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ANO 8 • N º 16 • 2019
lia escola
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a
pe sa e aca ic es
c omo me diar c onf l i t o s a v al iand o o cl ima e s c ol ar
multiconteúdo
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Atualização prática
para o professor
Onde
nascem
as chaves
do diálogo
ouviu a expressão: “a escola é a nossa atualidade, para falar sobre a leitura e a preparação
segunda casa”? Em tempos líquidos, de hipercone- para a vida. Contamos também com a ilustre pre-
xão e respostas a um clique, as paredes entre a casa sença de Débora Garofalo, finalista do Global Tea-
e a escola desmoronaram. A escola já não é o lugar cher Prize 2019, o Oscar da Educação, para contar
para o qual as famílias mandam os filhos para apren- um pouco sobre a metodologia e comparti-
der conhecimentos técnicos. A família já não pode lhar algumas ideias para inovar as aulas e tornar o
ser a única responsável pela formação ética e moral aprendizado mão na massa algo democrático.
do indivíduo. Esses novos papéis compartilhados, De olho na preparação das escolas para a im-
sem muros ou paredes, ainda precisam ser ajusta- plantação da Base Nacional Comum Curricular,
dos. Isso é fato. Por isso, esta edição da Educatrix convidamos o professor Nilson José Machado, da
abriu suas páginas para entender melhor as expecta- USP, para responder algumas dúvidas frequentes
tivas de ambos os lados: o que as escolas esperam das de educadores a respeito das mudanças propostas
famílias e o que as famílias esperam da escola? pela Base. Preparamos também um especial sobre
Para ajudar nessa missão, preparamos uma sé- os componentes curriculares com autores de ma-
rie especial que visa compreender essas relações teriais didáticos, sugerindo pautas para o trabalho
ao longo dos séculos, conversamos com pais das com as habilidades e as avaliações por competên-
cinco regiões do Brasil para entender as diversas cias. Para esquentar os motores, trouxemos os re-
realidades desse diálogo e levantamos algumas sultados da pesquisa realizada por Telma Vinha, da
dicas que podem ajudar pais e escolas a fomentar Unicamp, a respeito do clima escolar e do impacto
uma relação melhor com o estudo. que o contexto tem no aprendizado.
Se, antes, a ponte entre escola e famílias eram Enfim, entre famílias, professores, gestores,
as lições de casa e as famigeradas reuniões de pais, mudanças e inovações do mundo, ser escola é se
hoje, os grupos de WhatsApp mantêm ativo essa consolidar como um ecossistema de aprendizagem
conexão e trazem à tona a parceria (ou rivalida- integral, de construção e troca de conhecimentos,
de) entre esses dois atores tão importantes na for- de histórias de vidas distintas que se encontram em
mação dos alunos. Eny Muniz traz sugestões para um ambiente vivo e em constante evolução. Mas
aproveitar o tempo das reuniões com os pais e o afinal de contas, por onde começar a descobrir as
espaço dos grupos de WhatsApp de forma criativa chaves para abrir canais de diálogo estruturados?
e atrativa para criar vínculos. Boa leitura!
Nessa edição tão familiar, convidamos Ilan Bren-
man, nosso novo autor exclusivo e um dos mais Ivan Aguirra Izar
consagrados autores de literatura infantojuvenil da
► e Pe Ia
TRILHAS DA BNCC
E SEUS C OMPONENTES
CURRICULARES PÁG. 88
► POR DENTRO | VA C I N A L ITE R ÁR IA PÁG. 102
► FAVORITOS | C O N TEÚ D O S QUE POTE NCIAL I ZAM O D IA A D IA D O PR O FE SSO R PÁG. 112
► TRAJETÓRIA M AR IA M O NTE SSO RI | E A A UTO NO M IA PAR A APR E ND E R PÁG. 114
Território
educativo
Em Maranguape (CE), Escola Municipal
José de Moura usa o território como
oportunidade de aprendizagem.
texto Portal Porvir foto Bruno Marinho Monteiro
ecomuseu de maranguape
O equipamento cultural foi instalado em
um antigo casarão, erguido na metade
do século 19. Hoje ele tem a proposta
de preservar a história da comunidade,
dos seus moradores e da cultura local.
8
ano 8 • n o 16 • 2019
conselho editorial
Ângelo Xavier
Ivan Aguirra Izar
a cerca de 50 km de Fortaleza (CE), o de Fátima, mãe de Gustavo, o envolvi- Luciano Monteiro
distrito de Cachoeira, na região rural de mento das famílias com a escola também Lulcey Vitor Ribeiro
Maranguape, tem uma história marcada mudou. “Sempre tem coisa para a gente Solange Petrosino
por resistência e trabalho coletivo. Para participar. Eu venho sempre que pos- coordenação editorial
Ivan Aguirra Izar
preservar a memória dos antepassados so”, diz ela.
produção de textos
que deram origem ao centro comuni- Cauê Cardoso Polla
tário, a Escola Municipal José de Moura a c o m u n id ad e tam b ém ed uc a Glauce Neves
passou a usar o território como uma ex- Não são apenas as famílias que se en- Ivan Aguirra Izar
Kátia Dutra
tensão da sala de aula. Por lá, as crian- volvem. “A comunidade também educa Lara Silbiger
ças participam de passeatas pelas ruas, e participa de forma maciça de tudo”, Paulo de Camargo
aprendem com os relatos de vizinhos e afirma o coordenador César Neto. Seja Ricardo Prado
exploram o Ecomuseu da cidade, que compartilhando saberes ou acompa- articulistas
Alynne Ferreira Nunes,
promove a educação patrimonial e o for- nhando passeios pelo território, os vi- Anna Rita Barreto,
talecimento da identidade local. zinhos são convidados a interagir com César Nunes, Débora Garofalo,
“Muita gente acha que a nossa escola os alunos. É o caso da antiga moradora Eduardo Amos, Eny Muniz,
Fabio Martins, Ilan Brenman,
é diferente, mas para quem está aqui, no Maria Aleluia de Souza, que vez ou outra Lucí Ferraz, Melhem Adas,
dia a dia, é normal. Eu diria que o mais recebe as crianças na sua casa para con- Rejane Coutinho,
importante é o envolvimento com a co- tar histórias no quintal. Rita Bröckelmann,
Roberta Bueno,
munidade”, destaca Antonia Leda de Outro espaço da comunidade que já Sérgio Adas, Taís Bueno
Assis, diretora. Apesar de estar há pouco se tornou uma extensão da sala é aula é edição de texto
tempo na gestão, ela acumula 30 anos o Ecomuseu de Maranguape. O equipa- Kátia Dutra
como professora na instituição. Entre mento cultural foi instalado em um anti- revisão final
Tassia Cobo
tantas razões, orgulha-se de conhecer go casarão, erguido na metade do século
edição de arte e design
a família de cada um dos quase 300 alu- 19. Hoje ele tem a proposta de preservar
Ricardo Davino
nos. “Para trabalhar o aluno como um a história da comunidade, dos seus mo-
pesquisa iconográfica
todo, é importante conhecer a sua famí- radores e da cultura local. Ricardo Davino
lia”, destaca. foto de capa
A relação com a comunidade acon- c u rríc u l o vivo Ricardo Davino
tece de maneiras distintas. De um lado, Na avaliação de Erlandia Pessoa, coor- colaboradores
Rosana Fernandes
a escola se aproxima do entorno na or- denadora da Secretaria de Educação de
leia nosso acervo digital:
ganização de festas tradicionais, como Maranguape, o conhecimento local é um moderna.com.br/educatrix
a Farinhada, a Festa do Feijão Verde e a dos destaques que a escola traz no seu
Cavalgada. Por outro, recebe e envolve projeto pedagógico. “Às vezes, a criança
as famílias em atividades rotineiras da conhece tantos lugares pelos livros, mas
escola. Nas turmas de Educação Infantil, não sabe o tipo de solo e clima da própria
Rua Padre Adelino, 758
todos os dias uma criança leva a “male- comunidade. Não que estudar outros es- São Paulo/SP • CEP 03303-904
ta viajante”, que contém vogais, formas tados e países não seja importante, mas
geométricas e brincadeiras o trabalho você precisa do conhecimento local. E Educatrix é uma publicação
semestral com a proposta de
em casa. Para a alfabetização, as profes- eles fazem isso muito bem aqui”. colaborar com a formação
soras também desenvolvem uma ativi- Ela ainda cita como destaque o fato nas escolas parceiras.
dade conhecida como “caixa surpresa”, de a escola trabalhar com uma concep- Distribuição gratuita na
internet e nas instituições
em que as crianças precisam pedir ajuda ção de currículo vivo, que transforma educacionais por meio da
para a família para trazer um objeto de tudo em um ambiente de aprendizagem. rede de Consultores Moderna.
acordo com a letra que está sendo tra- “Isso não deve ser uma coisa de outro issn: 2447-4991
balhada. Em sala, a turma precisa adivi- mundo, precisa ser natural. O diferen- Tiragem: 45 mil exemplares.
nhar o que está dentro do embrulho. cial da escola é fazer com que as crian- x educatrix@moderna.com.br
“Desde 2000, a forma de ensinar mu- ças participem da aprendizagem e se- © Direitos reservados.
É proibida a reprodução total
dou muito. Parece que agora meu filho jam protagonistas. Nós percebemos isso ou parcial de textos e imagens
aprende mais.” De acordo com Antônia aqui.”, comemora. sem prévia autorização.
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FI O D A M E AD A
Diálogo:
transpondo
outros
mundos
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É HORA DE INCLUIR
AS FAMÍLIAS
NESTA MISSÃO.
De olho na
implantação
Frente aos desafios propostos pela Base Nacional Comum
Curricular e a iminente implantação, convidamos o
professor da , Nilson José Machado, para responder
dúvidas frequentes de educadores brasileiros.
texto Moderna
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②
c
educatrix a cc
s s i i s pa
ic la es aci ais
e s
A apresentação integrada dos conteúdos organi-
zados em vias de acesso ao conhecimento, que são
as disciplinas (agora, componentes curriculares),
Sim, a Base Nacional Comum Curricular agora é o é basicamente um currículo.
instrumento que fixa os Parâmetros. Os PCNs foram
atualizados na BNCC. Por exemplo, os PCNs falam em educatrix c c c cei a
três áreas do conhecimento, com a Matemática inse- c pe cia e a ili a e
rida da área de Ensino de Ciências da Natureza; para a (Paola Daniele Castro Saturnino, RS)
BNCC, as áreas são quatro: Linguagens, Matemática, Competência é capacidade de mobilização do que
Ciências Humanas e Ciências da Natureza, ou seja, a se sabe para a realização do que se deseja, do que se
Matemática é vista como uma área separada. projeta. Quem nada sabe é certamente incompeten-
te; quem nada busca, nada quer, nada projeta, aque-
③a educatrix
le isla
a as ai es
a s ias as esc las e ela
a al c
le a quem nada apetece é também um incompetente.
Quem sabe muitas coisas, mas não consegue mobilizar
o que sabe — eis aí um incompetente. Na escola básica,
as c pe cias as c eela a podemos resumir as competências a serem desenvol-
c c l a pa i e e as i c p a vidas em três pares: capacidade de expressão/com-
as c pe cias e ais c a esc la preensão, capacidade de análise/síntese, e capacidade
p e ei a e la a l ica c e is a de contextualização/extrapolação de contextos. Cada
e a e a a e a ic la e a par de competências está associado a formas básicas
si i ica i a s as c pe cias s de manifestação, que são as habilidades. A capacidade
p icas pe a icas (Marcia Maria de Sá Kalil, RJ) de compreensão, por exemplo, pode ser traduzida em
A dificuldade básica é como estabelecer pontes habilidades como compreender um texto, compreen-
entre os conteúdos a serem ensinados e as compe- der um gráfico, compreender a importância da água
tências a serem desenvolvidas. Não se pode deixar na preservação da vida humana etc.
de lado os conteúdos, eles são fundamentais. Mas
os conteúdos devem estar a serviço do desenvolvi- educatrix sp s ais
mento das competências. A ponte a ser construída ele a es pa a i pla a a
deve ter por base as ideias fundamentais dos con- cc a a s p ess es e e
teúdos disciplinares envolvidos. A grande dificul- s a ai ia i e a a pa a
dade é o fato de que, sobretudo no ensino médio, se ese l i e e c pe cias e
perdeu o discernimento entre o que é fundamental a al a a e essa p p s a e
e o que é complemento. As ideias fundamentais de e ca a se pla e a e e
cada disciplina são indispensáveis; as tecnicidades essa pe spec i a al a s a pi i
complementares podem ser deixadas ao gosto do s e a al c c pe cias e a
freguês. Quem aprende as ideias fundamentais sabe essi i ica a p ica ce e
ir buscar os complementos, se e quando precisar. (Mariza Alves de Carvalho, RJ)
A ideia de competência não é nova, nós é que per-
④
c
educatrix ais s
pass s pa a ees
c l a esc la e
s p i ei s
a
la se
demos o caminho que leva das disciplinas às com-
petências. Nossos avós tinham clara a consciência
de que nos ensinavam muitas matérias na escola,
p e pe a ic (Tatiane Santos Matos, AL/SE) mas entendiam que os alunos teriam que sair da es-
O projeto da unidade escolar é o primeiro passo. cola sabendo ler, escrever e contar. Essas eram as
A identidade resultante da inserção na comuni- competências básicas para eles. Hoje, precisamos
dade, os valores partilhados, isso se situa em pri- atualizar as demandas escolares. Antigamente, po-
meiro lugar, constituindo o projeto institucional. díamos ser só analfabetos; hoje, podemos ser po-
Naturalmente, a escola não é isolada, pertence a lianalfabetos. Analfabetos em ciências, em tecno-
uma rede com metas e valores mais abrangentes e logia, em economia etc. Precisamos aprender a ler,
deve se situar em sintonia com eles. O projeto pe- é um fato, mas ler significa algo muito mais amplo
dagógico, por sua vez, deve refletir as concepções nos dias de hoje. Nas palavras de Paulo Freire, pre-
educacionais no que tange aos conteúdos a serem cisamos aprender a ler o mundo. Reitero que a ideia
mobilizados e às metodologias a serem praticadas. de competência não é nova. É preciso digeri-la.
