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A revista que pensa a Educação.

ANO 8 • N º 16 • 2019

lia escola
{}

a
                         

pe sa e aca ic es
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CARTA A O L E ITO R

Onde
nascem
as chaves
do diálogo
  ouviu a expressão: “a escola é a nossa atualidade, para falar sobre a leitura e a preparação
segunda casa”? Em tempos líquidos, de hipercone- para a vida. Contamos também com a ilustre pre-
xão e respostas a um clique, as paredes entre a casa sença de Débora Garofalo, finalista do Global Tea-
e a escola desmoronaram. A escola já não é o lugar cher Prize 2019, o Oscar da Educação, para contar
para o qual as famílias mandam os filhos para apren- um pouco sobre a metodologia  e comparti-
der conhecimentos técnicos. A família já não pode lhar algumas ideias para inovar as aulas e tornar o
ser a única responsável pela formação ética e moral aprendizado mão na massa algo democrático.
do indivíduo. Esses novos papéis compartilhados, De olho na preparação das escolas para a im-
sem muros ou paredes, ainda precisam ser ajusta- plantação da Base Nacional Comum Curricular,
dos. Isso é fato. Por isso, esta edição da Educatrix convidamos o professor Nilson José Machado, da
abriu suas páginas para entender melhor as expecta- USP, para responder algumas dúvidas frequentes
tivas de ambos os lados: o que as escolas esperam das de educadores a respeito das mudanças propostas
famílias e o que as famílias esperam da escola? pela Base. Preparamos também um especial sobre
Para ajudar nessa missão, preparamos uma sé- os componentes curriculares com autores de ma-
rie especial que visa compreender essas relações teriais didáticos, sugerindo pautas para o trabalho
ao longo dos séculos, conversamos com pais das com as habilidades e as avaliações por competên-
cinco regiões do Brasil para entender as diversas cias. Para esquentar os motores, trouxemos os re-
realidades desse diálogo e levantamos algumas sultados da pesquisa realizada por Telma Vinha, da
dicas que podem ajudar pais e escolas a fomentar Unicamp, a respeito do clima escolar e do impacto
uma relação melhor com o estudo. que o contexto tem no aprendizado.
Se, antes, a ponte entre escola e famílias eram Enfim, entre famílias, professores, gestores,
as lições de casa e as famigeradas reuniões de pais, mudanças e inovações do mundo, ser escola é se
hoje, os grupos de WhatsApp mantêm ativo essa consolidar como um ecossistema de aprendizagem
conexão e trazem à tona a parceria (ou rivalida- integral, de construção e troca de conhecimentos,
de) entre esses dois atores tão importantes na for- de histórias de vidas distintas que se encontram em
mação dos alunos. Eny Muniz traz sugestões para um ambiente vivo e em constante evolução. Mas
aproveitar o tempo das reuniões com os pais e o afinal de contas, por onde começar a descobrir as
espaço dos grupos de WhatsApp de forma criativa chaves para abrir canais de diálogo estruturados?
e atrativa para criar vínculos. Boa leitura!
Nessa edição tão familiar, convidamos Ilan Bren-
man, nosso novo autor exclusivo e um dos mais Ivan Aguirra Izar
consagrados autores de literatura infantojuvenil da     

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su
► SAIBA + | TER R ITÓ R I O ED UCATI VO PÁG. 8
rio
A revista que pensa a Educação

► FIO DA MEADA | D IÁL O G O : TR ANSPO ND O O UTRO S M UNDO S PÁG. 10


► ENTREVISTA | B N C C : D E OL H O NA I M PLANTA Ç Ã O PÁG. 14
► PANORAMA | FAM ÍLIA E E SCO L A PÁG. 18
FAMÍ LIA&ESC O LA
►DOSSIÊ◄

► LINHA DE RACIOCÍNIO | O QUE A S FAM Í LIA S E SPE RAM D A E SCO LA ? PÁG. 24


► CIDADANIA | B O A S PR ÁTI CA S PAR A UM A PARCE R IA D E SUCE SSO PÁG. 32
► PENSAMENTO ACADÊMICO | M E D IA Ç Ã O NA E SCO LA PÁG. 38
► PERSPECTIVAS | C O M O TO R NAR A S RE UNI ÕE S D E PAI S M AI S PR O D UTI VA S? PÁG. 42
► GESTÃO ESCOLAR | Q U ESTÃ O D E CL I M A PÁG. 48
► PLENOS SABERES | N A L I NHA DE FRE NTE DA E DUCA Ç Ã O PÁG. 54
► CONEXÃO | TR AN S FO R M A Ç Ã O DI G ITAL D O CE NTE PÁG. 62
► TENDÊNCIAS | A H O R A E A VE Z D O STEAM NA SAL A D E A UL A PÁG. 68
► FOCO | PAR TI C I PA Ç Ã O D OS E STUDANTE S NA E SCO LA PÁG. 74
► NA TELA | ED U C O M U N I C A ÇÃ O : UM A NOVA E R A NA SALA D E A UL A PÁG. 78

► e Pe Ia
TRILHAS DA BNCC
E SEUS C OMPONENTES
CURRICULARES PÁG. 88
► POR DENTRO | VA C I N A L ITE R ÁR IA PÁG. 102
► FAVORITOS | C O N TEÚ D O S QUE POTE NCIAL I ZAM O D IA A D IA D O PR O FE SSO R PÁG. 112
► TRAJETÓRIA M AR IA M O NTE SSO RI | E A A UTO NO M IA PAR A APR E ND E R PÁG. 114

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saib a +

Território
educativo
Em Maranguape (CE), Escola Municipal
José de Moura usa o território como
oportunidade de aprendizagem.
texto Portal Porvir foto Bruno Marinho Monteiro

ecomuseu de maranguape
O equipamento cultural foi instalado em
um antigo casarão, erguido na metade
do século 19. Hoje ele tem a proposta
de preservar a história da comunidade,
dos seus moradores e da cultura local.

 8
ano 8 • n o 16 • 2019
conselho editorial
Ângelo Xavier
Ivan Aguirra Izar
a cerca de 50 km de Fortaleza (CE), o de Fátima, mãe de Gustavo, o envolvi- Luciano Monteiro
distrito de Cachoeira, na região rural de mento das famílias com a escola também Lulcey Vitor Ribeiro
Maranguape, tem uma história marcada mudou. “Sempre tem coisa para a gente Solange Petrosino
por resistência e trabalho coletivo. Para participar. Eu venho sempre que pos- coordenação editorial
Ivan Aguirra Izar
preservar a memória dos antepassados so”, diz ela.
produção de textos
que deram origem ao centro comuni- Cauê Cardoso Polla
tário, a Escola Municipal José de Moura a c o m u n id ad e tam b ém ed uc a Glauce Neves
passou a usar o território como uma ex- Não são apenas as famílias que se en- Ivan Aguirra Izar
Kátia Dutra
tensão da sala de aula. Por lá, as crian- volvem. “A comunidade também educa Lara Silbiger
ças participam de passeatas pelas ruas, e participa de forma maciça de tudo”, Paulo de Camargo
aprendem com os relatos de vizinhos e afirma o coordenador César Neto. Seja Ricardo Prado
exploram o Ecomuseu da cidade, que compartilhando saberes ou acompa- articulistas
Alynne Ferreira Nunes,
promove a educação patrimonial e o for- nhando passeios pelo território, os vi- Anna Rita Barreto,
talecimento da identidade local. zinhos são convidados a interagir com César Nunes, Débora Garofalo,
“Muita gente acha que a nossa escola os alunos. É o caso da antiga moradora Eduardo Amos, Eny Muniz,
Fabio Martins, Ilan Brenman,
é diferente, mas para quem está aqui, no Maria Aleluia de Souza, que vez ou outra Lucí Ferraz, Melhem Adas,
dia a dia, é normal. Eu diria que o mais recebe as crianças na sua casa para con- Rejane Coutinho,
importante é o envolvimento com a co- tar histórias no quintal. Rita Bröckelmann,
Roberta Bueno,
munidade”, destaca Antonia Leda de Outro espaço da comunidade que já Sérgio Adas, Taís Bueno
Assis, diretora. Apesar de estar há pouco se tornou uma extensão da sala é aula é edição de texto
tempo na gestão, ela acumula 30 anos o Ecomuseu de Maranguape. O equipa- Kátia Dutra
como professora na instituição. Entre mento cultural foi instalado em um anti- revisão final
Tassia Cobo
tantas razões, orgulha-se de conhecer go casarão, erguido na metade do século
edição de arte e design
a família de cada um dos quase 300 alu- 19. Hoje ele tem a proposta de preservar
Ricardo Davino
nos. “Para trabalhar o aluno como um a história da comunidade, dos seus mo-
pesquisa iconográfica
todo, é importante conhecer a sua famí- radores e da cultura local. Ricardo Davino
lia”, destaca. foto de capa
A relação com a comunidade acon- c u rríc u l o vivo Ricardo Davino
tece de maneiras distintas. De um lado, Na avaliação de Erlandia Pessoa, coor- colaboradores
Rosana Fernandes
a escola se aproxima do entorno na or- denadora da Secretaria de Educação de
leia nosso acervo digital:
ganização de festas tradicionais, como Maranguape, o conhecimento local é um moderna.com.br/educatrix
a Farinhada, a Festa do Feijão Verde e a dos destaques que a escola traz no seu
Cavalgada. Por outro, recebe e envolve projeto pedagógico. “Às vezes, a criança
as famílias em atividades rotineiras da conhece tantos lugares pelos livros, mas
escola. Nas turmas de Educação Infantil, não sabe o tipo de solo e clima da própria
Rua Padre Adelino, 758
todos os dias uma criança leva a “male- comunidade. Não que estudar outros es- São Paulo/SP • CEP 03303-904
ta viajante”, que contém vogais, formas tados e países não seja importante, mas
geométricas e brincadeiras o trabalho você precisa do conhecimento local. E Educatrix é uma publicação
semestral com a proposta de
em casa. Para a alfabetização, as profes- eles fazem isso muito bem aqui”. colaborar com a formação
soras também desenvolvem uma ativi- Ela ainda cita como destaque o fato nas escolas parceiras.
dade conhecida como “caixa surpresa”, de a escola trabalhar com uma concep- Distribuição gratuita na
internet e nas instituições
em que as crianças precisam pedir ajuda ção de currículo vivo, que transforma educacionais por meio da
para a família para trazer um objeto de tudo em um ambiente de aprendizagem. rede de Consultores Moderna.
acordo com a letra que está sendo tra- “Isso não deve ser uma coisa de outro issn: 2447-4991
balhada. Em sala, a turma precisa adivi- mundo, precisa ser natural. O diferen- Tiragem: 45 mil exemplares.
nhar o que está dentro do embrulho. cial da escola é fazer com que as crian- x educatrix@moderna.com.br
“Desde 2000, a forma de ensinar mu- ças participem da aprendizagem e se- © Direitos reservados.
É proibida a reprodução total
dou muito. Parece que agora meu filho jam protagonistas. Nós percebemos isso ou parcial de textos e imagens
aprende mais.” De acordo com Antônia aqui.”, comemora. sem prévia autorização.

 9
FI O D A M E AD A

Diálogo:
transpondo
outros
mundos

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Fugir do lugar-comum das, com o intuito de ganhar discussões.
Ao contrário, o essencial aqui é cons-
do que acreditamos truir e potencializar vínculos, para dar
visibilidade e estimular a compreensão
ser diálogo é o de tudo o que dificulta a percepção das
primeiro passo relações humanas.
Exercitar o diálogo não pode se res-
em busca de tringir a momentos de atrito e de reso-
lução de problemas, deve ser um traba-
uma consciência lho sistemático e contínuo, na escola e
mútua a favor da fora dela, por meio de novos canais de
comunicação que vão muito além dos
formação integral. tradicionais bilhetes na agenda dos alu-
nos e cartazes no portão da rua. Escolas
texto Ivan Aguirra que têm institucionalizados esses canais
unilaterais de conversa não estão acos-
tumadas a ouvir a voz dos pais no dia a
“   é um diálogo. dia e sabem que, quando eles batem à
Diálogo é a investigação conjunta na porta, muitas vezes o problema já está
direção de mais compreensão, conexão instaurado. Abster-se do diálogo é jogar
ou possibilidades. Qualquer comunica- a sujeira para debaixo do tapete; e nos
ção que caiba nesta definição, considero últimos tempos, esse tapete tem sido os
diálogo; se não cabe, não é diálogo”. grupos de pais no WhatsApp.
A citação acima, do ativista e autor É fundamental que as famílias te-
americano Tom Atlee, nos permite re- nham visibilidade, desde a primeira
fletir sobre como anda o diálogo com as visita para conhecer o colégio, que ali
famílias dos alunos e quão qualificado existem redes de diálogo consistentes,
ele tem sido. Em um mundo cada vez em sintonia com o projeto educativo
mais frenético e multitarefas, estamos da forma mais ampla. Isso aproxima,
nos dedicando a isso de forma preven- dá segurança, promove identificação e
tiva ou reativa? se transforma em um cartão de visita
Etimologicamente, a palavra diálogo daquele lugar. Passa pelo processo de
vem do grego dialogos (διάλογος), cujo educar-se e educar as famílias para essa
prefixo dia- significa através, enquanto nova forma de ver e agir sobre as ques-
logos significa palavra, razão, discur- tões cotidianas. Se todos compartilhar-
so. Simbolicamente, poderíamos dizer mos um projeto em comum, o compro-
que o seu objetivo seria transpor outros misso será mais consistente, e gestores
mundos em busca da razão, do conheci- e professores terão aliados para além de
mento mútuo e coletivo; é o que nos une suas dependências, minimizando o em-
como forma de fazer circular significa- bate clássico entre família e instituição.
dos e conexões. Afinal, a escola precisa ser um espa-
Dialogar exige aprendizado e não há ço dedicado a pensar de modo diferente,
melhor lugar para isso do que a escola. colaborativo, amplo e diverso. Será que
O diálogo não deve levar as pessoas a nossa fala está sendo mais usada para
defender suas posições pré-estabeleci- separar ou para unir?

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Estimule o gosto
pela leitura
em casa!
Quando pais, avós, tios, padrinhos leem em voz alta
para os pequenos e conversam sobre o conteúdo,
cria-se uma vivência que desperta na criança o
gosto pela leitura, aguça a criatividade e diversifica
sua experiência de mundo.

É por acreditar que a leitura deve ser vivenciada não


apenas na escola que desenvolvemos o programa
Leitura em Família, com orientações e dicas
escritas por pais para proporcionar momentos
prazerosos de descobertas e diálogo, além de
integrar família e escola na missão de educar.

Conheça o programa e as orientações


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DE QUALIDADE
É RESPONSABILIDADE
DE TODOS.

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AS FAMÍLIAS
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moderna.com.br/ escolar a aprofundar o diálogo
modernamigos entre a sua equipe e as famílias
e baixe o seu dos alunos, auxiliando-as a
e-book.
entender seus papéis e a construir
sentido para a trajetória de cada
estudante na Educação Básica.
ENTR E V I STA

De olho na
implantação
Frente aos desafios propostos pela Base Nacional Comum
Curricular e a iminente implantação, convidamos o
professor da , Nilson José Machado, para responder
dúvidas frequentes de educadores brasileiros.
texto Moderna

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  2019 e as escolas brasileiras já sa- escolas que estão vivendo esse momento de transição
bem que precisam direcionar esforços e olhares ao para implantar a . Convidamos Nilson José Ma-
próximo ano letivo. Instituições de ensino de todo chado, professor da Faculdade de Educação da 
o país estão em ritmo intenso, preparando-se para e um dos mais conceituados especialistas em ensi-
a implantação da Base Nacional Comum Curricular no por competências do país, para responder a esses
(), que passa a ser obrigatória para a Educação questionamentos e dar dicas sobre como otimizar as
Infantil e para o Ensino Fundamental a partir de 2020. mudanças e conquistar resultados na aprendizagem.
Com a homologação do texto da  em de-
zembro de 2017, o ano passado exigiu muito tra-
balho para se debruçar e compreender as mudan-
ças propostas pelo Ministério da Educação ()
① educatrix
e e cc e c
al a i e e
c l
a
Sim. A Base Nacional Comum Curricular é a lei
e como se organizar para colocar em prática tais educacional maior. Como se fosse a Constituição
diretrizes. Estudos coletivos, eventos, sabatinas de um país. O projeto educacional brasileiro, sus-
e muito trabalho resultaram em boas ideias, mas tentados por valores que partilhamos como nação,
também geraram muitas dúvidas sobre o que pode é, ou deveria ser, o conteúdo da . Os currícu-
ser feito e, principalmente, sobre como fazer. los são instrumentos para orientar o planejamento
Para colaborar com esse processo, a Educatrix das ações, ou seja, podem e devem apresentar ca-
convidou a equipe de assessoras pedagógicas da Mo- racterísticas ou interpretações locais dos projetos e
derna para levantar perguntas frequentes feitas por valores envolvidos na Base.

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ENTR E V I STA


c
educatrix a cc
s s i i s pa
ic la es aci ais
e s
A apresentação integrada dos conteúdos organi-
zados em vias de acesso ao conhecimento, que são
as disciplinas (agora, componentes curriculares),
Sim, a Base Nacional Comum Curricular agora é o é basicamente um currículo.
instrumento que fixa os Parâmetros. Os PCNs foram
atualizados na BNCC. Por exemplo, os PCNs falam em educatrix c c c cei a
três áreas do conhecimento, com a Matemática inse- c pe cia e a ili a e
rida da área de Ensino de Ciências da Natureza; para a (Paola Daniele Castro Saturnino, RS)
BNCC, as áreas são quatro: Linguagens, Matemática, Competência é capacidade de mobilização do que
Ciências Humanas e Ciências da Natureza, ou seja, a se sabe para a realização do que se deseja, do que se
Matemática é vista como uma área separada. projeta. Quem nada sabe é certamente incompeten-
te; quem nada busca, nada quer, nada projeta, aque-

③a educatrix
le isla
a as ai es
a s ias as esc las e ela
a al c
le a quem nada apetece é também um incompetente.
Quem sabe muitas coisas, mas não consegue mobilizar
o que sabe — eis aí um incompetente. Na escola básica,
as c pe cias as c eela a podemos resumir as competências a serem desenvol-
c c l a pa i e e as i c p a vidas em três pares: capacidade de expressão/com-
as c pe cias e ais c a esc la preensão, capacidade de análise/síntese, e capacidade
p e ei a e la a l ica c e is a de contextualização/extrapolação de contextos. Cada
e a e a a e a ic la e a par de competências está associado a formas básicas
si i ica i a s as c pe cias s de manifestação, que são as habilidades. A capacidade
p icas pe a icas (Marcia Maria de Sá Kalil, RJ) de compreensão, por exemplo, pode ser traduzida em
A dificuldade básica é como estabelecer pontes habilidades como compreender um texto, compreen-
entre os conteúdos a serem ensinados e as compe- der um gráfico, compreender a importância da água
tências a serem desenvolvidas. Não se pode deixar na preservação da vida humana etc.
de lado os conteúdos, eles são fundamentais. Mas
os conteúdos devem estar a serviço do desenvolvi- educatrix sp s ais
mento das competências. A ponte a ser construída ele a es pa a i pla a a
deve ter por base as ideias fundamentais dos con- cc a a s p ess es e e
teúdos disciplinares envolvidos. A grande dificul- s a ai ia i e a a pa a
dade é o fato de que, sobretudo no ensino médio, se ese l i e e c pe cias e
perdeu o discernimento entre o que é fundamental a al a a e essa p p s a e
e o que é complemento. As ideias fundamentais de e ca a se pla e a e e
cada disciplina são indispensáveis; as tecnicidades essa pe spec i a al a s a pi i
complementares podem ser deixadas ao gosto do s e a al c c pe cias e a
freguês. Quem aprende as ideias fundamentais sabe essi i ica a p ica ce e
ir buscar os complementos, se e quando precisar. (Mariza Alves de Carvalho, RJ)
A ideia de competência não é nova, nós é que per-


c
educatrix ais s
pass s pa a ees
c l a esc la e
s p i ei s
a
la se
demos o caminho que leva das disciplinas às com-
petências. Nossos avós tinham clara a consciência
de que nos ensinavam muitas matérias na escola,
p e pe a ic (Tatiane Santos Matos, AL/SE) mas entendiam que os alunos teriam que sair da es-
O projeto da unidade escolar é o primeiro passo. cola sabendo ler, escrever e contar. Essas eram as
A identidade resultante da inserção na comuni- competências básicas para eles. Hoje, precisamos
dade, os valores partilhados, isso se situa em pri- atualizar as demandas escolares. Antigamente, po-
meiro lugar, constituindo o projeto institucional. díamos ser só analfabetos; hoje, podemos ser po-
Naturalmente, a escola não é isolada, pertence a lianalfabetos. Analfabetos em ciências, em tecno-
uma rede com metas e valores mais abrangentes e logia, em economia etc. Precisamos aprender a ler,
deve se situar em sintonia com eles. O projeto pe- é um fato, mas ler significa algo muito mais amplo
dagógico, por sua vez, deve refletir as concepções nos dias de hoje. Nas palavras de Paulo Freire, pre-
educacionais no que tange aos conteúdos a serem cisamos aprender a ler o mundo. Reitero que a ideia
mobilizados e às metodologias a serem praticadas. de competência não é nova. É preciso digeri-la.

16

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educatrix a cc a ili a a a i i al a ai ia s p ess es
ia p ess (Joseneide Barros, PE) i ic l a e e a ic la s as p icas
A BNCC é redigida de forma verborrágica. Incluindo a c i ia i i al al e c
o Ensino Médio, o documento terá mais de 600 pági- pe sa s e es e e a (Gisele Pinho, CE)
nas. A intenção de regular todas as ações dos profes- A chamada cultura digital é importante, mas tem sido
sores pode ter passado dos limites desejáveis e a im- certamente superestimada. As tecnologias são da or-
pressão que fica é a de excessivo controle das ações dem dos meios, e os fins devem prevalecer sobre os
docentes. Os fins maiores precisam ser registrados, meios. Alguns alunos podem ter muito mais prática do
o acordo maior é em torno deles. Mas deveria haver que certos professores, que podem ser inclusive aju-
muito mais flexibilidade nos meios, nas metodolo- dados pelos alunos na utilização de tecnologias. Mas os
gias. É impossível um país com a nossa extensão ter fins educacionais, os objetivos do projeto educacional
pretensões de regulação miúda tão amplas. não dependem tanto dos equipamentos envolvidos
quanto do entusiasmo e da garra do professor.
educatrix ais s as s as
icas pa a ese l i e educatrix se al a
e pla e a e s c sis e es 11 e ca e e sea l s
e e ac c a cc e a e a e ca p issi al s
(Emmanuelle Winck de Almeida, RS/SC) ali a es e e si se assi
A impressão forte que fica é de que a BNCC optou por c c s i c c l a pa i
uma linguagem excessivamente prolixa e por um a cc pa a a e e s especi ici a es
número exagerado de competências e habilidades: essas ali a es (Joseneide Barros, PE)
mais de 1500 habilidades, mais de 100 competên- Parece-me mais simples atender a modalidades
cias, incluindo as gerais e as específicas, que não específicas, como as associadas à educação profis-
dialogam suficientemente com as gerais, tendo em sional, do que organizar adequadamente as escolas
vista os processos de avaliação, a construção de itens regulares. O mais difícil é reinstalar a distinção en-
(questões) para uma avaliação padrão TRI (Teoria da tre o fundamental e o acessório no âmbito de cada
Resposta ao Item). Poderia ser dito que o combate à uma das disciplinas.
febre foi subordinado ao uso de um bom termôme-
tro. Para o planejamento, é importante garantir um
12 educatrix e si i ica
diálogo entre as competências gerais e as competên- e ca i e al a cc
cias por área, é preciso agrupar certas competências Em primeiro lugar, é importante ter a clareza de
e certas habilidades que constituem simples reitera- que educação integral não significa educação em
ções. Enxugar e simplificar o texto da Base é condi- tempo integral. A meta de manter os alunos na
ção de possibilidade de um planejamento efetivo. escola o dia inteiro é inviável e não me parece es-
sencial. A integralidade a ser buscada refere-se à
educatrix c ica as apresentação dos conteúdos disciplinares de ma-
i e e as e i ais e si neira solidária, imbricados pelo elenco de ideias
a cc as ca ac e s icas e fundamentais de cada um deles. E certamente a
especi ici a es c l ais e e i ais educação integral refere-se à consideração dos
a c e pla as (Joseneide Barros, PE) alunos como pessoas inteiras, corpo e mente, ra-
A preocupação exagerada com as avaliações sis- zão e sentimento, transitando com discernimento
têmicas (SAEB, ENEM etc.) tem tirado o foco das entre temas escolares e não escolares, científicos e
avaliações locais, que precisam ser articuladas às religiosos, familiares ou cívicos.
macroavaliações. É nas avaliações locais que as dife-
renças regionais podem ser consideradas de modo
mais efetivo. O caráter formativo das avaliações de-
pende muito mais da eficácia das avaliações locais   
é professor da Faculdade de Educação da Universidade
do que da busca obsessiva por indicadores gerais. de São Paulo (USP). Leciona em cursos de graduação e
de pós-graduação e já orientou mais de seis dezenas de

educatrix e e as ias mestrados e/ou doutorados. Participou da equipe que criou


10 c pe cias e p ecisa
o Enem, em 1998, e coordenou a equipe que elaborou o
Currículo de Matemática do Estado de São Paulo, em 2008.

se c e pla as e s a c l a
17

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&
PANO RAM A DOSSIÊ

-
FaMILIa ESCOLa

18

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Onde nascem as chaves do diálogo:
um histórico de desafios, responsabilidades e intersecções.
texto Cauê Cardoso Polla foto Ricardo Davino

19

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PANO RAM A D O S S I Ê FAMÍLIA ESCOLA

  entre família e educação é conflituosa. Mas, historicamente, as formas fami-


Desde ao menos o período da Antiguidade Clássica, liares e as maneiras de compreender o que
a educação das crianças sempre esteve em debate. O é uma família mudaram drasticamente. É
filósofo Plutarco, em seu tratado Sobre a educação fundamental reconhecer que, como gru-
das crianças, relata uma história ilustrativa: “Aris- po, a família é o primeiro processo de so-
tipo [um professor], com muita fineza, observou cialização da criança. A aprendizagem de
em seu discurso um pai desprovido de inteligência regras e normas e a sua interiorização (ou
e de coração. Após ter sido perguntado sobre quan- não) ocorrem primeiramente e com mais
to pedia de salário, ele respondeu ‘mil dracmas’. força dentro da família. Não seria incorreto
‘Por Héracles’, respondeu, ‘o pedido é excessivo; dizer que ela tem precedência frente às vi-
posso comprar um escravo por mil’, ele disse, ‘Eis vências escolares, à exposição à mídia, en-
porque terás dois escravos, seu filho e o que puder tre outras. Valores e ideais religiosos, mo-
comprar’”. Nesse pequeno relato quase anedótico, rais, políticos e mesmo de visão de mundo
vemos duas questões que atravessaram os tempos: a e projeto de vida têm fortíssima influência
resistência de alguns em dar o devido valor ao pro- na criança. Ocorre, de certo modo, um
cesso educativo, considerando-o sempre caro de- processo de sedimentação nos quais estes
mais; e a importância dada à educação para que não elementos são apreendidos de forma irre-
sejamos meros “escravos”. O pai da história é mes- fletida, e podem ser mais tarde observados
quinho e pensa antes no quanto irá gastar e no que nos preconceitos infundidos, em determi-
poderia fazer com aquele dinheiro, deixando aberta nadas atitudes e crenças. Muitas das crises
a possibilidade de compreendermos, primeiro, que percebidas no desenvolvimento do indi-
um escravo seria mais útil e rentável, e que o estudo víduo vêm justamente de um embate en-
de seu filho não merece assim tanta atenção. tre aquilo que, individualmente, a criança
Muitos séculos depois, em nossos dias, as ques- começa a se apropriar como seu, e aquilo
tões persistem. Qual a responsabilidade da família que passa a ser reconhecido como externo,
na educação de seus filhos e filhas? Seria apenas imposto por um outro.
uma obrigação legal de matricular as crianças em Para Philippe Ariès, um dos mais reno-
idade escolar, para cumprir a norma? É o pai ou a mados historiadores franceses do século
mãe responsável pela educação, ou os dois? Teriam XX, a ideia de infância como uma época
papéis específicos? A família deve “educar” e a es- com características próprias – tal como,
cola “instruir”? Muitas outras perguntas poderiam de certo modo difuso, compreendemos
ser feitas, mas a primeira delas poderia ser: o que é hoje – só surge na Idade Moderna, isso é,
uma família? após o século XVI, e é precisamente por-
que, nesta época, também se forma ou-
c cei e a lia tra ideia fundamental: a ideia de família.
Um dicionário nos diz que a família é “um núcleo Assim, diz ele, em sua obra A história da
social de pessoas unidas por laços afetivos, que ge- criança e da família, “o conceito de famí-
ralmente compartilham o mesmo espaço e mantêm lia, que emerge nos séculos XVI e XVII, é
entre si uma relação solidária e estável”, “grupo de inseparável do conceito de infância”. Mas
pessoas vivendo sob o mesmo teto (especialmente o o que isto significa?
pai, a mãe e os filhos)”, “grupo de pessoas que têm Para se pensá-la, diversas óticas podem
uma ancestralidade comum ou que provêm de um ser adotadas. Mas, antes de tudo, é preciso
mesmo tronco” e “pessoas ligadas entre si pelo ca- compreender que não existe um concei-
samento e pela filiação ou pela adoção”. Aristóte- to único de família que estivesse certo ou
les, no século V a.C., em sua obra Política, definia a errado no sentido de uma definição abso-
família como “uma comunidade formada de acordo luta e invariável com o tempo. Seria pos-
com a natureza para satisfazer as necessidades quo- sível respondermos à questão “o que é a
tidianas”. O que há de similar nas definições do Di- família?” em todas as épocas e em todos os
cionário Houaiss e na do filósofo grego é que ambos lugares do mesmo modo? Há ainda outro
ressaltam a ideia de grupo ou comunidade, isto é, de fator relevante, a questão jurídica, isso é,
pessoas que estão agrupadas por algo em comum. como as leis dizem o que é ou não a família.

