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Resumo: Este trabalho busca demonstrar aspectos da visita do presidente Getúlio Vargas
ao Paraná no ano de 1944. Esta visita resultou na elaboração de um álbum fotográfico
comemorativo da viagem presidencial, o qual foi publicado em ocasião do dia primeiro
de maio daquele ano. Nesse sentido analisa se as fotografias da visita do presidente a
região, levando em consideração que o mesmo não havia mais estado no Paraná desde o
levante de 1930 ao qual lhe rendeu a presidência. Discutem-se aspectos da propaganda
política da época, o papel do Departamento de Imprensa e Propaganda no período,
assim como a importância da figura dos trabalhadores dentro do período do Estado
Novo. Traz considerações sobre os textos jornalísticos selecionados para fazerem parte
do álbum fotográfico, assim como seleciona dentre as diversas fotos da coleção quatro
das mais contundentes a sua passagem pela cidade de Curitiba, bem como as
comemorações cívicas, populares e políticas que se estenderam estão retratadas nessas
imagens. Como metodologia de análise das fotografias utiliza-se a iconologia e
iconografia.
Após catorze anos diante da presidência do Brasil sem nunca mais ter retornado
ao Paraná, Getúlio Vargas vem ao estado para uma visita entre algumas cidades e polos
industriais. Decorrente dessa visita foi produzido o Álbum Comemorativo da visita do
presidente Getúlio Vargas ao Paraná3, publicado em decorrência da comemoração do dia
do trabalho, em maio de 1944. Dentro da publicação além de fotografias, existem textos
retirados de jornais em circulação no período. Por ser uma produção do governo com
intuito de propaganda do regime, todas as comunicações compiladas na obra são
4
Segundo DÄHNE, 2015, Nelson Werneck Sodré (2010) destaca a participação do Brasil na Segunda
Guerra Mundial como o ponto de partida para o processo de deteriorização do regime do Estado Novo e
da redemocratização do país. Para ele, o que iniciou esse processo foi o impasse ao qual chegou o
governo brasileiro entre o apoio aos Estados Unidos ou à Alemanha, e que levou à escolha de uma aliança
com um país que vivia uma democracia, rompendo com o nazifacismo cujo regime autoritário possuía
semelhanças com o vigente no país. Com o reconhecimento do estado de beligerância contra a Alemanha
e a Itália em 22 de agosto de 1942, a participação brasileira no conflito inicialmente se caracteriza pela
intensificação do fornecimento de matéria prima utilizada na produção de material bélico. Ver mais em
DÄHNE, Caroline Loise. PATRIOTISMO EM PÁGINAS: OS DISCURSOS DA IMPRENSA PONTA-
GROSSENSE NO CONTEXTO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1942 - 1944).
Era papel do DIP, produzir revistas, jornais, cinema que levassem o povo a se
identificar com seu país, segundo CAPELATO (1999, p. 173 ) , os discursos proferidos
pelo presidente em inaugurações, comemorações forneciam conteúdo básico da
propaganda do regime. Além do que todo veículo de comunicação deveria buscar junto
ao DIP, licença para produção.
Os periódicos acabaram sendo obrigados a reproduzir os discursos oficiais,
a dar ampla divulgação às inaugurações, a enfatizar as notícias dos atos do
governo, a publicar fotos de Vargas: 60% das matérias publicadas eram
fornecidas pela Agência Nacional. Havia íntima relação entre censura e
propaganda. As atividades de controle, ao mesmo tempo que impediam a
divulgação de determinados assuntos, impunham a difusão de outros na
forma adequada aos interesses do Estado. (CAPELATO, 1999, 175. In
PANDOLFI).
ANEXO 01- Texto de abertura do Álbum, salientando a importância da visita do presidente ao Paraná.
Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.01. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.
Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.04. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.
Ainda segundo a Gazeta, a realidade política do período era que após as corridas
partidárias os políticos não mais se importavam em buscar empresas, em cuidar da
economia, e por conta disso o cenário oferecia espaço para dissidências e pensamentos
negativos dando referência ao movimento anarquista5. A experiência da época mostrava
que o Estado neutro não funcionava e o modelo ideal seria um estado de encarnação,
que este sim levaria ao crescimento.
Segundo o jornal, com a posse de Getúlio essa encarnação efetivamente
aconteceu e trouxe verdadeira liberdade para a nação pelo pulso firme de seu chefe, que
com essa atitude garantiu a integridade e liberdade do povo. Podemos compreender
melhor amparados na afirmação de Capelato:
A seguir na figura 02, podemos ver o presidente ladeado por militares, pelo
interventor do Estado Manoel Ribas e demais políticos paranaenses. Já posicionado em
5
Segundo FAUSTO (1998, p. 297), Em São Paulo houve uma vertente anarquista mais conhecido como o
anarco-sindicalismo, um movimento operário que teve seu ápice nos EUA e Europa no final do século
XIX e início da Primeira Guerra. Buscavam a mudança radical da sociedade com a implantação do
socialismo. Ver mais em, FAUSTO, Boris. História do Brasil. 6° Ed. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 1998.
palanque construído na Avenida João Pessoa por volta das 16 horas da tarde do dia 25
de janeiro de 1944. Na legenda podemos perceber o tom de unidade ao relacionar o
desfile cívico a uma homenagem prestada pelo povo paranaense como um todo.
Segundo Fausto (2006) as lideranças carismáticas ocorrem geralmente em
governos autoritários, cria-se uma relação simbólica com o líder. No Brasil, por
exemplo, associou-se a figura do presidente a de um herói, com ligeiras conquistas tidas
pela população mais carente essa figura se mitifica em uma sociedade sedenta por
“salvadores” ter características nesse sentido se tornou imprescindível para ser o eleito.
FIGURA 02: Getúlio Vargas em palanque construído para visualização do desfile cívico em Curitiba,
rodeado de militares e políticos locais.
Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.10. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.
ANEXO 04 – Trecho do texto sobre a visita de Getúlio Vargas ao Paraná, Jornal O Diário da Tarde.
Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.12. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.
Assim como ressaltado pelo jornal O Diário da Tarde, temos na terceira figura
apresentada, o desfile protagonizado pela classe trabalhadora de Curitiba, onde
operários e patrões se uniram para prestigiar a visita do “pai dos trabalhadores”.
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Texto da citação reproduzido em imagem,” A parada prosseguiu em meio a grande e permanente
entusiasmo popular, desfilando as organizações sindicais de trabalhadores e empregadores pelo trajeto
que une as praças Santos Andrade e General Osório. Acerta altura do desfile os aplausos ganharam
maior intensidade, pois, passavam conduzidas por jovens operárias as bandeiras das Nações Unidas.
Outro momento de grande vibração verificou-se à passagem da banda de música do Tiro de Guerra
Rio Branco, tradicional sociedade militar de Curitiba”.
A imagem festiva que o Álbum traz em suas fotografias, legendas e textos faz
parte do ideário Estado Novista, segundo Schemes (2013, p. 337) que buscava
apresentar uma ideia de sociedade em festa, alegria coletiva, em contraposição as ações
repressivas e violentas promovidas pelo governo.
Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.13. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.
Na quarta figura, podemos ver a Rua João Pessoa em Curitiba tomada pela
massa, segundo a legenda a população ovacionava a figura de Getúlio Vargas, havia
como podemos observar na fotografia toda sorte de pessoas entre homens, mulheres e
crianças. Esta fotografia provavelmente foi produzida logo após o desfile cívico do qual
participou o Exército e também a classe trabalhadora de Curitiba, devidamente
uniformizada.
Segundo LISSOVSKY (2014) outro desafio proposto com a criação de álbuns
fotográficos era a de transformar a figura de Getúlio Vargas em “chefe” o que
conduziria melhor com a ideia de modernização do país, visto que até aquele momento
a figura do mesmo ainda estava muito ligada ao do coronel ou do caudilho, muito
comum na história do Brasil até aquele momento.
Fonte: Álbum Comemorativo da visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná em 01 de maio de 1944.
Curitiba, p.11. Tipografia Mundial Curitiba, 1944.
REFERÊNCIAS:
FAUSTO, Boris. Getúlio Vargas o poder e o sorriso. São Paulo; Companhia das
Letras,2006
JAGUARIBE, Beatriz. LISSOVSKY, Mauricio. Onde Vargas não figura, prefigura.
Pausas do destino: teoria, arte e história da fotografia. Rio de Janeiro: Mauad, 2014
KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na trama fotográfica. Cotia; Atêlie Editorial, 2
ed.2000.
LISSOVSKY, Mauricio. JAGUARIBE, Beatriz. A invenção do olhar moderno na Era
Vargas. ECO-PÓS- v.9, n.2, agosto-dezembro 2006, pp.88-109.
SCHEMES, Claudia. O controle social e as festas cívicas no Brasil de Getúlio Vargas
(1937-1945) e na Argentina de Juan Domingo Perón (1946-1955). Dimensões, vol. 30,
2013, p. 335-361. ISSN: 2179-8869.