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ANÁLISE DE TRANSITÓRIOS EM LINHAS DE TRANSMISSÃO COM

COMPENSAÇÃO SÉRIE

JÚLIA BEATRIZ RAMOS DA CONCEIÇÃO

TRABALHO DE GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Universidade de Brasília
Faculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Elétrica

ANÁLISE DE TRANSITÓRIOS EM LINHAS DE TRANSMISSÃO COM


COMPENSAÇÃO SÉRIE

Júlia Beatriz Ramos da Conceição

Trabalho final de graduação submetido ao Departamento de Engenharia Elétrica da Fa-


culdade de Tecnologia da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Engenheira Eletricista.

APROVADA POR:

Prof. Kleber Melo e Silva, DSc. (ENE-UnB)


(Orientador)

Prof. Felipe Vigolvino Lopes, DSc. (ENE-UnB)


(Examinador Interno)

Maria Leonor Silva de Almeida, MSc. (ENE-UnB)


(Examinador Interno)

Brasília/DF, Julho de 2015.


AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família por tudo, pelo suporte, pela compreensão nas horas difíceis e pelo apoio
incondicional com que sempre pude contar. Agradeço ao meu irmão Jorge, pelo companheirismo, pela
paciência e por toda a ajuda durante esse processo. Agradeço ao meu pai Adolfo, por sua energia, por
sua alegria de viver e pelo exemplo pessoal e profissional; por todos os conselhos e ensinamentos que
me guiaram até aqui e me fizeram quem eu sou. Você é, verdadeiramente, uma inspiração. Agradeço
à minha mãe Lylian, por todo carinho, por estar sempre presente para me acalmar e dar força; pelo
exemplo de bondade, de generosidade e de determinação. Não tenho palavras para expressar minha
gratidão e minha admiração por vocês. Agradeço ao professor Kleber por todos os ensinamentos,
pela orientação e pela paciência durante este processo. Agradeço à amiga Maria, pelo amparo e pela
ajuda no momento que mais precisei. Finalmente, agradeço aos meus amigos da Elétrica, por todas
as histórias compartilhadas, pelos risos e brincadeiras nos momentos de tensão e que tornaram esta
jornada muito mais prazerosa e divertida.
RESUMO

O presente trabalho avalia o desempenho da compensação série fixa e de seus sistemas de pro-
teção, para uma linha de transmissão de extra alta tensão. Para implementar os sistemas analisados
e visualizar a dinâmica entre o sistema elétrico e o banco de capacitores, faz-se uso do software ATP
(Alternative Transients Program) e da linguagem MODELS. Inicialmente, é apresentada uma revisão
teórica sobre os fundamentos da compensação série fixa. Em seguida, descreve-se o procedimento rea-
lizado para modelagem e dimensionamento do banco de capacitores e de seus dispositivos de proteção.
Por fim, o sistema projetado é submetido a diversas configurações de curto-circuito, a fim de verificar
os efeitos da compensação série fixa na resposta transitória da linha de transmissão. Os resultados são
obtidos tanto por meio da análise de casos pontuais, quanto por análises de sensibilidade paramétrica.
As primeiras viabilizam estudos detalhados do funcionamento de cada elemento do banco de capa-
citores e do comportamento do sistema frente a distúrbios na linha. Já as análises de sensibilidade
paramétrica são realizadas para levantamento estatístico da atuação do GAP do capacitor.

Palavras-chave: compensação série fixa, banco de capacitores, linha de transmissão, varistor de


óxido metálico, GAP, ATP.
ABSTRACT

This study analyzes the performance of fixed series compensation and its protection systems on
extra high voltage transmission lines. In order to simulate and examine the dynamics between the
electrical grid and the capacitor bank, the software ATP (Alternative Transients Program) and the
MODELS language are used. First of all, the principles of fixed series compensation are reviewed,
followed by the complete description of the capacitor bank and its protective devices model and design.
Thence, the developed system is subjected to myriad faults, with the aim of verifying the fixed series
compensation effects on the transitory behavior of the transmission line. Both particular cases and
parametric sensibility simulation are carried out to obtain the analyzed data. The former presents a
detailed study on how each of the capacitor bank elements operates, as well as the system transitory
response to short-circuits. The latter, on the other hand, are aimed at the statistical survey regarding
the triggering of the GAP.

Keywords: fixed series compensation, capacitor bank, transmission line, metal-oxide varistor,
GAP, ATP.
Sumário

Sumário i

Lista de figuras iv

Lista de tabelas viii

Lista de símbolos x

Glossário xv

1 INTRODUÇÃO 1

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.3 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 4

2.1 PRINCÍPIOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2 REPRESENTAÇÃO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO COMPENSADA . . . . 5

2.2.1 Linha de transmissão não compensada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.2.2 Linha de transmissão com compensação série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.2.2.1 Compensação nos terminais da linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.2.2.2 Compensação ao longo da linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.3 A COMPENSAÇÃO SÉRIE E A ESTABILIDADE EM LINHAS DE TRANSMISSÃO 11

2.3.1 Análise Quantitativa da estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.3.2 Contribuição da compensação série para a estabilidade do sistema . . . . . . . 12

2.4 DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES . . . . . . . . . . . . . 14

2.4.1 Reatância nominal 𝑋𝐶 e grau de compensação k . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2.4.2 Valores nominais de tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2.4.3 Proteção dos bancos de capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.4.3.1 Dispositivos de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

i
SUMÁRIO ii

2.4.3.1.1 Centelhador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.4.3.1.2 Varistor de óxido metálico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.4.3.1.3 Disjuntor de desvio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.4.3.1.4 Circuito de amortecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.4.3.2 Esquemas de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.4.3.2.1 Proteção por Spark Gap somente . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.4.3.2.2 Proteção por MOV associado a Spark Gap . . . . . . . . . . 20

2.4.3.2.3 Proteção por MOV somente . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.4.3.2.4 Análise comparativa dos sistemas de proteção . . . . . . . . 21

2.4.4 Requisitos de isolamento do banco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.5 IMPACTOS TÉCNICOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.5.1 Ressonância Subsíncrona . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.5.2 Inversão de tensão e de corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2.5.3 Tensão de restabelecimento transitória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

2.5.3.1 Consequência do desequilíbrio de fases e dos efeitos transitórios para a


proteção da rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3 IMPLEMENTAÇÕES COMPUTACIONAIS 28

3.1 SISTEMA ANALISADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3.2 DIMENSIONAMENTO DO BANCO E DAS FONTES PARA SISTEMA COMPLETO 33

3.3 DIMENSIONAMENTO DA PROTEÇÃO DO BANCO POR MOV . . . . . . . . . . 34

3.4 DIMENSIONAMENTO DA PROTEÇÃO DO MOV POR SPARK GAP . . . . . . . . 35

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS 38

4.1 ANÁLISE TRANSITÓRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

4.1.1 Caso 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

4.1.2 Caso 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

4.1.3 Impactos da compensação série sobre a TRT e a TCTRT . . . . . . . . . . . . 51

4.1.4 Impactos da compensação série sobre a RSS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

4.2 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

4.2.1 Cobertura de atuação do GAP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

4.2.2 Tempo de atuação do GAP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

4.2.3 Impactos da não atuação do GAP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

5 CONCLUSÕES E PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS 68


SUMÁRIO iii

Referências Bibliográficas 70

Apêndice 72
Lista de Figuras

2.1 Representação paramétrica de uma linha de transmissão. . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2.2 Capacidade de transferência de potência da linha, em unidades de SIL - Adaptado de:


(ANDERSON; FARMER, 1996). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.3 Transferência de potência do sistema em função de seu carregamento angular 𝛿. . . . . 11

2.4 Critério de áreas iguais para estabilidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2.5 Efeito da compensação série sobre a estabilidade do sistema. . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.6 Transferência de potência para diferentes graus de compensação. . . . . . . . . . . . . 14

2.7 Carregamento necessário para mesma transferência de potência. . . . . . . . . . . . . 14

2.8 Definição para faltas externas e internas ao sistema compensado. . . . . . . . . . . . 17

2.9 Corrente pelos capacitores após atuação da GAP, em um banco com circuito de amor-
tecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.10 Corrente pelos capacitores após atuação da GAP, em um banco sem circuito de amor-
tecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.11 Proteção por Spark Gap somente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.12 Proteção MOV associado a Spark Gap. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.13 Proteção por MOV somente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.14 Configuração normal do sistema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2.15 Inversão de corrente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.16 Inversão de tensão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.17 Envoltória de 4 parâmetros para TRT. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.1 Sistema a ser compensado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3.2 Modelo 𝜋-equivalente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.3 Sistema implementado no software ATP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3.4 Sistema de compensação por fase. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3.5 Lógica computacional do sistema de proteção do MOV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

4.1 Corrente da fase A no ponto do curto-circuito para os dois casos. . . . . . . . . . . . . 39

iv
LISTA DE FIGURAS v

4.2 Correntes medidas no terminal local da linha de transmissão, para sistema com 40% de
compensação série e curto-circuito monofásico AT, em 10% da linha, para as situações:
(a) resistência de falta-terra 𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto circuito franco. . . . . . . . . . . . . . 40

4.3 Correntes medidas no terminal remoto da linha de transmissão, para sistema com 40%
de compensação série e curto-circuito monofásico AT, em 10% da linha, para as situa-
ções: (a) resistência de falta-terra 𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto circuito franco. . . . . . . . . . 40