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li a e ea e s conhecidos, para que ali ela aprendesse boas ma-
Quando dizemos, hoje, que a família é um grupo neiras, princípios morais e um ofício. Esta prática
ligado por laços de afeto – como na primeira de- variava de acordo com a classe social da criança, e
finição dada pelo dicionário –, precisamos ter em apenas nas classes mais baixas não era comum.
vista que esta é uma ideia muito contemporânea. A partir do século XVIII, a predominância das
Até o século XVIII, o conceito prevalente era a de escolas e também do ensino doméstico fica atrelada
que a família tinha maior relevância por conta ao surgimento de uma família do tipo sentimental.
da linhagem, isto é, era compreendida pela con- Mães e pais não querem se separar de suas crianças,
tinuidade e ancestralidade. Cada componente, de e quando o fazem, por exemplo, ao enviá-las para
um ponto de vista singular, era irrelevante frente um internato, as visitas são frequentes. Deste mo-
ao fato de que o nome da família permaneceria por mento até hoje, a ideia de que a família é em grande
mais tempo (e não é muito comum, ainda hoje, parte responsável pela educação de suas crianças
no interior do Brasil, perguntar “de que família” ganha muita força. Nessa concepção de família-
alguém é?). Daí, por exemplo, a importância de -afetos, uma nova configuração baseada no senti-
se educar: que imagem ficará em mento ganha forma e, evidentemente, esta forma
seus descendentes? Uma passagem também traz problemas.
da Bíblia, no livro de Eclesiásti- O filósofo francês Alain problematiza na obra
A ESCOLA co, mostra claramente o vínculo Reflexões sobre educação (1932) a presença da fa-

PRECISA SER entre família-linhagem e a educa-


ção: “Aquele que educa seu filho
mília no processo educativo, dizendo que “a família
instrui mal e mesmo educa mal. A comunidade do

VALORIZADA terá nele motivo de satisfação e


entre os conhecidos dele se gloria-
sangue desenvolve em seu seio afeições inimitáveis,
mas mal regradas (...) Quando a família vive sobre

COMO rá. (...) O pai morre, é como se não


morresse porque deixa depois de si
si mesma como uma planta, sem o ar saudável dos
amigos, dos cooperadores e dos indiferentes, sur-
ESPAÇO DE alguém semelhante a ele”.
O pai que educa e instrui seu
ge nela um fanatismo sem igual”. Vários seriam os
problemas: primeiro, a falta de regras ou, antes,
COMPREENSÃO filho fará dele seu semelhante,
como se assim perpetuasse a si
regras impostas arbitrariamente e muitas vezes
mantidas pelo medo da autoridade, principalmente
DE SI MESMO mesmo. Embora não possam ser paternal – “você precisa respeitar seus pais!”, “os

E DA tomadas ao pé da letra, essas pa-


lavras demonstram uma mentali-
mais velhos sempre têm razão”. Outro problema,
por exemplo, no caso de uma educação estritamen-

DIVERSIDADE dade que persistiu durante muito


tempo: os filhos devem seguir as
te familiar e doméstica é que a criança não entra em
contato com a diferença. Dentro do seio familiar

DO MUNDO profissões que os pais acreditam


ser melhores, preferencialmente
tudo é costume, e a falta de socialização com outras
crianças é perigosa. Há ainda outro detalhe rele-
semelhantes às suas próprias, para vante, ao qual Alain nos chama atenção: se a família
manter o status social. Frequentar é o lugar da atenção e do cuidado permanente, não
os mesmos colégios e as mesmas universidades lidamos com aqueles que nos tratam de forma in-
parece algo natural. É preciso lembrar que durante diferente, e assim, muitas vezes, não sabemos lidar
a história, no Ocidente, a escola, com raras exce- com convivências em sociedade nas quais alguns
ções, mirava a educação de meninos, não de me- nos são indiferentes.
ninas. A educação feminina estaria a cargo da mãe. A discussão atualíssima sobre o ensino domici-
Se hoje pensamos a educação das crianças como liar (homeschooling) e o ensino escolar tem direta
obrigação da família, sendo a prática mais comum a relação com as questões da família. Muitos acredi-
matrícula nas escolas – ou, onde é permitido, o en- tam que, com a educação escolar, terão um con-
sino domiciliar –, a prática educativa que imperou trole maior sobre seus filhos, tanto no sentido de
durante toda a Idade Média até o século XVIII foi a controlar comportamentos quanto aquilo que será
do modelo de aprendiz. O costume que adentrou aprendido. Muitos veem a escola com um lugar de-
pelos séculos, sobrevivendo até o XIX, era enviar gradado ou onde não se aprende o que realmente
a criança, assim que completava sete anos, para a importa. Outros ainda alegam razões religiosas
casa de outra família, por vezes até mesmo de des- para ensinar em casa.

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PANO RAM A D O S S I Ê FAMÍLIA ESCOLA

De qualquer modo, é fato inegável que hoje a educacional. Por ser ao mesmo tempo
forma predominante e quase exclusiva de família um direito e um dever, a família pode
é aquela do tipo afetivo-sentimental e que a for- exigir do Estado a efetivação desse seu
ma educacional priorizada é a escolar. Contudo, há direito, por exemplo, através de deman-

HOMESCHOOLING
ainda uma esfera que determina o que é ou não uma das no Ministério Público por vagas em
família de forma estritamente legal – embora, sem creches ou escolas.
dúvida, haja um componente moral nestas normas. O que a lei diz apenas reforça o papel
Essas leis, no caso brasileiro, além de dizerem o que que se atribuiu à família na educação.
constitui uma família, também determinam os seus Historicamente, os processos foram se
deveres em relação à educação. modificando, mas a família que traz um
novo ser ao mundo é também responsá-
e ca c i ei e e e vel por esse ser. Isso permanece válido
Atualmente, o ordenamento jurídico brasileiro é para as chamadas novas famílias. Mu-
regulado pela Constituição Federal, também cha- danças socioeconômicas se intensifica-
mada de Carta Magna, isto é, não há lei que sobre- ram no século XX, e se intensificam ain-
passe a Constituição. Em 2018, foram celebrados da mais em nosso tempo. Novas formas
os 30 anos da Constituição, considerada por mui- de trabalho e novas configurações sociais
tos especialistas como uma das mais avançadas do impactam diretamente na sua consti-
mundo, embora existam problemas visíveis quanto tuição. O papel da mulher na sociedade
à efetivação plena de suas normas. vem se modificando. Embora não seja
No artigo 226, o texto constitucional define a fa- uma novidade, famílias monoparentais
mília como “base da sociedade”, assim como já o são cada vez mais comuns. Ocorre que
faziam Platão e Aristóteles alguns séculos atrás, e certo discurso tradicional em nossa so-
dispõe em seus artigos, dentre outras coisas, que ciedade a associa a uma estrutura com-
§3o Para efeito da proteção do Estado, é reco- posta de “pai”, “mãe” e “filhos” e con-
nhecida a união estável entre o homem e a sidera que famílias monoparentais são
mulher como entidade familiar, devendo a problemáticas ou disfuncionais, o que é
lei facilitar sua conversão em casamento. completamente falso. Outra forma, não
§4o Entende-se, também, como entidade fami- expressa na Carta Magna, são as formas
liar a comunidade formada por qualquer dos homoafetivas, também cada vez mais
pais e seus descendentes. comuns, e que implicam novos desafios
§5o Os direitos e deveres referentes à sociedade para se pensar a relação entre o que é
conjugal são exercidos igualmente pelo ho- família e qual seu papel na educação de
mem e pela mulher. filhos e filhas.
Esse artigo pode ser lido em conjunto com outro, A questão da legalidade do ensino do-
o de número 205: “A educação, direito de todos e miciliar foi recentemente julgada pelo
dever do Estado e da família, será promovida e in- Superior Tribunal Federal, que a consi-
centivada com a colaboração da sociedade”. Em derou ilegal, considerando ser necessá-
1988, a educação já não se restringia mais à edu- ria uma lei para regulamentar tal prática
cação de meninos. Por isso, crianças de ambos os – ela não é expressamente proibida pela
sexos devem ser educadas, de forma universal, até Constituição Federal. O atual governo
o limite da obrigatoriedade. A família, pai e mãe, tem como prioridade a regulamentação
são responsáveis por essa educação. Contudo, ain- desta prática educativa. Refletir sobre
da hoje, na prática, o discurso imperante é aquele isso é saudável, mas o país precisa, an-
que atribui à mãe a responsabilidade pela educação tes de mais nada, de investimento real
dos filhos (“a mulher tem um talento natural para o e bem feito.
cuidado” é uma frase muito comum). É fundamen-
tal dizer que a educação não é apenas um direito a a lia e a esc la
da criança, mas também um dever da família, que Se o papel da família, em suas diferen-
não pode negligenciar nenhuma etapa do processo tes formas, pode ser discutido, também

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pode ser discutida aquela afirmação popular de que
“a família educa, e a escola instrui”. Esse quase adá-
gio remete àquela família transmissora de valores,
dos bons costumes, da observância religiosa, e que
  doméstica ou domiciliar não só caberia à escola ensinar “determinados conteú-
é uma questão atual. Na Roma antiga, dos” de português, matemática, química, física...
um famoso orador que ensinava retórica tudo que sirva para instruir. A escola deveria ser um
questionou: educar em casa ou enviar à ambiente “neutro” – como isso sequer fosse possí-
escola? Diziam os apoiadores da prática vel – que expusesse os assuntos de forma objetiva.
doméstica que era mais seguro educar Assim, por exemplo, o tão atual e debatido tema da
a criança em casa, longe dos vícios das educação sexual teria que ser discutido apenas em
escolas e também que um professor casa, pois “escola não é lugar para essas coisas”. De
teria mais tempo para ensinar um único modo parecido, também as questões políticas. Ora,
aluno. O orador contestou: é melhor a esse tipo de discurso parte de um desconhecimento
companhia de amigos e mesmo inimigos ou de uma negação de que o ambiente escolar é cri-
do que as trevas da solidão e acrescenta vado de questões sexuais, políticas e morais.
que a competição amistosa entre os Muitas vezes, podemos observar pais e mães
alunos poderia ser algo bom. Hoje, no que pretendem dizer o que a escola deve ensinar,
Brasil, essa pergunta é mais atual do propondo vetos a livros, tentando censurar esse ou
que nunca. Uma onda conservadora de aquele tema. Salta aos olhos, nestas atitudes, aquela
nuance religiosa ganha força e coloca em ideia de controle familiar em toda a vida da criança
pauta o ensino domiciliar – por motivos e do adolescente. Existe uma onda atual, fruto de
similares aos adotados pelos praticantes muita irreflexão, que aponta a escola como um lu-
desta modalidade nos Estados Unidos. gar onde se doutrina e isto é desconhecer a própria
Há um controle da família muito maior realidade escolar e as finalidades da educação. Nes-
em um ambiente restrito, mas os perigos sas intromissões, muito distantes da participação
também são maiores: falta de contato na vida escolar de filhos e filhas, discutindo o que
com a diversidade, com aquilo que é estudado, pode-se entrever o antigo medo de que
é diferente, e que nos faz diferentes, os descendentes não sejam exatamente aquilo que
problemas em alguns processos pais e mães querem que eles sejam.
de socialização, entre outros. Outra A família, instância fundamental da nossa so-
questão: quem vai educar – o pai, a ciedade, muitas vezes formadora de muito do que
mãe, o irmão? Um professor – naquele somos, não é um lugar sagrado onde tudo seja per-
modelo antigo do preceptor do século feito. É preciso muito diálogo para que não haja
XVIII? Quem tem dinheiro e condições sufocamentos, a gestação de medos e intolerâncias
para isso? O fato é que a educação em que vão se repetir também na vida fora da família.
casa, se bem possa ter seus méritos, é O processo educativo que ocorre também na famí-
um grande problema em um país como lia não pode ser o único, e tem na escola um con-
o nosso. O Brasil está a anos-luz de traponto fundamental. Refletir constantemente
investimentos adequados no sistema sobre o que é a família e sua relação com a educação
público e universal de educação: em é tarefa de todos que se preocupam realmente com
2017, a Alemanha — onde o ensino um futuro melhor.
domiciliar é proibido pelo Estado —
investiu R$ 486 bilhões em educação,
enquanto o Brasil investiu R$ 84 bilhões.
  
possui graduação, mestrado e doutorado em Filosofia
pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, é professor
de Filosofia da Educação no Departamento de Filosofia
e Ciências da Educação, da Universidade de São Paulo.

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L I NHA D E R AC I O C Í N I O D O S S I Ê FAMÍLIA ESCOLA

O que as famílias
esperam
da escola?
Em meio às mudanças que delineiam novos
horizontes para a educação, famílias refletem
sobre suas expectativas quanto à influência
dos professores sobre os alunos, formação
integral, ensino de idiomas e religião, atividades
extracurriculares, infraestrutura e classificação
da escola no Enem e nos principais vestibulares.
texto Lara Silbiger foto Ricardo Davino

  às aulas teve um gostinho diferente em do (PL 7180/14). A tudo isso, soma-se a polarização
2019. A expectativa não girou em torno apenas dos nos debates públicos, o que também obriga mães e
reencontros, do planejamento das aulas ou das pri- pais a decidir de que lado ficar.
meiras reuniões com os pais e responsáveis. Dessa A tarefa, que não é das mais simples, exige que
vez, o começo do ano letivo veio acompanhado de as famílias se aproximem das escolas para entender
reformas estruturais, mudanças no cenário político o que está em jogo com as novidades na Educação
e, principalmente, intensas discussões ideológicas. Básica, ou seja, quais são os riscos e as oportuni-
Se o contexto já era complexo até para os pro- dades. Nesse movimento, reelaborar as expectati-
fissionais da Educação, quem dirá para as famílias. vas em relação aos espaços formais de ensino será
De um lado, elas assistem à reformulação dos cur- inevitável.
rículos e propostas pedagógicas de escolas e redes Nesta edição, a  percorreu todas as
de ensino de todo o país para atender as exigências regiões do país para conversar com seis famílias
da  (Base Nacional Comum Curricular). De que já mergulharam nessa reflexão. Todas elas fo-
outro, tentam se familiarizar com os conceitos de ram desafiadas a imaginar como seria a escola ideal
competência, habilidade e formação integral e ain- para seus filhos. Confira a seguir os principais tre-
da se inteirar sobre a proposta da Escola sem Parti- chos das entrevistas.

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L I NHA D E R AC I O C Í N I O D O S S I Ê FAMÍLIA ESCOLA

no r d este NATA RN
Andre Luchessi e Vivian Nogueira são docentes da Universi- ção do bem-estar e uma oferta diversificada de
dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Eles são pais de modalidades esportivas.
Yasmin, 5, que estuda no Colégio Bilíngue Marie Jost, e Erik, 3,
que frequenta a New Generation Canadian Preschool.  Qual a importância que você atribui ao
 Qual é a proposta pedagógica ideal? ensino de idiomas?
 A proposta deve prezar pela conscientização do aluno  Quero que meus filhos tenham a possibili-
enquanto sujeito social e pelo reconhecimento do outro como dade de, no futuro, escolher o que quiserem ser e,
um sujeito que também merece respeito e aceitação. Na prá- sem dúvida, o inglês abrirá portas para eles. É fun-
tica, seria abrir o leque para que as crianças tivessem con- damental que a escola valorize a globalização, reco-
tato com outras realidades econômicas, culturais, sociais, nheça que não existe só o Brasil como opção e apre-
religiosas e familiares. Isso poderia se dar, por exemplo, por sente aos alunos outras culturas, línguas e formas
meio de cotas de inclusão de estudantes de baixa renda em de viver. É com vistas a esse contexto global que es-
instituições privadas – uma iniciativa que já é realidade no pero que a escola invista no ensino de idiomas.
colégio da minha filha.
 Como deve ser a infraestrutura da escola?
 Você considera a formação integral uma premissa  O mobiliário precisa estar adequado à ida-
da educação no século XXI? de e às especificidades dos alunos. É bom que haja
 Se por um lado as crianças têm cada vez mais acesso áreas verdes para proporcionar o contato com a
à informação e a estímulos para o desenvolvimento cogni- natureza. Outro pré-requisito é a segurança – no
tivo, de outro precisam aprender a lidar com tudo isso — da interior da escola, para a prevenção de acidentes,
ansiedade e imediatismo da era touch à conexão permanen- e no exterior, para afastar a criminalidade. Quero
te dos pais ao trabalho graças aos conceitos de mobilidade e saber que posso estacionar o carro e levar ou bus-
conectividade. Por isso, já não dá para conceber uma escola car minhas crianças com tranquilidade.
que não contemple a dimensão socioemocional do desen-
volvimento. Para aprender, o aluno precisa antes estar bem  Destacar-se no ranking do Enem e dos
psicologicamente, fisicamente e socialmente. principais vestibulares do país é um pré-requisito?
 Por si só, a boa classificação não é deter-
 O projeto da Escola sem Partido vem ao encontro minante para afirmar que uma escola seja melhor
das suas expectativas? que outra. No entanto, daqui uns anos, meus filhos
 Cabe à escola formar cidadãos autônomos e com não terão como escapar de fazer o Enem ou outros
consciência política, o que não significa impor-lhes direcio- processos seletivos para ingressar na universi-
namentos políticos, morais, ideológicos ou religiosos. Nesse dade. Por isso, é inevitável que ainda usemos os
sentido, estou de acordo com o projeto de lei quando este re- rankings como parâmetro na hora de escolher —
conhece o aluno como sujeito vulnerável frente à influência mesmo sabendo que estes não dizem muito sobre
do professor. Este precisa ter consciência do seu papel e não a formação que a escola proporciona.
sair falando o que bem quiser na aula – há outros espaços
para fazer isso. Não só como pai, mas também como docente,
entendo que a liberdade de expressão deva caminhar lado a n o rd este A AD O R A
lado com a responsabilidade pelo que se diz e o que se faz. Rosângela Accioly é pedagoga e mãe de Nicole, 14,
Outro ponto com o qual concordo é a possibilidade de a famí- que estuda no Colégio Estadual de Aplicação Aní-
lia decidir sobre expor ou não o filho a determinados assun- sio Teixeira.
tos na escola ou, pelo menos, de ser informada previamente  Qual é a proposta pedagógica ideal?
de que aqueles temas serão abordados.  A proposta pedagógica deve contemplar
questões conceituais como diversidade, pluralidade,
 Quais valores você espera que a escola transmita? alteridades civilizatórias e diferença da pessoa com
 Em linhas gerais, valores que coincidam com os da deficiência, bem como conhecimentos científicos –
minha família: o respeito às diferenças, a valorização dos inclusive de povos cujos saberes milenares ficaram
estudos como meio de desenvolvimento pessoal e profissio- de fora do currículo oficial – e novas tecnologias. É
nal, a observância de regras, uma alimentação saudável fundamental que preveja como desdobrar tudo isso
com cardápios alinhados a princípios de saúde e à promo- em práticas pedagógicas para os professores.

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 Destacar-se no ranking do Enem e dos política, na sua essência, quer dizer participação – o que
principais vestibulares do país é um pré-requisito? não tem nada a ver com participação político-partidária.
 Uma escola direcionada ao Enem ou Por isso, a escola deve sempre estar disposta a contribuir
ao vestibular não tem como dar conta da pessoa com o desenvolvimento social e não pode aceitar essa mor-
humana. Antes, é preciso oferecer espaços de va- daça à sua vocação de diálogo e pluralidade. As mazelas da
zão à inventividade e à criatividade para o alu- sociedade e também as soluções precisam ser discutidas na
no entender sua própria vocação. Muito além do escola: uma instituição libertária e cuja missão é incitar o
mercado de trabalho, precisamos reconhecer a aluno a perguntar e participar da democracia.
escola como um fator de transformação social e
afetiva, envolvimento emocional e entendimento  A ideologia de gênero deve ser abordada em sala de
de diversidades e pluralidades. Só assim a educa- aula? Em quais circunstâncias?
ção será assertiva e integral.  Falar de ideologia de gênero é necessário quando o
tema surge espontaneamente. O professor não precisa ser pro-
 O projeto da Escola sem Partido vem ao positivo, mas ele e os demais profissionais precisam estar ap-
encontro das suas expectativas? tos a acolher o assunto e a turma, por exemplo, se um menino
 Ao meu ver, é uma proposta ideológi- vier para a aula com roupas tidas como femininas. A escola do
ca de silenciamento político da escola. De silen- século XXI é desafiadora justamente porque grita pela diversi-
ciamento das diversidades em um lugar que é de dade e pela diferença, algo que não deve ser visto como negati-
debate, por excelência. Vale destacar também que vo, mas como um elemento constituidor da nossa humanidade.

n o rte MA AP AP
Eunubia Rodrigues é licenciada em História e professora dos

[FIQUE POR DENTRO] anos iniciais do Fundamental na rede pública de Macapá. É


mãe de Gabriel, 16 anos, que estuda na E.E. Maria do Carmo
Viana dos Anjos.
 Qual é a proposta pedagógica ideal?

ESCOLA SEM PARTIDO  Almejo uma escola que priorize não só o conheci-
mento sistemático, como também o acolhimento à diversi-
dade e individualidade dos alunos. Espero isso em todos os
sentidos para o meu filho – da religiosidade à sexualidade –,
Sem consenso para votação, a proposta em uma escola que tenha como marca identitária o respeito
da Escola sem Partido (PL 7180/14 e ao livre arbítrio.
outros) foi arquivada no final da última
legislatura. Agora cabe aos novos  O projeto de lei da Escola sem Partido vem ao en-
deputados retomar o assunto. Entre outras contro das suas expectativas?
coisas, o projeto estabelece seis deveres  Não vejo problema de o professor manifestar seu
do professor para apresentar de “forma posicionamento se ele também respeita pontos de vista di-
justa” questões políticas, socioculturais ferentes. Isso é diferente de influenciar deliberadamente os
e econômicas e para não se aproveitar alunos ou de questionar as convicções deles. Por outro lado,
da “audiência cativa dos estudantes” em também confio que meu filho seja um ser pensante e com ca-
temas relacionados a política, religião e pacidade de discernimento.
moral. Também proíbe “o uso de técnicas
de manipulação psicológica destinadas a  Como deve ser a infraestrutura da escola?
obter a adesão dos alunos a determinada  Na minha região, os laboratórios de Ciências, bi-
causa” e estipula que não haja intromissão bliotecas e salas de leitura são ambientes ainda escassos
“no processo de amadurecimento sexual ou precários na rede pública. No entanto, a infraestrutura
dos alunos”, nem tentativa de convertê- para a pesquisa, inclusive com recursos digitais, é essen-
los no que tange a questões de gênero. cial tanto para a formação do aluno quanto para o suporte
ao professor.

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L I NHA D E R AC I O C Í N I O D O S S I Ê FAMÍLIA ESCOLA

 Destacar-se no ranking do Enem e dos principais sul U R I T I A PR


vestibulares do país é um pré-requisito? Debora Menegusso é administradora de empresa e
 Uma única prova não estabelece parâmetros da mãe de Danilo, 10, que estuda no Colégio Curiti-
qualidade da escola, nem a capacidade do aluno. Por isso, bano Adventista.
não priorizo resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimen-  Qual é a proposta pedagógica ideal?
to da Educação Básica), Olimpíadas, Enem ou vestibulares,  O ideal é um ensino mais prático e que não
mas valorizo o profissionalismo e o comprometimento da se resuma a aulas expositivas. Gostaria de uma pro-
instituição com a formação integral do meu filho. posta em que meu filho passasse menos tempo em
sala de aula, com currículo diversificado – incluindo
disciplinas “mão na massa” – e acesso mais próxi-
centro o este AMP O RANDE M mo ao professor. Definitivamente, estudar não pode
Lucimar Mello é técnica de enfermagem na rede pública de ser maçante.
Saúde. É mãe de Beatriz, 7, que estuda na Escola Municipal
Elpídio Reis, Bruno, 14, que frequenta a Escola Municipal  Destacar-se no ranking do Enem e dos
Danda Nunes, e Lucas, 19, já na faculdade. principais vestibulares do país é um pré-requisito?
 Qual é a proposta pedagógica da escola ideal?  Não adianta focar só no vestibular, sendo
 Em primeiro lugar, deve contemplar a formação que a vida é muito mais complexa que isso. Escolas
em tempo integral para proporcionar aos alunos atividades que se apoiam em disciplina rígida e preparação
que os tornem excelentes profissionais no futuro: aulas de estrita para provas de ingresso em universidades
informática, inglês e xadrez. Ocupar o dia de forma produ- acabam sendo inevitavelmente limitadoras. Até
tiva enquanto os pais trabalham. Na prática, a maioria não mesmo porque há profissões e vestibulares que
tem tempo de ficar com os filhos e “male-male” acompanha sequer existirão daqui a alguns anos. Mais impor-
a lição de casa. Outro aspecto fundamental que a proposta tante é proporcionar ao aluno o aprendizado de
pedagógica deveria prever é a capacitação dos professores, como chegar aonde se deseja.
bem como a equiparação da qualidade de ensino e direitos de
aprendizagem nas escolas públicas em relação às privadas.
No ano passado, enquanto minha filha ainda estava apren-
dendo a ler na escola municipal, os alunos do 2o ano de insti-
tuições privadas já faziam até interpretação de texto.
[FIQUE POR DENTRO]
 Que valores você deseja que a escola transmita?
 A formação de valores não é exclusiva da escola,
mas não tem como negar que desempenhe papel importante
nesse sentido. Por isso, espero que transmita valores cris-
tãos, promova a empatia e valorize o respeito aos idosos,
pais e professores. Gostaria inclusive que voltasse o ensino
FORMAÇÃO INTEGRAL
religioso, sem necessariamente pender para uma denomi-
nação ou outra, mas discutir o que é certo perante a Bíblia. É Formação integral não é sinônimo de educação
claro que os pais que não concordassem com tal abordagem em tempo integral. Enquanto esta consiste
precisariam ter o direito de autorizar seus filhos a não parti- na expansão do tempo que se passa na
cipar das aulas de Ensino Religioso. escola, aquela diz respeito à formação e ao
desenvolvimento global dos alunos. De acordo com
 O projeto da Escola sem Partido vem ao encontro a BNCC, a formação integral tem como princípio
das suas expectativas? norteador o acolhimento, o reconhecimento
 Entre outras coisas, concordo que a escola não e o desenvolvimento pleno do aluno, nas suas
deve incentivar relacionamentos homoafetivos e atividades singularidades e diversidades. Para isso, contempla
sexuais precoces. Defendo inclusive que não haja aulas de o aprendizado em suas dimensões cognitiva, social,
educação sexual até o 5o ano do Fundamental. Já no Ensino emocional e física. A Base sugere ainda que se
Médio, o foco deve ser a prevenção de gravidez e doenças promovam pontes entre o conhecimento e a vida.
sexualmente transmissíveis.

28
 Que valores você deseja que a escola sud este O PAU O P
transmita? Cristina Hassunuma é dentista e mãe de Augusto, 11 anos, que
 Basicamente, os valores éticos, morais e estuda no Colégio Vértice.
religiosos que minha família já traz de geração em  Qual é a proposta pedagógica ideal?
geração. Cabe, portanto, à escola apenas reforçá-  Deve prever conteúdos curriculares e extracurri-
-los junto às crianças. culares e estimular o desenvolvimento da responsabilidade
e autonomia nos estudos, sem nunca perder de vista os vín-
 As atividades extracurriculares são im- culos sociais. Almejo também uma escola que atente para a
prescindíveis? educação integral, com acompanhamento individualizado
 Elas não podem faltar, entre outras coi- da aprendizagem do aluno enquanto cidadão. Destaco ain-
sas, porque ajudam a desenvolver habilidades e da a necessidade de promover a formação continuada dos
autoconhecimento. Vale investir, por exemplo, em professores, sua inclusão na cultura digital e o uso de novas
cursos de informática, matemática, profissionali- tecnologias para avaliação institucional e educacional.
zantes, idiomas e esportes.
 Destacar-se no ranking do Enem e dos principais
 O projeto da Escola sem Partido vem ao vestibulares do país é um pré-requisito?
encontro das suas expectativas?  Figurar entre os primeiros lugares do Enem é sempre
 Não acho que seja de todo ruim o professor favorável aos olhos das famílias. Isso porque o resultado ten-
manifestar seu posicionamento em sala de aula, de a ser consequência de um bom ensino e de métodos de ava-
pois ainda assim caberá somente ao aluno tomar a liação adequados. Ainda assim, vale ponderar que a função
sua própria direção. Vale lembrar também que este da escola não pode se restringir a fazer o aluno passar no ves-
já chega à escola com certa carga de informações tibular. Antes de mais nada, é preciso prepará-lo para a vida
— da família, dos amigos, da religião etc. —, à qual em sociedade, o que vai muito além dos muros da instituição.
o docente poderá somente somar pontos de vista.
 O projeto da Escola sem Partido vem ao encontro
das suas expectativas?
 Sou a favor do projeto porque vai além da Educação.
Tem a ver com democracia e direito à liberdade de expressão
e pensamento. Por isso, os professores devem agir com ética
e bom senso no exercício da profissão – sem qualquer viés de

COMPETÊNCIAS
doutrinação –, de forma que os alunos aprendam a pensar
de forma autônoma e crítica.

