You are on page 1of 14

Getúlio Vargas visita o Paraná.

Discurso, fotografia e propaganda


política na formação da imagem do presidente.1

SANTOS, Jessica Leme (mestranda)2


Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR

Resumo: Este trabalho busca demonstrar aspectos da visita do presidente Getúlio Vargas
ao Paraná no ano de 1944. Esta visita resultou na elaboração de um álbum fotográfico
comemorativo da viagem presidencial, o qual foi publicado em ocasião do dia primeiro
de maio daquele ano. Nesse sentido analisa se as fotografias da visita do presidente a
região, levando em consideração que o mesmo não havia mais estado no Paraná desde o
levante de 1930 ao qual lhe rendeu a presidência. Discutem-se aspectos da propaganda
política da época, o papel do Departamento de Imprensa e Propaganda no período,
assim como a importância da figura dos trabalhadores dentro do período do Estado
Novo. Traz considerações sobre os textos jornalísticos selecionados para fazerem parte
do álbum fotográfico, assim como seleciona dentre as diversas fotos da coleção quatro
das mais contundentes a sua passagem pela cidade de Curitiba, bem como as
comemorações cívicas, populares e políticas que se estenderam estão retratadas nessas
imagens. Como metodologia de análise das fotografias utiliza-se a iconologia e
iconografia.

Palavras-chave: História da Imprensa; Getúlio Vargas; Estado Novo; Fotografia;


Propaganda Política;

Após catorze anos diante da presidência do Brasil sem nunca mais ter retornado
ao Paraná, Getúlio Vargas vem ao estado para uma visita entre algumas cidades e polos
industriais. Decorrente dessa visita foi produzido o Álbum Comemorativo da visita do
presidente Getúlio Vargas ao Paraná3, publicado em decorrência da comemoração do dia
do trabalho, em maio de 1944. Dentro da publicação além de fotografias, existem textos
retirados de jornais em circulação no período. Por ser uma produção do governo com
intuito de propaganda do regime, todas as comunicações compiladas na obra são

1 Trabalho apresentado no GT de História da Imprensa, integrante do 6º Encontro Regional Sul de


História da Mídia – Alcar Sul | 2016.
2 Mestranda em História, Cultura e Identidades na Linha de Pesquisa: Discursos, Representações e
Produção de Sentidos, no Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa, email:
jessik.leme@hotmail.com
3
A partir desse momento o Álbum Comemorativo da visita do Presidente ao Paraná, será apenas
mencionado como Álbum.
favoráveis a Getúlio Vargas e juntamente com as fotografias e legendas os textos
terminam de formar o ideal político e governamental.
O Álbum se caracteriza como uma produção que visava dar publicidade positiva
ao governo Vargas, que já no ano de 1944 estava desgastado, principalmente após a
entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial4. Além de que, desde os anos 1930
iniciou-se a construção do “homem Getúlio Vargas”, bem como se buscou criar para o
país uma nova identidade que se desligava da ideia de país agrário, rural, para um novo
aspecto que procurava alinhar-se com as ideias modernistas, urbanos e industriais.
O regime de Getúlio Vargas utilizou de forma maciça os meios de comunicação
disponíveis no período como jornais, revistas, cinema, teatro e também o rádio. A
propaganda política no período Vargas, se assemelhou muito a dos regimes fascista e
nazista vigentes na Europa no mesmo período, segundo CAPELATO (1999, p. 169), a
propaganda política é importante em qualquer regime político, porém, quando ele é de
face totalitária ela se torna ainda mais importante a partir do momento em que o
governo detém o monopólio das informações, provoca a censura, assim como manipula
a mídia a seu favor, nesse sentido o poder político monopoliza a força física e simbólica.

O DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), criado no governo Vargas, era


o responsável pela censura dos órgãos de informação e cultura no país. Além disso, era
ele também o órgão que produzia a propaganda governamental.
A importância dos meios de comunicação para a propaganda política já fora
salientada por Assis Chateaubriand, que em 1935 criticou Vargas pela
incapacidade de utilizá-los de forma eficiente. Mencionando o exemplo da
Alemanha nazista, Chateaubriand comentou que nesse país “a técnica de
propaganda obtém resultados até a hipnose coletiva (...). O número de
heréticos se torna cada vez mais reduzido porque o esforço de sugestão
coletiva é desempenhado pelas três armas poderosas de combate da técnica
material de propaganda: o jornalismo, o rádio e o cinema (...)”.
(CAPELATO, 1999, p. 170).