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se c e pla as e s a c l a
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-
FaMILIa ESCOLa
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De qualquer modo, é fato inegável que hoje a educacional. Por ser ao mesmo tempo
forma predominante e quase exclusiva de família um direito e um dever, a família pode
é aquela do tipo afetivo-sentimental e que a for- exigir do Estado a efetivação desse seu
ma educacional priorizada é a escolar. Contudo, há direito, por exemplo, através de deman-
HOMESCHOOLING
ainda uma esfera que determina o que é ou não uma das no Ministério Público por vagas em
família de forma estritamente legal – embora, sem creches ou escolas.
dúvida, haja um componente moral nestas normas. O que a lei diz apenas reforça o papel
Essas leis, no caso brasileiro, além de dizerem o que que se atribuiu à família na educação.
constitui uma família, também determinam os seus Historicamente, os processos foram se
deveres em relação à educação. modificando, mas a família que traz um
novo ser ao mundo é também responsá-
e ca c i ei e e e vel por esse ser. Isso permanece válido
Atualmente, o ordenamento jurídico brasileiro é para as chamadas novas famílias. Mu-
regulado pela Constituição Federal, também cha- danças socioeconômicas se intensifica-
mada de Carta Magna, isto é, não há lei que sobre- ram no século XX, e se intensificam ain-
passe a Constituição. Em 2018, foram celebrados da mais em nosso tempo. Novas formas
os 30 anos da Constituição, considerada por mui- de trabalho e novas configurações sociais
tos especialistas como uma das mais avançadas do impactam diretamente na sua consti-
mundo, embora existam problemas visíveis quanto tuição. O papel da mulher na sociedade
à efetivação plena de suas normas. vem se modificando. Embora não seja
No artigo 226, o texto constitucional define a fa- uma novidade, famílias monoparentais
mília como “base da sociedade”, assim como já o são cada vez mais comuns. Ocorre que
faziam Platão e Aristóteles alguns séculos atrás, e certo discurso tradicional em nossa so-
dispõe em seus artigos, dentre outras coisas, que ciedade a associa a uma estrutura com-
§3o Para efeito da proteção do Estado, é reco- posta de “pai”, “mãe” e “filhos” e con-
nhecida a união estável entre o homem e a sidera que famílias monoparentais são
mulher como entidade familiar, devendo a problemáticas ou disfuncionais, o que é
lei facilitar sua conversão em casamento. completamente falso. Outra forma, não
§4o Entende-se, também, como entidade fami- expressa na Carta Magna, são as formas
liar a comunidade formada por qualquer dos homoafetivas, também cada vez mais
pais e seus descendentes. comuns, e que implicam novos desafios
§5o Os direitos e deveres referentes à sociedade para se pensar a relação entre o que é
conjugal são exercidos igualmente pelo ho- família e qual seu papel na educação de
mem e pela mulher. filhos e filhas.
Esse artigo pode ser lido em conjunto com outro, A questão da legalidade do ensino do-
o de número 205: “A educação, direito de todos e miciliar foi recentemente julgada pelo
dever do Estado e da família, será promovida e in- Superior Tribunal Federal, que a consi-
centivada com a colaboração da sociedade”. Em derou ilegal, considerando ser necessá-
1988, a educação já não se restringia mais à edu- ria uma lei para regulamentar tal prática
cação de meninos. Por isso, crianças de ambos os – ela não é expressamente proibida pela
sexos devem ser educadas, de forma universal, até Constituição Federal. O atual governo
o limite da obrigatoriedade. A família, pai e mãe, tem como prioridade a regulamentação
são responsáveis por essa educação. Contudo, ain- desta prática educativa. Refletir sobre
da hoje, na prática, o discurso imperante é aquele isso é saudável, mas o país precisa, an-
que atribui à mãe a responsabilidade pela educação tes de mais nada, de investimento real
dos filhos (“a mulher tem um talento natural para o e bem feito.
cuidado” é uma frase muito comum). É fundamen-
tal dizer que a educação não é apenas um direito a a lia e a esc la
da criança, mas também um dever da família, que Se o papel da família, em suas diferen-
não pode negligenciar nenhuma etapa do processo tes formas, pode ser discutido, também
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O que as famílias
esperam
da escola?
Em meio às mudanças que delineiam novos
horizontes para a educação, famílias refletem
sobre suas expectativas quanto à influência
dos professores sobre os alunos, formação
integral, ensino de idiomas e religião, atividades
extracurriculares, infraestrutura e classificação
da escola no Enem e nos principais vestibulares.
texto Lara Silbiger foto Ricardo Davino
às aulas teve um gostinho diferente em do (PL 7180/14). A tudo isso, soma-se a polarização
2019. A expectativa não girou em torno apenas dos nos debates públicos, o que também obriga mães e
reencontros, do planejamento das aulas ou das pri- pais a decidir de que lado ficar.
meiras reuniões com os pais e responsáveis. Dessa A tarefa, que não é das mais simples, exige que
vez, o começo do ano letivo veio acompanhado de as famílias se aproximem das escolas para entender
reformas estruturais, mudanças no cenário político o que está em jogo com as novidades na Educação
e, principalmente, intensas discussões ideológicas. Básica, ou seja, quais são os riscos e as oportuni-
Se o contexto já era complexo até para os pro- dades. Nesse movimento, reelaborar as expectati-
fissionais da Educação, quem dirá para as famílias. vas em relação aos espaços formais de ensino será
De um lado, elas assistem à reformulação dos cur- inevitável.
rículos e propostas pedagógicas de escolas e redes Nesta edição, a percorreu todas as
de ensino de todo o país para atender as exigências regiões do país para conversar com seis famílias
da (Base Nacional Comum Curricular). De que já mergulharam nessa reflexão. Todas elas fo-
outro, tentam se familiarizar com os conceitos de ram desafiadas a imaginar como seria a escola ideal
competência, habilidade e formação integral e ain- para seus filhos. Confira a seguir os principais tre-
da se inteirar sobre a proposta da Escola sem Parti- chos das entrevistas.
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L I NHA D E R AC I O C Í N I O D O S S I Ê FAMÍLIA ESCOLA
no r d este NATA RN
Andre Luchessi e Vivian Nogueira são docentes da Universi- ção do bem-estar e uma oferta diversificada de
dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Eles são pais de modalidades esportivas.
Yasmin, 5, que estuda no Colégio Bilíngue Marie Jost, e Erik, 3,
que frequenta a New Generation Canadian Preschool. Qual a importância que você atribui ao
Qual é a proposta pedagógica ideal? ensino de idiomas?
A proposta deve prezar pela conscientização do aluno Quero que meus filhos tenham a possibili-
enquanto sujeito social e pelo reconhecimento do outro como dade de, no futuro, escolher o que quiserem ser e,
um sujeito que também merece respeito e aceitação. Na prá- sem dúvida, o inglês abrirá portas para eles. É fun-
tica, seria abrir o leque para que as crianças tivessem con- damental que a escola valorize a globalização, reco-
tato com outras realidades econômicas, culturais, sociais, nheça que não existe só o Brasil como opção e apre-
religiosas e familiares. Isso poderia se dar, por exemplo, por sente aos alunos outras culturas, línguas e formas
meio de cotas de inclusão de estudantes de baixa renda em de viver. É com vistas a esse contexto global que es-
instituições privadas – uma iniciativa que já é realidade no pero que a escola invista no ensino de idiomas.
colégio da minha filha.
Como deve ser a infraestrutura da escola?
Você considera a formação integral uma premissa O mobiliário precisa estar adequado à ida-
da educação no século XXI? de e às especificidades dos alunos. É bom que haja
Se por um lado as crianças têm cada vez mais acesso áreas verdes para proporcionar o contato com a
à informação e a estímulos para o desenvolvimento cogni- natureza. Outro pré-requisito é a segurança – no
tivo, de outro precisam aprender a lidar com tudo isso — da interior da escola, para a prevenção de acidentes,
ansiedade e imediatismo da era touch à conexão permanen- e no exterior, para afastar a criminalidade. Quero
te dos pais ao trabalho graças aos conceitos de mobilidade e saber que posso estacionar o carro e levar ou bus-
conectividade. Por isso, já não dá para conceber uma escola car minhas crianças com tranquilidade.
que não contemple a dimensão socioemocional do desen-
volvimento. Para aprender, o aluno precisa antes estar bem Destacar-se no ranking do Enem e dos
psicologicamente, fisicamente e socialmente. principais vestibulares do país é um pré-requisito?
Por si só, a boa classificação não é deter-
O projeto da Escola sem Partido vem ao encontro minante para afirmar que uma escola seja melhor
das suas expectativas? que outra. No entanto, daqui uns anos, meus filhos
Cabe à escola formar cidadãos autônomos e com não terão como escapar de fazer o Enem ou outros
consciência política, o que não significa impor-lhes direcio- processos seletivos para ingressar na universi-
namentos políticos, morais, ideológicos ou religiosos. Nesse dade. Por isso, é inevitável que ainda usemos os
sentido, estou de acordo com o projeto de lei quando este re- rankings como parâmetro na hora de escolher —
conhece o aluno como sujeito vulnerável frente à influência mesmo sabendo que estes não dizem muito sobre
do professor. Este precisa ter consciência do seu papel e não a formação que a escola proporciona.
sair falando o que bem quiser na aula – há outros espaços
para fazer isso. Não só como pai, mas também como docente,
entendo que a liberdade de expressão deva caminhar lado a n o rd este A AD O R A
lado com a responsabilidade pelo que se diz e o que se faz. Rosângela Accioly é pedagoga e mãe de Nicole, 14,
Outro ponto com o qual concordo é a possibilidade de a famí- que estuda no Colégio Estadual de Aplicação Aní-
lia decidir sobre expor ou não o filho a determinados assun- sio Teixeira.
tos na escola ou, pelo menos, de ser informada previamente Qual é a proposta pedagógica ideal?
de que aqueles temas serão abordados. A proposta pedagógica deve contemplar
questões conceituais como diversidade, pluralidade,
Quais valores você espera que a escola transmita? alteridades civilizatórias e diferença da pessoa com
Em linhas gerais, valores que coincidam com os da deficiência, bem como conhecimentos científicos –
minha família: o respeito às diferenças, a valorização dos inclusive de povos cujos saberes milenares ficaram
estudos como meio de desenvolvimento pessoal e profissio- de fora do currículo oficial – e novas tecnologias. É
nal, a observância de regras, uma alimentação saudável fundamental que preveja como desdobrar tudo isso
com cardápios alinhados a princípios de saúde e à promo- em práticas pedagógicas para os professores.
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Destacar-se no ranking do Enem e dos política, na sua essência, quer dizer participação – o que
principais vestibulares do país é um pré-requisito? não tem nada a ver com participação político-partidária.
Uma escola direcionada ao Enem ou Por isso, a escola deve sempre estar disposta a contribuir
ao vestibular não tem como dar conta da pessoa com o desenvolvimento social e não pode aceitar essa mor-
humana. Antes, é preciso oferecer espaços de va- daça à sua vocação de diálogo e pluralidade. As mazelas da
zão à inventividade e à criatividade para o alu- sociedade e também as soluções precisam ser discutidas na
no entender sua própria vocação. Muito além do escola: uma instituição libertária e cuja missão é incitar o
mercado de trabalho, precisamos reconhecer a aluno a perguntar e participar da democracia.
escola como um fator de transformação social e
afetiva, envolvimento emocional e entendimento A ideologia de gênero deve ser abordada em sala de
de diversidades e pluralidades. Só assim a educa- aula? Em quais circunstâncias?
ção será assertiva e integral. Falar de ideologia de gênero é necessário quando o
tema surge espontaneamente. O professor não precisa ser pro-
O projeto da Escola sem Partido vem ao positivo, mas ele e os demais profissionais precisam estar ap-
encontro das suas expectativas? tos a acolher o assunto e a turma, por exemplo, se um menino
Ao meu ver, é uma proposta ideológi- vier para a aula com roupas tidas como femininas. A escola do
ca de silenciamento político da escola. De silen- século XXI é desafiadora justamente porque grita pela diversi-
ciamento das diversidades em um lugar que é de dade e pela diferença, algo que não deve ser visto como negati-
debate, por excelência. Vale destacar também que vo, mas como um elemento constituidor da nossa humanidade.
n o rte MA AP AP
Eunubia Rodrigues é licenciada em História e professora dos
ESCOLA SEM PARTIDO Almejo uma escola que priorize não só o conheci-
mento sistemático, como também o acolhimento à diversi-
dade e individualidade dos alunos. Espero isso em todos os
sentidos para o meu filho – da religiosidade à sexualidade –,
Sem consenso para votação, a proposta em uma escola que tenha como marca identitária o respeito
da Escola sem Partido (PL 7180/14 e ao livre arbítrio.
outros) foi arquivada no final da última
legislatura. Agora cabe aos novos O projeto de lei da Escola sem Partido vem ao en-
deputados retomar o assunto. Entre outras contro das suas expectativas?
coisas, o projeto estabelece seis deveres Não vejo problema de o professor manifestar seu
do professor para apresentar de “forma posicionamento se ele também respeita pontos de vista di-
justa” questões políticas, socioculturais ferentes. Isso é diferente de influenciar deliberadamente os
e econômicas e para não se aproveitar alunos ou de questionar as convicções deles. Por outro lado,
da “audiência cativa dos estudantes” em também confio que meu filho seja um ser pensante e com ca-
temas relacionados a política, religião e pacidade de discernimento.
moral. Também proíbe “o uso de técnicas
de manipulação psicológica destinadas a Como deve ser a infraestrutura da escola?
obter a adesão dos alunos a determinada Na minha região, os laboratórios de Ciências, bi-
causa” e estipula que não haja intromissão bliotecas e salas de leitura são ambientes ainda escassos
“no processo de amadurecimento sexual ou precários na rede pública. No entanto, a infraestrutura
dos alunos”, nem tentativa de convertê- para a pesquisa, inclusive com recursos digitais, é essen-
los no que tange a questões de gênero. cial tanto para a formação do aluno quanto para o suporte
ao professor.
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L I NHA D E R AC I O C Í N I O D O S S I Ê FAMÍLIA ESCOLA
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Que valores você deseja que a escola sud este O PAU O P
transmita? Cristina Hassunuma é dentista e mãe de Augusto, 11 anos, que
Basicamente, os valores éticos, morais e estuda no Colégio Vértice.
religiosos que minha família já traz de geração em Qual é a proposta pedagógica ideal?
geração. Cabe, portanto, à escola apenas reforçá- Deve prever conteúdos curriculares e extracurri-
-los junto às crianças. culares e estimular o desenvolvimento da responsabilidade
e autonomia nos estudos, sem nunca perder de vista os vín-
As atividades extracurriculares são im- culos sociais. Almejo também uma escola que atente para a
prescindíveis? educação integral, com acompanhamento individualizado
Elas não podem faltar, entre outras coi- da aprendizagem do aluno enquanto cidadão. Destaco ain-
sas, porque ajudam a desenvolver habilidades e da a necessidade de promover a formação continuada dos
autoconhecimento. Vale investir, por exemplo, em professores, sua inclusão na cultura digital e o uso de novas
cursos de informática, matemática, profissionali- tecnologias para avaliação institucional e educacional.
zantes, idiomas e esportes.