E HABILIDADES  As atividades extracurriculares são imprescindíveis?


 Elas são um diferencial para a formação porque têm
o potencial de despertar habilidades, talentos e criatividade, o
que tende a melhorar não só desempenho em sala de aula como
De acordo com a BNCC, as competências a socialização da criança. O ideal seria que todas as escolas
consistem na “mobilização de conhecimentos, oferecessem oficinas de artes e informática, curso de língua
habilidades, atitudes e valores para resolver estrangeira, esportes diversos, culinária e feiras culturais.
demandas complexas da vida cotidiana, do
pleno exercício da cidadania e do mundo de  Como deve ser a infraestrutura da escola?
trabalho”. Já as habilidades estão ligadas às  Não restam dúvidas de que uma infraestrutura físi-
aprendizagens essenciais de cada disciplina e ca adequada com biblioteca, laboratório de ciências, auditó-
ano escolar. Sempre começam com um verbo rio e quadras de esportes contribui para a aprendizagem. Do
para explicitar o processo cognitivo envolvido ponto de vista tecnológico, a escola também precisa oferecer
no seu desenvolvimento – por exemplo, em dispositivos para leitura de livros digitais e acesso a jogos
História, “diferenciar escravidão, servidão e educativos, simulados e plantão on-line para tirar dúvidas de
trabalho livre no mundo antigo”. casa. O objetivo é potencializar a pesquisa e a interação com
grupos de estudo que transcendem os limites da escola.

29
Atitudes
PARA A VIDA
O desenvolvimento progressivo
das competências socioemocionais

Assim como consta nas exigências da BNCC,


o programa Atitudes para a vida propõe
o desenvolvimento gradual das competências cognitivas
e socioemocionais, de forma integrada aos conteúdos
das nossas coleções didáticas, contribuindo para o
cultivo de relações pessoais ainda mais significativas.

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Boas práticas
para uma
parceria
de sucesso
Dicas para ajudar a florescer uma relação
sólida com pais e responsáveis, com
foco na formação integral dos alunos.
texto Taís Bento e Roberta Bento foto Ricardo Davino

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   a relação da família com escola se crianças ao seu desenvolvimento pleno.
torna essencial para que os alunos consigam aliar Quando nós, os adultos de hoje,
o prazer pelo aprendizado às habilidades que são éramos crianças, tínhamos uma roti-
fundamentais para uma formação integral. Hoje, os na muito diferente daquela que nossos
alunos de todas as faixas etárias têm uma relação ne- filhos têm hoje. Os momentos em fa-
gativa com os estudos. Ao mesmo tempo que os pais mília ajudavam para que as habilidades
e responsáveis reconhecem a importância do apren- básicas necessárias para uma boa rela-
dizado formal e veem a escola como fundamental ção com os estudos fossem desenvol-
para o desenvolvimento pleno de seus filhos, eles vidas em casa. Enquanto esperávamos
depositam exclusivamente na instituição a cobran- a semana toda pelo nosso programa
ça para que os alunos se envolvam com os estudos. predileto e negociávamos o canal de TV
Quando os pais se veem em situação de estresse, que todos assistiriam juntos, desenvol-
seja na hora da lição de casa, no momento em que víamos habilidades como paciência,
recebem o boletim com notas baixas ou quando en- empatia e persistência. Desde muito
frentam problemas de comportamento, geralmente, pequenos, aprendíamos a dividir com
procuram o culpado na escola: a metodologia aplica- outros irmãos a atenção de nossos pais.
da, o material didático, a coordenação, o professor Compartilhar brinquedos, guloseimas
e, até mesmo, os colegas de sala. No desespero, co- e espaço na mesa era um pressuposto
bram mudanças por parte da escola ou acabam por que fazia parte da vida de uma criança
matricular o filho em outro colégio. Frustração ge- ou adolescente. Esses momentos su-
neralizada quando os problemas voltam a se repetir, miram da rotina familiar. Ao mesmo
em intensidade cada vez maior, quanto mais o aluno tempo que diminuíram em tamanho,
cresce ou avança nas etapas de ensino. Tanto a escola as famílias têm menos tempo com-
quanto as famílias acabam reféns de um círculo vi- partilhado para conversas e ativida-
cioso em que cada qual espera do outro soluções para des. Somada a todas essas mudanças,
questões cujas respostas estão na ação conjunta. vieram a correria do dia a dia e a ne-
cessidade desvairada de fazer diversas
e e ai p e atividades simultaneamente: conver-
pa a e l e al sar ao telefone enquanto assiste à tele-
p c e ss e ap e i a e visão, pagar contas on-line enquanto
a lia esc la cozinha ou resolver questões de traba-
Imagine que a mudança de postura para que os alu- lho enquanto dirige. Há uma premissa
nos possam gostar de aprender e ter melhor desem- básica aqui: crianças aprendem pelo
penho nos estudos seja uma porta. A família tem a exemplo, ou seja, seguem os passos
fechadura e a escola possui a chave. Quem abre a dos pais. Nessa dinâmica em que tudo
porta é o aluno, mas somente se e quando fecha- acontece ao mesmo tempo, restrin-
dura e chave estiverem disponíveis. Ao ajustar a gem-se as oportunidades para desen-
rotina da família para que, desde o nascimento, os volver habilidades fundamentais para
filhos desenvolvam habilidades como paciência, os momentos de estudo como senso
capacidade de lidar com frustrações e autoestima, de responsabilidade e a capacidade de
os pais cumprem seu papel de preparar a criança foco e concentração. Assim, é urgente
para o processo de aprendizagem formal. Ao man- que tais oportunidades sejam inseridas
ter formação continuada como parte da rotina da na rotina das famílias para que os filhos
escola, gestores garantem que os professores terão possam desenvolver em casa as compe-
as ferramentas para ajudar cada aluno a encontrar tências que servirão de base para novos
caminhos para desenvolver todo seu potencial. Nem conhecimentos, habilidades e atitudes
família e nem escola conseguem sozinhas levar as que então a escola ajudará a aprimorar.

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A escola, por outro lado, enfren- Para cada competência existe um composto que
ta enormes desafios para conseguir envolve conhecimentos, habilidades e atitudes de
envolver o aluno que chega sem esses uma pessoa. Não é pequeno o desafio da escola para
estímulos. A saída está na união de garantir que seus alunos desenvolvam as dez compe-
forças. Cabe à família ajustar a rotina tências gerais propostas pela . Os resultados
para que os filhos aprendam em casa positivos, tanto no envolvimento do aluno como na
a focar em uma atividade de cada vez. sua formação integral, dependem cada vez mais da
Assim, ao chegar à escola, as crianças integração entre família e a escola. Isso vale não so-
estarão completamente presentes, com mente para o desenvolvimento das competências
toda atenção disponível. À escola, cabe propostas pela , mas também para outras que
ajudar os pais a compreender a impor- são alicerce sobre o qual as novas competências fin-
tância do estímulo dessas habilidades carão raízes para florescer em momentos diferentes
dentro do contexto familiar e indicar para cada aluno. Muitos processos que, até então,
quais rotinas favorecem tal desenvol- eram assumidos pela escola terão o envolvimento da
vimento. Além disso, a formação con- família para o sucesso do aluno. Avaliação é um
tinuada de professores é primordial. exemplo. Se a competência pressupõe também habi-
O docente precisa ser capaz de ajustar lidades e atitudes, é necessário avaliar o aluno em
cada momento da aula de forma que diferentes situações e momentos de sua vida. Só as-
alunos diferentes, com níveis diversos sim é possível compreender em que ponto ele está e
de habilidades e interesses sejam en- quais são as necessidades a serem trabalhadas. O
volvidos. As ferramentas, estratégias comportamento perante sua família e sociedade de-
e respostas que podem ajudar nesse vem compor seu processo de avaliação. Por esse mo-
desafio são frutos de pesquisas muito tivo, é tão importante comunicar às famílias sobre as
recentes. Sem atualização constante, mudanças, seus benefícios e sobre como os pais são
o trabalho do professor torna-se uma capazes de colaborar para o sucesso da , benefi-
missão impossível! ciando o aluno, a escola, a família e toda a sociedade.

a l ia e esc la as ais c p a e s
i c ca i pa a a a lia e e e i a
ese l i e Algumas atitudes dos pais e responsáveis podem
a s c pe cias prejudicar a relação que o filho tem com os estu-
p p s a s pela cc dos. Em geral, as famílias não se dão conta da pos-
Há inúmeros pontos a serem discutidos tura e das mensagens que estão passando. Alertar
sobre a Base Nacional Comum Curricu- para esses pontos pode ser o suficiente para que a
lar. Sem dúvida, existem aspectos polê- parceria com a escola tenha sucesso ao longo de
micos e outros que poderiam – e espera- todo o ano letivo. Listamos abaixo algumas prá-
mos que sejam – melhorados. Não seria ticas que temos visto em escolas e que podem ser
justo, contudo, deixar de falar sobre um trabalhadas para melhorar a relação das crianças e
dos maiores benefícios que essa nova adolescentes com os estudos:
proposta traz para a educação de nosso
país: o foco nas competências. Este é o ① Querer que a escola se adapte à rotina que a
família tem em casa.
caminho para levar a educação formal a
se aproximar cada vez mais das necessi-
dades dos alunos e da sociedade moder-
② Tentar determinar as dificuldades que o alu-
no vai ter e se antecipar ao esforço do filho
para que consiga mudar padrões estabelecidos.
na. Sai do holofote o conteúdo, entram
as competências com foco no desenvol-
vimento humano integral dos alunos.
③ Justificar falta de envolvimento com proble-
mas já resolvidos ou com limites que coloca-
dos pelo próprio bem do aluno. Exemplo: “ele não

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gosta de vir para a escola porque a professora do ano sua família não confia na escola, passa a
passado ficou brava quando ele bateu no colega.” agir de forma a colocar professores e pais

④ Fazer comentários negativos sobre o professor,


escola ou colegas de classe na frente do filho.
Resolver questões simples que a própria crian-
em campos opostos, além de, incons-
cientemente, replicar a postura negativa
na sua relação com os estudos.
ça poderia abordar com professores ou colegas. Participar ativamente da vida
Cobrar da escola vigilância sobre comporta- escolar e estabelecer parceria
mentos que são responsabilidades do aluno com coordenação e professores. As fa-
e dos pais. Exemplo: Pedir para a professora que não mílias precisam confiar no trabalho da
deixe o filho comprar determinado lanche na cantina. escola para que possam se aproximar do
Pedir que a escola mude regras ou calendá- dia a dia que seus filhos têm na escola. É
rio de atividades para não frustrar o filho. preciso que a escola seja clara e assuma
Exemplo: mudar a data da festa junina porque o fi- o compromisso com os conteúdos e a
lho tem outro compromisso. qualidade das aulas. Muitos pais sentem
medo por não dominarem os conteúdos
c a s a l ia s que os filhos estão aprendendo, mas
p e a a precisam estimular a responsabilidade
a al a esc la que os alunos devem assumir em rela-

① Aproximar alunos que geralmente não se


relacionam bem dentro de sala de aula. Está
comprovado por estudos recentes da Neurociên-
ção ao seu processo de aprendizagem.
Trabalhando juntos ao longo de todo
o ano, professor, coordenação e pais
cia Cognitiva que o relacionamento com os colegas olham na mesma direção: a formação
de classe tem altíssimo impacto na aprendizagem. integral do aluno/filho.
Encontrar colegas fora do contexto escolar, em
situações organizadas pelas famílias, nos finais de i cl s e e ci
semana ou fora do horário da aula, ajuda na cria- pa a al s
ção de laços de amizade, tornando o ambiente da a lias e esc las
sala de aula e da escola altamente favorável para o Quando a escola assume de fato seu
aprendizado. papel no processo de inclusão, a mu-

② Inserir a leitura e a escrita na rotina da fa-


mília. Praticar a escrita em momentos de la-
zer e diversão em família é fundamental na fase de
dança para melhor acontece em todos
os aspectos e atinge todos os alunos,
professores e famílias. Adaptar uma
alfabetização. Mais que isso, incluir leitura e escrita aula ou um conteúdo para alunos com
no dia a dia da rotina doméstica é o único caminho diferentes necessidades é uma arte que
para que os alunos possam desenvolver todo seu se aprende. É uma habilidade que se
potencial ao longo da vida acadêmica. Somente a desenvolve e na qual a pessoa se torna
escola não consegue ajudar o aluno a criar o hábito expert quanto mais a pratica. A luz vem
e o gosto pela leitura. A criança aprende pelo exem- quando a visão sobre o processo já foi
plo, não se esqueça disso! ampliada o suficiente para que escola e

③ Estabelecer uma rotina familiar equilibrada.


A rotina dentro de casa afeta o desempenho
escolar. A família deve garantir três elementos crí-
famílias entendam que todos os alunos
têm necessidades especiais.
Pais e escolas que valorizam a diver-
ticos no dia a dia para o sucesso na aprendizagem sidade conseguem beneficiar o cresci-
formal: atividade física, noites completas de sono e mento cognitivo e emocional de seus
revisão diária dos conteúdos estudados na escola. filhos/alunos. “Pais de filhos com algu-

④ Ter uma postura positiva em relação aos es-


tudos e à escola. Quando o aluno sente que
ma necessidade especial?” Não, pais de
filhos e ponto final. Há escolas que fazem

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GRUPOS DE PAIS NO WHATSAPP
um trabalho sério, lindo de se ver e que,
pasmem, acabaram por descobrir que os
grandes beneficiados são os alunos que,
   entre pais de alunos de todas as a princípio, não precisariam de adapta-
idades é formar o Grupo de Pais da Turma no WhatsApp. ção do material ou plano de aula. Essas
Conforme a ideia foi se transformando em “febre”, per- escolas não descansam jamais. Seguem
deu-se também a mão em relação ao que pode ou deve na busca por caminhos para cumprir seu
ser discutido ou compartilhado. Rapidamente, esses papel de ensinar, educar e, principal-
grupos no WhatsApp se transformaram em geradores mente, transformar. Um ponto comum
de conflito na relação entre pais de uma mesma turma entre elas: não fazem o trabalho sem a
e na relação das famílias com a escola. Com algumas participação dos pais, das famílias. “Das
boas práticas de convivência, é possível aproveitar esse famílias de filhos de inclusão?” Não, das
recurso para o bem geral da nação escolar e manter o famílias! Não importa quem seja o filho,
foco nos benefícios que a tecnologia trouxe para a inte- ele será beneficiado se a escola estiver
ração entre os pais: fazendo um bom trabalho e se responsá-

① O grupo não é um tribunal e os pais e respon-


sáveis não são advogados dos filhos. Na ânsia
de proteger a criança, as famílias aproveitam o grupo
veis e educadores, estiverem plenamen-
te envolvidos.

para falar sobre questões que os próprios filhos po- a lia e esc la
deriam resolver na escola. E assim, contratempos que c s
fazem parte da convivência escolar se transformam es s i s
em enormes tempestades. A escola, muitas vezes, Em um momento em que o mundo está
acaba sendo cobrada quando o assunto já virou bri- tão desafiador e com tantas mudanças,
ga envolvendo famílias que deveriam dar aos filhos o nem família e nem escola precisam ter
exemplo de relações sociais saudáveis. todas as respostas e dar conta de tudo

② A escola não é um condomínio. Ouvimos com


frequência reclamações das famílias sobre como
assuntos que deveriam ser privados acabam se tornan-
sozinhas. Para ajudar as escolas no pa-
pel de educar também as famílias para
que juntos possam vencer o desafio de
do públicos. O grupo é usado para confirmar suspeitas educar nossas crianças e adolescentes
sobre o comportamento de outras crianças, reclama- para o futuro totalmente desconhecido
ções sobre a tarefa ou sobre o professor. A escola é que terão, o SOS Educação traz diaria-
acionada depois que um contratempo já se transfor- mente dicas práticas em suas redes so-
mou em um enorme problema e os pais já começam a ciais, palestras e formações.
conversa com a escola, afirmando que há vários outros
pais que podem testemunhar seja lá qual for o assunto.
Afinal, quem precisa de testemunha quando está dis-
posto a conversar sobre um assunto importante?
    

③ Esteja presente. Sair do grupo ou se recusar a


participar não é a melhor opção. Estar presente,
ainda que virtualmente, em um ambiente onde se pode
Taís e Roberta Bento são mãe e filha, fundadoras
do SOS Educação, site de educação do portal
Estadão e responsáveis pela coluna Escola
da revista Pais&Filhos. São palestrantes de
conversar com outros pais que vivem dilemas muito grandes eventos de educação e viajam pelo país
parecidos com os seus pode ajudar muito no dia a dia. fazendo palestras para pais e formação para
professores com o objetivo de estreitar a relação
Além disso, está comprovado que as relações sociais entre família e escola. São também autoras
impactam diretamente a capacidade de aprendizagem do livro “Socorro, meu filho não estuda!”
do aluno. Que tal usar o WhatsApp para marcar encon-   
tros divertidos entre famílias que têm tanto em comum? h SOS Educação www.soseducacao.com.br.

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Mediação
na escola
Como estimular a resolução
de conflitos e os valores
democráticos para formar
indivíduos mais tolerantes.
texto Alynne Nayara Ferreira Nunes

  faz a conexão com o futuro da socie- locar no lugar do outro — e a valorização da di-
dade. Na formação das crianças e adolescentes, a versidade inerente em cada ser humano estão na
escola, ao prestar o direito à educação, deve dis- raiz da relevância do diálogo. A interação com o
seminar valores democráticos para que os alunos outro permite espaço ao contraditório, ao inter-
de hoje possam auxiliar na construção de um país câmbio de ideias, além de propiciar a resolução de
mais justo, mais tolerante e menos preconcei- problemas. O repertório cultural e intelectual que
tuoso. No entanto, é preciso ter em mente que a a escola objetiva transmitir a seus alunos, nesse
escola também é local de reprodução dos valores sentido, os auxilia na elaboração de fundamentos
de nossa sociedade; seus preconceitos e conflitos mais sofisticados, priorizando o debate de ideias e
são reproduzidos pela comunidade escolar. O pa- valorizando a argumentação racional.
pel da escola em conexão com o futuro consiste O contrário ao diálogo consiste na arbitrarieda-
exatamente em identificar práticas sociais ultra- de, na “justiça pelas próprias mãos”, em que vale
passadas e estimular valores ligados à democra- a regra do mais forte — seja física, política ou eco-
cia, como a manifestação do livre pensamento, a nomicamente. O medo e a introspecção passam a
crítica qualificada e a valorização da diversidade. ser a tônica, impedindo que a comunidade escolar
Conectar-se com o futuro significa ter consciência exponha seus conflitos e contradições, em vez de
de práticas do presente que precisam ser deixa- buscar solução dialogada e paritária. Essa relação
das para trás e trazer aos alunos a importância de autoritária de poder torna o ambiente escolar su-
desenvolver novas atitudes, novas perspectivas e jeito a constantes vigilâncias, contrárias ao propó-
novas relações sociais baseadas no respeito à dife- sito de libertação, de formação crítica e de respei-
rença e na cultura de paz. to às individualidades de cada aluno, além de ser
Alteridade ou empatia — a capacidade de se co- incapaz de resolver, de fato, seus conflitos.

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eu
eu

N ós!

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Sob essa dinâmica, crianças e adolescentes, indi- diação. Há o desenvolvimento de uma habilidade
víduos em formação, tornam-se vulneráveis a fake importante para a formação, que é a percepção da
news e ideais extremistas, divulgados maciçamen- responsabilidade de suas ações nas relações sociais
te pelas redes sociais, cuja velocidade das informa- e de conectar-se com o outro, abrindo-se para a
ções inviabiliza o tempo necessário para reflexão e diferença e solidariedade. Os alunos que praticam
crítica. Por essa razão, submetê-los a um processo a mediação se tornam menos violentos e mais re-
de resolução de conflitos, que usa o diálogo como flexivos, o que colabora para aumentar o desem-
base, é torná-los aptos ao crivo do contraditório, penho da classe. Práticas de violência reiterada,
ao debate e à defesa de suas opiniões de forma mais como o bullying, tendem a reduzir gradualmente a
consistente e racional. É prepará-los para os de- partir do engajamento na mediação. Ao adotar esta
safios de uma sociedade cada vez mais complexa, técnica, a instituição de ensino se adequa à legisla-
na qual a escola se apresenta como o antídoto, pois ção que determina a adoção de medidas preventi-
combate a ignorância e a alienação. vas e repressivas contra o bullying (Lei no 13.185/15
Ao olhar para o presente, pergunto: como lida- e Lei no 13.663/18).
mos com os conflitos em nossa sociedade? A escola A mediação, assim, se apresenta como um mé-
tem sido capaz de projetar o futuro e aperfeiçoar todo vantajoso na resolução dos conflitos por-
as relações sociais? A escola tem obtido sucesso que pode envolver toda a comunidade escolar no
em formar indivíduos conscientes de seu papel na processo decisório. Isto é, não é preciso recor-
complexa sociedade em que vivemos, no sentido de rer a terceiros ou deixar a tarefa de resolução de
estimular práticas democráticas, capazes de resol- conflitos apenas para a direção, sobrecarregando
ver conflitos pacificamente? Estas são questões em ainda mais aqueles encarregados da gestão edu-
aberto que devem estar no radar do gestor educa- cacional. A mediação, nesse sentido, se conecta
cional. Isso porque os conflitos também ocorrem, com um dos pilares da educação, o de pugnar pela
naturalmente, dentro do ambiente escolar, e a for- formação humana dos alunos, desenvolver habili-
ma como são apresentados na escola reflete na for- dades necessárias à resolução de conflitos, além de
mação dos alunos e da nossa sociedade. demonstrar que a escola é capaz de resolver suas
A mediação emerge, por isso, como um dos pa- próprias questões de maneira autônoma e metó-
cíficos meios de resolução de problemas, capaz de dica. A mediação ainda contribui para a redução
capacitar os envolvidos, pois requer que as partes da violência escolar que muitas vezes extravasa o
exponham suas versões e proponham soluções ambiente educacional.
com autonomia. Se adequadamente conduzida,
pode chegar a resultados satisfatórios. É relevante c ese l e a
conhecer os sentimentos, as emoções que resulta- e ia ec li s
ram no conflito: agressividade, raiva, frustração, Inicialmente, é preciso deixar de lado os julga-
descontentamento, problemas familiares. A me- mentos prévios, como criticar, culpar, concordar,
diação, embora pareça utópica para muitos, requer discordar, tomar um lado, ridicularizar ou dimi-
prática; ou seja, quanto mais esse método estiver nuir o argumento de uma das partes e fazer amea-
inserido nas práticas da instituição de ensino, mais ças. O mediador – que pode ser um adulto ou mes-
será perseguido e mais os alunos tirarão proveito mo os jovens alunos – deve manter postura neutra
do aprendizado provocado pelo conflito e pela me- e se esforçar para entender as motivações emocio-

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a sc a a ta s c s a a
a a s c t s st a s
RE PEITO O ta a ON ER A
DI O O a PA I I A O O IA .

nais e racionais que conduziram ao conflito. O ser levada em consideração. Alunos conscientes
poder de decisão cabe às partes envolvidas; e, de seus direitos e deveres, que aprendem a ser
ao mediador, cabe a escuta ativa e a formula- responsáveis e a olhar o outro com humanidade,
ção de questionamentos que auxiliem as par- buscando entender seus argumentos e comporta-
tes a resolverem o conflito. O mediador ocupa mentos, serão menos propensos à violência e mais
posição que requer humildade para reconhecer dedicados aos estudos. Uma classe que se capaci-
o direito do outro de falar e expor sua versão, ta na mediação contribui para evitar a prática do
sem se sentir constrangido. Cabe a ele garantir bullying. Por essa razão, uma escola que adota
o tempo de cada um para se explicar e apre- os princípios da mediação para resolver conflitos
sentar suas colocações. A linguagem corporal está formando indivíduos respeitosos, que opta-
também contribui para a adequada condução rão pela conversa, pelo diálogo, pela pacificação
da mediação: olhar nos olhos do interlocutor, social. A escola do futuro é aquela que compreen-
braços relaxados e pernas descruzadas são si- de, internaliza e aplica os valores democráticos em
nais não verbais que indicam que as partes po- seu âmbito. Serão esses os indivíduos com maior
dem conversar livremente e que seus pontos de resiliência para enfrentar pacificamente os confli-
vista serão ouvidos. tos de nossa complexa sociedade.
O campo da mediação é vasto e há diversas A escola que adotar técnicas de mediação para
dinâmicas a serem adotadas. Geralmente, as resolver conflitos e repensar as atitudes violentas
mediações possuem o seguinte formato: da comunidade escolar estará contribuindo para

① Pré-mediação: as partes concordam


com a mediação e o mediador as ouve
separadamente;
a formação de uma sociedade mais democrática
e inclusiva, além de impulsionar a qualidade da
educação. Trata-se da escola que estará na van-

② Mediação: o mediador estimula o diá-


logo entre as partes, se mantém neutro
(seu único interesse deve ser na resolução do
guarda para o futuro.

conflito de forma pacífica) e intervém quando


houver ofensas e/ou quando as partes falam ao
   
mesmo tempo. é advogada e fundadora do Ferreira Nunes Advocacia,


escritório especializado em Direito Educacional. Mestre
Sugestão de soluções: após as partes ex-
em Direito e Desenvolvimento pela FGV Direito SP.
porem seus sentimentos, opiniões e ar- Contato: alynne@ferreiranunesadvocacia.com.br.
gumentos, o mediador questiona como podem
oferecer sugestões para resolver o conflito, aju-   
h CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
dando-os a se colocarem no lugar do outro. Diálogos e mediação de conflitos nas escolas - Guia

④ Conciliação e resolução: uma vez pro- prático para educadores. Brasília, 2014. Disponível
em: goo.gl/rsw74z. Acesso em: 31 jan. 2019.
posta, a mediação intervém para que as
h CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Mediação de conflitos
partes entrem em acordo sobre os termos da re- nas escolas em busca da pacificação social. 25 jul. 2017.
solução do conflito. É essencial que as partes con- Disponível em: goo.gl/1PczHW. Acesso em: 31 jan. 2019.
h VIVALDI, Flávia. Alunos como mediadores de conflitos
cordem em relação aos termos da conciliação. na escola. Gestão Escolar, 9 out. 2015. Disponível
Ao tratar da qualidade da educação, a pa- em: goo.gl/P82Fz3. Acesso em: 31 jan. 2019.

cificação dos conflitos escolares também deve

41

Educatrix16_pag38-41_PensaAcadêmico.indd 41 4/1/19 2:55 PM


PE R S PE CTI VAS

Como tornar
as reuniões
de pais mais
produtivas?
Reuniões esclarecedoras e formativas são mais eficazes
e fazem parte da proposta da escola do novo tempo.
texto Eny Muniz fotos Ricardo Davino

    em que a reunião de pais precisava ser en- tes e famílias mudam ao longo do tempo e criam a
fadonha, cansativa e que só nos preocupávamos em falar de necessidade de se repensar como planejar reuniões
resultados de avaliação e desempenho da aprendizagem. que tenham significado e possam comunicar me-
Abre-se uma nova era em que a reunião precisa ser criati- lhor a proposta pedagógica e o currículo da escola.
va e atrativa, levando todos os pais a experenciar, ou seja, a Um fator importante a ser considerado é o tempo
vivenciar as experiências que seus filhos vivem dentro da es- da reunião: dia da semana e horário. Uma simples
cola. Essa é a melhor maneira de comunicar todo o universo pesquisa pode revelar quais horários e dias atraem
escolar e ressignificar o encontro à vista de um novo tempo, mais público, assim como quais temas os pais dese-
de imprimir novas práticas para que os pais se sintam mais jam saber mais. Na vida moderna, pais e mães tra-
envolvidos no processo de aprendizagem dos seus filhos. balham fora, e a escola precisa entender o contexto
Mas, afinal de contas, como tornar as reuniões de pais mais da comunidade e propor, de modo mais efetivo,
produtivas? Ao refletir sobre a função social da escola, surge um cronogramas flexíveis para ter um público maior
questionamento sobre como acontece a relação Escola x Estudan- de participantes. Outro item importante é o envio
te x Família, em uma tríade em busca de pontos de convergência. de uma pauta esclarecedora do que será tratado na
Em um mundo ideal, podemos pensar a necessidade de se reunião, com horário de início e término, não ultra-
estabelecer uma matriz de responsabilidades, em que fique passando 50 minutos. Temas gerais podem ser tra-
claro qual o papel de cada um no desenvolvimento humano e tados com todos os segmentos, mas essa estratégia
integral de cada criança e adolescente. O que cabe à escola? O nem sempre funciona porque a linguagem pode se
que cabe ao estudante? O que cabe à família? Escolas, estudan- tornar desnecessária para alguns participantes.