4.4 Tensão na barra local, para sistema com 40% de compensação série e curto-circuito mo-
nofásico AT, em 10% da linha, para as situações: (a) resistência de falta-terra 𝑅𝑔 =50Ω;
(b) curto circuito franco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

4.5 Tensão na barra remota, para sistema com 40% de compensação série e curto-circuito
monofásico AT, em 10% da linha, para as situações: (a) resistência de falta-terra
𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto circuito franco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

4.6 Comportamento das correntes sobre o MOV e o capacitor da barra local (a) e das tensões
sobre o capacitor local (b), para o sistema com resistência de falta-terra 𝑅𝑔 = 50Ω.
Valores referentes à fase A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

4.7 Comportamento das correntes sobre o MOV e o capacitor da barra local (a) e das tensões
sobre o capacitor local (b), para o sistema com curto-circuito franco. Valores referentes
à fase A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4.8 Energia armazenada pelo MOV local para ambas as configurações. . . . . . . . . . . . . 43

4.9 Correntes no ponto de aplicação do curto-circuito para os dois casos. . . . . . . . . . . 45

4.10 – Correntes pelo terminal local da linha de transmissão, para sistemas com 50% de
compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas
as fontes fortes; (b) fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

4.11 Correntes pelo terminal remoto da linha de transmissão, para sistemas com 50% de
compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas
as fontes fortes; (b) fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

4.12 Tensão medida na barra local da linha de transmissão, para sistemas com 50% de com-
pensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as
fontes fortes; (b) fonte local forte e fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4.13 Tensão medida na barra remota da linha de transmissão, para sistemas com 50% de
compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas
as fontes fortes; (b) fonte local forte e fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4.14 Magnitude das correntes medidas no MOV da barra local, para sistemas com 50% de
compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas
as fontes fortes; (b) fonte local forte e fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . 48

4.15 Magnitude das correntes medidas no MOV da barra remota, para sistemas com 50%
de compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a)
ambas as fontes fortes; (b) fonte local forte e fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . 48
LISTA DE FIGURAS vi

4.16 Energia acumulada pelo MOV da barra local, para sistemas com 50% de compensação
série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes
fortes; (b) fonte local forte e fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4.17 Energia acumulada pelo MOV da barra remota, para sistemas com 50% de compensação
série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes
fortes; (b) fonte local forte e fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4.18 Atuação do GAP local para: (a) ambas as fontes fortes; (b) fonte local forte e fonte
remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4.19 Atuação do GAP remoto para: (a) ambas as fontes fortes; (b) fonte local forte e fonte
remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4.20 TRT na barra local para os casos analisados no item 4.1.1: (a) resistência de falta-terra
𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto circuito franco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4.21 TRT na barra remota para os casos analisados no item 4.1.1: (a) resistência de falta-
terra 𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto circuito franco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4.22 TRT na barra local para os casos analisados no item 4.1.2: (a) ambas as fontes fortes;
(b) fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

4.23 TRT na barra remota para os casos analisados no item 4.1.2: (a) ambas as fontes
fortes; (b) fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

4.24 Correntes medidas no terminal remoto da linha de transmissão, para curto circuito BT
em 25% da linha e com os seguintes graus de compensação série: (a) 40%; (b) 50%. . 56

4.25 Envoltórias de amplitude para as correntes da fase B medidas no terminal remoto da


linha de transmissão, para curto circuito BT em 25% da linha e com os seguintes graus
de compensação série: (a) 40%; (b) 50%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

4.26 Porcentagem dos casos em que há atuação do GAP, para rede com 40% de compensação
e ambas as fontes fortes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4.27 Porcentagem dos casos em que há atuação do GAP, para rede com 40% de compensação
e fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4.28 Porcentagem dos casos em que há atuação do GAP, para rede com 50% de compensação
e ambas as fontes fortes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

4.29 Porcentagem dos casos em que há atuação do GAP, para rede com 50% de compensação
e fonte remota fraca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

4.30 Polígono de frequências acumuladas para atuação do GAP, em uma linha com 40% de
compensação e ambas as fontes fortes, nas barras: (a) local; (b) remota. . . . . . . . . 62

4.31 Polígono de frequências acumuladas para atuação do GAP em uma linha com 40% de
compensação e fonte remota fraca, nas barras: (a) local; (b) remota. . . . . . . . . . . 63

4.32 Polígono de frequências acumuladas para atuação do GAP em uma linha com 50% de
compensação e ambas as fontes fortes, nas barras: (a) local; (b) remota. . . . . . . . . 63

4.33 Polígono de frequências acumuladas para atuação do GAP em uma linha com 50% de
compensação e fonte remota fraca, nas barras: (a) local; (b) remota. . . . . . . . . . . 64
LISTA DE FIGURAS vii

4.34 Comparação da TRT local para uma rede de 40% de compensação série e ambas as
fontes fortes, em casos: (a) sem atuação do GAP; (b) com atuação do GAP. . . . . . 65

4.35 Comparação dos níveis de TRT em casos com e sem atuação do GAP, para uma rede
de 40% de compensação série e fonte remota fraca, em casos: (a) sem atuação do GAP;
(b) com atuação do GAP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

4.36 Comparação dos níveis de TRT em casos com e sem atuação do GAP, para uma rede
de 50% de compensação série e ambas as fontes fortes, em casos: (a) sem atuação do
GAP; (b) com atuação do GAP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

4.37 Comparação dos níveis de TRT em casos com e sem atuação do GAP, para uma rede
de 50% de compensação série e fonte remota fraca, em casos: (a) sem atuação do GAP;
(b) com atuação do GAP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

1 Linha de transmissão com compensação série nos terminais da linha. . . . . . . . . . . 72

2 Linha de transmissão com compensação série em um ponto ao longo da linha. . . . . . 73


Lista de Tabelas

2.1 Eficiência da compensação em função do comprimento da linha e de seu ponto de


aplicação - Adaptada de: (ANDERSON; FARMER, 1996). . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.2 Valores de 𝜅 para diferentes tipos de capacitores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.3 Valores nominais para envoltória de TRT com 4 parâmetros. . . . . . . . . . . . . . . 26

2.4 Envoltória de 4 parâmetros para um sistema de 500 kV. . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.1 Características da linha de transmissão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.2 Dados do modelo 𝜋-equivalente para sistema considerado. . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3.3 Curva de magnetização para TC C800. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3.4 Dados do equivalente de Thévenin para cada tipo de fonte. . . . . . . . . . . . . . . . 33

3.5 Combinações de SIR analisadas para cada caso simulado. . . . . . . . . . . . . . . . . 33

3.6 Valores de entrada das fontes, para 40% de compensação. . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3.7 Valores de entrada das fontes, para 50% de compensação. . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3.8 Dimensionamento do MOV para 40% de compensação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3.9 Dimensionamento do MOV para 50% de compensação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3.10 Dados de entrada da curva de saturação do MOV, tipo 92. . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3.11 Configuração do GAP para grau de compensação de 40 %. . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3.12 Configuração do GAP para grau de compensação de 50 %. . . . . . . . . . . . . . . . . 37

4.1 Valores máximos de corrente e energia no MOV local para configuração de falta. . . . 42

4.2 Valores máximos de corrente e energia nos MOVs para cada configuração. . . . . . . . 50

4.3 Tempo decorrido para atuação do GAP após ocorrência da falta. . . . . . . . . . . . . 50

4.4 TRT para cada caso analisado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

4.5 TCTRT para cada configuração de falta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

4.6 TRT para cada configuração de contribuição de curto-circuito das fontes. . . . . . . . 54

4.7 TCTRT para cada configuração de contribuição de curto-circuito das fontes. . . . . . . 54

4.8 Limite de aplicação do curto-circuito circuito, em %, para que haja atuação do GAP
da barra local. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

viii
LISTA DE TABELAS ix

4.9 Limite de aplicação do curto-circuito circuito, em %, para que haja atuação do GAP
da barra remota. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

4.10 Configuração de falta e pico máximo de TRT em casos com e sem atuação do GAP,
para cada arranjo analisado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
LISTA DE SÍMBOLOS

R Resistência por unidade de comprimento, para representação da linha de transmissão


por parâmetros distribuídos.

L Indutância por unidade de comprimento, para representação da linha de transmissão


por parâmetros distribuídos.

G Condutância por unidade de comprimento, para representação da linha de transmissão


por parâmetros distribuídos.

C Capacitância por unidade de comprimento, para representação da linha de transmissão


por parâmetros distribuídos.

𝑍𝐿 Impedância característica da linha de transmissão.

𝑌𝐿 Admitância característica da linha de transmissão.

𝑅𝐿 Resistência característica da linha de transmissão.

𝑋𝐿 Reatância característica da linha de transmissão.

𝜔 Frequência angular nominal da rede.

𝛾 Constante de propagação da linha de transmissão.

𝛼 Constante de atenuação da linha de transmissão.

𝛽 Constante de fase da linha de transmissão.

𝑉̂︀𝐿 Fasor da tensão na barra local.

𝑉̂︀𝑅 Fasor da tensão na barra remota.

𝐼̂︀𝑅 Fasor da corrente na barra remota.