Destacar-se no ranking do Enem e dos principais
O projeto da Escola sem Partido vem ao vestibulares do país é um pré-requisito?
encontro das suas expectativas? Figurar entre os primeiros lugares do Enem é sempre
Não acho que seja de todo ruim o professor favorável aos olhos das famílias. Isso porque o resultado ten-
manifestar seu posicionamento em sala de aula, de a ser consequência de um bom ensino e de métodos de ava-
pois ainda assim caberá somente ao aluno tomar a liação adequados. Ainda assim, vale ponderar que a função
sua própria direção. Vale lembrar também que este da escola não pode se restringir a fazer o aluno passar no ves-
já chega à escola com certa carga de informações tibular. Antes de mais nada, é preciso prepará-lo para a vida
— da família, dos amigos, da religião etc. —, à qual em sociedade, o que vai muito além dos muros da instituição.
o docente poderá somente somar pontos de vista.
O projeto da Escola sem Partido vem ao encontro
das suas expectativas?
Sou a favor do projeto porque vai além da Educação.
Tem a ver com democracia e direito à liberdade de expressão
e pensamento. Por isso, os professores devem agir com ética
e bom senso no exercício da profissão – sem qualquer viés de
COMPETÊNCIAS
doutrinação –, de forma que os alunos aprendam a pensar
de forma autônoma e crítica.
29
Atitudes
PARA A VIDA
O desenvolvimento progressivo
das competências socioemocionais
Boas práticas
para uma
parceria
de sucesso
Dicas para ajudar a florescer uma relação
sólida com pais e responsáveis, com
foco na formação integral dos alunos.
texto Taís Bento e Roberta Bento foto Ricardo Davino
32
a relação da família com escola se crianças ao seu desenvolvimento pleno.
torna essencial para que os alunos consigam aliar Quando nós, os adultos de hoje,
o prazer pelo aprendizado às habilidades que são éramos crianças, tínhamos uma roti-
fundamentais para uma formação integral. Hoje, os na muito diferente daquela que nossos
alunos de todas as faixas etárias têm uma relação ne- filhos têm hoje. Os momentos em fa-
gativa com os estudos. Ao mesmo tempo que os pais mília ajudavam para que as habilidades
e responsáveis reconhecem a importância do apren- básicas necessárias para uma boa rela-
dizado formal e veem a escola como fundamental ção com os estudos fossem desenvol-
para o desenvolvimento pleno de seus filhos, eles vidas em casa. Enquanto esperávamos
depositam exclusivamente na instituição a cobran- a semana toda pelo nosso programa
ça para que os alunos se envolvam com os estudos. predileto e negociávamos o canal de TV
Quando os pais se veem em situação de estresse, que todos assistiriam juntos, desenvol-
seja na hora da lição de casa, no momento em que víamos habilidades como paciência,
recebem o boletim com notas baixas ou quando en- empatia e persistência. Desde muito
frentam problemas de comportamento, geralmente, pequenos, aprendíamos a dividir com
procuram o culpado na escola: a metodologia aplica- outros irmãos a atenção de nossos pais.
da, o material didático, a coordenação, o professor Compartilhar brinquedos, guloseimas
e, até mesmo, os colegas de sala. No desespero, co- e espaço na mesa era um pressuposto
bram mudanças por parte da escola ou acabam por que fazia parte da vida de uma criança
matricular o filho em outro colégio. Frustração ge- ou adolescente. Esses momentos su-
neralizada quando os problemas voltam a se repetir, miram da rotina familiar. Ao mesmo
em intensidade cada vez maior, quanto mais o aluno tempo que diminuíram em tamanho,
cresce ou avança nas etapas de ensino. Tanto a escola as famílias têm menos tempo com-
quanto as famílias acabam reféns de um círculo vi- partilhado para conversas e ativida-
cioso em que cada qual espera do outro soluções para des. Somada a todas essas mudanças,
questões cujas respostas estão na ação conjunta. vieram a correria do dia a dia e a ne-
cessidade desvairada de fazer diversas
e e ai p e atividades simultaneamente: conver-
pa a e l e al sar ao telefone enquanto assiste à tele-
p c e ss e ap e i a e visão, pagar contas on-line enquanto
a lia esc la cozinha ou resolver questões de traba-
Imagine que a mudança de postura para que os alu- lho enquanto dirige. Há uma premissa
nos possam gostar de aprender e ter melhor desem- básica aqui: crianças aprendem pelo
penho nos estudos seja uma porta. A família tem a exemplo, ou seja, seguem os passos
fechadura e a escola possui a chave. Quem abre a dos pais. Nessa dinâmica em que tudo
porta é o aluno, mas somente se e quando fecha- acontece ao mesmo tempo, restrin-
dura e chave estiverem disponíveis. Ao ajustar a gem-se as oportunidades para desen-
rotina da família para que, desde o nascimento, os volver habilidades fundamentais para
filhos desenvolvam habilidades como paciência, os momentos de estudo como senso
capacidade de lidar com frustrações e autoestima, de responsabilidade e a capacidade de
os pais cumprem seu papel de preparar a criança foco e concentração. Assim, é urgente
para o processo de aprendizagem formal. Ao man- que tais oportunidades sejam inseridas
ter formação continuada como parte da rotina da na rotina das famílias para que os filhos
escola, gestores garantem que os professores terão possam desenvolver em casa as compe-
as ferramentas para ajudar cada aluno a encontrar tências que servirão de base para novos
caminhos para desenvolver todo seu potencial. Nem conhecimentos, habilidades e atitudes
família e nem escola conseguem sozinhas levar as que então a escola ajudará a aprimorar.
34
a l ia e esc la as ais c p a e s
i c ca i pa a a a lia e e e i a
ese l i e Algumas atitudes dos pais e responsáveis podem
a s c pe cias prejudicar a relação que o filho tem com os estu-
p p s a s pela cc dos. Em geral, as famílias não se dão conta da pos-
Há inúmeros pontos a serem discutidos tura e das mensagens que estão passando. Alertar
sobre a Base Nacional Comum Curricu- para esses pontos pode ser o suficiente para que a
lar. Sem dúvida, existem aspectos polê- parceria com a escola tenha sucesso ao longo de
micos e outros que poderiam – e espera- todo o ano letivo. Listamos abaixo algumas prá-
mos que sejam – melhorados. Não seria ticas que temos visto em escolas e que podem ser
justo, contudo, deixar de falar sobre um trabalhadas para melhorar a relação das crianças e
dos maiores benefícios que essa nova adolescentes com os estudos:
proposta traz para a educação de nosso
país: o foco nas competências. Este é o ① Querer que a escola se adapte à rotina que a
família tem em casa.
caminho para levar a educação formal a
se aproximar cada vez mais das necessi-
dades dos alunos e da sociedade moder-
② Tentar determinar as dificuldades que o alu-
no vai ter e se antecipar ao esforço do filho
para que consiga mudar padrões estabelecidos.
na. Sai do holofote o conteúdo, entram
as competências com foco no desenvol-
vimento humano integral dos alunos.
③ Justificar falta de envolvimento com proble-
mas já resolvidos ou com limites que coloca-
dos pelo próprio bem do aluno. Exemplo: “ele não
35
gosta de vir para a escola porque a professora do ano sua família não confia na escola, passa a
passado ficou brava quando ele bateu no colega.” agir de forma a colocar professores e pais
36
para falar sobre questões que os próprios filhos po- a lia e esc la
deriam resolver na escola. E assim, contratempos que c s
fazem parte da convivência escolar se transformam es s i s
em enormes tempestades. A escola, muitas vezes, Em um momento em que o mundo está
acaba sendo cobrada quando o assunto já virou bri- tão desafiador e com tantas mudanças,
ga envolvendo famílias que deveriam dar aos filhos o nem família e nem escola precisam ter
exemplo de relações sociais saudáveis. todas as respostas e dar conta de tudo
37
Mediação
na escola
Como estimular a resolução
de conflitos e os valores
democráticos para formar
indivíduos mais tolerantes.
texto Alynne Nayara Ferreira Nunes
faz a conexão com o futuro da socie- locar no lugar do outro — e a valorização da di-
dade. Na formação das crianças e adolescentes, a versidade inerente em cada ser humano estão na
escola, ao prestar o direito à educação, deve dis- raiz da relevância do diálogo. A interação com o
seminar valores democráticos para que os alunos outro permite espaço ao contraditório, ao inter-
de hoje possam auxiliar na construção de um país câmbio de ideias, além de propiciar a resolução de
mais justo, mais tolerante e menos preconcei- problemas. O repertório cultural e intelectual que
tuoso. No entanto, é preciso ter em mente que a a escola objetiva transmitir a seus alunos, nesse
escola também é local de reprodução dos valores sentido, os auxilia na elaboração de fundamentos
de nossa sociedade; seus preconceitos e conflitos mais sofisticados, priorizando o debate de ideias e
são reproduzidos pela comunidade escolar. O pa- valorizando a argumentação racional.
pel da escola em conexão com o futuro consiste O contrário ao diálogo consiste na arbitrarieda-
exatamente em identificar práticas sociais ultra- de, na “justiça pelas próprias mãos”, em que vale
passadas e estimular valores ligados à democra- a regra do mais forte — seja física, política ou eco-
cia, como a manifestação do livre pensamento, a nomicamente. O medo e a introspecção passam a
crítica qualificada e a valorização da diversidade. ser a tônica, impedindo que a comunidade escolar
Conectar-se com o futuro significa ter consciência exponha seus conflitos e contradições, em vez de
de práticas do presente que precisam ser deixa- buscar solução dialogada e paritária. Essa relação
das para trás e trazer aos alunos a importância de autoritária de poder torna o ambiente escolar su-
desenvolver novas atitudes, novas perspectivas e jeito a constantes vigilâncias, contrárias ao propó-
novas relações sociais baseadas no respeito à dife- sito de libertação, de formação crítica e de respei-
rença e na cultura de paz. to às individualidades de cada aluno, além de ser
Alteridade ou empatia — a capacidade de se co- incapaz de resolver, de fato, seus conflitos.
38
N ós!
39
Sob essa dinâmica, crianças e adolescentes, indi- diação. Há o desenvolvimento de uma habilidade
víduos em formação, tornam-se vulneráveis a fake importante para a formação, que é a percepção da
news e ideais extremistas, divulgados maciçamen- responsabilidade de suas ações nas relações sociais
te pelas redes sociais, cuja velocidade das informa- e de conectar-se com o outro, abrindo-se para a
ções inviabiliza o tempo necessário para reflexão e diferença e solidariedade. Os alunos que praticam
crítica. Por essa razão, submetê-los a um processo a mediação se tornam menos violentos e mais re-
de resolução de conflitos, que usa o diálogo como flexivos, o que colabora para aumentar o desem-
base, é torná-los aptos ao crivo do contraditório, penho da classe. Práticas de violência reiterada,
ao debate e à defesa de suas opiniões de forma mais como o bullying, tendem a reduzir gradualmente a
consistente e racional. É prepará-los para os de- partir do engajamento na mediação. Ao adotar esta
safios de uma sociedade cada vez mais complexa, técnica, a instituição de ensino se adequa à legisla-
na qual a escola se apresenta como o antídoto, pois ção que determina a adoção de medidas preventi-
combate a ignorância e a alienação. vas e repressivas contra o bullying (Lei no 13.185/15
Ao olhar para o presente, pergunto: como lida- e Lei no 13.663/18).
mos com os conflitos em nossa sociedade? A escola A mediação, assim, se apresenta como um mé-
tem sido capaz de projetar o futuro e aperfeiçoar todo vantajoso na resolução dos conflitos por-
as relações sociais? A escola tem obtido sucesso que pode envolver toda a comunidade escolar no
em formar indivíduos conscientes de seu papel na processo decisório. Isto é, não é preciso recor-
complexa sociedade em que vivemos, no sentido de rer a terceiros ou deixar a tarefa de resolução de
estimular práticas democráticas, capazes de resol- conflitos apenas para a direção, sobrecarregando
ver conflitos pacificamente? Estas são questões em ainda mais aqueles encarregados da gestão edu-
aberto que devem estar no radar do gestor educa- cacional. A mediação, nesse sentido, se conecta
cional. Isso porque os conflitos também ocorrem, com um dos pilares da educação, o de pugnar pela
naturalmente, dentro do ambiente escolar, e a for- formação humana dos alunos, desenvolver habili-
ma como são apresentados na escola reflete na for- dades necessárias à resolução de conflitos, além de
mação dos alunos e da nossa sociedade. demonstrar que a escola é capaz de resolver suas
A mediação emerge, por isso, como um dos pa- próprias questões de maneira autônoma e metó-
cíficos meios de resolução de problemas, capaz de dica. A mediação ainda contribui para a redução
capacitar os envolvidos, pois requer que as partes da violência escolar que muitas vezes extravasa o
exponham suas versões e proponham soluções ambiente educacional.
com autonomia. Se adequadamente conduzida,
pode chegar a resultados satisfatórios. É relevante c ese l e a
conhecer os sentimentos, as emoções que resulta- e ia ec li s
ram no conflito: agressividade, raiva, frustração, Inicialmente, é preciso deixar de lado os julga-
descontentamento, problemas familiares. A me- mentos prévios, como criticar, culpar, concordar,
diação, embora pareça utópica para muitos, requer discordar, tomar um lado, ridicularizar ou dimi-
prática; ou seja, quanto mais esse método estiver nuir o argumento de uma das partes e fazer amea-
inserido nas práticas da instituição de ensino, mais ças. O mediador – que pode ser um adulto ou mes-
será perseguido e mais os alunos tirarão proveito mo os jovens alunos – deve manter postura neutra
do aprendizado provocado pelo conflito e pela me- e se esforçar para entender as motivações emocio-
40
nais e racionais que conduziram ao conflito. O ser levada em consideração. Alunos conscientes
poder de decisão cabe às partes envolvidas; e, de seus direitos e deveres, que aprendem a ser
ao mediador, cabe a escuta ativa e a formula- responsáveis e a olhar o outro com humanidade,
ção de questionamentos que auxiliem as par- buscando entender seus argumentos e comporta-
tes a resolverem o conflito. O mediador ocupa mentos, serão menos propensos à violência e mais
posição que requer humildade para reconhecer dedicados aos estudos. Uma classe que se capaci-
o direito do outro de falar e expor sua versão, ta na mediação contribui para evitar a prática do
sem se sentir constrangido. Cabe a ele garantir bullying. Por essa razão, uma escola que adota
o tempo de cada um para se explicar e apre- os princípios da mediação para resolver conflitos
sentar suas colocações. A linguagem corporal está formando indivíduos respeitosos, que opta-
também contribui para a adequada condução rão pela conversa, pelo diálogo, pela pacificação
da mediação: olhar nos olhos do interlocutor, social. A escola do futuro é aquela que compreen-
braços relaxados e pernas descruzadas são si- de, internaliza e aplica os valores democráticos em
nais não verbais que indicam que as partes po- seu âmbito. Serão esses os indivíduos com maior
dem conversar livremente e que seus pontos de resiliência para enfrentar pacificamente os confli-
vista serão ouvidos. tos de nossa complexa sociedade.