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Educatrix16_pag42-45_Perspectivas.indd 42 4/1/19 3:08 PM


43

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PE R S PE CTI VAS

co o z r o s io o
MAR MA O
Apresentado por Peter Skillman, o desafio do marshmallow é um desafio de
design que valoriza o planejamento e trabalho em equipe. O objetivo é mostrar a
importância da colaboração e da criatividade para resolver questões do dia a dia.
A ideia é simples: equipes de quatro pessoas têm de construir uma torre com estrutura
estável usando apenas espaguete, barbante, fita adesiva e um marshmallow, sendo
que, obrigatoriamente, o marshmallow precisa ficar, inteiro, no topo da torre.
Vence a equipe que conseguir construir a maior torre dentro do tempo estabelecido.

pas s ①
Prepare a sala de reunião com mesas
separadas e divida os pais e responsáveis
em grupos de quatro pessoas.

pas s ②
Entregue um kit para cada grupo:
20 fios de espaguete cru;
1 metro de fita adesiva;
1 metro de barbante;
1 marshmallow;
1 tesoura (para cortar o barbante).

pas s ③
Explique as regras do desafio:
    : A equipe
vencedora é a que tem a estrutura estável
mais alta, medida a partir da superfície da
mesa até o topo do marshmallow;
      :
cortar ou comer parte do marshmallow
desqualifica a equipe;
  : As equipes são
livres para quebrar o espaguete, cortar a fita
ou o barbante como acharem melhor.
Estabeleça o tempo de 18 minutos
para montagem do protótipo.

pas s ④
Finalize o tempo do desafio, meça os protótipos
criados com uma trena e declare o vencedor.
Peça para as equipes falarem sobre
as dificuldades e os processos utilizados
para a construção do protótipo.

44

Educatrix16_pag42-45_Perspectivas.indd 44 4/1/19 3:08 PM


A reunião precisa ter objetivos claros e podemos promover um pode ressignificar estes encontros. Filmes e músicas
planejamento de formação de pais, construindo uma estrutura conseguem traduzir o que sentimos. Nas dinâmi-
semelhante ao processo de formação de professores, com temas cas, use e abuse de recortes de filmes e músicas. Mas
específicos que tragam soluções para as demandas elencadas pe- lembre-se nada de mídias com mais de um minuto
las famílias, pelos professores ou mesmo pelos alunos. Sim, pelos e meio! Temas relevantes da atualidade também são
alunos! Quem sabe qual seria o resultado de perguntar a eles so- atrativos: uso da tecnologia em casa, mundo digital,
bre o que gostariam que a escola conversasse com seus pais? mídias sociais, hábito de estudo, projeto de vida.
Se faremos uma reunião para apresentar a proposta pedagógi-
ca da escola, seu currículo, encaminhamentos, enfim, seu fazer, e e a as e pec a i as s pais
é possível utilizar a rotação por estações para que os pais tenham Os pais também possuem expectativas que podem ser
acesso a informações de forma diversificada, lúdica e interessan- atendidas. Normalmente, os responsáveis querem aju-
te. Quem sabe até mesmo utilizar a aprendizagem baseada em dar seus filhos nos deveres de casa, mas não aprende-
jogos. Pense nesse conteúdo como o mesmo a ser trabalhado em ram como as crianças aprendem, ou até mesmo esque-
sala de aula. Pense nos pais como estudantes, o que você faria e ceram determinado conteúdo. Que tal organizar uma
por que faria? E mais ainda, como faria? reunião formativa sobre como acompanhar a lição de
O Design Thinking também ajuda a promover encontros ines- casa? Mas precisamos, dentro da escola, definir qual o
quecíveis de formação. A proposta é que esses pais sejam ativos papel da lição de casa no contexto escolar. A que serve?
na reunião, ou seja, que produzam algo. Criar um momento de A quem serve? Quais os objetivos? Quanto tempo dura
experiência é o mais importante, vivenciar uma aula, por exem- a lição de casa? Quais os instrumentos necessários para
plo, pode faze-lo voltar à sua época de escola e a entender melhor a lição de casa? São perguntas que requerem respostas
o processo de aprendizagem. significativas. A família precisa garantir dois pontos
E por falar em experiência, que tal desenvolver a dinâmica do importantes: onde e quando a lição será realizada. As
marshmallow (vide quadro) com os pais para falar sobre coope- famílias precisam garantir espaço físico (costumo di-
ração, empatia, trabalho em grupo e colaboração? Todos esses zer, em reunião de pais, que a ponta da mesa da sala
elementos estão presentes nas aulas e podem ser a melhor forma de jantar é o melhor lugar da casa, para estudantes
de demonstrar quais valores queremos construir nos estudantes. mais jovens) e o tempo. Criar a rotina da lição de casa
Hoje, há mais significado naquilo que experimentamos e vi- é importante para a adoção de hábitos de estudo. Na
venciamos porque a aprendizagem acontece pela experiência; escola, há rotina e precisamos (in)formar os pais sobre
portanto, se queremos que os pais sejam aprendentes, precisa- a sua importância. Quando entenderem o conceito de
mos oportunizar tais momentos de construção. construção de hábitos de estudo, se tornarão parceiros
Uma experiência interessante é elaborar os convites da reunião da escola no processo. Assim, qual a melhor estratégia
junto com as crianças, com suas letrinhas e desenhos, como se para comunicar isto em reunião? Que tal fazer os pais
fosse um convite. E quem sabe até um vídeo estrelado pelo pró- refletirem sobre as perguntas e arriscarem algumas
prio pequeno e enviado pelo WhatsApp? Pense de que forma as respostas? A rotação por estações pode ajudar. Os pais
tecnologias de informação e comunicação podem ajudar a comu- podem criar cartazes com as suas respostas, utilizando
nicar de modo mais atraente a este público tão importante. materiais diversos (construção maker) e depois apre-
Para os mais velhos, proponha que a reunião seja feita por eles. sentarem suas respostas e considerações.
Eles podem contar aos pais as atividades que desenvolvem, como Se repensamos regularmente nosso papel em
se sentem e o que foram capazes de aprender durante um deter- sala de aula, formamos nossos professores para uso
minado período escolar, escolhendo as ferramentas do mundo de metodologias ativas, o que nos impede de inovar
digital para sua apresentação. na reunião de pais? Não é difícil, apenas trabalhoso!
Se o objetivo da reunião é apresentar o material didático uti- Vamos juntos?
lizado pela escola, escolha uma atividade bem interessante e de-
senvolva com os pais, mostrando o valor e o que uma proposta
didática traz de experiência.
Todos os ambientes e recursos da escola devem ser aproveitados.   
h TED Talks Tom Wujec: http://mod.lk/marsh
Neste sentido, uma aula no laboratório de Química, Física, Biologia, h Marshmallow Challenge: http://marshmallowchallenge.com
uma construção no laboratório maker, uma aula de Arte no ateliê  
ou um ensaio de teatro dão oportunidades de desenvolver atividades é professora e atua há mais de 25 anos na área educacional nos
setores público e privado. Possui larga experiência em cursos
com pais e filhos juntos. Imagine o seu estudante explicando ao pai de formação e capacitação de gestores e professores, EAD e
como extrair o DNA da banana, por exemplo. Colocar família e filhos desenvolvimento de projetos de gestão educacional. Atualmente
é Diretora Pedagógica do UNOi Educação e participa de programas
juntos em uma reunião potencializa a relação e fortalece vínculos. de formação de equipes, plano editorial, avaliação institucional,
Se conseguimos pensar em aulas mais criativas, podemos pen- treinamento de produtos e oferta de serviços educacionais.

sar em reuniões de pais mais criativas também. Mudar o formato

45

Educatrix16_pag42-45_Perspectivas.indd 45 4/1/19 3:08 PM


_um
projeto
educacional
completo premiações_
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solidamente construído com base em uma matriz de competências e Interamericano de
Desenvolvimento)
habilidades que conecta em rede todos os atores do processo (alunos, e pela HundreED,
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G ESTÃ O E S C O L AR

ESCOLA

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Questão de
clima
Pesquisadores da Unicamp e da Unesp
desenvolvem questionário gratuito
para avaliar clima escolar.
Pelo menos 11 mil gestores, professores
e alunos já participaram.
texto Paulo de Camargo

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Educatrix16_pag48-53_GestãoEscolar.indd 49 4/1/19 3:17 PM


G ESTÃ O E S C O L AR

 e o cyberbullying; violências a alia pa a a alisa


físicas e simbólicas; incivilidades e tudo A trajetória de pesquisa de Telma e dos
o que a sociedade entende pela noção ge- pesquisadores de sua equipe desenvol-
ral de indisciplina; falta de diálogo entre vendo dissertações e teses de mestrado e
educadores, entre gestores, com os alu- estudando referências internacionais em
nos. A escola do século XXI tem muitos diferentes continentes levou ao desen-
desafios, além daqueles glamourosa- volvimento de um trabalho inédito no
mente associados à inovação e a tecnolo- Brasil: um questionário público de ava-
gia. Como espaço de convívio cotidiano liação do clima escolar. Disponível gra-
entre diversos indivíduos, a escola preci- tuitamente para download desde 2017, o
sa ser um lugar de bem-estar. Em outras questionário permite que cada escola de-
palavras, precisa ter um bom clima. cida o melhor momento para aplicação,
Mas para que serve um bom clima? Há fazendo adaptações para seu contexto.
quem busque a melhoria do clima para Com mais de 1700 downloads, pelo
favorecer, ou para que, pelo menos, não menos 70 escolas já participaram e mais
seja impedimento para a aprendizagem de 11 mil questionários foram respondi-
do aluno. “Um clima bom não melhora dos. Para facilitar a compreensão, a fer-
automaticamente o desempenho, pois a ramenta traz um manual autoexplicativo
competência no trabalho com o conhe- que, em si, tem potencial formativo. O
cimento é insubstituível. Mas sabemos instrumento se tornou conhecido e, até
que um ambiente ruim, de fato, atrapa- para surpresa dos pesquisadores, ajudou
lha a aprendizagem”, diz a pesquisadora a dar grande visibilidade para o impacto
Telma Vinha, da Faculdade de Educação do clima em escolas públicas e particu-
da Universidade Estadual de Campinas lares de todo o Brasil. O questionário e o
(Unicamp), uma das maiores especialis- manual podem ser acessados livremente
tas brasileiras no tema. em mod.lk/clima ou www.gepem.org.
Apesar dessa correlação aparecer O texto de apresentação do ques-
como um dos objetivos das escolas para tionário mostra que, embora muito es-
melhorar o convívio, Telma defende que tudado em outras nações, desde 1900,
o trabalho sobre o clima escolar não pode o tema do clima escolar ainda é pouco
ter uma função utilitária, e deve ser uma
conquista por si mesmo. “É preciso que
a escola seja um lugar de bem-estar para
o aluno e para os que trabalham lá, que
vá além das questões ligadas ao conheci-
mento”, diz a pesquisadora.
Segundo a pesquisadora explica, a de-
finição de clima escolar envolve “o con- O CLIMA ESCOLAR POSITIVO
junto de percepções e expectativas sub-
jetivas compartilhadas pelos integrantes
E S TÁ CL ARAME N T E A S S OCIADO
da comunidade escolar, decorrente das A B ON S RE L ACIONAME N T O S
experiências vividas, nesse contexto,
com relação a normas, objetivos, valo-
IN T E RP E S S OAIS, A UM AMBIE N T E
res, relações humanas, organização e DE C UIDADO, P E R T E NCIME N T O E
estruturas física, pedagógica e adminis-
trativa. Ele influencia a dinâmica escolar
C ONFIANÇ A, A UMA E S C OL A QUE
e, por sua vez, é influenciado por ela e, AP OIA O AL UNO, C OM E SP AÇ O S
desse modo, interfere na qualidade de
vida e na qualidade do processo de ensi-
DE P AR T ICIP AÇ ÃO E RE S OL UÇ ÃO
no e de aprendizagem”. DIAL ÓGIC A DO S C ONF L I T O S.
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Educatrix16_pag48-53_GestãoEscolar.indd 50 4/1/19 3:17 PM


abordado no Brasil. Ou, pelo menos, taneamente e deram origem a um tra-
era. “A partir desse movimento, vemos balho de intervenção nas duas escolas,
surgir linhas inteiras de pesquisa sobre sempre de forma articulada com as
escola democrática e não democrática. equipes das instituições. A proposta
Estávamos atrasados perto de outros desenvolveu-se em três vertentes: uma
países e agora estamos trazendo muitas pessoal, ligada à maneira de ser e fazer
novas visões a esse debate”, diz Telma. dos educadores e das relações com os
Mas em uma rede pública que envolve alunos; uma curricular, sobre o plane-
mais de 200 mil escolas, em todo o país, jamento e execução das atividades no
é preciso ampliar a difusão do conceito campo da formação moral; e, por fim, a
de clima escolar e de sua importância via institucional, ou seja, as atividades
para a educação. que partem da organização da escola e
da classe, e que têm como pressuposto
is ic a participação democrática.
Tudo começou em 2013, quando pesqui- A partir desse estudo inicial, um novo
sadores e pós-graduandos da Faculdade apoio da Fundação Lemann e de recur-
de Educação da Unicamp, do Grupo de sos da FAPESP, órgão de fomento à pes-
Estudos e Pesquisas em Educação Mo- quisa do Estado de São Paulo, permitiu
ral (GEPEM) e da Universidade Estadual a formação de uma grande equipe que
Paulista (Unesp) tiveram um projeto de trabalhou durante dois anos para cons-
pesquisa selecionado no 1o Edital de Pes- truir, testar e validar tais instrumentos.
quisas Aplicadas em Educação. O tema O objetivo da avaliação é dar voz aos
desenvolvido era “Como garantir que to- atores da escola, permitindo que se ex-
dos os alunos tenham um bom professor pressem sobre o que sentem, mostran-
todos os dias na sala de aula?”, e o mate- do a importância da opinião de todos.
rial foi lançado pela Fundação Lemann e A avaliação pode dar uma fotografia do
pelo Itaú BBA. ambiente e promover o reconhecimento
O projeto apresentado ainda não se do que está acontecendo, mobilizando
referia a um instrumento específico de atores e estimulando a escola a agir.
pesquisa, mas a um projeto de interven- O instrumento produzido pela equi-
ção em duas escolas públicas na região pe da Unicamp traz uma nova dimensão
de Campinas, com a formação dos edu- às formas mais utilizadas de avaliação
cadores. A questão da avaliação quan- do clima, quase sempre qualitativas e
titativa dos resultados alcançados logo com base em observações e entrevistas.
entrou em pauta e se tornou um desafio. O desafio não foi nada simples, pois os
Surgiu então a ideia de adaptar ques- fatores que formam a escola são comple-
tionários utilizados em outros países xos. “Nenhum fator isolado determina o
para avaliar esse projeto. Os estudos in- clima de uma escola, visto que este de-
ternacionais já mostravam, então, que pende da interação de vários fatores da
o clima escolar negativo era um campo instituição escolar e da sala de aula”, ex-
fértil para o aparecimento de problemas plica o estudo.
comportamentais, e que o clima positivo
favorecia a diminuição da violência e do p i ei pass
estresse. A reflexão foi adiante e o gru- Como em todo processo de transforma-
po adaptou novos instrumentos para a ção escolar, não se pode imaginar um
realidade brasileira, envolvendo alunos movimento de fora para dentro, de ca-
de Ensino Fundamental – Anos Finais, ráter obrigatório. É preciso que a escola
professores e gestores. queira enfrentar o tema, se conhecer
Ao longo dos meses seguintes, três melhor e buscar caminhos de aprimo-
questionários foram testados simul- ramento.

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Educatrix16_pag48-53_GestãoEscolar.indd 51 4/1/19 3:17 PM


G ESTÃ O E S C O L AR

As pesquisas demonstram que o cli- É preciso ter consciência de que se


ma escolar negativo pode representar trata de um processo com desafios de
riscos para a vida escolar, contribuindo curto, médio e longo prazo, a serem
para o surgimento de problemas com- construídos gradualmente. Transformar
portamentais, sentimento de mal-es- o clima de forma mais consistente e du-
tar e o aparecimento dos conflitos. Da radoura pode levar anos.
mesma forma, há clara relação entre Por fim, deve-se lembrar que pes-
vitimização e clima escolar. Quanto quisas não são oráculos que falam por
pior o clima, maior a frequência de si- si só: as informações precisam ser re-
tuações de bullying (e vice-versa). As interpretadas, discutidas pelos atores
vítimas percebem o ambiente como envolvidos, e enriquecidas com outras
mais negativo e há uma naturalização informações, seja de pesquisas qualitati-
das agressões. vas, de dados empíricos ou do contexto
Já o clima escolar positivo está clara- da instituição.
mente associado a bons relacionamen- A tabulação dos resultados é bastante
tos interpessoais, a um ambiente de cui- simples, mas é preciso montar um pla-
dado, pertencimento e confiança, a uma no para se pensar nas ações estratégicas.
escola que apoia o aluno, com espaços Isso requer também estudo e formação.
de participação e de resolução dialógica “Se a escola não tiver ampliação do re-
dos conflitos, à proximidade dos pais e pertório sobre o problema vivido, só
da comunidade, com uma boa comuni- fará mais do mesmo. Se o problema é a
cação e, sem dúvida, à qualidade no pro- desmotivação do aluno, precisa estudar
cesso de ensino e aprendizagem. isso. Buscar soluções de senso comum é
Para Telma Vinha, a avaliação do cli- o mesmo remédio ruim. Tem de buscar
ma não pode ser um fim em si mesmo, além, procurar especialistas, literatura,
mas sim fazer parte de um projeto mais parcerias, repertórios novos”, propõe a
amplo, que envolva toda a escola — e não pesquisadora.
apenas um grupo de interessados. “A Trata-se de um processo que leva ao
ideia de coletivo é fundamental. A escola amadurecimento de todos. O próprio
vai muito melhor quando os profissio- manual cita o exemplo de uma escola
nais são mais cooperativos, mesmo sem em que os professores não reconheciam
muito preparo, do que em outras com problemas ligados a intimidações, vendo
muitos talentos que só pensam em si. muitas situações como naturais ou sim-
Escola traz a ideia de nós”, explica. Isso ples brincadeiras. Após estudar e discu-
significa que os gestores precisam estar tir o tema, as situações foram vistas pelo
implicados. “Não se trata de um pro- mesmo grupo como fatores negativos,
blema que é dos outros. É um problema que pediam intervenção.
nosso”, enfatiza a pesquisadora. Para isso, é preciso uma mudança
Esse mesmo princípio deve estar pre- profunda na forma de pensar de mui-
sente na devolutiva dos dados, ou seja, tos educadores. Um estudo importante
quando os resultados alimentarem as sobre o tema, conduzido pela pesquisa-
discussões entre as equipes e com os dora Maria Malta, há alguns anos, mos-
alunos. “Ela não deve ser realizada ape- trou que, muitas vezes, os educadores
nas pelo gestor, nem só pelo professor. só vêm como caminho o maior aumento
Espera-se que ocorra um diálogo, capaz do controle, das punições e do rigor. No
de avaliar o que a instituição já faz bem, estudo, 83% dos professores entrevis-
quais são suas dificuldades, por que há tados defenderam medidas mais duras
discrepância de olhares, o que pode ser em relação ao comportamento dos alu-
melhorado”, aponta o manual de aplica- nos; 67,4% disseram que deveria haver
ção da pesquisa. expulsão de alunos e 47% propuseram

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a contratação de mais inspetores e psi-
cólogos. Apenas metade dos ouvidos
sugeriu a implantação de projetos de
conscientização e valorização da escola
envolvendo pais, alunos e comunidade
em geral.

se e s e ai s O sentimento de injustiça está rela-


esc ie cionado a normas unilaterais, injustas
As escolas devem ter um olhar menos ou sem sentido; ao excesso de regras ou
ingênuo para a realidade que vivem e ter à aplicação inconsistente; às censuras
disposição real para mudar. “Eu costumo generalizadas ou punições à maioria; às
dizer que, se o clima está ruim, é preciso punições arbitrárias ou desproporcio-
intervir. Se está bom demais, descon- nais, ao tratamento de justiça e igualda-
fie”, brinca Telma Vinha. Muitas vezes, de entre todos os alunos e às formas de
em um ambiente de aparente tranquili- avaliação que ocorrem na escola. Os es-
dade, pode haver, na verdade, um clima tudantes sentem-se injustiçados quando
de desconfiança na gestão, fazendo com expostos a avaliações mal preparadas e
que as atenções e a energia de cada um mal coordenadas.
estejam mais voltadas para a autopreser- No entanto, o que se busca em um
vação do que para o diálogo e a coesão. trabalho consistente é o contrário: tra-
“Não basta dizer que se vai melhorar o ta-se de construir a motivação intrínse-
clima. É preciso de fato melhorar as rela- ca. “O verdadeiro objetivo da educação
ções humanas na escola”, explica. do caráter é que os estudantes internali-
Uma confusão possível no conceito zem os valores morais e afetivos. As re-
de clima é considerar como premissa compensas e punições reduzem o valor
que em escolas com bom clima há tam- que se quer internalizar”, ressalta Telma
bém valorização da autonomia e desen- Vinha. Em outros termos, trata-se de
volvimento moral dos alunos. “É o mes- mudar quem somos e não apenas como
mo que dissemos sobre o conhecimento. nos comportamos.
O clima bom não significa que se valo- Por isso, um bom clima escolar fre-
riza autonomia. Mas certamente o clima quentemente se caracteriza por ter
hostil impede”, diz Telma. poucas regras, mas necessárias e claras;
A ideia de clima caminha ao lado de permitir e estimular a participação dos
construir uma escola com relações jus- estudantes e professores na discussão
tas, sentido de pertencimento, mas dos problemas, elaboração e transfor-
não necessariamente com autonomia. mação das regras; em uma boa comuni-
“Percebemos claramente que os alu- cação; nas expectativas compartilhadas
nos amam responder porque sentem de comportamento e, sim, sanções jus-
que têm voz. Mas as decisões escolares tas, razoáveis e consistentes.
raramente são tomadas da perspectiva Nesse sentido, o papel do gestor é
dos alunos. Em geral, a escola não é de- essencial. Segundo os estudos, o clima
mocrática no sentido mais completo do é melhor quando os educadores perce-
termo. Mas mesmo que não tenha uma bem o diretor como confiável e respei-
simetria funcional, precisa ter uma si- toso, como alguém que os apoia e que se
metria de princípios. Quando não há importa com os alunos, alguém aberto,
essa simetria é o problema. Significa que acessível, engajado e coerente. O bom   
h Questionário e manual
há imposição de ideias e regras que va- gestor, nessa perspectiva, incentiva e va- para avaliação do clima
lem mais para uns do que para outros”, loriza opiniões diferentes e lida com erro escolar mod.lk/clima
explica a pesquisadora. como parte do processo e aprender.

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PL ENO S S AB E R E S

Na linha de frente
da educação
Os desafios de ser orientador
educacional em tempos tão
desorientados e pouco educados.
texto Ricardo Prado

“  Você viu isso?! Vou reclamar na es-


cola agora mesmo!”; “Ele me bateu!”; “Sumiu meu
estojo!”; “Ela me xingou de...”; “Você nem acredita
no que essa professora fez!” Qualquer uma dessas
frases, se dita em um contexto escolar, seja em uma
escola pública ou particular, dita por criança, ado-
lescente, jovem ou por seus pais, terá um destinatá-
rio certo: o orientador educacional.
Esse profissional da educação, que na rede pú-
blica geralmente tem o cargo de coordenador ou
orientador pedagógico, se encontra no meio do ti-
roteio verbal que faz parte de qualquer escola. Agir
como mediador de conflitos faz parte de sua função,
já que é o educador responsável pelo vínculo entre
os alunos, suas famílias e a instituição.

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PL ENO S S AB E R E S

Porém, além dos conflitos naturais que sempre o papel da escola e visões de mundo antagônicas.
envolvem as aglomerações humanas, ainda mais Como se fazer entender em meio a tal cacofonia?
quando nela se concentram crianças e adolescen- Quais desafios esse profissional precisará superar
tes, com a imprevisibilidade e as transformações para colocar um pouco de ordem na escola após
hormonais que trazem consigo, o ano de 2018 foi esse ano tumultuado? São essas indagações que
especialmente tenso em todo o país – e nas esco- nortearam a conversa com cinco educadoras que
las também. Ao longo de um processo eleitoral refletiram, a partir de diferentes pontos de vista e
marcado por discussões políticas crescentemente experiências, suas próprias perplexidades diante de
violentas, rachas familiares e rompimentos de ami- um cenário bastante nebuloso.
zades antigas, as escolas não passaram incólumes “Como educadora, eu penso que o grande de-
pelo vendaval. Discussões sobre o papel da escola, safio da pós-modernidade é conseguir flexibilizar
a proliferação de fake news envolvendo temas rela- o pensamento”, analisa Luciana Lapa, orientado-
cionados à educação, o crescimento do movimento ra educacional na escola bilíngue Stance Dual, em
conservador “Escola sem partido”, além de diver- São Paulo. “Em um momento de polarização, o que
sos temas de natureza comportamental afloraram se observa é uma falta de empatia diante da pers-
de forma caótica, colocando em um confuso balaio pectiva do outro”, constata. E busca um exemplo
questões de gênero, de pedagogia, discussões sobre em outra seara para reforçar seu argumento. “Você

“O GRANDE DESAFIO
DOS EDUCADORES
É MEDIAR RELAÇÕES
A PARTIR DE
PERSPECTIVAS
DIFERENTES”
 ,
Orientadora
educacional.

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pode pegar essa falta de empatia pelo viés do espor- Aplicada em caráter experimental desde 2015
te. Quantas pessoas morreram simplesmente por em escolas públicas e particulares de São Paulo,
serem de times diferentes? O que passa por essas Campinas e Paulínia, essa metodologia de interven-
agressões é a falta de tolerância, de empatia. E o ção escolar foi idealizada pelo educador José Maria
grande desafio do educador é mediar essas relações Velez Martinez, da Universidade de Valladolid, na
na percepção de tomadas de perspectivas diferen- Espanha, que se inspirou em modelos já adotados
tes”, destaca a orientadora. na Finlândia, no Reino Unido e na Itália.
Quando é chamada a intervir por conta de um A Escola Municipal de Educação Integral Zeferi-
conflito entre os alunos, Luciana diz que “é preciso no Vaz, em Campinas, faz parte da linha de frente
distinguir o que são conflitos interpessoais, atitu- dessa experiência. Ednéia Marques Mendes, direto-
des de indisciplina e pequenas transgressões. Em ra educacional da instituição, acompanha o projeto
geral, os conflitos mais comuns na faixa etária do desde seu início. Ela avalia que a iniciativa fortale-
primeiro ciclo do fundamental, ou seja, crianças ceu os vínculos entre os alunos. “Percebo que o fato
entre seis e nove anos, envolvem disputas sobre de os alunos da escola sentirem que tem um deles
jogos (quem ganhou, quem perdeu), o deboche, ali é muito positivo”, destaca. E relata o que mu-
algumas reações mais explosivas e, eventualmen- dou no cotidiano da Zeferino Vaz. “Muitos confli-
te, uma situação de constrangimento que esteja se tos simples, que podiam ser resolvidos entre eles,
configurando em bullying”, destaca. acabavam vindo para a gente porque isso acontece
muito na escola: tudo tem que ser resolvido por um
a ae e pa e s adulto. Com as equipes de ajuda, eles aprendem
Integrante do GEPEM (Grupo de Estudos e Pesqui- que conseguem dar conta de resolverem esses con-
sas em Educação Moral), formado por pesquisado- flitos”, relata Ednéia.
res da Unesp e da Unicamp que estudam as ques- A implantação de uma equipe de ajuda deman-
tões da moralidade e da convivência, Luciana Lapa da a mobilização da escola inteira. “A formação
vem acompanhando uma experiência pioneira no começa pela equipe gestora, pois é ela quem de-
Brasil na resolução de conflitos que tem tudo para fine: ‘Como é essa escola que eu dirijo?’”, explica
encantar escolas e seus orientadores educacionais: Luciana Lapa. Em seguida ao alinhamento com os
o sistema de apoio por pares, chamado de equipes gestores, a formação envolverá a equipe de profes-
de ajuda. sores e os funcionários da escola, seguida de uma
As equipes de ajuda são formadas por alunos ação mais específica junto aos professores que irão
do 6o ao 9o ano, escolhidos por seus pares em uma acompanhar a implementação das equipes de aju-
dinâmica que elencará quais são as características da. “Esse projeto interfere no clima da escola como
de uma pessoa em quem se pode confiar. “A par- um todo”, destacam Luciana e Ednéia.
tir desses critérios, os próprios alunos indicam três
nomes”, explica Luciana, destacando que a pessoa sca pel p e
escolhida precisa ter a legitimidade do grupo. “É Lygia Maria Ramos Uchôa Cavalcanti, a Dudu, é
muito curioso porque entre os membros das equi- orientadora educacional na Escola Vera Cruz, de
pes de ajuda existem autores, alvos e espectadores. São Paulo. Ela atende aos alunos do 6o ano, acom-
O autor de bullying geralmente é um aluno popu- panhando-os até o 9o ano. Os problemas mais co-
lar, e estar na equipe de ajuda talvez dê a ele aquilo muns nessa idade envolvem o sumiço de objetos ou
que lhe falte, ou seja, a sensibilidade moral. Uma problemas de relacionamento. Mas, às vezes, é pre-
vez que carece dessa sensibilidade, fazendo parte ciso identificar também as disputas ocultas. “Existe
da equipe de ajuda, ele será regulado pelos próprios entre eles uma busca de poder. Às vezes eu brinco
colegas e, também, entrará em contato com o so- que há classes aqui que só tem caciques. É uma épo-
frimento do outro. As pesquisas nacionais e inter- ca de grandes mudanças, e, nessa fase, começam os
nacionais estão mostrando que os pares procuram questionamentos de autoridade, e os conflitos com
seus iguais para compartilhar um problema, antes os professores ou com a organização da escola”, re-
dos adultos. E nessas situações a maior parte dos lata. Para ela, o mais importante em sua função é
indivíduos se encontra na condição de espectador, estabelecer um vínculo de confiança com os alunos,
agindo como oxigênio para a intimidação. Então, “até porque funcionamos como uma autoridade
nada mais justo do que chamar os espectadores maior para eles”.
para se posicionarem. Eles sabem que aquilo é erra- A cada quinze dias, Dudu tem um espaço na
do, mas não sabem exatamente o que fazer, nem a grade curricular para levar suas questões para os
força que têm nessa situação”, explica. alunos ou ouvir as que eles eventualmente trazem.