4
Segundo DÄHNE, 2015, Nelson Werneck Sodré (2010) destaca a participação do Brasil na Segunda
Guerra Mundial como o ponto de partida para o processo de deteriorização do regime do Estado Novo e
da redemocratização do país. Para ele, o que iniciou esse processo foi o impasse ao qual chegou o
governo brasileiro entre o apoio aos Estados Unidos ou à Alemanha, e que levou à escolha de uma aliança
com um país que vivia uma democracia, rompendo com o nazifacismo cujo regime autoritário possuía
semelhanças com o vigente no país. Com o reconhecimento do estado de beligerância contra a Alemanha
e a Itália em 22 de agosto de 1942, a participação brasileira no conflito inicialmente se caracteriza pela
intensificação do fornecimento de matéria prima utilizada na produção de material bélico. Ver mais em
DÄHNE, Caroline Loise. PATRIOTISMO EM PÁGINAS: OS DISCURSOS DA IMPRENSA PONTA-
GROSSENSE NO CONTEXTO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1942 - 1944).
Era papel do DIP, produzir revistas, jornais, cinema que levassem o povo a se
identificar com seu país, segundo CAPELATO (1999, p. 173 ) , os discursos proferidos
pelo presidente em inaugurações, comemorações forneciam conteúdo básico da
propaganda do regime. Além do que todo veículo de comunicação deveria buscar junto
ao DIP, licença para produção.
Os periódicos acabaram sendo obrigados a reproduzir os discursos oficiais,
a dar ampla divulgação às inaugurações, a enfatizar as notícias dos atos do
governo, a publicar fotos de Vargas: 60% das matérias publicadas eram
fornecidas pela Agência Nacional. Havia íntima relação entre censura e
propaganda. As atividades de controle, ao mesmo tempo que impediam a
divulgação de determinados assuntos, impunham a difusão de outros na
forma adequada aos interesses do Estado. (CAPELATO, 1999, 175. In
PANDOLFI).

Ainda segundo a autora, a imprensa também sofre com pressões de ordem


financeira, pois eram vedadas publicações que mencionassem possíveis crises
financeiras ou de infraestrutura como também de acidentes ou desastres. A autora ainda
salienta que nem toda a imprensa foi contrária ao governo Vargas e por isso passou a
sofrer censura, parte dos jornalistas principalmente aqueles que eram ligados a produção
de jornais do empresariado, acabaram por se render as políticas de incentivo
governamentais, “... o autoritarismo do Estado Novo explica a adesão e o silêncio de
jornalistas; por outro, não se pode deixar de considerar que a política conciliatória de
Getúlio Vargas, aliada à “troca de favores”, também surtiu efeito entre os “homens de
imprensa” (CAPELATO, 1999, p.175).
Durante o período do Estado Novo o governo buscou conhecer o país em sua
totalidade e nesse momento as fotografias tiveram papel importante. Delas obtinha se
boa parte do material utilizado como propaganda do regime. A fotografia como um forte
instrumento de comunicação de massa e principalmente de manipulação da mesma alia-
se ao constructo político para a criação do mito, isso se dá pelo caráter de verdade que a
fotografia impõe já de antemão.
A partir da leitura de KOSSOY (2000, p.37), a fotografia nos fornece provas e
indícios, funcionando como um documento iconográfico acerca de determinada
realidade. A primeira realidade fotográfica ocorre no momento em que o fotógrafo
produz a imagem, a segunda se apresenta a partir do assunto representado.
A realidade da fotografia não corresponde (necessariamente) a verdade
histórica, apenas ao registro expressivo da aparência... A realidade da
fotografia reside nas múltiplas interpretações, nas diferentes “leituras” que
cada receptor dela faz num dado momento; tratamos pois, de uma expressão
peculiar que suscita inúmeras interpretações. (KOSSOY, 2000 p.38).