O campo da mediação é vasto e há diversas A escola que adotar técnicas de mediação para
dinâmicas a serem adotadas. Geralmente, as resolver conflitos e repensar as atitudes violentas
mediações possuem o seguinte formato: da comunidade escolar estará contribuindo para
③
escritório especializado em Direito Educacional. Mestre
Sugestão de soluções: após as partes ex-
em Direito e Desenvolvimento pela FGV Direito SP.
porem seus sentimentos, opiniões e ar- Contato: alynne@ferreiranunesadvocacia.com.br.
gumentos, o mediador questiona como podem
oferecer sugestões para resolver o conflito, aju-
h CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
dando-os a se colocarem no lugar do outro. Diálogos e mediação de conflitos nas escolas - Guia
④ Conciliação e resolução: uma vez pro- prático para educadores. Brasília, 2014. Disponível
em: goo.gl/rsw74z. Acesso em: 31 jan. 2019.
posta, a mediação intervém para que as
h CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Mediação de conflitos
partes entrem em acordo sobre os termos da re- nas escolas em busca da pacificação social. 25 jul. 2017.
solução do conflito. É essencial que as partes con- Disponível em: goo.gl/1PczHW. Acesso em: 31 jan. 2019.
h VIVALDI, Flávia. Alunos como mediadores de conflitos
cordem em relação aos termos da conciliação. na escola. Gestão Escolar, 9 out. 2015. Disponível
Ao tratar da qualidade da educação, a pa- em: goo.gl/P82Fz3. Acesso em: 31 jan. 2019.
41
Como tornar
as reuniões
de pais mais
produtivas?
Reuniões esclarecedoras e formativas são mais eficazes
e fazem parte da proposta da escola do novo tempo.
texto Eny Muniz fotos Ricardo Davino
em que a reunião de pais precisava ser en- tes e famílias mudam ao longo do tempo e criam a
fadonha, cansativa e que só nos preocupávamos em falar de necessidade de se repensar como planejar reuniões
resultados de avaliação e desempenho da aprendizagem. que tenham significado e possam comunicar me-
Abre-se uma nova era em que a reunião precisa ser criati- lhor a proposta pedagógica e o currículo da escola.
va e atrativa, levando todos os pais a experenciar, ou seja, a Um fator importante a ser considerado é o tempo
vivenciar as experiências que seus filhos vivem dentro da es- da reunião: dia da semana e horário. Uma simples
cola. Essa é a melhor maneira de comunicar todo o universo pesquisa pode revelar quais horários e dias atraem
escolar e ressignificar o encontro à vista de um novo tempo, mais público, assim como quais temas os pais dese-
de imprimir novas práticas para que os pais se sintam mais jam saber mais. Na vida moderna, pais e mães tra-
envolvidos no processo de aprendizagem dos seus filhos. balham fora, e a escola precisa entender o contexto
Mas, afinal de contas, como tornar as reuniões de pais mais da comunidade e propor, de modo mais efetivo,
produtivas? Ao refletir sobre a função social da escola, surge um cronogramas flexíveis para ter um público maior
questionamento sobre como acontece a relação Escola x Estudan- de participantes. Outro item importante é o envio
te x Família, em uma tríade em busca de pontos de convergência. de uma pauta esclarecedora do que será tratado na
Em um mundo ideal, podemos pensar a necessidade de se reunião, com horário de início e término, não ultra-
estabelecer uma matriz de responsabilidades, em que fique passando 50 minutos. Temas gerais podem ser tra-
claro qual o papel de cada um no desenvolvimento humano e tados com todos os segmentos, mas essa estratégia
integral de cada criança e adolescente. O que cabe à escola? O nem sempre funciona porque a linguagem pode se
que cabe ao estudante? O que cabe à família? Escolas, estudan- tornar desnecessária para alguns participantes.
42
co o z r o s io o
MAR MA O
Apresentado por Peter Skillman, o desafio do marshmallow é um desafio de
design que valoriza o planejamento e trabalho em equipe. O objetivo é mostrar a
importância da colaboração e da criatividade para resolver questões do dia a dia.
A ideia é simples: equipes de quatro pessoas têm de construir uma torre com estrutura
estável usando apenas espaguete, barbante, fita adesiva e um marshmallow, sendo
que, obrigatoriamente, o marshmallow precisa ficar, inteiro, no topo da torre.
Vence a equipe que conseguir construir a maior torre dentro do tempo estabelecido.
pas s ①
Prepare a sala de reunião com mesas
separadas e divida os pais e responsáveis
em grupos de quatro pessoas.
pas s ②
Entregue um kit para cada grupo:
20 fios de espaguete cru;
1 metro de fita adesiva;
1 metro de barbante;
1 marshmallow;
1 tesoura (para cortar o barbante).
pas s ③
Explique as regras do desafio:
: A equipe
vencedora é a que tem a estrutura estável
mais alta, medida a partir da superfície da
mesa até o topo do marshmallow;
:
cortar ou comer parte do marshmallow
desqualifica a equipe;
: As equipes são
livres para quebrar o espaguete, cortar a fita
ou o barbante como acharem melhor.
Estabeleça o tempo de 18 minutos
para montagem do protótipo.
pas s ④
Finalize o tempo do desafio, meça os protótipos
criados com uma trena e declare o vencedor.
Peça para as equipes falarem sobre
as dificuldades e os processos utilizados
para a construção do protótipo.
44
45
REDE A L U N O S
F A M Í L I A S
E S C O L A S
Educação Infantil • Ensino Fundamental - Anos Iniciais • Ensino Fundamental - Anos Finais • Ensino Médio
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G ESTÃ O E S C O L AR
ESCOLA
48
49
51
52
53
Na linha de frente
da educação
Os desafios de ser orientador
educacional em tempos tão
desorientados e pouco educados.
texto Ricardo Prado
54
Porém, além dos conflitos naturais que sempre o papel da escola e visões de mundo antagônicas.
envolvem as aglomerações humanas, ainda mais Como se fazer entender em meio a tal cacofonia?
quando nela se concentram crianças e adolescen- Quais desafios esse profissional precisará superar
tes, com a imprevisibilidade e as transformações para colocar um pouco de ordem na escola após
hormonais que trazem consigo, o ano de 2018 foi esse ano tumultuado? São essas indagações que
especialmente tenso em todo o país – e nas esco- nortearam a conversa com cinco educadoras que
las também. Ao longo de um processo eleitoral refletiram, a partir de diferentes pontos de vista e
marcado por discussões políticas crescentemente experiências, suas próprias perplexidades diante de
violentas, rachas familiares e rompimentos de ami- um cenário bastante nebuloso.
zades antigas, as escolas não passaram incólumes “Como educadora, eu penso que o grande de-
pelo vendaval. Discussões sobre o papel da escola, safio da pós-modernidade é conseguir flexibilizar
a proliferação de fake news envolvendo temas rela- o pensamento”, analisa Luciana Lapa, orientado-
cionados à educação, o crescimento do movimento ra educacional na escola bilíngue Stance Dual, em
conservador “Escola sem partido”, além de diver- São Paulo. “Em um momento de polarização, o que
sos temas de natureza comportamental afloraram se observa é uma falta de empatia diante da pers-
de forma caótica, colocando em um confuso balaio pectiva do outro”, constata. E busca um exemplo
questões de gênero, de pedagogia, discussões sobre em outra seara para reforçar seu argumento. “Você
“O GRANDE DESAFIO
DOS EDUCADORES
É MEDIAR RELAÇÕES
A PARTIR DE
PERSPECTIVAS
DIFERENTES”
,
Orientadora
educacional.
56
57
TODO PROFESSOR É UM
ORIENTADOR EDUCACIONAL,
NO SENTIDO DE QUE ENSINA
AQUELA CRIANÇA, COM AQUELA
HISTÓRIA, NAQUELA ESCOLA
E NAQUELE CONTEXTO.
58
59
650
presente em
de
escolas no Brasil 16 países
Transformação
digital docente
Tornou-se uma fala vazia justificar a urgência da forma-
ção continuada às atuais mudanças do mundo. Que o
mundo mudou e continuará mudando todos já sabem,
mas o que sua escola está fazendo para empoderar os
principais agentes dessa transformação: os professores?
texto Lara Silbiger
quatro décadas, a transformação di- base em dados e pesquisas formais, que direcionar
gital mudou completamente nossa forma de atuar o ensino com base nesses fatos é “incorrer no erro
no mundo. Revimos conceitos até então estabele- de presumir que seus alunos possuem talentos e
cidos e vivenciamos novas experiências de intera- habilidades que os professores não possuem”. Com
ção, cooperação e compartilhamento. A forma de isso, assegura que, embora a forma como significa-
conviver se transformou, assim como a maneira mos o mundo tenha mudado, cabe ao professor e
de consumir informação, refiná-las e conectá-las. ao coordenador assumirem as rédeas e formaliza-
Reaprendemos todos os dias a viver no mundo em rem a maneira como lidam com a informação on-
que nossos alunos já nasceram imersos. -line, tanto para as novas quanto para as gerações
Você deve estar acostumado com esses clichês dos próprios profissionais, numa perspectiva de
e a ser tachado como “imigrante digital”, tentan- aprendizado contínuo.
do aprender a língua do momento para adentrar
o mundo dos “nativos digitais”. Estes conceitos O NO O M UNDO O M UNDO DE O E
foram propostos pelo escritor Mark Prensky, em A sociedade atual vem presenciando o que está sen-
2001, e reverberados até hoje mundo afora. Dizia do chamada Quarta Revolução Industrial ou Indús-
ele: “Se educadores imigrantes digitais realmente tria 4.0, que se reflete em um mundo cada dia mais
querem educar nativos digitais – ou seja, todos os interconectado, complexo e incerto. Não é à toa que
seus alunos – eles precisarão mudar. É hora de eles imaginar as profissões do futuro virou um exercício
pararem de resmungar e, como diz o slogan da Nike de alto risco. “Fugimos dos nomes de profissões e nos
para a geração de nativos digitais, ‘Just do it!’ (sim- concentramos nas habilidades que serão necessárias.
plesmente faça)”. Acontece que ao longo dos anos Estas são mais previsíveis, úteis e passíveis de serem
um grande número de trabalhos científicos chegou desenvolvidas e praticadas – o que não é possível em
a conclusões diferentes, como o artigo “Os mitos se tratando de profissões que ainda nem sabemos
do nativo digital e do multitarefas”, publicado em como vão se chamar”, afirmou Amar Kumar, líder da
2017 na revista Teaching and Teacher Education e pesquisa “O futuro das habilidades: empregabilidade
endossado pela revista Nature, que afirma, com em 2030”, em entrevista ao portal Porvir.
62
De acordo com esse estudo, as habilidades liga- de inovação, integrando novas tecnologias. O objetivo é apro-
das à criatividade, originalidade, fluência de ideias fundar a prática pedagógica, promover a colaboração entre
e tomada de decisão estarão em alta no final da colegas, repensar as abordagens tradicionais e preparar os
próxima década. alunos para impulsionar o próprio aprendizado.
A pesquisa também revela que o setor de Educa- As metas, com suas respectivas competências, são específicas
ção tende a ganhar mais eficiência com o avanço das para cada padrão. Em “Aprendiz”, por exemplo, os educadores de-
tecnologias digitais, bem como expandir sua força vem aprimorar sua atuação enquanto aprendem e exploram práti-
de trabalho. Entre os nichos que devem se destacar, cas promissoras em prol da melhoria do aprendizado. Já em “Ana-
Kumar cita as mentorias individuais. “Haverá alta lista”, entendem e usam dados para orientar suas instruções, bem
demanda tanto por aprender quanto por aprender como ajudam os alunos a atingir suas metas de aprendizado. No
como se aprende”, diz. standard “Cidadão Digital”, por sua vez, os educadores inspiram
os estudantes a participar do mundo digital com responsabilidade
EDU A O e a contribuir de forma positiva. Em “Designer”, desenvolvem ati-
Impulsionada pela Indústria 4.0 e seus impactos vidades em ambientes que sejam autênticos, acolham a diversida-
sobre a economia e o mundo do trabalho, a Edu- de e sejam voltados para o aprendiz. O foco no aluno também está
cação 4.0 vem ganhando força. Ela se apropria das presente no standard “Facilitador”, que privilegia o aprendizado
tecnologias digitais – não só como ferramentas, com tecnologia para ajudá-lo a conquistar os standards que o
mas como agentes de transformação – para repen- elaborou especificamente para estudantes. Por fim, em “Líder” o
sar as experiências de aprendizagem nas escolas. desafio é identificar oportunidades de liderança para melhorar o
Baseada no conceito de learning by doing (em por- ensino, a aprendizagem e o sucesso do aluno.
tuguês, aprender fazendo), sugere que o processo
de aprendizado contemple vivências, projetos, ex-
perimentação e mão na massa.
O objetivo da nova escola deve ser criar um es- APRENDIZ
paço propício para que o aluno saia da condição de
②
sujeito passivo e ocupe o eixo central da aprendiza-
ANALISTA LÍDER
gem – por exemplo, em um ambiente de incentivo
à inovação, invenção, resolução de problemas e co-
laboração. “Cabe ao professor conduzir tudo isso;
afinal, ninguém melhor do que ele para entender
Standards ISTE
as necessidades de desenvolvimento dos alunos de
hoje”, afirma Anna Katarina Vasconcellos, gerente
FACILITADOR
EDUCADORES ③
CIDADÃO
DIGITAL
de Inovação e Projetos do Moderna Compartilha.
Frente aos novos papeis do professor, a formação
docente adquire um caráter estratégico nas insti-
tuições de ensino. “Se queremos o aluno preparado DESIGNER COLABORADOR
para enfrentar os desafios deste século, precisamos
ter a escola e o professor devidamente preparados
para o que está por vir e empoderados como líderes
desse processo”, explica Márcia Carvalho, diretora APRENDIZ
de Negócios do Moderna Compartilha. Esse é jus- EMPODERADO
②
tamente um dos maiores desafios da Educação 4.0, COLABORADOR CIDADÃO
que visa garantir a relevância dos educadores em GLOBAL DIGITAL
um mundo hiperveloz, ambíguo e incerto.
As principais habilidades da era digital e os in-
sights pedagógicos que os educadores precisam Standards ISTE
ESTUDANTES ③
Fonte: ISTE Standards - www.iste.org
64
a c ac as sc as as
+ DE 250 ALUNOS
219.630 ALUNOS (EM 19 ESTADOS)
(EM 18 ESTADOS)
169.713 ALUNOS
65
E O I T EMA D E E O U O
A cultura da evolução e protagonismo está na es- dantes foi a criação de um portal específico para as
sência do Moderna Compartilha, que privilegia o famílias – o Compartilha em Família, com temas li-
potencial de ação da comunidade escolar frente aos gados à Educação contemporânea. “Formar os pais
seus próprios desafios e necessidades de transfor- exige mais que informá-los. Requer o empodera-
mação. Isso se reflete nas estratégias e métodos que mento deles com relação a tudo que gira em torno
o projeto adota desde a sua concepção. do aprendizado”, diz Solange. A iniciativa também
A plataforma nasceu em 2012 para atender a visou ao alinhamento da família com a escola. “Os
demanda por novidades em tecnologia educacio- pais precisam entender o que é desenvolvimento de
nal no mercado privado. “A pressão aumentava a competências, como se avalia, o que se prioriza hoje
cada dia, especialmente à medida que se começou na formação e compreender que tudo isso tem a fina-
a falar de sala de aula invertida, competências do lidade de preparar os jovens para o desconhecido, um
século XXI e novos papéis da Educação”, lembra a mundo em movimento.”
diretora de negócios Márcia Carvalho. Os primeiros Em 2018, mais avanços deram novos contornos
objetivos traçados foram instalar equipamentos de à plataforma. Um deles foi a parceria com o Google
ponta nas escolas, oferecer tecnologia embarcada for Education, com ferramentas que facilitam a co-
nos livros didáticos e ensinar os professores a se re- laboração na sala de aula (por exemplo, Gmail e Do-
lacionar com tudo aquilo em sala de aula. cumentos Google) e aplicativos como Google Earth
O projeto começou efetivamente a rodar em e WeVideo. Outra evolução que marcou aquele ano
2013, quando a entrega dos primeiros tablets e pro- – uma das mais ambiciosas até agora na história do
jetores simbolizou o pontapé da inserção digital de Moderna Compartilha – foi a criação do programa
68 escolas parcerias naquele ano. “Os novos dis- de Desenvolvimento Gradativo para Professores, e a
positivos não só substituíram o computador como parceria global com o .
Saiba mais sobre cidadania digital em iste.org. Fontes: Porvir, Pew Research, Microsoft, Symantec e Association for Psychological Science.
levaram o conceito de mobilidade para dentro das
instituições”, destaca Márcia. A O DA E O A
Dados Brasil: Banda Larga no Brasil: um estudo sobre a evolução do acesso e da qualidade das conexões à internet - nic.br / cetic.br
Para ampliar a oferta de conteúdo, firmaram- “O Moderna Compartilha facilitou a comunicação en-
-se acordos com parceiros a partir de 2014. “Além tre estudantes e professores por meio da plataforma
de livros e enciclopédias digitais, trouxemos jogos interativa e do fórum. O projeto também ampliou a
pedagógicos do Xmile, livros-aplicativos em 3D da capacidade investigativa dos alunos graças aos mate-
EvoBooks, avaliações e simulados para o Funda- riais que favorecem a pesquisa antes das aulas, o que
mental II e Ensino Médio, propostas de produção é essencial para a metodologia ativa aplicada na nossa
textual do EntreLetras, a plataforma LMS (Learning escola.” Edmundo F. de Castilho Filho é vice-diretor
Management School) de gerenciamento de conteú- do Colégio ISBA, Salvador (BA).
do, entre outros”, enumera. ***
Uma nova fase começou em 2016, quando se in- “A possibilidade de saber, em tempo real, como os
tensificaram as reflexões sobre o que significa estar docentes estão trabalhando traz mais assertividade ao
inserido no universo digital. “Antes de mais nada, trabalho do gestor. Além disso, as novidades postadas
é reconhecer-se como parte de um ecossistema, no a cada dia permitem ao coordenador pedagógico orien-
qual cada instituição desenvolve sua própria cultu- tar projetos de incentivo ao professor, gerando mais
ra digital”, comenta Anna Katarina. Ela explica que interação e prática no dia a dia.” Teresa Cristina Hallal
esta última tem relação direta com a forma como é coordenadora pedagógica na Associação Literária e
a comunidade escolar se organiza, os usos que faz Educativa Santo André, em São José do Rio Preto (SP).
dos dispositivos tecnológicos e da rede, o aprovei- ***
tamento para fins pedagógicos, de entretenimento “A parceria com o Moderna Compartilha sempre foi
e socialização, entre outros fatores que acabam for- agregadora, com muitas trocas de experiências e apoio
mando sua identidade digital. dos coachings e consultores. Isso nos trouxe a opor-
No ano seguinte, o Moderna Compartilha inovou tunidade de rever práticas pedagógicas e introduzir,
com os Chrome Books. “Além de ser uma evolução com mais eficiência, a tecnologia nas salas de aula. O
tecnológica, foi um caminho que adotamos para resultado é uma maior conexão entre os professores
que os professores passassem a produzir conteúdo, e também com os alunos – estes inclusive passaram
em vez de só consumir”, conta Márcia. a compartilhar conhecimento e interagir mais para o
Outra estratégia para aumentar o engajamento crescimento de todos.” Karin Vianna é coordenadora
da comunidade escolar no aprendizado dos estu- pedagógica no Colégio SER, em Jundiaí (SP).
66
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67
A ORA E A E DO
NA A A DE AU A
Projetos inovadores e sável pela mediação e apoio às equipes, exercendo
a colaboração para que a turma aprenda durante
em grupo vão além de todo o processo de forma integrada e coletiva.
A adoção do prevê um conjunto de co-
investimentos: são uma nhecimentos técnicos essenciais para despertar a
criatividade, a empatia, o humanismo e o desen-
mudança de atitude. volvimento de tendências como o pensamento
computacional e a cultura maker. Nas escolas bra-
texto Débora Garofalo sileiras, o tem potencial transformador ao
aumentar o protagonismo do aluno, incentivar a
inovação e a colaboração, fortalecendo o proces-
(do inglês Science, Technology, so de ensino e aprendizado. Segundo os dados do
Engineering, Arts e Mathematics) foi criada nos Estados Programa de Avaliação Internacional de Estudan-
Unidos na década de 90, a partir de pesquisas e avaliações tes (), 2015, entre os 70 participantes, o Brasil é
que registravam um desinteresse dos alunos pelas ciências o 63o colocado em Ciências e o 66o em Matemática,
exatas. A metodologia ou abordagem pedagógica, baseada sendo emergencial que sejam revistos o processo
em projetos, integra áreas e tem por objetivo formar pessoas de aprendizagem e as práticas docentes para rever-
com diversos conhecimentos e diferentes habilidades. Por ter essa situação.
isso, casa perfeitamente com as exigências da Base Nacional A chave para o sucesso de uma educação ino-
Comum Curricular (), ao desenvolver competências e vadora é criar um ambiente que permita a partici-
habilidades socioemocionais que preparam os alunos para os pação dos atores envolvidos, para que conheçam e
desafios futuros. que contribuam, dando-lhes a sensação de perten-
As atividades guiadas na metodologia permitem cimento e autoria. Não existe um modelo pronto
resolver problemas ao conectar ideias que parecem desco- para aplicar e a mudança de atitude deve partir de
nectadas, ajudando a “pensar fora da caixa”, beneficiando o todos para alcançar uma aprendizagem significa-
aprendizado interdisciplinar e trazendo os estudantes para o tiva e envolvente, quebrando velhos paradigmas e
centro do processo cognitivo. O professor atua como respon- ambientes pouco propícios.
68
69
O IN O eI O
qual a atitude necessária para o trabalho no ambiente, as in-
tervenções docentes fazem sentido para o aluno.
O professor deve ser um mediador que permita aos alunos
aprender pela experiência, prezando a relação humana e a ho- das competências socioemocionais
rizontalidade. A hierarquia se dá por reconhecimento e não por
autoridade. Busca-se a autonomia a partir da empatia, criando
vínculo com os alunos, reconhecendo o contexto de cada um,
descobrindo o que tem sentido e significado para eles. Ao am-
pliar seu horizonte de conhecimento, o estudante ganha auto-
① : curiosidade para aprender,
imaginação criativa e interesse artístico
pos. Leve um problema relacionado ao conteúdo trabalhado e : auto-
proponha que viabilizem a solução de maneira prática. Vale ma- confiança, tolerância ao estresse e à frustração
nusear materiais simples de sucata e fazer questões norteadoras
e provocativas para que os alunos se envolvam nas atividades.
70
71
Aplicativo
para smartphone
Flexibilidade
no processo
Percurso formativo
para o educador
Acompanhamento
do progresso da equipe
pela coordenação
modernacompartilha.com.br
/Moderna.Compartilha
FO CO
Participação
estudantil
Saiba como envolver adolescentes e
jovens nas decisões da escola e promover
uma cultura de participação capaz de
ampliar o engajamento, promover a
aprendizagem, melhorar a educação
e contribuir para a democracia.
texto Porvir
74
O aprendizado mão na massa cria espaço para a autoria, precisam ser discutidos pela comunidade escolar,
estimulando que os estudantes coloquem em prática seus co- tanto para que possam ser reconhecidos e resolvi-
nhecimentos e habilidades por meio da criação de projetos e dos, quanto para que não se transformem em algo
produtos. Currículos voltados para a vida no século 21 tam- maior e acabem comprometendo as relações de
bém demandam pedagogias mais ativas, que não só ampliam a confiança entre gestores, professores e estudantes.
participação dos estudantes, mas desenvolvem sua capacidade Escutar os estudantes significa criar oportunidade
crítica, criativa e propositiva. para que possam compartilhar opiniões sobre dife-
Até mesmo as tendências em relação à gestão e ao ambiente rentes assuntos, desde os mais corriqueiros, como
escolar demandam maior engajamento dos alunos nos proces- a infraestrutura da escola e as atividades em sala de
sos decisórios, relações mais horizontais e colaborativas, além aula, até os mais complexos, como mudanças no
de espaços e infraestrutura mais conectados com o universo currículo e na organização escolar. Para engajarem
das crianças, adolescentes e jovens. os alunos, essas consultas precisam ser realizadas
Promover a participação dos estudantes requer a disposi- com o suporte de dinâmicas, instrumentos e lin-
ção de gestores e professores para compartilhar informações e guagens compreensíveis e estimulantes para eles.
poder. Abertura, diálogo, entendimento e cooperação são pa- Também precisam ser inclusivas, para que captu-
lavras-chave para qualificar o processo, que deve buscar equi- rem múltiplas vozes, mesmo as mais silenciosas e
librar as responsabilidades que serão sempre dos educadores dissonantes. Nesse caso, a opinião dos alunos mais
com as contribuições que podem vir dos alunos. “comportados, extrovertidos e eloquentes” não
Se por um lado é fundamental não subestimar a capacida- deve se sobrepor à dos mais “rebeldes, tímidos ou
de dos estudantes, mesmo quando são crianças ou parecem que apresentam dificuldade de se expressar”. Todas
pouco engajados, por outro não podemos romantizá-los, nem as perspectivas precisam ser contempladas. Aque-
transformar a participação em um fardo. O engajamento pre- les que escutam devem ainda ter a sabedoria de não
cisa fazer sentido e estar à altura da capacidade dos alunos, se colocar na defensiva, nem se sentir pressionados
bem como contribuir para a sua aprendizagem e desenvolvi- a acatar tudo o que é sugerido. No entanto, devem
mento, objetivos primordiais da escola. realizar devolutivas consistentes, que deem trans-
A participação também deve considerar a cultura dos es- parência às percepções e propostas coletadas e in-
tudantes, ao invés de forçá-los a se encaixar em modelos pró- diquem como serão encaminhadas. Um processo de
prios do mundo adulto. Ludicidade, arte, cultura e mídias escuta dos estudantes pode ter efeito reverso quan-
digitais são alguns dos elementos que potencializam a contri- do não gera consequências concretas.
e colha
buição, especialmente de crianças, adolescentes e jovens. A
intenção é levá-los a sério e respeitar as suas próprias formas
de organização, expressão e contribuição.
Para aliar teoria e prática, reunimos as principais formas de
participação dos alunos na escola em quatro elementos: pe i i e s es a es
a a esc l as e ela
e cuta
c s l a s es a es s e
a se p cess e ca i
Os estudantes são diferentes e aprendem de for-
mas diversas. Às vezes, o que se encaixa bem para
uns não funciona para os demais. Outras vezes, o
se p p i p ce s s e ca i que os educadores propõem não faz sentido para os
Atualmente, os mais diversos setores da sociedade adotam a alunos. Quando eles têm a oportunidade de esco-
prática de ouvir seus usuários para entender se estão satisfeitos lher entre duas ou mais opções, não apenas encon-
com o serviço ou produto que lhes é oferecido. As redes de en- tram alternativas mais interessantes, mas também
sino e as escolas, no entanto, raramente perguntam a opinião se sentem mais valorizados e engajados no proces-
dos seus alunos sobre o que acontece no seu cotidiano, muito so. Nem tudo pode ser escolhido pelos estudantes.
menos sobre novas decisões que afetarão a sua vida escolar. Em Eles sabem disso e entendem que grande parte do
grande parte das escolas, os descontentamentos e as sugestões que acontece nas redes de educação e nas escolas
dos alunos não ultrapassam o limite das conversas de corre- deve ser proposto por profissionais experientes.
dor. A falta de diálogo costuma favorecer a apatia e o conflito. Ainda assim, desejam ter mais flexibilidade e au-
O problema se acirra quando o nível de insatisfação aumenta tonomia, inclusive para se sentirem mais identifi-
e provoca reações mais radicais, como indisciplina, depreda- cados e motivados em relação à sua aprendizagem.
ção, protestos e ocupações. Mesmo os problemas mais difíceis Quando gestores e professores são mais prescriti-
76
coautoria
participação efetiva dos alunos via grêmios, assembleias, con-
selhos e instâncias afins. No entanto, boa parte das discussões
em que eles se envolvem ainda trata de temas laterais, como
festas e eventos esportivos. Experiências mais aprofundadas
e a a pa icipa s têm conseguido engajar os alunos na solução de questões real-
es a e s e p ce s s s a ais mente desafiadoras, como a indisciplina, a depredação físi-
Os estudantes tendem a se engajar mais na sua ca, as dificuldades de aprendizagem e o orçamento da escola.
aprendizagem quando têm espaço para criar. A au- Além de trazerem novas perspectivas sobre esses problemas e
toria começa com pequenas produções em ativida- suas causas, os estudantes conseguem apoiar os educadores a
des educativas cotidianas, como desenhos, carta- formular soluções mais efetivas e a implementá-las. Uma nova
zes e dramatizações. Ganha potência com criações regra ou iniciativa decidida apenas pelo diretor tem menos
mais robustas, como peças de teatro, composições chance de ser abraçada pela comunidade escolar do que algo
musicais, vídeos, blogs, revistas em quadrinhos e que é construído coletivamente, inclusive com a participação
animações. E cresce ainda mais quando os alunos dos alunos, os quais têm ainda a importante missão de mobi-
se envolvem na elaboração de projetos, seja para lizar os seus pares. Nesse caso, o efeito reverso pode se ma-
desenvolver um produto, como um livro, jogo, nifestar quando gestores tomam suas decisões e convidam os
robô ou foguete de garrafa , seja para resolver estudantes apenas para endossá-las e difundi-las, sem que o
um problema concreto, como a melhoria de uma diálogo tenha de fato acontecido. Mais uma vez, é preciso res-
praça, a preservação do meio ambiente ou a redu- peitar as opiniões e propostas dos alunos e engajá-los em ati-
ção de conflitos. Os estudantes também começam vidades de discussão e busca de solução que os façam se sentir
a ser convidados a criar práticas educativas junto seguros, confortáveis e motivados. Não podemos esquecer que
com seus professores. Mais familiarizados com as eles são crianças, adolescentes e jovens e, portanto, contri-
tecnologias e outros recursos pedagógicos contem- buem melhor quando envolvidos em ambientes que conside-
porâneos, apoiam seus educadores a planejar ativi- ram as suas peculiaridades. Reuniões prolongadas e com mui-
dades mais interessantes e variadas. Em encontros to falatório técnico costumam inibir a participação da maioria
de cocriação, professores e alunos refletem sobre o dos estudantes. Por outro lado, eles podem ser extremamente
que não está funcionando em sala de aula e, juntos, colaborativos quando envolvidos em atividades dinâmicas e
desenham novas possibilidades. Além de desenvol- criativas, nas quais se expressam por meio das suas próprias
ver diversas capacidades importantes, como criati- linguagens, narrativas e estratégias.
vidade e colaboração, o engajamento dos estudan-
tes como coautores do seu processo educativo os
aproxima da escola, ao mesmo tempo que apoia a
transformação do ambiente escolar para conectá-lo h Conheça o conteúdo completo do guia aqui: porvir.org/especiais/participacao
com a realidade dos alunos do século 21.