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PL ENO S S AB E R E S

Quando não há um incêndio a ser controlado, ela a l s i a ili a s


propõe alguma dinâmica, um debate ou até mesmo Os orientadores educacionais também precisam
um jogo. Um dos preferidos, dela e de seus alunos, lidar com as famílias dos alunos. E nesse aspec-
se chama “Sem censura”. “Esse jogo traz diversos to, muitas vezes o relacionamento pode ser ainda
dilemas morais, do tipo: ‘Você está em uma loja, mais tumultuado. Com três décadas de experiência
quebrou um objeto mas ninguém viu. Você paga?’ como orientadora educacional na mesma escola,
Eles adoram porque na dinâmica do jogo precisam Lygia tem observado algumas mudanças. “A gen-
imaginar o que o amigo vai responder. Também te sente crianças às vezes muito fragilizadas por
discutimos se aquela determinada resposta foi éti- serem muito protegidas. Coisas que uma criança
ca”, relata. Para o 7o ano, a orientadora educacional teria condição de fazer sozinha, os pais vêm fazer
gosta de usar o livro Pequeno tratado das grandes no lugar delas. Ou há pais que vêm se queixar por-
virtudes, de André Comte-Sponville, cujos textos que o professor falou mais rispidamente, ou deu
são ponto de partida para discussões sobre virtudes uma bronca. E essa bronca, geralmente, vem em
como tolerância, humildade etc. “Há uma hora em função de um comportamento que não foi legal do
que também conversamos sobre drogas, isso mais aluno. Então, a queixa do pai é como justificati-
para o 8o e 9o anos. Mas esse é um tema que vem dos va daquele tipo de comportamento do filho. São
alunos, assim como a sexualidade”, explica. ações que fragilizam as crianças”, avalia.

TODO PROFESSOR É UM
ORIENTADOR EDUCACIONAL,
NO SENTIDO DE QUE ENSINA
AQUELA CRIANÇA, COM AQUELA
HISTÓRIA, NAQUELA ESCOLA
E NAQUELE CONTEXTO.

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Maria José Nóbrega, consultora de diversas es- com as dificuldades que essas escolas têm para pro-
colas privadas e de redes públicas, observa o cres- moverem saídas a museus ou estudos de meio, por
cimento de uma pressão de cunho moral a partir da exemplo. “Há hoje muitas escolas que têm projetos
ação de uma minoria ruidosa, especialmente nos articulados com a comunidade. Não é raro achar
grupos de WhatsApp formados pelos pais. Ela cita uma escola que, sendo frequentada por um deter-
casos como uma versão em quadrinhos dos Diários minado grupo indígena que viva ali perto, tenha
de Anne Frank, que mesmo com chancela da ONU e os seus projetos educacionais articulados com essa
da Fundação Anne Frank, deixou de ser adotada em cultura. Nesse sentido, há bons exemplos tanto nas
uma escola porque trazia uma passagem na qual a escolas públicas quanto nas particulares. E essas es-
adolescente e um garoto percebem suas diferenças colas trabalham com crianças e famílias que vivem
sexuais – tão somente isso. A educadora conta tam- situações bastante difíceis”, destaca a pesquisadora.
bém outro caso de uma escola privada que enfren- Adriana ressalta a importância de compreender
tou problemas por adotar o livro em quadrinhos a realidade do entorno da escola e as características
onde a ativista Malala conta sua trajetória. Segundo de cada instituição de ensino para dialogar com a
algumas famílias, aquela obra, que relata a luta da comunidade. “Um jovem negro fazendo funda-
adolescente pelo direito de estudar, incitaria os jo- mental 2 em uma escola localizada na periferia tem
vens a desobedecerem seus pais. que lidar diariamente com questões que são muito
complicadas. ‘Quem é esse jovem?’ Não existe “jo-
e e a s ca e ia vem de 15 anos” como categoria. É preciso criar ou-
Se na rede privada as funções de orientador peda- tros recortes: de que raça, de que classe social, onde
gógico e orientador educacional se encontram divi- vive, e isso se configura em tema nas escolas. Eu di-
didas entre dois profissionais, um deles mais cola- ria que está presente na luta e no esforço de muitos
do aos professores e suas questões didáticas, outro professores e professoras. Mesmo naquelas escolas
próximo aos alunos e às questões sócio-comporta- onde aparentemente não se faça nada nesse senti-
mentais, na rede pública geralmente essa função é do, haverá um ou outro professor trabalhando essas
exercida pela mesma pessoa. questões com seus alunos”, assegura a psicóloga.
Mas tal concentração em um profissional não A função de orientador educacional está, por-
deve ser compreendida como pior em relação à du- tanto, umbilicalmente ligada à própria condição
plicidade de funções observada em muitas escolas de professor, é aonde quer chegar o raciocínio da
particulares, como destaca Adriana Marcondes Ma- pesquisadora. Todo professor é um orientador edu-
chado, do Departamento de Psicologia da Aprendi- cacional, no sentido de que ensina aquela criança,
zagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do com aquela história, naquela escola, que também
Instituto de Psicologia da USP. “Não diria que essa tem sua própria história. E Adriana tira da me-
é uma função ‘acumulada’ na rede pública porque mória um exemplo que ficou para sempre gravado
seria partir do pressuposto de que seriam, de fato, nela como paradigmático desse tipo de profissional
duas funções para dois profissionais diferentes. As que ensina a sua disciplina ao mesmo tempo em
funções podem se tornar um acúmulo se esse pro- que acolhe o aluno. “Uma vez eu estava em uma
fissional precisar dar conta de várias séries, ou se escola onde aconteceu o caso terrível de um me-
for um único coordenador para uma escola de mais nino que viu o pai sendo queimado vivo [por or-
de mil alunos, por exemplo. Mas é o coletivo da dem dos chefes do tráfico na comunidade]. Toda
escola que precisa decidir se quer que essa função vez que eu imagino essa cena fico indignada. Três
seja exercida por uma ou por duas pessoas. E não dias depois, esse menino estava de volta à escola e
podemos dizer o que é melhor, mas sim o que pode vem uma professora de Matemática falar com ele.
funcionar para uma determinada escola”, pondera. Ela disse assim: ‘Olha, você tinha o direito de não
No Ensino Médio, o trabalho do orientador edu- ter vivido isso que você viveu. Não te deram esse
cacional ganha novos contornos, conforme destaca direito. E sabe qual é a única coisa que eu posso fa-
Maria José Nóbrega. “É quando entram em cena o zer por você?’ O menino olhou para ela e pergun-
projeto de vida do aluno e as ações de orientação tou: ‘Qual?’. ‘Eu posso te ensinar Matemática. Você
profissional”. quer?’. ‘Eu quero”, respondeu o menino. Com esse
Trabalhando com diversas instituições públicas exemplo quero dizer que aquilo que você pode agir
de ensino há décadas, Adriana Marcondes observa em relação à realidade do seu aluno não está fora do
esse trabalho de articular o jovem com seu projeto conteúdo que você ensina”, reflete a pesquisadora,
de vida e o mundo do trabalho sendo feito em diver- para concluir: “Nesse sentido, todo professor é um
sas instituições públicas de Ensino Médio, mesmo orientador educacional.”

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para empoderar
sua escola
UM PROJETO GLOBAL

650
presente em
de
escolas no Brasil 16 países

de 250 mil de 1,1 milhão


alunos no Brasil de alunos no mundo

É vivo porque construímos com a escola


um processo de desenvolvimento
contínuo e personalizado.

É 360º porque enxergamos a escola em sua


amplitude, estabelecendo uma parceria com
a comunidade escolar.

É flexível porque respeitamos a identidade,


o momento e as necessidades da escola ao
assumirmos juntos o compromisso de uma
evolução gradativa.

É precursor porque sempre tivemos


como essência uma vivência plena
na cultura digital.

Tudo para empoderar


sua escola rumo a um
novo patamar em educação.

Para saber mais, acesse:


modernacompartilha.com.br
CO NE XÃ O

Transformação
digital docente
Tornou-se uma fala vazia justificar a urgência da forma-
ção continuada às atuais mudanças do mundo. Que o
mundo mudou e continuará mudando todos já sabem,
mas o que sua escola está fazendo para empoderar os
principais agentes dessa transformação: os professores?
texto Lara Silbiger

   quatro décadas, a transformação di- base em dados e pesquisas formais, que direcionar
gital mudou completamente nossa forma de atuar o ensino com base nesses fatos é “incorrer no erro
no mundo. Revimos conceitos até então estabele- de presumir que seus alunos possuem talentos e
cidos e vivenciamos novas experiências de intera- habilidades que os professores não possuem”. Com
ção, cooperação e compartilhamento. A forma de isso, assegura que, embora a forma como significa-
conviver se transformou, assim como a maneira mos o mundo tenha mudado, cabe ao professor e
de consumir informação, refiná-las e conectá-las. ao coordenador assumirem as rédeas e formaliza-
Reaprendemos todos os dias a viver no mundo em rem a maneira como lidam com a informação on-
que nossos alunos já nasceram imersos. -line, tanto para as novas quanto para as gerações
Você deve estar acostumado com esses clichês dos próprios profissionais, numa perspectiva de
e a ser tachado como “imigrante digital”, tentan- aprendizado contínuo.
do aprender a língua do momento para adentrar
o mundo dos “nativos digitais”. Estes conceitos O NO O M UNDO O M UNDO DE O E
foram propostos pelo escritor Mark Prensky, em A sociedade atual vem presenciando o que está sen-
2001, e reverberados até hoje mundo afora. Dizia do chamada Quarta Revolução Industrial ou Indús-
ele: “Se educadores imigrantes digitais realmente tria 4.0, que se reflete em um mundo cada dia mais
querem educar nativos digitais – ou seja, todos os interconectado, complexo e incerto. Não é à toa que
seus alunos – eles precisarão mudar. É hora de eles imaginar as profissões do futuro virou um exercício
pararem de resmungar e, como diz o slogan da Nike de alto risco. “Fugimos dos nomes de profissões e nos
para a geração de nativos digitais, ‘Just do it!’ (sim- concentramos nas habilidades que serão necessárias.
plesmente faça)”. Acontece que ao longo dos anos Estas são mais previsíveis, úteis e passíveis de serem
um grande número de trabalhos científicos chegou desenvolvidas e praticadas – o que não é possível em
a conclusões diferentes, como o artigo “Os mitos se tratando de profissões que ainda nem sabemos
do nativo digital e do multitarefas”, publicado em como vão se chamar”, afirmou Amar Kumar, líder da
2017 na revista Teaching and Teacher Education e pesquisa “O futuro das habilidades: empregabilidade
endossado pela revista Nature, que afirma, com em 2030”, em entrevista ao portal Porvir.

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CO NE XÃ O

De acordo com esse estudo, as habilidades liga- de inovação, integrando novas tecnologias. O objetivo é apro-
das à criatividade, originalidade, fluência de ideias fundar a prática pedagógica, promover a colaboração entre
e tomada de decisão estarão em alta no final da colegas, repensar as abordagens tradicionais e preparar os
próxima década. alunos para impulsionar o próprio aprendizado.
A pesquisa também revela que o setor de Educa- As metas, com suas respectivas competências, são específicas
ção tende a ganhar mais eficiência com o avanço das para cada padrão. Em “Aprendiz”, por exemplo, os educadores de-
tecnologias digitais, bem como expandir sua força vem aprimorar sua atuação enquanto aprendem e exploram práti-
de trabalho. Entre os nichos que devem se destacar, cas promissoras em prol da melhoria do aprendizado. Já em “Ana-
Kumar cita as mentorias individuais. “Haverá alta lista”, entendem e usam dados para orientar suas instruções, bem
demanda tanto por aprender quanto por aprender como ajudam os alunos a atingir suas metas de aprendizado. No
como se aprende”, diz. standard “Cidadão Digital”, por sua vez, os educadores inspiram
os estudantes a participar do mundo digital com responsabilidade
EDU A O e a contribuir de forma positiva. Em “Designer”, desenvolvem ati-
Impulsionada pela Indústria 4.0 e seus impactos vidades em ambientes que sejam autênticos, acolham a diversida-
sobre a economia e o mundo do trabalho, a Edu- de e sejam voltados para o aprendiz. O foco no aluno também está
cação 4.0 vem ganhando força. Ela se apropria das presente no standard “Facilitador”, que privilegia o aprendizado
tecnologias digitais – não só como ferramentas, com tecnologia para ajudá-lo a conquistar os standards que o 
mas como agentes de transformação – para repen- elaborou especificamente para estudantes. Por fim, em “Líder” o
sar as experiências de aprendizagem nas escolas. desafio é identificar oportunidades de liderança para melhorar o
Baseada no conceito de learning by doing (em por- ensino, a aprendizagem e o sucesso do aluno.
tuguês, aprender fazendo), sugere que o processo
de aprendizado contemple vivências, projetos, ex-
perimentação e mão na massa. 
O objetivo da nova escola deve ser criar um es- APRENDIZ
paço propício para que o aluno saia da condição de
 ②
sujeito passivo e ocupe o eixo central da aprendiza-
ANALISTA LÍDER
gem – por exemplo, em um ambiente de incentivo
à inovação, invenção, resolução de problemas e co-
laboração. “Cabe ao professor conduzir tudo isso;
afinal, ninguém melhor do que ele para entender
Standards ISTE
as necessidades de desenvolvimento dos alunos de
hoje”, afirma Anna Katarina Vasconcellos, gerente

FACILITADOR
EDUCADORES ③
CIDADÃO
DIGITAL
de Inovação e Projetos do Moderna Compartilha.
Frente aos novos papeis do professor, a formação
docente adquire um caráter estratégico nas insti-  
tuições de ensino. “Se queremos o aluno preparado DESIGNER COLABORADOR
para enfrentar os desafios deste século, precisamos
ter a escola e o professor devidamente preparados
para o que está por vir e empoderados como líderes 
desse processo”, explica Márcia Carvalho, diretora APRENDIZ
de Negócios do Moderna Compartilha. Esse é jus- EMPODERADO
 ②
tamente um dos maiores desafios da Educação 4.0, COLABORADOR CIDADÃO
que visa garantir a relevância dos educadores em GLOBAL DIGITAL
um mundo hiperveloz, ambíguo e incerto.
As principais habilidades da era digital e os in-
sights pedagógicos que os educadores precisam Standards ISTE

ESTUDANTES ③
Fonte: ISTE Standards - www.iste.org

aprender e ensinar foram listados e são atualizados


periodicamente pela organização sem fins lucra- COMUNICADOR CONSTRUTOR DE
CRIATIVO CONHECIMENTOS
tivos que é referência mundial em Tecnologia na
Educação, o  (International Society for Tech-
nology in Education).  
Ele definiu sete padrões, ou standards, com as PENSADOR DESIGNER
COMPUTACIONAL INOVADOR
competências que os educadores precisam desen-
volver para potencializar a adoção de boas práticas

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PA D R E I TE N O R A I Até dezembro, o Moderna Compartilha deve
Em parceria com o , o Moderna Compartilha — platafor- investir R$20 milhões em projetos e ações que in-
ma global de educação do Grupo Santillana que empodera o centivam a inovação no aprendizado. “Para os pró-
educador para viver na cultura digital – trouxe para o Brasil ximos anos, outros R$60 milhões já estão reserva-
os padrões de formação profissional. Eles são referência para o dos para impulsionar mais etapas do programa de
recém-lançado programa de Desenvolvimento Gradativo para desenvolvimento docente, certificação dos nossos
Professores Compartilha. “Nos baseamos nas descrições que o coaches pelo Instituto Brasileiro de Coaching, pro-
 faz das competências do educador contemporâneo e mon- dução de conteúdo, criação de plataformas e novas
tamos um programa alinhado à realidade do Moderna Compar- iniciativas de formação”, revela Márcia Carvalho.
tilha nas escolas privadas do país”, explica Anna Katarina.
A nova iniciativa prevê a formação integral dos professores OM PET N I A ONT EM POR NE A
e o desenvolvimento gradativo de competências docentes es- Diante do desafio de formar os alunos em todas as
pecíficas para atuar nas escolas hoje. suas dimensões – cognitiva, socioemocional e digi-
São propostos percursos formativos orientados por um tal –, as escolas buscam se consolidar como espaços
coach presencial e um aplicativo de coach virtual, que trazem de educação integral. “Trata-se de formar os alunos
diferentes níveis de complexidade, bem como desafios e ativi- para enfrentar algo que ainda é desconhecido, mas
dades para se colocar em prática as competências em fase de para o qual precisam estar preparados e munidos
desenvolvimento. “O objetivo é tirar o professor do papel de de flexibilidade, organização, autonomia e espírito
ministrador da disciplina para elevá-lo à função de educador, empreendedor”, afirma Solange Petrosino, gerente
com instrumentos para formar os alunos”, diz Anna. Ao fim de Serviços Educacionais da Moderna.
de cada etapa, o professor recebe uma certificação do Institu- Tamanha expectativa em relação às competên-
to Crescer e, ao final de todo o percurso, é reconhecido como cias contemporâneas impulsiona a formação inte-
professor padrão . gral dos estudantes. “Em uma relação dialógica com
O Desenvolvimento Contínuo de Professores começa a a sociedade, as escolas se transformam para acom-
ser implementado nas escolas no primeiro semestre de 2019. panhar as novas dinâmicas do mundo”, diz Solange.
“Será um divisor de águas para os parceiros do Moderna Com- Ela explica que, além de favorecer o desenvolvimen-
partilha. Além dos professores, que acompanharão seu pró- to de competências em todas as áreas, a formação
prio desenvolvimento conforme avançam nas trilhas de for- integral também deve prever a avaliação desse pro-
mação, a gestão pedagógica também poderá acompanhar e ter cesso. “Para muitas instituições, é um grande desa-
uma visão sistêmica do desenvolvimento do corpo docente”, fio, e os percursos formativos dão subsídios para que
comenta Sônia Marques, gerente comercial. os profissionais estejam preparados.”

a c ac as sc as as
+ DE 250 ALUNOS
219.630 ALUNOS (EM 19 ESTADOS)
(EM 18 ESTADOS)

169.713 ALUNOS

125.211 ALUNOS 126.101 ALUNOS


(INCLUSÃO DA REGIÃO
CENTRO-OESTE)
97.790 ALUNOS
(ATUAÇÃO NAS REGIÕES
NORDESTE, SUL E SUDESTE)
529 650
PARCEIROS PARCEIROS
437
369 PARCEIROS
306 PARCEIROS
246 PARCEIROS
PARCEIROS
68
PARCEIROS

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CO NE XÃ O

E O I T EMA D E E O U O
A cultura da evolução e protagonismo está na es- dantes foi a criação de um portal específico para as
sência do Moderna Compartilha, que privilegia o famílias – o Compartilha em Família, com temas li-
potencial de ação da comunidade escolar frente aos gados à Educação contemporânea. “Formar os pais
seus próprios desafios e necessidades de transfor- exige mais que informá-los. Requer o empodera-
mação. Isso se reflete nas estratégias e métodos que mento deles com relação a tudo que gira em torno
o projeto adota desde a sua concepção. do aprendizado”, diz Solange. A iniciativa também
A plataforma nasceu em 2012 para atender a visou ao alinhamento da família com a escola. “Os
demanda por novidades em tecnologia educacio- pais precisam entender o que é desenvolvimento de
nal no mercado privado. “A pressão aumentava a competências, como se avalia, o que se prioriza hoje
cada dia, especialmente à medida que se começou na formação e compreender que tudo isso tem a fina-
a falar de sala de aula invertida, competências do lidade de preparar os jovens para o desconhecido, um
século XXI e novos papéis da Educação”, lembra a mundo em movimento.”
diretora de negócios Márcia Carvalho. Os primeiros Em 2018, mais avanços deram novos contornos
objetivos traçados foram instalar equipamentos de à plataforma. Um deles foi a parceria com o Google
ponta nas escolas, oferecer tecnologia embarcada for Education, com ferramentas que facilitam a co-
nos livros didáticos e ensinar os professores a se re- laboração na sala de aula (por exemplo, Gmail e Do-
lacionar com tudo aquilo em sala de aula. cumentos Google) e aplicativos como Google Earth
O projeto começou efetivamente a rodar em e WeVideo. Outra evolução que marcou aquele ano
2013, quando a entrega dos primeiros tablets e pro- – uma das mais ambiciosas até agora na história do
jetores simbolizou o pontapé da inserção digital de Moderna Compartilha – foi a criação do programa
68 escolas parcerias naquele ano. “Os novos dis- de Desenvolvimento Gradativo para Professores, e a
positivos não só substituíram o computador como parceria global com o .

Saiba mais sobre cidadania digital em iste.org. Fontes: Porvir, Pew Research, Microsoft, Symantec e Association for Psychological Science.
levaram o conceito de mobilidade para dentro das
instituições”, destaca Márcia. A O DA E O A

Dados Brasil: Banda Larga no Brasil: um estudo sobre a evolução do acesso e da qualidade das conexões à internet - nic.br / cetic.br
Para ampliar a oferta de conteúdo, firmaram- “O Moderna Compartilha facilitou a comunicação en-
-se acordos com parceiros a partir de 2014. “Além tre estudantes e professores por meio da plataforma
de livros e enciclopédias digitais, trouxemos jogos interativa e do fórum. O projeto também ampliou a
pedagógicos do Xmile, livros-aplicativos em 3D da capacidade investigativa dos alunos graças aos mate-
EvoBooks, avaliações e simulados para o Funda- riais que favorecem a pesquisa antes das aulas, o que
mental II e Ensino Médio, propostas de produção é essencial para a metodologia ativa aplicada na nossa
textual do EntreLetras, a plataforma LMS (Learning escola.” Edmundo F. de Castilho Filho é vice-diretor
Management School) de gerenciamento de conteú- do Colégio ISBA, Salvador (BA).
do, entre outros”, enumera. ***
Uma nova fase começou em 2016, quando se in- “A possibilidade de saber, em tempo real, como os
tensificaram as reflexões sobre o que significa estar docentes estão trabalhando traz mais assertividade ao
inserido no universo digital. “Antes de mais nada, trabalho do gestor. Além disso, as novidades postadas
é reconhecer-se como parte de um ecossistema, no a cada dia permitem ao coordenador pedagógico orien-
qual cada instituição desenvolve sua própria cultu- tar projetos de incentivo ao professor, gerando mais
ra digital”, comenta Anna Katarina. Ela explica que interação e prática no dia a dia.” Teresa Cristina Hallal
esta última tem relação direta com a forma como é coordenadora pedagógica na Associação Literária e
a comunidade escolar se organiza, os usos que faz Educativa Santo André, em São José do Rio Preto (SP).
dos dispositivos tecnológicos e da rede, o aprovei- ***
tamento para fins pedagógicos, de entretenimento “A parceria com o Moderna Compartilha sempre foi
e socialização, entre outros fatores que acabam for- agregadora, com muitas trocas de experiências e apoio
mando sua identidade digital. dos coachings e consultores. Isso nos trouxe a opor-
No ano seguinte, o Moderna Compartilha inovou tunidade de rever práticas pedagógicas e introduzir,
com os Chrome Books. “Além de ser uma evolução com mais eficiência, a tecnologia nas salas de aula. O
tecnológica, foi um caminho que adotamos para resultado é uma maior conexão entre os professores
que os professores passassem a produzir conteúdo, e também com os alunos – estes inclusive passaram
em vez de só consumir”, conta Márcia. a compartilhar conhecimento e interagir mais para o
Outra estratégia para aumentar o engajamento crescimento de todos.” Karin Vianna é coordenadora
da comunidade escolar no aprendizado dos estu- pedagógica no Colégio SER, em Jundiaí (SP).

66

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ci a = um bom cidadão digital
Defende direitos iguais para todos.
 Defende direitos iguais e acesso digital para todos.


%               .

Trata os demais com respeito.


 Busca entender todos os pontos de vista.


%         .

Não rouba ou danifica a propriedade dos outros.


 Respeita a privacidade digital, a propriedade
intelectual e outros direitos de pessoas online.

Comunica-se claramente, com respeito e empatia.


 Comunica-se e age com empatia no ambiente digital.


%           .

Demonstra honestidade e não espalha


rumores sem comprovação.  Avalia criticamente fontes de informação e não
dissemina notícias ou anúncios falsos.


%    " "  .

Atua para tornar o mundo um lugar melhor.


 Aproveita os benefícios da tecnologia para
defender e impulsionar causas sociais.

%           .

Protege a si e aos outros de perigo.


 Tem consciência dos riscos ou benefícios propor-
cionados pelo uso de ferramentas digitais.

%           ,  %  -.

Participa de projetos para a comunidade.


 Aproveita as ferramentas digitais para
colaborar com outras pessoas.

%          %       .

Projeta uma imagem pessoal positiva


todos os momentos.  Compreende a perenidade do digital e administra
proativamente sua identidade digital.

%     " "    %      .

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Apresentação disponível em Ciclos Formativos, acesse:
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A ORA E A E DO

NA A A DE AU A
Projetos inovadores e sável pela mediação e apoio às equipes, exercendo
a colaboração para que a turma aprenda durante
em grupo vão além de todo o processo de forma integrada e coletiva.
A adoção do  prevê um conjunto de co-
investimentos: são uma nhecimentos técnicos essenciais para despertar a
criatividade, a empatia, o humanismo e o desen-
mudança de atitude. volvimento de tendências como o pensamento
computacional e a cultura maker. Nas escolas bra-
texto Débora Garofalo sileiras, o  tem potencial transformador ao
aumentar o protagonismo do aluno, incentivar a
inovação e a colaboração, fortalecendo o proces-
   (do inglês Science, Technology, so de ensino e aprendizado. Segundo os dados do
Engineering, Arts e Mathematics) foi criada nos Estados Programa de Avaliação Internacional de Estudan-
Unidos na década de 90, a partir de pesquisas e avaliações tes (), 2015, entre os 70 participantes, o Brasil é
que registravam um desinteresse dos alunos pelas ciências o 63o colocado em Ciências e o 66o em Matemática,
exatas. A metodologia ou abordagem pedagógica, baseada sendo emergencial que sejam revistos o processo
em projetos, integra áreas e tem por objetivo formar pessoas de aprendizagem e as práticas docentes para rever-
com diversos conhecimentos e diferentes habilidades. Por ter essa situação.
isso, casa perfeitamente com as exigências da Base Nacional A chave para o sucesso de uma educação ino-
Comum Curricular (), ao desenvolver competências e vadora é criar um ambiente que permita a partici-
habilidades socioemocionais que preparam os alunos para os pação dos atores envolvidos, para que conheçam e
desafios futuros. que contribuam, dando-lhes a sensação de perten-
As atividades guiadas na metodologia  permitem cimento e autoria. Não existe um modelo pronto
resolver problemas ao conectar ideias que parecem desco- para aplicar e a mudança de atitude deve partir de
nectadas, ajudando a “pensar fora da caixa”, beneficiando o todos para alcançar uma aprendizagem significa-
aprendizado interdisciplinar e trazendo os estudantes para o tiva e envolvente, quebrando velhos paradigmas e
centro do processo cognitivo. O professor atua como respon- ambientes pouco propícios.

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Educatrix16_pag68-71_Tendências.indd 68 4/1/19 3:37 PM


competências ATUA O
bncc TEAM
Compreender ações para atuar
Conhecimento
e colaborar com a sociedade

as i e e as e e s ea es e Pensamento científico, Investigar, elaborar, testar


Além da diferença na nomenclatura — pela in- crítico e criativo hipóteses, resolver problemas
clusão de Arte, que tem a concepção de melhorar
o desempenho escolar, o senso estético e crítico, Valorizar e participar de diferentes
tornando a lógica matemática mais humana —, po- Repertório cultural
práticas culturais
demos dizer que o termo  trata de como fazer
e o  incentiva a descoberta do porquê rea- Utilizar diferentes linguagens
lizar em cinco etapas: 1 Investigar; 2 Descobrir; Comunicação
e áreas do conhecimento
3 Conectar; 4 Criar; 5 Refletir.
Ambas metodologias permitem aos alunos viven- Usar tecnologias digitais de forma
ciar e experienciar o pensamento científico e crítico Cultura digital
crítica, responsiva e ética
de maneira interpretativa e reflexiva, por meio da
ludicidade e ou projetos interdisciplinares que po- Compreender o mundo, exercer
dem ser aplicados desde a Educação Infantil até o Trabalho e projeto de vida
autonomia e cidadania
Ensino Médio, em todas áreas do conhecimento.
Argumentar com bases nos fatos
ai p cia s ea Argumentação
e informações
c e esc la
O , em consonância com a , tem foco Autoconhecimento Compreender e atuar
no desenvolvimento de habilidades essenciais ao e autocuidado na diversidade humana
século . As atividades baseadas na metodologia
devem ser planejadas para que os alunos se sin- Exercer diálogo, cooperação,
Empatia e cooperação resolução de conflitos,
tam desafiados e trabalhem de forma colaborativa, desenvolvimento socioemocional
compreendendo o seu projeto e buscando alcançar
conhecimentos e habilidades de forma interativa e Tomar decisões individuais e
Responsabilidade e cidadania coletivas, com princípios éticos,
autônoma. Dessa forma, o  dialoga e facilita o democráticos e sustentáveis
desenvolvimento das 10 competências da .