𝑧 Distância de um ponto qualquer ao terminal remoto da linha.

x
Lista de símbolos xi

𝑉̂︀ (𝑧) Fasor de tensão em um ponto qualquer, z distante do terminal remoto.

𝐼(𝑧)
̂︀ Fasor de corrente em um ponto qualquer, z distante do terminal remoto..

A Parâmetro complexo 𝑎11 para representação matricial da relação entre as tensões na


barra remota e em um ponto dela z distante.

B Parâmetro complexo 𝑎12 para representação matricial da relação entre as tensões na


barra remota e em um ponto dela z distante.

C Parâmetro complexo 𝑎21 para representação matricial da relação entre as tensões na


barra remota e em um ponto dela z distante.

D Parâmetro complexo 𝑎22 para representação matricial da relação entre as tensões na


barra remota e em um ponto dela z distante.

𝑃𝑛 Carregamento natural da linha de transmissão.

𝑋𝐶 Reatância capacitiva total instalada no banco de capacitores.

k Grau de compensação do banco de capacitores.

𝐾𝑋𝑇 Eficiência da compensação série para bancos idênticos nos terminais da linha.

𝐾𝑋𝐿 Eficiência da compensação série para um único banco ao longo da linha.

𝑃𝑀 Á𝑋 Capacidade de transferência de potência máxima da linha.

𝑋𝐿 Reatância indutiva da linha de transmissão.

𝛿 Carregamento angular da linha..

𝑃𝑎 Potência de aceleração.

𝑃𝑚 Potência mecânica das máquinas síncronas.

𝑃𝑒 Potência elétrica transferida entre os terminais local e remoto.

𝛿𝑐𝑟 Ângulo crítico, a partir do qual se perde a estabilidade.

𝑉𝑁 Tensão nominal sobre o banco de capacitores em regime permanente.

𝐼𝑁 Corrente nominal pelo banco de capacitores em regime permanente.


Lista de símbolos xii

𝑄𝑁,3𝜑 Potência reativa trifásica nominal do banco de capacitores.

𝑄𝑁,1𝜑 Potência reativa monofásica nominal do banco de capacitores.

𝑉𝐿𝐼𝑀 Máxima tensão instantânea permitida sobre o banco de capacitores em regime transi-
tório.

𝑠𝑝 Número de capacitores conectados em série em cada banco de capacitores.

𝑝𝑝 Número de capacitores conectados em paralelo em cada banco de capacitores.

𝑛𝑝 Número total de capacitores conectados em cada banco de capacitores.

𝑋𝑈 𝑁 Reatância capacitiva nominal por unidade do banco de capacitores.

𝑉𝑈 𝑁 Tensão nominal em regime permanente sobre cada unidade capacitiva do banco de


capacitores.

𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀 Máxima tensão instantânea permitida sobre cada unidade capacitiva do banco de capa-
citores em regime transitório.

𝐼𝑈 𝑁 Corrente nominal sobre cada unidade capacitiva do banco de capacitores.

𝑄𝑈 𝑁 Potência reativa sobre cada unidade capacitiva do banco de capacitores.

𝜅 Razão entre a força dielétrica de regime transitório e a força dielétrica de regime per-
manente para cada unidade capacitiva.

𝑖𝑐 Corrente instantânea sobre o capacitor.

𝑉𝑐 Tensão instantânea sobre o capacitor.

𝑓𝑒𝑟 Frequência elétrica natural de oscilação.

𝑓0 Frequência fundamental do circuito.

𝑍𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 Impedância da linha para o modelo 𝜋 equivalente.

𝑌𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 Admitância da linha para o modelo 𝜋 equivalente.

𝑋𝑒𝑞 Reatância da linha para o modelo 𝜋 equivalente.

l Comprimento total da linha de transmissão.

Z Impedância série total da linha.


Lista de símbolos xiii

Y Admitância total da linha.

𝐼𝑅𝑀 𝑆,3𝜑 Corrente de curto-circuito trifásica.

𝐼𝑅𝑀 𝑆,1𝜑 Corrente de curto-circuito monofásica.

𝑆𝑏𝑎𝑠𝑒 Potência de base considerada para o sistema elétrico.

𝑆3𝜑 Potência trifásica de curto-circuito.

𝑆3𝜑,𝑝𝑢 Potência trifásica de curto-circuito, em p.u.

𝑆1𝜑 Potência monofásica de curto-circuito.

𝑆1𝜑,𝑝𝑢 Potência monofásica de curto-circuito, em p.u.

𝑍1,𝑝𝑢 Impedância de sequência positiva do equivalente de Thévenin das fontes em p.u.

𝑍0,𝑝𝑢 Impedância de sequência zero do equivalente de Thévenin das fontes em p.u.

𝑍𝑡ℎ,𝐿𝑂𝐶 Impedância do equivalente de Thévenin da fonte local.

𝑍𝑡ℎ,𝑅𝐸𝑀 Impedância do equivalente de Thévenin da fonte remota.

𝑉̂︀𝐿𝑂𝐶 Fasor de tensão da fonte local.

𝑉̂︀𝐿𝑂𝐶,𝑠/𝑖𝑚𝑝 Fasor de tensão da fonte local, para sistema sem impedâncias de fonte.

𝐼̂︀𝐿𝑂𝐶,𝑠/𝑖𝑚𝑝 Fasor de corrente na barra local, para sistema sem impedâncias de fonte.

𝑉̂︀𝑅𝐸𝑀 Fasor de tensão da fonte remota.

𝑉̂︀𝑅𝐸𝑀,𝑠/𝑖𝑚𝑝 Fasor de tensão da fonte remota, para sistema sem impedâncias de fonte.

𝐼̂︀𝑅𝐸𝑀,𝑠/𝑖𝑚𝑝 Fasor de corrente na barra remota, para sistema sem impedâncias de fonte.

𝐼𝑀 𝑂𝑉 Corrente pelo Varistor de Óxido Metálico.

𝑉𝑀 𝑂𝑉 Tensão sobre os terminais do Varistor de Óxido Metálico.

𝐸𝑀 𝑂𝑉 Energia armazenada pelo Varistor de Óxido Metálico.

𝐼𝑀 Á𝑋 Limite máximo de corrente suportado pelo Varistor de Óxido Metálico.


Lista de símbolos xiv

𝐸𝑀 Á𝑋 Limite máximo de energia suportado pelo Varistor de Óxido Metálico.

𝑅𝑔 Resistência de falta à terra

1𝜑 Subíndice associado a grandezas monofásicas.

3𝜑 Subíndice associado a grandezas trifásicas.


GLOSSÁRIO

AB Falta bifásica entre as fases A e B

ABC Falta trifásica

ABT Falta bifásica entre as fases A e B, envolvendo a terra

AT Falta monofásica entre a fase A e a terra

ATP Alternative Transient Program

BC Falta bifásica entre as fases B e C

BCT Falta bifásica entre as fases B e C, envolvendo a terra

BT Falta monofásica entre a fase B e a terra

CA Falta bifásica entre as fases C e A

CAT Falta bifásica entre as fases C e A, envolvendo a terra

CT Falta monofásica entre a fase C e a terra

EMTP Electromagnetic Transients Program

EPE Empresa de Pesquisa Energética

FACTS Flexible AC Transmission Systems

GAP Centelhador acionado por ionização do caminho elétrico

IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers

LC Circuito formado por associação de um capacitor a um indutor

MOV Metal Oxide Varistor ou Varistor de Óxido Metálico

xv
Glossário xvi

ONS Operador Nacional do Sistema

RSS Ressonância Subsíncrona

SEP Sistema Elétrico de Potência

SIN Sistema Interligado Nacional

SIL Surge Impedance Loading

SIR Source Impedance Ratio

TC Transformador de Corrente

TCTRT Taxa de Crescimento da Tensão de Restabelecimento Transitória

TPC Transformador de Potencial Capacitivo

TRT Tensão de Restabelecimento Transitória


CAPITULO 1

INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

O fornecimento confiável e ininterrupto de energia elétrica é essencial para o modelo produtivo


atual. Dessa forma, a confiabilidade e a capacidade de expansão da rede elétrica são imprescindíveis
para o desenvolvimento socioeconômico dos países. No Brasil, o crescimento industrial estabelece uma
demanda de carga cada vez superior: de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o
consumo de energia elétrica crescerá 4,1% ao ano para o período de 2015-2024 (EPE, 2015). Exigem-
se, portanto, constantes ampliação e modernização do Sistema Interligado Nacional (SIN) – integrado
pelos sistemas de geração e transmissão e responsável por atender a todo território brasileiro.

As linhas de transmissão constituem um dos principais elementos do SIN, promovendo a conexão


entre suas unidades geradoras e os centros de carga, através de uma longa e complexa malha de anéis.
Segundo dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), em 2013, o Brasil dispunha de uma rede de
116.767,7 km de extensão, responsável por substanciais transferências inter-regionais. Naquele ano,
somente a região Norte exportou 15.941,99 GWh, isto é, 28,5% de sua produção (ONS, 2013). Dessa
forma, o sistema brasileiro é caracterizado não somente por suas dimensões continentais, como também
pela elevada necessidade de transferência de grandes blocos de potência por longas distâncias. Tais
características exigem a utilização de métodos para reduzir as perdas em linhas de transmissão mais
extensas, aumentando a capacidade de aproveitamento da rede elétrica.