77
Educomunicação:
uma nova era
na sala de aula
Como a comunicação
e a educação podem O M PE T N I A DO U O I (atc s)
caminhar juntas para categ oria competê n cia s
o desenvolvimento
Formas de Cidadania (local e global);
de competências Viver no Vida e Carreira;
essenciais para a Mundo Responsabilidade pessoal e corporativa
(consciência cultural e competências).
vida em sociedade.
Fonte: Binkley, M., Erstad, O., Hermna, J., Raizen, S., Ripley, M., Miller-Ricci, M., & Rumble, M. (2012).
texto Lucí Ferraz de Mello
Formas de Criatividade e inovação;
Pensar Pensamento crítico, resolução de
educomunicação está cada vez problemas e tomada de decisões;
mais presente na vida dos educadores bra- Aprender a aprender/metacognição
sileiros. A origem da palavra é desconhe- (conhecimento sobre processos cognitivos).
cida, mas ela e sua abreviação — educom
— começaram a ser adotadas de forma
pontual, no final dos anos de 1970 e início
dos anos de 1980, por algumas instituições Formas de Comunicação dialógica;
de ensino e movimentos sociais na Europa, Trabalhar Colaboração (trabalho em grupo);
na América Latina e até pela para Relações interpessoais;
nomear processos educacionais mediados Protagonismo juvenil;
pelas chamadas tecnologias de informa-
ção e comunicação () e estruturados por
meio de competências ligadas às catego-
rias: formas de trabalhar, formas de pensar Ferramentas Letramento sobre informação;
e formas de viver no mundo, definidas no de Trabalho Letramento sobre Tecnologias
estudo Assessment and Teaching of 21st da Informação e Comunicação.
Century Skills ().
78
feedback do
interlocutor/receptor
ao emissor
(ou) comparação, reflexão,
validação, reorganização
e ressignificação
mediações (cognitivas/
afetivos/socioecmocionais/
culturais)
mensagem/
facilitação tutor
Fonte: in fo rmaç ão /
co n te úd o
Espiral de Interface
Comunicação-Educação
(MELLO, 2017).
79
c c e
A educomunicação surge com movimen- Esse breve resgate histórico permite práticas educomunicativas têm uma pro-
tos sociais estruturados em práticas de identificar que, por emergir de movi- posta diferenciada sobre como trabalhar
aprendizagem pontuais do terceiro setor, mentos da sociedade civil, a partir de essa conscientização, a partir das ideias
voltadas à leitura crítica dos meios de co- inúmeras práticas de resistência à in- de especialistas da Comunicação e da
municação na região ibero-americana, serção de culturas oriundas do hemisfé- Educação que estruturam a organização,
em finais dos anos 1970 e início dos anos rio norte (principalmente Estados Uni- sistematização e disseminação das carac-
de 1980, planejadas e implementadas por dos e Europa), não há como determinar terísticas dessas dinâmicas em vários es-
especialistas em educação e/ou comu- um único fundador do movimento. paços da sociedade. Na área da Educação,
nicação. Para tanto, eram utilizadas as Para se ter uma ideia desse contexto, temos John Dewey, Célestin Freinet, Jean
tecnologias de informação e comunica- em 1997 e 1998, o Núcleo de Comunica- Piaget, Lev Vygotsky, Jerome Bruner,
ção em espaços de educação não formal ção e Educação, da Universidade de São dentre outros. E na área da Comunica-
e informal, sugerindo a produção de jor- Paulo, efetuou pesquisa temática que ção, temos Jesus Martin-Barbero, Jorge
nais murais, rádios e vídeos escolares, o contou com cerca de 176 especialistas, Huergo, Mário Kaplun, Guilherme Oroz-
que deu origem aos grupos de repórteres a qual mapeou aspectos relevantes das co-Gomez, Roberto Aparici, Maria Apa-
mirins. O objetivo inicial era a dissemi- práticas que apresentam as interfaces recida Baccega, Adilson Citelli e Ismar O.
nação, a preservação e o fortalecimento comunicação-educação. Soares, dentre inúmeros outros.
das culturas dos países da região ibero-a- Em tempos de redes sociais e do au- Huergo (2000), por exemplo, foi um
mericana frente à disseminação de men- mento do uso das chamadas TDIC no dia dos primeiros especialistas desse grupo
sagens culturais diversas propagadas pe- a dia das pessoas, é essencial que crianças a ressaltar a necessidade de um modelo
los países do hemisfério norte, por meio e jovens entendam como se dá a estrutu- de comunicação no qual todos partici-
de recursos comunicacionais massivos, ração dos processos comunicacionais das pantes de um processo de aprendizagem
como televisão, rádio e cinema. mensagens transmitidas, sendo que as pudessem interagir de forma igualitá-
Esses especialistas defendiam – e se- ria, ao longo do qual as crianças e jovens
guem defendendo – que a melhor forma atuassem como sujeitos desse processo
de as crianças e jovens aprenderem o de aprendizagem, alternando as posi-
que é a leitura crítica dos meios e o pro- ções de receptores e emissores cons-
cesso comunicacional em si, é produ- tantemente durante as trocas reflexivas.
zindo peças comunicacionais impressas, Para tanto, há que se adotar estratégias
em áudio ou vídeo. Para tais comunica- pedagógicas intensamente dialógicas e
dores e educadores, apenas a vivência dialéticas, as quais viabilizem o desen-
dessas dinâmicas proporcionará a com- volvimento de objetivos de aprendiza-
preensão sobre como se pode trabalhar gem almejados.
uma comunicação impactante a partir Ainda sobre as interfaces comunica-
da emissão de uma determinada mensa- O OBJETIVO ção-educação, Paulo Freire, um dos au-
gem com base em intenções específicas, tores básicos da educomunicação, dizia
considerando signos e símbolos especí- DA AÇÃO que educar é comunicar. E o que seria
ficos, de maneira que a mensagem seja isso exatamente? Essa afirmação pode
compreendida por determinados perfis EDUCOMUNICATIVA ser explicada pela Figura 1, que reflete a
de receptores, frente a seus esquemas integração do que seria o processo co-
referenciais internos (culturais, cogniti- É PROMOVER O municacional dialógico em espiral com a
EMPODERAMENTO
vos, afetivos etc.). espiral de aprendizagem de Jerome Bru-
Essa produção de notícias não pode ner, já considerando as ideias de Martin-
ser meramente instrumental. Há que se -Barbero sobre a Teoria das Recepções e
trabalhar conjuntamente toda a reflexão DE PROFESSORES, as mediações culturais, cognitivas e emo-
sobre como as abordagens e as intenções cionais, de cada sujeito de um processo
influenciam no resultado da comunica- ALUNOS E de aprendizagem.
ção. Ou seja, ao longo do processo é pre- A ilustração busca aproximar e inte-
ciso realizar rodas de conversa que pro- MEMBROS DA grar as características do processo da es-
movam avaliações sobre como as etapas piral de aprendizagem de Bruner (2007)
foram influenciadas pelas intenções e - estruturado com base nas ideias de
ESCOLAR.
sobre como isso promove a composição Jean Piaget, Lev Vygotsky e Jerome Bru-
de uma mensagem qualquer. ner —, com os aspectos que compõem o
80
e c ica
② Dinâmicas pedagógicas: tipos de
participação dos alunos, como
e até onde eles poderão trabalhar seu
verdadeiras, justificando a razão de tais
classificações.
Outra dinâmica de conscientização é
ap ica protagonismo e autonomia; a criação de fóruns de debates sobre de-
Segundo Martin-Barbero (2005), por
mais que a comunicação seja menciona-
da em vários momentos na elaboração e
③ Dinâmicas comunicacionais dia-
lógicas e de colaboração: desen-
volvimento das estratégias pedagógicas;
terminadas temáticas, como religiões,
valores, política e, até mesmo, de con-
teúdos diversos de ciências, história e
implantação de projetos educacionais, a
análise de contextos e da relação entre
educação e comunicação permite iden-
④ Tecnologias digitais de informa-
ção e comunicação: ferramentas
e instrumentos utilizados para a produ-
geografia, dentre outros. Suponha que o
professor queira trabalhar com a questão
de direitos humanos e o movimento dos
tificar que esta última é quase sempre ção das peças comunicacionais; refugiados ao redor do mundo. No caso,
reduzida a uma dimensão majoritaria- Acompanhamento do proces- o professor pode dividir a turma em gru-
mente instrumental. As vivências es- so comunicacional: com foco na pos e atribuir papéis como: brasileiros a
tratégicas sobre os complexos processos educação para leitura crítica dos meios. favor da imigração, brasileiros contra
atuais de comunicação, com seus entor- É importante se definir os critérios logo a imigração, venezuelanos refugiados,
nos educacionais difusos e descentrados de início, de maneira a destacar a aten- países estrangeiros aliados, a ONU. Cada
acabam não sendo trabalhadas ou o são ção dos alunos para os fatores que po- grupo terá que buscar informações so-
de forma mais superficial. dem ser manipulados ao longo do pro- bre as razões que compõem a postura
No caso do ambiente escolar, o objeti- cesso, de maneira influenciar a leitura e o discurso que terá que defender. No
vo da ação educomunicativa é promover e opinião das pessoas que recebem tal momento da realização do fórum, cada
o empoderamento dos professores, estu- mensagem ou notícia – a estruturação grupo deverá ter 10 minutos para apre-
dantes e demais membros das comunida- de uma rubrica formativa auxilia esse sentar a justificativa de seu posiciona-
des educativas, enquanto cidadãos ativos e acompanhamento; mento e, após a apresentação de todas
críticos da sociedade, a partir de práticas Avaliação do processo: pode ser as justificativas, deve-se iniciar a parte
comunicacionais de trocas intensas dentro feita em uma roda de conversa de réplicas e tréplicas, sendo que aqui é
e fora da sala de aula. tradicional entre os participantes, ou importante que o professor considere o
Trata-se de planejar e implemen- pode propor a elaboração de um mapa tempo e número de réplicas e tréplicas
tar estratégias pedagógicas com grande mental, montado a partir dos aspectos para cada grupo.
influência socioconstrutivista e comu- observados ao longo do processo. Ao final, o professor deverá pro-
nicacional por meio de ações que tra- Com toda a disseminação de notí- mover uma reflexão conjunta sobre as
balham competências comunicacionais cias falsas pelas redes sociais, a ado- justificativas dos grupos e trabalhar a
dialógicas e de autonomia, bem como ção de dinâmicas estruturadas a partir conscientização dos valores por trás de
em participações que focam a expe- das premissas educomunicativas tem cada discurso, para que os alunos com-
rimentação do protagonismo juvenil. ganhado força, pois suas práticas per- preendam como identificar as mensa-
Exemplos disso são as dinâmicas volta- mitem dar clareza sobre como uma gens que inseridas nos discursos.
81
p e i ssa s a
e c ica
Especificamente sobre as premissas das
interfaces comunicação-educação, vale
das ou se estão se limitando ou debater e nego-
ciar. Não se trata de ter características apenas de
PL ANEJE
destacar aqui algumas competências
identificadas como sendo educomunica-
um ou de outro aspecto, mas principalmente de
entender quando se está debatendo, para que os
AUL AS
tivas (, 2016): professores responsáveis possam intervir e fazer EDUCOMU-
NICATIVAS
1 leitura crítica dos meios; seus alunos focarem em aspectos dialógicos du-
2 Colaboração; rante as atividades.
3 Comunicação dialógica; Desafiador, não? Porém é viável, com dedica-
4 Reflexão crítica; ção, atenção e paciência. E fica mais claro, utili- Frente ao que
5 Competências participativas di- zando as ideias apresentadas no quadro a seguir. foi exposto, fica
versas, com foco no trabalho em uma sugestão de
grupo; resolução de problemas; planejamento de aula
resolução de conflitos; detalha- isc ss com base nas premissas
mento do processo; planejamento e a e i l educomunicativas:
de projetos;
6 Comunicação mediada por ;
7 Gestão da comunicação para a Visa fechar Visa abrir
① Definir o tema
e o conteúdo a
ser trabalhado.
educação.
Frente a tais competências e aos desa-
fios de planejamento e implementação,
questões
Convencer
questões
Mostrar
② Estabelecer
o produto
ou solução
acompanhamento e avaliação das estra- comunicacional que
tégias baseadas nas premissas educomu- Demarcar posições Estabelecer relações será produzida no final.
nicativas, é possível entender a razão de
o foco de atenção das práticas educomu-
nicativas estar no processo comunica-
Defender ideias Compartilhar ideias ③ Detalhar as
estratégias
pedagógicas: fórum
cional, e não apenas no resultado, que Persuadir Questionar de debates, Design
pode ser uma peça comunicacional qual- e ensinar e aprender Thinking, roda de
quer, em termos de produção de um jor- conversa etc.
nal mural ou programa de rádio. São as
ações pedagógico-comunicacionais que
estruturam o processo como um todo
Explicar
Visa as partes
Compreender
Vê a interação
④ Demarcar as
estratégias
comunicacionais,
que importam para que a leitura crítica em separado partes / todo por exemplo,
dos meios possa se concretizar. momentos reflexivos
O foco dessas estratégias é a pro- Descarta as Faz emergir com professor,
moção da aprendizagem a partir da ideias “vencidas” ideias de discussão e de
construção de ecossistemas comunica- colaboração entre
tivos que apresentem trocas dialógicas Busca acordos Busca pluralidade alunos; o tempo
e colaborativas intensas, com foco no de ideias disponível e a forma
desenvolvimento do pensamento crí- de registro.
tico dos envolvidos. Por isso, há que se Levantar as
atentar como trabalhar as práticas de Há alguns desafios sobre como trabalhar di- tecnologias
maneira que o diálogo e colaboração nâmicas que fomentem o protagonismo de for- digitais de informação
ocorram de fato, bem como que sejam ma clara e com objetivos bem definidos. Na bus- e comunicação
adotadas ações que permitam que os ca por um melhor entendimento sobre o tipo utilizadas.
participantes exerçam ações protago- de participações que podem ser pensadas para Estabelecer
nistas consistentes. fortalecer o protagonismo juvenil, Costa e Viei- critérios de
Vale mencionar as considerações de ra (2006) mapearam dez tipos de participações avaliação para o
Bohm (2005) sobre as diferenças entre infanto-juvenil que podem ser adotadas nos es- acompanhamento e
o diálogo e debate, de maneira que as paços educacionais (vide a seguir). Vale registrar encerramento.
pessoas que pretendem trabalhar e for- que nem todas promovem o protagonismo, por Elaborar o
talecer as práticas dialógicas consigam isso é essencial ter especial atenção sobre como cronograma de
identificar se estão sendo bem-sucedi- as dinâmicas são implementadas. desenvolvimento.