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A abordagem  favorece a aprendizagem por expe-


rimentação por meio de metodologias ativas, em que o alu-
no tem a oportunidade de lidar com situações e problemas de
④ Problematize. As perguntas são essenciais
para avançar nas hipóteses e para o docente
mediar a aprendizagem. Esse momento pode ge-
forma criativa, sem perder o foco investigativo. O ambiente é rar debates e intervenções para instigar os grupos
fundamental e deve ser inspirador e facilitador, porém, não a encontrarem caminhos diversos. O desafio tem
é suficiente para proporcionar a aprendizagem. O professor de ser interessante, sem respostas prontas, permi-
deve estabelecer objetivos claros e integrar as áreas para que a tindo espaço para imaginação e criatividade para
aprendizagem ocorra. produzir, testar e refazer. Ao final, sistematize os
É necessário também que os projetos contemplem a edu- conhecimentos para que os alunos se sintam moti-
cação ambiental pautada nos Objetivos de Desenvolvimento vados a compartilhar aprendizados com um debate
Sustentável (ODS), a fim desenvolver colaboração, reflexão, ou apresentação.
ética e empatia, trazendo esses pontos para o centro da dis- Planejamento. Estabeleça roteiros e parce-
cussão. Os ODS são uma coleção de 17 metas globais estabe- rias com a turma já que a proposta é realizar
lecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas. O  um projeto integrado, com etapas definidas, pes-
permite viabilizar, por exemplo, projetos a baixo custo com quisa e produção e testes de aplicação.
materiais alternativos, como sucata, de maneira sustentável e Foque na integração de conhecimentos e
dentro da sala de aula. traga problemas reais. Na hora da prática,
é essencial equilibrar conhecimentos das cincos
apli c a s ea ap ica áreas. Defina o contexto e parta de desafios reais
Por ser baseada na aprendizagem criativa e em tendências edu- para que os alunos possam atuar na sociedade ou se
cacionais como programação, robótica, inteligência artificial envolverem com problemas do entorno da escola,
etc., a metodologia  pressupõe a investigação científica, aplicando conceitos ao propor soluções.
o trabalho por projetos e o movimento maker. Assim, a ado- Trabalhe com habilidades socioemocionais.
ção do modelo deve partir inicialmente da intencionalidade do O  é um propulsor para o desenvolvi-
professor, mas deve-se ouvir os estudantes e sistematizar essa mento de habilidades socioemocionais por permi-
escuta para aplicar o  nas aulas. tir que atividades sejam desenvolvidas em grupos,

① Valorize o espaço de aprendizagem. O espaço de apren-


dizagem é o lugar para aceitar o desconhecido, reconhe-
cer o erro e trabalhar colaborativamente. Deve ser regulado
em que os papéis podem e devem ser revisados. As
atividades devem ter objetivos claros e abordar no-
vas maneiras de articular o currículo proposto para
por dois valores: segurança e respeito. Os alunos e professores desenvolver competências como empatia, colabo-
devem priorizar uma convivência harmoniosa e produtiva, ração e criatividade.
cuidando uns dos outros, do espaço e de si mesmo. Ao saber

O IN O eI O
qual a atitude necessária para o trabalho no ambiente, as in-
tervenções docentes fazem sentido para o aluno.
O professor deve ser um mediador que permita aos alunos
aprender pela experiência, prezando a relação humana e a ho- das competências socioemocionais
rizontalidade. A hierarquia se dá por reconhecimento e não por
autoridade. Busca-se a autonomia a partir da empatia, criando
vínculo com os alunos, reconhecendo o contexto de cada um,
descobrindo o que tem sentido e significado para eles. Ao am-
pliar seu horizonte de conhecimento, o estudante ganha auto-
①   : curiosidade para aprender,
imaginação criativa e interesse artístico

confiança e segurança para ousar e propor novas soluções.

② Transforme conceitos em aulas práticas. O professor


deve olhar para o currículo e possibilitar aos alunos, por
②   : determinação,
organização, foco, persistência e responsabilidade

meio da resolução de problemas, trabalhar de forma prática,


permitindo que testem suas hipóteses com ações mão-na-
-massa (learning by doing), unindo os conceitos das diversas
③     :
iniciativa social, assertividade e entusiasmo

áreas do conhecimento para resolver o desafio proposto.

③ Crie oficinas. Para iniciar essa abordagem em sala de


aula, realize uma oficina com a turma dividida em gru-
④ : empatia, alteridade,
respeito e confiança

pos. Leve um problema relacionado ao conteúdo trabalhado e    : auto-
proponha que viabilizem a solução de maneira prática. Vale ma- confiança, tolerância ao estresse e à frustração
nusear materiais simples de sucata e fazer questões norteadoras
e provocativas para que os alunos se envolvam nas atividades.

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a i es e a s a outro. Daí se seguiu a discussão sobre o que eram as tais cor-
Convidamos Andrea Barreto, professora da rede rentes marinhas. Eu tentava começar a minha aula – que seria
municipal do Rio de Janeiro e coordenadora do Nú- sobre célula –, mas a turma estava alheia e logo percebi que era
cleo do Rio de Janeiro da Conectando Saberes, para melhor seguir a maré e abordar as tais “correntes marinhas”.
contar duas experiências práticas que mostram Pedi para tentarem me explicar como se formavam as cor-
como a metodologia  pode ressignificar de rentes e anotei no quadro. “São os ventos!”; “É a rotação da
forma simples e coletiva a aprendizagem. Terra!”; “É a Lua!”; “É a inclinação da Terra!” – eles me di-
 no Fundamental 1. Certa vez, quando ziam. Anotei tudo. Dividi a turma em equipes e pedi para cada
eu lecionava para o 9o ano de uma escola, a equipe provar sua teoria. Eles anotaram a hipótese escolhida e
professora do 4o ano me procurou com uma preo- foram em busca das respostas. Na aula seguinte, cada equipe
cupação. Os alunos dela perguntavam se a borboleta apresentou o que tinha coletado e o que ficou na cabeça de to-
“nascia da lagarta ou da minhoca”. Pergunta fantás- dos foi a diferença de temperatura.
tica! Ela esclarecia que era da lagarta, mas um gru- Usei animações feitas na internet para explicar a diferen-
po jurava que viu uma “minhoca se transformar em ça dos movimentos das moléculas na água quente e fria: algo
borboleta”. Chegamos à conclusão de que seria óti- muito pouco palpável e complicado de se explicar. Eles me di-
mo realizar uma experiência com as crianças. Para ziam que na água quente as moléculas se “movimentam mais”
ajudá-la, coletei algumas lagartas, que se transfor- que na fria, porém não se convenciam. Lancei o desafio: “Vo-
mariam em casulos, e coloquei, com algumas folhas, cês têm certeza do que estão falando? Provem!”
em uma caixa de sapatos sem o tampo, que substituí Estimulei que montassem uma experiência para provar a
por uma rede de filó. Pedi para ela levar as minhocas diferença entre o movimento das moléculas. Pedi para trazer o
com a terra. Orientei-a para não fazer grandes co- passo a passo por escrito e reunimos o material: água quente e
mentários e falar que queria ver se alguma “minho- gelada, copos de vidros iguais, anilina azul e vermelha (as co-
ca” se transformaria em borboleta. Ao mostrar para res foram escolhidas por eles). Na aula seguinte, montamos a
a turma, um dos meninos falou logo que “aquelas experiência. Falei para observarem. Eu enchi os copos de água
minhocas não eram do tipo certo” e ela pediu que quente e o restante cada equipe fez.
eles trouxessem o tipo certo. Assim foi feito. Um copo com água quente e outro com água gelada na mesma
Nos dias seguintes, a turma fazia e anotava as ob- quantidade, duas gotas de anilina em cada copo – na água quente,
servações e colocavam mais folhas para as lagartas. a vermelha e na fria, a azul –, colocadas ao mesmo tempo, e silên-
“Por que mais folhas?” — se perguntavam. “Pode ser cio absoluto na sala. Eles não sabiam se riam ou se falavam ao mes-
qualquer folha?”; “E a minhoca não come?”. Com o mo tempo. Pedi para cada equipe relatar o que aconteceu. Na água
incentivo da professora, pesquisas, anotações e com- quente, a anilina se misturou rápido. Na fria, não. Mostrei as ani-
partilhamentos comprovaram que as minhocas não mações. Conversamos, interagimos e concluímos a experiência.
comem terra. Passamos a pesar o pote semanalmen- Nesses dois casos, percebemos que não foram necessários
te. “Tem mais terra?”; “Não é cocô de minhoca?”. altos recursos para aplicar o . Em ambos, levantou-se
Vejam o quanto está sendo trabalhado: observação, perguntas feitas pelos estudantes que poderiam ser respondi-
linguagens, matemática, competências socioemo- das rapidamente pelo professor. Ressignificar o processo é le-
cionais como respeito, resiliência, liderança, tudo a var em conta que aprender só faz sentido se encantar o aluno.
partir de um desafio teimoso de um grupo de alunos. Deixe-os errar e questione com eles o que deu errado. Faça a
Um dia, os casulos apareceram e a turma ficou mediação, mas não deixe que eles parem de perguntar. Se o
eufórica. Os alunos não paravam de perguntar e fui aluno pergunta, é o momento de ensinar.
até a sala para responder algumas perguntas. “Está É preciso explorar novas abordagens na educação, median-
tudo morto, professora?”; “Acabou”? A essa altu- do o espaço entre o aluno e a informação, de forma participati-
ra, a escola toda sabia do nosso projeto. Alguns dias va, envolvente e interativa, próxima da realidade no processo
depois, as borboletas apareceram. Soltamos em de construção e reconstrução do seu conhecimento ao tra-
uma manhã de risadas, pulos e lágrimas. “Nossas balhar com as diversas facetas do processo de aprendizagem.
lagartas irão embora!”. No fim, anotaram as con- Com soluções criativas, é possível reinventar a educação.
clusões e nós atingimos vários objetivos, entre eles
o de vivenciar o  na prática.
 no Fundamental 2. Em uma turma do 7o
    
ano, os alunos entraram na sala falando sobre é professora da rede pública de Ensino de h Agenda 2030 — Objetivos
o livro Cem dias entre Céu e Mar (Amyr Klink), que São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, do Desenvolvimento
mestranda em Educação, colunista de Sustentável: https://
a professora de Língua Portuguesa estava lendo com Educação inovadora no blog Redes Moderna nacoesunidas.org/
eles. Eu só ouvia: “O cara remou muito!” – dizia um. e finalista do Prêmio Global Teacher Prize. pos2015/agenda2030/
“Nada, foram as correntes marinhas!” – retrucava

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formação para
empoderar
o professor!
Nosso objetivo é formar
o educador, nos seus
by Kanttum moldes e no seu tempo.

O Programa de Desenvolvimento Gradativo é


exclusivo para as escolas parceiras e traz maior
flexibilidade ao educador.

Desde os primeiros passos, o professor recebe


orientação e acompanhamento em sua trajetória
de aprimoramento. Tudo isso, seguindo os padrões
internacionais do nosso parceiro global ISTE
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para o educador

Acompanhamento
do progresso da equipe
pela coordenação

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FO CO

Participação
estudantil
Saiba como envolver adolescentes e
jovens nas decisões da escola e promover
uma cultura de participação capaz de
ampliar o engajamento, promover a
aprendizagem, melhorar a educação
e contribuir para a democracia.
texto Porvir

  no Brasil têm problemas crônicos, que compro-


metem a qualidade e a equidade da educação pública, além
de manterem práticas antigas e desconectadas das demandas
dos alunos e do mundo contemporâneo. Ainda não sabemos
como solucionar esses grandes dilemas, mas uma coisa é cer-
ta, teremos dificuldade de avançar sem envolver os alunos
nesse processo.
As principais tendências de inovação em educação estão
intrinsecamente relacionadas à intensificação da participa-
ção dos estudantes. A personalização da aprendizagem, por
exemplo, requer que os alunos sejam cada vez mais conside-
rados em suas especificidades e tenham crescente autonomia
e flexibilidade para escolher o que e como aprender. As novas
tecnologias também criam condições para que os alunos se-
jam mais autônomos e possam fazer escolhas.

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FO CO

O aprendizado mão na massa cria espaço para a autoria, precisam ser discutidos pela comunidade escolar,
estimulando que os estudantes coloquem em prática seus co- tanto para que possam ser reconhecidos e resolvi-
nhecimentos e habilidades por meio da criação de projetos e dos, quanto para que não se transformem em algo
produtos. Currículos voltados para a vida no século 21 tam- maior e acabem comprometendo as relações de
bém demandam pedagogias mais ativas, que não só ampliam a confiança entre gestores, professores e estudantes.
participação dos estudantes, mas desenvolvem sua capacidade Escutar os estudantes significa criar oportunidade
crítica, criativa e propositiva. para que possam compartilhar opiniões sobre dife-
Até mesmo as tendências em relação à gestão e ao ambiente rentes assuntos, desde os mais corriqueiros, como
escolar demandam maior engajamento dos alunos nos proces- a infraestrutura da escola e as atividades em sala de
sos decisórios, relações mais horizontais e colaborativas, além aula, até os mais complexos, como mudanças no
de espaços e infraestrutura mais conectados com o universo currículo e na organização escolar. Para engajarem
das crianças, adolescentes e jovens. os alunos, essas consultas precisam ser realizadas
Promover a participação dos estudantes requer a disposi- com o suporte de dinâmicas, instrumentos e lin-
ção de gestores e professores para compartilhar informações e guagens compreensíveis e estimulantes para eles.
poder. Abertura, diálogo, entendimento e cooperação são pa- Também precisam ser inclusivas, para que captu-
lavras-chave para qualificar o processo, que deve buscar equi- rem múltiplas vozes, mesmo as mais silenciosas e
librar as responsabilidades que serão sempre dos educadores dissonantes. Nesse caso, a opinião dos alunos mais
com as contribuições que podem vir dos alunos. “comportados, extrovertidos e eloquentes” não
Se por um lado é fundamental não subestimar a capacida- deve se sobrepor à dos mais “rebeldes, tímidos ou
de dos estudantes, mesmo quando são crianças ou parecem que apresentam dificuldade de se expressar”. Todas
pouco engajados, por outro não podemos romantizá-los, nem as perspectivas precisam ser contempladas. Aque-
transformar a participação em um fardo. O engajamento pre- les que escutam devem ainda ter a sabedoria de não
cisa fazer sentido e estar à altura da capacidade dos alunos, se colocar na defensiva, nem se sentir pressionados
bem como contribuir para a sua aprendizagem e desenvolvi- a acatar tudo o que é sugerido. No entanto, devem
mento, objetivos primordiais da escola. realizar devolutivas consistentes, que deem trans-
A participação também deve considerar a cultura dos es- parência às percepções e propostas coletadas e in-
tudantes, ao invés de forçá-los a se encaixar em modelos pró- diquem como serão encaminhadas. Um processo de
prios do mundo adulto. Ludicidade, arte, cultura e mídias escuta dos estudantes pode ter efeito reverso quan-
digitais são alguns dos elementos que potencializam a contri- do não gera consequências concretas.

e colha
buição, especialmente de crianças, adolescentes e jovens. A
intenção é levá-los a sério e respeitar as suas próprias formas
de organização, expressão e contribuição.
Para aliar teoria e prática, reunimos as principais formas de
participação dos alunos na escola em quatro elementos: pe i i e s es a es
a a esc l as e ela

e cuta
c s l a s es a es s e
a se p cess e ca i
Os estudantes são diferentes e aprendem de for-
mas diversas. Às vezes, o que se encaixa bem para
uns não funciona para os demais. Outras vezes, o
se p p i p ce s s e ca i que os educadores propõem não faz sentido para os
Atualmente, os mais diversos setores da sociedade adotam a alunos. Quando eles têm a oportunidade de esco-
prática de ouvir seus usuários para entender se estão satisfeitos lher entre duas ou mais opções, não apenas encon-
com o serviço ou produto que lhes é oferecido. As redes de en- tram alternativas mais interessantes, mas também
sino e as escolas, no entanto, raramente perguntam a opinião se sentem mais valorizados e engajados no proces-
dos seus alunos sobre o que acontece no seu cotidiano, muito so. Nem tudo pode ser escolhido pelos estudantes.
menos sobre novas decisões que afetarão a sua vida escolar. Em Eles sabem disso e entendem que grande parte do
grande parte das escolas, os descontentamentos e as sugestões que acontece nas redes de educação e nas escolas
dos alunos não ultrapassam o limite das conversas de corre- deve ser proposto por profissionais experientes.
dor. A falta de diálogo costuma favorecer a apatia e o conflito. Ainda assim, desejam ter mais flexibilidade e au-
O problema se acirra quando o nível de insatisfação aumenta tonomia, inclusive para se sentirem mais identifi-
e provoca reações mais radicais, como indisciplina, depreda- cados e motivados em relação à sua aprendizagem.
ção, protestos e ocupações. Mesmo os problemas mais difíceis Quando gestores e professores são mais prescriti-

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vos e já trazem tudo pronto, correm o risco de não
se conectar com os interesses, desejos e necessi-
Orresponsa-
bilização
dades de seus alunos, gerando desengajamento e
dificuldade de aprender. As escolhas podem ter
caráter simples, como a opção entre uma aula no
pátio ou no laboratório de informática, entre dois
ou mais tipos de exercício ou trabalho em grupo, e l e s es a es a sc a e
entre atividades de discussão ou de dramatização, s l es pa a s esa i s a es c l a
por exemplo. Mas também têm a possibilidade de Redes de ensino e gestores escolares são responsáveis por
envolver decisões mais complexas, como as disci- assegurar que as escolas cumpram o seu papel e garantam o
plinas a serem cursadas, no caso da flexibilização direito de cada criança, adolescente e jovem a uma educação
curricular. Para escolher, os alunos precisam de- básica de qualidade. Os estudantes, porém, não precisam ser
senvolver sua capacidade de analisar, tomar deci- beneficiários passivos desse processo. Além de ouvir suas opi-
são e assumir as consequências sobre as suas esco- niões e permitir que façam escolhas e tenham experiências
lhas. Quando a escola oferece esse tipo de situação autorais, as instituições de ensino também devem engajá-los
para seus estudantes, também os prepara para ser em discussões e iniciativas voltadas a melhorar o seu cotidia-
mais assertivos em relação às demais escolhas que no educacional. Escolas que adotam modelos de gestão mais
farão ao longo da vida. democráticos já costumam abrir espaços interessantes para a

coautoria
participação efetiva dos alunos via grêmios, assembleias, con-
selhos e instâncias afins. No entanto, boa parte das discussões
em que eles se envolvem ainda trata de temas laterais, como
festas e eventos esportivos. Experiências mais aprofundadas
e a a pa icipa s têm conseguido engajar os alunos na solução de questões real-
es a e s e p ce s s s a ais mente desafiadoras, como a indisciplina, a depredação físi-
Os estudantes tendem a se engajar mais na sua ca, as dificuldades de aprendizagem e o orçamento da escola.
aprendizagem quando têm espaço para criar. A au- Além de trazerem novas perspectivas sobre esses problemas e
toria começa com pequenas produções em ativida- suas causas, os estudantes conseguem apoiar os educadores a
des educativas cotidianas, como desenhos, carta- formular soluções mais efetivas e a implementá-las. Uma nova
zes e dramatizações. Ganha potência com criações regra ou iniciativa decidida apenas pelo diretor tem menos
mais robustas, como peças de teatro, composições chance de ser abraçada pela comunidade escolar do que algo
musicais, vídeos, blogs, revistas em quadrinhos e que é construído coletivamente, inclusive com a participação
animações. E cresce ainda mais quando os alunos dos alunos, os quais têm ainda a importante missão de mobi-
se envolvem na elaboração de projetos, seja para lizar os seus pares. Nesse caso, o efeito reverso pode se ma-
desenvolver um produto, como um livro, jogo, nifestar quando gestores tomam suas decisões e convidam os
robô ou foguete de garrafa , seja para resolver estudantes apenas para endossá-las e difundi-las, sem que o
um problema concreto, como a melhoria de uma diálogo tenha de fato acontecido. Mais uma vez, é preciso res-
praça, a preservação do meio ambiente ou a redu- peitar as opiniões e propostas dos alunos e engajá-los em ati-
ção de conflitos. Os estudantes também começam vidades de discussão e busca de solução que os façam se sentir
a ser convidados a criar práticas educativas junto seguros, confortáveis e motivados. Não podemos esquecer que
com seus professores. Mais familiarizados com as eles são crianças, adolescentes e jovens e, portanto, contri-
tecnologias e outros recursos pedagógicos contem- buem melhor quando envolvidos em ambientes que conside-
porâneos, apoiam seus educadores a planejar ativi- ram as suas peculiaridades. Reuniões prolongadas e com mui-
dades mais interessantes e variadas. Em encontros to falatório técnico costumam inibir a participação da maioria
de cocriação, professores e alunos refletem sobre o dos estudantes. Por outro lado, eles podem ser extremamente
que não está funcionando em sala de aula e, juntos, colaborativos quando envolvidos em atividades dinâmicas e
desenham novas possibilidades. Além de desenvol- criativas, nas quais se expressam por meio das suas próprias
ver diversas capacidades importantes, como criati- linguagens, narrativas e estratégias.
vidade e colaboração, o engajamento dos estudan-
tes como coautores do seu processo educativo os
aproxima da escola, ao mesmo tempo que apoia a   
transformação do ambiente escolar para conectá-lo h Conheça o conteúdo completo do guia aqui: porvir.org/especiais/participacao
com a realidade dos alunos do século 21.

77

Educatrix16_pag74-77_Foco.indd 77 4/1/19 3:40 PM


NA TEL A

Educomunicação:
uma nova era
na sala de aula
Como a comunicação
e a educação podem O M PE T N I A DO U O I (atc s)
caminhar juntas para categ oria competê n cia s
o desenvolvimento
Formas de Cidadania (local e global);
de competências Viver no Vida e Carreira;
essenciais para a Mundo Responsabilidade pessoal e corporativa
(consciência cultural e competências).
vida em sociedade.

Fonte: Binkley, M., Erstad, O., Hermna, J., Raizen, S., Ripley, M., Miller-Ricci, M., & Rumble, M. (2012).
texto Lucí Ferraz de Mello
Formas de Criatividade e inovação;
Pensar Pensamento crítico, resolução de
  educomunicação está cada vez problemas e tomada de decisões;
mais presente na vida dos educadores bra- Aprender a aprender/metacognição
sileiros. A origem da palavra é desconhe- (conhecimento sobre processos cognitivos).
cida, mas ela e sua abreviação — educom
— começaram a ser adotadas de forma
pontual, no final dos anos de 1970 e início
dos anos de 1980, por algumas instituições Formas de Comunicação dialógica;
de ensino e movimentos sociais na Europa, Trabalhar Colaboração (trabalho em grupo);
na América Latina e até pela  para Relações interpessoais;
nomear processos educacionais mediados Protagonismo juvenil;
pelas chamadas tecnologias de informa-
ção e comunicação () e estruturados por
meio de competências ligadas às catego-
rias: formas de trabalhar, formas de pensar Ferramentas Letramento sobre informação;
e formas de viver no mundo, definidas no de Trabalho Letramento sobre Tecnologias
estudo Assessment and Teaching of 21st da Informação e Comunicação.
Century Skills ().

78

Educatrix16_pag80-85_NaTela.indd 78 4/1/19 3:44 PM


eSPIRaL Da
INTeRFaCe
COMUNICaÇãO
-eDUCaÇãO
c omunic ação/
aprendizagem

feedback do
interlocutor/receptor
ao emissor
(ou) comparação, reflexão,
validação, reorganização
e ressignificação

mediações (cognitivas/
afetivos/socioecmocionais/
culturais)

mensagem/
facilitação tutor

Fonte: in fo rmaç ão /
co n te úd o
Espiral de Interface
Comunicação-Educação
(MELLO, 2017).

79

Educatrix16_pag80-85_NaTela.indd 79 4/1/19 3:44 PM


NA TEL A

c c e
A educomunicação surge com movimen- Esse breve resgate histórico permite práticas educomunicativas têm uma pro-
tos sociais estruturados em práticas de identificar que, por emergir de movi- posta diferenciada sobre como trabalhar
aprendizagem pontuais do terceiro setor, mentos da sociedade civil, a partir de essa conscientização, a partir das ideias
voltadas à leitura crítica dos meios de co- inúmeras práticas de resistência à in- de especialistas da Comunicação e da
municação na região ibero-americana, serção de culturas oriundas do hemisfé- Educação que estruturam a organização,
em finais dos anos 1970 e início dos anos rio norte (principalmente Estados Uni- sistematização e disseminação das carac-
de 1980, planejadas e implementadas por dos e Europa), não há como determinar terísticas dessas dinâmicas em vários es-
especialistas em educação e/ou comu- um único fundador do movimento. paços da sociedade. Na área da Educação,
nicação. Para tanto, eram utilizadas as Para se ter uma ideia desse contexto, temos John Dewey, Célestin Freinet, Jean
tecnologias de informação e comunica- em 1997 e 1998, o Núcleo de Comunica- Piaget, Lev Vygotsky, Jerome Bruner,
ção em espaços de educação não formal ção e Educação, da Universidade de São dentre outros. E na área da Comunica-
e informal, sugerindo a produção de jor- Paulo, efetuou pesquisa temática que ção, temos Jesus Martin-Barbero, Jorge
nais murais, rádios e vídeos escolares, o contou com cerca de 176 especialistas, Huergo, Mário Kaplun, Guilherme Oroz-
que deu origem aos grupos de repórteres a qual mapeou aspectos relevantes das co-Gomez, Roberto Aparici, Maria Apa-
mirins. O objetivo inicial era a dissemi- práticas que apresentam as interfaces recida Baccega, Adilson Citelli e Ismar O.
nação, a preservação e o fortalecimento comunicação-educação. Soares, dentre inúmeros outros.
das culturas dos países da região ibero-a- Em tempos de redes sociais e do au- Huergo (2000), por exemplo, foi um
mericana frente à disseminação de men- mento do uso das chamadas TDIC no dia dos primeiros especialistas desse grupo
sagens culturais diversas propagadas pe- a dia das pessoas, é essencial que crianças a ressaltar a necessidade de um modelo
los países do hemisfério norte, por meio e jovens entendam como se dá a estrutu- de comunicação no qual todos partici-
de recursos comunicacionais massivos, ração dos processos comunicacionais das pantes de um processo de aprendizagem
como televisão, rádio e cinema. mensagens transmitidas, sendo que as pudessem interagir de forma igualitá-
Esses especialistas defendiam – e se- ria, ao longo do qual as crianças e jovens
guem defendendo – que a melhor forma atuassem como sujeitos desse processo
de as crianças e jovens aprenderem o de aprendizagem, alternando as posi-
que é a leitura crítica dos meios e o pro- ções de receptores e emissores cons-
cesso comunicacional em si, é produ- tantemente durante as trocas reflexivas.
zindo peças comunicacionais impressas, Para tanto, há que se adotar estratégias
em áudio ou vídeo. Para tais comunica- pedagógicas intensamente dialógicas e
dores e educadores, apenas a vivência dialéticas, as quais viabilizem o desen-
dessas dinâmicas proporcionará a com- volvimento de objetivos de aprendiza-
preensão sobre como se pode trabalhar gem almejados.
uma comunicação impactante a partir Ainda sobre as interfaces comunica-
da emissão de uma determinada mensa- O OBJETIVO ção-educação, Paulo Freire, um dos au-
gem com base em intenções específicas, tores básicos da educomunicação, dizia
considerando signos e símbolos especí- DA AÇÃO que educar é comunicar. E o que seria
ficos, de maneira que a mensagem seja isso exatamente? Essa afirmação pode
compreendida por determinados perfis EDUCOMUNICATIVA ser explicada pela Figura 1, que reflete a
de receptores, frente a seus esquemas integração do que seria o processo co-
referenciais internos (culturais, cogniti- É PROMOVER O municacional dialógico em espiral com a

EMPODERAMENTO
vos, afetivos etc.). espiral de aprendizagem de Jerome Bru-
Essa produção de notícias não pode ner, já considerando as ideias de Martin-
ser meramente instrumental. Há que se -Barbero sobre a Teoria das Recepções e
trabalhar conjuntamente toda a reflexão DE PROFESSORES, as mediações culturais, cognitivas e emo-
sobre como as abordagens e as intenções cionais, de cada sujeito de um processo
influenciam no resultado da comunica- ALUNOS E de aprendizagem.
ção. Ou seja, ao longo do processo é pre- A ilustração busca aproximar e inte-
ciso realizar rodas de conversa que pro- MEMBROS DA grar as características do processo da es-
movam avaliações sobre como as etapas piral de aprendizagem de Bruner (2007)
foram influenciadas pelas intenções e - estruturado com base nas ideias de

ESCOLAR.
sobre como isso promove a composição Jean Piaget, Lev Vygotsky e Jerome Bru-
de uma mensagem qualquer. ner —, com os aspectos que compõem o

