana, Produtores ribeirinhos ou de áreas aluviais aproveitam
t/ANO US$/t
ciliando a conservação dos serviços ecossis- mandioca, arroz, milho, feijão, amendoim e soja, dentre o silte depositado pelas águas na época da cheia para
MUITO
têmicos e questões como rentabilidade da FARMACÊUTICO < 105 > 2.000 outros. O arroz se concentra principalmente nas áreas de obter maior produtividade. Além disso, os colonos ribeiri-
LIMITADO
atividade e melhoria da qualidade de vida da brejo, ao passo que o milho atinge uma maior produtivida- nhos têm uma cultura e um modo de produção próprios,
população. QUÍMICO MODERADO < 106 700 - 2.000 de nas restingas. Qualquer que seja a cultura, o sistema de caracterizados pelo manejo de uma variedade de ativi-
produção é muito simples, e predomina a monocultura. dades, tais como o extrativismo, o qual inclui a coleta de
ALIMENTíCIO GRANDE < 107 450 - 700
Contrapõem-se aos sistemas anterior- Poucos produtores consorciam culturas nas margens. Os frutos, cipó, mel, látex, cortiça, flores, borrachas e resinas,
mente referidos a agricultura de monocultura ENERGÉTICO ILIMITADO > 107 < 450 que o fazem se situam nas áreas de restinga, e sua e a pesca de espécies ornamentais, dentre outras, além
e a pecuária, que se baseiam no aproveita- produção destina-se somente ao consumo próprio da produção agrícola. No entanto, poucos estudos ava-
mento de recursos naturais para atender à Fonte: Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável. Ministério do Meio Am- (Padoch; De Jong, 1991). liaram a viabilidade econômica desses tipos de unidades
demanda crescente do mercado de alimen- biente.Informações fornecidas por Muriel Saragoussi (Ministério do Meio Ambiente – Brasil). produtivas.
tos e visam maximizar a rentabilidade da ativi- A atividade agrícola nas margens do Ucayali pode atingir
dade, desconsiderando o funcionamento dos uma elevada produtividade. No entanto, isso não garante a Para o desenvolvimento da agricultura em “terra fir-
ecossistemas. rentabilidade dos cultivos nem da propriedade. Ou seja, me” ou na floresta, utiliza-se a técnica de derrubar e quei-
ta amazônica. Por esse motivo, quando não No modo de tanto a produtividade como os lucros estão sujeitos a mar a mata com o objetivo de preparar o terreno e formar
Os sistemas agroprodutivos são mane- recebe capacitação, emprega técnicas agrí- variações nas condições de produção e marketing dos uma camada de cinzas, que contribui para a fertilidade
jados por produtores com perfis variados e colas impróprias ou pouco adequadas para o produção das produtos. O risco de ocorrer uma cheia antes do tempo, do solo. Após a preparação do terreno, são cultivados
interesses diferentes: meio físico amazônico. os altos custos de transporte pelo rio e a instabilidade de diversos produtos agrícolas, como cana-de-açúcar, café,
populações preços afetam a rentabilidade da agricultura. milho, grãos e frutas (Rodríguez, 1995).
❱❱❱ Na produção realizada pelas popula- ❱❱❱ Na produção empresarial, o acesso aos indígenas, o regime
ções indígenas, o regime de propriedade é recursos naturais (p.ex., o solo) pode se dar A frágil fertilidade do solo amazônico é responsável
comunal. Baseia-se em sistemas integrados por meio de concessões, da ocupação ilegal de propriedade é Fonte: Labarta, White, Leguía, Guzmán e Soto (2007). pela baixa produtividade da lavoura, em comparação
de produção, que incluem a agricultura e o do solo ou da obtenção de títulos de proprie- com outras regiões produtoras. Por exemplo, no Peru,
extrativismo (caça, pesca, silvicultura). O ma- dade ilegais, dentre outras formas. As ativida-
comunal. Baseia- a rizicultura apresenta diferentes produtividades, con-
nejo produtivo é tradicional, ou seja, não se des produtivas são especializadas e altamen- se em sistemas forme a área de produção e localização: costa norte
utilizam agrotóxicos na lavoura e o manejo te técnicas. As principais são: monocultura (8,5 tm/ha), costa sul (11 tm/ha), floresta alta (6,5
florestal é comunitário. O impacto ambien- articulada com uma cadeia de agronegócios integrais de tm/ha) e floresta baixa (3 tm/ha) (Peru: Ministério da
tal decorrente dessas atividades produtivas (p.ex., soja), pecuária (p.ex., gado zebu), ex- Agricultura, 2002; Centro Peruano de Estudos Sociais
é mínimo. tração seletiva de espécies madeireiras, ma-
produção, dentre [Cepes], 2006). A fertilidade limitada do solo amazô-
nejo de palmeiras oleaginosas (p.ex., dendê eles a agricultura e nico obriga o produtor a transferir a lavoura para outra
❱❱❱ Na produção realizada por peque- e babaçu) e cultivo de cana-de-açúcar para a
o extrativismo. A expansão da sojicultura atende área após um período de três a cinco anos, prática
nos agricultores colonos, os produtores produção de biocombustíveis. denominada agricultura migratória.
geralmente são posseiros e sua produção à demanda crescente do mercado
compreende várias atividades: agricultura As vantagens competitivas da agricultura Uma das monoculturas que está tendo sua expan-
diversificada, pecuária, exploração florestal empresarial na região derivam do baixo custo internacional, aproveitando a são iniciada na Amazônia é a soja, que tradicionalmente
e mineração artesanal. Freqüentemente, o da mão-de-obra, do preço reduzido da terra, disponibilidade de terras a um custo se concentrou em biomas como o cerrado (no Brasil),
colono provém de outra realidade ecológica, das isenções ou evasões fiscais e da abertura o chaco e a floresta Chiquitana (na Bolívia). A expansão
portanto, não está familiarizado com a flores- de vias de comunicação. Além disso, as for- relativamente baixo. da sojicultura responde à demanda crescente do mer-
166
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >167

TABELA 3.12
cado internacional, aproveitando a disponi-
Amazônia: agricultura e pecuária
bilidade de terras a um custo relativamente
baixo. O crescimento acelerado da soja
produziu mudanças nos padrões sociais e
produtivos da região, tanto nas áreas pro-
BOLÍVIA BRASIL COLÔMBIA EQUADOR GUIANA PERU SURINAME VENEZUELA dutoras como nas de influência.
foto coca o soya
O caráter mecanizado da sojicultura faz
AGRICULTURA com que as regiões planas sejam as mais
adequadas para a lavoura. A produção de
soja em grande escala apresenta a menor
ARROZ
exigência em matéria de mão-de-obra (um
trabalhador para cada 170-200 ha), em com-
CAFÉ paração com outras culturas. As extensas la-
vouras dependem de aviões para a aplicação

ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO


CACAU de herbicidas, o que facilita a dispersão de
elementos químicos no meio ambiente.
CANA-DE-AÇÚCAR
Desde 1984, a sojicultura vem impul-
COCA sionando o desmatamento na Bolívia. En-
tre 1991 e 2006, a área cultivada de soja,
MANDIOCA/AIPIM cuja maior concentração se encontra no
departamento de Santa Cruz, aumentou
MILHO 411%, o que importou o desmatamento A coca é cultivada primordialmente na
de 1.420.000 ha, divididos da seguinte for- zona andino-amazônica – a região concentra Em áreas remotas do
ma: 18% correspondem à floresta tropical 98% da produção mundial – e seu cultivo piemonte andino da Bolívia
PIMENTA e do Peru, camponeses
úmida, 37% à savana lenhosa do Grande migra de um país para outro conforme sur-
pobres produzem a folha de
Chaco e 30% à floresta Chiquitana. Alguns gem ameaças à produção. Assim, quando os coca, que se destina tanto
SOJA
estudos indicam que, no caso de San Ju- programas de erradicação endureceram suas ao consumo tradicional
lián-Santa Cruz, um dos principais centros operações e ganharam eficiência na Bolívia como ao mercado ilegal.
FRUTAS TROPICAIS (BA- produtores de soja, a manter-se esse ritmo e no Peru, em 1998, a produção se deslo-
NANA, CÍTRICOS, COCO) de crescimento, as florestas desaparecerão cou para a Colômbia. A área de colheita de
em nove anos. O manejo de soja implica coca atingiu sua extensão máxima no ano de
o uso de um pacote tecnológico intensivo 2000, com 221.300 ha, e mínima em 2003,
SILVICULTURA
em agroquímicos, ao qual se soma o início com 153.800 ha. Em 2006, foram registra-
da produção de soja transgênica. Assim, de- dos 156.554 ha – uma leve queda de 2%
DENDÊ pendendo do tipo de semente utilizada, os em relação ao ano anterior (Nações Unidas –
PALMA ACEITERA custos de produção variam entre US$229/ Escritório Contra a Droga e o Crime, 2006).
NATIVA ha, para semente convencional, e US$351/
ha, para semente transgênica (Associação As áreas de cultivo de coca estão locali-
SILVICULTURA EXÓTICA Internacional pela Saúde, 2006). zadas em regiões remotas, de difícil acesso e
geralmente de declive acentuado, razão pela
EXTRAÇÃO FLORESTAL No Brasil, a sojicultura também está avan- qual freqüentemente produz uma intensa
çando em direção às áreas de floresta tropi- erosão das encostas. O incentivo para o plan-
EXTRAÇÃO FLORESTAL cal úmida (p.ex., Rondônia, Pará e Amazonas) tio de coca são os ganhos significativos e no
NÃO-MADEIREIRA (P.EX., (Pasquis, 2006). Essa expansão da produção curto prazo, incapazes de ser superados por
CASTANHA) afeta os hábitats de alto valor de conserva- outras culturas. Por exemplo, o preço médio
ção e os meios de vida da população local, da folha de coca em 2005 registrou um au-
através da erosão e do esgotamento dos mento de 3,6% em relação ao ano anterior,
PECUÁRIA solos, e leva necessariamente à substituição atingindo US$2.9/kg. A expectativa de maio-
de atividades produtivas ou ao abandono do res receitas atrai migrantes de outras regiões.
Pecuária sobre pastagens local; além disso, causa o esgotamento e a No Peru e na Bolívia, diferentemente do que
Fonte: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente [PNUMA]; Organização do Tratado de Cooperação Amazônica [OTCA]; Centro de Pesquisas da Universidad eutrofização dos rios e a perda de serviços ocorre na Colômbia, o cultivo de folha de
del Pacífico [CIUP] (2006, 2007). ecossistêmicos, como o de suporte, ou seja, coca para o consumo tradicional (chaccheo)
Elaboração: dos autores.
reduz a fertilidade do solo. é legal (Durand, 2005).
168
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >169

GRÁFICO 3.7 QUADRO 3.12


duas formas de pecuária: a tradicional, realizada por pe-
Densidade da pecuária nos estados de Rondônia, Mato Grosso e Pará (Brasil) 1996-2006 BOLÍVIA: MANEJO DA TERRA E ORDENAMENTO
quenos pecuaristas, e a pecuária tecnificada.
JURÍDICO-INSTITUCIONAL INSUFICIENTE
Rondônia Mato Grosso Pará
O pequeno pecuarista, de um modo geral vivendo em
Número de cabeças de gado/km² situação de pobreza, faz um manejo limitado das pasta- Com respeito à posse da terra nas terras baixas, não há
60 gens devido à falta de assistência técnica e de informação informações recentes confiáveis e grandes áreas são
sobre tecnologias adequadas. Esse grupo apresenta bai- reivindicadas por empresas, indivíduos e comunidades. As
xos níveis de produtividade em termos de litros de leite/ estatísticas oficiais indicam que, entre 1955 e 1994, foram
50
animal ou quilogramas de carne/animal. entregues cerca de 30 milhões de hectares de terras
públicas (40% da superfície total da região) a diferentes
A pecuária tecnificada consiste na criação de gado de grupos: cerca de 23 milhões de hectares a produtores em-
40
forma intensiva. É realizada por empresas que dispõem presariais de médio e grande porte, três milhões a colonos
de recursos econômicos para investir e ocupa grandes pequenos produtores e três milhões a povos indígenas.
30
extensões de terra. Esse tipo de produtor faz o manejo de
pastagens, introduz raças melhoradas e emprega outros Contudo, uma proporção muito maior da terra da região
produtos industriais para complementar a alimentação do está sob controle privado de facto, em decorrência de
20 gado. A pecuária intensiva se expandiu na região amazôni- múltiplas manobras ilegais e de brechas na legislação,
ca e está vinculada à exportação de carne para o mercado sobretudo no caso dos produtores empresariais. Em
internacional. muitos casos, esses grupos falsificaram documentos,
10 subornaram funcionários do governo, obtiveram pro-
O pastoreio intensivo em um único campo ao lon- priedades sem cumprir os requisitos legais ou adquiri-
go do ano tem como conseqüência o pisoteio intenso ram terras com conhecimento de sua origem ilegal.
0 das pastagens, que limita seu desenvolvimento normal,
1994 95 96 97 98 99 2001 02 03 04 05 06 e a compactação dos solos. Essa situação é responsável
Fonte: Pacheco (1998).
pelo desaparecimento das pastagens implantadas e, em
Fonte: Brasil: IBGE (2007).
alguns casos, pelo abandono de piquetes, que acabam
se tornando capoeiras de difícil recuperação. A atividade
Na região amazônica, registrou-se um au- Desenvolvimento determina que a expansão pecuária na Amazônia vem se intensificando nos últimos
mento no uso de agroquímicos (fertilizantes agrícola no país siga boas práticas agrícolas, o anos, ou seja, o solo suporta um maior número de cabe- geração de gases de efeito estufa de duas formas: (i) com
e pesticidas). Esse aumento, causado pela que implica a eliminação de pulverização aé- ças de gado por unidade de superfície, situação que se a emissão de óxido nitroso, proveniente dos excrementos,
necessidade de melhorar a fertilidade do rea, o uso crescente de bioinseticidas e a re- destaca no Brasil e na Bolívia. No Brasil, por exemplo, os e (ii) com 21 a 300 vezes mais emissões de metano,
solo e de controlar pragas, deu-se principal- visão do uso de agroquímicos, dentre outras estados de Rondônia e Pará apresentam um aumento resultado da fermentação entérica dos ruminantes (Sme-
mente com a expansão de monoculturas tais medidas (Guiana: Estratégia Nacional de De- significativo na pressão pecuária, com um crescimento raldi; May, 2008).
como a soja e a coca. Na região amazônica senvolvimento [NDS] – Secretaria, 2006). anual do número de cabeças de gado por km2 de 11,7% e
do Brasil, por exemplo, os principais estados 9,68%, respectivamente, durante o período 2001-2006. Na Bolívia, os principais departamentos produtores de
com alto consumo de agrotóxicos são Mato Na Venezuela, a ampliação da fronteira Em Rondônia, o aumento foi de 27,69 cabeças/km2, no gado são Bêni e Santa Cruz, onde predominam os médios
Grosso (208 kg/ha), Tocantins (112 kg/ha) agrícola se deu a partir da distribuição de ter- ano de 2001, para 48,15 cabeças/km2, em 2006. e grandes pecuaristas. O Departamento de Bêni concen-
e Amapá (105 kg/ha) (Brasil: Ministério do ras públicas com florestas a camponeses sem tra 48% da pecuária bovina do país, em uma área de
Meio Ambiente, 2005). terra, que, no primeiro momento, comerciali- No Brasil, o crescimento do rebanho bovino foi muito mais de 200.000 km2. Na Bolívia, o número de cabeças
zaram as espécies florestais mais valiosas e, a grande e rápido, passando de 34.721.999 cabeças, em de gado bovino cresceu 31% entre 1994 e 2004 – de 5,4
Na Guiana, onde os principais cultivos são seguir, queimaram a floresta degradada para 1994, para 73.737.986, em 2006, e chegando a ocupar milhões, em 1994, para 7,1 milhões, em 2004. Da mes-
cana-de-açúcar e arroz, a agricultura é desen- implantar lavouras. Durante o período 1980- 74% da área desmatada. As taxas de crescimento médio ma forma, a produção de carne registrou um aumento de
volvida sobretudo ao longo da faixa costeira. 1990, a taxa de crescimento médio anual da anual do rebanho aumentaram significativamente se com- 36%, passando de 125.000 TM, em 1994, para 169.000
A costa guianense está entre 0,5 e 1 m abai- fronteira agrícola foi de 2,9%, chegando a 32 paradas por qüinqüênios: durante o período 1994-1999, TM, em 2004 (Udape, 2004).
xo do nível do mar, contando com defesas milhões de hectares em 1990 (Movimento a taxa anual de aumento do número de cabeças de gado
naturais como mangues e infra-estrutura de Mundial pelas Florestas Tropicais, 2002). foi de 4,7% e, no período 2001-2006, de 7,4%. O ritmo Na Colômbia, a pecuária extensiva também está
concreto, que atuam como proteção con- de crescimento do rebanho varia entre os estados, com avançando sobre a Amazônia. O gado consome as dife-
tra a entrada de água salgada e viabilizam a A pecuária também implica a conversão destaque para Rondônia, com uma taxa anual de 11,7%, rentes espécies do sub-bosque e os frutos das árvores.
ocupação humana e o desenvolvimento de da floresta original, com a derrubada das entre 2001 e 2006. Smeraldi e May (2008) apontam Em geral, se desenvolve em solos ácidos, sem levar em
cultivos. Por outro lado, os solos do interior espécies arbóreas e o posterior plantio de que, para cada quatro cabeças adicionais nesse estado conta critérios ecológicos, e seu rendimento é relativa-
do país são frágeis e argilosos, permitindo o gramíneas introduzidas, em alguns casos as- nos últimos cinco anos, três novas foram acrescentadas mente baixo (Sinchi, 2007).
desenvolvimento de certos cultivos (cereais, sociadas a leguminosas (Rodríguez, 1995). A na Amazônia. Cabe destacar que 75% do rebanho se
amendoim, tomate e frutas, como coco, man- pecuária é uma atividade que fixa no local o concentravam nos estados de Mato Grosso, do Pará e de No que se refere ao acesso aos principais fatores de
ga, carambola, pêra e banana) e da pecuária. trabalhador do campo e que limita a agricul- Rondônia. No que se refere aos impactos dessa atividade, produção – terra e mão-de-obra –, de um modo geral
Em linhas gerais, a Estratégia Nacional de tura migratória. Na Amazônia identificam-se é sabido que a pecuária de grande escala contribui para a os mercados de terra e de trabalho mostram distorções
170
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >171

QUADRO 3.13
devido aos problemas associados à concessão de direi-
BRASIL: MÃO-DE-OBRA ESCRAVA NA
tos de propriedade e a informações incompletas, que
PRODUÇÃO AGRÍCOLA NA AMAZÔNIA
os impedem de funcionar com eficiência. Tal situação
estimula um descumprimento reiterado das normas,
uma superposição dos direitos de propriedade e a ge- Entre 1960 e 1970, o trabalho escravo moderno foi
ração de direitos de propriedade precários, baseados introduzido no Brasil como resultado da expansão da
não em títulos, mas sim na posse. agricultura moderna na Amazônia. A mão-de-obra
provinha de locais com escassas oportunidades de empre-
Os sistemas agroprodutivos se desenvolveram para- go e acesso limitado à terra e a serviços financeiros. Além
lelamente às mudanças estruturais na propriedade da disso, o agronegócio de grande escala gerou uma forte
terra. Nesse sentido, os países amazônicos realizaram pressão sobre os recursos naturais da região, promovendo
reformas agrárias com a finalidade de reduzir a concen- um processo acelerado de desmatamento e o aumento
tração da terra, tendo conseguido diferentes resultados. de mão-de-obra escrava.
No Brasil, a maior parte da terra na Amazônia Legal é de
domínio público ou pertence ao governo federal. Le- O estudo de Sharma estima entre 25.000 e 40.000 o
galmente, as terras podem ser vendidas a grandes pro- número de trabalhadores em condições análogas à

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


prietários privados – 31% da superfície estão nas mãos escravidão. Maranhão, Piauí e Tocantins são os três
de 0,8% das unidades agropecuárias, cuja extensão é estados brasileiros com o maior número de trabalhadores
superior a 200 ha. Um indicador da desigualdade no escravos. O Pará é o estado que mais emprega mão-de-
acesso à terra é o índice de Gini, que mostrou alguma obra escrava, seguido do Mato Grosso. As principais
melhora para a região Norte, passando de 0,882, em atividades que envolvem mão-de-obra escrava são:
1968, para 0,714, em 2000. Quanto à legitimidade da pecuária (43%), desflorestamento (28%), agricultura
propriedade, o Instituto Imazon aponta que 31% das (24%), exploração florestal (4%) e extração de carvão
terras na Amazônia Legal estão em nome de pessoas (1%). ❱❱❱ A pecuária extensiva é um dos principais agentes de mudança no uso do solo na Amazônia.
que não possuem escritura de propriedade e registros.
Essas propriedades ocupam 1,58 milhões de km2, o Em 2005, 4.113 pessoas foram libertadas pelo Grupo
que equivale à soma dos territórios da Espanha, França, Especial de Inspeção Móvel, principalmente nos estados Em uma área tão frágil como a Amazônia, de novas áreas produtivas, por exemplo To- Os mercados
Alemanha, República Checa e Hungria. Somente 4% agrícolas do Mato Grosso e Pará. esse comportamento se traduz na degrada- cantins e Maranhão (Banco Interamericano
da Amazônia Legal dispõem de documentação com- ção da qualidade ambiental e na superexplo- de Desenvolvimento [BID], 2000). dinâmicos e de
pleta, regularizada pelo Incra (Fearnside, 2003). ração dos recursos naturais. Além disso, a
Fonte: Sharma (2006). falta de definição de direitos de propriedade Por outro lado, as condições de mercado,
grande porte, como
Por outro lado, a ampla disponibilidade de mão-de- incentiva a aquisição ilegal ou irregular de expressas por uma demanda crescente em Estados Unidos,
obra não-organizada e o número reduzido de emprega- terras. Todos esses fatores contribuem para matéria de produtos alimentícios e insumos
dores afetam a eficiência e a eqüidade no mercado de a ocupação desordenada do território e para para a indústria agroalimentícia, aliadas às po- China, Europa e
trabalho agrário. Essa situação contribui para a deteriora- microorganismos, os quais afetam sua fertilidade. Essa mudanças no uso do solo, a fim de estabele- líticas de governo, incentivaram a produção
ção das condições de trabalho dos agricultores, em razão dinâmica produtiva implica uma elevação dos custos cer atividades produtivas lícitas ou ilícitas. agrícola de monocultura. Mercados dinâmi-
Japão, favorecem
de se utilizarem mecanismos de contratação que não para aproveitar os recursos no futuro e afeta a qualida- cos e de grande porte, como Estados Unidos, o desenvolvimento
respeitam os direitos dos trabalhadores; em alguns casos de de vida das populações locais. Além disso, a promoção de investimen- China, Europa e Japão, favorecem o desen-
extremos, identificaram-se situações de escravidão. tos em projetos de infra-estrutura, sobretu- volvimento da agricultura em grandes áreas da agricultura em
Os incentivos e fatores subjacentes para o funcio- do rodoviária, gerou um grande dinamismo da Amazônia. A região goza de vantagens
SISTEMAS AGROPRODUTIVOS namento dos sistemas agroprodutivos não-sustentáveis na região amazônica e apoiou a expansão competitivas para participar desses mercados
extensas áreas da
NÃO-SUSTENTÁVEIS EM EXPANSÃO na Amazônia variam em sua natureza. De um lado estão dos sistemas agroprodutivos não-susten- em razão dos subsídios aos combustíveis, Amazônia.
as causas estruturais, como a pobreza e a migração. Em táveis. O investimento em infra-estrutura do custo reduzido da mão-de-obra, do valor
O crescimento acelerado e desordenado da agricultura áreas próximas à região amazônica, as condições de po- rodoviária possibilita um transporte mul- relativamente baixo da terra e das isenções
e da pecuária reduziu a cobertura vegetal e contribuiu breza geram um êxodo em direção à Amazônia, onde timodal cada vez mais eficiente e barato, fiscais (Killeen; Da Fonseca, 2006).
para a deterioração do solo. Os sistemas agroproduti- há carência de mão-de-obra para as diversas atividades que favorece o escoamento da produção
vos não-sustentáveis se instalam sobre ecossistemas agrícolas (p.ex., soja e coca) e pecuárias em expansão. agropecuária. As exportações a partir de A demanda crescente por biocombus-
frágeis, desconhecendo a estreita relação entre estes Assim, na Bolívia há uma evasão de trabalhadores das áreas de acesso limitado hoje são realiza- tíveis (etanol e biodiesel, dentre outros)
e seus serviços ecossistêmicos. Tais sistemas intera- minas e camponeses andinos para as regiões baixas. A das a preços mais competitivos. Some-se também aumenta a pressão sobre a flores-
gem com o meio natural, sem levar em conta suas situação de pobreza dos produtores e os incentivos de a isso a construção de hidrovias no Brasil, ta tropical úmida, especialmente se os sis-
conseqüências (erosão do solo, perda de biodiversi- mercado estimulam a superutilização do solo, aceleran- que permitiu o desenvolvimento de uma temas produtivos se baseiam em espécies
dade, deterioração no serviço de suporte do solo, de- do a agricultura migratória e, por conseguinte, aumen- rede fluvial e reduziu o custo de transporte adaptadas ao clima e aos solos tropicais,
terioração da qualidade dos corpos d´água). O serviço tando o desmatamento. No Peru, por exemplo, a agri- entre 40 e 60% (p.ex., no corredor norte, tais como o dendê, a cana-de-açúcar e a
ecossistêmico de suporte do solo é afetado por alte- cultura migratória responde por 81% do desmatamento a rota fluvial que conecta o Rio Madeira ao espécie forrageira capim-elefante (Killeen;
rações na estrutura do solo e na dinâmica de macro e na Amazônia do país (Peru: Inrena, 2001). Rio Amazonas), viabilizando a incorporação Da Fonseca, 2006).
172
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >173

GRÁFICO 3.8a GRÁFICO 3.8b


Equador: vista parcial das províncias de Orellana e Sucumbios (1977) Equador: vista parcial das províncias de Orellana e Sucumbios 25 anos depois (2002): mudanças no uso do solo,
intenso desmatamento e novas ilhas no canal do rio Napo, sinal do assoreamento cada vez maior

A adoção de inovações tecnológicas pode na articulação entre os saberes locais rela- Os sistemas agroprodutivos não-susten- terra, à expulsão de populações locais, ao
“É provável que ser vista nas unidades produtivas de grande cionados à melhoria da produtividade e da táveis (monoculturas e pecuária de grande aumento de trabalho precário ou escravo,
a Terra tenha porte. Nesse caso, os produtores-empre- eficiência nos sistemas agroprodutivos e as escala) geram impactos ambientais, sociais à maior incidência de doenças por con- NA REGIÃO
sofrido mais sários dispõem de informação sobre novas propostas tecnológicas. e econômicos adversos. Entre os impactos taminação da água e ao agravamento da AMAZÔNICA
tecnologias, bem como dos recursos neces- ambientais, destacam-se o desmatamento, insegurança alimentar da população local, HÁ TAMBÉM
danos no século sários para ter acesso àquelas mais apropria- Ademais, há assimetrias no acesso a a exploração agrícola e pecuária além da devido a mudanças nas características do INICIATIVAS
das a sua atividade. As evidências mostram informações sobre produção e comercia- capacidade de suporte do solo, a erosão hábitat que encarecem o acesso aos ali-
XX do que em que o desenvolvimento produtivo e o uso de lização. Isso significa que a defasagem nas de solos, a contaminação da água por uso mentos (Segrelles, 2007). Os impactos
PRIVADAS E
toda a história da PROGRAMAS
tecnologia nem sempre valorizam os serviços informações sobre alternativas tecnológicas, intensivo de agroquímicos e a perda de bio- econômicos incluem a elevação dos cus-
PÚBLICOS
humanidade.” ecossistêmicos; ao contrário, o crescimento
econômico ocorre freqüentemente às ex-
clima, boas práticas agrícolas, preços interna-
cionais, volumes de exportação e estabiliza-
diversidade, dentre outros. O uso intensivo
do solo se traduz na perda de suas proprie-
tos de produção decorrente do maior uso
de agroquímicos, que vêm sendo cada vez VOLTADOS PARA
pensas desses. No caso de unidades produ- ção da concorrência, preferências e exigên- dades físicas, químicas e biogeoquímicas. mais empregados para compensar a perda A PROMOÇÃO DE
tivas de menor porte, é comum a adoção de cias comerciais nos mercados de destino, Como resultado, os serviços ecossistêmi- de fertilidade do solo. Além disso, os cus- UMA AMAZÔNIA
práticas produtivas próprias de regiões com alternativas de canais de comercialização e cos de provisão, regulação e suporte são tos econômicos intertemporais associados SUSTENTÁVEL.
quantidade e qualidade de recursos naturais boas práticas comerciais produzem decisões seriamente afetados. às restrições impostas pelo mercado em
JACQUES YVES COUSTEAU diferentes (p.ex., solo), sem levar em consi- em um contexto de maior incerteza do que razão de práticas agrícolas e de fabricação
(1910-1997), OCEANÓGRAFO deração a fragilidade dos ecossistemas ama- ocorre naturalmente no comércio de produ- Os impactos sociais se referem ao inadequadas aumentam em face da degra-
E EXPLORADOR FRANCÊS zônicos. Além disso, há uma clara limitação tos agropecuários. maior número de conflitos pelo acesso à dação dos serviços ecossistêmicos.
174
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >175

No Peru, por exemplo, o solo degradado por erosão na


Amazônia representa 60% do total da superfície afetada
no país, e os principais tipos de degradação são a erosão
e a acidificação.

Na Bolívia, a expansão da fronteira agrícola se deu


sobre solos impróprios para a agricultura e solos com
aptidão florestal, sujeitos a uma rápida erosão hídrica. O
avanço da soja leva à substituição de pastagens, o que
requer a abertura ou o desmatamento de novas terras em
outro lugar, para receber o gado (Dros, 2004).

Na Colômbia, a expansão da pecuária e a forte pres-


são pela liberação de novas áreas aumentam os danos
em outros ecossistemas, pois afetam a fauna que pode
já estar em situação vulnerável ou em risco de extinção
(Colômbia: Sinchi, 2007).

Em contraposição aos sistemas agroprodutivos não-


sustentáveis, desenvolvem-se também na região ama-
zônica iniciativas privadas e programas públicos voltados
para a promoção de uma Amazônia sustentável. O Estado
REPORTAJE FOTOGRÁFICO: MIGUEL BELLIDO / EL COMERCIO

promove o desenvolvimento de sistemas agroprodutivos


sustentáveis, oferecendo financiamento e assistência téc-
nica, além de facilidades para melhorar o acesso a merca-
dos alternativos (fair trade, mercados ecológicos).

Também tem sido importante o desenvolvimento de


inovações tecnológicas para o manejo sustentável de
unidades produtivas destinadas a pequenos e médios
produtores, por parte de instituições públicas, como: o
Centro de Pesquisa Agrícola Trópical (CIAT), na Bolívia; a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
no Brasil; o Instituto Amazônico de Pesquisas Científi-
cas (Sinchi), na Colômbia; e o Instituto de Pesquisas da
Amazônia Peruana (IIAP), no Peru. No Brasil, novos modelos agroprodutivos otimização do uso de insumos e da diversifi- locais. O resultado foi a implantação de dez
baseados na viabilidade econômica e ambien- Na Amazônia brasileira cação de culturas; como resultado, obtêm-se sistemas de produção sustentáveis, avaliados
O setor privado também investiu no desenvolvimento tal e no ordenamento territorial vêm sendo e na selva alta dos países ganhos na rentabilidade da unidade produti- em termos ecológicos, econômicos e sociais NO PERU,

60%
produtivo amazônico, com base em um critério de susten- promovidos desde 2003. Para tanto, o Insti- andinos, o café é um cultivo va e uma diminuição do desmatamento. A (Colômbia: Sinchi, 2007).
comercial cada vez mais
tabilidade e atendendo às exigências de mercados especia- tuto Nacional de Colonização e Reforma Agrá- Embrapa também desenvolve alternativas
presente.
lizados. Nesse sentido, cita-se a produção crescente de café ria (Incra) criou programas alternativos para de manejo pecuário, e isso demonstra que a O Instituto de Pesquisas da Amazônia Peru-
orgânico. Tradicionalmente, o café sempre foi um importante a Amazônia Legal, tais como assentamentos pecuária sustentável é possível com base em ana (IIAP) desenvolve e dissemina alternativas
produto no rol de exportações para países como Colômbia, agroextrativistas, projetos de desenvolvimento tecnologias mais produtivas e na delimitação produtivas que promovem o desenvolvimen- DA ÁREA TOTAL
Equador e Peru. No entanto, a crise nos preços internacionais sustentável e projetos florestais (Brasil: Minis- de áreas de acordo com sua capacidade de to de sistemas produtivos sustentáveis. Entre DE SOLOS
incentivou a adoção de estratégias de diferenciação (café tério do Desenvolvimento Agrário, 2006). uso agrícola ou pecuário. esses projetos, encontram-se: diversificação DEGRADADOS PELA
premium e café especial, no qual se inclui o café orgânico). dos sistemas de produção de frutas nativas da
EROSÃO ESTÃO
Hoje, a produção orgânica de café é uma alternativa para Além disso, a Empresa Brasileira de Pes- Na Colômbia, o Instituto Amazônico de Pes- Amazônia em comunidades da área de influ-
os pequenos produtores do piemonte amazônico (p.ex., de quisa Agropecuária (Embrapa) cria e disse- quisas Científicas (Sinchi) está implementando ência da rodovia Iquitos-Nauta; melhoramento LOCALIZADOS NA
Caquetá, na Colômbia, San Martín e Amazonas, no Peru, e mina sistemas de produção agropecuária e o Programa de Pesquisa em Sistemas Produti- genético do camu-camu visando à sua pro- AMAZÔNIA.
Orellana, no Equador), uma vez que o café orgânico atinge florestal integrados, com o objetivo de me- vos Sustentáveis, por meio do qual identifica, dução em solos inundáveis; melhoramento
o dobro da cotação do café tradicional. A formação e a con- lhorar a sustentabilidade econômica e eco- avalia, sistematiza e melhora espécies, bem de espécies vegetais para a conservação de
solidação de cadeias produtivas promovem a organização lógica das unidades produtivas. Com esses como desenvolve e transfere tecnologias ba- espécies e ecossistemas; e desenvolvimento
da produção e da comercialização, reduzindo os custos de sistemas, busca melhorar a fertilidade do solo seadas na recuperação e no fortalecimento do tecnológico e uso sustentável de produtos de
transação e melhorando o acesso aos mercados. por meio da rotação lavoura-pastagem e da conhecimento de comunidades tradicionais e bioexportação (Peru: IIAP, 2001).
176
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >177
HÁ MOMENTOS EM QUE É DIFÍCIL DISTINGUIR
O LIMIAR ENTRE O RURAL E O URBANO NOS
AUTORA:
ELSA GALARZA - Centro de Pesquisa da Universidad del
ASSENTAMENTOS AMAZÔNICOS.
Pacífico (CIUP) – Peru

CO-AUTORES:
ROSARIO GÓMEZ - Centro de Pesquisa da Universidad del
Pacífico (CIUP) – Peru
LUIS ALBERTO OLIVEROS - Organização do Tratado de
Cooperação Amazônica (OTCA)
KAKUKO NAGATANI - Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA)

3.5|AssentamentoS
humanos
A atual situação demográfica da região amazônica (38.777.600 habi-
tantes e densidade populacional de 4,2 hab/km² no período 2000-
2007), como já foi referido no capítulo 2, é resultado de um longo
processo de ocupação humana, que deita por terra a crença do “vazio
demográfico”, a qual ainda prevalece entre aqueles que não são da re-
gião (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD];
Tratado de Cooperação Amazônica [TCA]; Banco Interamericano de
Desenvolvimento [BID], 1992). A configuração territorial da Amazônia
de hoje é uma expressão espacial dos processos naturais, econô-
MIGUEL BELLIDO / EL COMERCIO

micos, sociais e políticos que ocorrem nos países que a compõem,


cujos efeitos, como a crescente urbanização e a densificação de certas
atividades econômicas, implicaram a relocalização da população e al-
terações nos padrões de uso e consumo dos recursos naturais. Nas úl-
timas duas décadas, a maior parte da população amazônica passou a
viver nas cidades, seguindo uma tendência na região latino-americana,
na qual 75,3% da população vivem em áreas urbanas (Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente [PNUMA], 2002).
identificar assentamentos humanos com distintas carac- nos periféricos precários (Padoch, 2006), classificação (Padoch, 2006). Um exemplo As cidades
As cidades amazônicas, como ocorre comumente nas cidades terísticas. Como foi mencionado no capítulo 2, os fluxos que tendem a se consolidar e a se anexar às disso, na Amazônia brasileira, são os no-
em crescimento, enfrentam dificuldades no acesso ao abastecimen- demográficos na Amazônia não foram simples; muito cidades com o tempo. E existem ainda as- vos imigrantes que praticam a agricultura tradicionais
to de água potável e problemas ambientais, como poluição do ar e pelo contrário. Com uma unidade familiar altamente sentamentos rurais que, apesar da pequena de subsistência no quintal de suas casas
da água e disposição e tratamento dos resíduos sólidos. Por afetarem móvel (Padoch, 2006), diversos lares amazônicos são população e dos poucos recursos, vêm cres- (Winkler Prins, 2005). Em verdade, nas últi-
consolidadas
diretamente o ecossistema e seus serviços, tais problemas são ainda rurais e urbanos ao mesmo tempo: as famílias man- cendo em sua maioria, bem como aqueles mas décadas a influência do ritmo e modo contam com uma
mais relevantes. têm moradia e realizam atividades produtivas tanto na que se mantêm à margem desse processo, de vida urbanos desencadeou um proces-
zona rural como nos assentamentos urbanos periféricos por exemplo, os que abrigam principalmen- so de urbanização extensiva que submeteu maior oferta de
PAISAGENS RURAIS E URBANAS (Aramburú; Bedoya, 2003). No entanto, observa-se uma te comunidades indígenas. o campo a uma cultura e a condições de
DA REGIÃO AMAZÔNICA predominância de áreas urbanas ou cidades tradicionais consumo e produção próprias do modo de
serviços básicos e
consolidadas na paisagem, as quais contam com um Assim, a informação sobre o rural e o vida urbano, impossibilitando a separação infra-estrutura.
O processo de ocupação da Amazônia seguiu diferentes padrões a número maior de serviços básicos e de infra-estrutura. urbano não é de todo exata para o contex- do rural e do urbano e fazendo da proble-
partir de meados da década de 50 do século XX. Assim, podem-se Ao seu redor, a migração originou assentamentos huma- to amazônico, como também não o é sua mática regional uma só.
178
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >179

Quadro 3.14
Como foi mencionado no capítulo 2, em 2001 ha-
CIDADES AMAZÔNICAS E SUAS
via uma predominância de população urbana nos países
ÁREAS DE INFLUÊNCIA
amazônicos, com exceção da Amazônia equatoriana e da
guianesa, onde a parcela rural da população era de 70%.
Porto Velho De um modo geral, 62,8% da população amazônica é
A área de influência de Porto Velho engloba quatro urbana, ou seja, aproximadamente 21 milhões de pesso-
municípios contíguos e outros cinco centros as. Na Guiana, quatro das dez regiões administrativas do
urbanos ao longo da rodovia BR-364, que constitui país têm centros urbanos, e sua população, somada à da
a principal referência de circulação entre os assenta- capital, Georgetown, contava com 339.873 habitantes, ou
mentos rurais existentes. 45,2% da população, em 2002. O restante da população
vivia em vilas ao longo da faixa costeira, e um número
menor de habitantes disperso no interior do país.