A transmissão de energia elétrica ocorre majoritariamente em corrente alternada. De acordo


com os dados de 2013 do ONS, por exemplo, a transmissão em corrente contínua correspondia a
somente 6,84% da malha brasileira (ONS, 2013). Dessa maneira, é necessário que se garantam as duas
exigências básicas da transmissão em corrente alternada, a saber: a manutenção de níveis de tensão
dentro de limites operacionais e a manutenção do sincronismo entre todas as máquinas síncronas da
rede elétrica (MILLER, 1982).

Ambos os requisitos supracitados estão ligados à estabilidade da rede, isto é, à sua capacidade
de se manter em equilíbrio em condições normais de operação e de restabelecê-lo após perturbações
no sistema. Ressaltam-se, por conseguinte, a importância dessa propriedade para o Sistema Elétrico
de Potência (SEP) e a necessidade de se aumentar continuamente a margem de estabilidade da rede,
visando a sistemas de melhor continuidade e confiabilidade. Contudo, a demanda de carga cada vez
maior e os impedimentos quanto à construção de novas linhas (restrições ambientais a novas concessões
e custo elevado) suscitam níveis de carregamento próximos ao máximo permitido – reduzindo a margem

1
1.2. OBJETIVOS DO TRABALHO 2

de estabilidade do sistema. Com isso, aumenta-se a probabilidade de perda de sincronismo entre os


equipamentos do SEP e geram-se reações mais severas frente a perturbações na rede (PAIXÃO, 2006).
Nesse contexto, a compensação série se destaca como vantajosa solução por elevar tanto a estabilidade
quanto a capacidade de transmissão da linha, majorando seu aproveitamento e, por vezes, postergando
a necessidade de novas instalações.

A compensação série se baseia na redução da reatância indutiva da linha de transmissão, via


associação de capacitores em série a ela. As perdas reativas na linha são, assim, minimizadas, de forma
a melhorar a utilização do sistema, aumentando a potência transferida e os limites de estabilidade da
rede (MILLER, 1982). Além dessas vantagens, a compensação série contribui para (ANDERSON;
FARMER, 1996):

∙ Redução dos requerimentos de isolamento da linha;

∙ Melhor regulação de tensão;

∙ Divisão de carga mais equilibrada em circuitos paralelos; e

∙ Quedas de tensão menos críticas frente a distúrbios na rede.

A utilização desse método teve início no século 20. Em 1951, o primeiro banco de capacitores
para linhas de extra alta tensão foi instalado na Suécia (COURSOL et. al., 1993), seguido de projeto
semelhante nos Estados Unidos (GOLDSWORTHY, 1987). Desde então, o desempenho bem sucedido
da compensação série para a melhoria das redes de transmissão fez que ela se tornasse largamente
utilizada. Com o desenvolvimento eletrônico, os capacitores foram aperfeiçoados, assumindo potên-
cias reativas cada vez maiores (MILLER, 1982): o advento do dielétrico em filme integralmente de
polipropileno, por exemplo, reduziu consideravelmente as perdas e a probabilidade de ruptura do die-
létrico. Tais avanços reduziram o espaço requerido pela compensação série, viabilizando sua aplicação
em larga escala e em linhas de impedância elevada – as quais absorvem maior potência reativa.

A compensação série pode ser implementada de duas maneiras distintas: estática ou dinamica-
mente. A compensação estática, também conhecida como compensação série fixa, consiste simples-
mente na associação série de capacitores à linha, sendo amplamente utilizada em âmbito mundial. Já
compensação dinâmica, também conhecida como compensação série controlada, baseia-se na associ-
ação em série de módulos de capacitores em paralelo a reatores controlados por tiristores, os quais
propiciam controle do fluxo máximo de potência nas linhas e maior amortecimento de perturbações
na rede (GAMA, 1995).

Apesar de suas vantagens, a compensação série controlada foi viabilizada somente com o progresso
da eletrônica de potência e com o desenvolvimento da tecnologia FACTS (Flexible AC Transmission
Systems), de forma que ainda vem sendo consolidada. Em contra partida, a compensação série fixa
é aplicada em larga escala devido à sua simplicidade de instalação e ao fato de não requerer fontes
externas de energia. Tendo em vista tais considerações, este trabalho tem como objeto de estudo
somente a compensação série fixa.

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO

O principal objetivo deste trabalho é descrever o dimensionamento da compensação série fixa


para linhas de transmissão de diferentes configurações, avaliando a atuação dos sistemas de proteção
1.3. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO 3

do banco de capacitores, bem como seus efeitos sobre a rede frente distúrbios na linha. Para tanto,
listam-se como objetivos específicos:

∙ Apresentar revisão dos fundamentos da compensação série fixa em linhas de transmissão;

∙ Avaliar os diversos esquemas de proteção para bancos de capacitores, definindo e implementando


o mais adequado para a rede considerada;

∙ Evidenciar a influência da força de contribuição das fontes e do grau de compensação do banco


em seus sistemas de proteção, sob diversos tipos de curto circuito;

∙ Identificar os impactos da compensação série sobre o comportamento transitório da linha de


transmissão, após perturbações na rede.

1.3 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Em sequência a esta introdução, o trabalho é estruturado da seguinte maneira:

∙ Explica-se, no capítulo 2, a fundamentação teórica da compensação série fixa, identificando


as etapas e os aspectos de maior importância para dimensionamento do banco de capacitores.
Abordam-se tanto os benefícios da compensação para a estabilidade do sistema, quanto suas
restrições – as quais devem ser consideradas no projeto.

∙ Apresenta-se, no capítulo 3, o procedimento realizado para dimensionamento do banco e de


seus sistemas de proteção, identificando os parâmetros da rede determinantes neste processo.
Descrevem-se, ademais, todas as configurações utilizadas para simulação do sistema em programa
do tipo Electromagnetic Transients Program (EMTP).

∙ No capítulo 4, apresentam-se os resultados obtidos para curtos-circuitos diversos aplicados em


uma linha de transmissão compensada. É evidenciado, dessa forma, o efeito da compensação
série sobre as respostas transitórias da rede, bem como a eficácia de seus dispositivos de proteção.

∙ Por fim, resumem-se, no capítulo 5, as conclusões e propostas para trabalhos futuros.


CAPITULO 2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 PRINCÍPIOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE

A compensação série fixa eleva a estabilidade da rede através da redução da reatância indutiva
da linha de transmissão. Com isso, ela minimiza as perdas reativas do sistema elétrico, diminuindo a
potência reativa que deve ser fornecida para a utilização das linhas de transmissão. A menor reatância
também acarreta uma redução da impedância série da linha, minimizando as quedas de tensão e a
distância elétrica entre as barras. Por conseguinte, a compensação série aumenta a capacidade de
transferência de potência das linhas de transmissão, possibilitando aproveitamento mais eficiente do
sistema elétrico e postergando, por vezes, a necessidade de expansão da rede.

Além disso, essa técnica favorece a regulação de tensão ao longo da linha, uma vez que reduz as
quedas de tensão no circuito e os impactos associados à rejeição de carga e à perda de uma unidade
geradora ou de uma linha de transmissão (MILLER, 1982). Em função disso, a compensação série é
largamente aplicada nos sistemas de potência: apenas no SIN, existem mais de 40 bancos de capacitores
série, entre fixos e controlados (SOUZA, 2009).

Deve-se ressaltar que os bancos de capacitores consistem em elementos passivos, de modo que
não demandam fontes externas de energia. Configuram, por essa razão, uma alternativa econômica
e de fácil instalação para garantir os requisitos básicos de um sistema de transmissão em corrente
alternada (MILLER, 1982), a saber:

∙ Manutenção do sincronismo entre máquinas síncronas

Para que o sistema de potência atenda às exigências mínimas de continuidade e confiabilidade, é


necessário que as máquinas síncronas operem continuamente à mesma frequência, garantindo, assim,
o sincronismo na rede elétrica. Caso essa condição não seja atendida, flutuações severas nos níveis de
tensão e corrente das linhas podem ocorrer, o que, por sua vez, pode suscitar operação indevida dos
sistemas de proteção da rede (ANDERSON; FOUAD, 2003). Por esse motivo, o sincronismo entre as
máquinas é um importante aspecto relacionado à estabilidade do SEP.

A estabilidade, por sua vez, refere-se à capacidade da rede de se manter em equilíbrio em condi-
ções normais de operação e de restabelecê-lo após perturbações no sistema – sejam elas de pequena
amplitude, como variações contínuas de carga (estabilidade dinâmica) ou de maior severidade, como

4
2.2. REPRESENTAÇÃO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO COMPENSADA 5

curtos-circuitos e perda de componentes intrínsecos (estabilidade transitória) (KUNDUR, 1994). Desse


modo, ao aumentar a margem de estabilidade do SEP (efeito descrito no item 2.3), a compensação
série contribui para a manutenção do sincronismo entre máquinas síncronas.

∙ Perfil de tensão constante

Para análise do perfil de tensão da rede, é necessário, primeiramente, definir os conceitos de


carregamento leve e pesado – configurações de operação do sistema que afetam diretamente os níveis
de tensão. O carregamento pesado, ou sobrecarregamento da linha, ocorre quando o sistema deve
alimentar uma carga superior àquela para qual ele foi projetado, isto é, há uma demanda de corrente
superior à corrente nominal da linha. O carregamento leve, por outro lado, está associado a uma
demanda inferior à sua capacidade nominal.