Para KOSSOY (2000, p.58) a análise iconográfica se da pela reconstituição do


processo que originou a fotografia operando uma verdadeira arqueologia do documento.
Na reconstituição da fotografia com sua data, local, entre outros aspectos busca se os
detalhes que a compõe.
Dentro da análise iconológica, deve-se lembrar de que a fotografia traz uma
representação do real, que se formou através do processo criativo daquele que produz a
fotografia e traz consigo uma visão particular de mundo, a partir dele é que ocorre a
mediação entre o que será perenizado na imagem ou não. Segundo KOSSOY (2000,
p.59), na iconologia deve-se buscar resgatar a história do assunto, o momento em que
foi registrada processo do qual resultou a representação que está sendo estudada. Busca-
se pela interpretação iconológica, decifrar a realidade interior da representação
fotográfica, sua face oculta, seu significado, sua primeira realidade, além da verdade
iconográfica.
Na análise do Álbum já em seu texto de abertura o tom da escrita já nos traz
consciência da importância que foi dada a visita do presidente ao estado. Devido à visita
ficou estabelecido feriado no dia 24 de janeiro de 1944. A notícia logo percorreu todas
as publicações mais importantes da época, jornais, revistas e publicações ligadas a
setores sociais e empresariais do estado, nesse momento eram inerente a todos os meios
de comunicação o sentido patriótico ao qual a visita do presidente se dava.

ANEXO 01- Texto de abertura do Álbum, salientando a importância da visita do presidente ao Paraná.
Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.01. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.

Dando continuidade à publicação temos o texto do Jornal o Dia redigido na


capital do estado Curitiba, o texto contempla o discurso pró-guerra, e reitera os esforços
do governo na vitória do conflito num esforço nacional de união para o combate. Ainda
segundo a publicação, a população além de dar total apoio ao governo lhe renderia
homenagens ao homem que a mais de uma década comanda o país, permitindo que
houvesse crescimento em todos os setores, proporcionando maior conforto e qualidade
de vida a todos os brasileiros.
ANEXO 02 – Trecho do texto do Jornal O Dia sobre a visita do presidente ao Paraná.

Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.04. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.

Assim como o Jornal já salientava em seu texto, as festas cívicas, paradas


trabalhistas realmente ocorreram dada a chegada de Getúlio Vargas ao estado. Como
podemos ver na figura 01, contempla-se a chegada do presidente ao Estado na Base
Aérea do Bacacheri em Curitiba, ao lado dele seguem- se o prefeito de Curitiba, o
Interventor Manoel Ribas Federal e o Comandante da Região.
O presidente se mostra sorridente, fotografado de maneira descontraída ao lado
de figuras que demonstram parte do caráter de seu governo principalmente pela ampla
presença de militares, os quais estavam atrelados ao seu governo desde a tomada de
poder durante a Revolução de 1930.
FIGURA 01: Getúlio Vargas ao lado do Interventor Federal e o Comandante da região .

Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de


1944. Curitiba, p.07. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.

O segundo jornal a ser mencionado no Álbum é A Gazeta, também de Curitiba, o


texto comenta que após uma evolução acidentada na história política do país, onde
anteriormente passava-se por uma grande dificuldade, vem se a ter uma organização
racionalizada de trabalho com o novo governo, que segundo o jornal seria a única forma
de obter algo construtivo para o país.
O texto faz um breve comentário sobre a participação do estado na vitória da
Revolução de 1930 o que o coloca em destaque perante o governo e os demais estados
da nação. De certa forma o discurso do jornal pretende relegar ao estado paranaense o
total êxito pelo levante revolucionário.
ANEXO 03 – Trecho do texto do jornal Gazeta do Povo sobre a participação do Paraná na
Revolução de 1930.

Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de


1944. Curitiba, p.05. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.

Ainda segundo a Gazeta, a realidade política do período era que após as corridas
partidárias os políticos não mais se importavam em buscar empresas, em cuidar da
economia, e por conta disso o cenário oferecia espaço para dissidências e pensamentos
negativos dando referência ao movimento anarquista5. A experiência da época mostrava
que o Estado neutro não funcionava e o modelo ideal seria um estado de encarnação,
que este sim levaria ao crescimento.
Segundo o jornal, com a posse de Getúlio essa encarnação efetivamente
aconteceu e trouxe verdadeira liberdade para a nação pelo pulso firme de seu chefe, que
com essa atitude garantiu a integridade e liberdade do povo. Podemos compreender
melhor amparados na afirmação de Capelato:

Os ideólogos do Estado Novo partiram do princípio que o dever precede o


direito, pois a nação é anterior a entidade superior aos indivíduos. Nessa
perspectiva, os deveres fundavam os direitos na sociedade política, a
representação de caráter orgânico anulava a noção de direitos políticos em
favor da prestação de deveres e funções obrigatórias prescritas pelo Estado. A
cidadania foi concebida com base nessas premissas, mas a originalidade do
caso brasileiro residia na relação cidadania/trabalho. (CAPELATO, 1997 p.
179).