82
OPERACIONAL
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etapas.
Edições 70, 2007. transversales”. In: de conhecimento. São Paulo: Básico. Tese de doutorado
é doutora e mestre em h COSTA, A.C.G.; VIEIRA, M.A. VALDERRAMA, C. E. Paulinas, 2011, pág. 121 a 134. defendida junto ao Programa
Comunicação. Especialista em Protagonismo Juvenil – Comunicación-educación: h MELLO, L. F. Práticas de Pós-graduação em
Tecnologias Educacionais. adolescência, educação e coordenadas, abordajes y Pedagógico-comunicacionais Ciências da Comunicação,
participação democrática. travesías. Bogotá: Universidad da Avaliação Formativa na Escola de Comunicações
São Paulo: FTD/Fundação Central, 2000, p. 3-25. EAD. In: Congresso Nacional e Artes, Universidade
Odebrecht, 2006. h MARTIN-BARBERO, J. Desafios de Tecnologias na Educação de São Paulo, 2016.
h BOHM, D. Diálogo: comunicação h FREIRE, P. Extensão ou culturais: da comunicação (), Nov/2017, 36 slides. h SÃO PAULO. Currículo da Cidade
e redes de convivência. São Comunicação? Rio de à Educomunicação. In h MELLO, L. F. Educomunicação de São Paulo – Tecnologias
Paulo: Palas Athena, 2005. Janeiro: Paz e Terra, 2002. CITELLI, A.; COSTA, M.C. e Práticas Pedagógico- para Aprendizagem. São
h BRUNER, J. O processo h HUERGO, J. “Comunicación/ (Org.). Educomunicação – Comunicacionais na Avaliação Paulo: Secretaria Municipal de
de educação. Lisboa: Educación: itinerarios Construindo uma nova área Formativa no Ensino Educação de São Paulo, 2017.
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CHEGOU A HORA
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e s pe cial COMPONENTES CURRICULARES NA BNCC
Trilhas da BNCC
Percursos possíveis para trabalhar
habilidades e competências
exigidas na Base em todos os
componentes curriculares.
texto Educatrix
88
89
A BNCC e a
língua portuguesa
Um aprendizado baseado nas múltiplas práticas de linguagem.
texto Moderna
②
da para o ensino de Língua Por- O foco está na interação ativa entre
tuguesa não é essencialmente inovadora, pois com- leitor/ouvinte/espectador com textos escri-
plementa o que já era proposto pelos Parâmetros tos, orais ou multissemióticos de diferentes campos.
Curriculares Nacionais. O componente é abordado Para aprimorar a compreensão leitora, o professor
sob a perspectiva enunciativo-discursiva de lin- pode propor diversificadas experiências de ler, ou-
guagem, cuja adoção implica a compreensão de que vir, comentar textos escritos etc. Essas experiências
um texto não é apenas um conjunto de frases ou de devem incluir a reflexão sobre quem escreveu, para
parágrafos organizados para produzir sentido, mas quem, sobre o quê, com que finalidade, em qual
a materialização de determinado uso da língua que tempo e espaço, como o texto circulou etc.
③
ocorre em um contexto social e histórico e sob cir- Propõe o engaja-
cunstâncias específicas. mento dos alunos em situações reais de pro-
Uma placa com a frase “Silêncio!” em uma pa- dução de textos verbais, não verbais, multimodais/
rede de hospital, por exemplo, deve ser, sob essa multissemióticos, considerando o uso das lingua-
perspectiva, analisada como um discurso, ou seja, gens adequado ao contexto de produção, recepção
como a expressão de uma ordem, produzida com a e circulação. Essas oportunidades de produção de-
intenção de orientar o comportamento das pessoas vem ser uma atividade sociointeracional, produ-
para manter o cuidado com os pacientes. Na , zida a partir do diálogo, seja com um sujeito, seja
o texto (oral, escrito, multimodal/multissemiótico) com outro texto. Esse processo não deve ser uma
torna-se o centro das atividades, implicando um tarefa burocrática, pois deve ser construído como
trabalho com a língua não apenas como um código uma atividade em que os alunos se envolvem com
a ser decifrado nem como um mero sistema de re- as práticas sociais da linguagem, por meio de pla-
gras gramaticais, mas como forma de manifestação nejamento, revisão, reescrita e edição de textos.
④
da linguagem. A finalidade é fazer com que o ensino / As ha-
de Língua Portuguesa permita o desenvolvimento bilidades desenvolvidas vinculam-se às práti-
crítico e reflexivo do aluno como agente da lingua- cas propostas nos eixos anteriores. Mantém-se o ca-
gem, capaz de usar a língua e as linguagens em di- minho do uso-reflexão-uso que visa a refletir sobre
versificadas atividades humanas. as possibilidades de uso permitidas pelo sistema da
Com esse objetivo, a propõe práticas de língua, oral ou escrita, e das múltiplas linguagens,
linguagem de diferentes esferas ou campos de atua- e a ser capaz de aplicar o recurso mais adequado ao
ção: vida cotidiana e pública, artístico-literário, contexto em que está inserido. Propõe-se um traba-
práticas de estudo e pesquisa jornalístico-midiático lho que leve as crianças à reflexão sobre as diferentes
etc. Tais práticas devem ser norteadas a partir de materialidades, responsáveis pelos efeitos de sentido
quatro eixos organizadores: em textos oriundos de diferentes campos de atuação.
①
Propõe a produção de textos A certamente ainda passará por algumas
orais, considerando as diferenças entre lín- revisões. Afinal, não seria razoável supor que um
gua falada e escrita e as formas específicas de com- documento desse porte nascesse pronto e perfeito.
posição do discurso oral, em situações formais ou A prática em sala de aula certamente será impor-
informais. tante fonte de contribuição para tais revisões.
90
nos ensina que mais difícil como a resolução não violenta de conflitos, o aco-
do que adquirir novos conhecimentos é conseguir lhimento às diferenças, o saber conviver.
desprender-se dos velhos. A chegada da Base Nacio- Diante desse cenário, dentre as dez competên-
nal Comum Curricular () pode confirmar esse cias gerais que devem permear transversalmen-
ensinamento, pois significa o início de um dos mais te as disciplinas, chamamos a atenção para a de
profundos processos de renovação da educação na- número 9, que propõe: “Exercitar a empatia, o
cional. De maneira geral, muitos professores estão diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação,
dispostos a encarar os princípios propostos como fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao
uma possibilidade de minimizar certas condições outro e aos direitos humanos, com acolhimento e
que enfrentam atualmente e que são marcadas por valorização da diversidade de indivíduos e de gru-
indisciplina, violência e desvalorização do aprendi- pos sociais, seus saberes, identidades, culturas e
zado bem como do próprio professor. potencialidades, sem preconceitos de qualquer
Em uma perspectiva geral, a Base reconhece que natureza.” (, p. 10).
a “educação deve afirmar valores e estimular ações Essa competência traz para a prática educacio-
que contribuam para a transformação da socieda- nal questões altamente relevantes ligadas à Edu-
de, tornando-a mais humana, socialmente justa e, cação para a Paz. E, nessa perspectiva, os esforços
também, voltada para a preservação da natureza” pedagógicos para cultivar essas atitudes trarão be-
(BNCC, p.8). Nesse sentido, a prática pedagógica nefícios à toda comunidade escolar. No entanto,
tradicional baseada em muitos exercícios grama- a implementação da BNCC não pode estar apenas
ticais mecânicos e repetitivos até conseguem pro- nas mãos dos professores. Esse processo deverá ser
duzir um resultado bom em termos de nota, mas o resultado do esforço coletivo ou simplesmente
jamais irá preparar o aluno para enfrentar os de- nada acontecerá. E nossos jovens têm pressa. Ao
safios da vida atual. Isso porque a educação tra- contrário do que possamos imaginar, para eles, o
dicional está baseada em modelos do passado que futuro já começou. Para eles, o futuro é hoje!
atendem a demandas do passado. Hoje, o mundo e
as relações humanas estão muito mais complexos
e desafiadores, exigindo o desenvolvimento das
competências socioemocionais, uma vez que, por
meio desse processo se aprende a reconhecer, no- é autor de livros didáticos e paradidáticos há mais de 38 anos.
mear e controlar emoções, demonstrar empatia, Sua obra Students for Peace recebeu o prêmio ELTons 2017,
concedido pelo Conselho Britânico em Londres na categoria
estabelecer relações sociais pautadas pela civilida- Excelência em Inovação em Livros Didáticos para o Ensino de
de, se colocar no lugar do outro e tomar decisões Língua Inglesa. É membro do GEEPAZ – Grupo de Estudos de
de maneira responsável. Educação para Paz e Tolerância do Laboratório de Psicologia
Genética da Faculdade de Educação da UNICAMP. Nos últimos
Soma-se a isso a farta documentação acerca do anos tem trabalhado também na área de consultoria para
caráter violento do ambiente escolar, o que exige instituições escolares na área de Educação para a Paz.
estratégias e abordagens que trabalhem questões
91
O ensino de Arte
Oportunidades que vão muito além do componente curricular.
texto Rejane Coutinho
da Arte como um dos componentes que as responsabilidades devem ser respeitadas. O
curriculares da área de Linguagens no Ensino Fun- professor formado em Artes Visuais deve se ocupar
damental, como se apresenta na Base Nacional Co- primordialmente de trabalhar com seu campo de
mum Curricular, foi desde a primeira versão pública conhecimento, assim como os formados em Músi-
do documento uma questão avaliada como um re- ca, Teatro e Dança. Este entendimento é reforçado,
trocesso pelos pesquisadores e professores do cam- sobretudo, quando compreendemos o que se define
po do ensino e aprendizagem das artes. A delimi- como Artes Integradas no âmbito do documento.
tação e caracterização do campo de conhecimento Como uma das unidades temáticas, as Artes Inte-
como disciplina Arte, nos Parâmetros Curriculares gradas visam a explorar as relações e articulações
Nacionais de 1997 foi uma conquista hoje desconsi- entre as diferentes linguagens e suas práticas, ou
derada na estrutura da Base: de uma disciplina em seja, as hibridizações entre linguagens que o pró-
pé de igualdade com as demais, a Arte passou a in- prio campo das produções artísticas produz, in-
tegrar uma área como um componente curricular. cluindo-se também as integrações possibilitadas
Essa situação, por um lado, revela a fragilidade pelas novas tecnologias.
de um campo de conhecimento que nos últimos As compreensões e interpretações de um docu-
50 anos vem tentando se afirmar e se qualificar mento curricular podem ser diversas; porém, Artes
no contexto escolar: da Educação Artística à Arte, Integradas não deve ser confundida com a ideia de um
de atividades de livre expressão à leitura de obras professor de artes polivalente, aquele que teria como
e produções contextualizadas. Temos um passado obrigação trabalhar superficialmente com todas as
complexo que mesmo antes já transitava entre mo- quatro linguagens. No contexto da , é uma uni-
delos tradicionais de cópias e repetições, acompa- dade temática suplementar, que vem revelar as com-
nhando o próprio campo das produções artísticas e plexidades do campo.
suas tendências. A ideia de integração pode se estender para o
Colocar a Arte em uma grade curricular não é entendimento de um currículo integrado, que pos-
tarefa fácil, pois estamos diante de um campo de sibilite integrar a Arte aos demais componentes
conhecimento eminentemente caracterizado por curriculares. Por exemplo, uma proposta curricular
invenções e criações nos contextos históricos, cul- que se paute em questões contemporâneas que atra-
turais e sociais. A Arte como componente curricu- vessem as disciplinas, que ativem diversos conhe-
lar na BNCC se apresenta de forma pouco definida, cimentos e mobilizem o interesse dos estudantes
há indicação de algumas competências e habilida- pela pesquisa. A pesquisa como modo de conhecer,
des, porém não são estabelecidos claramente os ob- de viver experiências e de as tornar significativas de
jetos de conhecimento. Entretanto, pode-se lidar forma individual e coletiva. A Arte pode ser vista
com o documento de forma proveitosa, abrindo ao como um campo de conhecimento integrado e por
professor a possibilidade de construção de percur- esta via se destacar no currículo escolar.
sos curriculares mais autorais e circunstanciados.
Importante destacar que na Base se mantém as
especificidades das quatro linguagens: Artes Vi-
suais, Música, Teatro e Dança. Apesar de não trazer é mestre e doutora em Artes pela USP e professora do Instituto
de Artes da UNESP no curso de Artes Visuais Bacharelado
uma discussão explícita sobre as formações iniciais e Licenciatura e no Programa de Pós-Graduação em Artes.
específicas de professores e professoras e suas res- É coordenadora do Mestrado Profissional em Artes – Profartes
– do IA/Unesp. Tem artigos publicados em periódicos e
ponsabilidades diante dos conhecimentos de cada livros sobre história do ensino de artes no Brasil, formação
uma das linguagens, pode-se aferir pela constan- de educadores mediadores e a educação em museus.
te demarcação dos territórios de cada uma delas,
92
encontrar pessoas que dizem não saber ou não nia no século XXI é tão extensa quanto controversa.
gostar de matemática. Esse fato provavelmente é uma con- Não sabemos muito bem quais são essas habilidades,
sequência do modo equivocado como essa ciência é ensinada muito menos como ensiná-las.” Na sequência, ele
nas escolas brasileiras: um estudo quase sempre segmentado e fala da importância do “pensamento computacio-
conteudista, carente de formação de professores e vulnerável à nal” e sobre o ensino de ciências. “Felizmente, nos-
inconsistência do sistema educacional. sas pesquisas têm mostrado que os alunos aprendem
A matemática é uma das mais significativas conquistas do ‘ciência computacional’ mais facilmente do que
conhecimento humano, produzida e organizada ao longo da ciência tradicional, por uma série de fatores cogni-
história por diversos povos e civilizações. É uma ciência que tivos, epistemológicos e motivacionais. Boa parte da
contribui para a compreensão, tradução e modelagem de si- ciência e da matemática que ensinamos na escola foi
tuações em diversas áreas do conhecimento (astronomia, me- inventada porque não tínhamos computadores, e seu
dicina, engenharia, arquitetura, arte e tecnologia da informa- aprendizado é desnecessariamente difícil, afastando
ção são alguns dos exemplos, só para se ter uma ideia). Além qualquer aluno mais criativo. Portanto, a habilida-
disso, vale ressaltar sua importância nas práticas cotidianas, de de transformar teorias e hipóteses em modelos e
como para a compreensão e tomada de decisões em situações programas de computador, executá-los, depurá-los,
financeiras, para a leitura e interpretação de gráficos e tabelas e utilizá-los para redesenhar processos produtivos,
encontrados nos noticiários, para a elaboração de estimativas realizar pesquisas científicas ou mesmo otimizar ro-
e inferências com base em análise de dados e para o desenvol- tinas pessoais, é uma das mais importantes habilida-
vimento de estratégias de resolução de problemas, argumen- des para os cidadãos do século XXI. E, curiosamente,
tação e exposição de ideias. é uma habilidade que nos faz mais humano. Afinal, o
Ao estudar matemática, desenvolvemos competências, ha- que há de mais humano do que livrarmo-nos de tare-
bilidades e atitudes tão imprescindíveis ao mundo do trabalho fas repetitivas e focar no mundo das ideias?”
quanto à vida cotidiana. Por exemplo: planejar ações e pro- Não são poucas as competências, habilidades e
jetar soluções para novos problemas de mercado, que exijam atitudes necessárias para o exercício da cidadania
iniciativa e criatividade; compreender e transmitir ideias ma- no século XXI, para o enfrentamento do mundo do
temáticas, por escrito ou oralmente, desenvolvendo a capaci- trabalho e para a imersão no mundo da tecnologia.
dade de argumentação na sustentação de projetos; interpretar Atualmente, desenvolver o raciocínio lógico, a au-
matematicamente situações do dia a dia ou do mundo tecno- tonomia e a criatividade é mais importante do que
lógico e científico e saber utilizar a matemática para resolver aprender conteúdos. Nesse contexto, o professor é
situações-problema nesses contextos; avaliar os resultados imprescindível para ajudar os alunos em seus per-
obtidos na solução de situações-problema para definições, por cursos com foco onde querem chegar, ajudá-los
exemplo, de estratégias de marketing; fazer estimativas de re- a selecionar as informações que de fato precisam,
sultados ou cálculos aproximados; utilizar os conceitos e pro- prepará-los para o mundo como um todo, inclusive
cedimentos estatísticos e probabilísticos. o do trabalho, tornando-os cidadãos críticos, cria-
No artigo “O pensamento computacional e a reinvenção do tivos e autônomos.
computador na educação”, Paulo Blikstein, professor na Escola
de Educação e no departamento de Ciência da Computação da
Universidade de Stanford nos EUA, discorre sobre as exigên-
é licenciado em Matemática pela Universidade de
cias do nosso mundo. “(...) o mundo atual exige muito mais São Paulo. Elaborador e editor responsável da obra
do que ler, escrever, adição e subtração. A lista de habilidades Conexões com a Matemática (PNLD 2018).
93
humana na Terra originou uma in- forma de intolerância, pois, apesar da ampla difu-
crível diversidade de formas de ser e de se estar no são do mito da democracia racial no Brasil, nossos
mundo. Essas diferentes experiências foram ex- índices de violência contra minorias são alarman-
pressas em sons e palavras, cujos significados tra- tes. Segundo o último Relatório Violência contra
duzem saberes ancestrais. Justamente reconhecen- os Povos Indígenas no Brasil, produzido pelo
do a riqueza da história da humanidade, a Unesco (Conselho Indigenista Missionário), em 2017 foram
declarou 2019 como o Ano Internacional das Lín- registrados 128 suicídios, 110 homicídios e a morte
guas Indígenas, tendo como intenção a preserva- de 702 crianças de até 5 anos de idade. O relatório
ção, a revitalização e a promoção das mais de 6 mil aponta também para a persistência dos problemas
línguas indígenas espalhadas pelo globo. relativos à demarcação e à proteção das terras in-
No Brasil, o Censo do de 2010 identificou dígenas, continuamente ameaçadas pela expansão
274 línguas nativas, cada uma carregando consigo das áreas de pasto e cultivo, e pela exploração de
memórias, histórias e tradições específicas das mais recursos naturais como minério, madeira e água.
de 300 etnias espalhadas pelo país. No entanto, os A proteção dos povos nativos brasileiros, de sua
demais brasileiros pouco conhecem esse nosso po- língua e cultura, depende do entendimento de seu
deroso patrimônio linguístico e cultural. Para mui- modo de vida tradicional, ao qual está atrelada sua
tos, todo ele se resume à figura folclórica e caricata sobrevivência coletiva. Esse entendimento só será
do “índio”, construída ao longo dos séculos, inclu- alcançado se as novas gerações se libertarem dos es-
sive com a colaboração dos livros escolares do pas- tereótipos cristalizados, sobre os quais se assentam
sado. Para corrigir essa lacuna, o governo promul- os preconceitos que justificam e legitimam o ataque
gou, em 2008, a lei 11.646, que tornou obrigatório aos direitos constitucionais dos povos originários.
o ensino da história e cultura indígena nas escolas. Por essa razão, é de fundamental importância que
Desde então, as coleções didáticas passaram reser- os professores e professoras reestruturem seus cur-
var mais espaço aos povos originários e reconhecer sos para ampliarem o tempo dedicado à história e
o protagonismo indígena na formação do Brasil. cultura indígenas. Caso contrário, em breve, o Bra-
A exigência de dedicar mais atenção ao entendi- sil vai ter-se apequenado e perdido parte impor-
mento dos povos nativos foi recentemente reforça- tante se sua identidade e de sua inestimável riqueza
da pela (Base Nacional Comum Curricular), na linguística e cultural.
qual as habilidades e conteúdos informativos bus-
cam, entre outros objetivos, educar os jovens para
as relações étnico-raciais, promovendo uma cul-
tura de convivência respeitosa, solidária e humana é historiadora e mestre em História Social pela USP. Atua
como professora de História e Atualidades na rede privada
entre públicos de diferentes identidades. Essa polí- de ensino há 32 anos, e desde 2007 trabalha na elaboração
tica está em consonância com demandas nacionais de materiais didáticos para Ensino Fundamental 2 e Médio.
e compromissos internacionais de combate a toda
94
a função essencial das territorialidades para lidade. De modo geral, a cultura dos povos origi-
povos indígenas originários e comunidades tradicionais do Bra- nários abarca forte relação com o lugar onde suas
sil, no que tange ao componente curricular Geografia, a Base comunidades se localizam e as relações que o en-
Nacional Comum Curricular () dispõe sobre a temática, por volvem, inclusive, em relação à forma como dele se
meio da habilidade do 7o ano do Ensino Fundamental. apropriam. Aspectos como o cultivo de vegetais e
Abre-se, aqui, um amplo leque de possibilidades de refle- rituais que englobam o uso de elementos do meio fí-
xão, de trabalho e de aprendizagens em sala de aula relacio- sico natural do território que ocupam — por exem-
nadas à temática. Uma delas, em sintonia com atualidades, plo, um rio ou uma serra —, evidenciam a força da
permite-nos enquanto professores considerar com os alunos o territorialidade para tais povos. A “terra”, como
fato de que, em 2019, a Unesco (Organização das Nações Uni- muitos deles se referem ao espaço que ocupam, é
das para a Educação, a Ciência e a Cultura) comemora o Ano parte de seu cotidiano e os representa no que tange
Internacional das Línguas Indígenas. De acordo com a insti- à coletividade e à formação de sua identidade como
tuição, há mais de 6 mil línguas indígenas ao redor do globo, povo; e, portanto, também como indivíduos. As
sendo que somente cerca de 3% da população mundial fala línguas indígenas, neste contexto, expressam essas
96% delas; ainda, estima-se que a ameaça a este elemento características culturais identitárias.
identitário seja tão grave que uma língua indígena desaparece, Nessa perspectiva, podemos considerar que a
em média, a cada duas semanas. , por meio de um de seus principais órgãos,
No Brasil, país com cerca de 300 povos indígenas originá- ao ter evidenciado a importância das línguas in-
rios, o Censo do de 2010 registrou 274 línguas entre eles, dígenas com o objetivo de sensibilizar a popula-
divididas em dois grandes troncos linguísticos: Tupi e Macro- ção mundial para o tema, permite-nos, em sala de
-Jê. Segundo o Instituto Socioambiental (), existem, ainda, aula, trabalhá-lo como apoio ao desenvolvimento
19 famílias linguísticas que não se encontram agrupadas, uma de uma das habilidades da , promovendo ao
vez que despidas de semelhanças para tanto. mesmo tempo junto aos educandos a valorização e
Mas, afinal, qual a relação entre línguas indígenas e terri- a conscientização sobre a importância de preserva-
torialidades, e como este tema poderia nos ajudar a trabalhar ção da identidade linguística dos povos indígenas e
o foco da habilidade supracitada da ? De fato, as línguas de suas territorialidades, elos inseparáveis em sua
indígenas, cada qual com suas características e especificida- luta por direitos.
des, constituem elemento fundamental da identidade dos po-
vos originários tanto do Brasil como de outros países. Trata-se
de aspecto da cultura estreitamente relacionado à forma como
tais povos compreendem o mundo. Em outras palavras, são é bacharel e licenciado em Geografia pela PUC-SP. Professor
sistemas que abarcam saberes e conhecimentos tradicionais da rede pública e em escolas privadas do estado de São Paulo.
Autor de obras didáticas e paradidáticas de Geografia.
que vão muito além da comunicação entre indivíduos, envol-
vendo, por exemplo, a integração entre os membros das co-
munidades, a educação de crianças e jovens e a preservação da é professor e pesquisador da FFCLRP-USP. É bacharel e
licenciado em Filosofia, doutor em Geografia Humana e
memória e da história destes povos, especialmente pelo fato de Pós-doutorado em Educação. Desenvolve pesquisas em
serem culturas pautadas pela tradição oral. Ciências Humanas. É autor de obras didáticas de Geografia.
A tudo isso, encontra-se relacionada a noção de territoria-
95
Pensamento investigativo
em todas as áreas
do conhecimento
Despertar a curiosidade e desenvolver o olhar crítico
e questionador sobre os diversos fenômenos da vida.
texto Rita Helena Bröckelmann
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97
mod.lk/genium
Um mundo
de histórias está
chegando...
A partir de 2019, a obra completa de
virá para o mundo Moderna.
Cada livro será lapidado pelo autor,
organizado em coleções infantis e juvenis e
passará por nossa excelência editorial para
encantar leitores, famílias e escolas.
3 Prêmios FNLIJ
Traduzido em 12 pa ses
+ de 3 milhões de livros vendidos no Brasil e no mundo
PO R D E NTR O
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A COMPLEXIDADE DA VIDA.
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MATERIAIS
PARA O Obras literárias selecionadas pela escola
ALUNO
Diário do Contador de Histórias e Diário Literário da Família
Brinde exclusivo
Imagem ilustrativa
MATERIAIS Materiais de ambientação
PARA A
ESCOLA Materiais para dinâmica em sala de aula
Manual do Professor
Projetos de Leitura
Acompanhamento pedagógico
Imagem ilustrativa
A EDIÇÃO 2018 FOI UM
SUCESSO!
11 HORAS
DE FORMAÇÕES
+260 MIL
VISUALIZAÇÕES
+680 MIL
PESSOAS ALCANÇADAS
Uma pausa para refletir sobre literatura
Livros
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113
Maria Montessori
o conhecimento como essencialmente psi-
cológico, passado de mestre para apren-
diz, os métodos montessorianos acredita-
Uma luta pelo direito das crianças Em 1906, foi criada a primeira Casa
dei Bambini, onde Maria Montessori
de serem elas mesmas. POR Glauce Neves pôde aplicar sua metodologia. Todos os
dias, das 9h às 17h, 50 crianças apren-
diam a se vestir sozinhas, a cuidar da
própria higiene, a fazer ginástica. Entre
uma atividade e outra, desenvolviam
do século XIX, a ideia de que das crianças de serem elas mesmas. noções de matemática e alfabetização.
as crianças tinham direitos praticamen- Nascida em 1870, em Chiaravalle, A criança fazia suas escolhas. Em 1913,
te não existia. A primeira manifestação uma pequena província de Ancona, na foi inaugurado o primeiro programa de
nesse sentido foi em 1892, mas foi apenas Itália, Maria Montessori foi a primeira treinamento do método Montessoriano.
em 1948, com a aprovação da Declara- mulher italiana a se formar em medici- No mundo inteiro, mesmo as escolas
ção Universal dos Direitos Humanos pela na na Universidade de Roma. Formou-se que não seguem o seu método, se be-
ONU (Organização das Nações Unidas) como psiquiatra em 1896 e no início de neficiam de várias técnicas educativas
que tais direitos foram reconhecidos. sua carreira dedicou-se aos estudos so- propostas por Maria Montessori. Hoje, a
No século XVIII, Jean-Jacques Rous- bre crianças com deficiência. Pioneira educação infantil possui vários recursos
seau defendia que a criança não devia também no campo pedagógico, colocava que dão autonomia às crianças. O méto-
ser tratada como um adulto em minia- em prática suas habilidades na educação, do caiu em desuso na década de 50, logo
tura. Segundo ele, a infância é um pe- usando suas leituras em psicologia, filo- após a morte de sua idealizadora, mas
ríodo muito curto e é importante não sofia, antropologia, biologia e história. foi resgatado no fim dos anos 60 e é po-
impor a vontade de um adulto. Em con- Mesmo criticada pela sociedade por pular até hoje. Segundo a Organização
cordâncias às ideias de Rousseau, já no dar protagonismo à criança no apren- Montessori do Brasil (OMB), 56 escolas
final do século XIX, Maria Montessori dizado, Montessori foi defensora de um utilizam, atualmente, os ensinamentos
dedicou sua vida para defender o direito método que não contraria a natureza montessorianos no país.
114
CONFIRA A AMPLITUDE DO
NOSSO PROGRAMA BILÍNGUE
CONFIRA A AMPLITUDE DO
CONFIRA A AMPLITUDE DO
NOSSOExperiência
PROGRAMA de BILÍNGUE
NOSSOaprendizagem
PROGRAMA completa
BILÍNGUE
Experiência de
Desenvolvimento
Experiência
aprendizagem decompleta
profi ssional progressivo
aprendizagem completa
Desenvolvimento
Certificações internacionais
Desenvolvimento
profi ssional progressivo
profissional progressivo
Assessoria de marketing
Certificações internacionais
Certificações internacionais
Assessoria de marketing
Assessoria de marketing
Parcerias estratégicas
Parcerias estratégicas
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