80

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processo comunicacional, para mostrar das à leitura crítica dos meios, com uso mensagem pode influenciar a opinião e
como eles se misturam e se estruturam de tecnologias de informação e comuni- decisão dos leitores.
no processo de aprendizagem. O objeti- cação – analógica e/ou digital. Um exemplo de estratégia pedagógi-
vo é mostrar como a mensagem acerca Daí Mello (2016) destaca a importância co-comunicacional com base nas pre-
de um determinado conteúdo pode e/ou de planejar processos, atividades e ações missas educomunicativas, passível de
deve ser trabalhada em termos de signos comunicacionais com objetivos detalha- ser desenvolvida com os alunos, é defi-
e símbolos pelos professores, para ativar dos que estruturarão todo o processo de nir um tema de interesse de discussão,
diferentes domínios cognitivos dos alu- aprendizagem, levando em conta mo- para então fazê-los buscar informações
nos, alguns dos quais, aprofundam a re- mentos, tempos e tipos de trocas dialógi- publicadas nos mais diferentes veículos
flexão sobre o tema em estudo e alavan- cas, de pensamento reflexivo, de atuação de comunicação. Com base em alguns
cam esses processos de aprendizagem, protagonista e de iniciativas autônomas. indicadores pré-definidos, como ori-
alcançando os resultados almejados. Para planejar uma dinâmica edu- gem da informação, termos utilizados,
Assim, a gestão da comunicação para a comunicativa nos espaços de aprendi- fundamentação teórica das colocações
educação de processo de aprendizagem zagem formal, é preciso considerar os apresentadas, confirmação da veraci-
pode ter diferentes resultados. O tipo e a seguintes aspectos: dade dos fatos relatados, pode-se pedir
estrutura de uma pergunta influenciam
diretamente no tipo de reflexão promo- ① Tema: sobre o que os alunos pes-
quisarão;
para que esses atores sociais mapeiem e
classifiquem quais as publicações falsas e
vida e da resposta obtida.

e c ica
② Dinâmicas pedagógicas: tipos de
participação dos alunos, como
e até onde eles poderão trabalhar seu
verdadeiras, justificando a razão de tais
classificações.
Outra dinâmica de conscientização é
ap ica protagonismo e autonomia; a criação de fóruns de debates sobre de-
Segundo Martin-Barbero (2005), por
mais que a comunicação seja menciona-
da em vários momentos na elaboração e
③ Dinâmicas comunicacionais dia-
lógicas e de colaboração: desen-
volvimento das estratégias pedagógicas;
terminadas temáticas, como religiões,
valores, política e, até mesmo, de con-
teúdos diversos de ciências, história e
implantação de projetos educacionais, a
análise de contextos e da relação entre
educação e comunicação permite iden-
④ Tecnologias digitais de informa-
ção e comunicação: ferramentas
e instrumentos utilizados para a produ-
geografia, dentre outros. Suponha que o
professor queira trabalhar com a questão
de direitos humanos e o movimento dos
tificar que esta última é quase sempre ção das peças comunicacionais; refugiados ao redor do mundo. No caso,
reduzida a uma dimensão majoritaria- Acompanhamento do proces- o professor pode dividir a turma em gru-
mente instrumental. As vivências es- so comunicacional: com foco na pos e atribuir papéis como: brasileiros a
tratégicas sobre os complexos processos educação para leitura crítica dos meios. favor da imigração, brasileiros contra
atuais de comunicação, com seus entor- É importante se definir os critérios logo a imigração, venezuelanos refugiados,
nos educacionais difusos e descentrados de início, de maneira a destacar a aten- países estrangeiros aliados, a ONU. Cada
acabam não sendo trabalhadas ou o são ção dos alunos para os fatores que po- grupo terá que buscar informações so-
de forma mais superficial. dem ser manipulados ao longo do pro- bre as razões que compõem a postura
No caso do ambiente escolar, o objeti- cesso, de maneira influenciar a leitura e o discurso que terá que defender. No
vo da ação educomunicativa é promover e opinião das pessoas que recebem tal momento da realização do fórum, cada
o empoderamento dos professores, estu- mensagem ou notícia – a estruturação grupo deverá ter 10 minutos para apre-
dantes e demais membros das comunida- de uma rubrica formativa auxilia esse sentar a justificativa de seu posiciona-
des educativas, enquanto cidadãos ativos e acompanhamento; mento e, após a apresentação de todas
críticos da sociedade, a partir de práticas Avaliação do processo: pode ser as justificativas, deve-se iniciar a parte
comunicacionais de trocas intensas dentro feita em uma roda de conversa de réplicas e tréplicas, sendo que aqui é
e fora da sala de aula. tradicional entre os participantes, ou importante que o professor considere o
Trata-se de planejar e implemen- pode propor a elaboração de um mapa tempo e número de réplicas e tréplicas
tar estratégias pedagógicas com grande mental, montado a partir dos aspectos para cada grupo.
influência socioconstrutivista e comu- observados ao longo do processo. Ao final, o professor deverá pro-
nicacional por meio de ações que tra- Com toda a disseminação de notí- mover uma reflexão conjunta sobre as
balham competências comunicacionais cias falsas pelas redes sociais, a ado- justificativas dos grupos e trabalhar a
dialógicas e de autonomia, bem como ção de dinâmicas estruturadas a partir conscientização dos valores por trás de
em participações que focam a expe- das premissas educomunicativas tem cada discurso, para que os alunos com-
rimentação do protagonismo juvenil. ganhado força, pois suas práticas per- preendam como identificar as mensa-
Exemplos disso são as dinâmicas volta- mitem dar clareza sobre como uma gens que inseridas nos discursos.

81

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NA TEL A

p e i ssa s a
e c ica
Especificamente sobre as premissas das
interfaces comunicação-educação, vale
das ou se estão se limitando ou debater e nego-
ciar. Não se trata de ter características apenas de
PL ANEJE
destacar aqui algumas competências
identificadas como sendo educomunica-
um ou de outro aspecto, mas principalmente de
entender quando se está debatendo, para que os
AUL AS
tivas (, 2016): professores responsáveis possam intervir e fazer EDUCOMU-
NICATIVAS
1 leitura crítica dos meios; seus alunos focarem em aspectos dialógicos du-
2 Colaboração; rante as atividades.
3 Comunicação dialógica; Desafiador, não? Porém é viável, com dedica-
4 Reflexão crítica; ção, atenção e paciência. E fica mais claro, utili- Frente ao que
5 Competências participativas di- zando as ideias apresentadas no quadro a seguir. foi exposto, fica
versas, com foco no trabalho em uma sugestão de
grupo; resolução de problemas; planejamento de aula
resolução de conflitos; detalha- isc ss com base nas premissas
mento do processo; planejamento e a e i l educomunicativas:
de projetos;
6 Comunicação mediada por ;
7 Gestão da comunicação para a Visa fechar Visa abrir
① Definir o tema
e o conteúdo a
ser trabalhado.
educação.
Frente a tais competências e aos desa-
fios de planejamento e implementação,
questões

Convencer
questões

Mostrar
② Estabelecer
o produto
ou solução
acompanhamento e avaliação das estra- comunicacional que
tégias baseadas nas premissas educomu- Demarcar posições Estabelecer relações será produzida no final.
nicativas, é possível entender a razão de
o foco de atenção das práticas educomu-
nicativas estar no processo comunica-
Defender ideias Compartilhar ideias ③ Detalhar as
estratégias
pedagógicas: fórum
cional, e não apenas no resultado, que Persuadir Questionar de debates, Design
pode ser uma peça comunicacional qual- e ensinar e aprender Thinking, roda de
quer, em termos de produção de um jor- conversa etc.
nal mural ou programa de rádio. São as
ações pedagógico-comunicacionais que
estruturam o processo como um todo
Explicar

Visa as partes
Compreender

Vê a interação
④ Demarcar as
estratégias
comunicacionais,
que importam para que a leitura crítica em separado partes / todo por exemplo,
dos meios possa se concretizar. momentos reflexivos
O foco dessas estratégias é a pro- Descarta as Faz emergir com professor,
moção da aprendizagem a partir da ideias “vencidas” ideias de discussão e de
construção de ecossistemas comunica- colaboração entre
tivos que apresentem trocas dialógicas Busca acordos Busca pluralidade alunos; o tempo
e colaborativas intensas, com foco no de ideias disponível e a forma
desenvolvimento do pensamento crí- de registro.
tico dos envolvidos. Por isso, há que se Levantar as
atentar como trabalhar as práticas de Há alguns desafios sobre como trabalhar di- tecnologias
maneira que o diálogo e colaboração nâmicas que fomentem o protagonismo de for- digitais de informação
ocorram de fato, bem como que sejam ma clara e com objetivos bem definidos. Na bus- e comunicação
adotadas ações que permitam que os ca por um melhor entendimento sobre o tipo utilizadas.
participantes exerçam ações protago- de participações que podem ser pensadas para Estabelecer
nistas consistentes. fortalecer o protagonismo juvenil, Costa e Viei- critérios de
Vale mencionar as considerações de ra (2006) mapearam dez tipos de participações avaliação para o
Bohm (2005) sobre as diferenças entre infanto-juvenil que podem ser adotadas nos es- acompanhamento e
o diálogo e debate, de maneira que as paços educacionais (vide a seguir). Vale registrar encerramento.
pessoas que pretendem trabalhar e for- que nem todas promovem o protagonismo, por Elaborar o
talecer as práticas dialógicas consigam isso é essencial ter especial atenção sobre como cronograma de
identificar se estão sendo bem-sucedi- as dinâmicas são implementadas. desenvolvimento.

82

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a
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Fonte: ilustração adaptada do Currículo


da Cidade de São Paulo – Núcleo de
Tecnologias para Aprendizagem (2017).

  Edições 70, 2007. transversales”. In: de conhecimento. São Paulo: Básico. Tese de doutorado
é doutora e mestre em h COSTA, A.C.G.; VIEIRA, M.A. VALDERRAMA, C. E. Paulinas, 2011, pág. 121 a 134. defendida junto ao Programa
Comunicação. Especialista em Protagonismo Juvenil – Comunicación-educación: h MELLO, L. F. Práticas de Pós-graduação em
Tecnologias Educacionais. adolescência, educação e coordenadas, abordajes y Pedagógico-comunicacionais Ciências da Comunicação,
participação democrática. travesías. Bogotá: Universidad da Avaliação Formativa na Escola de Comunicações
São Paulo: FTD/Fundação Central, 2000, p. 3-25. EAD. In: Congresso Nacional e Artes, Universidade
   Odebrecht, 2006. h MARTIN-BARBERO, J. Desafios de Tecnologias na Educação de São Paulo, 2016.
h BOHM, D. Diálogo: comunicação h FREIRE, P. Extensão ou culturais: da comunicação (), Nov/2017, 36 slides. h SÃO PAULO. Currículo da Cidade
e redes de convivência. São Comunicação? Rio de à Educomunicação. In h MELLO, L. F. Educomunicação de São Paulo – Tecnologias
Paulo: Palas Athena, 2005. Janeiro: Paz e Terra, 2002. CITELLI, A.; COSTA, M.C. e Práticas Pedagógico- para Aprendizagem. São
h BRUNER, J. O processo h HUERGO, J. “Comunicación/ (Org.). Educomunicação – Comunicacionais na Avaliação Paulo: Secretaria Municipal de
de educação. Lisboa: Educación: itinerarios Construindo uma nova área Formativa no Ensino Educação de São Paulo, 2017.

83

Educatrix16_pag80-85_NaTela.indd 83 4/1/19 3:44 PM


Educação Inovadora é o novo
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e s pe cial COMPONENTES CURRICULARES NA BNCC

Trilhas da BNCC
Percursos possíveis para trabalhar
habilidades e competências
exigidas na Base em todos os
componentes curriculares.
texto Educatrix

88

Educatrix16_pag88-97_Especial.indd 88 4/1/19 3:45 PM


 as diversas habilidades para desenvolver competências
é a base da escola do século XXI. A Base Nacional Comum Curricu-
lar que o diga. A proposta de reestruturação das disciplinas como
componentes curriculares dentro das áreas do conhecimento
(Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natu-
reza) por si só já demonstra o foco do documento em desenvolver,
a partir da consolidação das competências específicas de cada área,
atitudes que colaboram com a formação integral do aluno.
Apesar de ser algo bastante atraente na teoria, ainda há uma sé-
rie de dúvidas sobre como estimular as competências no dia a dia
em sala de aula. Por isso, convidamos autores de materiais didáticos
e especialistas de cada componente curricular das quatro áreas do
conhecimento para sugerir como planejar aulas, projetos e refle-
xões focados na autonomia e no protagonismo das novas gerações.
Qual, de fato, é o papel das escolas dentro desse ecossistema vivo
que transcende o projeto escolar e forma cidadãos globais?

89

Educatrix16_pag88-97_Especial.indd 89 4/1/19 3:45 PM


e s pe cial COMPONENTES CURRICULARES NA BNCC

A BNCC e a
língua portuguesa
Um aprendizado baseado nas múltiplas práticas de linguagem.
texto Moderna


  da  para o ensino de Língua Por-  O foco está na interação ativa entre
tuguesa não é essencialmente inovadora, pois com- leitor/ouvinte/espectador com textos escri-
plementa o que já era proposto pelos Parâmetros tos, orais ou multissemióticos de diferentes campos.
Curriculares Nacionais. O componente é abordado Para aprimorar a compreensão leitora, o professor
sob a perspectiva enunciativo-discursiva de lin- pode propor diversificadas experiências de ler, ou-
guagem, cuja adoção implica a compreensão de que vir, comentar textos escritos etc. Essas experiências
um texto não é apenas um conjunto de frases ou de devem incluir a reflexão sobre quem escreveu, para
parágrafos organizados para produzir sentido, mas quem, sobre o quê, com que finalidade, em qual
a materialização de determinado uso da língua que tempo e espaço, como o texto circulou etc.


ocorre em um contexto social e histórico e sob cir-    Propõe o engaja-
cunstâncias específicas. mento dos alunos em situações reais de pro-
Uma placa com a frase “Silêncio!” em uma pa- dução de textos verbais, não verbais, multimodais/
rede de hospital, por exemplo, deve ser, sob essa multissemióticos, considerando o uso das lingua-
perspectiva, analisada como um discurso, ou seja, gens adequado ao contexto de produção, recepção
como a expressão de uma ordem, produzida com a e circulação. Essas oportunidades de produção de-
intenção de orientar o comportamento das pessoas vem ser uma atividade sociointeracional, produ-
para manter o cuidado com os pacientes. Na , zida a partir do diálogo, seja com um sujeito, seja
o texto (oral, escrito, multimodal/multissemiótico) com outro texto. Esse processo não deve ser uma
torna-se o centro das atividades, implicando um tarefa burocrática, pois deve ser construído como
trabalho com a língua não apenas como um código uma atividade em que os alunos se envolvem com
a ser decifrado nem como um mero sistema de re- as práticas sociais da linguagem, por meio de pla-
gras gramaticais, mas como forma de manifestação nejamento, revisão, reescrita e edição de textos.


da linguagem. A finalidade é fazer com que o ensino   /  As ha-
de Língua Portuguesa permita o desenvolvimento bilidades desenvolvidas vinculam-se às práti-
crítico e reflexivo do aluno como agente da lingua- cas propostas nos eixos anteriores. Mantém-se o ca-
gem, capaz de usar a língua e as linguagens em di- minho do uso-reflexão-uso que visa a refletir sobre
versificadas atividades humanas. as possibilidades de uso permitidas pelo sistema da
Com esse objetivo, a  propõe práticas de língua, oral ou escrita, e das múltiplas linguagens,
linguagem de diferentes esferas ou campos de atua- e a ser capaz de aplicar o recurso mais adequado ao
ção: vida cotidiana e pública, artístico-literário, contexto em que está inserido. Propõe-se um traba-
práticas de estudo e pesquisa jornalístico-midiático lho que leve as crianças à reflexão sobre as diferentes
etc. Tais práticas devem ser norteadas a partir de materialidades, responsáveis pelos efeitos de sentido
quatro eixos organizadores: em textos oriundos de diferentes campos de atuação.


 Propõe a produção de textos A  certamente ainda passará por algumas
orais, considerando as diferenças entre lín- revisões. Afinal, não seria razoável supor que um
gua falada e escrita e as formas específicas de com- documento desse porte nascesse pronto e perfeito.
posição do discurso oral, em situações formais ou A prática em sala de aula certamente será impor-
informais. tante fonte de contribuição para tais revisões.

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Os desafios para o
ensino da língua inglesa
Um exercício de empatia com foco na educação global e para a paz.
texto Eduardo Amos

  nos ensina que mais difícil como a resolução não violenta de conflitos, o aco-
do que adquirir novos conhecimentos é conseguir lhimento às diferenças, o saber conviver.
desprender-se dos velhos. A chegada da Base Nacio- Diante desse cenário, dentre as dez competên-
nal Comum Curricular () pode confirmar esse cias gerais que devem permear transversalmen-
ensinamento, pois significa o início de um dos mais te as disciplinas, chamamos a atenção para a de
profundos processos de renovação da educação na- número 9, que propõe: “Exercitar a empatia, o
cional. De maneira geral, muitos professores estão diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação,
dispostos a encarar os princípios propostos como fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao
uma possibilidade de minimizar certas condições outro e aos direitos humanos, com acolhimento e
que enfrentam atualmente e que são marcadas por valorização da diversidade de indivíduos e de gru-
indisciplina, violência e desvalorização do aprendi- pos sociais, seus saberes, identidades, culturas e
zado bem como do próprio professor. potencialidades, sem preconceitos de qualquer
Em uma perspectiva geral, a Base reconhece que natureza.” (, p. 10).
a “educação deve afirmar valores e estimular ações Essa competência traz para a prática educacio-
que contribuam para a transformação da socieda- nal questões altamente relevantes ligadas à Edu-
de, tornando-a mais humana, socialmente justa e, cação para a Paz. E, nessa perspectiva, os esforços
também, voltada para a preservação da natureza” pedagógicos para cultivar essas atitudes trarão be-
(BNCC, p.8). Nesse sentido, a prática pedagógica nefícios à toda comunidade escolar. No entanto,
tradicional baseada em muitos exercícios grama- a implementação da BNCC não pode estar apenas
ticais mecânicos e repetitivos até conseguem pro- nas mãos dos professores. Esse processo deverá ser
duzir um resultado bom em termos de nota, mas o resultado do esforço coletivo ou simplesmente
jamais irá preparar o aluno para enfrentar os de- nada acontecerá. E nossos jovens têm pressa. Ao
safios da vida atual. Isso porque a educação tra- contrário do que possamos imaginar, para eles, o
dicional está baseada em modelos do passado que futuro já começou. Para eles, o futuro é hoje!
atendem a demandas do passado. Hoje, o mundo e
as relações humanas estão muito mais complexos
e desafiadores, exigindo o desenvolvimento das
competências socioemocionais, uma vez que, por
 
meio desse processo se aprende a reconhecer, no- é autor de livros didáticos e paradidáticos há mais de 38 anos.
mear e controlar emoções, demonstrar empatia, Sua obra Students for Peace recebeu o prêmio ELTons 2017,
concedido pelo Conselho Britânico em Londres na categoria
estabelecer relações sociais pautadas pela civilida- Excelência em Inovação em Livros Didáticos para o Ensino de
de, se colocar no lugar do outro e tomar decisões Língua Inglesa. É membro do GEEPAZ – Grupo de Estudos de
de maneira responsável. Educação para Paz e Tolerância do Laboratório de Psicologia
Genética da Faculdade de Educação da UNICAMP. Nos últimos
Soma-se a isso a farta documentação acerca do anos tem trabalhado também na área de consultoria para
caráter violento do ambiente escolar, o que exige instituições escolares na área de Educação para a Paz.
estratégias e abordagens que trabalhem questões

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e s pe cial COMPONENTES CURRICULARES NA BNCC

O ensino de Arte
Oportunidades que vão muito além do componente curricular.
texto Rejane Coutinho

  da Arte como um dos componentes que as responsabilidades devem ser respeitadas. O
curriculares da área de Linguagens no Ensino Fun- professor formado em Artes Visuais deve se ocupar
damental, como se apresenta na Base Nacional Co- primordialmente de trabalhar com seu campo de
mum Curricular, foi desde a primeira versão pública conhecimento, assim como os formados em Músi-
do documento uma questão avaliada como um re- ca, Teatro e Dança. Este entendimento é reforçado,
trocesso pelos pesquisadores e professores do cam- sobretudo, quando compreendemos o que se define
po do ensino e aprendizagem das artes. A delimi- como Artes Integradas no âmbito do documento.
tação e caracterização do campo de conhecimento Como uma das unidades temáticas, as Artes Inte-
como disciplina Arte, nos Parâmetros Curriculares gradas visam a explorar as relações e articulações
Nacionais de 1997 foi uma conquista hoje desconsi- entre as diferentes linguagens e suas práticas, ou
derada na estrutura da Base: de uma disciplina em seja, as hibridizações entre linguagens que o pró-
pé de igualdade com as demais, a Arte passou a in- prio campo das produções artísticas produz, in-
tegrar uma área como um componente curricular. cluindo-se também as integrações possibilitadas
Essa situação, por um lado, revela a fragilidade pelas novas tecnologias.
de um campo de conhecimento que nos últimos As compreensões e interpretações de um docu-
50 anos vem tentando se afirmar e se qualificar mento curricular podem ser diversas; porém, Artes
no contexto escolar: da Educação Artística à Arte, Integradas não deve ser confundida com a ideia de um
de atividades de livre expressão à leitura de obras professor de artes polivalente, aquele que teria como
e produções contextualizadas. Temos um passado obrigação trabalhar superficialmente com todas as
complexo que mesmo antes já transitava entre mo- quatro linguagens. No contexto da , é uma uni-
delos tradicionais de cópias e repetições, acompa- dade temática suplementar, que vem revelar as com-
nhando o próprio campo das produções artísticas e plexidades do campo.
suas tendências. A ideia de integração pode se estender para o
Colocar a Arte em uma grade curricular não é entendimento de um currículo integrado, que pos-
tarefa fácil, pois estamos diante de um campo de sibilite integrar a Arte aos demais componentes
conhecimento eminentemente caracterizado por curriculares. Por exemplo, uma proposta curricular
invenções e criações nos contextos históricos, cul- que se paute em questões contemporâneas que atra-
turais e sociais. A Arte como componente curricu- vessem as disciplinas, que ativem diversos conhe-
lar na BNCC se apresenta de forma pouco definida, cimentos e mobilizem o interesse dos estudantes
há indicação de algumas competências e habilida- pela pesquisa. A pesquisa como modo de conhecer,
des, porém não são estabelecidos claramente os ob- de viver experiências e de as tornar significativas de
jetos de conhecimento. Entretanto, pode-se lidar forma individual e coletiva. A Arte pode ser vista
com o documento de forma proveitosa, abrindo ao como um campo de conhecimento integrado e por
professor a possibilidade de construção de percur- esta via se destacar no currículo escolar.
sos curriculares mais autorais e circunstanciados.
Importante destacar que na Base se mantém as
especificidades das quatro linguagens: Artes Vi-   
suais, Música, Teatro e Dança. Apesar de não trazer é mestre e doutora em Artes pela USP e professora do Instituto
de Artes da UNESP no curso de Artes Visuais Bacharelado
uma discussão explícita sobre as formações iniciais e Licenciatura e no Programa de Pós-Graduação em Artes.
específicas de professores e professoras e suas res- É coordenadora do Mestrado Profissional em Artes – Profartes
– do IA/Unesp. Tem artigos publicados em periódicos e
ponsabilidades diante dos conhecimentos de cada livros sobre história do ensino de artes no Brasil, formação
uma das linguagens, pode-se aferir pela constan- de educadores mediadores e a educação em museus.
te demarcação dos territórios de cada uma delas,

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Matemática, outras áreas
e os desafios do século XXI
Resolver problemas, analisar dados e tomar atitudes criativas no dia a dia.
texto Fábio Martins de Leonardo

  encontrar pessoas que dizem não saber ou não nia no século XXI é tão extensa quanto controversa.
gostar de matemática. Esse fato provavelmente é uma con- Não sabemos muito bem quais são essas habilidades,
sequência do modo equivocado como essa ciência é ensinada muito menos como ensiná-las.” Na sequência, ele
nas escolas brasileiras: um estudo quase sempre segmentado e fala da importância do “pensamento computacio-
conteudista, carente de formação de professores e vulnerável à nal” e sobre o ensino de ciências. “Felizmente, nos-
inconsistência do sistema educacional. sas pesquisas têm mostrado que os alunos aprendem
A matemática é uma das mais significativas conquistas do ‘ciência computacional’ mais facilmente do que
conhecimento humano, produzida e organizada ao longo da ciência tradicional, por uma série de fatores cogni-
história por diversos povos e civilizações. É uma ciência que tivos, epistemológicos e motivacionais. Boa parte da
contribui para a compreensão, tradução e modelagem de si- ciência e da matemática que ensinamos na escola foi
tuações em diversas áreas do conhecimento (astronomia, me- inventada porque não tínhamos computadores, e seu
dicina, engenharia, arquitetura, arte e tecnologia da informa- aprendizado é desnecessariamente difícil, afastando
ção são alguns dos exemplos, só para se ter uma ideia). Além qualquer aluno mais criativo. Portanto, a habilida-
disso, vale ressaltar sua importância nas práticas cotidianas, de de transformar teorias e hipóteses em modelos e
como para a compreensão e tomada de decisões em situações programas de computador, executá-los, depurá-los,
financeiras, para a leitura e interpretação de gráficos e tabelas e utilizá-los para redesenhar processos produtivos,
encontrados nos noticiários, para a elaboração de estimativas realizar pesquisas científicas ou mesmo otimizar ro-
e inferências com base em análise de dados e para o desenvol- tinas pessoais, é uma das mais importantes habilida-
vimento de estratégias de resolução de problemas, argumen- des para os cidadãos do século XXI. E, curiosamente,
tação e exposição de ideias. é uma habilidade que nos faz mais humano. Afinal, o
Ao estudar matemática, desenvolvemos competências, ha- que há de mais humano do que livrarmo-nos de tare-
bilidades e atitudes tão imprescindíveis ao mundo do trabalho fas repetitivas e focar no mundo das ideias?”
quanto à vida cotidiana. Por exemplo: planejar ações e pro- Não são poucas as competências, habilidades e
jetar soluções para novos problemas de mercado, que exijam atitudes necessárias para o exercício da cidadania
iniciativa e criatividade; compreender e transmitir ideias ma- no século XXI, para o enfrentamento do mundo do
temáticas, por escrito ou oralmente, desenvolvendo a capaci- trabalho e para a imersão no mundo da tecnologia.
dade de argumentação na sustentação de projetos; interpretar Atualmente, desenvolver o raciocínio lógico, a au-
matematicamente situações do dia a dia ou do mundo tecno- tonomia e a criatividade é mais importante do que
lógico e científico e saber utilizar a matemática para resolver aprender conteúdos. Nesse contexto, o professor é
situações-problema nesses contextos; avaliar os resultados imprescindível para ajudar os alunos em seus per-
obtidos na solução de situações-problema para definições, por cursos com foco onde querem chegar, ajudá-los
exemplo, de estratégias de marketing; fazer estimativas de re- a selecionar as informações que de fato precisam,
sultados ou cálculos aproximados; utilizar os conceitos e pro- prepará-los para o mundo como um todo, inclusive
cedimentos estatísticos e probabilísticos. o do trabalho, tornando-os cidadãos críticos, cria-
No artigo “O pensamento computacional e a reinvenção do tivos e autônomos.
computador na educação”, Paulo Blikstein, professor na Escola
de Educação e no departamento de Ciência da Computação da
Universidade de Stanford nos EUA, discorre sobre as exigên-    
é licenciado em Matemática pela Universidade de
cias do nosso mundo. “(...) o mundo atual exige muito mais São Paulo. Elaborador e editor responsável da obra
do que ler, escrever, adição e subtração. A lista de habilidades Conexões com a Matemática (PNLD 2018).

e conhecimentos necessários para o pleno exercício da cidada-

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e s pe cial COMPONENTES CURRICULARES NA BNCC

Deixa que digam,


que pensem, que falem
Estudar História para combater intolerância
contra os povos nativos do Brasil.
texto Anna Rita Barreto

  humana na Terra originou uma in- forma de intolerância, pois, apesar da ampla difu-
crível diversidade de formas de ser e de se estar no são do mito da democracia racial no Brasil, nossos
mundo. Essas diferentes experiências foram ex- índices de violência contra minorias são alarman-
pressas em sons e palavras, cujos significados tra- tes. Segundo o último Relatório Violência contra
duzem saberes ancestrais. Justamente reconhecen- os Povos Indígenas no Brasil, produzido pelo 
do a riqueza da história da humanidade, a Unesco (Conselho Indigenista Missionário), em 2017 foram
declarou 2019 como o Ano Internacional das Lín- registrados 128 suicídios, 110 homicídios e a morte
guas Indígenas, tendo como intenção a preserva- de 702 crianças de até 5 anos de idade. O relatório
ção, a revitalização e a promoção das mais de 6 mil aponta também para a persistência dos problemas
línguas indígenas espalhadas pelo globo. relativos à demarcação e à proteção das terras in-
No Brasil, o Censo do  de 2010 identificou dígenas, continuamente ameaçadas pela expansão
274 línguas nativas, cada uma carregando consigo das áreas de pasto e cultivo, e pela exploração de
memórias, histórias e tradições específicas das mais recursos naturais como minério, madeira e água.
de 300 etnias espalhadas pelo país. No entanto, os A proteção dos povos nativos brasileiros, de sua
demais brasileiros pouco conhecem esse nosso po- língua e cultura, depende do entendimento de seu
deroso patrimônio linguístico e cultural. Para mui- modo de vida tradicional, ao qual está atrelada sua
tos, todo ele se resume à figura folclórica e caricata sobrevivência coletiva. Esse entendimento só será
do “índio”, construída ao longo dos séculos, inclu- alcançado se as novas gerações se libertarem dos es-
sive com a colaboração dos livros escolares do pas- tereótipos cristalizados, sobre os quais se assentam
sado. Para corrigir essa lacuna, o governo promul- os preconceitos que justificam e legitimam o ataque
gou, em 2008, a lei 11.646, que tornou obrigatório aos direitos constitucionais dos povos originários.
o ensino da história e cultura indígena nas escolas. Por essa razão, é de fundamental importância que
Desde então, as coleções didáticas passaram reser- os professores e professoras reestruturem seus cur-
var mais espaço aos povos originários e reconhecer sos para ampliarem o tempo dedicado à história e
o protagonismo indígena na formação do Brasil. cultura indígenas. Caso contrário, em breve, o Bra-
A exigência de dedicar mais atenção ao entendi- sil vai ter-se apequenado e perdido parte impor-
mento dos povos nativos foi recentemente reforça- tante se sua identidade e de sua inestimável riqueza
da pela  (Base Nacional Comum Curricular), na linguística e cultural.
qual as habilidades e conteúdos informativos bus-
cam, entre outros objetivos, educar os jovens para
as relações étnico-raciais, promovendo uma cul-   
tura de convivência respeitosa, solidária e humana é historiadora e mestre em História Social pela USP. Atua
como professora de História e Atualidades na rede privada
entre públicos de diferentes identidades. Essa polí- de ensino há 32 anos, e desde 2007 trabalha na elaboração
tica está em consonância com demandas nacionais de materiais didáticos para Ensino Fundamental 2 e Médio.
e compromissos internacionais de combate a toda