Rio Branco A Amazônia brasileira, a peruana e a venezuelana


A capital do Acre é favorecida pela presença da concentram mais de 60% de população urbana (ver
rodovia BR-364, que possibilita o acesso ao litoral gráfico 2.3 no capítulo 2). No caso do Brasil, a ocupa-
brasileiro durante todo o ano. Sua área de influência ção da Amazônia Legal revela uma grande heteroge-
está formada por centros locais de pequeno porte neidade. Distingue-se, em primeiro lugar, um extenso
populacional, como Brasiléia, Epitaciolândia, Feijó, território com baixa densidade demográfica, tipificado
Sena Madureira e Boca do Acre. como povoamento rural disperso, com pouca pressão
sobre o ambiente natural (Brasil: Ministério do Meio
Ambiente, 2006c). Essa área constitui a fronteira mais
remota da Amazônia Legal em termos de ocupação ❱❱❱ O mercado Ver-o-Peso, em Belém do Pará: intensa atividade comercial em uma das maiores cidades amazônicas.
SERGIO AMARAL / OTCA
Iquitos e Pucallpa humana e compreende terras ao norte do rio Amazo-
A população urbana das regiões de Loreto e Ucayali nas, norte do Pará, noroeste do Amapá e Amazonas e
concentra-se nas três cidades mais importantes, sudoeste do Acre, esse último no sudoeste da Amazô- represadas, constituem um importante ecos- quer de madeira ou minérios. Essa mudança 62,8% da
localizadas nas áreas limítrofes da ecorregião: nia (Brasil: Ministério do Meio Ambiente; Ministério da sistema, utilizado para a agricultura temporá- é, sem dúvida, um estímulo à instalação de
Iquitos, situada nas margens do rio Amazonas; Integração Nacional, 2006). A principal característica ria e para sistemas agroflorestais. As várzeas assentamentos humanos ao longo das rodo- população
Pucallpa, nas margens do rio Ucayali; e Yurimaguas, dessa área é a presença de numerosas terras indígenas têm grande importância econômica em áreas vias para atender a essas atividades, os quais
nas margens do Huallaga, afluente do Marañón. e unidades de conservação. como o delta do rio Amazonas e Manaus, no constituem uma nova forma de expansão do
amazônica,
Essas cidades, que se tornaram pólos de concentra- Brasil, bem como na área de Iquitos e Pucall- povoamento da Amazônia. aproximadamente
ção populacional, são as que influenciam de Há ainda outros dois tipos de assentamentos rurais: pa, onde se concentra a maior população da
maneira intensa a exploração dos recursos naturais os povoamentos rurais dispersos, com pressão sobre Amazônia peruana. As várzeas apresentam Quanto às semelhanças entre os assen- 21 milhões de
e a deterioração da qualidade ambiental. Além o ambiente natural, e os associados aos centros locais solos enriquecidos pelos sedimentos e cons- tamentos humanos amazônicos nos oito pa-
delas, povoados de porte médio, como capitais de com forte modernização do campo. O primeiro tipo se tituem a base produtiva de muitas espécies íses, observam-se, de um modo geral, altas
pessoas, vivem em
províncias e distritos, abrigam uma parcela impor- situa na Amazônia central e no oeste de Rondônia, onde consumidas na região (Tratado de Coopera- taxas de crescimento populacional, uma par- cidades.
tante da população urbana da ecorregião (aproxi- a pressão é resultado da forte expansão da fronteira agrí- ção Amazônica [TCA], 1994). ticipação cada vez maior das áreas urbanas
madamente 20%). cola e mineral. O segundo compreende grande parte do e uma predominância de “cidades-eixo tra-
centro-norte do Mato Grosso, em que a expansão da Durante a segunda metade do século XX, dicionais” com uma área de influência signi-
fronteira agropecuária, principalmente através da soja e a Amazônia foi ocupada em razão de crité- ficativa. No entanto, alguns países ainda têm
do algodão, implica a contratação de mão-de-obra por rios de colonização e de visões geopolíticas áreas rurais importantes.
Fontes: Brasil: Ministério do Meio Ambiente (2006b); Perú: IIAP (2007).
grandes estabelecimentos agropecuários. A presença de (ver capítulo 1). Nessa época, foram desen-
centros urbanos locais evidencia a relação existente entre volvidos grandes programas de colonização, Na Amazônia boliviana, que apresenta
o campo moderno e a necessidade de serviços e pro- orientados pelo Estado ao longo das rodo- uma densidade populacional de 1,1 habitan-
dutos essenciais para o desenvolvimento de complexos vias. Brasil e Peru foram os países que mais te por km², 51,6% a população é urbana. A
agroindustriais contemporâneos. utilizaram essa estratégia: na Transamazônica taxa de crescimento demográfico para o perí-
e na BR-364 (Mato Grosso e Rondônia), no odo 1992-2006 foi de 3,2%, muito acima da
Cabe destacar que essas áreas de média densidade Brasil, e ao longo da rodovia Marginal da Sel- média de crescimento de 1,5% da América
populacional encontram-se associadas às várzeas. Estas va, no Peru. Entretanto, os rios continuaram Latina entre 2000 e 2005. O departamen-
são áreas periodicamente alagadas, situadas ao longo do sendo a principal via de comunicação dos to de Santa Cruz situa-se em uma área de
rio Amazonas e de seus principais afluentes, consideradas povos amazônicos e, por conseguinte, o eixo transição entre a Amazônia e o Chaco, ao
as áreas de maior concentração populacional da Amazô- de ocupação humana. Essa situação vem sul da região amazônica propriamente dita.
nia. As várzeas, com seu aglomerado de ilhas altas circun- mudando paulatinamente. As novas rodo- Segundo o censo de 2001, de seus mais de
dadas por terrenos baixos, sujeitos ao alagamento tempo- vias que atravessam a Amazônia visam facili- 2 milhões de habitantes, somente 269.000
rário pela cheia dos rios, e de lagoas formadas pelas águas tar o escoamento da produção, quer de soja são considerados população amazônica. O
180
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >181

Muitas cidades amazônicas Quadro 3.15


GEORGETOWN: DESENVOLVIMENTO URBANO
médias apresentam taxas de A história da capital teve início em dezembro de 1781, com
crescimento populacional a proclamação do governador britânico Coronel Robert
Kingston, após a vitória contra os holandeses. Em janeiro de
muito altas. 1782, porém, uma esquadra francesa (país aliado dos
holandeses) recuperou o forte de St. George e os ingleses
foram obrigados a se render. O comandante francês
proclamou naquele mesmo ano que “considerava necessá-
rio fundar a capital, que se transformaria em um centro de
negócios”. As colônias de Demerara e Essequibo foram
devolvidas aos holandeses em 1784. Em 1789, Stabroek
era um povoado de 88 casas e 780 habitantes.

Em 1796, os ingleses retornaram. Em maio de 1812,


quando Demerara, Essequibo e Berbice passaram definiti-
vamente para as mãos dos ingleses, determinou-se que o
povoado se chamaria oficialmente “George Town”. Em
departamento de Pando também se destaca no que se março de 1837, foi emitido o decreto que abolia o Corpo de
refere ao crescimento populacional e à parcela de po- Polícia de Georgetown e criava o cargo de prefeito, bem
pulação urbana, com 4,4% e 46,3% respectivamente como o conselho de prefeitura.
SEBASTIÁN CASTAÑEDA / EL COMERCIO

(Bolívia: Instituto Nacional de Estatística [INE], 2001). Se


Santa Cruz fosse incluída no grupo de cidades amazôni- Georgetown foi elevada à categoria de cidade quando a
cas, junto com Cobija (Pando) e Trinidad (Bêni), seria o colônia foi declarada Bishop's Cee pela Rainha Vitória, em
centro urbano mais importante da Amazônia boliviana. agosto de 1843. No início do século XIX, Georgetown era
❱❱❱ 24 cidades amazônicas já têm mais de 100 mil formada por Stabroek, Werk-en-Rust e Robbstown-Newto-
No Brasil, a Amazônia Legal compreende nove esta- habitantes e vêm expandindo e diversificando seus wn. Em 1852, Lacytown foi incorporada à cidade. As áreas
dos, dentre os quais Amapá e Roraima, que registraram as serviços, inclusive nas áreas de lazer e diversão. residenciais se estenderam em direção às antigas planta-
taxas mais altas de crescimento da população, de 5,3% e ções de Vlissengen e Bourda. Até 1970, a cidade havia
4,3% respectivamente, no período 1991-2005. Em 2007, crescido aproximadamente 6,5 quilômetros quadrados
a Amazônia brasileira apresentou uma porcentagem de Puyo a mais importante (Equador: Instituto Nacional de DINÂMICA DE CRESCIMENTO devido ao desenvolvimento urbano.
população urbana de 68,22% e uma densidade popula- Estatísticas e Censos [INEC], 2006). DAS CIDADES NA AMAZÔNIA
cional de 4,7 habitantes por km². As cidades amazônicas Fonte: Extraído de Guiana: Autoridade Central de Habitação e

brasileiras de Manaus e Belém são as maiores da região, O Peru apresenta uma população amazônica de apro- A Amazônia viveu um processo de urbanização acelerado e Planejamento (2000).

com 1,6 e 1,4 milhão de habitantes, nessa ordem. A po- ximadamente 4,3 milhões de habitantes, com um cresci- não-planejado, que levou aproximadamente 63,7% de sua
pulação de quatro cidades – Belém, Manaus, São Luis e mento anual médio de 1,7% no período de 1993-2005. população, ou seja, 21,3 milhões de pessoas, a morar em
Cuiabá – totalizou 4,5 milhões de habitantes em 2007, re- Apesar de a região amazônica ocupar a maior parte do cidades. Podem-se distinguir cidades grandes com mais de
presentando aproximadamente 18% de toda a população território peruano, é a menos povoada. Entretanto, nos um milhão de habitantes, como Belém e Manaus, no Brasil; agrária; no caso de Iquitos, é extrativista e, mais recentemente, de ser-
amazônica do Brasil (Brasil: Ministério do Meio Ambiente; departamentos amazônicos, 61,7% da população é consi- Santa Cruz, na Bolívia; e outro grupo de cidades médias viços. Na Colômbia, as capitais departamentais têm menos de 50.000
Ministério da Integração Nacional, 2006). derada urbana. Iquitos, Pucallpa e Tarapoto são as cidades com mais de 200.000 habitantes, como Iquitos e Pucallpa, habitantes, exceto Florência, com 151.000; tais cidades encontram-se
mais importantes da Amazônia peruana (Peru: Instituto no Peru; Rio Branco, Macapá, Imperatriz, São Luís, Cuiabá, desconectadas umas das outras. Na Bolívia, a maioria das cidades
Na Amazônia colombiana, a maioria da população Nacional de Estatística e Informática [INEI], 2007). Várzea Grande, Ananindeua, Santarém, Porto Velho e Boa está conectada por via terrestre com os principais centros urbanos e
reside nos departamentos de Caquetá, Putumayo, Gua- Vista, no Brasil; Paramaribo, no Suriname; e Georgetown, econômicos do país, com exceção de Cobija.
viare e Amazonas, que somaram 960.239 habitantes A Amazônia venezuelana tem uma das menores po- na Guiana (ver tabela 3.13).
em 2005, com uma porcentagem urbana média de pulações (70.000 habitantes em 2001) e uma densidade A rede urbana da Amazônia Legal brasileira está estruturada em
49,6%. As cidades com maior população são Florência, de apenas 0,38 habitante por km². Desse total, 75,2% As cidades amazônicas experimentaram diferentes quatro grandes sistemas: Manaus, Belém, São Luís e Cuiabá, e nas
San José del Guaviare, Puerto Assis e Letícia (Colôm- são considerados urbanos e vivem na cidade de Puerto tipos de desenvolvimento, o qual foi condicionado por di- aglomerações urbanas de Goiânia, Brasília, Teresina e Timon, que,
bia: Departamento Administrativo Nacional de Estatís- Ayacucho, capital do estado de Amazonas. versos processos, como referido no capítulo 2. Por exem- apesar de não pertencerem à área da Amazônia Legal brasileira, exer-
tica [DANE], 2007) plo, no caso das cidades do Peru, existem duas grandes cem influência sobre uma extensa área fronteiriça (Ministério do Meio
O Suriname e a Guiana consideram toda sua população formas de organização e desenvolvimento: na floresta Ambiente do Brasil, 2006c). Além disso, constata-se que os núcleos
O Equador registrou uma população amazônica de como amazônica. Paramaribo e Demerara-Mahaica são, de terras baixas, ou Amazônia inundável, como Iquitos, urbanos principais geram dinâmicas de crescimento sobre núcleos
629.000 habitantes em 2006, e a população que vive nessa ordem, seus departamentos mais populosos. As ca- o desenvolvimento da ocupação humana deu-se de for- urbanos menores. Assim, a região metropolitana de Belém possui
em áreas urbanas corresponde a 24,9% do total. No pitais de ambos os países, Paramaribo (242.946 habitantes ma isolada; na floresta de terras altas, há uma variedade uma população estimada de 2,15 milhões de habitantes (em 2005),
entanto, a província de Pastaza registra uma porcenta- em 2004) e Georgetown (235.017 habitantes em 2005) de pequenas e médias cidades com peso similar. Nesse dos quais 1,4 milhão se encontra no município de Belém e 740.000
gem de população urbana de 40%, sendo a cidade de são as cidades com o maior número de habitantes. último caso, a base de desenvolvimento econômico é na periferia. Manaus, que não tem área metropolitana, compreende
182
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >183

TABELA 3.13 Mapa 3.1


Cidades amazônicas com população superior a 100.000 habitantes Cidades mais importantes da Amazônia

PAÍSES/REGIÃO AMAZÔNICA CIDADES POPULAÇÃO (POR ANO)


População 2006
BOLÍVIA   1992 2001 2008 0 - 50000
50001 - 100000
  SANTA CRUZ* 697.278 1.113.582 1.545.648 Anna Pegina
Bartica
Georgetown
100001 - 200000
Rose Hall
Nieuw-Nikerina
Paramaribo
200001 - 500000
New Amsterdam
Puerto Ayacucho Corriverton
500001 - 1636837
BRASIL   1991 2000 2007 Pacaraima Uiramuta
Spring

Normandia Amazônia maior


Boa Vista Olapoque
Bonfim
Amazônia menor
ACRE RIO BRANCO 168.679 226.298 269.505 San José del Guaviare
San Vicente del Caguán
Florencia

AMAPÁ MACAPÁ 154.063 270.628 328.865 Puerto Asís

Nueva Loja
Macapá

Castanhal
Francisco de Orellana Ananindeua Braganta

AMAZONAS MANAUS 1.006.585 1.396.768 1.646.602 Puyo Aabaetetuba


El Estrecho Santarém Belén Sao Luis
Macas
Manaos Parintins Paragominas
Iquitos
CAXIAS 84.331 103.485 108.542
Itacoatira Altamira
Caballococha Tefé Manacapuru Tucuruí
Zamora
Leticia
MARANHÃO
Itaituba Caxias

EMPERATRIZ 210.051 218.673 217.192 Yurimaguas


Marabá Imperatriz Timon

SÃO LUIS 246.244 837.584 917.155 Tarapoto Parauapebas

CUIABÁ Tocache Pucallpa Ji-Paran


Araguaína

MATO GROSSO RONDONÓPOLIS 113.032 141.838 164.969 Tingo María Santa Rosa do Purús
Porto Velho
Rio Branco
VÁRZEA GRANDE 155.307 211.303 244.185
Ariquemes

Nova Mamoré Palmas


Assís Brasil Capixaba

ANANINDEUA 74.051 392.627 484.278 Ibería


Cobija
Riberalta
Guayaramerín
Cacoal
Sinop Gurupi
Puerto Maldonado
BELÉM 849.187 1.272.354 1.408.847 Costa
Marques
Vilhena

PARÁ CASTANHAL 92.852 121.249 137.226 San Borja


Pimenteiras do Oeste
Tangar da Serra
Trinidad

MARABÁ 102.435 134.373 196.468 Ascensión de Guaray


Várzea Grande
Cáceres
Cuiabá Primavera do Leste
Barra do Garças

SANTARÉM 180.018 186.297 274.285


San Ignacio
San Matías Rondónopolis

Yapacaní Montero
Santa Cruz
RONDÔNIA PORTO VELHO 229.788 273.709 304.228 Puerto Suarez

RORAIMA BOA VISTA 120.157 197.098 246.156


ARAGUAÍNA 84.614 105.874 109.571
TOCANTINS
PALMAS 19.246 134.179 175.168 Fonte: Produção original do GEO Amazônia, com a colaboração técnica de PNUMA/GRID – Sioux Falls e da Universidade de Buenos Aires, com dados de Bolívia:
Conservation International e INE; Brasil: IBGE; Colômbia: CIAT e DANE; Equador: INEC; Guiana: EPA; Peru: INEI; Suriname: Escritório Geral de Estatística; e Vene-
COLÔMBIA   1993 2000p 2005 zuela: Instituto Nacional de Estatística.

CAQUETÁ FLORÊNCIA 96.247 130.500 143.871


As cidades somente um município, com uma população ção no período 1985-1993 foram Miraflores
GUIANA   1970 2002 2005 de 1,64 milhão. Manaus e Belém constituem (Guaviare), com 1,66%; Albânia, Morélia e
fronteiriças possuem um centro de atração muito forte, bem como San Vicente del Caguán (Caquetá); e Villa-
DEMERARA-MAHAICA GEORGETOWN 63.184 135.382 235.017 um importante papel São Luís e Cuiabá, ao redor do qual se esta- garzón e Mocoa (Putumayo). Não se trata
belecem centros urbanos subordinados (Bra- de cidades consolidadas ou grandes, pelo
PERU   1981 1993 2005
no processo de sil: Ministério do Meio Ambiente; Ministério contrário, de cidades pequenas, porém ca-
da Integração Nacional, 2006). racterizadas por uma dinâmica de expansão
integração regional, acelerada. No Brasil, nos últimos seis anos,
LORETO IQUITOS 178.738 274.759 396.615
atuando como as cidades de Caracaraí, Coari e Cruzeiro do
SAN MARTÍN TARAPOTO 34.979 77.783 105.500 Diversas cidades amazônicas interme- Sul cresceram 28,57%, 30,36% e 28,59%
núcleos de contato diárias apresentam taxas de crescimento respectivamente. De igual forma, as cidades
UCAYALI PUCALLPA 89.604 172.286 232.000
populacional muito elevadas. Por exemplo, de Riberalta, Trinidad e Guayaramerin, no
cultural e pontos no Peru, Puerto Maldonado (Madre de Dios) Departamento boliviano de Bêni, cresceram
SURINAME   1980 2000 2004
de articulação está crescendo a taxas acima de 5% ao ano; muito rapidamente.
PARAMARIBO PARAMARIBO 169.798 200.970 242.946 a população de Iquitos (Loreto), entre 1961
* Para efeitos de análise, considera-se a cidade de Santa Cruz como amazônica.
comercial em ambos e 1993, mais do que quadruplicou; e a de Pu- Outro grupo de cidades relevantes que se
Fonte: Colômbia: Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE). Peru: Instituto Nacional de Estatística e Informática (INEI). Bolívia: Instituto Nacional de Esta-
os lados da fronteira callpa (Ucayali) multiplicou-se por seis vezes. deve destacar são as fronteiriças (ver mapa
tística, República da Bolívia. Brasil: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Guiana: Agência de Proteção Ambiental. Suriname: Escritório Geral de Estatística.
Na Colômbia, os centros urbanos que regis- 3.1). Tais cidades têm um papel importante
p = projeção
internacional. traram maior crescimento relativo da popula- nos processos de integração regional: são
184
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >185

QUADRO 3.16 GRÁFICO 3.9a GRÁFICO 3.9b


pontos de articulação comercial e abastecem de bens e
ÁGUA POTÁVEL NO SURINAME CIDADE DE PUCALLPA-PERU, 1975 CIDADE DE PUCALLPA-PERU, 2007
serviços básicos a população de um e outro lado da divisa
internacional. Deve-se ressaltar que essas cidades são di- Embora o abastecimento de água na área costeira do
ferentes quanto ao tamanho e desenvolvimento urbano, Suriname devesse ser prestado por uma única institui-
sendo tanto de porte médio como de pequeno. Na tríplice ção, visando melhorar a qualidade do serviço, os serviços
fronteira entre Peru, Colômbia e Brasil, encontram-se as existentes ainda não foram integrados à Suriname Water
cidades de Caballococha (Peru), um povoado de 3.700 Company. Situação semelhante ocorre no interior do país,
habitantes; Letícia (Colômbia), cidade de 35.000 habi- onde os serviços de abastecimento deveriam ser geridos
tantes; e Tabatinga (Brasil), com 42.500 habitantes. Ou- pelas comunidades e organizações locais. No entanto
tro núcleo de cidades fronteiriças é o formado por Peru, os comitês-piloto de água criados com esse propósito
Brasil e Bolívia, que une os estados ou departamentos de parecem não estar funcionando como deveriam. A parti-
Madre de Dios, Acre e Pando respectivamente. Cidades cipação da comunidade e o enfoque de gestão baseado
localizadas nesse eixo são, por exemplo, Epitaciolândia, na comunidade deverão ser adotados nesses casos.
no Brasil, que cresceu 28,7% nos últimos seis anos; e
Cobija, na Bolívia, que registrou uma taxa de crescimento Os problemas institucionais afetam os serviços de
populacional superior à média nacional no período inter- saneamento em Paramaribo. O sistema de esgoto
censo 1992-2001, de 7,92%. não é administrado de maneira eficiente nem eficaz.
A responsabilidade atual pelo serviço é compartilha-
O fenômeno de crescimento urbano acelerado e de- da por várias instituições. A experiência tem mostrado
sordenado na região amazônica tem gerado problemas que deve haver somente uma autoridade responsável
não apenas no que se refere ao aproveitamento dos re- pela manutenção e gestão do sistema em áreas urba-
cursos naturais da Amazônia, mas também à qualidade nizadas, como na Grande Paramaribo. Contudo, além
de vida da população urbana. A crescente demanda das dessa autoridade ainda não ter sido criada, não existe
cidades por serviços básicos superou a capacidade de pla- um plano-diretor de saneamento para a cidade.
nejamento dos órgãos de desenvolvimento local. Assim,
cidades com mais de 500.000 habitantes apresentam Finalmente, é preciso desenvolver uma cultura de preser-
problemas como saneamento básico deficiente, conges- vação do meio ambiente. O planejamento está se transfor-
tionamentos de trânsito, disposição inadequada de resí- mando em um instrumento norteador da gestão da água
duos sólidos, piora da qualidade do ar. Se a tudo isso for no Suriname, como recurso natural e bem de consumo. ❱❱❱ A área da cidade de Pucallpa, na Amazônia peruana, multiplicou-se várias vezes; ao
somado o fato de que muitas cidades amazônicas têm mesmo tempo, o curso do rio Ucayali mudou significativamente.
níveis extremos de pobreza, a condição de vulnerabilida-
de de seus habitantes é ainda maior. Fonte: Suriname: Análise Setorial da Oferta de Água Potável e Saneamento no
Suriname (2007).
significa que o número de novas conexões Um dos problemas das cidades amazô- Cidades com
PROBLEMAS AMBIENTAIS URBANOS correspondeu ao crescimento da popu- nicas relacionado à contaminação da água,
lação e aponta para uma deficiência nos além dos efluentes domésticos provenientes mais de 500.000
a) Acesso à água e contaminação investimentos em ampliação da cobertura. das próprias cidades, é o uso de agrotóxicos
Como foi apresentado no capítulo 3, seção 3.3, 61% da tinação de recursos financeiros (Nippon Koei LAC Co.; Além disso, deve-se destacar o sério pro- na agricultura. Na região amazônica, os mais
habitantes
população amazônica da Bolívia, da Colômbia, do Equa- Secretaria-Geral da Comunidade Andina, 2005). blema das conexões clandestinas. A conti- empregados são os herbicidas, seguidos por enfrentam
dor e do Peru não têm acesso a água potável e 70% não nuidade média do fornecimento de água inseticidas, fungicidas e acaricidas. No Bra-
contam com serviços de esgoto, de acordo com um estu- De acordo com o Vice-Ministério de Serviços Básicos potável no segundo trimestre de 2005 foi sil, o largo uso de herbicidas está associado problemas de
do feito por Nippon Koei LAC Co. e pela Secretaria-Geral da Bolívia, Santa Cruz é o departamento com a maior de dezessete horas diárias, embora em al- ao sistema de plantio direto, técnica agrícola
da Comunidade Andina (2005). Além disso, o Peru é o cobertura de água potável, atendendo a 87,39% da po- guns setores da cidade, como San Juan, a que reduz a qualidade do solo e favorece o
saneamento básico,
país cuja Amazônia tem o maior déficit de acesso a água pulação (tanto urbana como rural). No outro extremo, o água estivesse disponível durante apenas crescimento de ervas daninhas. Entre os prin- congestionamentos
potável e esgoto, seguido da Colômbia, da Bolívia e do departamento com a menor cobertura de água potável seis horas (Superintendência Nacional de cípios ativos mais consumidos, destacam-se
Equador, conforme o mesmo estudo. do país é Bêni, onde somente 44,88% dos habitantes Administração de Serviços de Saneamento o glifosato e o 2,4 D ácido, que representam, de trânsito,
nas zonas urbana e rural têm acesso ao serviço. No âm- [Sunass], 2005). respectivamente, 48,8% e 10,33% dos her-
Na região andino-amazônica, as estatísticas apontam bito urbano, a Cooperativa de Serviços Públicos Santa bicidas utilizados (IBGE, 2004).
eliminação
índices de fornecimento de água e saneamento nas zonas Cruz Ltda., que abastece a cidade de Santa Cruz, alcan- No caso da Guiana, a Autoridade de inadequada de
urbanas abaixo da respectiva média nacional e, na área çou em 2005 uma cobertura de 99% para água e de Água da Guiana (GWI na sigla em Inglês) Outro fator preocupante no que se refe-
rural, inferior a 15%. Entre as principais causas do atra- 49% para esgoto. é uma empresa pública que atende atu- re à contaminação da água na Amazônia é a resíduos sólidos
so do setor de água e saneamento na Amazônia andina almente 85% da oferta de água para as presença de mercúrio e de outros metais pe- e deterioração da
encontram-se a dispersão e a diversidade de famílias et- Na cidade de Iquitos, a empresa pública de sane- zonas urbanas. Nos próximos cinco anos, sados (ferro, manganês, cádmio e chumbo)
nolingüísticas, o limitado desenvolvimento de tecnologias amento Sedaloreto S.A., responsável pelo serviço na a GWI pretende aumentar a oferta de água decorrente da exploração mineral e flores- qualidade do ar.
e metodologias de intervenção apropriadas à realidade zona urbana, manteve nos últimos anos uma cobertura potável e abastecer 90% da população da tal, as quais atingem as fontes de água que
local, a insuficiência do marco normativo e a escassa des- de água potável de 70% e de esgoto de 60% . Isso costa do país. abastecem as cidades. Um exemplo dessa
186
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >187

Quadro 3.17
as fontes fixas constituem as maiores emissoras de par-
AS QUEIMADAS SÃO A PRINCIPAL CAUSA DA
tículas totais em suspensão (PTS) e SO 2, com 89,52%
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NAS CIDADES BRASILEIRAS
86,82% respectivamente.

A maior quantidade de CO e COV, no que se refere às Essa foi uma das constatações de pesquisa (Munic)
fontes móveis, é emitida por motocicletas e motos adapta- realizada pelo IBGE em 2002 junto às prefeituras
das para levar três passageiros (92% do CO e 95% do COV dos 5.560 municípios do país. A poluição do ar não
entre ambos os tipos de veículos). As cidades da Amazônia é um problema restrito aos grandes centros urbanos
peruana, diferentes das brasileiras por suas características brasileiros, e a sua causa mais freqüente não são as
climáticas, assim como pelo nível de renda da população e indústrias ou os veículos automotores, mas as quei-
pela cultura desta, utilizam como principal meio de transpor- madas e as ruas e estradas não-pavimentadas.
te motocicletas e moto-táxis. O uso desse tipo de transporte
gera também altos níveis de ruído na cidade. No que diz Os resultados da pesquisa indicam que 1.224 municí-
respeito às fontes fixas, na cidade de Iquitos, 84% do SO2 é pios (22% do total), entre eles o Distrito Federal (Bra-
emitido por uma única empresa, a geradora de eletricidade sília), relataram a ocorrência freqüente de poluição do
Electro Oriente (Prefeitura da Província de Maynas, 2006). ar. Nesses municípios vive quase metade da população
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

brasileira (85 milhões), e 54% deles encontram-se na


Há muito pouca informação disponível sobre o ruído região Sudeste. As causas mais apontadas foram: quei-
nas cidades amazônicas, apesar de se tratar de um pro- madas (64%), vias não-pavimentadas (41%), atividade
blema evidente, principalmente para as pessoas que vêm industrial (38%), atividade agropecuária (poeira), pul-
do interior. Um estudo na cidade de Iquitos revelou que verização de agrotóxicos etc. (31%) e veículos (26%).
sua população corre um sério risco de vir a desenvolver
❱❱❱ A poluição sonora causada pela proliferação de veículos motorizados pequenos é um problema em várias cidades amazônicas. problemas crônicos de saúde devido ao ruído emitido por A queima de áreas de floresta exploradas para retirada da
veículos como motocicletas e moto-táxis, que, em sua madeira (queimadas) é a causa de poluição do ar mais
maioria, trafegam sem os dispositivos de controle de ruído. apontada em quase todas as regiões. A exceção é a região
A população da problemática é a contaminação da bacia do ja (Bolívia), Iñapari (Peru), Epitaciolândia e Isso obriga seus habitantes a conviver com níveis de ruído Sul, onde a agropecuária ocupa o primeiro lugar da classi-
rio Nanay, que abastece de água a cidade Brasiléia (Brasil) e demais assentamentos constante 58% e 44% acima dos valores máximos reco- ficação (53% dos municípios) e as queimadas aparecem
cidade de Iquitos de Iquitos (Peru). A atividade de garimpo de do entorno. Além disso, nessas cidades em mendados pela Organização Mundial da Saúde para ruídos em segundo lugar, junto com vias não-pavimentadas
ouro vem crescendo nessa bacia, em parte particular, a tradicional prática de queimar moderados (50 Db) e ruídos graves (55Db). Em média, (43%), que também são a segunda causa nas regiões
corre um sério risco realizada de forma ilegal, e utiliza o sistema os resíduos sólidos constitui uma fonte adi- o ruído registrado nos distritos de Iquito e Punchana, das Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. No sudeste,
de vir a desenvolver de dragagem. Além dela, uma intensa explo- cional de poluição atmosférica. De acordo sete horas da manhã até as dez horas da noite, flutua ao essa posição corresponde à atividade industrial (45%).
ração florestal mecanizada revolve o solo das com Brown et al. (2007), 241.513 hecta- redor de 79Db. Os maiores índices de ruído apresentam-se
problemas crônicos matas em ambas as margens dos rios Nanay res foram atingidos pelo fogo na região de entre as seis horas da tarde e as dez horas da noite (Peru: A ocorrência de queimadas é a causa mais significa-
e Pintuyacu, despejando de forma acelerada Pando (Bolívia). Ademais, 23 dos 45 dias Comissão Nacional do Meio Ambiente [CONAM], 2005). tiva de poluição do ar, tanto nas cidades com menor
de saúde devido metais pesados nas águas da bacia. Essa con- monitorados no ano de 2006 registraram urbanização (taxa de população urbana de até 30%)
ao ruído emitido taminação tem gerado problemas na saúde concentrações de material particulado (fu- c) Resíduos sólidos como naquelas com alta urbanização (taxa de popu-
de alguns moradores da bacia, causados pela maça) superiores a 150 µg/m3, que em 18 Um dos principias problemas causados pelo crescimento lação urbana igual ou superior a 70%). As vias não-
por veículos como ingestão de peixes e de água com altos teo- dias estiveram acima de 400 µg/m 3. urbano desordenado é a disposição inadequada dos resí- pavimentadas aparecem como a segunda causa mais
res de mercúrio, cianureto e outros metais duos sólidos. A Amazônia não está livre desse problema, freqüente entre as cidades pouco urbanizadas e como
motocicletas e pesados. De igual forma, a falta de pavimentação apesar de em alguns países a queima dos dejetos em casa terceira causa entre aquelas muito urbanizadas. Entre as
moto-táxis, que, em muitas ruas causa severos problemas de ser uma prática tradicional. A prática que predomina na cidades menores, 61% dos municípios de até 20.000
b) Poluição do ar e sonora poluição do ar, devido à poeira em suspen- região é a disposição do lixo a céu aberto, não sendo em- habitantes relataram uma piora na qualidade do ar,
em sua maioria, Entre as fontes poluidoras do ar mais impor- são na estação seca (Dourojeanni, 1998). pregadas estratégias de manejo de lixiviados. Isso acarreta situação que também foi informada por 69% das cidades
tantes nas cidades amazônicas, destacam- Entretanto, não existe informação detalhada a contaminação do solo e das águas subterrâneas e super- com população entre 20.000 e 100.000 habitantes.
trafegam sem os
se a indústria, os veículos automotores e as sobre os níveis de poluição nem sobre seus ficiais, além de representar um foco de doenças. Os mais
dispositivos de queimadas nas florestas. Some-se a elas a impactos na saúde da população. afetados são os habitantes de baixa renda, porque utilizam
queima de restos vegetais de quintais, jardins água contaminada para consumo, que provoca parasitoses Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2002).
controle de ruído. e parques públicos e a de resíduos sólidos Na cidade de Iquitos (Peru), os resulta- e diarréia, sobretudo entre a população infantil, mais vulne-
nos aterros sanitários locais. dos dos inventários realizados na sua bacia rável. Nesse contexto, é da maior importância investir na
aérea indicam duas situações a respeito construção de aterros sanitários nas cidades amazônicas,
No norte do Mato Grosso e de Ron- da qualidade do ar: (i) as fontes móveis assim como estimular a criação de planos integrados de
dônia, na época da seca (de junho a se- são as que geram as maiores emissões de produção de adubo orgânico. Embora os principais centros
tembro), queimadas nas florestas e no monóxido de carbono (CO) (88,21%), óxi- urbanos amazônicos já contem com planos de manejo de
cerrado produzem uma intensa poluição dos de nitrogênio (77,21%) e compostos resíduos sólidos e líquidos, é um imperativo colocá-los em
atmosférica, que afeta as cidades de Cobi- orgânicos voláteis (COV) (76,59%); e (ii) prática: passar dos diagnósticos e da formulação para sua
188
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >189

TABELA 3.14
Destino do lixo nas regiões amazônicas do Brasil (2000)
(em porcentagem)
DESTINO DO LIXO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA (2000)
REGIÃO QUEIMADO OU ENTER-
COLETA DIRETA COLETA INDIRETA OUTROS
RADO

ACRE 77,1 8,8 6,7 7,4

AMAPÁ 89,4 5,2 2,9 2,5

AMAZONAS 75,6 13,9 7,7 2,8

MARANHÃO 71,6 8,0 14,3 6,1

MATO GROSSO 85,0 8,1 5,2 1,7

PARÁ 72,3 14,0 10,6 3,2

RONDÔNIA 84,9 3,2 10,0 1,8

RORAIMA 94,8 0,2 3,8 1,1

TOCANTINS 94,4 0,7 4,1 0,8


Fonte: Brasil: IBGE (2002).

O não-planejamento articulação e aplicação (Nippon Koei Lac Co., mas ambientais. O sistema de limpeza pública
2005; Corpoamazonía, 2006 [comunicação operado pela Prefeitura Municipal está sendo
do crescimento pessoal]). ampliado e modernizado a fim de aumentar
a eficiência da coleta e da disposição final dos
urbano leva ao De acordo com o IBGE (tabela 3.14), resíduos urbanos e hospitalares. A disposição
estabelecimento os estados amazônicos apresentam níveis controlada de resíduos em Manaus é conside-
de coleta de resíduos superiores a 70%, e rada boa, e o lixo recebe um tratamento ade-
de aterros a prática de queima ainda é importante no quado; no entanto a cobertura do sistema de
Maranhão, no Pará e em Rondônia. coleta precisa ser ampliada (PNUMA, 2002b).
sanitários em
áreas inadequadas Na ausência de um planejamento ade- Na cidade de Georgetown, geram-se
quado do crescimento urbano, não há uma 51.100 toneladas de resíduos sólidos por
ou à ausência de destinação correta para o estabelecimento ano, o que corresponde a 0,6-0,8 kg/hab./
dos aterros sanitários nem se estabelecem dia (Guiana: EPA, 2007). A coleta na cida-
mecanismos de mecanismos de reutilização e reciclagem dos de é realizada por funcionários terceirizados,
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

reaproveitamento e resíduos. Desse modo, o lixo é despejado que cobrem aproximadamente 90% dos
em lixões improvisados, uma vez que não se resíduos sólidos produzidos. Esses mesmos
reciclagem do lixo. conta com outras alternativas. funcionários também coletam a maior parte A disposição de lixo
dos resíduos comerciais nas áreas em que urbano a céu aberto,
Em Manaus, a maior parte dos resíduos o serviço é prestado. Além deles, catadores sem tratamento,
sólidos é coletada de modo direto ou indire- informais fazem a coleta do lixo domiciliar por constitui uma
um determinado valor pago pela população. importante fonte de
to. Contudo, um volume significativo ainda é
contaminação nas
queimado ou depositado em terrenos baldios A coleta de resíduos sólidos em Georgetown
cidades amazônicas.
ou em cursos d´água, o que acarreta proble- provou ser eficiente nas áreas atendidas.
190
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >191

Santa Cruz, Bolívia

Iquitos, Peru
SERGIO AMARAL / OTCA

❱❱❱ As cidades amazônicas – grandes,


médias e pequenas – são o sinal de
uma Amazônia que cresce a um ritmo
demográfico acelerado.

Georgetown, Guiana Belém, Brasil


Paramaribo, Suriname
Manaus, Brasil

CRISTIAN GUERRERO / GTZ


192
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >193

A AMAZÔNIA DE HOJE TEM O DESMATAMENTO INTENSO E


ACELERADO COMO SÍMBOLO DE UMA PREOCUPANTE DINÂMICA
QUE ATENTA CONTRA A INTEGRIDADE DO SEU ECOSSISTEMA.

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
A floresta amazônica funciona como um sumidouro, absorvendo dióxido de carbono

FLORESTA AMAZÔNICA
Os habitantes da Amazônia.
Formam um complexo mosaico social e
e outros gases de efeito estufa (GEE) da atmosfera e, em contrapartida, liberando econômico. A população indígena é atualmente
oxigênio. Essa função, vital para a manutenção do equilíbrio do clima regional e uma minoria e continua vivendo na floresta.
Colonos, ribeirinhos e populações urbanas,
global, é afetada pela redução acelerada de sua área. Por meio da conservação da originalmente de diferente procedência
floresta, evitam-se perdas de biodiversidade, controla-se a erosão dos solos e geográfica, contribuíram para a construção da
diversidade cultural amazônica.
preserva-se sua função de regulação do ciclo hidrológico.
Agricultura
de grande
Corte seletivo escala
legal e ilegal
VETORES DO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Florestas tropicais no DESMATAMENTO 17 % da floresta primária da
Amazônia foram NA AMAZÔNIA
mundo. As florestas tropicais perdidos até hoje
O aumento da temperatura média da atmosfera,
úmidas, também conhecidas
como florestas ombrófilas, são o decorrente da emissão de gases de efeito estufa
bioma mais complexo do Queimadas, mineração, derivados de atividades antrópicas, ameaça as
florestas.
mundo. Ocorrem em regiões de 18% urbanização,
25%
baixa altitude nos trópicos, em
um ambiente de calor e
umidade constantes.
50 % 7% construção de
estradas e barragens VENEZUELA
É provável que o aquecimento global reduza a
precipitação na floresta amazônica em mais de
20%, especialmente na porção oriental da
Até 2030, o desmatamento poderá ser
responsável pela perda de 55% da floresta
úmida amazônica. Com isso, as chuvas serão
Num primeiro momento, o extrato A temperatura Amazônia, o que fará com que as temperaturas severamente inibidas e as estiagens mais
arbustivo do sub-bosque é aumentará até 3,5 locais aumentem em mais de 2 ºC, talvez até 8 ºC, freqüentes e acentuadas. Nos rios, milhões de
retirado. Após, as grandes árvores
são derrubadas. Esperam-se
COLÔMBIA graus e haverá uma
severa redução das
durante a segunda metade deste século. peixes irão morrer, gerando sérios impactos à
saúde e às condições de vida da população.
Desmatamento na floresta Perfil da alguns meses até que a área fique
seca para depois queimá-la.
Não gera uma chuvas no sul deste

amazônica (por país) floresta Fazendas de pecuária contribuição


significativa ao
país.

amazônica Após a derrubada da floresta, instala-se aquecimento global já


que o desmatamento
País Área desmatada (km2/ano) Agricultura de na área a pecuária, geralmente de gado
bovino. A pecuária tecnificada faz uso na sua Amazônia é BRASIL
(período 2000-2005) subsistência de do manejo de pastagens e introduz bastante moderado.
Brasil 22.513 pequena escala raças melhoradas.

Bolívia 2.247
As mudanças no clima
Colômbia 942
Parte significativa do
desmatamento é causada
EQUADOR afetarão insetos, rãs,
Dentre as estratégias de Ainda neste século, jacarés e tartarugas, uma
Venezuela 553 por imigrantes ou ocupantes As geleiras menores dos combate ao desmatamento 60% da Amazônia vez que variações de até
precários da floresta. De um Andes equatorianos
Equador 388 modo geral, são lavradores
na Amazônia, destacam-se serão transforma- um grau de temperatura
poderão desaparecer nos a mitigação dos impactos são suficientes para causar
Suriname 242 sem terra e desenvolvem dos em savana
próximos dez anos em negativos da pecuária e dos modificações nos hábitos
atividades agrícolas ou devido ao
Guiana 210 razão do aquecimento projetos de infra-estrutura e dessas espécies.
extrativistas sem bases aquecimento global.
global. a aceleração do processo de
Peru 123 técnicas, quer por iniciativa
ampliação da rede de áreas
própria quer respaldados
TOTAL 27.218 km2 por certas políticas públicas.
protegidas.
PERU

O desmatamento altera o ciclo Não sendo possível frear a


Vegetação não-florestal. Floresta inundável. Floresta aberta. Floresta densa.
hidrológico, o que reduz a absorção As geleiras da destruição das florestas
Savanas com árvores de Apresenta grande diversidade Composta de palmeiras, Florestas tropicais úmidas,
da água pelo solo, e acelera a amazônicas, prevê-se que
O que pode pequeno porte, com fuste
freqüentemente retorcido,
e elevada produtividade
aquática. Ocorre ao longo
cipós e bambus. Tem o
dossel menos fechado
de terra firme, e florestas
de transição com árvores velocidade da enxurrada; favorece,
Cordilheira Branca, a
maior cadeia mundial de BOLÍVIA As geleiras e lagoas da haverá uma redução nas
ser aproveitado espaçadas no terreno. dos rios e fica quase que o da floresta densa. de grande porte e elevado também, a rápida lixiviação do frágil montanhas nevadas nos Cordilheira Real estão
desaparecendo. As
precipitações na Índia e
na América Central e
inteiramente inundada
durante a estação das chuvas.
valor comercial.
A ECONOMIA solo amazônico. trópicos, está derretendo
a um ritmo acelerado. cidades de El Alto e La menos chuvas na época de
cultivo nas regiões
Paz sobrevivem
Terebintina, óleos e Das substâncias secretadas são Seus galhos servem para AMAZÔNICA Desde 1970, as geleiras já
perderam 22% de sua precariamente com a produtoras de grãos dos
Estados Unidos e do Brasil.
resinas são obtidos obtidos ungüentos, resinas, produzir polpa de madeira, superfície. escassa água de
dos tocos adesivos e fármacos carvão vegetal, álcool de Chacaltaya que desce
madeira e corantes As megaobras de infra-estrutura Exploração madeireira Mineração pelas encostas das
montanhas áridas.
Os grandes projetos viários e Em geral, o corte na Amazônia é Tanto o garimpo como a mineração industrial
ESTRATOSFERA Estratopausa 50 km
energéticos são uma realidade cada controlado por meio de licenças ou estão presentes na região amazônica. Na
Das raízes são A casca de algumas árvores Das folhas podem vez mais presente na Amazônia, concessões, que autorizam somente Amazônia brasileira, as operações de explora-
extraídas substâncias é usada na produção de ser extraídos óleos, porém beneficiam mormente outras a extração de certas espécies e de ção de minério de ferro e de bauxita empregam
Aquecimento global
para infusões fármacos fármacos, etc.
regiões. Representam um sério risco determinados volumes. No entanto, muita tecnologia. Petróleo e gás natural Combustíveis fósseis, indústrias, meios
para o meio ambiente (depredação em quase todos os países, há também são extraídos em diversos locais, de transporte, desmatamento, pecuária, Camada de ozônio 20 km

da floresta, contaminação). evidências de sobra da prática representando um sério risco ambiental para a etc. contribuem para aumentar a
significativa de corte ilegal. floresta e para os rios. quantidade de gases de efeito estufa na
atmosfera. TROPOSFERA
Agricultura
A soja se tornou um dos principais EN E
Tropopausa
propulsores da expansão da RGI
A SO
LAR
fronteira agrícola na Amazônia.
A atmosfera alterada retém
Outras culturas importantes são mais calor. Isso afeta o 12 km
arroz, cana-de-açúcar e frutíferas. equilíbrio natural da Terra e
aumenta sua temperatura.
As marcas
>195

SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
da

BEM-ESTAR HUMANO

VULNERABILIDADE
IMPACTOS SOBRE O
IMPACTOS SOBRE OS
degradacao
ambiental 4.1
4.2 4.3

AUTORES:
JUAN CARLOS ALONSO Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
DOLORS ARMENTERAS Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ROSÁRIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
MÓNICA MORALES Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
CARLOS SOUZA Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) – Brasil

COAUTORES:
MARLUCIA BONIFACIO Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Brasil
MARIO BAUDOIN Instituto de Ecologia / Universidade Mayor de San Andrés – Bolívia
URIEL MURCIA Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
ALICIA ROLLA Instituto Socioambiental (ISA) – Brasil
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
196
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >197

A QUEIMA E A DISPOSIÇÃO IRRESPONSÁVEL


DE RESÍDUOS SÓLIDOS CONTRIBUEM PARA A
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DA AMAZÔNIA.
NESTE CAPÍTULO SÃO ANALISADOS OS IMPACTOS SOBRE OS SERVIÇOS
ecossistêmicos e o bem-estar da população decorrentes da situação ambiental na
Amazônia, isto é, explica-se como a degradação ambiental afeta o funcionamento
dos ecossistemas amazônicos e limita as oportunidades e a capacidade da
população de melhorar suas condições de vida.

4.1|IMPACTOSSOBREOS
serviçosecossistêmicos
Os serviços ecossistêmicos consistem nos benefícios recebidos pela
sociedade com o funcionamento dos ecossistemas. Eles podem ser
de provisão, regulação, cultural e de suporte. O serviço de provisão
consiste nos bens obtidos dos ecossistemas, tais como alimentos,
fibras, minerais e combustível. O de regulação compreende processos
diversos, por exemplo, autodepuração do ar e da água, absorção de
carbono, regulação do clima e do ciclo hidrológico. O serviço cultural
refere-se aos benefícios intangíveis de que goza o ser humano, como
recreação, contemplação e enriquecimento espiritual. Por último, o
de suporte diz respeito aos serviços necessários para a produção dos
demais serviços ecossistêmicos, entre os quais a produção de oxi-
gênio e a fertilidade e/ou formação do solo (Banco Mundial – World
Resource Institute, 2005).

O ecossistema amazônico é variado e complexo e cumpre fun-


ções muito importantes, como captação de carbono, regulação do
ciclo hidrológico e climático, controle de doenças infecciosas (regula
a população de vírus, bactérias e parasitas), provisão de produtos
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

florestais madeireiros e não-madeireiros, disponibilidade de insetos


polinizadores. O ecossistema amazônico foi severamente atingido
pela degradação ambiental, expressa através do crescente desmata-
mento, da poluição de cursos d′água, da perda de espécies e redução
de hábitat, da erosão do solo e da deterioração dos ecossistemas
aquáticos (ver capítulo 3). Tal situação é responsável pela deterioração
quantitativa e qualitativa dos serviços ecossistêmicos e põe em evi- ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

dência as marcas da degradação ambiental: ao afetar tanto o estoque


quanto o fluxo desses serviços, aumenta a vulnerabilidade ecológica e Os serviços ecossistêmicos estão se
fragiliza o equilíbrio dos ecossistemas. No entanto, é preciso ressaltar deteriorando devido a uma limitada
que a magnitude dos impactos sobre os serviços ecossistêmicos varia compreensão do seu funcionamento e às
nas diferentes áreas da Amazônia, de acordo com suas características decisões de produção e de consumo, que não
específicas. levam em consideração o meio ambiente.
198
CAPÍTULO4
As marcas
LAS HUELLAS
daDEdegradação
LA DEGRADACIÓN
ambiental
AMBIENTAL >199

Na Bolívia, a floresta A região amazônica abriga uma grande


biodiversidade, porém em ecossistemas
que não sofreu frágeis, motivo pelo qual o equilíbrio de seu
funcionamento e sua capacidade de resiliên-
perturbações tem cia são afetados pela fragmentação e pela
uma quantidade perda de espécies e de hábitats. Além dis-
so, como os ecossistemas naturais não re-
de biomassa conhecem fronteiras geopolíticas e como a
biodiversidade tem seus próprios padrões de
43% maior que funcionamento e deslocamento, a perda de
aquelas que foram biodiversidade ocasiona impactos sobre os
ecossistemas relacionados, que vão muito
afetadas pelo além do âmbito nacional.
desmatamento, Diferentes estudos referem-se ao limitado
bem como 70% conhecimento a respeito do impacto produzi-
do pela perda de biodiversidade sobre os ecos-
mais diversidade sistemas naturais. Nos países amazônicos, os
de espécies de esforços direcionados a contabilizar o valor dos
serviços ecossistêmicos derivados da biodiver-
mamíferos de sidade ainda são limitados e não se reconhece
que a perda de biodiversidade (p.ex., de micro-
pequeno porte. organismos; ver seção 3.4) afeta a qualidade
do solo, que fica mais compactado. Nestas
condições, reduz-se a fertilidade do solo e, por
conseguinte, seu serviço de suporte é afetado,
demandando recursos econômicos para sua
recuperação. Do mesmo modo, a perda de bio-
diversidade afeta a polinização, gerando efeitos
adversos sobre o desenvolvimento agrícola e a
dinâmica reprodutiva da floresta.
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL

O desmatamento e os incêndios têm im-


pactos negativos sobre os serviços ecossis-
têmicos. Tais efeitos não ocorrem de modo
isolado, mas em geral estão associados a ou- ❱❱❱ O desmatamento e os incêndios (favorecidos pelo corte seletivo) têm impactos negativos sobre
tros processos, agravando o impacto. Entre os os serviços ecossistêmicos.
impactos gerados pela perda e degradação
da floresta, vários são relatados pela literatura A CAPACIDADE
científica, de inegável importância. Assim, no Do mesmo modo, o desmatamento leva à O desmatamento ocasiona a fragmen- O corte seletivo é uma prática histó- DE ABSORÇÃO
que diz respeito ao serviço de provisão, são perda de nutrientes do solo, o que afeta o serviço tação da floresta. Nas áreas de exploração rica de exploração de madeira que facilita DE CARBONO DA
descritas a redução da biodiversidade e a re- de suporte. Por exemplo, em uma pesquisa rea- madeireira e onde ocorrem queimadas, há a regeneração de determinadas espécies, FLORESTA ESTÁ
dução dos estoques de madeira e de produtos lizada pelo Woods Hole Research Center e pelo uma redução da diversidade de espécies de afetando o balanço do ecossistema e a ASSOCIADA À SUA
florestais não-madeireiros. No que se refere IPAM, evidenciou-se que, enquanto uma floresta árvores e da fauna. Na Bolívia, por exemplo, composição das espécies da floresta. Com ANTIGÜIDADE. UMA
ao serviço de regulação, compreendem as madura concentra 130 megagramas de carbo- a floresta que não sofreu perturbações tem ele, a floresta fica mais sensível ao fogo por
FLORESTA MADURA
mudanças nos padrões de regulação do clima, no por hectare (Mg C/ha), a floresta secundária uma quantidade de biomassa 43% maior influência direta do fluxo de luz sobre o grau
CONCENTRA 130
a redução da capacidade de absorção de car- contém 34,4 Mg C/ha e uma área de pastagens que aquelas que foram afetadas pelas ativi- de secura da matéria combustível. Em um
bono e a alteração do ciclo hidrológico, entre 3 Mg C/ha; de igual forma, a reacumulação de dades anteriormente indicadas, bem como estudo realizado na Amazônia brasileira,
MEGAGRAMAS
outros (Foley et al., 2007). Por outro lado, o nitrogênio, fósforo, potássio e cálcio no solo su- 70% mais diversidade de espécies de ma- constatou-se haver uma relação inversa en- DE CARBONO POR
desmatamento atinge não somente o funcio- perficial da floresta secundária é superior (20%, míferos de pequeno porte (Fredericksen; tre a densidade do fluxo de luz e o número HECTARE, AO PASSO
namento da vida silvestre, limitando a capa- 21%, 42% e 50% respectivamente) à registra- Fredericksen, 2002). Esse tipo de impacto de dias necessários para que os galhos das QUE UMA FLORESTA
cidade de provisão de bens para o consumo da na floresta primária. No outro extremo, a área também foi documentado para outras áreas árvores cheguem ao ponto em que possam SECUNDÁRIA
da população e de uso industrial, mas afeta degradada de pastagens concentra apenas 2%, da floresta amazônica (Azevedo-Ramos; Do propagar chamas (Holdsworth; Uhl, 1997). APENAS 34,4
também a hidrologia regional e o clima global 4%, 15% e 11% de cada elemento, nessa or- Carvalho; Do Amaral, 2006; Lambert; Mal- Trata-se de uma preocupação importante MEGAGRAMAS POR
(Laurance; Vasconcelos; Lovejoy, 2000). dem (Markewitz et al., 2004). colm; Zimmerman, 2005). para o Brasil e a Guiana. HECTARE.
200
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >201

mente, o hábitat das espécies da flora e da


fauna aquáticas.
A CONTAMINAÇÃO
O desenvolvimento de sistemas agropro- DA ÁGUA POR
dutivos não-sustentáveis gerou mudanças MERCÚRIO PROVOCA
nos padrões culturais e produtivos na re- MUDANÇAS NOS
gião amazônica e nas comunidades locais.
NICHOS ECOLÓGICOS
As práticas produtivas que visam aumentar
DA FAUNA LOCAL
a produtividade sem considerar os impactos
ambientais levaram ao uso crescente de agro-
ATRAVÉS DA SUA
químicos, prejudicando, assim, o equilíbrio BIOACUMULAÇÃO
dos ecossistemas. A esse respeito, as preo- NAS CADEIAS
cupações ambientais estão voltadas para a TRÓFICAS.
toxicidade que afeta os microorganismos do
solo, insetos, plantas e aves benéficos não
apenas para a agricultura, mas também para
outras atividades econômicas (Wood; Sebas-
tian; Scherr, 2000). Os sistemas agroproduti-
vos não-sustentáveis atingem negativamente
o serviço de suporte correspondente à ferti-
lidade do solo, e, portanto, limitam sua capa-
cidade produtiva para a agricultura.

A crescente compactação dos solos, a re-


dução de nutrientes e de material orgânico,
entre outros problemas, reduz a disponibili-
dade de terra para o desenvolvimento agríco-
la e aceleram a degradação do solo, afetando
a resiliência dos ecossistemas.

Embora, de um modo geral, a contami-


nação das águas superficiais e subterrâneas
por pesticidas não tenha sido significativa na
região, há locais em que a situação é alar-

ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO


mante. Apesar de não contar com suficientes
estudos, foi relatada uma alta sensibilidade
dos organismos aquáticos aos pesticidas
❱❱❱ Obras de infra-estrutura tais como oleodutos ou gasodutos também podem ocasionar a organoclorados, os quais são facilmente bio-
deterioração do meio ambiente em situações de emergência (vazamentos, explosões). acumuláveis. Sabe-se, ainda, que o uso de
fungicidas pode ter impactos negativos nas
populações de peixes tropicais (Pardon; Gu-
Outro serviço ecossistêmico de impor- vazamento de hidrocarbonetos, entre outras) espécies de peixes carnívoros estão acima dos dynas, 2005; Pasquis, 2006; Global Water
O corte seletivo tância para todo o planeta fornecido pelas afeta o ciclo de nutrientes na água e leva à per- limites estabelecidos pela OMS (Hacon; Aze- Partnership, 2001).
florestas é o armazenamento de aproxima- da de espécies aquáticas e a danos irreversíveis vedo, 2006). A exploração informal de ouro é
favorece a regeneração damente 10% do carbono em sua biomassa nos serviços ecossistêmicos proporcionados uma fonte importante de lançamento de mer- As marcas da degradação ambiental na
(Foley et al., 2007). Como conseqüência do pelos recursos hídricos (perda da capacidade cúrio na natureza, que contribui com 3% do Amazônia sobre os serviços ecossistêmicos
de determinadas desmatamento e das queimadas, o serviço de autodepuração, redução da disponibilidade mercúrio existente na região, isto é, 150 TM/ trazem à luz o limitado conhecimento sobre
espécies, mas de captação de carbono foi reduzido, libe- de água para uso em outras atividades). ano (ver capítulo 3, seção 3.3). o funcionamento do ecossistema amazônico
rando enormes quantidades de carbono na e os custos intertemporais associados a essa
afeta o equilíbrio atmosfera (Fearnside, 2005). Na Amazônia há uma grande preocupação Além disso, a intensificação do arrasto deterioração. Tal situação revela a importân-
com os efeitos ocasionados pela contaminação de sedimentos devido ao desmatamento cia da promoção de pesquisa científica in-
do ecossistema e A deterioração da qualidade da água devido da água com mercúrio, em razão das alterações nas cabeceiras da bacia, à expansão agro- terdisciplinar com o propósito de melhorar a
a composição das aos dejetos despejados por diferentes ativida- produzidas nos nichos ecológicos da fauna local pecuária e à construção de infra-estrutura compreensão da magnitude dos custos am-
des (mercúrio empregado no garimpo de ouro, por sua bioacumulação nas cadeias tróficas. De viária mal projetada afeta as condições na- bientais na Amazônica e alertar para a urgên-
espécies da floresta. nitratos e químicos contidos nos agroquímicos, fato, as concentrações de mercúrio em muitas turais dos cursos d’água e, conseqüente- cia de uma ação conjunta perante eles.
202
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >203

GRÁFICO 4.1
como a dengue, a febre amarela, o mayaro
Impactos sobre o bem-estar humano
e o oropouche, entre outros que ocorrem
naturalmente na região. Na ilha de Marajó,
MUDANÇAS NA SITUAÇÃO COMPONENTES DO observou-se uma alta incidência de febre
IMPACTO
DO AMBIENTE BEM-ESTAR HUMANO amarela por causa da migração, portada para
as áreas de ocorrência do vetor por pessoas
não-imunes (Vasconcelos et al., 2001) (tabe-
la 4.1). Há evidências de que a colonização, o
BIODIVERSIDADE garimpo, a construção de barragens e outras
AMBIENTE NATURAL atividades que geram alterações no meio am-
biente amazônico afetam a epidemiologia, a
ecologia, os ciclos vitais e a distribuição desse

CAP
FLORESTAS grupo de vírus (Vasconcelos et al., 1992).

A malária é uma das doenças transmissí-

ACI
SAÚDE
veis de alta incidência na Amazônia, e o des-
RECURSO HÍDRICO E matamento foi apontado como uma de suas

DAD
ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS principais causas. Alguns estudos indicam
que há um considerável aumento na ativida-
de do vetor da malária em uma determina-

ES
ATIVIDADES ECONÔMICAS da área quando 20% de sua superfície são
SISTEMAS E ECONOMIA desmatados, elevando-se, assim, o risco de
AGROPRODUTIVOS expansão da doença. Segundo a Organização
Mundial da Saúde, entre 400.000 e 600.000
pessoas contraem malária anualmente na
Amazônia (Walsh; Molyneux; Birley, 1993;
ASSENTAMENTOS
RELAÇÕES SOCIAIS Foley et al., 2007).
URBANOS

No Suriname, há uma ligação entre as áre-


Fonte: PNUMA (2006). as de garimpo de ouro e os centros de trans-
missão da malária e de outras doenças tropi-
cais (Heemskerk, 2001). Os poços perfurados

4.2|IMPACTOSSOBRE por garimpeiros para a obtenção de água são


locais apropriados à reprodução de mosquitos
e outros organismos vetores de doenças.
OBEM-ESTARHUMANO
A Amazônia peruana é uma das áreas
O bem-estar humano refere-se à capacidade das pessoas de viver IMPACTOS SOBRE A onde a incidência da malária é particularmen-
o tipo de vida que mais valorizam e à oportunidade de realizar seus SAÚDE HUMANA te alta. Além disso, a deterioração do hábitat
desejos. Entre os componentes essenciais ao bem-estar humano, e o desmatamento têm levado à perda tanto
estão a saúde, o acesso aos bens materiais, a segurança e as rela- Os principais impactos da degradação ambiental so- de conhecimento etnobotânico a respeito

LINO CHIPANA / EL COMERCIO


ções sociais (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente bre a saúde são: maior incidência de doenças asso- da região como de espécies com potencial
[PNUMA], 2007b). ciadas ao aumento no desequilíbrio presa-predador; antimalárico e de biocidas tradicionalmente
mudanças no padrão alimentar; e agravamento da usados pelas comunidades (Pérez, 2002).
A análise dos efeitos da degradação ambiental sobre o bem-estar insegurança alimentar.
humano implica considerar as conseqüências da situação ambiental A perda de espécies empregadas na
sobre a saúde da população, bem como sobre as atividades econô- A redução da biodiversidade é, de fato, um dos medicina tradicional prejudica a saúde da ❱❱❱ A redução de biodiversidade é um dos fatores que levou ao ressurgimento de
micas e relações sociais. Os efeitos sobre a saúde dizem respeito ao fatores que propiciaram o reaparecimento de doen- população local, levando-a a tornar-se cada doenças infecciosas e ao aparecimento de novas doenças.
aumento na incidência de doenças por causas ambientais. Os impac- ças infecciosas ou o surgimento de novas doenças vez mais dependente da medicina ocidental.
tos na economia e nas atividades econômicas referem-se às restrições humanas, devido ao desaparecimento dos predadores Por exemplo, em 1997, o Inrena relatou que
ou facilidades para acessar bens e serviços, assim como à renda e naturais dos agentes transmissores dessas doenças na Amazônia peruana foram utilizados para
aos ativos necessários para manter uma qualidade de vida aceitável. (Millenium Ecosystem Assessment, 2006). fins medicinais 340 espécies, 229 gêneros e
Finalmente, as relações sociais estão ligadas aos conflitos gerados pelo 88 famílias botânicas. Muitas comunidades
acesso e uso dos recursos naturais, com a perda da coesão social e os Na Amazônia brasileira, por exemplo, encontram- indígenas se organizaram para estabelecer
valores culturais locais, dentre outros (gráfico 4.1). se vírus e arbovírus patogênicos para os humanos, programas de saúde, no entanto Montenegro
204
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >205

TABELA 4.1 Quadro 4.1


que vêm se alastrando na região, inclusive a gripe. Esses
Arbovírus na Amazônia brasileira e prováveis causas de seu surgimento EQUADOR: EFEITO DA EXTRAÇÃO DE PETRÓLEO
grupos foram atingidos em seu hábitat pela derrubada
NA SAÚDE DA POPULAÇÃO AMAZÔNICA
de árvores, pelos incêndios florestais e pela exploração
VÍRUS CAUSAS PROVÁVEIS DE SURGIMENTO DOENÇA EM HUMANOS de petróleo e gás e foram obrigados a se deslocar das Em maio de 2003, a empresa Chevron Texaco foi levada à
áreas que ocupavam tradicionalmente. justiça pelos impactos ambientais e sociais provocados na
DENGUE Controle precário do mosquito, urbanização da Amazônia Sim, epidêmica. floresta amazônica do leste do Equador, particularmente
Por último, a degradação do ecossistema amazôni- pela contaminação da água. Tratou-se do primeiro caso
GAMBOA Barragens hidrelétricas, aves migratórias Não se registraram casos até o momento. co também tem implicações na segurança alimentar: promovido de forma coletiva contra uma empresa
são afetadas tanto a saúde da população quanto a dis- estrangeira fundamentado nos danos ao meio ambiente e
GUAROA Barragens hidrelétricas Sim, casos esporádicos. ponibilidade de alimentos nativos e de água de qualida- à sociedade causados pela empresa ao longo de duas
de para atender à produção de alimentos. A população décadas de operação. Apresentado originalmente nos
MAYARO Desmatamento Sim, sazonal. em situação de pobreza é um dos grupos vulneráveis Estados Unidos, em 1993, foi o primeiro caso em que a
atingidos, agravando-se assim seu estado de desnutri- jurisdição do Equador foi aceita por um tribunal norte-
OROPOUCHE Desmatamento; urbanização e colonização da Amazônia Sim, epidêmica. ção (Foley et al., 2007). americano.

TRINITI Barragens hidrelétricas Não se registraram casos até o momento. IMPACTOS NA ECONOMIA O povoado de San Carlos (cantão de Sachas, província de
Orellana) é conhecido como a “zona do câncer”, epíteto
A deterioração dos serviços ecossistêmicos decorrente do baseado no elevado número de casos dessa doença
FEBRE AMARILLA Urbanização, desmatamento, ausência de imunização Sim, epidêmica.
processo de degradação ambiental na Amazônia não foi registrados na região. Ao que tudo indica, as operações de
Fonte: Vasconcelos et al. (2001).
quantificada economicamente, mas sem dúvida tem um exploração de petróleo da Texaco estão ligadas à elevada
valor. Tampouco se conhecem com exatidão os custos morbidade da localidade, onde ocorrem altas taxas de
para o tratamento das águas das bacias dos rios poluídos, leucemia entre crianças, quatro vezes maiores que em outras
nem os custos para mitigar os impactos ambientais as- áreas. No julgamento, a acusação alegou ainda que a
e Stephens (2006) citam vários estudos que outra fonte de energia disponível, a vulne- As populações sociados ao desmatamento. Em muitos casos o valor de contaminação havia sido responsável por levar duas naciona-
sugerem que muitas das populações locais rabilidade às doenças e à desnutrição vem coisas intangíveis não é levado em consideração ou é de lidades indígenas (Cofán e Secoya) à beira da extinção, e por
ainda têm acesso limitado aos programas crescendo, em razão do consumo tanto de locais ainda têm difícil quantificação, sobretudo porque aspectos como a ter causado a extinção de uma terceira (Tetete).
e serviços de saúde, os quais, mesmo que água (sem ferver) contaminada por microor- regulação do clima não possuem um valor no mercado
existam, são freqüentemente inadequados ganismos quanto de alimentos malcozidos.
acesso limitado que permita expressá-los em termos monetários. Por isso,
do ponto de vista cultural. aos programas e nesta seção são apresentadas algumas quantificações Fontes: <http://www.texacotoxico.com>, <http://www.sustainlabour.org/
documents/latam/Informe%20-20Medio%20Ambiente%20ALC.doc>
Outra doença considerada problema dos impactos econômicos da perda de biodiversidade e
Foley et al. (2007) destacam que o de saúde pública na Amazônia é o mal de serviços de saúde; do desmatamento para os quais se dispõe de informação
desmatamento e a degradação da floresta Chagas, causado pelo parasita Tripanosoma e com base nos quais é possível afirmar que os impactos
comprometem a disponibilidade de plantas cruzi, transmitido pela picada do percevejo
de modo geral, reais na Amazônia são ainda maiores.
e substâncias medicinais empregadas no conhecido como barbeiro (Triatoma infes- quando existentes, comercial atinge as empresas, dado o menor potencial
cuidado à saúde (Shanley; Luz, 2003). O tans). Essa doença debilita órgãos como o A perda de espécies de uso potencial (como produ- de geração de lucros em razão da menor disponibilidade
desmatamento afeta o hábitat dos vírus ou coração, o esôfago e o cólon durante um lon- são culturalmente tos farmacêuticos ou manufaturados) ou a escassez de destas. Além disso, a falta de emprego ou o número li-
exerce pressão sobre essas áreas, acarretan- go período, de dez a vinte anos. Sua propa- espécies nos mercados devido a sua superexploração ou mitado de possibilidades de geração de renda produzem
do sua migração e levando ao surgimento de gação foi facilitada por alterações no hábitat,
inadequados. desaparecimento têm um grande impacto econômico, uma migração de populações extrativistas para outros
doenças em locais onde não haviam sido re- como a derrubada de árvores e arbustos e de difícil avaliação. A escassez manifesta-se no aumento municípios ou locais.
latadas antes (Schoeler et al., 2003). as queimadas, a substituição de vegetação dos preços, ao passo que o desaparecimento de espé-
primária por cultivos agrícolas e a expansão cies constitui uma perda total de seu valor. Destacam-se, Um exemplo interessante desse impacto é o do mog-
O número de casos de doenças respirató- dos núcleos urbanos, inserindo a população por exemplo, o crescimento no número de pragas nas no. No Peru, essa espécie foi incluída no apêndice II da
rias também cresceu na Amazônia, devido à no ciclo de transmissão silvestre da doença. lavouras resultante do desaparecimento de seus agentes Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies
freqüência cada vez maior de incêndios liga- Os insetos alojam-se em fendas e buracos naturais de controle ou o desaparecimento de atividades da Fauna e da Flora Silvestres em Perigo de Extinção (CI-
dos à conversão de florestas naturais. Além nas paredes das casas e picam seus mora- turísticas na região pela perda de recursos paisagísticos, TES), em 2003. A maior parte da produção de mogno é
disso, um grande número de habitantes con- dores (Organização Pan-americana da Saúde beleza cênica, dentre outros. exportada, muito embora a tendência aponte para uma
tinua utilizando combustíveis sólidos para [OPS], 2005; Cáceres et al., 2002). A esse redução no volume das exportações. O valor mínimo de
cozinhar e se aquecer na Amazônia. A con- respeito, os países amazônicos firmaram a O desmatamento e a degradação das florestas apre- mogno exportado ocorreu nos anos 2005 e 2006, quan-
taminação atmosférica produzida por esses “Iniciativa dos países amazônicos para a vigi- sentam impactos econômicos na medida em que elimi- do foi estabelecida a Quota Nacional de Exportação. O
combustíveis, assim como a precariedade lância e controle da doença de Chagas” (Ya- nam três produtos com potencial comercial: a madeira, os volume de exportação foi de 23.584,54 m3 em 2005 e
dos fogões dentro das casas, respondem por magata; Nakagawa, 2006). produtos não-madeireiros (p.ex., a castanha-do-pará) e de 21.802,13 m3 em 2006. O valor dessas exportações
níveis significativos de mortalidade e morbi- os serviços ecossistêmicos. Assim, o desmatamento leva foi de US$40.143.539 (média para os anos de 2000 a
dade por doenças respiratórias, especialmen- A população das comunidades indígenas à extinção de espécies de valor econômico (Tabarelli; Da 2006), que representa aproximadamente 23% do total
te entre crianças. Nas áreas onde a demanda que vivem em isolamento voluntário tam- Silva; Gascón, 2004) e à procura de novas áreas para das exportações de madeira. Nos últimos anos, esse valor
de madeira excedeu a oferta local e não há bém é mais vulnerável a diferentes doenças a extração de recursos. A escassez de madeira de valor médio caiu para US$35,7 milhões (Peru: Instituto Nacio-
206
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >207

gráfico 4.2 TABELA 4.2


Peru: exportação de mogno Mitigação total de carbono anual e receita associada por meio da agricultura sustentável, da
redução do desmatamento e do reflorestamento (2003-2012)
Vol. m³ Valor FOB
60.000 60.000.000 CARBONO TOTAL GERADO VALOR PRESENTE LÍQUIDO 2003-2012
PAÍSES
PELAS ATIVIDADES 2003-2012 TODAS AS ATIVIDADES
AMÉRICA LATINA
50.000 50.000.000
BOLÍVIA 137,0 US$1.041,7
BRASIL 750,2 US$ 5.614,3
40.000 40.000.000
COLÔMBIA 68,6 US$ 511,4
COSTA RICA 12,9 US$ 97,0
30.000 30.000.000
EQUADOR 77,0 US$ 580,8

20.000 20.000.000 GUATEMALA 27,0 US$ 202,5


GUIANA 21 US$ 15,1

10.000 10.000.000 HONDURAS 18,3 US$ 134,5


MÉXICO 63,7 US$ 467,7
0 2000 01 02 03 04 05 06
0 NICARÁGUA 14,1 US$ 103,7
586.652 3.284.287 520.755 4.240.640 307.659 2.358.454 20.028
467.882.036 35.040.374 55.945.941 4.885.725.277 294.582.334 3.532.840.737 3.604.288.166 PANAMÁ 22,2 US$ 168,4
PARAGUAI 68,8 US$ 521,6
Fonte: Peru: Ministério da Agricultura (2007).
PERU 28,4 US$ 204,0
VENEZUELA 58,9 US$ 442,6
nal dos Recursos Naturais [Inrena], 2007). la 4.2.
Presume-se que, para 2007, a queda tenha SUBTOTAL 1.349,1 US$10.105,3
sido maior devido à nova redução da quota. Também a esse respeito, Killeen indica UMA REDUÇÃO Fonte: Niles et al. (2001).
No caso do Brasil, os preços do mogno flutu- que o maior ativo econômico da Amazônia DE 5%/ANO
am de outra maneira. Normalmente sobem são suas reservas de carbono, estimadas NA TAXA DE
quando há controles a limitar o corte ilegal em US$2,8 bilhões se fossem negociadas DESMATAMENTO potável e de esgotos existentes atualmente
da espécie. Recentemente, o Equador pôs no mercado atual. Por exemplo, um acor-
DURANTE 30 Por outro lado, a situação dos recursos foi financiada fundamentalmente pelos pró- Nas zonas urbanas,
em prática a proibição do corte de mogno do entre os países amazônicos para reduzir hídricos na Amazônia gera importantes im- prios usuários (associações de moradores)
ANOS PODERIA o abastecimento de
e cedro, levando a uma alta nos preços no suas taxas de desmatamento em 5% ao pactos na economia da população local, tanto e pelos governos nacionais e/ou locais, com
mercado paralelo. ano, durante trinta anos, poderia qualificar
GERAR US$6,5 nas zonas urbanas como nas rurais. Nas ur- recursos repassados pelo governo nacional
como uma redução na emissão de gases de BILHÕES PARA banas, o abastecimento de água potável para (Nippon Koei LAC e Secretaria Geral da Co-
água potável para
OS PAÍSES
O desmatamento nos países amazônicos, efeito estufa e gerar em torno de US$6,5 bi-
AMAZÔNICOS
uma população cada vez maior traz consigo a munidade Andina, 2005). uma população
por um lado, levou à adoção de medidas de lhões ao ano ao longo desse período. Distri- necessidade de investimentos, que hoje em
mitigação que implicaram a destinação de buída de modo eqüitativo entre os cerca de PELA REDUÇÃO dia não são suficientes para se conseguir uma O estado dos recursos hídricos na cada vez maior
recursos adicionais do orçamento público ao 1.000 municípios da Amazônia, tal quantia NAS EMISSÕES cobertura plena. Somando-se a isso a conta- Amazônia gera outra série de impactos
aperfeiçoamento do monitoramento e da fis- corresponderia aproximadamente a US$6,5 DE GEE. minação das fontes de água, o resultado é um econômicos. Embora ainda não existam
traz consigo a
calização do manejo das florestas; por outro, milhões ao ano por comunidade e poderia serviço mais caro. Como pode ser observado provas definitivas a respeito da variabili- necessidade de
significou a perda de receitas em potencial ser investida em saúde e educação, duas na tabela 4.3, a área amazônica dos países dade e possível redução da vazão dos rios
por serviços ecossistêmicos associados à das prioridades na maioria das comunidades andinos demandará investimentos da ordem amazônicos, é de esperar que o abasteci- mais investimentos,
conservação da floresta, como os créditos de (Killeen; Da Fonseca, 2006). Mesmo que de US$11,9 bilhões em água e saneamento mento de água potável nas cidades, bem
carbono, muito embora esse mercado ainda essa opção de venda de serviços de car- no período 2002-2015. como a disponibilidade de água para as
que hoje em dia
não esteja em pleno funcionamento. Estudo bono não esteja totalmente desenvolvida e lavouras, sejam afetados caso tal redução não são suficientes
realizado por Niles et al., (2001) estimou o que alguns países ainda tenham ressalvas Nas grandes cidades, essa situação impor- venha a ocorrer.
valor presente líquido dos benefícios que os quanto a entrar nesse sistema, ela constitui tará o aumento das tarifas, atingindo direta- para atingir uma
países da América Latina deveriam receber uma oportunidade de revelar um referencial mente os usuários, uma vez que tais serviços Com relação à atividade pesqueira na
cobertura plena.
com a implantação de medidas de mitigação do valor potencial da região. são fornecidos por concessionários privados. Amazônia, sabe-se que boa parte da econo-
de carbono. Os dados encontram-se na tabe- Na zona rural, a maioria dos sistemas de água mia regional e da alimentação da população
208
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >209

TABELA 4.3
Países andinos: investimentos em água e saneamento na região amazônica (2002-2015)
(em milhões de dólares)

ENDIVIDAMENTO
PAÍS PERÍODO MONTANTE MÉDIA ANUAL
EXTERNO (%)

BOLÍVIA 2002 / 2010 1.069 118,8 46.6

COLÔMBIA* 2003 / 2006 1.358 339,5 s.i.

EQUADOR 2003 / 2015 2.017 144,1 16,1

PERU 2002 / 2011 2.404 240,4 10,3

VENEZUELA* 2004 / 2015 5.053 421,1 s.i.

TOTAL 2002 / 2015 11,901 1.263,8

Fonte: Nippon Koei LAC Co.; Secretaria Geral da Comunidade Andina (2005).

ERNESTO ARIAS/ EL COMERCIO


* A participação na Colômbia e na Venezuela é relativamente menor que nos outros países

se baseia na utilização da diversidade de or- a preço de um maior desmatamento, o que


ganismos aquáticos, especialmente peixes, significa uma elevação dos custos do de-
NA AMAZÔNIA que constituem importantes dinamizadores senvolvimento de atividades produtivas no ❱❱❱ A disposição final inadequada de resíduos sólidos põe em risco a saúde da população.
econômicos, sociais e culturais na região. Des- longo prazo.
BRASILEIRA, A
de a década de 90, os recursos pesqueiros
AGROPECUÁRIA vêm gerando fluxos comerciais entre US$100 Cabe mencionar que os custos ambien- ambientais, como poluição do ar, poluição mercado são quantificáveis, ainda que na maio-
OCUPA MAIS DE milhões e US$200 milhões anuais (Bayley; tais da agropecuária na região não foram sonora decorrente da frota de automóveis e ria das vezes sejam calculados os benefícios, e

30%
Petrere, 1989; Petrere, 1989; Almeida et al., quantificados. A contaminação da água leva contaminação da água, conforme referido no não os custos. Por outro lado, aqueles impactos A AUSÊNCIA DE UM
2006; Barthem; Goulding, 2007), que podem à redução e ao desaparecimento de peixes capítulo 3, seção 3.5. Tais fatores, quando aci- que não estão associados ao mercado não fo- PLANEJAMENTO
ser afetados pela redução de espécies. e afeta a vida de outras espécies, tendo im- ma de um determinado limiar, podem afetar a ram suficientemente quantificados, não sendo ADEQUADO DO
pactos econômicos importantes. Entretan- produtividade da população em suas atividades possível determinar com certeza sua magnitu- CRESCIMENTO
DA POPULAÇÃO No que diz respeito ao impacto econô- to, a agropecuária também gera benefícios. diárias e aumentar as despesas com o trata- de. Essa situação aponta para a necessidade de
ECONOMICAMENTE URBANO DÁ LUGAR
mico gerado pelo funcionamento dos siste- Na Amazônia brasileira, representa cerca mento de doenças. No entanto, não se dispõe desenvolver estudos detalhados que permitam
ATIVA. AO SURGIMENTO
mas agroprodutivos, observam-se distintas de 20% do PIB regional e ocupa mais de de informação específica sobre o assunto. conhecer a relação custo-benefício da degrada-
situações. A agricultura de grande escala 30% da população economicamente ativa. ção ambiental amazônica.
DE ATERROS
favorece a criação de mais empregos na Como foi mencionado anteriormente, nos O desenvolvimento dos assentamentos SANITÁRIOS
região, ocasionando impactos econômi- últimos anos ocorreu uma importante ex- humanos na Amazônia levou à promoção RELAÇÕES SOCIAIS: INFORMAIS.
cos positivos no bem-estar da população. pansão da área cultivada. de investimentos em infra-estrutura viária CONFLITOS
Além disso, as mudanças no mercado dos dentro das cidades e no seu entorno, com
últimos anos promoveram um processo de O crescimento desordenado dos assenta- a finalidade de possibilitar uma adequada Os conflitos gerados pelo uso dos ecossis-
concentração de terra que trouxe consigo mentos humanos amazônicos afeta a popula- articulação das aglomerações urbanas. Essas temas amazônicos (por conversão ou ex-
maiores investimentos em sistemas pro- ção na medida em que o acesso aos serviços iniciativas têm um impacto econômico posi- ploração de recursos minerais, petroleiros,
dutivos tecnologicamente mais avançados, básicos e o desempenho destes são compro- tivo nas atividades produtivas desenvolvidas hídricos) não só afetam a biodiversidade e o
bem como a elevação da produtividade. No metidos. Na maioria dos casos, o desenvol- pelos habitantes, sem dúvida, mas também uso sustentável desses ecossistemas como
entanto, esse tipo de produção baseado na vimento de infra-estrutura não acompanha o apresentam custos ambientais associados. também atingem os atores locais, quer as
monocultura tem um alto custo para as di- ritmo da acelerada dinâmica de crescimento populações indígenas quer os colonos. A
versas atividades econômicas, devido à de- dos assentamentos humanos, provocando Em síntese, os impactos econômicos do falta de regulação, a insegurança quanto ao
terioração dos serviços ecossistêmicos. Por impactos na economia das famílias. estado do meio ambiente na Amazônia são planejamento, a especulação e a invasão de
outro lado, em países como Peru, Equador e positivos em alguns casos; em muitos outros, terras são conseqüências dos processos de
Bolívia, a agricultura migratória de pequena Os habitantes das cidades mais desenvol- porém, são negativos e variam quanto à mag- colonização dos ecossistemas tropicais. A
escala gera receitas de curto prazo, porém vidas da Amazônia são afetados por problemas nitude. Os impactos que estão associados ao entrada clandestina de colonos, a extração
210
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >211

TABELA 4.4
Principais impactos econômicos relacionados ao estado dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos

VARIABILIDADE DA QUANTIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS

- Aumento dos custos de acesso à água (principalmente nas cidades).


- Redução drástica do transporte fluvial.
- Implicações na economia (diminuição da produção agropecuária, elevação dos preços de alimentos básicos devido à menor disponibilidade).

POLUIÇÃO DAS ÁGUAS

- Menor procura por produtos agrícolas e hidrobiológicos (maior risco de consumir alimentos contaminados).
- Aumento de gastos públicos com tratamento de doenças.
- Diminuição da produção agropecuária para autoconsumo.
- Desestímulo para o desenvolvimento de atividades econômicas.

MAIOR SEDIMENTAÇÃO

- Aumento da produção agrícola nas margens dos cursos d´água durante a vazante.
- Encurtamento da vida útil de barragens e complexos hidrelétricos.

PADRO MAYOR / GABEL SOTIL / RED AMBIENTAL


- Menor navegabilidade.

REDUÇÃO DE RECURSOS HIDROBIOLÓGICOS

- Escassez de alimentos.
- Redução da renda em decorrência da maior dificuldade para capturar peixes.
- Mudança de atividades: abandono da pesca. Os pescadores passam a se dedicar à agricultura, gerando maior impacto sobre a floresta.
❱❱❱ Os habitantes da Amazônia têm consciência da degradação ambiental da sua região e
Fonte: autores.
levantam a voz em protesto.

mais do que quaisquer outras. O caso de Cami-


ilegal da madeira, a presença de invasores toda a Amazônia brasileira, em diferentes sea, no Peru, ilustra o impacto do avanço dessa amazônicas do Peru, Equador e Colômbia, as
em terras isoladas, etc. são processos que momentos, levando a perdas na região tan- atividade numa população vulnerável, deslo- companhias petroleiras responsáveis foram
dão origem a uma mudança nas relações to no que se refere à cultura (usos e costu- Os povos indígenas cando-a e afetando seu modo de vida. Casos denunciadas às cortes internacionais pelos A DESIGUALDADE,
sociais existentes e, em muitos casos, a con- mes) quanto ao conhecimento tradicional como esse se repetiram com populações mais habitantes atingidos. Suas atividades gera- A EXCLUSÃO
flitos entre grupos sociais. sobre o uso da biodiversidade (medicinal, também são afastadas do Brasil, da Colômbia (o Bloco Siriri) vam grandes quantidades de resíduos de SOCIAL DAS
agrícola ou relativo a práticas extrativistas e do Equador. Em Yasuni, região da Amazônia petróleo e os campos eram posteriormente POPULAÇÕES E
Freqüentemente, as conseqüências sustentáveis).
afetados pelo equatoriana que abriga uma impressionante abandonados sem que nenhuma medida
O SURGIMENTO
sociais desencadeadas pela perda da bio- desenvolvimento diversidade biológica, empreendimentos pe- para sua biorrecuperação fosse tomada.
DE CINTURÕES
diversidade têm impacto no longo prazo. A migração das áreas rurais para as urba- troleiros como o Bloco 31 e o megaprojeto
Muitas comunidades indígenas se viram nas é outra causa das mudanças nas relações de atividades Ishpingo-Tiputíni-Tambococha afetaram os po- No caso da Colômbia, como conse-
URBANOS DE
afetadas pela chegada de novas formas sociais. A urbanização desordenada e suas con- vos indígenas em isolamento voluntário perten- qüência de problemas de ordem pública, EXTREMA
e modelos de ocupação do território, que seqüências, como a desigualdade, a marginali-
produtivas, como centes aos grupos Tagaeiri e Taromenane, que contínuos atentados contra infra-estruturas POBREZA GERAM
atingem seu modo de vida tradicional, seus zação social das populações e a formação de a exploração de ali vivem. O governo equatoriano manifestou petroleiras levaram, no passado recente, a CONFLITOS SOCIAIS
costumes e crenças religiosas, bem como bolsões de extrema pobreza, geram conflitos sua firme intenção de não explorar uma jazida vazamentos que atingiram tanto os solos cir- E PROBLEMAS
suas instituições sociais. Por exemplo, al- sociais e problemas de identidade cultural. petróleo e gás. comprovada de milhões de barris de petróleo, cundantes como os cursos d’água. DE IDENTIDADE
deias indígenas nos estados brasileiros do sob a condição de que a comunidade interna- CULTURAL.
Amazonas e de Rondônia foram invadidas Os grupos étnicos ou populações indíge- cional apóie a constituição de um fundo para o
por agricultores, pecuaristas e garimpeiros nas em isolamento voluntário também são desenvolvimento sustentável da região.
de ouro, envolvendo violentos confrontos afetados pelo desenvolvimento de atividades
e a expulsão das populações tradicionais produtivas, como a exploração de petróleo e Diante dos vazamentos de petróleo que
de suas terras. Essa situação se repetiu em gás. Trata-se de populações muito vulneráveis, ocorreram nas cabeceiras das sub-bacias
212
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >213

4.3|Vulnerabilidade
Entende-se por vulnerabilidade um conjunto de características e con-
dições de origem social que fazem com que a sociedade, ou um
componente desta, seja propenso ou suscetível a sofrer perdas e da-
nos quando atingida por eventos que a expõem a perigo ou por fenô-
menos físicos externos (Lavel, 2007). A Amazônia é uma região que
apresenta um alto grau de vulnerabilidade social e econômica, uma
vez que sua população se encontra, em grande parte, em situação de
pobreza (ver capítulo 2).

Um conceito mais amplo de vulnerabilidade, não associado apenas


a eventos físicos, é o que contempla três grandes dimensões (Banco
Mundial-World Resources Institute, 2005a): (i) a exposição a pres-
sões, alterações e imprevistos; (ii) a suscetibilidade de pessoas, locais, ❱❱❱ As casas flutuantes são uma forma de os habitantes ribeirinhos se protegerem
ecossistemas e espécies a pressões ou alterações, e sua capacidade dos impactos das cheias nos rios amazônicos.
SERGIO AMARAL / OTCA
de prever e administrar tais pressões; e (iii) a capacidade de pessoas,
locais, ecossistemas e espécies de resistir e enfrentar imprevistos e
alterações sem deixar de cumprir sua função. EXPOSIÇÃO A ENCHENTES A ocupação urbana sobre terrenos su-
jeitos a inundações implica a redução da
A gama de perigos ou ameaças em potencial à região amazônica Na Amazônia, as enchentes são freqüentes e área disponível para infiltração da água
é ampla e tende a aumentar consideravelmente com o tempo. Por
As inuNDAÇÕES ocorrem todos os anos na época das chuvas. da chuva, bem como a diminuição da
JAVIER MEDINA / EL COMERCIO

um lado, há os perigos naturais associados às dinâmicas geológicas,


SÃO MAIS Concentram-se nas regiões onde os rios têm capacidade de escoamento da calha dos
geomorfológicas, atmosféricas, hidrometeorológicas e bióticas, como FREQUENTES declividade muito pequena e formam mean- rios, aumentando o nível destes e o risco
estiagens, enchentes, transbordamentos, abalos sísmicos, erosões e NOS ÚLTIMOS dros. De igual modo, o intenso e crescente de inundação. Tanto as moradias como
deslizamentos de terra. Por outro, existem os chamados socionaturais, ANOS DEVIDO desmatamento nos setores da vertente dos a infra-estrutura urbana localizadas nas
que são resultado da inter-relação das práticas sociais com o ambien- AOS EFEITOS Andes é responsável por transbordamentos áreas adjacentes aos rios estão sujeitas a
te natural, por exemplo, o desmatamento, a migração, os incêndios ❱❱❱ Condições de abastecimento de água potável precárias DA MUDANÇA nos rios, que facilitam a erosão hídrica das en- freqüentes problemas causados pelas en-
florestais e o aquecimento global. E, por último, os tecnológicos, as- são um risco para a saúde da população amazônica. CLIMÁTICA. costas e o arrasto significativo de solos para as chentes, de modo que a escolha do local
sociados de modo direto e unilateral à atividade humana: acidentes partes baixas, e levam os rios a ampliar seus onde serão estabelecidas é uma questão
ligados à exploração de minérios e de hidrocarbonetos, tais como leitos com o desbarrancamento das margens, da maior importância: por um lado, sua lo-
vazamentos, explosões e incêndios. podendo até ter seu curso modificado. calização pode contribuir para aumentar o
214
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >215

Quadro 4.2
risco de inundações e, por outro, é a que determina as A área silvestre de alta diversidade da
MIGRAÇÃO E VULNERABILIDADE
condições de vulnerabilidade. Outro aspecto comum Amazônia e os hotspots de diversidade do
a muitas cidades pequenas da Amazônia é a ausência Cerrado e dos Andes fornecem ao mundo
de sistemas de drenagem. A imigração para a Amazônia ocorrida no século passado e serviços ecológicos por meio da biodiversi-
intensificada na década de 60 gerou impactos ambientais dade, das reservas de carbono, dos recursos
No Peru, ocorrem enchentes nos cinco departamen- importantes, que contribuíram para elevar os níveis de hídricos e da regulação climática. No âmbito
tos localizados na região amazônica (Madre de Dios, Ama- risco e a vulnerabilidade da população. Os imigrantes, local, os recursos biológicos da região as-
zonas, San Martín, Ucayali e Loreto), onde se encontram vindos principalmente de maiores altitudes, costumam seguram sustento e renda aos habitantes –
quatro grandes bacias hidrográficas: Marañón, Huallaga, reproduzir sua cultura em um meio diferente, desmatando peixes, fauna terrestre, frutos, fibras –, além
Ucayali e Madre de Dios. As enchentes nessa região atin- para estabelecer suas lavouras e construindo suas casas de terem um grande valor para a economia
gem tanto as áreas povoadas como aquelas onde não há com adobe, práticas estas que têm conseqüências mundial. Infelizmente, os sistemas de pro-
população nem se desenvolvem atividades humanas e desastrosas em comparação com as da população nativa. dução baseiam-se na extração de recursos,
que, portanto, não sofrem prejuízos. No primeiro caso, O habitante nativo, por conhecer o meio em que vive, com foco no retorno econômico de curto
trata-se de áreas nas quais os centros habitados, a ativi- sabe onde melhor edificar sua moradia, usa técnicas prazo, tornando-se insustentáveis nos âmbi-
dade agropecuária e a infra-estrutura (estradas, linhas de adequadas capazes de resistir às enchentes, utiliza tos econômico e ecológico. Atualmente, não
energia, etc.) se situam perto das margens dos rios. temporariamente as planícies para o desenvolvimento da há mecanismo ou mercado para converter
agricultura e, de um modo geral, expõe-se menos aos os serviços ecológicos da Amazônia em re-
A ocupação desordenada do território, a qual envolve desastres naturais. cursos financeiros necessários para custear
o desenvolvimento de diferentes atividades em áreas de sua conservação ou subsidiar a gestão sus-
risco, assim como o desconhecimento do ecossistema Recentemente, o desenvolvimento de atividades econô- tentável de seus recursos naturais renová-
amazônico por parte da população imigrante, traduzem- micas como a exploração de petróleo, a mineração e a veis (Killeen; Da Fonseca, 2006).

ISABEL GUERRERO
se no uso inadequado da terra para atividades agrícolas agroindústria, somado ao desenvolvimento da infra-estru-
ou para o estabelecimento de formas de construção im- tura viária, atraiu populações à procura de emprego e O processo de desmatamento da Ama-
próprias, que expõem ainda mais a população amazônica renda. Os municípios obtêm sua receita das atividades zônia desencadeia também uma série de
a eventos naturais e, conseqüentemente, fazem com que econômicas, na forma de impostos, e devem administrar impactos que vulnerabilizam ainda mais os ❱❱❱ A poluição das águas atinge a população mais pobre.
ela seja mais vulnerável que a população de outras regiões os serviços básicos fornecidos a esses grandes fluxos de ecossistemas natural e humano. Nos capí-
aos danos físicos e psicológicos em questão. imigrantes. Devido à limitada capacidade local de gestão, tulos anteriores, examinaram-se as ligações
as populações estão expostas a mais riscos associados à entre a floresta e a regulação climática (ciclo algumas atividades de mineração, o desma- A exploração
Nos últimos anos, as enchentes têm sido mais fre- falta de planejamento. hidrológico) e a conservação da biodiversi- tamento e a contaminação por resíduos de
qüentes devido aos efeitos das mudanças climáticas, ge- dade, significando que, a maiores taxas de substâncias empregadas pelo narcotráfico predatória dos
rando, como conseqüência, custos econômicos para os desmatamento, mais frágeis se tornarão os são fatores que diminuem a capacidade de
países da região. Por exemplo, na área compreendida pelo
Fonte: Peru: Instituto Nacional de Defesa Civil [Indeci] (2006).
ecossistemas, dos quais alguns poderão até resposta a ameaças.
recursos biológicos
departamento de Madre de Dios (Peru), pelo estado do mesmo desaparecer. acima da sua
Acre (Brasil) e pelo departamento de Pando (Bolívia), que Um elemento adicional que se deve levar
integram a iniciativa MAP (Madre de Dios, Acre e Pando), Um exemplo de área frágil, uma vez que em consideração é a segurança alimentar da capacidade de
evidenciou-se um aumento na freqüência de enchentes está exposta à pressão de atividades flo- população amazônica. A degradação da flo-
(Brown et al., 2007). Os prejuízos resultantes na região restais e petroleiras, é Yasuni, na Amazônia resta, a contaminação dos recursos hídricos e
regeneração torna os
do Acre atingiram US$220 milhões nos últimos 20 anos, e equatoriana. Segundo Romo (2008), essa re- o crescimento de centros populacionais estão ecossistemas mais
sua tendência nos últimos anos tem sido aumentar ainda gião tem em apenas um hectare o dobro de gerando mudanças nos padrões de consumo
mais (ver tabela 4.5).
TABELA 4.5
espécies de árvores do que pode ser encon- da população e problemas na disponibilidade frágeis e suscetíveis a
Avaliação de danos causados por inundações no Acre
trado nos Estados Unidos ou em quase toda de alimentos. Sem dúvida, a população mais
EXPOSIÇÃO A ATIVIDADES QUE a Europa. Em um estudo que abrange uma vulnerável é a indígena, que vive da coleta
danos.
DEGRADAM O MEIO AMBIENTE PREJUÍZO ESTIMADO área de não mais do que dez hectares de ou da agricultura de subsistência, embora um
ANO DESASTRE
(DÓLARES) floresta, foram encontradas 107 espécies de grande número de ribeirinhos que vivem do
O limitado conhecimento acerca da biodiversidade 1988 INUNDAÇÃO 90 MILHÕES anfíbios, fazendo desse o lugar com a maior extrativismo também possa ser afetado. Em
amazônica, os altos custos da pesquisa científica e diversidade biológica do planeta no que se outro nível, a produção de biocombustíveis
tecnológica sobre a biodiversidade e a ameaça do trá- 1997 INUNDAÇÃO 33 MILHÕES refere a essa classe. Por isso, Yasuni é um dos à base de cana-de-açúcar e milho também
fico ilegal da biodiversidade fazem com que existam poucos lugares do mundo que podem ser poderia acarretar problemas de segurança
grupos de espécies muito vulneráveis. A exploração 2005 INUNDAÇÃO 84 MILHÕES destacados como hotspots de biodiversidade alimentar aos países da região.
predatória dos recursos biológicos, acima da sua capa- (Romo, 2008).
cidade de regeneração (com o emprego de dinamite, 2006 INUNDAÇÃO 16 MILHÕES MUDANÇAS CLIMÁTICAS
de veneno na pesca, etc.), fragiliza os ecossistemas, A contaminação das águas pelo despe-
tornando-os mais suscetíveis a danos. A falta de pla- TOTAL 220 MILHÕES jo de resíduos sólidos pela população e por A floresta amazônica está estreitamente re-
nejamento no uso da floresta é também um fator que acidentes na exploração de hidrocarbonetos, lacionada com o clima mundial. De acordo
Fonte: Brown (2007).
contribui para aumentar sua vulnerabilidade. a contaminação de mercúrio decorrente de com Nepstad, a Amazônia influencia o clima,
216
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >217

dação da floresta poderia se acelerar devido regiões de Madre de Dios, Pando e Acre, no A expansão da
às relações entre os ecossistemas e o clima sudoeste da Amazônia, durante a estiagem de
da região amazônica. Sabe-se que, caso a 2005 (Aragón, 2007) foram queimados pelo agricultura e
perda de floresta ultrapasse 30% (Nepstad menos 3.000 km2 de florestas em pé (Brown,
et al., 2007), a inibição das chuvas será ainda 2007).
da pecuária, as
mais intensa, criando um círculo vicioso que queimadas, as secas
favorecerá os incêndios na floresta, reduzirá As mudanças climáticas também pro-
a liberação de vapor d´água e aumentará a vocam impactos na saúde da população, e a exploração de
emissão de fumaça na atmosfera, com a con- tornando-a mais vulnerável. No entanto, tais
seqüente supressão da precipitação. impactos variam em magnitude, de acordo
madeira poderiam
com o tamanho, a densidade, a localização e significar o
Os incêndios florestais contribuem para a o bem-estar da população atingida (Githeko
geração de gases de efeito estufa. Ao longo da et al., 2000). As mortes e a taxa de mortalida- desmatamento de
última metade do século passado, evidenciou- de (devido a doenças infecciosas, problemas
se uma redução do intervalo entre incêndios sanitários e danos à infra-estrutura de saúde)
55% da floresta
florestais. Assim, em vez de transcorrerem aumentaram em conseqüência das ondas de úmida amazônica
MIGUEL BELLIDO / EL COMERCIO

séculos entre cada evento, algumas florestas calor, da estiagem, dos incêndios e das en-
estão ardendo a intervalos de cinco a quin- chentes, em razão das mudanças climáticas. até 2030.
ze anos (Cochrane; Schulze, 1999; Alencar; Muitos modelos se dedicaram a analisar as
Nepstad; Vera Diaz, 2006). A cada nova quei- populações urbanas – que, pela precarieda-
mada, a floresta se torna mais suscetível às de de moradia (aglomeração e ventilação
❱❱❱ Os incêndios florestais contribuem para a emissão de gases de efeito estufa. queimadas subseqüentes. A maior freqüência deficiente), são particularmente vulneráveis
de incêndios florestais também está relaciona- a temperaturas extremas (Kilbourne, 1989;
da com o desmatamento. O dossel formado Martens, 1998) –, no entanto, os efeitos das
agindo como um gigantesco consumidor de (mais severa na Amazônia oriental) e ao calor pelas árvores perenifólias da Amazônia prote- mudanças climáticas nas populações rurais
calor perto da terra, e absorve a metade da poderia se agravar com o desaparecimento ge o bosque do intenso sol equatorial, como são diferentes e ainda pouco estudados.
SE A PERDA DE energia solar que chega à superfície por meio em grande escala da floresta na Amazônia um gigantesco guarda-sol que intercepta a
da evaporação da água pela sua folhagem. oriental e sua substituição por vegetação do maior parte da energia solar que chega até a Além disso, as mudanças climáticas au-
FLORESTAS EXCEDER

30%
Além disso, a Amazônia é uma reserva am- tipo savana e semi-árida (Nepstad, 2007). floresta, protegendo o substrato florestal escu- mentaram a infestação de insetos e a pro-
pla e relativamente delicada de carbono, que ro e úmido, muitos metros abaixo. Cada árvore pagação de doenças. Na América do Sul, a
é liberado à atmosfera através do desmata- Pesquisas apontam que a Amazônia que morre ou que é cortada deixa uma falha malária, a leishmaniose, a dengue, a doen-
mento, da estiagem e do fogo, contribuindo apresentou diferentes padrões de precipita- no dossel, através da qual a luz penetra na ça de Chagas e a esquistossomose são as
A INIBIÇÃO DAS assim para o aquecimento global. Por último, ção e temperaturas mais altas sobre as áreas mata, aquecendo seu interior. O aquecimento principais doenças de transmissão vetorial
a água drenada das florestas da Amazônia desmatadas durante o período da seca (Na- e a secagem do substrato florestal são o prin- sensíveis ao clima. Destacam-se também a
CHUVAS SERÁ MAIS
para o oceano Atlântico constitui entre 15 e tional Aeronautics and Space Administration cipal fator determinante do caráter inflamável febre amarela, a peste, a encefalite eqüina
SEVERA. 20% da descarga total mundial de água doce [NASA], 2006) e que a chuva acumulada di- da floresta e muito mais intensos quando a venezuelana e várias causadas por arboví-
fluvial e poderia ser suficiente para influenciar minuiu significativamente no final da estação cobertura florestal é rala ou está bem próxima rus detectadas na região amazônica (p.ex., a
algumas das grandes correntes oceânicas, de chuvas e aumentou no final da estação do solo (Ray; Nepstad; Moutinho, 2005). É febre de Oropouche). Em conseqüência da
por sua vez importantes reguladoras do sis- seca (Chagnon; Bras, 2005). A perda de co- preciso destacar que os incêndios provocados seca provocada pelos eventos de El Niño, as
tema climático global (Nepstad, 2007). Por bertura vegetal implica uma menor absorção pelos raios solares ainda são raros na Amazô- populações do Brasil estão migrando para as
isso, conservar a floresta amazônica é uma de calor, o que resulta em menos umidade nia, entretanto constituem uma ameaça cada cidades à procura de trabalho, o que facilita
questão de alcance e importância mundial, na atmosfera. No longo prazo, isso pode levar vez séria. a transmissão da malária e da leishmaniose
porque dela dependerá a estabilidade do cli- a uma redução das chuvas, o que teria um nestas. Observou-se, todavia, que a malária
ma no planeta. efeito devastador para a população da região, Nas florestas centrais da Amazônia, são também aumentou depois das enchentes
pois até 60% da Amazônia se tornariam sa- abundantes os focos de incêndio de origem associadas a El Niño.
Como foi mencionado na seção 2.5, a vana ainda neste século, segundo estudo re- humana, quer sejam para abrir a floresta para a
Amazônia está vivendo um período de trans- alizado pelo INPE (Nobre; Oyama, 2003). agropecuária quer para melhorar as pastagens. Como foi referido anteriormente, a ba-
formação em decorrência das mudanças No entanto, freqüentemente as queimadas se cia amazônica tem um papel importante no
climáticas. O aquecimento global provavel- Diversos estudos baseados em dados de estendem para além dos limites planejados e ciclo e balanço hídrico da região. Mudanças
mente reduzirá a precipitação em mais de satélites sugerem que o desmatamento na se alastram para as matas próximas. Durante na quantidade e qualidade das águas e na
20% e aumentará a temperatura em mais de Amazônia pode afetar o clima regional. A ex- a estiagem severa de 1998, aproximadamente freqüência das chuvas afetam o hábitat e o
2 ºC (podendo chegar inclusive a 8 ºC) até pansão agropecuária, o fogo, a seca e o corte 39.000 km2 de floresta em pé foram queima- comportamento de muitas plantas e espé-
o final deste século, caso a humanidade não de árvores poderiam significar o desmata- dos na Amazônia brasileira (Alencar; Nepstad; cies de animais. Tais mudanças, somadas aos
seja capaz de reduzir as emissões de gases mento de 55% da floresta úmida amazônica Vera Díaz, 2006), o que representa o dobro da eventos extremos, podem atingir os ecossis-
de efeito estufa. Essa tendência à estiagem até 2030 (Nepstad, 2007). A extensa degra- área de floresta derrubada naquele ano. Nas temas muito além das condições médias.
218
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >219

A ÁGUA POTÁVEL É FUNDAMENTAL PARA O


DESENVOLVIMENTO DE UMA POPULAÇÃO
SAUDÁVEL NA AMAZÔNIA.

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


Respostas
>221

DOS ATORES À SITUAÇÃO AMBIENTAL

amazonica

5.1 GOVERNANÇA
AMBIENTAL

5.2
AUTORAS:
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ATORES
ROSÁRIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru NA REGIÃO
CO-AUTORES:
JUAN CARLOS ALONSO Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia

5.3
LUÍS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
JOANNA KÁMICHE Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru PRINCIPAIS
CARLOS SOUZA Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) – Brasil AÇÕES AMBIENTAIS
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
FERNANDO RODRÍGUEZ Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana (IIAP) – Peru
222
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>223

QUADRO 5.1
A SITUAÇÃO AMBIENTAL DA AMAZÔNIA SUSCITOU UMA SÉRIE DE RESPOSTAS ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔ-
NICA (OTCA)
por parte dos atores da região. Cada país, a partir da sua base institucional ambiental,
desenvolveu ações com um objetivo comum: encontrar respostas para fazer frente à O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) foi firmado no
dia 3 de julho de 1978 pela Bolívia, pelo Brasil, pela Colôm-
degradação ambiental na região. Este capítulo apresenta uma revisão dos caminhos bia, pelo Equador, pela Guiana, pelo Peru, pelo Suriname e
pela Venezuela, com o propósito de promover ações con-
seguidos pelos países para organizar sua base institucional ambiental e chegar às mais juntas para o desenvolvimento harmônico da bacia ama-
importantes políticas relacionadas à gestão ambiental na Amazônia. Além disso, identifica zônica.

os principais atores amazônicos e os processos mais relevantes de ação conjunta regional. Como signatários do Tratado, os países-membros assumi-
ram um compromisso comum para com a preservação do
O propósito do presente capítulo não é fazer uma análise comparativa dos diversos sistemas meio ambiente e a utilização racional dos recursos naturais
da Amazônia.
de gestão ambiental nem tratar em detalhes da sua eficiência e efetividade; entretanto,
importa saber que a forma de organização da gestão ambiental nos países apresenta muitas Em 1995, as oito nações decidiram criar a Organização do
Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), a fim de for-
variações, influenciando, assim, a capacidade de cada um destes de abordar a gestão de talecer e implementar os objetivos do Tratado. A emenda
ao TCA para a criação da OTCA foi aprovada em 1998, e
recursos da região amazônica. a Secretaria Permanente dessa organização foi criada em
Brasília, em dezembro de 2002, instalando-se de maneira

5.1|GOVERNANÇA definitiva nessa cidade em março de 2003.

A OTCA tem como objetivo fortalecer institucionalmente a


AMBIENTAL articulação e a ação conjunta dos países diante das deman-
das da região amazônica e representa um sinal do interesse
Há um grande número de atores interagindo entre si na Amazônia. dos governos em atender de maneira prioritária tais deman-
De um modo geral, seguem um sistema de regras e procedimentos, das. Além disso, busca fortalecer os vínculos entre países
que é responsável pela configuração do marco institucional da gestão por meio da cooperação regional e atender à necessidade
ambiental. O exercício eficiente, eficaz e legítimo do poder de cada de uma visão comum sobre o desenvolvimento sustentável
um dos atores é o que dá lugar à governança (Fontaine; Van Vliet; amazônico.
Pasquis, 2007).
O Plano Estratégico 2004-2012 da OTCA compreende qua-
Base institucional ambiental tro eixos estratégicos: (i) conservação e uso sustentável dos
recursos naturais renováveis; (ii) gestão do conhecimento
Cada um dos oito países amazônicos tem sua própria base institucional e intercâmbio de tecnologia; (iii) integração e competitivi-
ambiental, como será discutido mais adiante. Em nível ecossistêmico, dade regional; e (iv) fortalecimento institucional. Tais eixos
porém, não existe uma base institucional ambiental e, muito menos, abrangem seis áreas temáticas: água; florestas/solos e áreas
uma autoridade comum. No entanto, esses países são signatários do naturais protegidas; diversidade biológica, biotecnologia e
Tratado de Cooperação Amazônica1 (TCA). O TCA tem como objetivo biocomércio; ordenamento territorial, assentamentos hu-
promover esforços principalmente no sentido da preservação do meio manos e assuntos indígenas; infra-estrutura social: saúde e
ambiente e do aproveitamento racional dos recursos naturais da Ama- educação; e infra-estrutura de transporte, energia e comu-
zônia, reconhecendo o direito de cada país de exercer sua soberania nicação (OTCA, 2004).
da maneira mais apropriada. A institucionalização do TCA, por meio da
criação da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), Fonte: OTCA <http://www.otca.info>.
ANTONIO ESCALANTE / EL COMERCIO

propiciou uma instância permanente para consultas entre os países, a


articulação de políticas e a promoção de projetos de desenvolvimento
sustentável para a Amazônia (quadro 5.1).

O marco institucional ambiental dos países amazônicos é variado,


como se pode observar na tabela 5.1. A maioria dos países tem um
ministério responsável pelas políticas ambientais, com a exceção da
Guiana, cuja instituição correspondente não tem status de ministério: ❱❱❱ Os habitantes amazônicos têm consciência dos
seus deveres e direitos como cidadãos.
1 O tratado em si é vinculante, mas não dispõe de um mecanismo de adoção de
decisões vinculantes.
224
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>225

equilibrado, com o que estabelecem um claro estão a cargo exclusivamente das ações de
dever com relação ao uso e à gestão do meio monitoramento e fiscalização; enquanto ou-
ambiente. No Brasil, por exemplo, a Consti- tros, da tomada de decisão e implementação
tuição Federal de 1988 estabelece, no artigo de políticas especificas para a região ama-
225, que todos têm direito ao meio ambiente zônica nacional. De um modo geral, várias
ecologicamente equilibrado, bem de utiliza- instituições têm competência sobre a região
ção comum e essencial à qualidade de vida, amazônica nacional e desenvolvem algumas
e que são a coletividade e o poder público atividades em coordenação com os países
os responsáveis por defendê-lo e preservá-lo vizinhos.
para as presentes e futuras gerações. A Cons-
tituição peruana consagra, nos artigos de 66 As distintas estruturas institucionais
a 69, os recursos naturais como patrimônio voltadas ao meio ambiente citadas no pa-
da nação, comprometendo-se, assim, a velar rágrafo anterior possuem como elementos
pelo seu uso sustentável; promove, ainda, a de articulação uma série de normas que
conservação da diversidade biológica e das possibilitam o desenvolvimento da gestão
áreas naturais protegidas. A Constituição do ambiental. No entanto, para que funcionem
Suriname não é tão explícita quanto às duas com eficiência, é necessário que se estabe-
anteriores, porém estabelece que o objetivo leçam prioridades em termos de políticas,
social do Estado é criar e estimular as condi- haja vista a abrangência do tema e as restri-

ERNESTO ARIAS / EL COMERCIO


ções necessárias à proteção da natureza e à ções a que elas estão sujeitas. Um aspecto
manutenção do equilíbrio ecológico. comum entre os países da região, no que
tange à gestão ambiental da Amazônia, é
Além disso, os países contam com sis- a dificuldade de inserir as prioridades am-
❱❱❱ A voz dos amazônicos é ouvida cada vez mais alto. temas nacionais do meio ambiente, que bientais da região nos planos de desenvol-
organizam as competências e funções das vimento nacional. O Brasil é uma exceção
diversas instâncias de gestão ambiental (ver com o Plano Amazônia Sustentável integra-
a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na tabela 5.1). A Colômbia, por exemplo, conta do ao Plano de Desenvolvimento Nacional,
sigla em inglês). No caso do Peru, o recém- com o Sistema Nacional Ambiental (SINA), cuja última versão foi aprovada em maio de
criado Ministério do Ambiente, que substitui definido como “o conjunto de diretrizes, 2008. A Colômbia também mobilizou es-
A PARTICIPAÇÃO DA
o Conselho Nacional do Ambiente (Conam), normas, atividades, recursos, programas e forços de integração nessa matéria; e, no
SOCIEDADE É entrará em plena operação no início de 2009. instituições que viabilizam a implementação Peru, embora a questão da sustentabilidade
CONSIDERADA É importante destacar que, muito embora a dos princípios gerais ambientais contidos na ambiental esteja contemplada nos acordos
IMPRESCINDÍVEL figura predominante seja a dos ministérios do lei” (Lei no 99/93). “O SINA é composto nacionais, sua inserção nos planos nacionais
PARA A meio ambiente propriamente ditos, como no de: (i) princípios e orientações gerais; (ii) e nas ações específicas ainda é limitada. Em
FORMULAÇÃO DE Brasil, no Equador e na Venezuela, existem ordenamento jurídico atual; (iii) entidades ambos os casos, as regiões de maior impor-
UMA LEGISLAÇÃO outras modalidades institucionais, na Bolívia, do Estado responsáveis pela política e ação tância demográfica e econômica não per-

ERNESTO ARIAS / EL COMERCIO


AMBIENTAL por exemplo, onde as questões ambientais e ambiental; (iv) organizações comunitárias e tencem à Amazônia, de modo que, mesmo
ADEQUADA, PARA os recursos naturais são responsabilidade de não-governamentais ligadas com a proble- se tratando de países amazônicos, a gestão
ISSO FORAM mais de um ministério; e na Colômbia e no mática ambiental; (v) fontes e recursos eco- ambiental nessa região ainda é incipiente.
CRIADOS Suriname, nos quais o ministério atende tam- nômicos para o manejo e a recuperação do
MECANISMOS DE bém a outras áreas (Ministério do Ambiente, meio ambiente; e (vi) entidades públicas, Dados sobre o orçamento público des-
PROMOÇÃO. da Habitação e do Desenvolvimento Terri- privadas ou mistas de geração de informa- tinado à gestão ambiental em geral, e da ❱❱❱ Os mecanismos participativos estão ganhando importância no debate sobre
torial, no primeiro; e Ministério do Trabalho, ção, pesquisa científica e desenvolvimento Amazônia em particular, não estão dispo- problemas comuns e na tomada de decisões.
Desenvolvimento Tecnológico e Ambiente, tecnológico no campo ambiental 2”. Além níveis para todos os países, seja porque as
no segundo). De igual forma, a estrutura da disso, a organização e o funcionamento do contas nacionais não permitem tal diferen-
maioria dos ministérios contempla um comitê Sistema Nacional Ambiental são regulamen- ciação (geralmente as alocações corres-
ou conselho nacional como órgão consultivo tados pelo governo nacional. pondem a setores econômicos), seja por- A participação dos diversos atores locais na
ou multissetorial, que pode ter uma estrutura que não havia essa exigência. Além disso,
gestão dos recursos naturais e na qualidade
muito complexa, como no caso do Brasil. Es- existem dificuldades quanto ao acompa-
sas diferenças evidenciam o tratamento he- Com relação à gestão dos recursos da nhamento do orçamento, motivo pelo qual ambiental se tornou um importante elemento
terogêneo da questão ambiental nos países. Amazônia, observa-se que todos os países também não foi possível determinar sua
contam com órgãos ou institutos especializa- efetividade. Alguns números revelam as na prevenção de conflitos e na promoção da
Todos os países amazônicos fazem algum dos (ver tabela 5.1). No entanto, nem todos diferentes magnitudes orçamentárias dos integração da Amazônia com as demais regiões
tipo de referência em sua constituição políti- exercem as mesmas funções, isto é, alguns países. Por exemplo, em 2005, o orçamen-
ca ao direito de todos a um meio ambiente to federal brasileiro para a gestão ambiental de cada país.
2 Art. 4º do Título II da Lei 99/1993.
226
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>227

TABELA 5.1
Base institucional ambiental dos países amazônicos

BOLÍVIA BRASIL COLÔMBIA EQUADOR GUIANA PERU SURINAME VENEZUELA

Ministério de Desenvol- Ministério do Meio Ministério do Ambiente, Habita- Ministério do Meio Presidente da República Ministério do Ambiente Ministério do Trabalho, Ministério do Poder
vimento Rural, Ambiente e Ambiente ção e Desenvolvimento Territorial Ambiente Desenvolvimento Tecnológi- Popular para o Ambiente
Agricultura (biodiversidade, Subgabinete – Comitê co e Meio Ambiente
recursos florestais e meio Conselho de Governo Conselho Nacional do Ambiente Secretaria Nacional de dos Recursos Naturais e do
ambiente) Planejamento do Ambiente Instituto Nacional do Am-
Conselho Nacional do Desenvolvimento biente e Desenvolvimento
Ministério da Água Ambiente (Conama) Comitê Assessor de Re-
ENTIDADE RESPONSÁVEL PELO MEIO
cursos Naturais e Ambiente
AMBIENTE
(NREAC)

Agência de Proteção
Ambiental

Constituição Política da Constituição Federal Constituição Política da Colômbia Constituição Política da Re- Constituição da República Constituição Política do Constituição da República Constituição da República
República da Bolívia (1967, (1988) (1991) pública do Equador (1998) da Guiana (1980) Peru (1993) do Suriname (1987) Bolivariana da Venezuela
com reformas de 2002) (1999)

REFERÊNCIA AO MEIO AMBIENTE NA


CONSTITUIÇÃO

Instituto Nacional da Instituto Brasileiro do Meio Instituto Amazônico de Pesquisas Instituto para o Desen- Subcomitê de Recursos Instituto Nacional de Ministério do Planeja- Instituto de Pesquisa da
Reforma Agrária Ambiente e dos Recursos Científicas (Sinchi) volvimento da Amazônia Naturais e Meio Ambiente – Recursos Naturais (Inrena) mento Físico, da Terra e do Amazônia Venezuelana
Naturais Renováveis (Ibama) (Ecorae) Comitê Assessor de Recursos Manejo Florestal (IVIA)
Superintendência Florestal CorpoAmazonia C.D.A. Naturais e Meio Ambiente, Instituto de Pesquisas da
Serviço Florestal Brasileiro (NREAC) Subcomitê de Amazônia Peruana (IIAP) Ministério dos Recursos
Governos dos Cormacarena CRC Recursos Naturais e Meio Naturais
GESTÃO, FISCALIZAÇÃO E MONITO- departamentos Ambiente – Comitê Assessor
RAMENTO DOS RECURSOS NATURAIS Corponariño de Recursos Naturais e Meio
NA AMAZÔNIA Governos municipais Ambiente, (NREAC)
Corporinoquia

Fonte: PNUMA, OTC e CIUP (2007).


228
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>229

TABELA 5.2
Convenções internacionais e principais políticas nacionais

BOLÍVIA BRASIL COLÔMBIA EQUADOR GUIANA PERU SURINAME VENEZUELA

CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas –
Protocolo de Quioto

Convenção sobre
Diversidade Biológica

Acordo Internacional
sobre Madeiras Tropicais

Convenção CITES

Convenção sobre Áreas


Úmidas – Ramsar

Protocolo de Cartagena
sobre Biossegurança

ANTONIO ESCALANTE / EL COMERCIO


OUTROS ACORDOS
Decisão 391 da CAN:
Regime Comum para
n.a. n.a. n.a. n.a.
o Acesso aos Recursos
Genéticos
❱❱❱ As comunidades indígenas e a população local estão consolidando suas instâncias de diálogo e participação.

Acordos transfronteiriços (con BOL, s.i. s.i.


(con (con PER, (con BOL,
PER, COL, (con BRA) (con BRA)
da Amazônia foi de US$1 bilhão; em 2004, de Biológica; o Acordo Internacional sobre A presença do BRA,PER)
GUY, VEN)
COL) BRA, ECU)
o Peru teve um gasto ambiental público de Madeiras Tropicais; a Convenção sobre o
US$163 milhões; e a Guiana, em 2006, de Comércio Internacional das Espécies da Estado na região POLÍTICAS NACIONAIS
US$198.200. Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Ex-
tinção; a Convenção de Ramsar sobre áreas
amazônica é muito Políticas de desenvolvi-
mento sustentável
Temas ambientais úmidas; e o Protocolo de Cartagena sobre reduzida, porque ela
internacionais Biossegurança.
relacionadas à era tratada como Estratégia ou plano na-
Amazônia O fato de a maioria dos países reconhe- cional de biodiversidade
cer os Amuma citados implica que as legis-
uma porção inóspita
É importante assinalar que os países ama- lações nacionais vêm sendo formuladas em e não-prioritária do Política florestal
zônicos participaram das discussões e deci- concordância com os princípios estabeleci-
sões internacionais sobre o meio ambiente. dos por esses acordos multilaterais. Assim, território.
A maioria dos países é signatária dos acor- encontramos políticas nacionais referentes Política de proteção da
dos multilaterais ambientais (AMUMAs), e a estratégias ou planos nacionais de biodi- fauna silvestre
suas legislações ambientais se baseiam em versidade, políticas florestais, políticas de
tais princípios. Os Amuma relevantes para proteção da fauna e políticas ou leis sobre Política ou lei de recur-
a Amazônia encontram-se na tabela 5.2: os recursos hídricos. sos hídricos
a Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudanças Climáticas e o Protocolo Contudo, a existência de políticas sobre n.a.: não se aplica. s.i.: não disponível.
Elaboração: Autores.
de Quioto; a Convenção sobre Diversida- os recursos naturais não assegura o ma-
230
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>231

A região convive com uma profusão QUADRO 5.2


O ESTADO BRASILEIRO DO AMAZONAS ASSEGUROU O
de políticas ambientais, que, APOIO DO BID PARA MELHORAR AS CONDIÇÕES DE VIDA
mais do que lacunas jurídicas, DA POPULAÇÃO NOS IGARAPÉS

gera a sobreposição de normas e, No Brasil, o governo do estado do Amazonas receberá


US$154 milhões do Banco Inter-Americano de Desenvol-
inclusive, algumas contradições. vimento (BID) para obras do Programa Social e Ambiental
dos Igarapés de Manaus – Prosamim II, que beneficia-
rão diretamente mais de 15,5 mil famílias da cidade
de Manaus. O programa contou com a participação da
Principais políticas comunidade na priorização das ações e obras que serão
ambientais realizadas nas bacias dos Igarapés Educandos/Quarenta e
São Raimundo, voltadas a melhorar as condições ambien-
De um modo geral, a região amazônica tem sido con- tais, urbanísticas, de saúde e de habitação da população.
siderada periférica na formulação das políticas públicas. O Prosamim II contempla os seguintes componentes: i)
Embora a questão amazônica esteja começando a ser infra-estrutura de saneamento e ambiental para ampliar
debatida, as políticas públicas dos diversos países ainda a cobertura dos serviços de água potável, esgoto (p.ex.,
padecem de uma perspectiva de manejo integrado. Nes- microdrenagem e tratamento de efluentes) e coleta de lixo;
se sentido, a OTCA salienta que a Amazônia precisa de ii) recuperação ambiental por meio do reassentamento de
políticas intersetoriais de Estado, posto que os desafios famílias vivendo em áreas de risco, da preservação e con-
ambientais regionais não distinguem fronteiras, e, portan- servação de nascentes e da recuperação de áreas inundá-
to, exigem estratégias regionais (OTCA, 2007). veis; e iii) sustentabilidade social e institucional para melho-
rar a capacidade operacional e gerencial do programa.
A região tem políticas ambientais de âmbito nacional e
normas gerais e específicas. A tabela 5.3 elenca as princi- O financiamento do BID possibilitará a construção de siste-
pais normas ambientais, por país, as quais abrangem, em mas de drenagem, de eliminação de resíduos sólidos e de
sua maioria, todos os recursos naturais. De um modo ge- tratamento de esgoto, reduzindo, assim, a vulnerabilidade
ral, existe uma profusão de normas ambientais, que, mais da população aos alagamentos e doenças causadas pela

ARCHIVO PRODAPP
do que lacunas jurídicas, gera a sobreposição de normas contaminação da água, e, ainda, a construção de estradas
e, inclusive, algumas contradições (Fontaine; Van Vliet; marginais nos Igarapés e a melhoria dos serviços de trans-
❱❱❱ Os organismos do Estado estão pouco presentes para a aplicação das políticas ambientais. Pasquis, 2007). Vários países da região apresentam con- porte urbano e de energia elétrica.
flitos de competências ou uma indefinição destas, assim
como pouca articulação entre as diversas instâncias do O empréstimo do BID, financiado em 25 anos e com ca-
nejo sustentável destes na Amazônia. As Andina de Nações (CAN), processo de in- setor público, situação que dificulta ainda mais a aplicação rência de cinco, cobrirá 70% do custo total do projeto.
dinâmicas sociopolíticas e econômicas de tegração do qual participam quatro dos oito das normas.
DIFERENTES cada país fazem com que a aplicação das países amazônicos. Além das áreas eco- Fonte: Bretas (2008).

PAÍSES DA REGIÃO políticas varie caso a caso. Além disso, a nômica e comercial, às quais se dedicou Na região amazônica, em particular, observa-se que
APRESENTAM base institucional de alguns países é mais nas primeiras décadas de vigência, a CAN o Estado tem pouca presença. Embora essa situação es-
CONFLITOS DE sólida que a de outros, graças ao nível de constitui-se atualmente num espaço de di- teja mudando em muitos países com a implementação
estabilidade política conquistado, o qual álogo e resposta às questões ambientais de processos de descentralização pública, a atenção vol-
COMPETÊNCIAS OU
permite que as instituições desenvolvam de importância para a Amazônia. Os paí- tada para a Amazônia ainda é tímida. As administrações
indefiniÇÃO
planos e estratégias de longo prazo. Na ses andino-amazônicos (Bolívia, Colômbia, centralizadas de muitos países priorizaram investimen-
DESTAS E POUCA contramão dessa situação, há países que Equador e Peru), sendo membros da CAN, tos nas cidades costeiras ou nas capitais, deixando de
COORDENAÇÃO mudam constantemente de políticas, es- adotaram diversos acordos, denominados lado à Amazônia, considerada um lugar inóspito e não-
ENTRE AS DIVERSAS tratégias e funcionários, o que impede uma “Decisões”, entre elas a Decisão 391, que prioritário (Comissão Amazônica de Desenvolvimento
INSTÂNCIAS DO continuidade das atividades, sobretudo se trata de um Regime Comum para o Acesso e Meio Ambiente do TCA, 1992). Uma exceção a essa
SETOR PÚBLICO. se considera que a temática ambiental re- aos Recursos Genéticos. Ademais, a CAN situação é o Brasil, que se distingue pela organização em
quer intervenções de longo prazo. apoiou a implementação dos acordos da estados federativos com autonomia política e econômi-
Convenção sobre Diversidade Biológica ca, estrutura que favoreceu a implementação de políti-
Por outro lado, também há questões entre seus membros e conseguiu estabe- cas de desenvolvimento na sua Amazônia (Weiss; Van
ambientais relevantes na esfera sub-regio- lecer a Estratégia Regional de Biodiversida- Vliet; Pasquis, 2007). Nesse sentido, o Brasil concebe o
nal que levaram ao desenvolvimento de de para os Países do Trópico Andino, bem desenvolvimento amazônico no contexto do desenvol-
políticas ambientais de impacto na região como promover a implementação das es- vimento do país. O Ministério Extraordinário de Assuntos
amazônica. Esse é o caso da Comunidade tratégias nacionais em cada país. Estratégicos, incumbido da supervisão da implementa-
232
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>233

TABELA 5.3
Principais normas nacionais por temas

BOLÍVIA BRASIL COLÔMBIA EQUADOR GUIANA PERU SURINAME VENEZUELA

Lei do Ambiente no 1333 Política Nacional do Meio Código de Protección de recursos Lei de Gestão Ambiental Lei de Proteção Ambiental Lei Geral do Ambiente Política do Ministério do Lei Orgânica do Ambien-
(1992) Ambiente (Lei no 6938/81) Naturales y del Ambiente (D.L 1811 (1996) Ambiente (2006-2010) te (1976)
NORMAS de 1974) Lei do Sistema Nacional
AMBIENTAIS de Gestão Ambiental
GERAIS SINA (Ley 99 de 1993)

Lei Florestal no 1700 Lei de Recursos Hídricos Fomento do Uso Racional e Lei Florestal e de Conser- Lei Florestal (2006) Lei das Águas Lei de Planejamento Físico Gestão Ambiental
(1996) Eficiente de Energia vação de Áreas Naturais e Comunal
Lei de Crimes Ambientais Vida Silvestre Decreto de Parques Lei de uso e Conservação Lei de Conservação da
Lei do Serviço Nacional Lineamentos para o Manejo Nacionais da Biodiversidade Natureza Água e Saneamento
de Reforma Agrária no 1715 Código Florestal Integral da Água
(INRA, 1996) Código de Uso de Áreas Lei Florestal e de Fauna Lei de Pesca, Solos, Água, Missão Guacaipuro
Lei de Gestão de Lei de Ordenamento Territorial Úmidas Silvestre Florestas, Ar e Biodiversidade
NORMAS Plano de Desenvolvimento Florestas Públicas (Lei 388 de 1997) Reflorestamento Produtivo
ESPECÍFICAS da Biodiversidade, Minera- Decreto de Água e Sanea- Lei de Áreas Naturais
ção e Hidrocarbonetos Sistema Nacional de Política Nacional para Humedales mento (2002) Protegidas Código da Terra
Unidades de Conservação (2001)
Lei de Resíduos Sólidos Recuperação de Áreas
Lei Forestal (Lei 1021 de 2006) Degradadas

Política Nacional de Biodiversidade Gestão de Resíduos


(1995) Sólidos e Perigosos

Elaboração: Autores.

ção do Plano Amazônia Sustentável (PAS), é Por outro lado, a participação dos di- tudos de impacto ambiental, entre outras, têm diferentes implicações entre os países.
responsável pela adequada articulação das versos atores locais na gestão dos recursos são ferramentas atualmente utilizadas pela Outro instrumento preventivo é o estudo
políticas nos seus respectivos âmbitos. naturais e da qualidade ambiental tornou- sociedade civil. Tais mecanismos não são de impacto ambiental (EIA), uma exigência MUITOS PAÍSES
se um importante elemento na prevenção idênticos em todos os países, nem se apli- para a liberação de atividades produtivas. CRIARAM
A tendência atual nos países é descentra- do alastramento de conflitos e para a in- cam da mesma forma, e sua efetividade Os EIA são utilizados principalmente nas FUNDOS DE
lizar a administração do Estado. Isso significa tegração da Amazônia no âmbito nacional. ainda é um assunto pouco estudado; no atividades de exploração mineral, de pe- FINANCIAMENTO
dar mais poder de decisão aos governos re- Nos últimos anos, tem se observado um entanto, espera-se que a sociedade civil tróleo e, em geral, das que têm impacto so-
PARA A
gionais e locais, o que contribui para a inte- despertar da população amazônica, que seja cada vez mais protagonista do manejo bre o ambiente natural. Em alguns países,
gração da região amazônica nos planos de reivindica seu direito de ser partícipe do do ambiente natural amazônico. como o Brasil, os EIA vêm sendo exigidos
IMPLEMENTAÇÃO
desenvolvimento nacional. O Conselho Inter- desenvolvimento da região. Prova disso é para todos os tipos de atividades, sendo
DE PROGRAMAS
regional da Amazônia (CIAM), no Peru, é um a grande quantidade de organizações so- Dentre os instrumentos de políticas pú- obrigatórios. AMBIENTAIS,
exemplo desse processo, por tratar-se de um ciais que surgiram em diversas áreas e a blicas que se aplicam à região amazônica, A MAIORIA DE
mecanismo de articulação entre os órgãos participação destas na supervisão e fiscali- há aqueles de caráter preventivo, tal como Os instrumentos mais utilizados pelas CARÁTER GERAL
do governo regional da Amazônia peruana. zação da gestão ambiental (Buclet, 2007). o ordenamento territorial do solo, em al- autoridades amazônicas são os de “con- OU CENTRADA
Em matéria de gestão ambiental, os governos Ao mesmo tempo, a legislação ambiental guns países denominado “zoneamento trole”. De um modo geral, esses instru- EM UM TEMA
regionais têm a possibilidade de não apenas nacional dos países considera imprescin- ecológico-econômico” (ZEE) ou “planos de mentos envolvem auditorias, fiscalização ESPECÍFICO.
monitorar e supervisionar a gestão do meio dível a participação da sociedade, tendo ordenamento territorial”. É importante sa- e sanções, quando necessário, e por isso
ambiente, mas também de gerar políticas e criado mecanismos para promover sua lientar que, embora possam receber a mes- exigem o desenvolvimento de sistemas de
normas que ajudem a melhorar o aproveita- participação. Os orçamentos participativos, ma denominação, essas formas de plane- monitoramento e supervisão. Por exemplo,
mento dos recursos de maneira sustentável. as audiências públicas para revisão dos es- jamento e organização do uso do território para o monitoramento florestal e o comba-
234
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica

te ao desmatamento e à exploração ilegal de madeira, QUAFRO 5.3


as imagens de satélite são um importante aliado. No PROCESSO DE ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO
Brasil, o Projeto de Monitoramento do Desmatamento NOS PAÍSES DA OTCA
na Amazônia Legal (Prodes), desenvolvido pelo Insti-
tuto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é um dos Os países do Tratado de Cooperação Amazônica acordaram,
mais avançados do mundo em monitoramento do des- por meio das reuniões técnicas de Manaus (1994), no Brasil,
matamento em tempo real (Kintisch, 2007). Os demais e de Santa Fé de Bogotá (1996), na Colômbia, promover
países da região não dispõem de sistemas de monito- o zoneamento ecológico-econômico (ZEE) como um dos
ramento desse tipo, mas, graças ao projeto Pan-Ama- instrumentos fundamentais para sustentar tecnicamente os
zônia, promovido pela OTCA, pelo INPE e pela Agência processos de ordenamento territorial dos países amazônicos,
Brasileira de Cooperação (ABC), estão trabalhando na assim como uma ferramenta para nortear o aproveitamento
sua implementação; enquanto isso, o monitoramento e adequado da Amazônia.
o controle dependem da polícia florestal ou ecológica,
ou de algum outro sistema de monitoramento. Desde aquela época, muitos dos países desenvolveram pro-
cessos com diversas coberturas espaciais, escalas e metodo-

DANTE PIAGGIO / EL COMERCIO


Existem também instrumentos de recuperação, com logia nos seus respectivos âmbitos amazônicos. Em termos
os quais se busca reparar danos já ocorridos ou passivos gerais, os países vêm aplicando a metodologia acordada na
ambientais. Exemplos desses instrumentos são os progra- reunião do TCA de Bogotá. Tal é o caso do Peru, onde estão
mas de adequação ambiental (Peru), os planos de des- em curso processos de ZEE nos departamentos de San Mar-
poluição (Colômbia), os seguros ambientais (no Brasil, tin, Amazonas e Madre de Dios, assim como em algumas
por exemplo), entre outros. Tais instrumentos são usados partes de Loreto e Ucayali, conduzidos pelos respectivos
mormente na exploração mineral e petrolífera e nas hi- governos regionais com o apoio técnico do IIAP. Para isso, o
drelétricas e rodovias quando os impactos da degradação país conta com um marco jurídico e institucional, que rege o
ambiental se fazem visíveis. processo de ZEE. No Equador também há processos de ZEE
QUADRO 5.4
em andamento em todo o âmbito da Amazônia, conduzidos
BRASIL: FUNDO AMAZÔNIA
As unidades de conservação são reconhecidas como por Ecorae. No Colômbia, as ZEE da bacia do rio Putumayo
uma das estratégias mais eficazes para a proteção das flo- (1998), do Eixo Apaporis-Tabatinga (2000), e em áreas dos
restas, da fauna e da flora e para frear o avanço do desma- departamentos de Guaviare (2001) e Caquetá (2004) foram No dia 4 de agosto de 2008 foi publicado o Decreto no
tamento e da exploração ilegal de madeira (Soares-Filho conduzidas pelo Instituto Sinchi, com o apoio de outras 6.527, que dispõe sobre o estabelecimento do Fundo
et al., 2006) e vêm sendo empregadas em larga escala instituições. Amazônia pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
nos países amazônicos. Alguns países possuem unidades Econômico e Social (BNDES) do Brasil. Esse decreto

DANTE PIAGGIO / EL COMERCIO


de conservação para a produção sustentável de madeira autoriza o BNDES a captar recursos privados de doações
e para a proteção integral da biodiversidade. NO CASO DO PERU, ESTÃO EM CURSO voluntárias, sejam nacionais ou estrangeiras, para investir
PROCESSOS DE ZEE NOS DEPARTAMENTOS em ações de prevenção, monitoramento e combate ao
Outro tipo de instrumento de gestão ambiental DE SAN MARTÍN, AMAZONAS E MADRE DE desmatamento. A expectativa do Ministério do Meio
recentemente desenvolvimento são os instrumentos DIOS, ASSIM COMO EM ALGUMAS PARTES Ambiente é de que esse fundo capte um bilhão de dólares
financeiros ambientais. Muitos países criaram fundos DE LORETO E UCAYALI, CONDUZIDOS PELOS no primeiro ano de funcionamento.
de financiamento para a implementação de programas RESPECTIVOS GOVERNOS REGIONAIS COM ❱❱❱ Os povos indígenas amazônicos levantam a sua voz
ambientais, na sua maioria de caráter geral ou focados reivindicando uma presença empresarial responsável, que O fundo atenderá às áreas de gestão de florestas e áreas
O APOIO TÉCNICO DO IIAP. garanta um meio ambiente saudável.
em um tema específico, como os associados às áreas naturais protegidas, controle e fiscalização ambiental,
naturais protegidas. Em alguns casos, existem fundos manejo florestal sustentável, desenvolvimento de ativida-
setoriais, que são canalizados para a conservação do Já no Brasil, de acordo com o respectivo ordenamento des econômicas com base na utilização sustentável das
meio ambiente. Outro exemplo relativo às florestas é o jurídico desse país, a ZEE é considerada uma proposta de com relativo sucesso na gestão de florestas e biodiver- florestas, ordenamento territorial e regularização fundiária,
mercado de carbono, através do qual se comercializa, ordenamento territorial relacionada à atribuição de usos ao sidade. De igual forma, os instrumentos econômicos e conservação e uso sustentável da biodiversidade.
embora de maneira limitada, a captura de CO2, isto é, o território. Neste contexto, realizaram-se ZEE em diferentes que servem de subsídio à tomada de decisões, tais
serviço ambiental gerado pela floresta (quadro 5.4). âmbitos, como a ZEE dos estados de Acre e Rondônia e na como os métodos de avaliação dos recursos naturais e O comitê gestor do fundo será integrado por representan-
área de influência da rodovia BR-163 (Cuiabá–Santarém). Na do ambiente, de custos evitados, de custo-eficiência, tes dos Ministérios do Meio Ambiente; do Desenvolvimen-
Existem também instrumentos econômicos que, Bolívia, quase todos os departamentos amazônicos regis- entre outros, são cada vez mais utilizados pelos to- to, Indústria e Comércio Exterior; das Relações Exteriores;
embora não sejam empregados de forma generalizada, tram a realização de processos PLUS (plano de uso do solo); madores de decisão do setor público. Por último, os da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário; da Casa
apresentam muitas possibilidades de desenvolvimen- no entanto, a atribuição dos usos se baseou no zoneamento métodos não-tradicionais, aqueles que se baseiam no Civil, bem como dos governos estaduais e da sociedade
to por estimularem mudanças no comportamento do agroecológico. potencial dos serviços ambientais para gerar receitas, civil.
consumidor através de incentivos, como é o caso das estimulando, assim, um crescimento econômico que
concessões. As concessões, que envolvem a outorga não implica o desmatamento e que recompensa pela Fonte: Casa Civil da Presidência da República do Brasil (2008).
de um direito de uso por um tempo determinado e Fonte: Texto elaborado por Fernando Rodríguez Achung (Peru: Instituto de conservação, vêm sendo adotados recentemente por
segundo condições específicas, vêm sendo aplicadas Pesquisas da Amazônia Peruana alguns países (Killeen, 2007).
236
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>237

As florestas de

JEFFERSON RUDY / acervo PPG7-GTZ


produção exigem um
manejo responsável
por parte dos
concessionários

5.2|atores ou das empresas


madeireiras.

NAREGIÃO
Os atores-chave que participam na gestão ambiental da Amazônia As ONGs também ajudaram a canalizar recursos financei- As ONGs nacionais para a gestão ambiental ou o desenvolvimento Organizações sociais as mais variadas
têm características variadas e âmbitos de atuação diversos. Uma das ros da cooperação internacional para áreas específicas, de ciência e tecnologia para o aproveitamento atuam na Amazônia. No Brasil, por exem-
classificações desses atores os divide nos seguintes grupos: (i) atores complementando, em alguns casos, os recursos finan- desempenharam um de determinados recursos naturais. Tais orga- plo, estão presentes organizações de redes
públicos, responsáveis pela formulação e gestão das políticas públicas ceiros nacionais. Ressalte-se também que muitas delas nismos dispõem de fundos de diversas fontes sociais como o Grupo de Trabalho Amazôni-
ambientais nos âmbitos nacional, regional/estadual e local; (ii) atores desempenharam um papel fundamental na promoção
papel diferenciado e têm como finalidade financiar o desenvolvi- co (GTA), a Coordenação das Organizações
privados, responsáveis pela produção de bens e serviços diversos, e de iniciativas de nível regional voltadas à gestão de áreas nos países da mento de programas e projetos. Indígenas da Amazônia Brasileira [Coiab] e
organizações de apoio, tais como as organizações não-governamentais amazônicas contíguas. o Fórum de Coordenação de Instituições
(ONGs); (iii) cooperação internacional; (iv) organismos internacionais; região. Algumas O setor acadêmico e as instituições científi- Locais Amazônicas do Acre. Esses grupos
(v) atores acadêmicos, compreendidas as universidades e outras ins- A cooperação internacional é outro ator atuante na cas na Amazônia também têm uma importan- comunitários organizados permitem que se
tituições de educação superior; e (vi) atores da sociedade civil, grupo região amazônica. No início, a cooperação internacional
se dedicaram a te atuação na região amazônica. No entanto, tenha uma melhor articulação com o gover-
que inclui diversas organizações sociais com objetivos específicos, por lidava diretamente apenas com governos, mas nos úl- temas ambientais a produção científica e tecnológica da maioria no. Em geral presentes em todos os países,
exemplo, as comunidades indígenas organizadas. timos anos passou a trabalhar também com as ONGs. dos países é limitada por restrições de natu- as instituições organizadas da sociedade ci-
Na Amazônia, a cooperação alemã (GTZ), a cooperação específicos, como reza financeira e de recursos humanos, infra- vil fazem uma ponte de articulação entre a
As autoridades governamentais de distintas esferas do governo holandesa e a Agência Internacional para o Desenvolvi- estrutura e equipamentos, que as levam a re- população civil e outros atores nacionais.
têm um importante papel na articulação das políticas nacionais e inter- mento (Usaid) apresentam diversas linhas temáticas de
a conservação correr à iniciativa privada para captar recursos.
nacionais e participam de diversas iniciativas bilaterais e multilaterais trabalho. A cooperação internacional não apenas fornece de determinadas Como conseqüência dessa situação, seus re- Outro conjunto de atores que tem uma
de importância para a Amazônia. Contudo, deve-se salientar que os recursos financeiros, mas também pode contribuir para a sultados não estão disponíveis para o público. ativa participação na gestão ambiental da
países ainda apresentam grandes diferenças no que tange ao nível de discussão de novas idéias e apoiar a consolidação de polí- espécies; outras se Com o propósito de articular as universidades Amazônia são os grupos comunitários e
prioridade política atribuído à Amazônia. ticas nacionais, quando do interesse dos países da região. da Amazônia e a pesquisa produzida no seu religiosos. Suas áreas de interesse, porém,
identificaram com
É importante que o processo de integração e cooperação âmbito, criou-se a Associação de Universidades são mais pontuais, apresentando variações
Um grupo de atores muito ativos na Amazônia são as ONGs. Neste na região amazônica esteja fortalecido para melhor apro- temáticas mais gerais, Amazônicas (Unamaz), há duas décadas. Os entre os países. Na Bolívia, por exemplo,
caso, distinguem-se as de origem internacional e as nacionais. Na veitar a cooperação internacional e para que ela se ajuste resultados dessa integração ainda não se con- os grupos religiosos se concentram na
maioria dos países amazônicos, encontra-se presente pelo menos aos princípios e prioridades estabelecidos no âmbito des- como os recursos ou cretizaram devido à falta de incentivos para sua questão dos recursos hídricos; na Colôm-
uma das ONGs internacionais que tratam de questões amazônicas. ses processos. as políticas florestais. difusão e também às limitações ao desenvol- bia e na Guiana, seu principal interesse é
Seus representantes mais conhecidos são: o Fundo Mundial para a vimento de pesquisa conjunta em áreas como a educação ambiental; já no Brasil, esses
Natureza (WWF, na sigla em inglês), Conservation International (CI) Por outro lado, existe uma ativa participação de orga- a biodiversidade, que requerem uma ampla grupos englobam uma ampla variedade
e The Nature Conservancy (TNC). Por sua parte, as ONGs nacionais nismos internacionais, como as Nações Unidas; intergover- compreensão. Nesse sentido, a consolidação, de temas, desde biodiversidade e florestas
vêm desempenhando um papel diferenciado nos países da região. namentais, como a OTCA; e multilaterais, como o Banco no âmbito da Unamaz, de redes de pesquisa até integração.
Algumas se dedicam a temas ambientais concretos, como à conser- Mundial e o Banco Inter-Americano de Desenvolvimento em ciência e tecnologia e outros tópicos cruciais
vação de espécies específicas; já outras têm maior afinidade com (BID). A participação desses organismos se dá em temas para o desenvolvimento sustentável amazônico Uma breve recapitulação dos principais
temáticas mais abrangentes, como os recursos e as políticas florestais. transversais, por exemplo, o fortalecimento de capacidades é ainda um objetivo a ser alcançado. atores da região amazônica revela os dife-
238
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>239

TABELA 5.4
Principais grupos comunitários na região amazônica
INSTITUIÇÃO PAÍS

- Campesino (Riberalta)
- Coinacapa (Pando) BOLÍVIA
- Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia

- Coord. de ONGs Indígenas da Amazônia Brasileira


BRASIL
- Rádios Comunitárias da Amazônia Legal

- Associação de Madeireiros de Curillo (Amacur)


- Associação de Madeireiros de Orteguaza
- Associação Camponesa Ambiental de Losada–Guayabero (Ascal–G)
- Associação Camponesa de Ariari–Guayabero Acarigua
COLÔMBIA
- Comitê de Cacauicultores de Remolino del Caguán e Suncillas (Chocaguán)
- Associação de Comercializadores de Madeira de Caguán (Comadelca)
- Rede de reservas da sociedade civil
- Organização de Povos Indígenas da Amazônia Colombiana (Opiac)

- Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia (Confeniae) EQUADOR

- Associação dos Povos Ameríndios da Guiana GUIANA

- Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep)


PERU
- Confederação de Nacionalidades Amazônicas do Peru (Conap)

- Associação de Líderes de Comunidades Indígenas do Suriname (VIDS)


SURINAME
- Organização Indígena do Suriname (OIS)

- Organização Indígena da Bacia do Caura: Associação civil multiétnica fundada pelos ye'kawana e sanema (Kuyujani)
- Organização Regional dos Povos Indígenas do Amazonas (Orpia) VENEZUELA

Fonte: Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica) <http://www.coica.org.ec>.

A COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL
❱❱❱ Grupos de ação humanitária levam apoio e estímulo às populações pobres da Amazônia.
RICHARD HIRANO / EL COMERCIO
NÃO PARTICIPA
SOMENTE COM
RECURSOS
rentes objetivos e competências dos atores tais como terem influência na formulação de
FINANCEIROS;
que agem na Amazônia. Apesar de tudo o políticas públicas, gerarem informação, te-
PODE CONTRIBUIR
ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP
que já foi realizado nos países amazônicos rem consciência das questões ambientais da
em termos de desenvolvimento sustentável Amazônia e serem canais de comunicação e AINDA PARA A
e de quantidade de projetos sendo executa- difusão. Através do reconhecimento desses DISCUSSÃO DE
dos em muitas partes da região, a Amazônia pontos fortes, será possível, no longo prazo, IDÉIAS E APOIAR
continua fragmentada como região, sem ter articular esforços e gerar sinergias no sentido A CONSOLIDAÇÃO
uma instância propícia à ampla articulação de de otimizar o uso dos recursos humanos e DE POLÍTICAS
seus atores (Brackelaire, 2003). Contudo, os financeiros, bem como de ampliar o alcance NACIONAIS.
atores amazônicos apresentam pontos fortes de seus resultados. ❱❱❱ Os atores do desenvolvimento sustentável amazônico são muito atuantes e comprometidos.
240
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>241

QUADRO 5.5
EIXOS TEMÁTICOS AMBIENTAIS DA ORGANIZAÇÃO DO
TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA

No que se refere ao meio ambiente, a OTCA está


comprometida com o fortalecimento e a consolida-
ção de uma visão da Amazônia, esta entendida e
assumida como uma unidade física e natural onde
se dão relações de dependência ou de concorrên-
cia que, em essência, evidenciam sua riqueza em
recursos naturais e em biodiversidade, em abun-
dância e equilíbrio, indispensável para a construção

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


de condições propícias ao desenvolvimento susten-
tável. Por isso, no conjunto de iniciativas condu-
zidas pela OTCA em matéria de meio ambiente,
destaca-se o conceito de “gestão integrada” dos
recursos e da biodiversidade amazônica.

A OTCA trabalha sobre quatro eixos temáticos: ❱❱❱ A população está engajada com a conservação e o manejo sustentável dos recursos amazônicos.
florestas, biodiversidade, mudanças climáticas e
recursos hídricos. No período 2006-2007, a OTCA
manejou, conjuntamente com outros organismos, Biodiversidade Recursos hídricos
5.3|PRINCIPAIS 19 projetos que, juntos, movimentaram US$33 mi-
lhões. O montante de recursos administrados por
1. Projeto de fortalecimento da gestão regional conjunta para
o aproveitamento sustentável da biodiversidade amazônica.
1. Projeto de Manejo Integrado e Sustentável dos Recursos
Hídricos Transfronteiriços na Bacia do Rio Amazonas (GEF-
AÇÕES ela aumentou 168% em comparação com 2005
(US$5,04 milhões). Entre os principais projetos e
O objetivo deste projeto é coordenar e estimular o conheci-
mento sobre a biodiversidade regional na Amazônia e seus
Amazonas): apresenta como objetivo fortalecer o marco
institucional nos países da OTCA para planejar e executar
AMBIENTAIS atividades conduzidos em cada um dos eixos temá- usos, conservação e aproveitamento, o que requer a colabo- de maneira coordenada ações de proteção e manejo
ticos, destacam-se: ração de todos os países da região. Um dos resultados deste sustentável dos recursos hídricos em face dos impactos
Os países amazônicos, além de estabelecer as políticas públicas para projeto foi a elaboração de propostas tais como: das ações antrópicas e das mudanças climáticas. A fase
a Amazônia, também intervêm ativamente na promoção e implemen- Florestas preparatória deste projeto transcorreu no período 2006-
tação de programas e projetos que visam ao desenvolvimento sus- 1. Seleção de critérios e indicadores de manejo ❱❱❱ Programa Regional para a Gestão Sustentável de Áreas 2007. Está prestes a entrar na fase de execução.
tentável da região. Nesta seção não se pretende oferecer uma revisão florestal sustentável: ferramenta para o monitora- Naturais Protegidas Amazônicas
exaustiva dos programas e projetos promovidos pelo Estado nos paí- mento contínuo do processo de desenvolvimento ❱❱❱ Mecanismo de Coordenação e Monitoramento do Tráfi- Mudanças climáticas
ses amazônicos, mas apenas apresentar as principais linhas temáticas sustentável. Em 2001, identificaram-se quinze co da Fauna e Flora Silvestre na Região Amazônica Nessa questão, a OTCA considera o “Mapa do Caminho de
e alguns exemplos, dando ênfase às atividades de caráter regional, indicadores correspondentes a oito critérios. As ❱❱❱ Estratégia de Ciência e Tecnologia para a Conservação e Bali”, documento adotado na 13ª Conferência das Partes da
mais do que às nacionais. Nesse sentido, considera-se que os pro- atividades de validação de indicadores incluíram Uso Sustentável da Biodiversidade Amazônica Convenção sobre Mudanças Climáticas, em Bali (dezembro
gramas e projetos relacionados com o manejo dos recursos naturais ações de capacitação, levantamento de informa- de 2007), uma oportunidade interessante para os países
e o meio ambiente que foram promovidos pelos países amazônicos ção, identificação de atores-chave, etc. Outro de seus resultados é a implantação do Infotca: amazônicos, sobretudo no que diz respeito ao mecanismo
desenvolveram-se principalmente em três áreas: planos de integração, sistema de geoprocessamento de informação cartográfica para a redução das emissões derivadas do desmatamento
sistemas de informação e tecnologia, e educação ambiental. 2. Monitoramento da cobertura vegetal: divulgação digital da OTCA. Uma de suas aplicações é o manejo intera- e da degradação da floresta (REDD, na sigla em inglês).
do sistema Deter/Prodes Digital e levantamento do tivo da informação sobre áreas naturais protegidas. Esse contexto é favorável à formulação e aplicação de polí-
Os planos de integração fronteiriça objetivam desenvolver entre potencial de aplicação na região. Sistema desenvol- ticas que corrijam as tendências de degradação ambiental
os países uma zona consolidada de intercâmbio e cooperação nos vido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Além disso, encontram-se em processo de elaboração o em curso na Amazônia.
campos econômico, social e ambiental, nas áreas de fronteira delimi- (INPE), é utilizado pelo Ministério do Meio Ambien- Mecanismo de Apoio à Preservação dos Conhecimentos
tadas por eles com essa finalidade. Os países amazônicos comparti- te do Brasil no monitoramento da cobertura em Tradicionais, Acesso aos Recursos Genéticos e Direitos de As ações da OTCA a este respeito estão direcionadas para
lham hábitats e microbacias nos quais se manifestam problemáticas tempo real. Propriedade Intelectual, bem como a Metodologia para a o fortalecimento das capacidades dos países amazôni-
comuns em termos de assentamentos humanos, saúde, populações Análise Global de Riscos e o Plano de Ação Regional sobre cos para avaliar conjuntamente os efeitos das mudanças
indígenas, etc., áreas propícias para o desenvolvimento de sinergias 3. Iniciativa Puembo: plataforma de diálogo e Biodiversidade Amazônica. climáticas, adotar as medidas de adaptação ou mitigação
com base em esforços conjuntos. articulação entre as autoridades florestais nacio- priorizadas e acordar posições comuns junto aos fóruns
nais cuja finalidade é promover o intercâmbio de 2. Programa Regional de Biocomércio Amazônico: tem internacionais onde se negocie essa matéria.
A OTCA, como organismo intergovernamental coordenador e fa- experiências sobre questões florestais na região, no como foco promover o uso sustentável e a conservação
cilitador, inclui a gestão ambiental como uma área de trabalho chave. âmbito de implementação dos programas nacio- da diversidade biológica por meio de ações regionais que es-
Nesse aspecto, apóia os processos de cooperação entre os governos nais florestais. timulem o comércio e investimentos na área de produtos e
dos países-membros voltados à conservação dos recursos naturais serviços da biodiversidade na região amazônica, levando em Fonte: OTCA (2008).
para o desenvolvimento sustentável da região. consideração a distribuição justa e eqüitativa de benefícios.
242
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>243

QUADRO 5.6
Com relação à participação da cooperação interna-
PROGRAMA TRINACIONAL: CONSERVAÇÃO E DESEN-
cional na região, a GTZ se destaca pela condução de
VOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO CORREDOR DAS ÁREAS
projetos de diversa natureza. Uma de suas importantes
PROTEGIDAS LA PAYA-GÜEPPI-CUYABENO
frentes de atuação é a de gestão de riscos. Além disso,
está comprometida em impulsionar e operacionalizar Este projeto é uma iniciativa de colaboração trinacional
a abordagem de pagamento por serviços ambientais entre a Colômbia (La Paya), Equador (Cuyabeno) e Peru
(PSA), bem como em apoiar ações de conservação e (Güeppi) cujo objetivo é estabelecer um modelo para a
de manejo sustentável da floresta amazônica; nesse úl- gestão coordenada de áreas protegidas contíguas em zo-
timo caso, por meio do Programa Regional Amazônia, nas de fronteira, podendo ser replicado em outras regiões
em conjunto com a OTCA. da Amazônia.

Como exemplo do uso desses instrumentos, foram Entre seus objetivos específicos, encontram-se:
realizadas algumas experiências na região amazônica,
dentre elas o Projeto Rio Guatiquia. Desenvolvido em Vi- ❱❱❱ Desenvolver um processo de planejamento conjunto
llavicencio, na Colômbia, tinha como objetivo coordenar que construa uma visão comum e que complemente e

JUAN PONCE / EL COMERCIO


A ação conjunta dos
e dar sustentabilidade à exploração dos recursos naturais retroalimente os processos de planejamento de cada uma governos nas regiões
da bacia hidrográfica desse rio, a fim de reduzir os riscos das áreas protegidas, incluindo planos específicos de ma- de fronteira se traduz
de desastres. Seu resultado foi o planejamento do terri- nejo de recursos e de uso público, bem como o ordena- na melhoria das
tório sob um enfoque participativo, que permitiu vincular mento do uso das zonas de amortecimento. condições de vida da
as estratégias de redução da pobreza com a gestão do população.
risco de desastres (Bollin; Schaef; Heindricks, 2005). ❱❱❱ Facilitar processos de aprendizado e de capacitação
conjuntos e o intercâmbio de experiências.
Outro de seus projetos foi o Esquema de Pagamento Além disso, existem diversos comitês e grupos de
QUADRO 5.7
por Serviços Ambientais na Sub-bacia do Alto Maio, na ❱❱❱ Fortalecer as capacidades de operação conjunta entre trabalho com tarefas específicas no âmbito da coope-
PLANO BINACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO
Região San Martin, Peru. Esse projeto, que está em fase as áreas protegidas, incluindo o desenvolvimento de ração fronteiriça. Por exemplo, o Grupo Técnico Ope-
FRONTEIRIÇA PERU-EQUADOR
de negociação, tem como foco encontrar uma solução instrumentos legais e operacionais que permitam uma racional Tripartite Colômbia, Brasil e Peru. Criado em
integral à questão do desmatamento na porção alta das atuação coordenada e colaborativa entre as equipes das 1992 com o objetivo de conter a epidemia de cólera No âmbito do Plano Binacional Peru-Equador, em 2006
microbacias de Rumiyacu, Mishquiyacu e Almendra, as áreas e seus parceiros estratégicos. registrada no Trapézio Amazônico, foi ampliado poste- foram realizados investimentos da ordem de 439,43
quais abastecem a cidade de Moyobamba, uma das prin- riormente para desenvolver ações de prevenção e con- milhões de dólares, dos quais 32,97 milhões foram des-
cipais do departamento de San Martin. Além disso, no Fonte: OTCA (2008). trole de outras patologias transmissíveis que ocorrem tinados a projetos de agricultura e meio ambiente; dessa
Peru foram desenvolvidas experiências de PSA para ser- nessa região. parcela, cerca de 37% (12,2 milhões de dólares) foram
viços de fornecimento de água, desmatamento evitado, aplicados em projetos na região amazônica, tais como
entre outros (Veen, 2007). No Brasil, vem trabalhando Brasil e Peru firmaram diversos acordos de coope- desenvolvimento florestal das florestas úmidas tropicais
em acordos com alguns estados, como Acre, Pará e Ama- Nos oito países da bacia amazônica ração binacional, como: o Grupo de Trabalho sobre Co- de Bágua (departamento de Amazonas) e manejo dos
zonas, para empreender ações direcionadas à redução da operação Amazônica e Desenvolvimento Fronteiriço; recursos naturais nas bacias dos rios Pastaza e Morona
vulnerabilidade, particularmente aos impactos das mu-
vem sendo desenvolvido o projeto o Comitê de Apoio ao Pólo de Desenvolvimento Bina- (departamento de Loreto). 
danças climáticas, todos elas no âmbito da Rede Temática Manejo Integrado e Sustentável dos cional Iñapari–Assis Brasil; o Grupo de Trabalho sobre
Gestão do Risco na Amazônia (GTZ Brasil, 2007). Segurança e Desenvolvimento da Amazônia; o Grupo Os departamentos amazônicos de Amazonas e Loreto, em
Recursos Hídricos Transfronteiriços de Trabalho sobre Meio Ambiente. Foi criado também território peruano, empregaram em 2006, respectivamen-
Por outro lado, firmaram-se acordos bilaterais de co- o projeto Controle da Malária nas Zonas Fronteiriças da te, 19% e 13% do aporte total do Fundo Binacional. Esses
operação atendendo aos objetivos do TCA, que serviram
na Bacia do Rio Amazonas. Região Andina: uma Abordagem Comunitária (Pama- recursos se destinam a pequenos projetos de educação,
de base para a realização de estudos integrados bina- fro), que integra os esforços do Equador, da Colômbia, saúde e saneamento básico rural.
cionais. Até o presente momento, os acordos bilaterais do Peru e da Venezuela para reduzir a incidência da  
existentes são: Colômbia–Equador e Colômbia–Peru, É preciso destacar, ainda, o papel das chancelarias. malária nas zonas mais atingidas. No Equador, a zona de integração compreende sete pro-
ambos firmados em março de 1979; Brasil–Colômbia, No contexto de desenvolvimento fronteiriço, são respon- víncias: El Oro, Loja, Zamora Chinchipe, Morona Santiago,
de março de 1981; Brasil–Peru, de outubro de 1979; e sáveis pelas comissões de vizinhança e integração, um No que respeita aos projetos de âmbito regional, Pastaza, Francisco Orellana e Sucumbios, que representam
Bolívia–Brasil, de agosto de 1988. Assim, por exemplo, o mecanismo de trabalho conjunto que tem como objeti- nos oito países da bacia amazônica vem sendo des- aproximadamente 50% do território nacional, estendendo-
Plano de Ordenamento e Manejo das Bacias dos Rios San vo identificar, promover e incentivar o desenvolvimento envolvido o projeto Manejo Integrado e Sustentável se ao longo de 1.500 km de fronteira. Os cantões de El
Miguel e Putumayo foi desenvolvido entre a Colômbia e conjunto de programas, projetos e iniciativas que gerem dos Recursos Hídricos Transfronteriços da Bacia do Rio Oro e Loja são os mais atuantes. Os projetos priorizaram o
o Equador; e a Colômbia e o Peru organizaram-se para benefícios econômicos, sociais e ambientais. Como Amazonas considerando a Variabilidade Climática e as desenvolvimento de infra-estrutura de água, saneamento e
desenvolver o Plano para o Desenvolvimento Integral da exemplo, cita-se a Comissão de Vizinhança e Integração Mudanças Climáticas, Projeto GEF Amazonas – OTCA/ estradas, embora a carteira de projetos tenha se diversificado.
Bacia do Rio Putumayo. Encontra-se também em imple- Peru-Colômbia. Suas atividades buscam atender às ne- PNUMA. Outro destaque é o Programa de Fortaleci-
mentação o Plano Binacional Peru–Equador, que abrange cessidades de saúde, educação, meio ambiente e alimen- mento da Gestão Regional Conjunta para o Aprovei-
uma extensa faixa de fronteira entre ambos os países, tação básica na zona de fronteira, respeitando a soberania tamento Sustentável da Biodiversidade Amazônica, Fonte: Plano Binacional de Desenvolvimento da Região Fronteiriça Peru-
incluindo setores na fronteira amazônica (quadro 5.7) de cada uma das partes. executado pela OTCA e co-financiado pelo BID. Equador (2006a y 2006b).
244
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>245

QUADRO 5.8
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO AMBIENTAL NA AMAZÔNIA:
COLÔMBIA E PERU
A ASSOCIAÇÃO DE
UNIVERSIDADES
O Siamazonia (Sistema de Informação da Diversidade zam-se como uma rede de pessoas e entidades com a
AMAZÔNICAS
Biológica e Ambiental da Amazônia Peruana) é o centro de finalidade de subsidiar os tomadores de decisão com dados
(UNAMAZ) referência em manejo de informação sobre a diversidade e produtos de informação nos processos regionais que
PROMOVE A BUSCA biológica e ambiental da Amazônia peruana. Tem como visam ao desenvolvimento sustentável. O SIAT-AC também
DE SOLUÇÕES propósito elevar o nível de conhecimento e comunicação pode ser definido como a manifestação regional do Sistema
COMUNS A sobre a região e, assim, contribuir com práticas e decisões de Informação Ambiental da Colômbia (SIAC) na Amazônia
acertadas para sua conservação e uso sustentável. Foi cria- colombiana.
PROBLEMAS
do em 2001 por iniciativa do Projeto Diversidade Biológica
REGIONAIS POR da Amazônia Peruana (Biodamaz, Convênio Peru-Finlândia) Trata-se de um processo interinstitucional do qual partici-
MEIO DA e é executado no Peru pelo Instituto de Pesquisas da pam, na primeira fase, o Instituto Amazônico de Pesquisas
COOPERAÇÃO Amazônia Peruana. A formulação do projeto contou com a Científicas (Sinchi), como coordenador; o Ministério do
CIENTÍFICA, DA participação de atores regionais envolvidos com a temática, Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial; o
PROMOÇÃO DO e inicialmente com o compromisso de sete instituições Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von
sociais. Humboldt; a Unidade Administradora Especial de Parques
CONHECIMENTO E Nacionais Naturais; CorpoMacarena; CorpoAmazonía; o
DO O tipo de informação disponibilizada vai de dados científi- Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais
DESENVOLVIMENTO cos organizados em bancos de dados, informação docu- da Colômbia (Ideam); e o Sistema de Informação sobre
DE MELHORES mental, imagens e mapas até múltiplas ferramentas de Biodiversidade da Colômbia (SIB). Nas próximas fases serão
CONDIÇÕES PARA O contato e comunicação. Além disso, entidades e especialis- integradas outras empresas, o setor acadêmico, associações
tas podem contribuir com informação. Funciona como uma de classe e ONG.
CAPITAL HUMANO
rede descentralizada e organizada entre entidades e espe-
DA REGIÃO. Por outro lado, foram apresentadas ini- to voluntário, como os Tagaéri-Taromenâni cialistas que geram ou manejam informação relevante. Está O portal do SIAT-AC disponibiliza informação sobre o estado
ciativas inovadoras voltadas à prevenção de e o povo indígena Huaorâni (Equador: Mi- integrado a iniciativas semelhantes, como o Mecanismo de do meio ambiente: biodiversidade, ecossistemas, flores-
impactos ambientais e de conflitos sociais, nistério das Relações Exteriores, Comércio Intercâmbio de Informação da Convenção sobre Diversida- tas; dados sociodemográficos, uso de recursos, dinâmicas
que requerem o compromisso e o esforço e Integração, 2008). Vários especialistas de Biológica (Clearing House Mechanism, CHM), a Infra- ambientais, dados cartográficos, consulta on-line e meta-
de diversos atores. Nesse sentido, cabe res- destacam que a iniciativa é uma alternativa estrutura Global de Informação sobre Biodiversidade (GBIF, dados. O portal do SIAT-AC consolidou-se como o ponto
saltar a Iniciativa-modelo Yasuni-ITT (Ishpingo- para abordar a questão da dívida ecológica na sigla em inglês) e a Rede Interamericana de Informação de referência para informação ambiental sobre a Amazônia
Tambocicha-Tiputíni), do Equador, que tem do ponto de vista global, fazendo uso de sobre Biodiversidade (IABIN, na sigla em inglês). colombiana.
como foco combater as mudanças climáti- instrumentos de compensação. Foi propos-
cas, conservar a biodiversidade e proteger ta ainda a criação de um “ecoimposto” com Por outro lado, o Sistema de Informação Ambiental Ter- Fontes: Peru: Siamazonia; Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Cien-
os povos indígenas. Para tanto, requer a a finalidade de desestimular a utilização de ritorial da Amazônia Colombiana (SIAT-AC) constitui um tíficas (Sinci), Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von
Humboldt e Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial
criação de um fundo fiduciário internacio- combustíveis fósseis, por meio do qual se processo no qual um conjunto de atores estabelecem (MAVDT) (2007).
nal destinado a compensar o Equador por tributaria a venda de petróleo (inclusive gás acordos com objetivos comuns para a gestão da informação
manter no subsolo da Amazônia equatoria- e carvão), em lugar das emissões (Martínez ambiental da Amazônia colombiana. Esses atores organi-
na cerca de um bilhão de barris de petró- et al., 2008).
leo, que, do contrário, seriam explorados
pelo projeto ITT. Não explorar o petróleo do Com relação aos projetos de pesquisa
subsolo equivale a aproximadamente 432 que abrangem vários países, inclusive de
milhões de toneladas de dióxido de carbo- outras regiões, pode-se citar o HiBam, do tema de Informação da Amazônia [Siama- área desmatada na Amazônia Legal, no pe-
no retidas no subsolo. Essa iniciativa conta qual participam Brasil, Equador, Bolívia e zonia]) e o da Colômbia (Sistema de Infor- ríodo de agosto de 2007 a junho de 2008,

9%
com o respaldo e o compromisso do presi- França, cuja finalidade é estudar a hidrolo- mação Ambiental Territorial da Amazônia aumentou em 9% em comparação com o FOI O
dente do Equador e vem sendo divulgada gia e a geoquímica da bacia amazônica. Colombiana [(SIAT-AC]). período anterior. Além disso, divulga men- CRES-
nas diversas instâncias de diálogo e coope- salmente dados relativos à área desmatada.
ração internacional com a finalidade de Há vários sistemas de informação am- Deve-se destacar ainda o esforço bra- Por exemplo, em junho de 2008 a super-
CIMENTO
conquistar apoio financeiro. Destaque-se biental nos países da região amazônica. sileiro no sentido de implementar um fície desmatada na Amazônia Legal foi de REGISTRADO DA
que Yasuni é a área protegida mais extensa Apesar da considerável quantidade de in- sistema de alerta rápido para monitorar a 870,8 km2, o que representa uma redução ÁREA DESMATADA
do Equador continental e a segunda mais formação gerada na região, sua difusão ou cobertura florestal e fornecer informação de 20% com relação aos dados de maio de NA AMAZÔNIA
importante depois de Galápagos, sendo re- acessibilidade não se dão em nível adequa- sobre a situação do desmatamento em 2008 (1.096 km2). Também indica que os LEGAL BRASILEIRA
conhecida como a zona de maior biodiver- do para os atores amazônicos. Dois exem- tempo real, denominado DETER, desenvol- estados mais atingidos pelo desmatamento
EM 2008 COM
sidade do planeta. Além disso, nela vivem plos de sistemas de informação nacional vido pelo Instituto Nacional de Pesquisas são Mato Grosso e Pará (INPE, 2008 citado
povos indígenas em situação de isolamen- para a Amazônia são o do Peru (Peru: Sis- Espaciais (INPE). O INPE registrou que a por PNUMA Brasil). RELAÇÃO AO
PERÍODO ANTERIOR.
246
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>247

QUADRO 5.9 QUADRO 5.10


MANEJO COMUNITÁRIO DOS RECURSOS NATURAIS: INICIATIVA CIDADÃ MADRE DE DIOS, ACRE E PANDO (MAP):
A EXPERIÊNCIA WAI WAI, GUIANA UMA NOVA MANIFESTAÇÃO DE ARTICULAÇÃO SOCIAL

O distrito de Konashen, ou “país Wai Wai”, como é mais MAP se define como um “movimento social transfronteiriço
conhecido, está localizado na porção sul da Guiana. que chegou à conclusão de que somente através da colabo-
Nele vive um dos povos ameríndios, os Wai Wai. Ocu- ração e da integração de vários segmentos das sociedades
pando uma área de cerca de 625 mil hectares desde locais, regionais, nacionais e mundiais será possível alcançar um
tempos antigos, em 2004 o povo Wai Wai recebeu do desenvolvimento sustentável no sudoeste da Amazônia, capaz
governo da Guiana o direito de propriedade absoluto de se manter nas próximas décadas e para além do ano 2100”.
sobre esse território.
Desde 1999, na região conhecida como MAP, que compre-
Após a titulação da área, a comunidade exigiu do ende Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolí-
governo que o distrito de Konashen fosse integrado ao via), vem sendo desenvolvida uma iniciativa formada por
Sistema Nacional de Áreas Protegidas (SNAP ou NPAS, instituições e pessoas do âmbito acadêmico-universitário,
na sigla em inglês) e reconhecido como Área de Con- de organizações sociais, organizações não-governamentais
servação de Propriedade Comunitária (ACPC ou COCA, (ONGs) e das instâncias públicas municipais e estaduais.
na sigla em inglês). Para isso, a comunidade preparou Tal iniciativa tem como objetivo promover processos de
o projeto de plano de manejo exigido com a assistência harmonização das aspirações da população, de participação
da Conservation International – Guiana. O plano inclui democrática nos processos decisórios e de coordenação
as metas e os objetivos da ACPC, as diretrizes de mane- de planos, programas e projetos integracionistas voltados
jo dos recursos naturais, sua estrutura administrativa e para o desenvolvimento sustentável da tríplice fronteira, o
um programa de capacitação. Prevê, ainda, um progra- coração do sudoeste amazônico.
ma de monitoramento e avaliação visando identificar
novos desafios e oportunidades, bem como adaptar-se O MAP tem os seguintes objetivos:
a novas situações. O plano será avaliado transcorridos ❱❱❱ Fortalecer as relações trinacionais a fim de dar projeção
dois anos da sua implementação. à região e expandir suas perspectivas com base nas capaci-
dades locais
Os principais objetivos da ACPC são: conservar a ❱❱❱ Integrar internamente a região nos campos econômico,
biodiversidade, manter as tradições e os meios de vida social, ambiental e político
da comunidade, melhorar as condições de vida da ❱❱❱ Gerar modelos de desenvolvimento solidário que evi-
população e oferecer oportunidades para seus mem- tem o desmatamento ambiental
bros e suas famílias. A implementação do plano será
supervisionada por uma equipe gestora integrada pelo A base da organização constitui-se de dois grandes even-
toshao, ou capitão da vila, e por seus conselheiros, e tos: as reuniões temáticas, agrupadas nos Mini MAP, e a
❱❱❱ O estudo da biodiversidade amazônica atrai cientistas de centros de pesquisa de todo o mundo. complementada pelo Community Ranger Programme, realização de encontros anuais, denominados Fórum MAP.
ANTONIO ESCALANTE / EL COMERCIO
tabeliães, intérpretes e outras pessoas relevantes à sua Desde 2000, realizaram-se encontros nas cidades de Rio
administração. A equipe contará, no nível local, com o Branco (MAP I), Porto Maldonado (MAP II), Cobija (MAP III)
No que diz respeito à educação, no apoio do Clube de Conservação, do Grupo de Mulheres, e Brasiléia e Epitaciolândia (MAP IV).
contexto andino-amazônico criou-se o Pla- da Igreja e de professores, entre outros. O apoio exter-
no Andino-Amazônico de Comunicação e no será dado pelo Ministério de Assuntos Ameríndios, O MAP conseguiu conscientizar a população no sentido de
Educação Ambiental (Panacea), que tem pela Agência de Proteção do Meio Ambiente, pela admi- que é preciso mobilização para alcançar o desenvolvimento
por objetivo integrar as ações dos países nistração regional, entre outras instituições importantes. sustentável da região, contando para tanto com a participa-
em educação ambiental e, ainda, criar um ção de atores locais e de instituições interessadas. Destacam-
espaço de intercâmbio e ação mais orgâni- Os próximos passos para que o distrito de Konashen se entre suas conquistas: a eliminação de passaporte para
co. As linhas de trabalho do Panacea são: seja declarado uma ACPC são a aprovação do plano circular entre os três países, o desenvolvimento da Agenda 21
(i) políticas públicas e estratégias nacio- de manejo e a declaração, por parte das instituições local nos municípios participantes e a construção de cenários
nais e regionais de educação ambiental; competentes, de sua inclusão no sistema de áreas de de mitigação para a rodovia Interoceânica.
ERNESTO ARIAS/ EL COMERCIO

(ii) comunicação para a educação e gestão conservação.


ambiental; e (iii) formação, capacitação O que faz do MAP tão especial como movimento da socie-
e pesquisa em comunicação e educação Fonte: Linda Yun, Conservation International, 2007. dade civil organizada é sua busca por construir instâncias
ambiental. No entanto, esse plano ainda políticas plurais e transparentes para tratar de questões
não foi implementado devido à falta de comuns, e não uma manifestação reativa, por exemplo,
compromisso financeiro por parte das ins- ❱❱❱ Equipes de cientistas e pesquisadores interessados em temas uma reação pontual contra as rodovias.
tituições envolvidas. amazônicos visitam freqüentemente a região.
Fonte: <http://www.map-amazonia.net>; Gudynas (2007).
248
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>249

QUADRO 5.11
Muitas outras iniciativas de organizações
O PARQUE NACIONAL YANACHAGA CHEMILLÉN FOR-
sociais tratam da gestão ambiental na Ama-
NECE ÁGUA DE QUALIDADE: O CASO DA PISCICULTURA
zônia, como a experiência Wai Wai, na Guia-
“CALIFORNIA´S GARDEN”
na, e o MAP. Consistem na organização e mo-
bilização da sociedade com o propósito de
California´s Garden iniciou sua trajetória em 1996, com melhorar a situação do meio ambiente, quer
um estudo de viabilidade para a instalação de uma pisci- individualmente quer em parceria com o go-
cultura em Oxapampa, onde encontrou condições favorá- verno local ou regional. Muitas instituições e
veis para a criação de trutas, tais como a boa qualidade ONGs contribuíram para essa mudança ofe-
da água proveniente das nascentes localizadas no Parque recendo atividades de capacitação e empo-
Nacional Yanachaga Chemillén (PNYCH). deramento às populações locais.

A água que o Parque Nacional Yanachaga Chemillén forne- O setor privado é, dada a sua nature-
ce ao empreendimento contém altos níveis de oxigênio, za, um gerador de impactos ambientais,
motivo que explica o desenvolvimento mais rápido das motivo pelo qual costuma ser alvo de crí-
trutas e o melhor aproveitamento em termos de ração, se ticas. Nos últimos anos observou-se que
comparado com o de seu principal concorrente, situado algumas empresas adotaram estratégias de
na cidade de Huancayo. Neste, cada 1,2 kg de ração rende responsabilidade social, dentre elas a res-
um quilograma de truta, ao passo que na California´s ponsabilidade ambiental. A esse respeito,
Garden obtém-se esse mesmo quilograma com apenas o setor privado vem desenvolvendo inicia-
um de alimento. A água tem essas características graças à tivas que favorecem processos de mane-
“boa condição de saúde” dos ecossistemas conservados jo sustentável. O turismo ecológico é um
pelo Parque Nacional Yanachaga Chemillén exemplo de desenvolvimento de um setor
ambientalmente limpo.
Além disso, a maior concentração de oxigênio da água per-
mite que a California´s Garden trabalhe com uma densidade Em síntese, os atores e as instituições
de 28 a 34 kg/m2 de trutas nos seus tanques, sendo que a da Amazônia desenvolveram uma série de
densidade ideal normalmente é de 15 kg/m2. Isso lhes per- iniciativas em busca de respostas aos proble-
mite produzir o dobro de trutas que outras pisciculturas, sem mas ambientais da região. A Amazônia con-
a necessidade de investimentos em nova infra-estrutura. ta com o importante apoio da comunidade
internacional, que se traduz em cooperação
Com o uso de água de boa qualidade, devido à conserva- técnica, recursos financeiros, pesquisa, etc.
ção da bacia no Parque Nacional Yanachaga Chemillén, a Mas também desenvolveu processos sociais
California´s Garden conseguiu duplicar sua produtividade que contribuíram para uma maior coesão
em relação à concorrência e atualmente exporta, todos entre os diferentes atores e para que estes,
os anos, mais de 250 toneladas de truta para o mercado aos poucos, articulem-se e encontrem suas
europeu. Para a piscicultura California´s Garden, o estado próprias respostas que conduzam a uma ges-
LINO CHIPANA / EL COMERCIO

de conservação do Parque Nacional Yanachaga Chemil- tão ambiental mais eficiente. Não há dúvida
lén é um diferencial com relação à concorrência. de que as instituições locais também tiveram
um papel fundamental em dar respostas aos
Fonte: Informação proporcionada por California´s Garden S.A., 2005. problemas. As organizações da sociedade
Elaboração: Fernando León Morales, Inrena, 2006. civil promoveram importantes esforços no
❱❱❱ As atividades de lazer são também uma forma de sentido da atenuar os problemas da região,
aproveitar os recursos naturais de maneira sustentável. principalmente na área de saúde (relacio-
nados com a contaminação da água), mas
também desenvolveram empreendimentos
Em linhas gerais, os países amazônicos desenvol- problemas regionais, por meio da cooperação científi- empresariais que contribuíram para o apro-

RICHARD HIRANO / EL COMERCIO


veram uma série de iniciativas para “ambientalizar” ca, da promoção do conhecimento e da melhoria das veitamento da riqueza natural de forma sus-
a educação e docentes nas escolas e universidades, condições para o capital humano da região. Integrada tentável. Contudo, faz-se necessária muito
porém a maioria dessas iniciativas ocorreu de forma atualmente por mais de 60 universidades e cerca de mais coesão nesses esforços, muito mais
isolada em cada país. 40 instituições de pesquisa públicas, a Unamaz foi pesquisa articulada e recursos técnicos e fi-
criada em 1987, na cidade de Belém do Pará, Brasil, nanceiros para que o esforço desses atores
No que respeita às universidades, a Associação por iniciativa de pesquisadores e cientistas dos oito do desenvolvimento amazônico se traduza
de Universidades Amazônicas (Unamaz) tem como países-membros da OTCA. Até o momento, seu pro- ❱❱❱ O ecoturismo, exemplo de atividade econômica com responsabilidade em avanços mais concretos que beneficiem
objetivo promover a busca de soluções comuns aos gresso é pouco expressivo. ambiental, vem conquistando espaço na Amazônia. o meio ambiente da região.
250
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>251

PÔR-DO-SOL NO RIO AMAZONAS: PAISAGEM


BUCÓLICA PROPÍCIA PARA O REENCONTRO
DO HOMEM COM A NATUREZA.

ANTONIO ESCALANTE / EL COMERCIO


>253

AUTORAS:
ROSÁRIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
KAKUKO NAGATANI Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)

CO-AUTORES:

6.1
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
MARCOS XIMENES Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM) – Brasil APRESENTAÇÃO
ADRIANO VENTURIERI Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – Brasil
TIMOTHY KILLEEN Conservation International – Bolívia
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
DOLORS ARMENTERAS Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia

6.2 HIPÓTESES
FUNDAMENTAIS

6.3
UMA VISÃO DA
AMAZÔNIA
NO FUTURO

O futuro 6.4 TEMAS


EMERGENTES

Da 6.5 CONCLUSÕES

AmazonIa
254
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >255

QUADRO 6.1
CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS
NA METODOLOGIA GEO

Em uma avaliação ambiental integral GEO, a análise de


cenários envolve três etapas: a definição do objetivo
da preparação de cenários, o desenho do processo
a ser usado na sua elaboração e a construção dos
cenários. A análise de cenários é um processo útil

4
para: sensibilizar atores e decisores para fatores que
IMAGENS HIPOTÉTICAS impulsionam uma mudança ambiental (p.ex., a dinâmi-
– CHAMADAS DE ca socioeconômica); estimular processos criativos de
“CENÁRIOS” – FORAM planejamento; e gerar novos conhecimentos sobre as
inter-relações entre os diferentes setores da socieda-
CRUZADAS DE ACORDO COM
de. Seu objetivo é influenciar, direta ou indiretamente,
OS TEMAS PRIORITÁRIOS E/OU processos decisórios, com vistas a promover o desen-
TRANSVERSAIS IDENTIFICADOS volvimento sustentável.
NOS CAPÍTULOS ANTERIORES.

Na etapa de desenho do processo de construção de


cenários, determinam-se aspectos como a abrangência
e a profundidade da análise, a quantidade de dados
Quatro imagens hipotéticas, chamadas de “cenários”, qualitativos e quantitativos a serem examinados, o peso
foram cruzadas de acordo com os temas prioritários e/ou das opiniões de especialistas e a literatura disponível. De
transversais identificados nos capítulos anteriores. Cada um modo geral, os cenários são explicados qualitativa e
um desses cenários aponta para um rumo diferente, com quantitativamente, de maneira a ter uma visão coerente
um horizonte temporal de vinte anos – de 2006 a 2026 e multidimensional de como os eventos se desenvolve-
– e um corte transcorridos dez anos, em 20161. riam no futuro.

Para cada cenário, indaga-se quem são os responsá-


veis pelas decisões-chave (os principais atores), como
o objetivo É influenciar
essas decisões são tomadas (as principais abordagens a tomaDA de decisÕes, de maneIra
de gestão) e por que motivo se optou por elas (as prin- direta OU indireta, coM a finalidadE
❱❱❱ Somente com o compromisso e a participação de todos os seus habitantes será possível cipais prioridades). A natureza e os nomes dos cenários de promover O desENVOLVIMENTO
construir um futuro promissor para a Amazônia. foram determinados pelo tema que predomina na ima- SUSTENTÁVEL.
ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP
gem particular correspondente. Todos os cenários aqui
apresentados são igual e simultaneamente possíveis,

6.1|INTRODUÇÃO mas não devem ser considerados projeções exatas do


futuro. Pretende-se apenas que sirvam de guia prático
para a revisão e a avaliação das decisões e ações dos
Geralmente, os cenários na metodologia GEO atribuem
um peso maior à construção de narrativas baseadas na
opinião de especialistaas e em informações qualitativas.
Em virtude das heterogeneidades biológico-físicas, econômicas, socio- Nossa Amazônia está mudando a diferentes atores, bem como das implicações mais im- Para gerar os dados quantitativos que acompanharam os
culturais e políticas observadas na Amazônia, as diferentes seções da portantes que estas possam ter ao longo do tempo. casos hipotéticos em outros processos GEO, como o GEO 4
avaliação ambiental contida neste relatório foram objeto de ampla revi- um ritmo acelerado, está passando (PNUMA, 2007), utilizou-se um modelo genérico singular,
são e negociação. Entretanto, no âmbito das discussões sobre as pers- A combinação de incertezas críticas determina um conhecido como PoleStar (Stockholm Environment Institute
pectivas futuras para o meio ambiente regional, os principais atores dos
por profundas alterações... Para onde cenário. Após diversos possíveis cenários terem sido ava- [SEI] 2008).
oito países amazônicos constataram de forma consensual e inequívoca vamos? Que fatores estão por trás liados, quatro deles foram selecionados como os mais
o seguinte: “Nossa Amazônia está mudando a um ritmo acelerado e as prováveis e relevantes para a região amazônica. Vale res- Os cenários são definidos com base em hipóteses, mas
alterações observadas em seu ecossistema são profundas”. dessas alterações? saltar que não se analisou o cenário da sustentabilidade, um cenário nunca é uma previsão do futuro: representa
no qual a região viveria um crescimento econômico ali- uma hipótese de uma imagem futura, simplificada, porém
Para onde vamos? Que fatores estão por trás dessas alterações? cerçado no aproveitamento sustentável de seus recursos possível.
Este capítulo apresenta os resultados da análise das forças que se e na melhoria da qualidade de vida de sua população, ou
constituem na mola propulsora das mudanças que estão ocorrendo seja, o cenário no qual o desenvolvimento sustentável
na região e traça um panorama de rumos futuros que consideramos seria uma realidade que caracterizaria a situação ideal e Fonte: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente [PNUMA]
ser “possíveis”, dadas as decisões que seus países e cidadãos estão desejável para a região. (2007a, 2007b).
tomando em relação à Amazônia atualmente.
1Este período foi decidido de forma participativa pelo Comitê Técnico do projeto
duranta a oficina GEO Amazônia, ocorrida em Villa de Leyva, Colômbia, em
maio de 2006.
256
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >257

Na avaliação das implicações desse conjunto de forças mo- que a estabilidade dos ecossistemas é assegurada e bens
trizes para a futura situação ambiental da Amazônia, e de sua e serviços ambientais são valorizados. O desenvolvimento
importância e grau de incerteza, três forças motrizes foram de ciência, tecnologia e inovação é limitado, não são feitos
identificadas como “incertezas críticas”: investimentos públicos na geração de novos conhecimentos
sobre as riquezas naturais da região e não se incentiva o de-
❱❱❱ O papel das políticas públicas focadas no aproveitamento senvolvimento tecnológico para otimizar o aproveitamento
dos recursos naturais da região , que compreendem os se- sustentável de seus recursos.
guintes elementos: participação cidadã, informação, gover-
nança ambiental e gestão ambiental. As políticas públicas
podem ter como norte a promoção do desenvolvimento CENÁRIO "À BEIRA DO PRECIPÍCIO”
sustentável, ou ser alheias a ele. (Papel das políticas públicas +, Funcionamento do mer-
cado –, CTI –): as políticas públicas promovem o desen-
❱❱❱ O funcionamento do mercado , isto é, suas tendências, as volvimento sustentável da região amazônica com base em
quais podem pender para um mercado que valoriza serviços uma governança ambiental eficaz, com a participação dos
ambientais na Amazônia e demanda produtos elaborados cidadãos. No entanto, as forças do mercado estimulam o
com base em critérios de sustentabilidade, ou para merca- desenvolvimento de atividades produtivas não-sustentáveis,
dos que não exigem salvaguardas ambientais na produção que afetam a estabilidade dos ecossistemas e não valorizam
de bens e na prestação de serviços na região. bens e serviços ambientais. O desenvolvimento de ciência,

JUAN PONCE / EL COMERCIO


tecnologia e inovação é limitado, não são feitos investimen-
❱❱❱ A ciência, a tecnologia e a inovação para o desenvolvimento tos públicos na geração de novos conhecimentos sobre as
sustentável da região. Estas áreas fornecem respostas cientí- riquezas naturais da região e não se incentiva o desenvolvi-
fico-tecnológicas às questões regionais, permitindo o desen- mento tecnológico para otimizar o aproveitamento susten-
❱❱❱ Educar os jovens: garantia de um futuro sustentável para a Amazônia. volvimento de atividades produtivas e a construção de uma tável de seus recursos.
infra-estrutura adequada, em bases sustentáveis, ou, por outro
lado, podem estar ausentes ou serem alheias ao aproveita-

6.2|HIPÓTESES
mento sustentável de bens e serviços ambientais. CENÁRIO "LUZ E SOMBRA”
- Nível geral de emprego (Papel das políticas públicas +, Funcionamento do mer-
- Educação ambiental Vale ressaltar que, por não ser possível prever o comporta- cado –, C T I +): as políticas públicas estimulam o desenvol-
FUNDAMENTAIS mento das incertezas críticas, foram usadas hipóteses na sua vimento sustentável da região amazônica com base em uma
Aspectos econômicos caracterização. Por outro lado, parte-se da premissa de que governança ambiental eficaz, que promove a participação
A definição de cenários baseia-se na identificação e na análise de for- - Atividades produtivas sem manejo sustentável cada uma dessas incertezas críticas tem um grau de influência cidadã. No entanto, as forças do mercado incentivam o de-
ças motrizes (tabela 6.1). “Forças motrizes” são entendidas como um - Investimentos em projetos de infra-estrutura (comuni- diferente. Por exemplo, a ciência e a tecnologia não exercem senvolvimento de atividades produtivas não-sustentáveis, que
conjunto de fatores e processos subjacentes nas áreas econômica, cações e indústria) a mesma influência que o mercado na determinação de ru- afetam a estabilidade dos ecossistemas e não valorizam bens
social, ambiental, político-institucional e cultural, entre outras, que - Megaprojetos e sua relação com o planejamento mos futuros: a velocidade com que as mudanças no mercado e serviços ambientais. Por outro lado, são feitos investimentos
afetam o meio ambiente natural tanto no presente como no futuro. territorial geram incentivos que influenciam as decisões dos diferentes em ciência, tecnologia e inovação, que promovem a geração
- Monocultura atores sociais geralmente é maior que a da área de ciência e de novos conhecimentos sobre as riquezas naturais da região,
O processo de identificação e revisão das forças motrizes da Amazô- - Culturas agrícolas para fins ilícitos tecnologia para produzir mudanças e incentivos. A Amazônia, e se incentiva o desenvolvimento tecnológico no sentido de
nia foi importante para a discussão e para as contribuições dos integrantes - Desenvolvimento de mercado de serviços ambientais em particular, é muito sensível a mudanças no funcionamento otimizar o aproveitamento sustentável de seus recursos.
do Comitê Técnico do GEO Amazônia e de outros representantes dos dos mercados.
principais atores envolvidos. Essas consultas e revisões foram levadas a Aspectos políticos e institucionais
cabo nos workshops realizados em Villa de Leyva, Colômbia, em maio de - Desenvolvimento do ordenamento jurídico Após a identificação e análise de diferentes combinações CENÁRIO "INFERNO EX-VERDE”
2006, e seus resultados serviram de subsídio às discussões mantidas na - Desenvolvimento de instrumentos de gestão de incerteza críticas, foram selecionados quatro cenários (Papel das políticas públicas –, Funcionamento do mer-
reunião sobre cenários, ocorrida em Havana, Cuba, em agosto de 2006. - Coordenação interinstitucional considerados altamente possíveis e relevantes para a região cado –, CTI –): as políticas públicas não promovem o
As forças motrizes identificadas foram as seguintes: amazônica, para os quais foram atribuídas as seguintes hipó- desenvolvimento sustentável; o componente ambiental
Ciência, tecnologia e inovação teses fundamentais, em que "+" significa uma melhora e "-", não é levado em consideração nos processos decisórios
Aspectos demográficos - Transferência de tecnologia diminuição ou deterioração. públicos. A governança ambiental não é eficaz, e a par-
- Migração - Articulação e reconhecimento de conhecimentos tradicionais ticipação cidadã não é promovida. Além disso, as forças
- Crescimento demográfico do mercado incentivam o desenvolvimento de atividades
Cultura CENÁRIO "AMAZÔNIA EMERGENTE” produtivas não-sustentáveis, que afetam a estabilidade dos
Aspectos sociais - Conservação da multietnicidade e da cultura (Papel das políticas públicas +, Funcionamento do mer- ecossistemas e não valorizam bens e serviços ambientais.
- Pobreza e desigualdade de renda cado +, CTI –): las políticas públicas promovem o desen- O desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação é li-
- Cobertura de serviços básicos Aspectos ambientais volvimento sustentável da região amazônica com base em mitado, não são feitos investimentos públicos na geração
- Conflitos internos (violência subversiva ou violência promovida por - Mudanças no uso do solo uma governança ambiental eficaz, com a participação dos de novos conhecimentos sobre as riquezas da região e não
atores à margem da legalidade) - Contaminação da água cidadãos. As forças do mercado incentivam o desenvolvi- se incentiva o desenvolvimento tecnológico para otimizar o
- Nível geral de instrução mento de atividades produtivas sustentáveis de tal forma aproveitamento sustentável de seus recursos.
258
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >259

TABELA 6.1
Comportamento das forças motrizes

CENÁRIO CENÁRIO CENÁRIO


FORÇAS MOTRIZES CENÁRIO
CATEGORIA AMAZÔNIA À BEIRA DO INFERNO
/ CENÁRIOS LUZ E SOMBRA
EMERGENTE PRECIPÍCIO EX-VERDE

Migração
ASPECTOS
DEMOGRÁFICOS
Crescimento populacional

Pobreza e desigualdade de renda

Cobertura de serviços básicos

Conflitos armados
ASPECTOS
SOCIAIS
Nível geral de instrução

Nível geral de emprego

Educação ambiental

Atividades produtivas sem manejo


sustentável

Investimentos em projetos de infra-estru-


tura (comunicações e indústria)

Megaprojetos e sua relação com o planeja-


ASPECTOS ECONÔ- mento territorial
MICOS
❱❱❱ Estas crianças são o futuro da Amazônia. Agricultura de monocultura
SERGIO AMARAL / OTCA

Culturas agrícolas para fins ilícitos

6.3|UMAVISÃODA cada um dos cenários? Considerando a heterogeneidade


que prevalece entre os países amazônicos, as respostas a
Desenvolvimento de mercados para
serviços ambientais
AMAZÔNIANO essas perguntas variam consideravelmente na região.

FUTURO Além disso, vale destacar que há forças motrizes que


Desenvolvimento do ordenamento jurídico
só agora estamos começando a conhecer e que se tor- ASPECTOS
Desenvolvimento de instrumentos de gestão
POLÍTICOS E
Como assinalado no capítulo 2, os processos socioeconômicos pro- naram importantes nos últimos anos, como as mudanças INSTITUCIONAIS
moveram uma mudança acelerada no uso do solo e no processo climáticas globais. O quarto relatório de avaliação das mu- Coordenação interinstitucional
de integração cultural das populações indígenas amazônicas. Res- danças climáticas do Painel Intergovernamental sobre Mu-
saltou-se ainda que as políticas públicas e a institucionalidade nos danças Climáticas (IPCC) (2007) e diversos estudos (Case, Transferência de tecnologia
CIÊNCIA,
respectivos países amazônicos são os componentes básicos para a 2002) referem-se à grande vulnerabilidade da Amazônia TECNOLOGIA E
Articulação com conhecimentos tradicio-
construção do futuro da Amazônia. diante desse fenômeno mundial e representam uma força INOVAÇÃO
nais e reconhecimento destes
motriz-chave para o desempenho ambiental da região. Os
A obra Amazônia sem mitos revelou crenças equivocadas e estra- cenários do IPCC revelam uma faixa de mudança de tem- CULTURA Conservação da multietnicidade e da cultura
tégias impostas à região por países industrializados ou desenvolvidos peratura que flutuaria entre 1,1 e 6,4 °C. Diversos estudos
Introdução de espécies invasoras
e aludiu ao compromisso dos países amazônicos de assumir sua res- indicam que uma elevação de mais de 2 °C na temperatura
ponsabilidade de garantir o desenvolvimento e o bem-estar ambiental do planeta produzirá mudanças significativas e irreversíveis ASPECTOS Mudanças no uso do solo
na região (Banco Interamericano de Desenvolvimento [BID]; Progra- em seus ecossistemas (IPCC, 2007) (ver capítulo 2). AMBIENTAIS
ma das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD]; Tratado de Contaminação da água
Cooperação Amazônica [TCA], 1992). Em dezesseis anos, as forças Apesar das diferenças nacionais e da grande incerte-
que dominam as dinâmicas amazônicas sofreram mudanças e as de- za decorrente dos limitados conhecimentos científicos AUMENTO REDUÇÃO
AUMENTO REDUÇÃO EFEITO NULO
cisões nacionais passaram a condicionar diretamente as escolhas para sobre as complexas interações entre diferentes sistemas, SIGNIFICATIVO SIGNIFICATIVA
LEGENDA
o desenvolvimento da Amazônia. Que forças predominarão nas pró- especialistas amazônicos avaliaram as tendências de
ximas décadas? Como se comportarão as atuais forças motrizes em comportamento das forças motrizes (tabela 6.1).
260
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >261

NAS PRÓXIMAS PÁGINAS SÃO


RETRATADOS OS QUATRO
POSSÍVEIS CENÁRIOS
PARA A AMAZÔNIA EM
2026. COM ELES, BUSCA-
SE OFERECER AO LEITOR
UM OLHAR EM DIREÇÃO
AO FUTURO BASEADO
NO CONHECIMENTO
DA DINÂMICA DOS
DIFERENTES ELEMENTOS
DA SOCIEDADE ATUAL.

CENÁRIO "AMAZÔNIA
EMERGENTE”

Nas duas décadas que antecederam 2026,


a população dos assentamentos humanos
da Amazônia cresceu muito, mas esse au-
mento foi acompanhado de investimentos
significativos na expansão e melhoria de
serviços básicos e na geração de empregos,
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

graças a políticas públicas voltadas para o


social. Os países amazônicos fortaleceram
o arcabouço legal na região. Além disso, por
meio da integração e coordenação de polí-
ticas públicas, o Estado conseguiu reduzir
desigualdades na distribuição de renda e, ❱❱❱ Amazônia emergente: vai-se a pobreza, fica a esperança.
portanto, o nível da pobreza.

Os avanços logrados, no entanto, variam mobilização de fatores de produção (mão- Em 2026, a região riquezas, ou seja, favorecem o desenvol- da, mas também às restrições impostas à
entre os países. Governos centrais e locais de-obra, insumos, fontes de energia, entre vimento do homem e de sua cultura, ex- transferência de tecnologia. Isso limita, em
têm trabalhado ativamente na preparação e outros). Um melhor planejamento e contro- amazônica está pressa em seus diferentes modos de vida termos de competitividade, a expansão das
aplicação de instrumentos de gestão ade- le dos impactos adversos desses projetos e formas de produção, em harmonia com a atividades produtivas existentes e o proces-
quados ao contexto amazônico, e para isso contribuíram para reduzir disparidades entre
mais consciente natureza. Reconhecer e respeitar a cultura so de implementação de atividades promis-
se valeram da coordenação interinstitucio- a população amazônica e o restante da po- da importância da e os conhecimentos tradicionais estimula a soras ou emergentes. Os países não conse-
nal, direcionando seus esforços às diferen- pulação nacional no que se refere à renda conservação dos usos e costumes tradicio- guiram gerar condições de modo a canalizar
tes questões ambientais de acordo com sua e à qualidade de vida, em cada um dos paí- sustentabilidade nais e a revalorização da múltipla etnicidade as capacidades das instituições públicas ou
prioridade à região. ses. A evidência mais clara dessa tendência e cultura amazônicas. acadêmicas para o aproveitamento dos re-
positiva é a redução de conflitos entre dife-
ambiental e contribui cursos naturais da região e, por essa razão, a
O nível crescente de atividades econômi- rentes grupos sociais, bem como daqueles para a melhoria dos Uma das limitações dos governos pode ampliação de algumas atividades produtivas
cas na região, em um contexto de integração relacionados à segurança nacional de alguns ter sido seus reduzidos aportes para o de- sustentáveis ainda é onerosa e pouco efi-
regional, tem favorecido o desenvolvimento países. principais indicadores senvolvimento científico e tecnológico e caz. As populações locais não participaram
de megaprojetos de infra-estrutura (p.ex., para a inovação. Essa situação apresenta da distribuição dos benefícios proporciona-
projetos de rodovias e de transmissão de As políticas públicas reconhecem a
ambientais. diferentes matizes entre os países amazô- dos pelo aproveitamento da biodiversidade,
energia), que facilitam tanto o intercâmbio heterogeneidade da região amazônica e nicos e diz respeito não apenas aos baixos exceto em casos específicos que envolvem
de produtos entre países da região como a promovem uma gestão integrada de suas investimentos em pesquisa básica e aplica- iniciativas do setor privado. Além disso, o
262
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >263

desenvolvimento limitado da área de ciên- mente em decorrência de migrações esti- O desenvolvimento


cia, tecnologia e inovação na região estimu- muladas pela bonança de atividades pro-
la a fuga de talentos para outros países ou dutivas, que se expandiram por mais de de atividades
regiões do próprio país, onde essas áreas uma década. O PIB per capita das regiões
recebem mais recursos e são priorizadas na amazônicas dos países cresceu neste sé-
econômicas
agenda pública. culo, graças a diversos incentivos públicos na região em
que atraíram mais investimentos para a ex-
Situação ambiental ploração de recursos minerais, florestais, um contexto
Em 2026, a região amazônica tem mais cons- hidrobiológicos, da biodiversidade, etc. A
ciência da importância da sustentabilidade Amazônia é conhecida por sua capacidade
de integração
ambiental. Graças à governabilidade ambien- de absorver sistemas produtivos de gran- regional favoreceu
tal, que melhorou juntamente com o fortale- de escala – “o último celeiro do mundo”
cimento das políticas e da institucionalidade, –, como a pecuária, a sojicultura e o culti- significativamente
e à coordenação regional de um modo geral, vo de transgênicos, que a tornaram muito
a região tem contribuído positivamente para atraente para investidores multinacionais
o desenvolvimento
a melhoria de indicadores ambientais funda- e contribuíram para aliviar a crise alimen- de megaprojetos de
mentais, como a taxa de mudança no uso do tar provocada pela escassez de água resul-
solo e a contaminação da água. tante de mudanças climáticas em regiões infra-estrutura.
tradicionalmente produtoras de cereais e
Há também sinais de que o desmatamen- grãos. Isso está ocorrendo em resposta à
to, a erosão e a perda da diversidade genética dinâmica do mercado internacional, que
na região estão diminuindo. Por essa razão, exige quantidades maiores de produtos a
é preciso reconhecer o sucesso das ações preços mais baixos.
do Estado com a aplicação de instrumentos
de regulação e de combate à corrupção para O desenvolvimento de atividades econô-
SERGIO AMARAL / OTCA

eliminar a extração florestal seletiva, o tráfico micas na região, em um contexto de integra-


ilegal de espécies e a introdução de espé- ção regional, favoreceu significativamente o
cies invasoras. Além disso, políticas públicas desenvolvimento de megaprojetos de infra-
permitiram que atividades desenvolvidas em estrutura. A maioria das obras da IIRSA já foi
áreas naturais protegidas (ANP) sejam susten- ❱❱❱ Amazônia emergente: melhoria dos principais indicadores ambientais. concluída, e um plano IIRSA II está em curso
táveis em 2026, devido ao aproveitamento para ampliar as conexões rodoviárias e de
de oportunidades de desenvolvimento pro- energia e promover uma maior integração
dutivo oferecidas pelo mercado internacional, Ao longo do tempo, com a redução das A principal carência observada é o escasso na região, o que favorecerá o intercâmbio
que valoriza bens e serviços ambientais. forças que geram mudanças na cobertura desenvolvimento científico e tecnológico. Tal de produtos e a mobilização de fatores de
vegetal, estar-se-á contribuindo para redu- EM situação desestimula a criação de alternativas produção, como mão-de-obra. Esse plano

2015,
Contando com instrumentos adequados zir variações na disponibilidade de água e a tecnológicas ecoeficientes, bem como restrin- contribuirá significativamente para o bom
para a gestão territorial (p.ex., o zoneamento contaminação deste recurso, isso em razão ge o acesso a estas. Além disso, o aproveita- funcionamento da União de Nações Sul-
econômico-ecológico e o cadastro de imó- do funcionamento eficaz dos mecanismos mento da biodiversidade não é suficiente para Americanas (Unasul).
veis), as atividades econômicas modernas e de regulação aplicados às atividades pro- atender adequadamente às necessidades da
as novas cidades desenvolvem-se em áreas dutivas (mineração, hidrocarbonetos, agri- AS METAS DE população, como alimentação e saúde As políticas públicas estão direciona-
apropriadas, evitando a degradação e a de- cultura). O princípio “poluidor pagador” é ACESSO À ÁGUA das para a melhoria dos serviços sociais
terioração dos ecossistemas. Atualmente, o amplamente aceito. A pesquisa e as soluções tecnológicas prestados. O crescimento econômico e as O desenvolvimento
FORAM ATINGIDAS,
planejamento territorial orienta projetos de para fazer frente às mudanças climáticas políticas públicas estáveis permitiram ao
infra-estrutura de maneira adequada, graças Por outro lado, as exigências do merca- DEZ ANOS APÓS também não registraram avanços significa- Estado obter melhores resultados nos in-
da área de ciência,
ao desenvolvimento do arcabouço legal e de do no que se refere a práticas de produção TEREM SIDO tivos. Essa questão parece não ter suscitado dicadores de distribuição de renda e con- tecnologia e
instrumentos de gestão apropriados, bem sustentáveis incentivam os produtores a ESTABELECIDAS. preocupação ou interesse suficientes de tribuíram para a redução da pobreza. De-
como à coordenação interinstitucional. Uma internalizar os custos ambientais através modo a gerar medidas ou resultados con- cisões tomadas por atores sociais têm sido inovação ainda é
estrutura jurídica mais clara e coerente com da implementação da gestão ambiental cretos; tampouco se pode dizer que seja criticadas em alguns casos, por enfocarem limitado, em razão
os direitos de propriedade gera incentivos nas diferentes etapas do processo produ- uma prioridade para os países amazônicos. benefícios de curto prazo e por não con-
para investimentos em atividades produti- tivo, reduzindo as externalidades geradas siderarem suas conseqüências ambientais da carência de
vas sustentáveis. Nesse contexto, tem sido anteriormente. Assim, a quantidade de de- CENÁRIO "À BEIRA no longo prazo. Contudo, considerando as
observada uma importante diminuição nos jetos sólidos, líquidos e gasosos diminuiu DO PRECIPÍCIO” oportunidades oferecidas pelo mercado, recursos financeiros
processos produtivos não-sustentáveis, par- e, conseqüentemente, caíram os níveis tal abordagem cria as condições necessá- e humanos no setor
ticularmente na monocultura e no cultivo de de contaminação nos corpos receptores, O crescimento populacional na Amazônia rias para resgatar a população amazônica
espécies de uso ilícito. como solo e água. tem se tornado mais intenso, principal- de sua situação de pobreza. público.
264
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >265

Os sistemas Quanto ao marco regulatório, apesar A erosão e a perda da biodiversidade,


de certa melhoria no desenvolvimento do inclusive a fragmentação de ecossistemas
produtivos não- arcabouço legal, ainda se observam limita- e o desmatamento, continuam sendo pro-
À BEIRA DO PRECIPÍCIO: A SITUAÇÃO DE
ções na implementação de instrumentos blemas ambientais críticos. A degradação do
sustentáveis, de gestão e coordenação interinstitucional. solo e a perda da cobertura vegetal se inten-
POBREZA FOI ALIVIADA, PORÉM A BUSCA
POR GANHOS NO CURTO PRAZO CONTINUA.
aqueles que visam O mais importante, no entanto, é que as sificaram em decorrência da expansão das
políticas públicas existem e cumprem seu monoculturas (p.ex., a soja convencional e
unicamente a papel de atrair mais investimentos para a os transgênicos) e do crescente cultivo de
região, em vez de bloqueá-los. A legisla- espécies ilícitas. Essa última atividade, em-
maiores ganhos, ção ainda não é devidamente observada bora mais localizada em determinados pa-
ignorando as e a efetividade e eficiência do sistema de íses, tem menor importância relativa como
sanções são limitadas, mas os países estão causa dos problemas ambientais na Amazô-
conseqüências promovendo, de modo efetivo, ações de nia. Nesse contexto, os sistemas produtivos
auto-regulação, a cargo de empresas e in- não-sustentáveis têm crescido muito, os
ambientais divíduos. quais visam ao aumento da produtividade
das práticas de sem considerar as conseqüências de suas
A maior preocupação comum de alguns práticas agrícolas no meio ambiente. De
manejo agrícola, países amazônicos são os conflitos arma- um modo geral, as sementes transgênicas
dos internos próximos às áreas de fronteira. passaram a ser aceitas como necessárias
apresentaram
Apesar dos avanços econômicos, a região ao desenvolvimento regional e têm sido
um crescimento ainda não conseguiu eliminar conflitos des- empregadas sem grandes restrições. A ex-
sa natureza. pansão da agropecuária está perfeitamente
significativo. correlacionada com a crescente importação
O desenvolvimento da área de ciência, e uso de agroquímicos em todos os países
tecnologia e inovação ainda é limitado, em amazônicos. Além disso, vazamentos de hi-
razão da carência de recursos financeiros e drocarbonetos e o lançamento de substân-
humanos no setor público. Espera-se, no en- cias tóxicas nos cursos d'água tornaram-se
tanto, que o setor privado contribua na divul- mais freqüentes. Os mecanismos de con-
gação dos avanços na eficiência produtiva, trole também são pouco eficazes diante
bem como na proteção e aproveitamento dos mercados informais e da corrupção. Em
de serviços ecossistêmicos. razão de tudo isso, a capacidade de suporte
do solo e a qualidade da água serão afe-
Situação ambiental tadas, implicando um aumento nos índices
Em 2026, a região amazônica está co- DALY por fatores ambientais na região (Or-
meçando a pagar o preço de décadas de ganização Mundial da Saúde; Organização
políticas públicas alheias ao manejo am- Pan-Americana da Saúde, 2007)
biental, voltadas principalmente para a
prestação de serviços econômicos e de Os sistemas produtivos funcionarão em
infra-estrutura. As forças de um mercado um contexto de conflitos sociais pela ocu-
desregulado restringem a efetividade das pação da terra, já que o sistema de direitos
escassas políticas ambientais que estão de propriedade não está plenamente esta-
sendo implementadas. Além disso, pou- belecido na região. A extração seletiva de
cos recursos estão sendo destinados ao madeira e o tráfico ilegal de espécies, o cor-
estabelecimento de um sistema integrado te ilegal e a ocupação de facto do território
de informações para avaliar o desempe- aumentam a magnitude dos problemas so-
nho ambiental, e o poder público não tem cioambientais na região. Ademais, a limitada
dedicado muita atenção a essa questão. atenção que vem sendo dada à conservação
Sem um fortalecimento institucional ade- e valorização da cultura amazônica acentua
quado, as autoridades ambientais ficam o processo de exclusão social. MIGUEL BELLIDO / EL COMERCIO

sobrecarregadas e só processam solici-


tações de estudos de impacto ambiental O crescimento econômico à custa do
para projetos e iniciativas socioeconômi- meio ambiente afeta os serviços ecossistê-
cas novos, além do que não têm condi- micos e reduz as possibilidades de se man-
ções de monitorar o cumprimento da lei e terem modos de vida tradicionais, o que
punir os infratores. estimula a migração das áreas rurais para as
266
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >267

subterrâneas devido ao controle inadequado região aproveitando as oportunidades de


dos efeitos da exploração de hidrocarbone- investimento que promovem a sustentabi-
tos e da mineração artesanal, bem como a lidade socioambiental.
um volume maior de efluentes não-tratados,
que contaminam corpos d'água dentro das No entanto, atividades produtivas tradi-
cidades e em seu entorno. A construção de cionais, como a mineração, a pecuária e as
represas hidrelétricas não é considerada grandes culturas, preservam sua importân-
uma opção muito viável, em razão dos altos cia relativa e têm por objetivo principal co-
níveis de assoreamento nos corpos d'água, lher benefícios no curto prazo, aproveitan-
ao desmatamento e à remoção de terra de- do o dinamismo dos mercados nacional
correntes de diversos megaprojetos. A per- e internacional. As atividades produtivas
turbação dos ecossistemas aquáticos afeta respondem aos incentivos do mercado,
a reprodução dos recursos hidrobiológicos, o qual privilegia a compra de produtos a
deteriorando essa importante fonte de pro- preços mais baixos.
teína para a população local.
As políticas públicas visam melhorar
Tudo isso limita a capacidade de res- os serviços sociais, aumentar a cobertura
posta às mudanças climáticas e torna a re- dos serviços básicos e elevar os níveis de
gião mais vulnerável aos impactos desse instrução e de educação ambiental. No
fenômeno global. O desenvolvimento na entanto, investimentos nacionais e regio-
área de ciência, tecnologia e inovação é li- nais em infra-estrutura, como projetos de
mitado, produzindo lacunas e assimetrias comunicação e energia, tiveram diferentes
em termos de disponibilidade e acesso a resultados em termos de abrangência, e os
novas alternativas tecnológicas capazes de países estão menos interessados em im-
promover uma produção sustentável e de plementar megaprojetos de integração e
medidas adequadas de mitigação e adap- mais cautelosos em relação a obras desse
tação às mudanças climáticas. Por último, o porte. Conseqüentemente, os indicadores
funcionamento das atividades econômicas de incidência na pobreza e na desigualdade
ANTONIO ESCALANTE / EL COMERCIO

em 2026 tem um custo maior, devido à não apresentaram nenhuma melhora signi-
reduzida disponibilidade e qualidade dos ficativa nos últimos anos.
serviços ambientais.
Quanto ao marco regulatório, apesar de
A condução do processo de desenvolvi- certas melhorias no desenvolvimento do

ERNESTO RAEZ
mento sustentável na Amazônia nunca foi arcabouço legal, ainda se observam limi-
transversalizada no planejamento do desen- tações na implementação de instrumentos
❱❱❱ Luz e sombra: políticas públicas mais coerentes no campo social, volvimento nacional ou regional e passou a de gestão e coordenação interinstitucional. ❱❱❱ Luz e sombra: as comunidades locais se beneficiam com o uso dos
porém os indicadores de pobreza não apresentam melhora significativa. ser considerada um conceito utópico próprio O cumprimento das leis é limitado, particu- conhecimentos tradicionais e com os avanços na área de ciência e tecnologia.
do século XX. larmente das socioambientais, e o sistema
urbanas. A hegemonia das forças de um mercado que não se dispõe a pagar de sanções tem um alcance limitado. abrangentes. A OTCA atua como facilitadora de diversas iniciativas, junto com as
por serviços ecossistêmicos agrava os problemas ambientais, que têm impactos CENÁRIO "LUZ E SOMBRA” agências da ONU, a cooperação internacional e organismos multilaterais.
globais, regionais, nacionais e locais. Enquanto algumas empresas multinacionais No entanto, a área que mais recebeu
tiram proveito das políticas públicas adotadas na região, muito abertas à entrada O crescimento demográfico nos países atenção dos países amazônicos, após longo Através da articulação de esforços, as parcerias entre o setor público e a
de investimentos, a pressão internacional aumenta, principalmente por parte de amazônicos registrou uma tendência po- período de estagnação até o começo do sé- iniciativa privada vêm sendo fortalecidas, com a finalidade de aprofundar o di-
ONGs internacionais e de alguns países europeus, devido às dificuldades enfren- sitiva moderada e estável por quase três culo XXI, foi a de desenvolvimento de ciên- álogo entre a ciência, os empreendimentos privados e as necessidades locais.
tadas pelos países amazônicos para manter a integridade ecossistêmica da região, décadas, puxada pela expansão de dife- cia, tecnologia e inovação (CTI) com foco na A estreita colaboração entre governos regionais e locais permite-lhes proje-
de importância mundial. Por exemplo, o desmatamento aumenta os efeitos das rentes atividades econômicas decorrente promoção do desenvolvimento sustentável tar e implementar estratégias conjuntas de promoção do desenvolvimento
mudanças climáticas, porque o carbono que deveria ser seqüestrado pela floresta dos incentivos do mercado no processo na Amazônia. Isso se reflete na destinação sustentável e inovador com base em cadeias produtivas e no fortalecimento
amazônica não é absorvido nos níveis esperados. Fora isso, o desmatamento tem de globalização e de políticas públicas de um importante volume de recursos pú- do capital social. Tal processo de desenvolvimento científico e tecnológico
um efeito muito profundo sobre os sistemas de convecção, os quais reciclam regionalmente integradas, no que diz res- blicos para a área, bem como no impulso ocorre em harmonia e sinergia com os saberes tradicionais, além de contar
50% da precipitação que ocorre na Amazônia, prolongando a estação da seca e peito à migração e ao ordenamento terri- dado a programas e projetos de alcance re- com um sistema transparente e eficiente para que as comunidades locais
tornando-a mais severa (Killeen, 2007). Os impactos desse fenômeno, dentro e torial. A expansão mundial de atividades gional voltados à promoção da integração e participem da repartição dos benefícios derivados do uso dos conhecimentos
fora da Amazônia, chamam cada vez mais a atenção de pesquisadores. comerciais e marcas "verdes", inclusive do intercâmbio científico e tecnológico em tradicionais e do aproveitamento da biodiversidade. Ciência, tecnologia e ino-
esquemas de certificação e de green la- toda a região. Graças aos esforços conjuntos vação contribuíram para superar as desigualdades e se tornaram uma ponte
Em 2015, as metas de acesso à água foram atingidas, dez anos após terem belling, traduziu-se em um maior núme- dos países, é possível pleitear fundos da co- entre setores e disciplinas que tradicionalmente atuavam de forma isolada.
sido estabelecidas. No entanto, registra-se uma maior contaminação das águas ro de empreendimentos inovadores na operação internacional para projetos de CTI
268
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >269

Situação ambiental O quadro de pobreza As políticas públicas, em sua maioria


bem-definidas e estáveis, estão comprome-
Em 2026, a região amazônica ainda está entre a população tidas com a melhoria da gestão e a imple-
dando os primeiros passos no caminho do mentação de projetos e de outras iniciativas,
desenvolvimento sustentável. Os princi-
amazônica se assim como com os processos de avaliação
pais problemas ambientais tradicionais da agravou, e a e monitoramento de seu desempenho am-
região, como erosão, perda da biodiversi- biental. Tais melhorias favorecem o controle
dade (especialmente pela introdução de desigualdade atingiu da contaminação, com repercussões positi-
espécies) e desmatamento, ainda persis- vas no manejo dos recursos hídricos.
tem, mas foram controlados e começarão
os maiores níveis
a diminuir nos próximos anos. Isso se deve registrados. Uma As iniciativas de valorização dos serviços
ao papel das políticas públicas, que se de- ecossistêmicos e de internalização dos cus-
dicam a melhorar as condições sociais da grande parcela da tos ambientais na produção não foram bem-
população (cobertura dos serviços bási- sucedidas. Entretanto, as políticas públicas
cos, saúde, educação) e à promoção do
população não tem vêm promovendo cada uma das dimensões
desenvolvimento científico e tecnológico e acesso a serviços de sustentabilidade das atividades produ-
de sistemas de informação, por exemplo, o tivas, impulsionando, para tanto, a área de
sensoriamento remoto do desmatamento públicos básicos, CTI. Isso dá sinais claros à iniciativa priva-
em tempo real. Tal sistema encontra-se em da sobre a importância e as vantagens de
como eletricidade,
operação em todos os países e se baseia investir na conservação do meio ambiente
na tecnologia desenvolvida originalmente água tratada, para se tornar mais competitivo no mercado,
pelo Brasil, que foi adotada e aperfeiçoada bem como de diversificar a produção para
por outros países. saneamento, saúde e outros mercados.
educação.
O desenvolvimento científico e tecno- Os principais atores amazônicos contribuem
lógico na região vem contribuindo com para o fortalecimento das parcerias público-pri-
mais conhecimento e alternativas que vadas com foco em atividades econômicas lu-
permitem a adoção de processos produ- crativas, que serão capazes de promover tanto
tivos mais eficientes, reduzindo os custos Os formadores de a melhoria nas condições de vida da população
de produção e os impactos ambientais como o equilíbrio dos ecossistemas. ❱❱❱ Inferno ex-verde: deterioração irreversível da riqueza natural.
adversos. Os produtos desenvolvidos re-
opinião atribuem os GERMÁN FALCÓN / EL COMERCIO

centemente na região estão dirigidos aos conflitos às políticas CENÁRIO "INFERNO ção generalizada e da insegurança que carac-
mercados internacionais, porém é cada vez EX-VERDE” terizam as megacidades e os assentamentos
maior o número de produtos que atendem públicas adotadas no humanos da região, vários dos quais se situam
à demanda dos mercados emergentes na Segundo os censos domiciliares nacionais em áreas transfronteiriças. No entanto, o mito
região, social e ambientalmente responsá-
final do século XX, mais recentes, a região amazônica dos res- da “Amazônia vazia” ainda prevalece no modo
veis. O desenvolvimento de CTI contribui que privilegiaram o pectivos territórios nacionais foi a que expe- de pensar de funcionários públicos e da popu-
para gerar mais e melhores conhecimentos rimentou o maior crescimento demográfico. lação em geral dos países amazônicos.
sobre as riquezas naturais da grande região rápido crescimento As políticas públicas são fragmentadas e foto oso
amazônica, bem como para o surgimento pouco coerentes, e a fragilidade institucional Na reunião mais recente dos chance-
de alternativas tecnológicas que promo-
da economia. continua sendo a característica comum de di- leres dos países-membros da OTCA, rea-
vem seu aproveitamento sustentável. Além ferentes instituições públicas relevantes para lizada em 2026, avançou-se muito pouco
disso, esse processo de desenvolvimento o manejo da Amazônia. São ainda alheias ao no sentido de chegar a um consenso em
científico-tecnológico avança em harmo- desenvolvimento de estruturas adequadas torno de questões como a insegurança
nia e sinergia com os saberes tradicionais, para mitigar a degradação ambiental e pro- ambiental e a disparidade econômica na
dispondo-se, nesse sentido, de um sistema mover uma urbanização planejada. Amazônia dos países-membros, tanto no
transparente e eficiente que permite às co- âmbito interno como no inter-regional. A
munidades locais participar dos benefícios O marco legal existente foi estabelecido situação socioeconômica da região chegou

SEBASTIÁN CASTAÑEDA / EL COMERCIO


derivados do emprego dos conhecimentos no final do século passado e tem um alcan- a um ponto crítico. A pobreza entre a po-
tradicionais e do aproveitamento da biodi- ce limitado para regular ou controlar os novos pulação amazônica acentuou-se, e o fosso
versidade. Por último, o desenvolvimento temas ambientais e as atividades do “desen- da desigualdade alcançou seu pior nível na
científico-tecnológico contribui para fazer volvimento” que estão em curso na região. O história. Uma grande parcela da população
frente aos impactos das mudanças climáti- estabelecimento e a aplicação de instrumen- ainda não tem acesso a serviços públicos
cas, reduzindo a vulnerabilidade da região tos de gestão são muito limitados em razão da básicos, como energia elétrica, água, sane-
diante desse problema ambiental global. falta de capacidades institucionais, da corrup- amento, saúde e educação.
270
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >271

ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP


❱❱❱ Inferno ex-verde: a savanização da Amazônia é uma realidade.
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO

apropriação de conhecimentos tradicionais inclusive nessa área a falta de participação Em 2026, foi
sem retorno para as comunidades e a biopi- do poder público e de coordenação regional
rataria aumentam, afetando o legado cultu- têm impedido progressos. confirmada a
ral de populações nativas.
❱❱❱ Inferno ex-verde: perda acelerada da biodiversidade. Situação ambiental previsão de estudo
A despeito das oportunidades oferecidas A situação ambiental da Amazônia revela um conduzido pelo
pelo mercado mundial, que valoriza os ser- acelerado processo de degradação, responsá-
Na mídia, os conflitos socioambientais ocu- de serviços, que geraram mais pressões so- viços ambientais da Amazônia, as limitadas vel por perdas irreversíveis na riqueza natural IPAM-Brasil em
pam cada vez mais espaço: aumentam em nú- bre os bens e serviços dos ecossistemas. As- capacidades institucionais do setor público e cultural e em serviços ecossistêmicos. As
2007, que aponta
ESTUDO DA mero e intensidade, assim como a freqüência sim, alguns projetos foram interrompidos em dos países amazônicos, seu reduzido desen- ações nacionais para combater as ameaças
UNIVERSIDADE dos casos que envolvem violência armada pelo decorrência de freqüentes confrontos com as volvimento científico e tecnológico e sua pou- à integridade do ecossistema amazônico têm para a savanização
DE CIÊNCIA E acesso a recursos. Os formadores de opinião os comunidades e da pressão internacional, que ca inovação não propiciaram a incorporação sido insuficientes, da mesma forma que a
TECNOLOGIA atribuem às políticas públicas adotadas no final questionava a capacidade das obras de gerar oportuna e estratégica de questões-chave atenção internacional para essa questão, e as de 30 a 60% da
do século XX, que privilegiaram um crescimen- os benefícios socioeconômicos esperados. para a Amazônia à agenda internacional. Atu- medidas que estão sendo implementadas se
(SUÍÇA) PREVÊ
to econômico rápido sem levar na devida con- Nos últimos anos, não houve nenhuma nova almente, os ecossistemas estão degradados e revelam pouco eficazes para deter as forças
Amazônia em
QUE A AMAZÔNIA
SOFRERÁ 13 ANOS
sideração as dimensões social e ambiental. proposta de projeto rodoviário ou energético fragmentados. Quanto ao mercado de traba- de mercados desregulados. Um enorme e im- conseqüência
porque tais iniciativas, segundo os bancos lho, nas populações locais as oportunidades portante sumidouro de carbono está sendo
DE EXTREMA SECA Projetos de infra-estrutura rodoviária, de internacionais e outras agências de financia- são precárias e ocorrem inclusive formas de desperdiçado, situação que está contribuindo da elevação da
ENTRE 2071 E 2100. comunicações e de geração de eletricidade mento, seriam de “alto risco” para a região. exploração análogas à escravidão. Diante da para acentuar os impactos das mudanças cli- temperatura entre 2
foram implementados em ritmo acelerado crescente demanda mundial por alimentos, máticas, o que torna a população local mais
para melhorar a conectividade entre os di- Em um contexto de fragmentação so- atividades como a agricultura de monocultura vulnerável a eventos meteorológicos extre- e 3 °C.
ferentes mercados no contexto da regionali- cial, observa-se, por um lado, uma parcela e o uso de transgênicos ainda são lucrativas. mos, como secas e inundações provocadas
zação e integração da Amazônia. Esses em- da população que se apropria dos recursos pela crescente perda de cobertura vegetal.
preendimentos produziram alguns benefícios da região para sobreviver precariamente e, Esses fatores foram responsáveis pela
de curto e médio prazos, como a geração de por outro, empreendimentos privados que expulsão de várias comunidades étnicas de Confirmou-se, assim, a previsão do estu-
emprego local, mas em sua maioria não de- se apropriam desses mesmos recursos, até seus territórios de origem e pela extinção de do realizado pelo IPAM-Brasil em 2007, pu-
ram a devida atenção a seu efeito sobre os mesmo fazendo uso de violência, expulsan- muitos povos indígenas na última década. blicado há vinte anos, segundo o qual de 30
processos socioeconômicos locais nem às do posseiros das terras que ocupam. A falta Instituições acadêmicas e de pesquisa empe- a 60% da Amazônia se transformariam em
conseqüências ambientais em suas áreas de de uma presença eficaz do Estado expõe a nharam-se em documentar os idiomas e os savana em decorrência de uma elevação de
influência, como o desenvolvimento de as- população carente a processos de vulnera- conhecimentos tradicionais de comunidades 2 a 3°C na temperatura do planeta e da di-
sentamentos humanos precários e carentes bilização e exclusão. Da mesma maneira, a em risco de extinção ou recém-extintas, mas minuição das chuvas. Essa situação fez com
272
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >273

que a seca avançasse sobre extensas áreas, seca. Um grande número de indícios apontam
particularmente no sul da Amazônia, onde as para alterações nos serviços ecossistêmicos,
estiagens intensas ocorrem com uma freqü- muitas delas irreversíveis na Amazônia. Exem-
ência cada vez maior. Estudo realizado pela plo de alteração de alcance regional é a menor
O AUMENTO DO DESMATAMENTO AFETA SEVERAMENTE
Universidade de Ciência e Tecnologia (ETH disponibilidade de água nas bacias adjacentes
O CICLO HIDROLÓGICO REGIONAL, REDUZ AS
Zurich), sob a responsabilidade dos cientistas ao sul da Amazônia, cuja produção agropecuá-
Michele Bättig, Martin Wild e Dieter Imboden, ria representa uma importante parcela da renda
PRECIPITAÇÕES E PROLONGA O PERÍODO DE SECA.
prevê que a Amazônia sofrerá treze anos de nacional. A floresta amazônica está se fragmen-
seca extrema entre 2071 e 2100. tando em manchas de diferentes tamanhos e
composições, e com ela a biodiversidade. Flo-
Países como o Brasil deram importantes restas comunitárias e algumas áreas protegidas
passos na área de CTI para tratar questões am- são os locais que mais preservaram as compo-
bientais prioritárias na região, como o monito- sições originais do ecossistema amazônico, que
ramento do desmatamento e das mudanças ainda no início do século XXI estava intacto.
climáticas, mas, infelizmente, não se chegou a
um consenso regional quanto ao uso harmoni- Entre as principais causas da degradação
zado de instrumentos tecnológicos. Devido a ambiental, destacam-se as obras de estradas
restrições na disponibilidade e acesso a infor- internacionais, cujo planejamento é deficiente e
mações, bem como a incertezas relacionadas não contempla as devidas medidas de mitigação
ao reconhecimento da propriedade intelectual dos impactos socioambientais, o extrativismo, a
e ao uso adequado de informações, o número monocultura e a pecuária de grande escala.
de pesquisas aplicadas caiu drasticamente nos
últimos anos na Amazônia. Os poucos relató- Tais atividades também exercem pressão
rios disponíveis são estudos encomendados sobre os corpos d'água: aumentam o asso-
por empresas privadas com a finalidade de ex- reamento e aceleram o processo de degra-
plorar possíveis jazidas de minérios e campos dação da água, alterando suas características
de hidrocarbonetos. físico-químicas. A contaminação da água é
uma questão muito séria, pois afeta a saúde
A avaliação conduzida pelo Instituto Ima- da população dos assentamentos humanos
zon, em 2007, sobre avanços na consecu- que dependem dos poços como principal
ção dos Objetivos de Desenvolvimento do fonte de água durante a estação da seca.
Milênio (ODM) na Amazônia brasileira, con-
firmou-se. Segundo essa avaliação, embora Para facilitar o acesso a mercados e
a maioria dos indicadores avaliados tivesse maximizar os benefícios no curto prazo, os
melhorado em relação a 1990, o indicador governos incentivam a ocupação das terras
para desmatamento havia piorado (Celenta- situadas nas cabeceiras da bacia amazôni-
no; Veríssimo, 2007). Sem políticas públicas ca, onde megaestruturas, como barragens,
ou investimentos em ciência, tecnologia e foram construídas para assegurar o acesso
inovação, a aceleração do desmatamento à água, promover o desenvolvimento agro-
tornou-se uma lamentável realidade. Ne- pecuário, melhorar a gestão desse recurso e
nhum dos países amazônicos conseguiu gerar energia. As barragens afetam a conec-
alcançar o sétimo objetivo dos ODM em tividade dos cursos d'água, alteram o hábitat
2015, ano limite para a consecução da maio- da biodiversidade aquática e prejudicam ati-
ria das metas. Um quarto de século mais vidades produtivas, como a pesca artesanal.
tarde (2040), calcula-se que um milhão de
quilômetros quadrados de florestas amazô- Assim, a perda qualitativa e quantitativa
nicas terão se perdido e que 33 mil milhões dos recursos disponíveis para o desenvol-
de toneladas de dióxido de carbono terão vimento de atividades econômicas afeta a
sido liberadas na atmosfera nessa região – qualidade de vida da população mundial,
volume equivalente a quase cinco anos de particularmente da Amazônia, por limitar
emissões globais (Moutinho, 2007). suas fontes de renda e de alimentação.
ENRIQUE M. QUINTERO

Além disso, a saúde da população está se


O aumento do desmatamento afeta severa- deteriorando, o que se constata na maior
mente o ciclo hidrológico regional, reduz as pre- incidência de doenças como malária, tuber-
cipitações e prolonga a duração da estação da culose e mal de chagas.
274
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >275

alimentos. Trata-se de um tema emergente


que os países amazônicos devem continuar
a monitorar, para avaliar suas conseqüências
econômicas, sociais e ambientais.

❱❱❱ Infra-estrutura para o desenvolvimento


sustentável: A expansão da infra-estrutura
é um fato na região. Como resultado disso,
novas atividades econômicas poderão ser de-
senvolvidas e o acesso aos mercados será faci-
litado. No entanto, é importante que se tenha
uma perspectiva estratégica em relação a esse
componente do desenvolvimento, embasada
em um planejamento integral do uso da ter-
ra para os diversos projetos e atividades. Para
tanto, as diferentes instâncias governamentais
devem promover investimentos sustentáveis
em infra-estrutura, ou seja, devem reconhecer
tanto os benefícios como os custos sociais e

6.4|TEMAS ambientais desses projetos.

EMERGENTES ❱❱❱ Políticas nacionais e a cooperação e inte-


gração regional na Amazônia: Evidenciam-se
na Amazônia rápidas mudanças econômicas
Temas emergentes são aqueles que no futuro terão importância e político-institucionais, promovidas, princi-
pelos efeitos gerados no médio e longo prazo. Esses temas tam- palmente, por interesses nacionais. Nesse
bém dizem respeito às mudanças ambientais provocadas por ativi- contexto, as organizações intergovernamen-
MIGUEL BELLIDO / EL COMERCIO

dades humanas no curto prazo, cujos efeitos, no entanto, fazem-se tais enfrentam incertezas na consecução de
sentir no longo prazo e freqüentemente estabelecem um círculo um desenvolvimento sensato e equilibrado
vicioso entre a degradação ambiental e seus impactos socioeco- na região, que produza benefícios de longo
nômicos adversos. prazo com base numa perspectiva regional
integral.
A identificação oportuna dos temas emergentes apresenta van-
tagens, quais sejam: conscientizar os cidadãos a respeito das inter- ❱❱❱ Estudos prospectivos regionais na Ama-
relações entre o meio ambiente local e global; antecipar medidas zônia: O ritmo acelerado das mudanças
de modo a assegurar a adaptação e evitar crises; melhor orientar esses serviços e de instrumentos que incentivem seu O ritmo acelerado funcionamento dos serviços ecossistêmicos. É observadas na Amazônia requer um cons-
a pesquisa e a coleta sistemática de dados; promover uma melhor uso e conservação. preciso regulá-lo a fim de minimizar os impac- tante monitoramento e uma análise das
compreensão das relações entre as atividades humanas e o meio das mudanças na tos ambientais, assim como levar em conta situações que eventualmente venham a
ambiente; e, por último, incorporar conhecimentos científicos à ges- Por outro lado, a inovação tecnológica propicia o desen- que as decisões que forem tomadas a esse ocorrer na região, com a finalidade de me-
tão pública. volvimento de produtos de maior valor agregado, capazes
Amazônia requer respeito afetarão ecossistemas regionais, já lhorar a capacidade de intervir nos proces-
de satisfazer as exigências de diferentes mercados e de con- um constante que para estes não há fronteiras geopolíticas. sos que pressionam o ambiente natural e os
Alguns dos temas emergentes cruciais para a Amazônia identifi- tribuir para melhorar a eficiência de processos produtivos, recursos naturais da região, para efetuar os
cados neste relatório são os seguintes: embasada na conservação dos serviços ecossistêmicos. monitoramento e ❱❱❱ Biocombustíveis: O aumento na de- ajustes que se façam necessários. Diversas
manda por biocombustíveis gerado pela instituições brasileiras têm uma experiência
❱❱❱ Competitividade por meio da inovação tecnológica: Em um contex- ❱❱❱ Introdução de espécies e expansão dos transgênicos:
análise das situações crise energética mundial é uma importante acumulada nessa questão e estão utilizando
to de mercados dinâmicos, variados e exigentes, é preciso ter uma vi- Pressão cada vez maior na Amazônia produz alterações que venham a pressão para mudanças na utilização do solo modelos que permitem a análise de pers-
são estratégica quanto ao aproveitamento da Amazônia, assim como em seus ecossistemas, que são frágeis por natureza. O das florestas, no sentido de converter mais pectivas ambientais na Amazônia Legal. No
reconhecer e valorizar a heterogeneidade de seus recursos naturais, crescimento dos mercados requer uma maior oferta de ocorrer na região, áreas para a produção agrícola. Nos países entanto, é importante observar ainda como
humanos e culturais. O conceito de competitividade proposto por produtos para a alimentação e para o desenvolvimento desenvolvidos, a disponibilidade de terras outros países amazônicos atuam e, quando
M. Porter (2007) exige que a dimensão ambiental seja considerada industrial a preços mais baixos, além de incentivar a ex-
com a finalidade para esse fim é muito limitada, e isso faz oportuno, estimulá-los a canalizar as capa-
e eficientemente gerida. Por essa razão, as políticas públicas devem pansão de culturas, plantações e criações de espécies de melhorar a com que os países em desenvolvimento, cidades existentes no sentido de beneficiar
ter um enfoque integral, no sentido de oferecer incentivos adequa- que não são originárias da região. inclusive a Amazônia, sejam visados para suas respectivas regiões e a trocar informa-
dos aos diversos atores envolvidos. Nesse contexto, é necessário capacidade de o cultivo de espécies destinadas à produ- ções, somando e articulando esforços para
aprofundar os conhecimentos acerca dos serviços ecossistêmicos O processo de introdução de espécies já teve início ção de biocombustíveis, que podem vir a resolver problemas ambientais correntes e
resposta.
prestados pela região, dos diversos mercados em potencial para na Amazônia, no entanto não se sabe que efeito terá no competir pelas terras com a produção de temas emergentes na região.
276
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >277

6.5|CONCLUSÕES Nenhuma das hipóteses apresenta


uma situação utópica. Não há dúvida
Neste capítulo foram apresentados quatro possíveis cenários futuros
para a Amazônia até o ano de 2026. Eles foram fundamentalmente
de que será impossível conservar a
definidos com base em três importantes forças regionais que são con- integridade de todo o ecossistema
sideradas as mais poderosas e cuja influência regional é difícil de ser
prevista. amazônico. Até que ponto um meio-
Na realidade, o futuro da Amazônia, em pouco menos de vinte anos
termo entre degradação ambiental
decerto, será composto de elementos de cada uma das hipóteses apre- e desenvolvimento socioeconômico
sentadas neste capítulo, além de muitos outros. É possível, ainda, que o
futuro de determinados países seja parecido com o de algumas dessas seria aceitável para a sociedade
hipóteses e que para outros se possa esperar um futuro diferente.
amazônica?
De um modo geral, hipóteses ou cenários dessa natureza são tra-
çados para um horizonte de longo prazo, que varia de 50 a 100 anos. É
importante salientar a importância do horizonte escolhido pelos atores
regionais ao processamento de cenários para a Amazônia, de apenas será impossível conservar a integridade do ecossistema
duas décadas. O que significa a escolha desse horizonte para a Ama- amazônico por completo (ou a standing Amazon, como foi
zônia? Essa decisão reflete o fato de que a Amazônia está mudando de chamado em Amazônia sem mitos). No entanto, diferentes
forma tão acelerada que não faz sentido optar por um horizonte mais decisões tomadas hoje são cruciais para se determinar até
amplo. que ponto um meio-termo entre a degradação ambiental
e o desenvolvimento socioeconômico seria aceitável para
Nenhuma das hipóteses apresenta uma situação utópica. Isso sig- os cidadãos amazônicos.
nifica que os atores amazônicos não conseguiram imaginar um futu-
ro no qual as políticas públicas, o mercado, a ciência e a tecnologia As visões do futuro apresentadas neste capítulo apon-
se desenvolvam, simultaneamente, de uma maneira suficientemente tam para a imperiosa necessidade de agir desde já e deve-
positiva de forma a promover o desenvolvimento sustentável na Ama- riam influenciar as decisões de hoje. Por último, é impor-
SERGIO AMARAL / OTCA

zônia. Infelizmente, os estilos de desenvolvimento adotados pelos tante assinalar que a discussão sobre possíveis opções e
países amazônicos e seus cidadãos estão minando tanto as opções que as decisões tomadas em relação ao futuro da Amazô-
de desenvolvimento sustentável futuro como a esperança de que um nia estão nas mãos dos decisores e dos próprios cidadãos
futuro alternativo para a Amazônia é possível. Não há dúvida de que dos países amazônicos.
278
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >279

EM 2026, ESTES SERÃO OS TOMADORES


DE DECISÕES NA AMAZÔNIA.

ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO


280
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >281

Geo AmazônIa EM 2026, ESSAS CRIANÇAS TERÃO CERCA DE 30 ANOS. Viverão numa
democracia, terão direito ao voto e decerto já o terão exercido. Na escolha
GEO Amazônia precisava ilustrar os quatro
de seu presidente, com certeza terão levado em consideração, entre outras
cenários descritos pelos pesquisadores.
coisas, os pontos de seu programa eleitoral sobre ecologia e desenvolvimento
Para isso, convidou um grupo de
sustentável. Algumas delas provavelmente seguirão o
estudantes do colégio San Eulógio, de
caminho inverso ao de seus pais e retornará à floresta para
Comas (Lima, Peru), membros da brigada
trabalhar, contratadas por uma empresa. Também é possível
de jornalistas escolares ecológicos. As
que uma delas, após se formar em engenharia mecânica,
crianças, de 11 a 13 anos, na maioria filhos
receba a tarefa de projetar um implemento que, acoplado a
de imigrantes que deixaram a floresta
uma máquina antiga, minimize os efeitos nocivos desta ao meio
em busca de melhores oportunidades na capital, conheceram
ambiente.
de primeira mão a matriz proposta por GEO Amazônia e se dedicaram
UMA SEMANA DEPOIS, GEO AMAZÔNIA recebeu um conjunto
durante um dia a destrinchar cada linha do relatório para criar os desenhos
de desenhos claros, precisos e impactantes que retratam a Amazônia em 2026,
que ilustram os quatro possíveis futuros : “Vamos acabar tendo mais
um futuro que será vivido por esse grupo de crianças, os homens e as mulheres
vacas do que animais autóctones”, “mais vacas significam menos
do amanhã.
árvores”, “no primeiro cenário vamos colocar macacos, onças
e tucanos”, “no último cenário, quase tudo vai estar coberto de
cimento”, “o diálogo vai acabar”...
AMAZÔNIA EM 2026
Os ASSEN
TA
HUMANO MENTOS gaios
Os papa nde
O SOL fort S crescera
en mas ainda m, m o
seca a terr ão não tê
a por árvores do há mais pousar.
causa das que casas.
árvores. As CIDAD
cresceram ES
e sobra
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espaço pa fábricas, M MAIS Perdemos
ra a AIS casas, a
vegetação MAIS con riqueza na
. creto e M FUMAÇA tural
AIS E e cultural.
GENTE.
GASES.

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poluídas.
Temos BIODIVERS A o
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água em Os rio de
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não é potá as is mo
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As pessoas
incentivam o diálogo
e conversam sobre enas
seus problemas. Os indíg ço
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têm es do
viv er Em vez de
para . onças,
seu jeito papagaio
se
tucanos, só SÓ VAMO
há S VER os
GADO. animais d
a floresta
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GICO.
Os povos da selva NÃO TEM
O
se juntaram para MAIS ÁRV S
ORES.
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Ninguém promover ativida
incomoda os on ôm icas qu e dão
ec
BICHOS da ais , o o turismo.
lucro, com
floresta. stem m SOJA
Exi S DE ecem
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C M emp los.
A
que os so

CENÁRIO CENÁRIO À BEIRA


AMAZÔNIA CENÁRIO LUZ CENÁRIO INFERNO
DO PRECIPÍCIO EX-VERDE
EMERGENTE E SOMBRA
>283

7.1 CONCLUSÕES

7.2
A
AmazonIa
LINHAS
DE AÇÃO

POSSIVEL
>285

A Amazônia é uma vasta região do trópico úmido sul- FAVORECEM O APROVEITAMENTO E A CONSERVAÇÃO
americano. É dotada de abundantes riquezas e marcada por DA BIODIVERSIDADE, E TAMBÉM ATIVIDADES
contrastes naturais e culturais que interagem num espaço CAUSADORAS DA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
ocupado pelo homem desde tempos remotos. POR UM LADO, E DA DETERIORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS. Por
A AMAZÔNIA ABRIGA UMA GRANDE VARIEDADE DE exemplo, é possível encontrar atividades sustentáveis, como a
ESPÉCIES DA FLORA E DA FAUNA, MOTIVO PELO QUAL aqüicultura, a criação de animais e o aproveitamento florestal
DETÉM VÁRIOS RECORDES MUNDIAIS DE DIVERSIDADE madeireiro e não-madeireiro, lado a lado com monocultura,
BIOLÓGICA. É TAMBÉM UMA IMPORTANTE ÁREA DE pecuária extensiva, agricultura migratória, entre outras. A
ENDEMISMOS, QUE FAZEM DA REGIÃO UMA RESERVA AMAZÔNIA APRESENTA UMA COMPLEXA DINÂMICA
GENÉTICA DE IMPORTÂNCIA MUNDIAL PARA O DE INTER-RELAÇÕES ENTRE OS SISTEMAS NATURAL
DESENVOLVIMENTO DA HUMANIDADE. Além disso, E HUMANO, QUE SE RETROALIMENTAM E ALTERAM
possui recursos minerais e energéticos (petróleo e gás). O EQUILÍBRIO ECOLÓGICO. É DIFÍCIL IDENTIFICAR
Por outro lado, a Amazônia é sinônimo de diversidade RELAÇÕES DE CAUSA-EFEITO NESSE SENTIDO, O QUE
cultural, resultado do processo histórico de ocupação DIFICULTA DIAGNOSTICAR OU ENCONTRAR SOLUÇÕES
do território e da interação entre grupos humanos de PARA AS DIVERSAS SITUAÇÕES QUE OCORREM NA
diferentes procedências étnicas e geográficas. A interação REGIÃO. As decisões que tomarmos hoje a respeito
entre o homem e os ecossistemas amazônicos apresenta da Amazônia terão impactos no longo prazo, sendo
diversos contrastes. NA AMAZÔNIA EXISTEM MODOS determinantes para a situação ambiental e o bem-estar
DE PRODUÇÃO E DE CONSUMO SUSTENTÁVEIS, QUE humano da região no futuro.
>287

da monocultura em grandes extensões, por cujo impacto ambiental e social ainda não foi
exemplo, os cultivos de soja e de coca, assim devidamente quantificado. Da mesma forma,
como a pecuária bovina extensiva. Em alguns promoveram iniciativas voltadas à integração
países, estes são os dois principais vetores da região, de modo a encontrar uma solução
do desmatamento, da perda de biodiversi- conjunta aos problemas ambientais. Todas
dade e da contaminação dos corpos d´água. essas políticas e medidas são ainda insufi-
Observa-se, também, a multiplicação de cientes para reverter o processo de perda de
megaprojetos associados à exploração de recursos naturais e a degradação ambiental
hidrocarbonetos e à construção de rodovias da Amazônia, bem como para melhorar a
e barragens. Da mesma forma, a migração dá qualidade de vida das populações locais.
lugar aos assentamentos humanos e a obras
de infra-estrutura de serviços e de comu- A iniciativa privada, por sua parte, vem imple-
nicação, o que exige uma adequação das mentando processos de certificação florestal
áreas ocupadas para esses fins, envolvendo ou de produção ecológica e/ou diversifican-
mudanças no uso do solo. Tais mudanças do a oferta de bens e serviços amazônicos
limitam o fornecimento de serviços ecossis- (p.ex., ecoturismo e biocomércio). As ONGs,
têmicos, como proteção do solo, provisão de um modo geral, têm contribuído para
de bens, recreação, cultura e regulação do uma melhor compreensão do funcionamen-

7.1|CONCLUSÕES ciclo hidrológico. Esse processo de ocupa-


ção da Amazônia expõe uma limitação do
ordenamento territorial como instrumento de
to do ecossistema amazônico, dos diferentes
grupos sociais ali presentes e das inter-rela-
ções entre eles. As organizações sociais
A Amazônia apresenta um processo de degrada- gestão do desenvolvimento sustentável. vêm conquistando espaço no diálogo
ção ambiental cada vez mais intenso, que se ma- para tratar dos problemas ambientais
nifesta com o avanço do desmatamento, a perda Ademais, as mudanças climáticas e os da região. Da mesma forma, as comuni-
da biodiversidade e os impactos das mudanças eventos extremos geram pressões sobre o dades indígenas se organizaram, o que
climáticas em nível local. No que se refere ao desma- ecossistema amazônico, acentuando a sua lhes permitiu ter uma maior presença
tamento da floresta natural, até 2005 registrava-se uma vulnerabilidade. Todos esses elementos nos fóruns de discussão e disseminar
área total acumulada de 857.666 km², com uma taxa de encontram-se estreitamente vinculados e melhor sua visão do desenvolvimento
crescimento de 20.550km²/ano no período de 1990 a geram forças em várias direções, afetando de amazônico. Finalmente, o habitante da
1999 e de 27.218 km²/ano entre 2000 e 2005. forma adversa a Amazônia. Amazônia, através de sua participação em
diversas iniciativas regionais de desenvol-
A situação atual do ecossistema amazônico pode ser Nesse contexto, a degradação do ecos- vimento, tem tido uma presença maior no
explicada pelo conjunto de forças motrizes que atuam sistema amazônico tem uma ampla debate sobre os problemas da região.
na região, orientando a sua ocupação e o uso de seus gama de impactos sobre o bem-estar
recursos, tais como questões sociodemográficas, eco- humano: compromete a capacidade de A Amazônia está vivendo um processo de
nômicas e político-institucionais e as pressões exercidas desenvolvimento de atividades produ- transformação acelerada, sujeito não apenas
pelas mudanças climáticas e por fenômenos naturais. tivas no futuro; eleva o risco de exposi- às forças internas que atuam na região, mas
O efeito desses fatores no ecossistema amazônico ção a doenças; gera conflitos sociais também a mudanças na economia mundial.
depende do tipo de estímulo que recebem das pelo acesso aos recursos naturais e Tal processo é acentuado pela heterogenei-
políticas públicas ou dos processos decorrentes em conseqüência da poluição destes, dade e complexidade das inter-relações natu-
da globalização, que se traduzem em variações entre outros. rais e humanas da região. Considerando-se a
na demanda por produtos oriundos da região. dinâmica associada a esses fatores, estamos
Além disso, o pouco conhecimento que se tem sobre A natureza dos problemas amazônicos lidando com cenários de grande incerteza
o funcionamento do ecossistema amazônico e sobre o suscitou as mais diversas respostas por parte quanto a seus desdobramentos no futuro.
valor deste – o valor atribuído aos serviços ambientais de governos, ONGs, empresas, organiza- A análise qualitativa desses cenários indica
fornecidos pela floresta é irrisório – dá ainda mais impul- ções sociais, populações indígenas e da que o estilo de desenvolvimento pelo qual
so às práticas predatórias. população em geral. Governos promoveram optaram os países amazônicos é o que está
programas e projetos voltados à melhoria limitando as opções de desenvolvimento
Os processos de colonização promovidos pelas políticas do aproveitamento florestal sustentável e ao sustentável na região. No presente trabalho,
públicas, assim como a migração decorrente da falta de desenvolvimento de sistemas agroprodutivos abordamos quatro situações possíveis, que
oportunidades de trabalho nas regiões vizinhas à Amazô- sustentáveis, de estratégias de conservação poderiam vir a ocorrer nos próximos vinte
nia, resultam no desenvolvimento de atividades produ- da biodiversidade e de instrumentos econô- anos. O caminho a ser seguido por forças tais
tivas na região, algumas delas dificilmente sustentáveis. micos de uso sustentável, entre outros. De- como as políticas públicas, o mercado e as
A isso se devem somar as conseqüências provenientes senvolveram, ainda, megaprojetos de infra- áreas de ciência e tecnologia condicionarão o
do processo de globalização, que incentiva a expansão estrutura (rodovias, geração de eletricidade), desenvolvimento sustentável na região.
>289

7.2|LINHAS Construir uma visão


ambiental amazônica
integrada e definir o papel da
Elaborar e implementar
instrumentos de gestão
ambiental integrada.
DEAÇÃO região no desenvolvimento
nacional. Reconhecendo que os países avançaram
no desenvolvimento e na implementação
Tal medida permitirá que se tenha uma de instrumentos voltados à gestão
A SITUAÇÃO AMBIENTAL DA AMAZÔNIA IMPÕE GRANDES melhor compreensão das inter-relações ambiental na Amazônia, é preciso somar
entre os processos econômicos, sociais e esforços a fim de desenhar instrumentos
desafios à região, que apontam para a importância de uma ação político-institucionais. Sua finalidade é a de ordenamento territorial e critérios para
promoção do desenvolvimento a condução de avaliações de impacto
conjunta. As linhas de ação propostas resultam tanto de uma sustentável e a melhoria da qualidade de ambiental e de avaliações ambientais
vida da população da região. estratégicas. Nesse sentido, o intercâmbio
avaliação ambiental integral como de um processo de consulta de experiências sobre os progressos
A construção dessa visão será possível se obtidos pelos países constitui uma base
entre os oito países amazônicos. Constituem um esforço voltado alicerçada no diálogo entre os diferentes para a discussão desses temas em nível
atores amazônicos, em articulação com regional. Além disso, cabe destacar que a
a impulsionar o desenvolvimento sustentável da região. os diversos níveis de governo. Esse implementação harmonizada desses
processo enriquecerá os esforços dos instrumentos constitui-se em um passo
países amazônicos no sentido de estratégico para o planejamento do
estabelecer uma visão ambiental desenvolvimento amazônico com uma
Diante da magnitude e do ritmo da degradação ambiental, é integrada. Para tanto, propõe-se perspectiva regional.
inicialmente a criação do Fórum de
imperioso agir imediatamente, mesmo que algumas das ações mais Ministros de Meio Ambiente da Região
Amazônica, o que facilitará a elaboração e Elaborar e implementar
prementes tenham um horizonte de execução de longo prazo. Além implementação de uma agenda estratégias regionais que
ambiental de ação conjunta, sendo este o viabilizem o aproveitamento
disso, essas ações requerem a participação dos diferentes atores primeiro passo para a criação de fóruns sustentável do ecossistema
de discussão multissetoriais que amazônico.
sociais tanto nas fases de elaboração de projeto e organização envolvam atores relevantes ao
desenvolvimento dos países que Considerando que os países amazônicos
quanto nas de implementação e monitoramento. Para prestar compartilham a região. compartilham diversos ecossistemas, faz-se
necessária a elaboração de estratégias
contas sobre os avanços e a melhora contínua do ecossistema conjuntas ou estreitamente articuladas de
Harmonizar as políticas gestão integral dos bens e serviços
amazônico, será importante contemplar a utilização de um sistema ambientais quanto aos temas ecossistêmicos. Nesse aspecto, é preciso
de relevância regional. concentrar esforços em três linhas de
de indicadores econômicos, sociais e ambientais, bem como a trabalho: conservação da floresta amazônica
Considerando as particularidades do e mudanças climáticas; gestão integrada de
sua permanente retroalimentação, no âmbito de um processo de ecossistema amazônico, cujos padrões de recursos hídricos; e gestão sustentável da
funcionamento transcendem as fronteiras biodiversidade e dos serviços ambientais.
avaliação ambiental estratégica que norteie as decisões políticas. políticas, é necessário que as políticas Por outro lado, é importante que as
públicas guardem certa relação de harmonia estratégias definidas sejam compartilhadas
entre os países. Para isso, será preciso criar por todos os atores, de modo a assegurar
mecanismos que facilitem esse processo, de sua participação para a consecução dos
As linhas de ação sugeridas são: modo a compartilhar as experiências objetivos previamente definidos.
nacionais, as lições aprendidas e a tecnologia
desenvolvida, e construir e implementar uma Como intuito de facilitar a implementação
agenda conjunta de trabalho ou uma dessas estratégias, faz-se necessário elaborar
estratégia regional de gestão de recursos uma estratégia conjunta de financiamento.
naturais (florestas, biodiversidade e recursos Tal medida permitirá aprimorar as capacida-
hídricos, entre outros), capitalizar as boas des técnicas nacionais, realizar investimentos
práticas desenvolvidas e construir sinergias de acordo com cronogramas compatíveis
em torno da gestão de assuntos ambientais para todos os países amazônicos e estreitar
prioritários. os vínculos com a cooperação internacional.
>291

Incorporar a gestão de riscos promover e viabilizar a coordena- ❱❱❱ Fortalecer os sistemas de infor-
à agenda pública. ção, a execução, o monitoramento e mação existentes e promover a sua
a avaliação dos acordos regionais articulação com os setores público e
A heterogeneidade e a complexidade da em vigor. privado.
Amazônia em um contexto de crescente
vulnerabilidade a eventos climáticos ❱❱❱ Elaborar e implementar uma
exigem a elaboração de políticas e Fortalecer os esforços de estratégia de difusão que permita
medidas que estimulem uma adaptação geração e difusão de uma adequada divulgação das
às mudanças climáticas. Assim, é informação sobre meio questões ambientais relativas à
importante que a gestão de riscos seja ambiente na região. Amazônia entre diferentes setores
incorporada nas avaliações ambientais do público.
estratégicas, quando da definição das Considerando a importância da produção
estratégias de desenvolvimento científica e da geração de dados nos
amazônico. Isso permitirá evitar ou reduzir países da região para a adequada gestão Promover estudos e ações de
os custos associados à ocorrência de das questões ambientais na Amazônia, é valorização econômica dos
desastres. crucial estabelecer medidas de serviços ambientais
sistematização e de articulação dos amazônicos.
Um elemento fundamental associado à diversos esforços em curso, com a
gestão de riscos é o monitoramento finalidade de criar um sistema integrado A valorização dos serviços ambientais é um
ambiental baseado em indicadores de informação e, mais especificamente, de assunto em torno do qual a região unirá
previamente definidos. Esse monitoramen- dados ambientais. Do mesmo modo, é esforços no sentido de que se reconheça o
to permitirá que futuras fontes de risco preciso estreitar os vínculos de cooperação valor dos diversos serviços ecossistêmicos
sejam identificadas, facilitando o funciona- científico-tecnológica entre os países, com proporcionados pela Amazônia. A partir
mento dos sistemas de alerta antecipado. o propósito de elaborar e pôr em prática disso, será possível formular políticas e
uma agenda de pesquisa científica, com instrumentos de remuneração que
ênfase na pesquisa aplicada. incentivem o aproveitamento sustentável
Fortalecer a institucionalidade dos serviços ecossistêmicos.
ambiental na Amazônia. Por outro lado, deve-se elaborar uma
estratégia de difusão e comunicação de As redes universitárias existentes na região
É importante que os espaços e as questões ambientais prioritárias levando podem ser aproveitadas para identificar
oportunidades de discussão e ação em consideração os diversos segmentos temas de interesse comum e modalidades
relativos às prioridades ambientais da do público interessado (formuladores de de colaboração para o desenvolvimento de
região sejam aproveitados políticas, empresários, estudiosos, ONGs e estudos de valorização econômica nas
adequadamente. Desse modo, é público em geral). áreas de recursos hídricos e biodiversidade.
fundamental o fortalecimento da
Organização do Tratado de Cooperação Principais ações sugeridas:
Amazônica, assim como de outros fóruns Criar um sistema de
regionais que promovem o diálogo entre ❱❱❱ Criar um sistema amazônico de monitoramento e avaliação
as autoridades nacionais, regionais, informação ambiental levando em dos impactos de políticas,
estaduais e/ou locais, e entre os conta as plataformas existentes programas e projetos.
especialistas nos principais temas (sistemas de georreferenciamento
ambientais amazônicos. É preciso, ainda, e de estatísticas, entre outros). A fim de dar prosseguimento à
promover a participação dos diferentes implementação da agenda ambiental
atores da sociedade civil nos processos de ❱❱❱ Produzir pesquisa científica e amazônica, deve-se contar com um
tomada de decisão e elaborar mecanismos tecnológica, para atender aos sistema de monitoramento baseado em
e meios para viabilizar as ações acordadas. problemas ambientais prioritários indicadores de desempenho para os
da região, e promover o diversos temas abordados pela agenda. De
❱❱❱ Avaliar a necessidade e a viabili- intercâmbio de experiências e de igual forma, deve-se realizar
dade da reativação e do aperfeiçoa- especialistas. periodicamente a avaliação do
mento da Comissão Especial de cumprimento das metas, segundo
Meio Ambiente da Organização do ❱❱❱ Desenvolver pesquisa aplicada indicadores preestabelecidos. Nesse
Tratado de Cooperação Amazônica. na área de ciências sociais visando sentido, um observatório ambiental
aperfeiçoar o processo de formula- amazônico constituiria uma ferramenta
❱❱❱ Elaborar e implementar mecanis- ção de políticas específicas para a estratégica para a formulação de políticas
mos, instrumentos e meios para região. e de instrumentos de gestão.
292
>293

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316
>317

paginas web indice de TABELAS


TABELA CONTEÚDO PÁGINA
TABELA 1.1 Superficie de la Amazônia segundo critérios 41
❱❱❱ ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA PARA OS ❱❱❱ COORDENADORA DAS ORGANIZAÇÕES
DIREITOS HUMANOS INDÍGENAS DA BACIA AMAZÔNICA ❱❱❱ PROJETO MAP TABELA 1.2 Taxa de crescimento e PIB per capita das regiões amazônicas 57
http://www.aldhu.com/paginas/fs_info/ http://www.coica.org.ec http://www.map-amazonia.net TABELA 1.3 Principais atividades produtivas na Amazônia 58
info_a,a-htm
❱❱❱ CORPORAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
TABELA 2.1 População aproximada da Amazônia maior e da Amazônia menor (2005) 67
❱❱❱ REVISTA PAN-AMERICANA DE SAÚDE PÚBLICA
❱❱❱ BOLÍVIA: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SUL DA AMAZÔNIA http://www.scielosp.org TABELA 2.2 População na Amazônia 68
RURAL, AMBIENTE E AGRICULTURA (CORPOAMAZONIA)
TABELA 2.3 Povos indígenas – população 72
http://www.agrobolivia.gov.bo http://www.corpoamazonia.gov.co ❱❱❱ SECRETARIA GERAL DA COMUNIDADE ANDINA
http://www.comunidadandina.org/prensa/notas/ TABELA 2.4 Amazônia brasileira: saúde e meio ambiente 77
❱❱❱ BRASIL: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA ❱❱❱ ECOPETROL np9-8-05.htm
TABELA 2.5 Exploração de petróleo na Amazônia (2006) 87
AGROPECUÁRIA (EMBRAPA) http://www.ecopetrol.com.co
http://www.embrapa.gov.br ❱❱❱ SIAMAZONIA – MARCO CIENTÍFICO PARA A TABELA 2.6 Principais hidrelétricas da bacia amazônica 90
❱❱❱ EQUADOR: MINISTÉRIO DE MINAS E PETRÓLEO CONSERVAÇÃO DA BACIA TABELA 3.1 Tipos de florestas inundáveis na Amazônia 110
❱❱❱ BRASIL: INSTITUTO DE PESQUISA AMBIENTAL http://www.menergia.gov.ec http://www.csr.ufmg.br/sim
TABELA 3.2 Número de espécies por grupos reportados nos países da Amazônia 111
DA AMAZÔNIA (IPAM) Amazonia
http://www.ipam.org.br ❱❱❱ FRENTE DE DEFESA DA AMAZÔNIA TABELA 3.3 Áreas protegidas restritas na bacia amazônica 115
http://www.texacotoxico.com ❱❱❱ SOCIOECONOMIC DATA AND APPLICATIONS
TABELA 3.4 Número de espécies extintas, ameaçadas de extinção e outras em cada categoria da lista vermelha,
❱❱❱ BRASIL: INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS CENTER 124
por país (2006)
ESPACIAIS ❱❱❱ FUNDAÇÃO AMIGOS DA NATUREZA http://sedac.ciesin.columbia.edu/gpw/
TABELA 3.5 Número de espécies ameaçadas, por grupo de organismos, por país 124
http://www.inpe.br http://www.fan-bo.org:9090/fan/es/biodiversidad/
http://www.dpi.inpe.br/proarco/bdqueimadas/ index_html ❱❱❱ UNIÃO INTERNACIONAL PARA A TABELA 3.6 Desmatamento da Amazônia nas décadas de 1980, 1990 e no período 2000-2005 137
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA (UICN)
TABELA 3.7 Principais causas do desmatamento e da degradação florestal 138
❱❱❱ BRASIL: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE ❱❱❱ HERBÁRIO DO BRASIL http://www.iucn.org
http://www.mma.gov.br http://www.herbario.com.br TABELA 3.8 Número de focos de incêndio na Amazônia 142
http://www.mma.gov.br/index.php?ido = conteudo. http://www.herbario.com.br/biopirat.htm ❱❱❱ UNITED NATIONS STATISTICS DIVISION (UNSD)
TABELA 3.9 Cobertura da rede de abastecimento de água e de saneamento na região amazônica 150
monta&idEstrutura=14&idConteudo =818 http://unstats.un.org.unsd/ENVIRONMENT/
http://www.mma.gov.br/CONAMA ❱❱❱ INTERNATIONAL LABOUR FOUNDATION totalarea.htm TABELA 3.10 Estimativa de resíduos sólidos e de lixiviados produzidos na bacia amazônica 153
FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT TABELA 3.11 Volume de águas residuais (salmoura) originadas pela atividade petrolífera na Amazônia 155
❱❱❱ BRASIL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE http://www.sustainlabour.org ❱❱❱ VENEZUELA: MINISTÉRIO DO PODER
TABELA 3.12 Amazônia: agricultura e pecuária 166
HERPETOLOGIA POPULAR PARA O AMBIENTE DE VENEZUELA
http://www.sbherpetologia.org.br ❱❱❱ ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DE http://www.minamb.gov.ve TABELA 3.13 Cidades amazônicas com população superior a 100.000 habitantes 182
COOPERAÇÃO AMAZÔNICA (OTCA)
TABELA 3.14 Destino do lixo nas regiões amazônicas do Brasil (2000) (em porcentagem) 188
❱❱❱ BRASIL: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO http://www.otca.org.br/publicacao/ ❱❱❱ WORLD COMMISSION ON PROTECTED AREAS
AGRÁRIO – INSTITUTO NACIONAL DE SPT-TCA-PER-31.pdf – WORLD DATABASE ON PROTECTED AREAS TABELA 4.1 Arbovírus na Amazônia brasileira e prováveis causas de seu surgimento 204
COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA) http://sea.unep-wcmc.org/wbdpa/ TABELA 4.2 Mitigação total de carbono anual e receita associada por meio da agricultura sustentável, da
http://www.incra.gov.br ❱❱❱ PARQUES NACIONAIS NATURAIS DE 207
redução do desmatamento e do reflorestamento (2003-2012)
COLÔMBIA ❱❱❱ WORLD WILDLIFE FUND
TABELA 4.3 Países andinos: investimentos em água e saneamento na região amazônica (2002-2015)
❱❱❱ COLÔMBIA: EMBAIXADA DOS ESTADOS http://www.parquesnacionales.gov.co/areas.htm http://www.worldwildlife.org/wildfinder/search 208
(em milhões de dólares)
UNIDOS DA AMÉRICA
TABELA 4.4 Principais impactos econômicos relacionados ao estado dos recursos hídricos e dos ecossistemas
http://bogota.usembassy.gov/wwwhmain.html ❱❱❱ PERU: INSTITUTO NACIONAL DE 210
aquáticos
ESTATÍSTICA E INFORMÁTICA
❱❱❱ COLÔMBIA: INSTITUTO SINCHI. ACESSO AO http://www.inei.gob.pe TABELA 4.5 Avaliação de danos causados por inundações no Acre 214
HERBÁRIO AMAZÔNICO COLOMBIANO (COAH) TABELA 5.1 Base institucional ambiental dos países amazônicos 226
http://www.sinchi.org.co/herbariov ❱❱❱ PERU: MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
TABELA 5.2 Convenções internacionais e principais políticas nacionais 229
http://minag.gob.pe
❱❱❱ COLÔMBIA: SISTEMA DE INFORMAÇÃO TABELA 5.3 Principais normas nacionais por temas 232
SOBRE BIODIVERSIDADE ❱❱❱ PERU: SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA
TABELA 5.4 Principais grupos comunitários na região amazônica 239
http://www.siac.net.co AMAZÔNIA
http://www.humboldt.org.co/sib http://www.siamazonia.org.pe TABELA 6.1 Comportamento das forças motrizes 259
318
>319

indice de GRAFICOS indice de QUADROS


GRÁFICO CONTEÚDO PÁGINA QUADRO CONTEÚDO PÁGINA
GRÁFICO 2.1 Taxa de crescimento médio anual da população amazônica (por país) 68 QUADRO 1.1 Origem andino do Rio Amazonas 35
GRÁFICO 2.2 Densidade demográfica da Amazônia (por país) 70 QUADRO 1.2 A Amazônia e o Rio Amazonas: suas principais dimensões 37
GRÁFICO 2.3 Amazônia: população urbana (%) 71 QUADRO 1.3 A região amazônica para os países da OTCA de acordo com três critérios alternativos 39
GRÁFICO 2.4 Cultivo da coca nos países andino-amazônicos (hectares) 84 QUADRO 1.4 A região amazônica para os países da OTCA de acordo com três critérios combinados 40
GRÁFICO 2.5 Amazônia: número de artigos publicados (por ano) 97 QUADRO 1.5 Bolívia: elos entre a Amazônia e os Andes 51
GRÁFICO 2.6 Níveis da seca na região amazônica 101 QUADRO 2.1 Suriname: povos indígenas e direitos de propriedade 73
GRÁFICO 2.7 Precipitações na região amazônica 101 QUADRO 2.2 Energia na Amazônia brasileira 89
GRÁFICO 3.1 Distribuição dos focos de incêndios na floresta Amazônica (2003-2006) 145 QUADRO 2.3 Brasil: plano sustentável da rodovia BR-163 93
GRÁFICO 3.2 Contribuição das principais sub-bacias hidrográficas amazônicas para a descarga total da bacia 148 QUADRO 2.4 Instituições de pesquisa científica e tecnológica sediadas na Amazônia 99

GRÁFICO 3.3 Desembarque médio anual por país no período 1988-1998 (a) e estimativa do consumo de peixe dos QUADRO 2.5 Amazônia: reguladora do clima 102
158 QUADRO 3.1 Áreas manejadas na Amazônia 117
habitantes rurais e ribeirinhos na Amazônia (b)
GRÁFICO 3.4 Principais espécies desembarcadas no Brasil, Colômbia e Peru no período 1994-1996 e em 2000 160 QUADRO 3.2 Bolívia: uso e aproveitamento de recursos florestais não madeireiros: a castanha (Bertholletia excelsa h.B.K.) 127
QUADRO 3.3 Coberturas da Amazônia colombiana 131
GRÁFICO 3.5 Exportação de pescado anual na bacia amazônica no período 1995-2003 (Brasil, Colômbia, Peru) 160
GRÁFICO 3.6 Volume de pescado exportado pelo Brasil, Colômbia e Peru na bacia amazônica QUADRO 3.4 Diversidade da vegetação da Amazônia peruana 133
160
QUADRO 3.5 Desmatamento na Amazônia 136
GRÁFICO 3.7 Densidade da pecuária nos estados de Rondônia, Mato Grosso e Pará (Brasil) 1996-2006 168
GRÁFICO 3.8a Equador: vista parcial das províncias de Orellana e Sucumbios (1977) QUADROO 3.6 O glifosato e suas concentrações: impacto sobre os peixes nativos 154
172
QUADRO 3.7 Efeitos socioambientais causados por empreendimentos hidrelétricos: a represa de Afobaka em Suriname 155
GRÁFICO 3.8b Equador: vista parcial das províncias de Orellana e Sucumbios 25 anos depois (2002): mudanças
QUADRO 3.8 Sedimentos nos rios amazônicos 157
no uso do solo, intenso desmatamento e novas ilhas no canal do rio Napo, sinal do assoreamento 173
QUADRO 3.9 Alerta de sobrepesca de dourado e piramutaba 159
cada vez maior
QUADRO 3.10 Babaçu: oportunidades e limitações 164
GRÁFICO 3.9a Cidade e Pucallpa-Peru, 1975 185
QUADRO 3.11 A agricultura na Amazônia ribeirinha do Rio Ucayali (Peru) 165
GRÁFICO 3.9b Cidade e Pucallpa-Peru, 2007 185
QUADRO 3.12 Bolívia: manejo da terra e ordenamento jurídico-institucional insuficiente 169
GRÁFICO 4.1 Impactos sobre o bem-estar humano 202
QUADRO 3.13 Brasil: mão-de-obra escrava na produção agrícola na Amazônia 170
GRÁFICO 4.2 Peru: exportação de mogno 206
QUADRO 3.14 Cidades amazônicas e suas áreas de influência 178
QUADRO 3.15 Georgetown: desenvolvimento urbano 181
QUADRO 3.16 Água potável no Suriname 184
QUADRO 3.17 As queimadas são a principal causa da poluição atmosférica nas cidades brasileiras 187
QUADRO 4.1 Equador: efeito da extração de petróleo na saúde da população amazônica 205

indice de MAPAS QUADRO 4.2


QUADRO 5.1
Migração e vulnerabilidade
Organização do tratado de cooperação amazônica (OTCA)
214
223
MAPA CONTEÚDO PÁGINA QUADRO 5.2 O estado brasileiro do Amazonas assegurou o apoio do BID para melhorar as condições de vida da
231
população nos Igarapés
MAPA 1.1a Contorno da Amazônia segundo o critério ecológico 39
QUADRO 5.3 Processo de zoneamento ecológico-econômico nos países da OTCA 234
MAPA 1.1b Contorno da Amazônia segundo o critério hidrográfico 39
QUADRO 5.4 Brasil: Fundo Amazônia 235
MAPA 1.1c Contorno da Amazônia segundo o critério político-administrativo 39
QUADRO 5.5 Eixos temáticos ambientais da organização do tratado de cooperação amazônica 240
MAPA 1.2a Contorno da Amazônia maior 40
QUADRO 5.6 Programa trinacional: conservação e desenvolvimento sustentável do corredor das áreas protegidas La
MAPA 1.2b Contorno da Amazônia maior 40 242
Paya-Güeppi-Cuyabeno
MAPA 1.3 Cobertura vegetal da Amazônia (2006) 41 QUADRO 5.7 Plano binacional de desenvolvimento da região fronteiriça Peru-Equador 243
MAPA 2.1a Densidade populacional da Amazônia maior e da Amazônia menor (1990) 67 QUADRO 5.8 Sistemas de informação ambiental na Amazônia: Colômbia e Peru 245
MAPA 2.1b Densidade populacional da Amazônia maior e da Amazônia menor (2005) 67 QUADRO 5.9 Manejo comunitário dos recursos naturais: a experiência Wai Wai, Guiana 247
MAPA 2.2 Principais estradas na Amazônia 88 QUADRO 5.10 Iniciativa cidadã Madre de Dios, Acre e Pando (MAP): uma nova manifestação de articulação social 247
MAPA 3.1 Cidades mais importantes da Amazônia 183 QUADRO 5.11 O Parque Nacional Yanachaga Chemillén fornece água de qualidade: o caso da piscicultura “California´s garden” 248
QUADRO 6.1 Construção de cenários na metodologia GEO 255
320
>321

ACRONIMOS E SIGLAS
❱❱❱ INEC: Instituto Nacional de Estatísticas ❱❱❱ OTCA: Organização do Tratado de ❱❱❱ SINA: Sistema Nacional Ambiental -
e Censos - Equador. Cooperação Amazônica. Colômbia.

❱❱❱ INEI: Instituto Nacional de Estatística e ❱❱❱ PAEC: Plano de ação estratégico para a ❱❱❱ SINAMA: Sistema Nacional de Infor-
Informática - Peru. implementação do anexo II da CITES para mação sobre Meio Ambiente.
o mogno no Peru.
❱❱❱ INGEOMINAS: Instituto Colombiano ❱❱❱ SINCHI: Instituto Amazônico de Pes-
❱❱❱ ACPC: Áreas de Conservação de ❱❱❱ GLP: Gás Liquefeito de Petróleo. de Mineração e Geologia. ❱❱❱ PAMAFRO: Projeto Controle da Malária quisas Científicas - Colômbia.
Propriedade Comunitária. ❱❱❱ CONCYTEC: Conselho Nacional de nas Zonas Fronteiriças da Região Andina.
Ciência, Tecnologia e Inovação - Peru. ❱❱❱ GOES: Satélite Ambiental Operacional ❱❱❱ INPA: Instituto Nacional de Pesquisas ❱❱❱ SOTE: Sistema de Oleoduto Transe-
❱❱❱ ALC: América Latina e o Caribe. Geoestacionário. da Amazônia - Brasil. ❱❱❱ PANACEA: Plano Andino de Comuni- quatoriano.
❱❱❱ CORPOAMAZONIA: Corporação para cação e Educação Ambiental.
❱❱❱ AMUMA: Acordos Multilaterais sobre o Desenvolvimento Sustentável do Sul da ❱❱❱ GTZ: Cooperação Técnica Alemã. ❱❱❱ INPE: Instituto Nacional de Pesquisas ❱❱❱ SPDA: Sociedade Peruana de Direito
Meio Ambiente Amazônia. Espaciais - Brasil. ❱❱❱ PIB: Produto Interno Bruto. Ambiental.
❱❱❱ GuySuUCo: Corporação de Açúcar da
❱❱❱ ANP: Áreas Naturais Protegidas. ❱❱❱ COV: Compostos Orgânicos Voláteis. Guiana. ❱❱❱ INRENA: Instituto Nacional de Recur- ❱❱❱ PEA: População Economicamente Ativa. ❱❱❱ TCA: Tratado de Cooperação Ama-
sos Naturais - Peru. zônica.
❱❱❱ BID: Banco Interamericano de Desen- ❱❱❱ CTI: Ciência, tecnologia e inovação. ❱❱❱ GWI: Companhia de Água da Guiana. ❱❱❱ PNUD: Programa das Nações Unidas
volvimento. ❱❱❱ IPCC: Painel Intergovernamental sobre para o Desenvolvimento. ❱❱❱ TGP: Transportadora de Gás do Peru S.A.
❱❱❱ DANE: Departamento Administrativo ❱❱❱ IABIN: Rede Interamericana de Infor- Mudanças Climáticas.
❱❱❱ BIODAMAZ: Projeto Diversidade Nacional de Estatística - Colômbia. mação sobre Biodiversidade. ❱❱❱ PNUMA: Programa das Nações Unidas ❱❱❱ TLC: Tratado de Livre Comércio.
Biológica da Amazônia Peruana. ❱❱❱ IR: Imposto de Renda. para o Meio Ambiente.
❱❱❱ DIAN: Direção de Impostos e Aduanas ❱❱❱ IALL: Instituto de Aqüicultura dos ❱❱❱ TNC: The Nature Conservancy
❱❱❱ CAAAP: Centro Amazônico de Antro- - Colômbia Llanos - Colômbia. ❱❱❱ ISA: Instituto Socioambiental. ❱❱❱ PNYCH: Parque Nacional Yanachaga
pologia e Aplicação Prática. Chemillén. ❱❱❱ TPC: Trilhões de Pés Cúbicos.
❱❱❱ ECOAN: Associação de Ecossistemas ❱❱❱ IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio ❱❱❱ ITTO: Organização Internacional das
❱❱❱ CAF: Corporação Andina de Fomento. Andinos. Ambiente e dos Recursos Naturais Madeiras Tropicais. ❱❱❱ PPCP: Plano Colombiano-Peruano para ❱❱❱ UDAPE: Unidade de Análise de Políti-
Renováveis. a Bacia do Rio Putumayo. cas Sociais e Econômicas - Bolívia.
❱❱❱ CAN: Comunidade Andina. ❱❱❱ ECORAE: Instituto para o Desenvolvi- ❱❱❱ IVIC: Instituto Venezuelano de Pesqui-
mento Ecológico Regional da Amazônia ❱❱❱ IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia sas Científicas. ❱❱❱ PREDECAN: Projeto de Prevenção de ❱❱❱ UFPA: Universidade Federal do Pará.
❱❱❱ CBC - Andes: Centro para a Conser- Equatoriana. e Estatística. Desastres na Comunidade Andina.
vação da Biodiversidade - Andes. ❱❱❱ LBA: Experimento de Grande Escala da ❱❱❱ UICN: União Internacional para a
❱❱❱ EIA: Estudo de Impacto Ambiental. ❱❱❱ ICM: Instituto de Ciências do Mar. Biosfera - Atmosfera na Amazônia. ❱❱❱ PRODES: Programa de Monitoramento Conservação da Natureza.
❱❱❱ CDB: Convenção sobre Diversidade do Desmatamento na Amazônia.
Biológica. ❱❱❱ EMBRAPA: Empresa Brasileira de ❱❱❱ ICMP: Programa Mundial de Monitora- ❱❱❱ MAP: Projeto Madre de Dios, Acre e ❱❱❱ UNAMAZ: Associação de Universida-
Pesquisa Agropecuária. mento de Cultivos Ilícitos. Pando. ❱❱❱ PRONERA: Programa Nacional de des Amazônicas.
❱❱❱ CEDIME: Centro de Pesquisa dos Educação na Reforma Agrária - Brasil.
Movimentos Sociais do Equador. ❱❱❱ ENAHO: Pesquisa Nacional Domiciliar ❱❱❱ IDEAM: Instituto de Hidrologia, Meteo- ❱❱❱ MCT: Ministério de Ciência e Tecnolo- ❱❱❱ UNESCO: Organização das Nações
- Peru. rologia e Estudos Ambientais da Colômbia. gia - Brasil. ❱❱❱ PSA: Pagamento por Serviços Am- Unidas para a Educação, a Ciência e a
❱❱❱ CENPES: Centro de Pesquisa e Desen- bientais. Cultura.
volvimento da Petrobrás. ❱❱❱ ENOS: El Niño Oscilação Sul. ❱❱❱ IEPA: Instituto Ecológico e de Proteção ❱❱❱ MEF: Ministério de Economia e
dos Animais. Finanças - Peru. ❱❱❱ PTS: Partículas Totais em Suspensão. ❱❱❱ USAID: Agência dos Estados Unidos
❱❱❱ CETA: Centro de Estudos Teológicos da ❱❱❱ EPA: Agência de Proteção Ambiental.
para o Desenvolvimento Internacional.
Amazônia. ❱❱❱ IGAC: Instituto Geográfico Agustín ❱❱❱ MERCOSUL: Mercado Comum do Sul. ❱❱❱ RNPS: Reserva Nacional Pacaya
❱❱❱ EAS: Empresas de abastecimento de Codazzi. Samíria. ❱❱❱ UTU: Universidade do Trabalho do
❱❱❱ CI: Conservation International. água e de saneamento. ❱❱❱ MMA: Ministério do Meio Ambiente Uruguai.
❱❱❱ IGV: Imposto Geral sobre Vendas. - Brasil. ❱❱❱ SCA/MMA: Secretaria de Coorde-
❱❱❱ CIAT: Centro Internacional de Agricul- ❱❱❱ FAO: Organização das Nações Unidas nação da Amazônia, Ministério do Meio ❱❱❱ VIDS: Associação de Líderes de Vilas
tura Tropical. para a Agricultura e a Alimentação. ❱❱❱ IIAP: Instituto de Pesquisas da Amazô- ❱❱❱ MODIS: Espectro-radiómetro imagea- Ambiente - Brasil. Indígenas.
nia Peruana. dor de resolução moderada.
❱❱❱ CIID/IDRC: Centro Internacional ❱❱❱ FDA: Administração Federal de Alimen- ❱❱❱ SDR/MI: Secretaria de Desenvolvi- ❱❱❱ WRM: World Rainforest Movement.
de Pesquisa para o Desenvolvimento - tos e Medicamentos - EUA. ❱❱❱ IIRSA: Iniciativa de Integração da Infra- ❱❱❱ MPEG: Museu Paraense Emílio Goeldi. mento Regional, Ministério de Integração
Canadá. Estrutura da Região Sul-Americana. Nacional - Brasil. ❱❱❱ WWF: Fundo Mundial para a Natureza
❱❱❱ FOBOMADE: Fórum Boliviano de Meio ❱❱❱ MUNIC: Pesquisa de Informações
❱❱❱ CITES: Convenção sobre o Comércio Ambiente e Desenvolvimento. ❱❱❱ ILDIS: Instituto Latino-Americano de Básicas Municipais. ❱❱❱ SDS/MMA: Secretaria de Políticas para ❱❱❱ ZEE: Zoneamento Ecológico-Econômico.
Internacional das Espécies da Flora e Fau- Pesquisas Sociais. o Desenvolvimento Sustentável, Ministério
na Selvagens em Perigo de Extinção. ❱❱❱ FONCODES: Fundo de Cooperação ❱❱❱ NOAA: Agência Oceânica e Atmosféri- do Meio Ambiente - Brasil.
para o Desenvolvimento Social - Peru. ❱❱❱ IMAZON: Instituto do Homem e Meio ca dos EUA.
❱❱❱ CLIRSEN-Equador: Centro de Levan- Ambiente da Amazônia. ❱❱❱ SGCAN: Secretaria-Geral da Comuni-
tamentos Integrados de Recursos Naturais ❱❱❱ FONPLATA: Fundo Financeiro para o ❱❱❱ OSCIP: Organizações da Sociedade dade Andina.
por Sensoreamento Remoto. Desenvolvimento da Bacia da Prata. ❱❱❱ INADE: Instituto Nacional de Desenvol- Civil de Interesse Público.
vimento - Peru. ❱❱❱ SIAC: Sistema de Informação sobre
❱❱❱ CO: Monóxido de Carbono. ❱❱❱ FRA: Avaliação dos Recursos Florestais. ❱❱❱ OEA: Organização dos Estados Ame- Biodiversidade - Colômbia.
❱❱❱ INCODER: Instituto Colombiano de ricanos.
❱❱❱ COAH: Herbário Amazônico Colombiano. ❱❱❱ FSC: Conselho de Manejo Florestal. Desenvolvimento Rural. ❱❱❱ SIAMAZONIA: Sistema de Informação
❱❱❱ OIT: Organização Internacional do sobre Diversidade Biológica e Ambiental
❱❱❱ COICA: Coordenadora das Organi- ❱❱❱ GEF: Fundo para o Meio Ambiente ❱❱❱ INCRA: Instituto Nacional de Coloni- Trabalho. da Amazônia Peruana.
zações Indígenas da Bacia Amazônica. Mundial. zação e Reforma Agrária - Brasil.
❱❱❱ OMS: Organização Mundial da Saúde. ❱❱❱ SIAT: Sistema de Informação Agrária e
❱❱❱ CONAM: Conselho Nacional do ❱❱❱ GEE: Gases de efeito estufa. ❱❱❱ INDECI: Instituto Nacional de Defesa Gestão de Território.
Ambiente (atual Ministério do Ambiente) Civil - Peru. ❱❱❱ ONG: Organização não-governamental.
- Peru. ❱❱❱ GETAT: Grupo Executivo das Terras do ❱❱❱ SIMCI: Sistema Integrado de Monitora-
❱❱❱ CONAMA: Conselho Nacional do Meio Araguaia-Tocantins. ❱❱❱ INE: Instituto Nacional de Estatística ❱❱❱ ONU: Organização das Nações Unidas. mento de Cultivos Ilícitos.
Ambiente - Brasil. - Bolívia.
>323

Ao encerrar esta publicação, plantamos


uma árvore. Um grupo de estudantes
de um centro de ensino fundamental
da região de Iquitos-Nauta, na
Amazônia peruana, ajudou-nos a
plantar mudas de pacae (Inga feuillei
DC), também conhecida como guaba
– espécie florestal não-madeireira
que ocorre naturalmente apenas na
região amazônica. Se nada ou ninguém
impedir o seu desenvolvimento, em
seis anos essas árvores terão a sua
primeira florada, atingirão uma altura
de 8 a 15 metros e darão frutos até 3
vezes por ano – vagens com sementes

INSTITUTO DE INVESTIGACIONES DE LA AMAZONÍA PERUANA (IIAP)


pretas envoltas por uma polpa branca
de sabor agradável, macia e adocicada.
Esse plantio faz parte de um programa
de reflorestamento de espécies
frutíferas da região promovido pelo
Instituto de Pesquisas da Amazônia
Peruana (IIAP).

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