A seguir na figura 02, podemos ver o presidente ladeado por militares, pelo
interventor do Estado Manoel Ribas e demais políticos paranaenses. Já posicionado em

5
Segundo FAUSTO (1998, p. 297), Em São Paulo houve uma vertente anarquista mais conhecido como o
anarco-sindicalismo, um movimento operário que teve seu ápice nos EUA e Europa no final do século
XIX e início da Primeira Guerra. Buscavam a mudança radical da sociedade com a implantação do
socialismo. Ver mais em, FAUSTO, Boris. História do Brasil. 6° Ed. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 1998.
palanque construído na Avenida João Pessoa por volta das 16 horas da tarde do dia 25
de janeiro de 1944. Na legenda podemos perceber o tom de unidade ao relacionar o
desfile cívico a uma homenagem prestada pelo povo paranaense como um todo.
Segundo Fausto (2006) as lideranças carismáticas ocorrem geralmente em
governos autoritários, cria-se uma relação simbólica com o líder. No Brasil, por
exemplo, associou-se a figura do presidente a de um herói, com ligeiras conquistas tidas
pela população mais carente essa figura se mitifica em uma sociedade sedenta por
“salvadores” ter características nesse sentido se tornou imprescindível para ser o eleito.

As lideranças marcadamente carismáticas são mais associadas a regimes


totalitários, nos quais o poder se concentra numa figura em que há uma
relação simbólica direta entre o líder e as massas. (FAUSTO, 2006, p.121).

FIGURA 02: Getúlio Vargas em palanque construído para visualização do desfile cívico em Curitiba,
rodeado de militares e políticos locais.

Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.10. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.

Também o jornal O Diário da Tarde, o mais antigo do estado paranaense


divulgou a visita do presidente, com o título “O homem e a Obra”, a publicação
engrandece o crescimento do país, no texto fala-se das inúmeras homenagens que serão
feitas pela população da capital ao chefe da nação independente de classe social,
mostrando o quanto os paranaenses eram favoráveis ao presidente.
Ainda segundo a publicação Getúlio Vargas havia em sete anos colocado o país
no cenário da América Latina e do mundo, visto que no momento estava em “armas”
juntamente com as Nações Unidas. Termina lamentando que as manifestações políticas
e cívicas não sejam suficientes para o real esmero que o presidente merecia ter.

ANEXO 04 – Trecho do texto sobre a visita de Getúlio Vargas ao Paraná, Jornal O Diário da Tarde.

Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.12. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.

Assim como ressaltado pelo jornal O Diário da Tarde, temos na terceira figura
apresentada, o desfile protagonizado pela classe trabalhadora de Curitiba, onde
operários e patrões se uniram para prestigiar a visita do “pai dos trabalhadores”.

(Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná,


1944, p.19).

6
Texto da citação reproduzido em imagem,” A parada prosseguiu em meio a grande e permanente
entusiasmo popular, desfilando as organizações sindicais de trabalhadores e empregadores pelo trajeto
que une as praças Santos Andrade e General Osório. Acerta altura do desfile os aplausos ganharam
maior intensidade, pois, passavam conduzidas por jovens operárias as bandeiras das Nações Unidas.
Outro momento de grande vibração verificou-se à passagem da banda de música do Tiro de Guerra
Rio Branco, tradicional sociedade militar de Curitiba”.
A imagem festiva que o Álbum traz em suas fotografias, legendas e textos faz
parte do ideário Estado Novista, segundo Schemes (2013, p. 337) que buscava
apresentar uma ideia de sociedade em festa, alegria coletiva, em contraposição as ações
repressivas e violentas promovidas pelo governo.

A coerção física e ideológica exercida sobre a sociedade representava a outra


face da moeda na qual se estampava a imagem do “povo feliz”, manifestando
sua alegria nas festas, nas praças públicas e nos estádios por ocasião das
festas cívicas promovidas pelo governo. (SCHEMES, 2013, p. 337).

As imagens de operários em desfile apresentadas aqui e selecionadas para


compor o Álbum, nos remetem a política trabalhista do governo Vargas, a bandeira de
“pai dos trabalhadores” foi um dos esteios de propaganda política durante todo o
período em que esteve à frente da presidência do país. Segundo Schemes (2013, p.340)
dentro de seus discursos as ações voltadas aos trabalhadores eram vistas como
primordiais, assim como toda lembrança do passado era relacionada a um período de
atraso, repressão e dificuldade enquanto a partir de seu governo o novo havia se
estabelecido e por isso deveria assim ser comemorado.
FIGURA 03: Desfile trabalhista em homenagem ao presidente Getúlio Vargas.

Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.13. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.

Na quarta figura, podemos ver a Rua João Pessoa em Curitiba tomada pela
massa, segundo a legenda a população ovacionava a figura de Getúlio Vargas, havia
como podemos observar na fotografia toda sorte de pessoas entre homens, mulheres e
crianças. Esta fotografia provavelmente foi produzida logo após o desfile cívico do qual
participou o Exército e também a classe trabalhadora de Curitiba, devidamente
uniformizada.
Segundo LISSOVSKY (2014) outro desafio proposto com a criação de álbuns
fotográficos era a de transformar a figura de Getúlio Vargas em “chefe” o que
conduziria melhor com a ideia de modernização do país, visto que até aquele momento
a figura do mesmo ainda estava muito ligada ao do coronel ou do caudilho, muito
comum na história do Brasil até aquele momento.

Vargas, nesse imaginário, era projetado a um plano de divinização,


representando a figura do Pai - o protetor -, do Filho - o líder que veio mudar
a história - e do Espírito Santo - a quem cabia iluminar o povo no caminho de
uma nova ordem (SCHEMES, 2013, p. 349).
FIGURA 04: Multidão que ovacionava o presidente em Curitiba

Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.11. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.

Talvez uma das possibilidades de entendimento da interpretação dada à figura de


Getúlio Vargas em sua visita ao Paraná em 1944, como sendo a de um chefe que
também poderia ser tratado com um pai bondoso, seja a de que a propaganda política
produzida durante o Estado Novo, a partir de um discurso oficial proferido pela rádio
diariamente, seja pela censura imposta aos jornais e demais fontes de informação do
período funcionou como direcionamento da massa trabalhadora e social como um todo.

Evidente que um Álbum produzido em comemoração ao dia do trabalhador, não


passaria ao largo dos olhos do Departamento de Imprensa do Estado, sendo assim mais
um instrumento propagandístico do governo. A escolha dos textos jornalísticos que
tratavam com entusiasmo a visita do presidente, as imagens panorâmicas com grande
apelo social e trabalhista, formam o ideal estadonovista.

Nesse sentido podemos concluir que a visita do presidente Getúlio Vargas ao


Paraná em 1944, perenizada nas páginas do Álbum, mostrou a força da doutrinação a
qual o Estado havia colocado a população, deixando evidente a censura da mídia através
de somente termos aspectos positivos do governo publicados na obra. Assim como não
vemos imagens de pessoas marginalizadas, pobreza, mazelas nas imagens exploradas.

REFERÊNCIAS:

Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de


maio de 1944. Curitiba. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no


varguismo e no peronismo. 2.ed. - São Paulo Editora UNESP, 2009.

CAPELATO, Maria Helena. Propaganda política e os meios de comunicação, p. 161 In


PANDOLFI. Dulci. Org. Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro, Ed. Fundação
Getúlio Vargas, 1999.

FAUSTO, Boris. Getúlio Vargas o poder e o sorriso. São Paulo; Companhia das
Letras,2006
JAGUARIBE, Beatriz. LISSOVSKY, Mauricio. Onde Vargas não figura, prefigura.
Pausas do destino: teoria, arte e história da fotografia. Rio de Janeiro: Mauad, 2014
KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na trama fotográfica. Cotia; Atêlie Editorial, 2
ed.2000.
LISSOVSKY, Mauricio. JAGUARIBE, Beatriz. A invenção do olhar moderno na Era
Vargas. ECO-PÓS- v.9, n.2, agosto-dezembro 2006, pp.88-109.
SCHEMES, Claudia. O controle social e as festas cívicas no Brasil de Getúlio Vargas
(1937-1945) e na Argentina de Juan Domingo Perón (1946-1955). Dimensões, vol. 30,
2013, p. 335-361. ISSN: 2179-8869.

You might also like