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Elos entre línguas indígenas
e territorialidades
Uma expedição pela questão da identidade dos povos em sala de aula.
texto Sergio Adas e Melhem Adas

 a função essencial das territorialidades para lidade. De modo geral, a cultura dos povos origi-
povos indígenas originários e comunidades tradicionais do Bra- nários abarca forte relação com o lugar onde suas
sil, no que tange ao componente curricular Geografia, a Base comunidades se localizam e as relações que o en-
Nacional Comum Curricular () dispõe sobre a temática, por volvem, inclusive, em relação à forma como dele se
meio da habilidade  do 7o ano do Ensino Fundamental. apropriam. Aspectos como o cultivo de vegetais e
Abre-se, aqui, um amplo leque de possibilidades de refle- rituais que englobam o uso de elementos do meio fí-
xão, de trabalho e de aprendizagens em sala de aula relacio- sico natural do território que ocupam — por exem-
nadas à temática. Uma delas, em sintonia com atualidades, plo, um rio ou uma serra —, evidenciam a força da
permite-nos enquanto professores considerar com os alunos o territorialidade para tais povos. A “terra”, como
fato de que, em 2019, a Unesco (Organização das Nações Uni- muitos deles se referem ao espaço que ocupam, é
das para a Educação, a Ciência e a Cultura) comemora o Ano parte de seu cotidiano e os representa no que tange
Internacional das Línguas Indígenas. De acordo com a insti- à coletividade e à formação de sua identidade como
tuição, há mais de 6 mil línguas indígenas ao redor do globo, povo; e, portanto, também como indivíduos. As
sendo que somente cerca de 3% da população mundial fala línguas indígenas, neste contexto, expressam essas
96% delas; ainda, estima-se que a ameaça a este elemento características culturais identitárias.
identitário seja tão grave que uma língua indígena desaparece, Nessa perspectiva, podemos considerar que a
em média, a cada duas semanas. , por meio de um de seus principais órgãos,
No Brasil, país com cerca de 300 povos indígenas originá- ao ter evidenciado a importância das línguas in-
rios, o Censo do  de 2010 registrou 274 línguas entre eles, dígenas com o objetivo de sensibilizar a popula-
divididas em dois grandes troncos linguísticos: Tupi e Macro- ção mundial para o tema, permite-nos, em sala de
-Jê. Segundo o Instituto Socioambiental (), existem, ainda, aula, trabalhá-lo como apoio ao desenvolvimento
19 famílias linguísticas que não se encontram agrupadas, uma de uma das habilidades da , promovendo ao
vez que despidas de semelhanças para tanto. mesmo tempo junto aos educandos a valorização e
Mas, afinal, qual a relação entre línguas indígenas e terri- a conscientização sobre a importância de preserva-
torialidades, e como este tema poderia nos ajudar a trabalhar ção da identidade linguística dos povos indígenas e
o foco da habilidade supracitada da ? De fato, as línguas de suas territorialidades, elos inseparáveis em sua
indígenas, cada qual com suas características e especificida- luta por direitos.
des, constituem elemento fundamental da identidade dos po-
vos originários tanto do Brasil como de outros países. Trata-se
de aspecto da cultura estreitamente relacionado à forma como
 
tais povos compreendem o mundo. Em outras palavras, são é bacharel e licenciado em Geografia pela PUC-SP. Professor
sistemas que abarcam saberes e conhecimentos tradicionais da rede pública e em escolas privadas do estado de São Paulo.
Autor de obras didáticas e paradidáticas de Geografia.
que vão muito além da comunicação entre indivíduos, envol-
vendo, por exemplo, a integração entre os membros das co-  
munidades, a educação de crianças e jovens e a preservação da é professor e pesquisador da FFCLRP-USP. É bacharel e
licenciado em Filosofia, doutor em Geografia Humana e
memória e da história destes povos, especialmente pelo fato de Pós-doutorado em Educação. Desenvolve pesquisas em
serem culturas pautadas pela tradição oral. Ciências Humanas. É autor de obras didáticas de Geografia.
A tudo isso, encontra-se relacionada a noção de territoria-

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e s pe cial COMPONENTES CURRICULARES NA BNCC

Pensamento investigativo
em todas as áreas
do conhecimento
Despertar a curiosidade e desenvolver o olhar crítico
e questionador sobre os diversos fenômenos da vida.
texto Rita Helena Bröckelmann

“Diego não conhecia o mar.   época de muitas mudanças e incertezas,


O pai, Santiago Kovadloff, em que temos de lidar com os resultados e os pro-
levou-o para que descobrisse o dutos da evolução tecnológica, torna-se essencial
mar. Viajaram para o Sul. Ele, a educação para aprender a conhecer, aprender
o mar, estava do outro lado a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser,
das dunas altas, esperando. como propõe o relatório Quatro pilares da educa-
Quando o menino e o pai enfim ção para o século XXI da Unesco, de 1999 (Delors,
alcançaram aquelas alturas 2000). Com base nesses quatros pilares, acredito
de areia, depois de muito ser possível “ajudar a olhar”.
caminhar, o mar estava na Nossos alunos têm acesso a uma quantidade
frente de seus olhos. E foi tanta enorme de informações, mas nem sempre sa-
a imensidão do mar, e tanto bem o que fazer com elas, pois não aprenderam a
seu fulgor, que o menino ficou “olhar”! Essas informações precisam ser dotadas
mudo de beleza. E quando de significados, de modo que os alunos possam
finalmente conseguiu falar, associá-las e gerar o conhecimento a ser utilizado
tremendo, gaguejando, pediu no cotidiano e na compreensão do mundo. Mas o
ao pai: — Me ajuda a olhar!” que é pensamento investigativo? Como é possível
Eduardo Galeano, ensinar a pensar?
O livro dos abraços, 1989. Por muitos anos, o ensino de Ciências trabalhou
mais com a transmissão do que com a produção do
conhecimento, e em muitas escolas essa prática
ainda persiste. Pesquisas em diversas áreas da edu-
cação e da neurociência, contudo, têm demons-
trado que o estudante aprende mais ao se envolver
com uma situação-problema e buscar soluções e
significados para ela.
Para tanto, o aluno precisa pensar investigativa-
mente, desenvolvendo competências e habilidades
como observar, problematizar, formular questões
e hipóteses, verificar, mensurar, constatar, con-
cluir, errar e tentar novamente.

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A prática do pensamento investigativo pode e organizam para investigar os itens principais em
deve ser utilizada em todas as áreas do conheci- grupo ou individualmente. Em todas as etapas, o
mento, não apenas nas ciências da natureza. professor orienta, ajuda a organizar, faz a interme-
Segundo o filósofo norte-americano Matthew diação das discussões e propõe fontes de consulta.
Lipman, na obra A Filosofia vai à escola, o ensino Todo o resultado das investigações é debatido pelos
tradicional, em que os conhecimentos são trans- integrantes do grupo, que, juntos, aprendem a re-
mitidos do professor para o estudante, constitui o lacionar fatos e informações.
“paradigma-padrão”, ao passo que o ensino que Nesse processo, o estudante deixa de memorizar
trabalha com o pensamento investigativo confi- e passa a pensar, a questionar, a testar. Com o tra-
gura o “paradigma reflexivo”. Lipman propõe que balho em grupo, ele aprende a respeitar as diferen-
as disciplinas sejam organizadas de maneira que se ças de opinião, o ritmo de trabalho e as descobertas
complementem, fazendo com que a educação não de cada um, aprende a conviver, a colaborar com o
se limite a promover a memorização das informa- outro. Aprende onde procurar informações e como
ções transmitidas e objetive “a percepção das re- conectá-las para encontrar respostas. A autonomia
lações contidas nos temas investigados”. A adoção intelectual dos estudantes é valorizada.
do paradigma reflexivo permite investigar e pro- O professor deixa o papel de mero transmissor
blematizar os conteúdos de cada disciplina, cons- de informações para exercer o papel de organiza-
truindo uma reflexão conjunta. dor, de mediador e sistematizador dos dados que
Ao trabalhar com a proposição da solução de um os estudantes encontraram. Com a metodologia
problema, promove-se um enfrentamento entre os de resolução de problemas, o professor trabalha
estudantes por meio do diálogo. Nesse paradigma, os “quatro pilares da educação para o século XXI”,
o importante não é o resultado final, a conclusão, em vários momentos e de formas variadas.
e sim as descobertas feitas ao longo do processo Pautada nesses pilares, a educação passa a consti-
de investigação. O diálogo promove a reflexão e o tuir o principal instrumento para “olhar” o mundo!
pensamento criativo.
Embora apresente muitas variantes, na técni-
ca mais usual, o professor propõe um problema,
que os alunos identificam e trabalham em grupos,
  
sempre partindo de seus conhecimentos prévios. é bióloga e editora executiva do Editorial
Os itens do problema são levantados, debatidos e de Biologia e Química da Editora Moderna.
registrados. Com base nesse registro, os alunos se

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Uma campanha   da invenção da primei-
ra vacina no Ocidente é fascinante,
constante para além de ser uma fonte inesgotável de
aprendizagem para diversas áreas da
imunizar as crianças atuação humana. Até o final do século
XVIII, época da descoberta da primei-
contra os perigos do ra vacina no mundo ocidental, doenças
transmitidas por vírus e bactérias eram
politicamente correto. responsáveis por verdadeiras catástro-
fes humanitárias, milhões e milhões de
texto Ilan Brenman vidas perdidas por causa de organismos
ilustração Ricardo Davino invisíveis aos olhos humanos.

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PO R D E NTR O

O mundo iria se transformar dras-


ticamente com o trabalho de Edward
Jenner, um médico inglês que dedicou
sua vida ao estudo da varíola, doença
com índices alarmantes de mortalidade Depois de seis semanas, James estava
e contágio. Antes de Jenner, a China já ótimo, serelepe como qualquer criança
conhecia e praticava a “variolação”, que de sua idade, quando o doutor Jenner
era a injeção do líquido extraído de uma novamente entrou em ação; imaginem a
crosta da varíola de um indivíduo infec- cara do menino ao ver o homem da in-
tado, na pele de pessoas saudáveis. Com jeção se aproximando! O médico estava
esse procedimento, a doença se mani- com o material contaminado de varíola
festava de forma menos agressiva do que humana e inoculou-o no menino plena-
o normal, mas, mesmo assim, isso não mente saudável.
assegurava a proteção total. Eu não sei se doutor Edward Jenner
A “variolação” chegou à Europa e era religioso ou não, mas imagino ele tor-
Jenner conhecia esse procedimento, mas cendo ou rezando muito para a teoria dele
não estava satisfeito com os seus resul- dar certo: a vida de um menino estava em
tados. Ao se aproximar do fim do sécu- suas mãos! Para alegria de todos, prin-
lo XVIII, o médico inglês mergulhou em cipalmente do pequeno James, ele não
pesquisas e observações sobre a varíola manifestou nenhum sintoma da varíola.
até que, um dia, ele resolveu investigar Estava criada a primeira vacina do mun-
uma crença popular entre os campone- do! Aliás, a palavra vacina vem da palavra
ses. Tal crença afirmava que as pessoas vacca em latim que estava relacionado a
que trabalhavam com a ordenha de va- doença das vacas, lembra da “cowpox”?
cas doentes desenvolviam feridas pareci- Quem imaginaria que a vaca daria origem
das com as dos animais, mas, ao mesmo ao nome de um dos procedimentos mais
tempo, ficavam protegidas da varíola revolucionários da humanidade.
humana. Essa doença ficou conhecida A história da vacinação tem outros
como “cowpox”, ou varíola das vacas. vários heróis, como, por exemplo, o
Jenner observou atentamente os famoso cientista Louis Pasteur que, em
camponeses e tomou uma decisão ou- 1885, começou seus estudos sobre a rai-
sada, perigosa e que revolucionaria o va, doença mortal contraída através da
mundo. Em uma manhã de 1796, o mé- mordida de animais infectados. E nova-
dico decidiu colher o líquido contamina- mente uma criança entra em cena para
do com a “cowpox” das feridas de uma mudar radicalmente o status de conde-
ordenhadora chamada Sarah Nelmes. nados à morte daqueles que se infecta-
Com o material contaminado em mãos, vam com a raiva.
ele fez algo inimaginável nos dias atuais, No dia 4 de julho de 1885, um menino
pegou um menino saudável de oito anos, de nove anos chamado Joseph Meister
chamado James Philipps, e inoculou o é convocado para ir comprar fermento
líquido contaminado no organismo do para o estabelecimento do pai, um pa-
garoto. Você acha que terminou? Ledo deiro francês. O menino sai correndo e
engano! A ciência é muitas vezes mais vai até vila de Maisongouthe. Ao chegar,
emocionante que a Netflix! ele é atacado impiedosamente pelo ca-
chorro raivoso de um taberneiro. Foram
14 mordidas! Principalmente nas pernas
e no braço direito do menino. O dono
do cachorro e alguns passantes viram a
cena e foram salvar o pequeno Joseph,
lavaram seus ferimentos e deram-lhe
água para beber. Logo após os primei-
ros socorros, deixaram o menino voltar
para casa sozinho.

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deram, sem sombra de dúvida, subsídio
para suas pesquisas. Uma dessas histó-
O corajoso menino começou seu re- rias antigas contava que Mitrídates IV,
gresso e a cada dez metros tinha que pa- rei de Pontus, na Ásia Menor, foi res-
rar para descansar. Finalmente chegou ponsável pelo assassinato do próprio
em casa, para o alívio de sua mãe, deses- pai e que, ao assumir o trono, ficou com
perada com a demora dele. Ao vê-lo, ela medo de também ser assassinado, prin-
entrou novamente em desespero, pois a cipalmente por envenenamento. Então,
aparência de Joseph estava terrível. Ela ele começou um procedimento para
saiu correndo e o levou para o médico se imunizar contra os venenos. A len-
da vila, que ao pousar os olhos nos fe- da conta que Mitríades IV tomou doses
rimentos, já imaginou que o menino ti- pequenas e não mortais de cada veneno
vesse contraído raiva, o que significava conhecido e percebeu que seu organis-
uma sentença de morte. O médico então mo ficava protegido de doses letais.
se lembrou dos estudos de Pasteur em Na Roma Antiga, um médico chama-
Paris com animais raivosos e comentou do de Celso cunhou o termo Antidotum
com a mãe do menino. Mithridatium para o procedimento de
Vendo a piora do filho, a mãe decidiu proteção contra envenenamentos, ou
ir a Paris e com muita dificuldade en- seja, a exposição a uma pequena dose de
controu o laboratório do famoso cien- substância que, ao longo do tempo, nos
tista. Pasteur levou um grande susto ao deixaria imune a doses grandes dessa
ver o pequeno Joseph, a morte era inevi- mesma substância.
tável. Por isso, decidiu, assim como fez Como é interessante ver o elo entre o
seu colega inglês Edward Jenner, fazer conhecimento passado e o atual. Às ve-
algo ousado. Ele aplicou no menino uma zes, o conhecimento se desvela, mas não
vacina experimentada somente em ani- há tecnologia ou demanda suficiente
mais... E deu certo! Joseph Meister foi o para desenvolvê-lo, precisamos de anos,
primeiro ser humano a ser imunizado décadas, séculos e até mesmo milênios
contra a raiva. Ele depois voltou para para um determinado conhecimento se
casa feliz e saudável. concretizar em resultados inequívocos e
Você deve estar pensando “mas o que revolucionários.
tudo isso tem a ver com a literatura?” Eu Tudo que escrevi até agora faz referên-
prometo que chegarei lá, mas antes um cia ao mundo fisiológico do ser humano,
pouco mais de história. mas nós, os homo sapiens, também te-
Tanto Jenner quanto Pasteur, cientis- mos uma dimensão simbólica. Somos
tas heróis, conheciam histórias da Anti- criadores de narrativas, somos fofoquei-
guidade que já flertavam com o processo ros natos! Não imagino uma vaca falando
de imunização. Eram lendas e fatos que para outra sobre a vida fútil de uma ter-
ceira. Nossa mente extrapola nosso pró-
prio corpo, sonhamos e criamos mundos,
sonhamos e destruímos mundos, a fan-
tasia é o motor da humanidade, para o
bem e para o mal. E o interessante é que a
dimensão simbólica do ser humano tam-
PRECISAMOS CRIAR bém pode adoecer, enfraquecer, ser en-

ANTICORPOS SIMBÓLICOS venenada, perder o vigor e a capacidade


de lidar com os agentes estressantes da
QUE AJUDEM A CRIANÇA A nossa vida. E haja agentes estressantes

C O M B AT E R E C O M P R E E N D E R nas nossas vidas!

A COMPLEXIDADE DA VIDA.
 

105

Educatrix16_pag102-107_PorDentro.indd 105 4/1/19 3:55 PM


PO R D E NTR O

Olhando para o passado, assim como


cientistas inteligentes o fizeram (e al-
guns ainda o fazem), percebemos como
os nossos ancestrais lidavam com o en- dificuldade e dos obstáculos que a vida nos
fraquecimento, o descontrole, a confu- impõe. Essas histórias nos prepararam para
são, o adoecimento da psique humana: o confronto com a morte e com a felicidade.
tristeza profunda, angústia existencial, Porém, hoje parece que as coisas muda-
ciúme, raiva etc. Eles usavam um méto- ram um pouco. Faz alguns anos que existe
do muito parecido com a mitridização: um movimento crescente e preocupante
vacinas contra os males da alma. Ou que vem fragilizando e não fortalecendo a
seja, para que nossa mente possa en- mente infantil. São ideias que até podem ter
frentar um ambiente interno e externo nascido nas melhores das intenções, mas
hostil, ele precisa de doses pequenas e que se tornaram uma fonte de destruição
seguras desses mesmos elementos para dos nossos anticorpos . Pode-
que possamos enfrentá-los. Precisamos mos chamar tais conceitos de 
criar anticorpos  que ajudem  , que são histó-
as crianças, principalmente, a combate- rias limpinhas, bonitas, perfeitas, sem con-
rem e compreenderem os percalços, os flitos e que teoricamente formariam um ser
sofrimentos e a complexidade da vida. humano melhor, mais bondoso, compreen-
E qual seria o elemento principal des- sivo, empático, um exemplo de cidadão!
sa vacina protetora da mente humana: As mudanças nas histórias começaram e
. Mas assim como as vacinas se intensificaram. Uma verdadeira eugenia
tradicionais carregam dentro delas par- literária! Tudo que pode ferir a sensibilida-
te do problema (vírus/bactérias), tal de do leitor, isso claro na ótica dos autori-
vacina literária precisa carregar dentro tários do pensamento alheio, daqueles que
dela uma parcela daquilo que queremos sabem o que é bom para os outros, mais do
combater, ou seja, histórias que falem que o próprio leitor, é posto em dúvida. A
não só do lado bom das coisas, mas que criança é vista como um ser bom por exce-
mostrem também o lado sombrio. Não é lência (ninguém nunca presenciou um sur-
à toa que histórias de terror são um hit to de birra de uma criança em um shopping
há séculos entre crianças e jovens, já que ou avião?) e as malvadas das histórias cor-
o terror não está somente fora da nossa romperiam essa alma angelical.
mente, mas também dentro dela. Criança é um ser complexo e não simples,
Tudo isso parece fazer sentido? Ima- ela é boa e má ao mesmo tempo, tem sen-
gino que sim. Quando éramos crianças, timentos altivos e cruéis, e é por isso mes-
ouvíamos histórias de terror, aventura, mo que ela necessita de histórias que falem
suspense, amor e tristeza. Bruxas, ogros, sobre essa complexidade. Achar que ao fa-
mortes inesperadas, finais tristes (lem- larmos só de paz com a criança, ela se tor-
bra do soldadinho de chumbo do An- nará pacífica é desconhecer completamen-
dersen?), ato de heroísmo, sacrifícios,
amor intenso, solidão intensa etc. Essas
histórias fortaleceram nossa mente, nos
ensinaram que a vida não é fácil, mas,
mesmo assim, vale a pena lutar por ela. AS HISTÓRIAS PRECISAM ATENDER
Essas histórias nos prepararam para os
confrontos com as bruxas nossas de cada
ÀS CRIANÇAS EM SUAS NECESSIDADES
dia, que são a representação suprema da MAIS IMPORTANTES: LIDAR COM O
DESCONHECIDO E COM AQUILO QUE OS
ADULTOS EVITAM FALAR ABERTAMENTE.

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te a natureza humana. É isso que estamos
fazendo nos últimos tempos, inserindo a
paz, a ordem, o previsível nas histórias... E
o resultado? Nunca vivemos tantos relatos sim.” Mas a minha pequena ainda não
de indisciplina, desordem afetiva e cogniti- havia sossegado, “pai, você é mais ve-
va em sala de aula, uma ansiedade coletiva lho que a mamãe?”, “sim, meu amor.”,
perpassa crianças de diversas faixas etárias. respondo. “Então vai morrer depois da
E por que isso ocorre? Porque a criança não vovó.” E assim ela foi matando um por
está sendo atendida simbolicamente nas um de acordo com a idade e não se es-
suas demandas mais importantes. Estamos quecendo dela, que, claro, seria a última
fragilizando a infância e tornando-a des- a morrer por ser a menor de todos. E
protegida aos agentes estressores da vida você realmente acha que esses assuntos
interna e externa. não interessam à infância?
Perguntem para um grupo de crianças Para terminar essa reflexão sobre va-
de mais de sete anos que tipo de histórias cinas, imunidades simbólicas, fortaleci-
elas querem ouvir; garanto que a palavra mento dos afetos e da cognição das nos-
TERROR será a campeã de pedidos. O que sas crianças, faço minhas as palavras do
isso quer dizer? Que eles são psicopatas? grande Bruno Betteleheim: “Hoje, como
Claro que não! É que ao pedir histórias de no passado, a tarefa mais importante e
terror elas estão querendo (inconsciente- também mais difícil na criação de uma
mente) falar sobre o terror interno de cada criança é ajudá-la a encontrar significa-
uma delas. O monstro mora dentro e não do na vida. [...]. Fui confrontado com o
fora do nosso coração e é, exatamente por problema de deduzir quais experiências
isso, que devemos falar sobre ele. Só assim na vida infantil mais adequadas para
ele pode perder a sua força. A melhor forma promover sua capacidade de encontrar
de colocar a luz nesse lado sombrio é lendo, sentido na vida; dotar a vida, em geral,
contando histórias que dialoguem com esse de mais significados. Com respeito a
lado obscuro e para o compreendermos e esta tarefa, nada é mais importante que
combatermos de forma mais efetiva. o impacto dos pais e outros que cuidam
Um dos grandes teóricos do mundo das da criança; em segundo lugar vem nossa
histórias, Bruno Bettelheim, chamava an- herança cultural, quando transmitida à
tigamente essas histórias politicamente criança de maneira correta. Quando as
corretas de “estórias fora de perigo”, que crianças são novas, é a literatura que ca-
seriam narrativas que evitavam problemas naliza melhor esse tipo de informação”.
existenciais. Tais histórias não menciona- O melhor de tudo é que vacina literá-
vam nem a morte e nem o envelhecimento, ria não necessita de agulha para aplica-
o tempo não seria um problema para uma ção. E tem mais, pais e professores tam-
criança refletir. Quem realmente acha que bém se imunizam assim que começam
a infância não se interessa por esses temas a ler ou contar uma história para seus
está muito, mas muito, enganado. filhos e alunos. Anotem aí: o  -
Eu me lembro de uma cena em casa     é qualquer
quando minhas meninas eram pequenas. dia, qualquer lugar, qualquer horário. E
Era um jantar na cozinha, cinco pessoas lembrem-se, a duração do efeito da va-
na mesa: eu, minha esposa, minhas duas cinação literária é  .
meninas e a minha mãe. A caçula de qua-
tro anos olha para a avó e diz, “Vó, você
é a mais velha da mesa?”, a avó responde,
“Sim, sou.” A minha pequena fala, “Então,  
você será a primeira a morrer nessa mesa.” é mestre e Doutor em Educação pela
Universidade de São Paulo (USP). É um dos
A minha mãe leva um pequeno susto, se re- principais escritores de literatura infantil do
cupera, dá um sorriso e diz: “sim, acho que Brasil, com mais de 60 publicações e mais de
25 menções a prêmios relevantes da literatura
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TR AJETÓ R IA

humana através de uma perspectiva de-


senvolvimentista e incentivava a auto-
nomia das crianças para que elas cons-
truíssem seus conhecimentos. A partir
da empatia que nutriu ao acompanhar os
pequenos, Montessori criou o conceito
de autoeducação, em que todos nasce-
mos com a capacidade de ensinar a nós
mesmos, desde que sejam fornecidas as
condições essenciais.
Entre suas ideias principais estão a
educação pelos sentidos e a educação pe-
los movimentos. Para Montessori, o ca-
minho do intelecto passa pelas mãos. “A
criança ama tocar objetos para depois re-
conhecê-los”. Com isso, apostou em ma-
teriais didáticos que provocassem o racio-
cínio. Propunha uma sala de aula fora do
padrão de sua época, sem mesas e cadei-
ras enfileiradas, nem horários específicos
para recreio; para ela, não havia diferença
entre o lazer e a atividade didática.
Enquanto os preceitos das correntes fi-
losóficas do final do século XIX encaravam

Maria Montessori
o conhecimento como essencialmente psi-
cológico, passado de mestre para apren-
diz, os métodos montessorianos acredita-

E A AUTONOMIA PARA APRENDER


vam no desenvolvimento natural. Assim,
o professor atuaria entre as crianças mais
como um guia do que como mestre.

Uma luta pelo direito das crianças Em 1906, foi criada a primeira Casa
dei Bambini, onde Maria Montessori
de serem elas mesmas. POR Glauce Neves pôde aplicar sua metodologia. Todos os
dias, das 9h às 17h, 50 crianças apren-
diam a se vestir sozinhas, a cuidar da
própria higiene, a fazer ginástica. Entre
uma atividade e outra, desenvolviam
   do século XIX, a ideia de que das crianças de serem elas mesmas. noções de matemática e alfabetização.
as crianças tinham direitos praticamen- Nascida em 1870, em Chiaravalle, A criança fazia suas escolhas. Em 1913,
te não existia. A primeira manifestação uma pequena província de Ancona, na foi inaugurado o primeiro programa de
nesse sentido foi em 1892, mas foi apenas Itália, Maria Montessori foi a primeira treinamento do método Montessoriano.
em 1948, com a aprovação da Declara- mulher italiana a se formar em medici- No mundo inteiro, mesmo as escolas
ção Universal dos Direitos Humanos pela na na Universidade de Roma. Formou-se que não seguem o seu método, se be-
ONU (Organização das Nações Unidas) como psiquiatra em 1896 e no início de neficiam de várias técnicas educativas
que tais direitos foram reconhecidos. sua carreira dedicou-se aos estudos so- propostas por Maria Montessori. Hoje, a
No século XVIII, Jean-Jacques Rous- bre crianças com deficiência. Pioneira educação infantil possui vários recursos
seau defendia que a criança não devia também no campo pedagógico, colocava que dão autonomia às crianças. O méto-
ser tratada como um adulto em minia- em prática suas habilidades na educação, do caiu em desuso na década de 50, logo
tura. Segundo ele, a infância é um pe- usando suas leituras em psicologia, filo- após a morte de sua idealizadora, mas
ríodo muito curto e é importante não sofia, antropologia, biologia e história. foi resgatado no fim dos anos 60 e é po-
impor a vontade de um adulto. Em con- Mesmo criticada pela sociedade por pular até hoje. Segundo a Organização
cordâncias às ideias de Rousseau, já no dar protagonismo à criança no apren- Montessori do Brasil (OMB), 56 escolas
final do século XIX, Maria Montessori dizado, Montessori foi defensora de um utilizam, atualmente, os ensinamentos
dedicou sua vida para defender o direito método que não contraria a natureza montessorianos no país.

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Mais do quedo
Mais falar
quebem
falar uma
bem nova língua,
uma nova língua,
Mais do que falar bem uma nova língua,
é viver énovas experiências.
viver novas experiências.
é viver novas experiências.
EducateProgram
Educate Bilingual Bilingual é
Program
o novo éprograma
o novo programa
bilínguebilíngue que possui
que possui a força
a força
Educate Bilingual Program
da marca Richmond é o novo
e quecomprograma
nasceu bilíngue
com a de
missão que possui
de empoderar a força
seus alunos
da marca Richmond e que nasceu a missão empoderar seus alunos
da marca Richmond e que nasceu com a missão de empoderar seus alunos
para serem, de fato, cidadãos globais. Educate é uma experiência única,única,
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