Um perfil de tensão constante – ou dentro de limites restritos de variação – é essencial para a


alimentação e o correto funcionamento das cargas. Níveis de tensão inferiores a 1 p.u., por exemplo,
danificam os motores de indução e comprometem o desempenho dos equipamentos. Essa condição de
operação está associada ao sobrecarregamento da rede e corresponde a situações de sobtensões.

Devido às perdas na linha, a queda de tensão se agrava à medida que se distancia dos centros de
geração. Esse problema, portanto, é intensificado para linhas de maior comprimento – usuais nos siste-
mas de geração hidroelétrica. Nesses sistemas, as usinas geralmente se encontram isoladas dos centros
de consumo, de forma a exigir extensas redes de transmissão. Assim, países de grandes dimensões e
cuja matriz energética tem essa fonte, como Brasil, Estados Unidos, Canadá e China, sofrem perdas
mais críticas em suas linhas e, consequentemente, maiores quedas de tensão. A compensação série é,
dessa forma, essencial para esses países, permitindo a transmissão estável por maiores distâncias.

Carregamentos leves também são prejudiciais ao sistema elétrico: o comportamento capacitivo da


linha faz com que a tensão aumente progressivamente com sua extensão. Isto corresponde a situações
de sobretensão, as quais reduzem a vida útil do isolamento dos equipamentos, produzem correntes
ricas em harmônicos e aumentam o risco de flashovers e ferroressonância (MILLER, 1982). A fim de
evitar tais efeitos, a compensação por reatores shunt é empregada.

2.2 REPRESENTAÇÃO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO


COMPENSADA

A compensação série cumpre sua finalidade alterando as características elétricas da linha. Assim,
para melhor compreensão de seus efeitos, será analisado, inicialmente, o comportamento de uma
linha de transmissão sem compensação. Destaca-se que, neste trabalho, é utilizado o modelo 𝜋 para
representação das linhas de transmissão.

2.2.1 Linha de transmissão não compensada

Uma linha de transmissão não compensada, representada na Figura 2.1, é definida pelos parâ-
metros distribuídos por unidade de comprimento de resistência (R, em Ω/km), indutância (L, em
H/km), condutância (G, em S/km) e capacitância (C, em F/km). As variáveis 𝑉̂︀𝐿 e 𝑉̂︀𝑅 indicam,
respectivamente, a tensão no terminal local e a tensão no terminal remoto.
2.2. REPRESENTAÇÃO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO COMPENSADA 6

Figura 2.1: Representação paramétrica de uma linha de transmissão.

A relação entre os parâmetros distribuídos listados acima define a impedância característica da


linha de transmissão 𝑍𝐿 , estabelecida pela razão entre a onda de tensão e a onda de corrente que se
propagam em qualquer ponto da linha (SADIKU, 2004), conforme a equação (2.1).

√︃
𝑅 + 𝑗𝜔𝐿
𝑍𝐿 = = 𝑅𝐿 + 𝑗𝑋𝐿 (2.1)
𝐺 + 𝑗𝜔𝐶

em que 𝜔 denota a frequência angular nominal da rede. Definem-se, a seguir, as constantes de


propagação (𝛾, em 1/km), de atenuação (𝛼, em Np/km) e de fase (𝛽, em rad/km):

√︁
𝛾 = 𝛼 + 𝑗𝛽 = (𝑅 + 𝑗𝜔𝐿)(𝐺 + 𝑗𝜔𝐶) (2.2)

A partir das equações diferenciais de tensão e corrente por comprimento incremental e utilizando
essa notação, é possível referenciar as formas de tensão e corrente do terminal remoto (indicadas pelo
subíndice R) às de um ponto qualquer da linha, conforme as equações (2.3) e (2.4):

1 1
𝑉^ (𝑧) = (𝑉^𝑅 + 𝑍𝐿 𝐼^𝑅 )𝑒𝛾𝑧 + (𝑉^𝑅 + 𝑍𝐿 𝐼^𝑅 )𝑒−𝛾𝑧 (2.3)
2 2

^ = 1 (𝐼^𝑅 + 𝑌𝐿 𝑉^𝑅 )𝑒𝛾𝑧 + 1 (𝐼^𝑅 + 𝑌𝐿 𝑉^𝑅 )𝑒−𝛾𝑧


𝐼(𝑧) (2.4)
2 2
1
em que z representa a distância do ponto ao terminal remoto da linha e 𝑌𝐿 = 𝑍𝐿 . Matricialmente,
as equações (2.3) e (2.4) são escritas como (2.5):

⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤
V A B VR
⎣ ⎦=⎣ ⎦⎣ ⎦ (2.5)
I C D IR

em que:

A = cosh 𝛾𝑧;

B = 𝑍𝐿 sinh 𝛾𝑧;

C = 𝑌𝐿 sinh 𝛾𝑧; e

D = cosh 𝛾𝑧.

Para linhas de alta tensão, a resistência por unidade de comprimento é muito pequena em com-
2.2. REPRESENTAÇÃO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO COMPENSADA 7

paração à indutância, de modo que pode ser desconsiderada sem prejudicar a validade do modelo
𝐿
matemático – em geral tem-se uma razão de 𝑅 ≥ 20. Somada a essa relação, tem-se que a condu-
tância é praticamente nula para redes aéreas (ANDERSON; FARMER, 1996). Tendo em vista tais
considerações, torna-se viável a aproximação por uma linha sem perdas, simplificando as equações
(2.1) a (2.5) para:

√︃
𝐿
𝑍𝐿 = = 𝑅𝐿 (2.6)
𝐶

√︁
𝛾 = 𝑗𝛽 = 𝑗𝜔 (𝐿𝐶) (2.7)

𝑉^ (𝑧) = 𝑉^𝑅 cos 𝛽𝑧 + 𝑗𝑅𝐿 𝐼^𝑅 sin 𝛽𝑧 (2.8)

^
^ = 𝐼^𝑅 cos 𝛽𝑧 + 𝑗 𝑉𝑅 sin 𝛽𝑧
𝐼(𝑧) (2.9)
𝑅𝐿
e

⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤
V A B VR
⎣ ⎦=⎣ ⎦⎣ ⎦ (2.10)
I C D IR

em que:

A = cos 𝛽𝑧;

B = 𝑅𝐿 sin 𝛽𝑧;
1
C= 𝑅𝐿 sin 𝛽𝑧; e

D = cos 𝛽𝑧.

A linha de transmissão pode, ainda, ser descrita em função de sua capacidade nominal de trans-
ferência de potência, conhecida pelo termo em inglês Surge Impedance Loading – SIL. O SIL define a
potência transferida por uma linha cuja razão entre tensão e corrente no terminal remoto é equivalente
à sua impedância característica (ANDERSON; FARMER, 1996). Nessa condição, a potência reativa
produzida pela capacitância shunt é integralmente consumida pela indutância série em todos os pontos
da linha, ou seja, 𝑉 2 𝜔𝑐 = 𝐼 2 𝜔𝑙. Assim, matematicamente, o SIL é descrito por:

𝑉2 𝑉 2 (𝑅𝐿 + 𝑗𝑋𝐿 )
𝑆𝐼𝐿 = = (2.11)
𝑍𝐿* |𝑍𝐿 |2

Adotando a simplificação descrita anteriormente, a equação (2.11) se resume a (2.12) – denomi-


nada como carregamento natural da linha de transmissão:

𝑉2
𝑃𝑛 = (2.12)
𝑅𝐿

em que 𝑃𝑛 se refere à potência natural trifásica, em Watts e V, à tensão de linha da rede, em


Volts. Deve-se destacar que as considerações a seguir levam em conta tal simplificação.
2.2. REPRESENTAÇÃO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO COMPENSADA 8

Para uma linha de transmissão operando com seu carregamento natural, têm-se perfis de tensão e
corrente constantes ao longo de toda sua extensão – condição ideal de operação para o SEP. Assim, a
maioria dos problemas envolvidos na transmissão está associada a situações nas quais o carregamento
da linha difere da sua potência nominal. Para carregamentos superiores ao SIL, por exemplo, é
necessário fornecer potência reativa capacitiva ao sistema, a fim de manter os níveis de tensão dentro
de limites aceitáveis de operação. Por outro lado, para carregamentos inferiores, há potência reativa
capacitiva em excesso, o que também prejudica o funcionamento adequado da rede.

O SIL é de grande funcionalidade para representar as limitações de transferência de potência


de uma linha de transmissão. Tal aplicação é demonstrada na Figura 2.2, a qual relaciona a ca-
pacidade de transferência de potência de uma linha não compensada, em unidades de SIL, à sua
extensão (TRANSMISSION AND INTERCONNECTION SPECIAL TECHNICAL COMMITTEE,
apud. ANDERSON; FARMER, 1996).

Figura 2.2: Capacidade de transferência de potência da linha, em unidades de SIL - Adaptado de:
(ANDERSON; FARMER, 1996).

Apesar de configurar somente uma estimativa e variar para sistemas distintos, o comportamento
ilustrado na Figura 2.2 evidencia que a potência transferida é limitada e que, para linhas extensas, ela
se restringe a valores inferiores ao SIL da rede. A aplicação da compensação série, por conseguinte,
faz-se indispensável para melhorar o aproveitamento da linha de transmissão, ao passo que eleva a
potência natural da linha.

2.2.2 Linha de transmissão com compensação série

Para análise dos efeitos dos bancos de capacitores na rede, introduz-se, primeiramente, o conceito
de grau de compensação, isto é, a razão da reatância capacitiva total do banco pela reatância indutiva
original da linha – denotada pela letra k. A modificação dos parâmetros elétricos da linha está associ-
ada ao local de instalação dos bancos de capacitores. Em função disso, a localização da compensação
série é fator determinante para os seguintes aspectos (ANDERSON; FARMER, 1996):
2.2. REPRESENTAÇÃO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO COMPENSADA 9

∙ Eficiência1 da compensação (denotada pela letra 𝜅);

∙ Perfil de tensão da linha compensada;

∙ Dimensionamento e configuração dos esquemas de proteção do banco de capacitores e da linha


de transmissão; e

∙ Manutenção das instalação do banco.

Utilizam-se majoritariamente duas configurações para a compensação série: um banco de capa-


citores instalado na linha de transmissão ou dois bancos idênticos em cada um de seus terminais.
O primeiro arranjo, por exemplo, é aplicado em grande parte dos sistemas elétricos do Canadá, da
África do Sul e da Turquia, enquanto o segundo predomina nas redes do Brasil e dos Estados Unidos.
(GRÜNBAUM, L.; SAMUELSSON, J., 2005). Descrevem-se a seguir ambos os tipos, bem como suas
respectivas vantagens e desvantagens. A demonstração matemática dos cálculos realizados para ob-
tenção dos coeficientes equivalentes AT , BT , CT e DT e da eficiência 𝜅 de cada arranjo encontra-se
disponível no Apêndice.

2.2.2.1 Compensação nos terminais da linha

Para o modelo 𝜋, a linha compensada em seus terminais tem os parâmetros de representação


matricial da equação (2.5) modificados da seguinte forma:

AT = A − 𝑗0, 5C𝑋𝐶 ;

BT = B − 𝑗0, 5𝑋𝐶 (A + D − 𝑗0, 5C𝑋𝐶 );

CT = C; e

DT = D − 𝑗0.5C𝑋𝐶 .

em que 𝑋𝐶 denota a reatância capacitiva total instalada.

Assim a eficiência para essa configuração, denotada por 𝐾𝑋𝑇 , é de:

𝐾𝑋𝑇 = 𝑅𝑒(A − 0, 25C𝑋𝐶 ) (2.13)

em que Re denota a parte real de A − 0, 25C𝑋𝐶 .

Por localizar-se dentro do perímetro da subestação e se beneficiar das instalações já existen-


tes, esse arranjo apresenta maior facilidade para implantação e manutenção, bem como sistemas de
proteção e controle menos complexos (GONÇALVES, 2007). Ademais, a instalação dos bancos nos
terminais da linha não requer novas concessões de terra ou a construção de outra subestação, as quais
retardam e encarecem o projeto. Eletricamente, ela também apresenta vantagens no que concerne ao
efeito Ferranti2 – contribuindo para redução máxima desse fenômeno, quando instalada no terminal
transmissor.
1
A eficiência da compensação série indica a razão entre a redução na reatância equivalente da linha de transmissão,
pela reatância capacitiva do banco instalado. Isto é, 𝜅 = Δ𝑋 𝑋𝐶
𝐿
. Este conceito se baseia na teoria de parâmetros
distribuídos para o modelo 𝜋 de representação de uma linha de transmissão e varia em função da localização do banco
de capacitores.
2
Quando a linha de transmissão opera com carregamento inferior à sua potência natural, geram-se reativos em
excesso, associados a correntes capacitivas. Esse fenômeno, denominado Efeito Ferranti, faz com que a tensão aumente
ao longo da linha e pode comprometer a correta operação da rede.
2.2. REPRESENTAÇÃO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO COMPENSADA 10

Por outro lado, a eficiência da compensação nos terminais da linha é inferior à daquela aplicada
ao longo de sua extensão, característica que se acentua quanto maior for o comprimento da linha de
transmissão. Além disso, em função de sua proximidade aos terminais, esse arranjo pode comprometer
o funcionamento de relés de distância: devido à inversão de fase, os relés medem impedâncias negativas,
interpretando a falta atrás de sua zona de proteção (BORGES, S. R. L., 2007).

2.2.2.2 Compensação ao longo da linha

Para análise quantitativa da compensação ao longo da linha de transmissão, consideram-se dois


trechos distintos da linha não compensada – denotados pelos subíndice 1 e 2 – de modo que a repre-
sentação matemática da linha é tal qual a indicada a seguir:

AT = A1 A2 + B1 C2 − 𝑗A1 C2 𝑋𝐶 ;

BT = A1 B2 + B1 D2 − 𝑗A1 D2 𝑋𝐶 ;

CT = C1 A2 + D1 C2 − 𝑗C1 C2 𝑋𝐶 ; e

DT = C1 B2 + D1 D2 − 𝑗C1 D2 𝑋𝐶 .

Assim a eficiência para essa configuração, denotada por 𝐾𝑋𝐿 , é de:

𝐾𝑋𝐿 = 𝑅𝑒(A1 D2 ) (2.14)

Quando aplicado no centro da linha, esse arranjo garante máxima eficiência. Ele requer, portanto,
bancos menores para mesma redução da reatância indutiva, em comparação à compensação aplicada
nos terminais da rede. Além disso, a instalação dos bancos ao longo da linha de transmissão não
contribui para a inversão de tensão (GONÇALVES, 2007) e expõe os sistemas de proteção do banco
a efeitos de surto menos críticos. A eficiência para cada tipo de configuração é indicada e comparada
na Tabela 2.1.

Dado que a eficiência da compensação série é determinada em função do comprimento da linha de


transmissão, a diferença entre a instalação no centro da linha (arranjo mais eficaz) para a compensação
em seus terminais aumenta para linhas mais extensas. Conforme verificado na tabela abaixo, enquanto,
para um sistema de 400 km, a eficiência da compensação no centro da linha é somente 7,59% superior
à da compensação em seus terminais, para um sistema de 1000 km, esta diferença passa a ser de 132%.

Tabela 2.1: Eficiência da compensação em função do comprimento da linha e de seu ponto de aplicação
- Adaptada de: (ANDERSON; FARMER, 1996).
Eficiência da Eficiência da Diferença
Comprimento
compensação nos compensação no percentual entre
da linha [km]
terminais da linha [%] centro da linha [%] cada arranjo [%]
400 86,9 93,5 7,59
500 79,9 89,9 12,52
600 71,4 85,7 20,03
700 62,2 80,9 30,06
800 51,2 77,6 51,56
900 39,7 69,9 76,07
1000 27,5 63,8 132,00

Apesar das vantagens supracitadas, a instalação do banco de capacitores em um ponto ao longo


2.3. A COMPENSAÇÃO SÉRIE E A ESTABILIDADE EM LINHAS DE TRANSMISSÃO 11

da linha exige sistemas complementares de transmissão de dados para envio dos sinais de controle e
proteção, como onda portadora e fibra ótica, o que reduz a confiabilidade do sistema de proteção e
aumenta o tempo de eliminação de falta (SAIA, 2005). Em função de sua localização – distante das
instalações da subestação – a compensação ao longo da linha é, também, economicamente mais onerosa,
porquanto requer a construção de uma nova subestação, deslocamento de pessoal para manutenção,
além de novas licenças ambientais e aquisição de novos terrenos. Esse fator faz que, apesar de mais
eficiente, esse arranjo seja preterido pela instalação dos bancos nos terminais da linha.

2.3 A COMPENSAÇÃO SÉRIE E A ESTABILIDADE EM LINHAS


DE TRANSMISSÃO

2.3.1 Análise Quantitativa da estabilidade

Qualitativamente a estabilidade já foi definida como a capacidade da rede de se manter em


equilíbrio em condições normais de operação e de restabelecê-lo após perturbações no sistema. Ana-
liticamente, a estabilidade está diretamente relacionada à equação de transferência de potência do
sistema, definida em (2.15) e representada graficamente na Figura 2.3.

𝑉𝐿 𝑉𝑅
𝑃𝑒 = sin 𝛿 (2.15)
𝑋𝐿

em que:

𝑃𝑒 = Potência transferida entre os terminais local e remoto;

𝑋𝐿 = Indutância entre os terminais local e remoto;

𝛿 = Diferença angular entre os terminais local e remoto, conhecido como carregamento angular
da linha.

Figura 2.3: Transferência de potência do sistema em função de seu carregamento angular 𝛿.

𝑉𝐿 𝑉𝑅
Verifica-se que a máxima potência que a linha é capaz de transferir é dada por 𝑃𝑚á𝑥 = 𝑋𝐿 ,
sendo, portanto, inversamente proporcional à reatância indutiva da linha. Fundamentado nessa rela-
2.3. A COMPENSAÇÃO SÉRIE E A ESTABILIDADE EM LINHAS DE TRANSMISSÃO 12

ção, define-se o critério de áreas iguais – método utilizado para avaliação da estabilidade do sistema.

O critério de áreas iguais estabelece que, para manutenção da estabilidade após distúrbios na
rede, é necessário que a área referente à aceleração das máquinas seja igual à área de desaceleração. A
aceleração do sistema corresponde às situações em que a potência mecânica 𝑃𝑚 é superior à potência
elétrica 𝑃𝑒 . Na Figura 2.4, sua área é representada por 𝐴1 (área sob a curva 𝑃𝑚 − 𝑃𝑒 > 0). Já a
desaceleração, cuja área é descrita por 𝐴2 (área sob a curva 𝑃𝑒 − 𝑃𝑚 > 0), refere-se às situações em
que a potencia elétrica é superior à mecânica.

Ressalta-se que há um ângulo máximo para que se atinja a condição de igualdade entre as áreas
de aceleração e desaceleração, conhecido como ângulo crítico e responsável por definir a margem de
estabilidade do sistema. Caso ele seja superado, a potência mecânica torna-se novamente superior
à elétrica e as maquinas voltam a acelerar, impedindo que se atinja um regime estável (GLOVER;
SARMA; OVERBYE, 2012).

A Figura 2.4 ilustra o critério das áreas iguais para um sistema elétrico submetido a um curto-
circuito na condição inicial de 𝛿0 , o qual foi eliminado em 𝛿1 . Neste intervalo a potência elétrica cai a
zero, de maneira que a potência de aceleração 𝑃𝑎 é dada simplesmente por 𝑃𝑚 e a área de aceleração é
denotada por 𝐴1 . Quando o curto é extinto, a potência elétrica torna-se superior à potência mecânica,
de modo a desacelerar as máquinas síncronas. Para que o sistema seja estável é necessário que o ângulo
𝛿2 , para o qual a área de desaceleração 𝐴2 é igual a 𝐴1 , seja inferior a 𝛿𝑐𝑟 .

Figura 2.4: Critério de áreas iguais para estabilidade.

2.3.2 Contribuição da compensação série para a estabilidade do sistema

A análise da equação (2.15) demonstra que a compensação série aumenta a capacidade de transfe-
rência de potência do sistema, porquanto reduz a impedância série da linha. Um grau de compensação
de 50%, por exemplo, corresponde a um aumento de 100% para potência máxima da rede:

𝑉𝐿 𝑉𝑅 𝑉𝐿 𝑉𝑅
𝑃𝐶𝑚á𝑥 = = = 2𝑃0𝑚á𝑥 ⇒ Δ𝑃𝑚á𝑥 = 100% (2.16)
𝑋𝐿 − 𝑋𝐶 𝑋𝐿 (1 − 0, 5)

em que o subíndice 𝐶𝑚á𝑥 indica a potência máxima para uma linha de transmissão com 50% de
compensação, e o subíndice 0𝑚á𝑥 , a potência máxima da mesma linha sem compensação.
2.3. A COMPENSAÇÃO SÉRIE E A ESTABILIDADE EM LINHAS DE TRANSMISSÃO 13

Esse efeito implica no aumento da área referente à desaceleração do sistema, de modo a contribuir
para a estabilidade da rede. A fim de demonstrar esta característica, a Figura 2.5 ilustra o critério
de áreas iguais para uma linha não compensada (curva em azul), e para um sistema com 50% de
compensação série (curva em verde). Para o sistema compensado, o ângulo 𝛿250% necessário para que
a área de desaceleração (𝐴250% ) se iguale à área associada à aceleração (𝐴1 ) é significativamente inferior
ao ângulo 𝛿2𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 exigido pela linha não compensada. Tal redução se deve ao aumento da capacidade
de transferência de potência possibilitado pela compensação série. Destaca-se, ainda, que, por permitir
um ângulo de carregamento menor para mesma potência transferida, a compensação garante, também,
um aumento do ângulo crítico 𝛿𝑐𝑟 , contribuindo para uma maior margem de estabilidade.

Figura 2.5: Efeito da compensação série sobre a estabilidade do sistema.

O aumento da capacidade de transferência de potência do sistema, e a redução do ângulo de car-


regamento necessário para mesma potência, são descritos, respectivamente, na Figura 2.6 e na Figura
2.7. Na Figura 2.6, a reta tracejada em cinza indica a potência máxima que cada sistema é capaz
de transferir, facilitando a visualização do aumento da capacidade de transferência de potência pro-
porcionado pela compensação série. Identifica-se, também, que quanto maior o grau de compensação,
maior é o aumento. Para 40% de compensação, por exemplo, a potência máxima é 80,40% superior
à do sistema não compensado, enquanto para um grau de 70%, esse aumento passa para 260,81%. A
Figura 2.7, por sua vez, expõe o carregamento necessário para mesma transferência de potência de
cada configuração – indicado pela intersecção das curvas contínuas com a reta tracejada em preto.
Sua análise evidencia a redução do ângulo de carregamento para sistemas compensados.
2.4. DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES 14

Figura 2.6: Transferência de potência para diferentes graus de compensação.

Figura 2.7: Carregamento necessário para mesma transferência de potência.

2.4 DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES

A máxima redução de custos é o principal objetivo que orienta o dimensionamento de um banco


de capacitores. Dessa maneira, os parâmetros de sua configuração são determinados visando ao melhor
aproveitamento econômico. Dentre eles, destacam-se (ANDERSON; FARMER, 1996):

∙ A reatância nominal do banco de capacitores;

∙ A corrente nominal do banco de capacitores;

∙ O limite suportável de sobrecorrente pelos capacitores;

∙ Os requisitos do sistema para reinserção do banco à rede;

∙ O nível de proteção exigido pelo banco;


2.4. DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES 15

∙ O limite de armazenamento de energia dos varistores (dispositivo do sistema de proteção); e

∙ As exigências quanto ao isolamento do banco.

Assim, os itens a seguir discorrem sobre os aspectos mais relevantes desses pontos – bem como
demais parâmetros a eles relacionados – e suas influências nos custos do projeto.

2.4.1 Reatância nominal 𝑋𝐶 e grau de compensação k

A reatância nominal 𝑋𝐶 do banco de capacitores e seu respectivo grau de compensação k são


os primeiros parâmetros que necessitam ser especificados para dimensionamento do banco. Essa
especificação é definida com base nos pontos subsequentes:

∙ Requisitos atuais e previstos para o futuro de transferência de potência e divisão de cargas;

∙ Limites de estabilidade exigidos pelo sistema;

∙ Riscos e impactos da compensação série para a ressonância subsíncrona (descrita posterior-


mente);

∙ Perfil de tensão exigido para a linha de transmissão; e

∙ Custo do banco associado ao benefício econômico que ele acarreta.

Maiores capacitâncias contribuem para o aumento da transferência de potência e da margem


de estabilidade, possibilitando aproveitamento mais eficiente da linha e melhores perfis de tensão e
divisão de cargas. Não obstante, elas estão associadas a maiores custos de instalação, tensões de
restabelecimento transitórias mais críticas, e riscos mais elevados de ressonância subsíncrona e de
inversão de corrente e de tensão, os quais podem comprometer os sistemas de proteção da linha.
Dessa maneira, é necessário equiponderar os aspectos favorecidos por maiores graus de compensação
com os fatores prejudicados por ele – tratados no item 2.5.

Tendo em vista tais considerações, aplicam-se majoritariamente sistemas de compensação com


graus entre 40 a 70% (ANDERSON; FARMER, 1996). Bancos de capacitores fora dessa faixa também
são possíveis, porém a compensação é limitada para no máximo, 80% (MILLER,1982) e no mínimo
25% – ponto em que se torna economicamente inviável (OLIVEIRA, 2007).

2.4.2 Valores nominais de tensão

Para determinação da corrente nominal 𝐼𝑁 do banco são avaliadas as correntes de regime perma-
nente da rede e as sobrecorrentes devido a surtos no sistema. Assim, busca-se projetar bancos cujo
dielétrico isolante seja robusto o suficiente para suportar os requisitos de carregamento da linha. A
partir da reatância 𝑋𝐶 e da corrente nominal 𝐼𝑁 , definem-se a tensão nominal do banco 𝑉𝑁 e sua
potência reativa nominal 𝑄𝑁 , relacionadas abaixo:

𝑉𝑁 = 𝐼𝑁 𝑋𝐶 (2.17)

2
𝑄𝑁,3𝜑 = 3𝑋𝐶 𝐼𝑁 = 3𝑄𝑁,1𝜑 (2.18)
2.4. DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES 16

em que 1𝜑 e 3𝜑, referem-se respectivamente a parâmetros monofásicos e trifásicos. Salienta-


se que a tensão nominal 𝑉𝑁 está associada às condições normais de operação do sistema (regime
permanente), de modo que é necessário definir, também, o limite para a máxima tensão instantânea
permitida entre os terminais dos capacitores devido a perturbações na rede. Essa tensão (associada
ao regime transitório) é denominada 𝑉𝐿𝐼𝑀 e ocorre imediatamente antes da atuação do sistema de
proteção do banco.

A partir desses valores, são estabelecidos os parâmetros para cada unidade capacitiva (𝑋𝑈 𝑁 , 𝑉𝑈 𝑁 ,
𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀 , 𝐼𝑈 𝑁 e 𝑄𝑈 𝑁 ), bem como o número de capacitores, por fase, conectados em série (𝑠𝑝 ) e em
paralelo (𝑝𝑝 ) e a quantidade total de unidades (𝑛𝑝 ) (ANDERSON: FARMER, 1996). Suas relações
são calculadas a seguir:

𝑄𝑁
𝑛𝑝 = 𝑠𝑝 𝑝𝑝 = (2.19)
𝑄𝑈 𝑁

𝐼𝑁
𝑝𝑝 ≥ (2.20)
𝐼𝑈 𝑁

𝑉𝑁
𝑠𝑝 ≥ (2.21)
𝑉𝑈 𝑁

De forma que se obedeçam às condições:

𝑝𝑝
𝑋𝑈 𝑁 = 𝑋𝐶 (2.22)
𝑠𝑝

𝑉𝑁
𝑉𝑈 𝑁 ≥ (2.23)
𝑠𝑝

𝑉𝐿𝐼𝑀
𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀 ≥ (2.24)
𝑠𝑝

Com base em 𝑉𝑈 𝑁 e 𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀 , por sua vez, determina-se a relação entre a força dielétrica do
𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀
capacitor de regime transitório e a força dielétrica de regime permanente, dada por 𝜅 = 𝑉𝑈 𝑁 . A
Tabela 2 lista valores característicos de 𝜅 para diferentes tipos de capacitores.

Tabela 2.2: Valores de 𝜅 para diferentes tipos de capacitores.


Material dielétrico da unidade capacitiva 𝜅 (p.u.)
Filme livre de em bifenilo policlorado 2,0 a 2,3
Papel combinado a filme, em bifenilo policlorado 2,5 a 2,8
Papel impregnado em óleo 3 a 3,5

2.4.3 Proteção dos bancos de capacitores

Como são conectados em série às linhas de transmissão, os bancos de capacitores estão sujeitos a
transitórios severos de tensão e corrente, e a intenso sobrecarregamento relacionado a curtos-circuitos.
Por consequência, é imprescindível que se tenha um sistema de proteção rápido e eficiente para limitar
a tensão nos terminais do capacitor e, assim, impedir o rompimento de seu dielétrico.
2.4. DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES 17

O sistema de proteção especifica o valor máximo de sobretensão que cada unidade capacitiva deve
suportar, restringindo o tamanho do banco e o tornando economicamente viável. Quando se alcança
esse valor, o banco deve ser retirado do sistema, e a corrente de linha, desviada para os circuitos
de proteção. Por outro lado, para tensões inferiores ao limite determinado, os capacitores têm que
manter o isolamento dielétrico e operar normalmente. A fim de usufruir da máxima capacidade térmica
das unidades, é vantajoso que o limite da proteção coincida com a tolerância natural do capacitor a
sobretensões (ANDERSON; FARMER, 1996).

Os itens seguintes desta seção abordam os principais dispositivos do sistema de proteção de bancos
de capacitores, assim como os esquemas de proteção mais utilizados. Primeiramente, é fundamental
definir os conceitos de faltas internas e externas à rede compensada, tendo em vista que cada uma delas
impõe requisitos de atuação e reinserção distintos. As faltas internas referem-se a curtos-circuitos na
linha compensada em questão. Já as faltas externas especificam curtos nos circuitos adjacentes e que
impactam o fluxo de cargas no sistema considerado. A Figura 2.8 exemplifica tais definições.

Figura 2.8: Definição para faltas externas e internas ao sistema compensado.

Para faltas internas, o sistema de proteção da linha irá atuar, de modo que a retirada dos bancos
de capacitores não compromete a rede. Conquanto, para faltas externas, a remoção da compensação
série se somaria ao desvio de fluxo de potência e aos efeitos transitórios decorrentes da perda da linha
adjacente, o que poderia gerar uma configuração muito prejudicial à estabilidade da linha. Assim, é
interessante que a proteção do banco não atue para faltas externas.

2.4.3.1 Dispositivos de proteção

2.4.3.1.1 Centelhador

Os centelhadores, também conhecidos pelo termo em inglês Spark Gap ou simplesmente GAP,
são conectados em paralelo ao banco e consistem em dois eletrodos separados fisicamente. Entre eles,
é possível estabelecer um caminho ionizado (arco elétrico), responsável por desviar o fluxo de corrente.
O fechamento do arco elétrico é comandado por circuitos de acionamento interno ou externo e visa à
proteção dos capacitores contra sobretensões (acionamento interno) ou à proteção térmica do varistor
(acionamento externo).
2.4. DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES 18

2.4.3.1.2 Varistor de óxido metálico

O varistor de óxido metálico, mais conhecido pela abreviação do termo em inglês MOV, é lar-
gamente empregado na proteção de bancos de capacitores em função da característica não-linear de
sua resistência. Esses dispositivos são conectados em paralelo ao banco e, em condições normais de
operação, apresentam elevada resistência – de modo que a corrente flui pelos capacitores. No entanto,
após perturbações no sistema, a elevação da tensão em seus terminais o leva à saturação, de modo que
o MOV passa a representar um caminho de baixa resistência e desvia o fluxo de corrente do banco,
mantendo o nível de tensão constante em seus terminais.

2.4.3.1.3 Disjuntor de desvio

O disjuntor de desvio consiste em uma chave mecânica, utilizada, em geral, para operações de
manutenção. Esse dispositivo também é associado aos centelhadores a fim de extinguir o arco elé-
trico, após determinado período de tempo, para reinserção do banco à linha. Dentre suas finalidades,
destaca-se, ainda, possibilitar a retirada do banco, quando ocorre uma falta interna a este equipa-
mento. Assim como os demais dispositivos, o disjuntor de desvio é conectado em paralelo às unidades
capacitivas.

2.4.3.1.4 Circuito de amortecimento

Quando o GAP atua, a tensão sobre os capacitores cai subitamente a zero. Como a relação entre
corrente e tensão para este dispositivo
(︁ )︁
é expressa por 𝑖𝑐 = 𝐶 𝑑𝑉𝑑𝑡 , a intensa variação da tensão sobre
𝑐

os terminais dos capacitores 𝑑𝑉 𝑑𝑡


𝑐
implicaria níveis de corrente muito altos. A fim de se restringir
tal corrente de descarga, utiliza-se um circuito de amortecimento – usualmente implementado por um
reator em paralelo a um resistor. A Figura 2.9 e a Figura 2.10 explicitam o efeito desse elemento
quanto à limitação dos níveis de corrente no banco, após o acionamento do GAP para uma falta
trifásica.

Em ambas as figuras, as curvas contínuas representam a corrente que passa pelos capacitores
de cada fase, enquanto as tracejadas indicam a atuação do GAP por fase. Na Figura 2.9, a rede
analisada possui circuito de amortecimento, de modo que o pico de corrente devido à atuação do
GAP é limitado e as correntes antes e depois do acionamento desse dispositivo (indicado pelos degraus
de cada curva tracejada, em 𝑡𝑓 𝑎𝑠𝑒𝑎 = 11,15 ms, 𝑡𝑓 𝑎𝑠𝑒𝑏 = 6,47 ms e 𝑡𝑓 𝑎𝑠𝑒𝑐 = 4,24 ms) apresentam
magnitudes semelhantes. Para a Figura 2.10, por outro lado, a ausência do circuito de amortecimento
implica um aumento de mais de 124 vezes no pico de corrente observado, em comparação ao caso
anterior. A maior criticidade desse arranjo é evidenciada, também, pela redução significativa da taxa
de decaimento das correntes: para o sistema amortecido, em apenas 25 ms, as correntes atingiam níveis
desprezíveis; sem o circuito, porém, mesmo após 100 ms da atuação do GAP, o fluxo de corrente ainda
é considerável.
2.4. DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES 19

Figura 2.9: Corrente pelos capacitores após atuação da GAP, em um banco com circuito de amorteci-
mento.

Figura 2.10: Corrente pelos capacitores após atuação da GAP, em um banco sem circuito de amorte-
cimento.

2.4.3.2 Esquemas de proteção

A fim de reduzir as exigências para força dielétrica das unidades capacitivas, e, consequentemente,
limitar suas dimensões, é necessário que o banco de capacitores seja retirado de operação na presença
de sobrecorrentes de curto-circuito. Após o restabelecimento das condições normais do sistema, to-
davia, os capacitores devem ser reinseridos na linha – manobra intrinsecamente ligada à estabilidade
transitória da rede. Para elevados requisitos de estabilidade, é necessário que o banco seja reinserido
rapidamente – no máximo em 100 ms. Por outro lado, para sistemas menos exigentes quanto a esse
quesito, pode-se postergar a reinserção até que as oscilações transitórias tenham sido amortecidas, sub-
metendo o banco e seus equipamentos de proteção a tensões menos severas (ANDERSON; FARMER,
1996).

Cada esquema de proteção fornece um tempo diferente de reinserção, de modo que os requisitos de
2.4. DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES 20

estabilidade transitória (e de reinserção) determinam o arranjo que deve ser utilizado – isto é: proteção
por Spark Gap somente, por MOV associado a Spark Gap, ou por MOV somente. Tais esquemas são
descritos nos itens a seguir.

2.4.3.2.1 Proteção por Spark Gap somente

A proteção por Spark Gap consiste em um GAP, associado a um disjuntor de desvio, em paralelo
à unidade capacitiva, conforme descrito na Figura 2.11.

Figura 2.11: Proteção por Spark Gap somente.

Quando a tensão sobre os terminais do banco e do GAP supera o valor de pico 𝑉𝐿𝐼𝑀 , o GAP
se fecha e a corrente deixa de passar pelo banco. