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Previdência: as entranhas expostas do


bolsonarismo - Outras Palavras

por Antonio Martins

Depois de vitória massacrante na 4ª feira, governo e Rodrigo Maia sofrem para


concluir a votação. As torneiras fisiológicas estão escancaradas. O que isso ensina
sobre as insuficiências da oposição e as disputas decisivas do 2º semestre?

Publicado 12/07/2019 às 09:59 - Atualizado 12/07/2019 às 10:55

Por Antonio Martins

A enorme facilidade com que a coalizão governista aprovou, na quarta-feira, o


texto-base da Contrarreforma da Previdência, desfez-se desde ontem. Na votação
de destaques – propostas que, apresentadas por bancadas partidárias, alteram o
texto inicial –, as bancadas bolsonarista, do Centrão e de fundamentalistas do
mercado desorganizaram-se, dividiram-se em alguns casos e sofreram derrotas
com que não contavam. O deputado Rodrigo Maia, que havia previsto encerrar a
primeira rodada de votações ontem (11/7) e fazer o segundo turno hoje (12), agora
já não tem sequer a certeza de que a tramitação, naquela casa, se encerrará este
semestre. Dois fatores concorrem para tornar mais difícil o trabalho dos
governistas: o temor (ainda presente) de eliminar direitos; e a cobrança, pelos
deputados, das benesses inéditas (dinheiro e cargos públicos) prometidas pelo
Palácio do Planalto – a despeito do discurso sobre “nova política”.

O primeiro problema, para os defensores da Contrarreforma, é que os destaques


ao texto-base preservam direitos de setores sociais importantes – e votar contra
eles pode produzir desgaste grave. Por outro lado, o ministério da Economia,
chefiado por Paulo Guedes, vê, em qualquer alteração no projeto inicial, um
“gasto” que pode prejudicar sua noção de “ajuste fiscal”. Ontem, apenas sete
destaques foram votados, dos cerca de quinze existentes (o número é impreciso
porque algumas propostas têm sentido idêntico a outras e podem ser
consideradas vencidas).

Destes, três foram aprovados. O tempo mínimo de contribuição das mulheres,


para alcançar aposentadoria integral, caiu de 40 para 35 anos. O dos homens

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permaneceu esticado para 40, mas a aposentadoria parcial poderá ser requerida
após 15 anos de contribuição (e não 20, como pretendia o governo). Os policiais
de segurança que já estão em atividade terão regras mais brandas para se retirar
(neste caso, a votação foi esmagadora: 467 x 15 fiéis a Paulo Guedes e aos
mercados).

Hoje, entrarão em pauta o destaque do PDT, que torna menos draconianas as


regras para aposentadoria dos professores (estabelecendo idades mínimas de
55/52 anos) e diversas propostas do PT. Segundo a “Folha”, os assessores
econômicos de Bolsonaro temem que estes possam reduzir em R$ 500 bilhões a
“economia” desejada por Paulo Guedes.

Preocupado com o desenrolas das votações, o deputado Rodrigo Maia deixou


diversas vezes, ontem, a presidência dos trabalhos, para se envolver diretamente
nas negociações de bastidores. Ele marcou o início da nova sessão para hoje, às
9h. Espera-se, no entanto, que ela comece mais tarde. Maia chegou a cogitar
sessão extraordinária no sábado, mas parecia ter dúvidas sobre a capacidade de
manter a mobilização da coalizão governista.

A segunda pedra no sapato dos governistas é a necessidade de honrar a avalanche


de favores prometida aos parlamentares. A atividade tem sido frenética, nos
últimos dias. Ontem, o ministério da Economia sancionou a retirada de R$ 1,25
bilhão do programa Mais Médicos. Os recursos serão desviados para
cumprimento das emendas dos parlamentares que votaram com o governo, em
outras rubricas do ministério da Saúde. Outros R$ 649 milhões já haviam sido
desviados, com o mesmo propósito, no dia 9. O total “redirecionado”, só no
ministério da Saúde, subiu para R$ 1,9 bilhão. No mesmo período (entre 5 e
10/7), este ministério publicou 48 portarias, liberando R$ 1,6 bilhão em emendas
parlamentares

Segundo a Folha de S.Paulo, as liberações representam um tsunami fisiológico


atípico, até mesmo para os padrões da política institucional brasileira. Isso
porque as emendas liberadas não são as impositivas, que o Executivo
normalmente protela para barganhas, mas ao final é obrigado a pagar. Trata-se
de emendas não-impositivas, uma espécie de prêmio “a mais” usado para azeitar
as votações da última semana.

Uma prova de que a Câmara transformou-se de fato num cassino é a vasta


liberação, em paralelo, das emendas impositivas. Um levantamento do site
Contas Abertas, divulgado ontem, revelou que, só nos dez primeiros dias de
julho, o Executivo liberou R$ 2,67 bilhões – 50% a mais do que fizera em todo o
primeiro semestre.

Também segundo a Folha, o governo abriu uma outra torneira de favores


relacionados à tramitação “vitoriosa” da Contrarreforma da Previdência: a das
nomeações para cargos públicos. Diversos parlamentares relataram ao jornal que
mais de 300 indicações para postos de confiança (os de remuneração mais alta,
no Estado) estavam travadas – e começaram a ser liberadas exatamente nos dias
das votações no Congresso.

As derrotas deveriam ensinar. A transformação do Congresso Nacional num


cassino desmente o pilar principal do discurso bolsonarista. As ideias de “nova
política” e de combate ao establishmente, que permitem ao presidente manter
apoio importante, apesar da piora nítida das condições de vida, estão
desmentidas. Mas a esquerda institucional tem enorme dificuldade em explorar
esta brecha – em parte porque, no governo, serviu-se de expedientes
semelhantes; e porque não ousa formular um projeto de Reforma Política que

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enfrente o fisiologismo – multiplicando, por exemplo, os mecanismos de


democracia direta e participativa.

Este problema precisa ser resolvido, porque o segundo semestre será repleto de
disputas decisivas. Entre os pontos em pauta, estará a Contrarreforma Tributária.
Segundo a Folha, o ministro Paulo Guedes cogita a possibilidade de aderir à
versão mais destrutiva e concentradora de riquezas da proposta. Ela elimina cinco
tributos hoje pagas pelas empresas (Contribuição Previdenciária, IPI, PIS, Cofins,
CSLL) trocando-as por uma hiper-CPMF (um imposto sobre transações
financeiras), a ser paga por toda a sociedade. O maior entusiasta da proposta é o
secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra. Os assessores de Guedes
previam reunir-se ontem, para tentar uma definição

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de profundidade: OutrosQuinhentos

Tags

"reforma" da Previdência, crise da democracia, crise da representação, direitos


sociais, esquerda institucional, esquerdas, fisiologismo, governo bolsonaro, Nova
política, Previdência, reforma politica

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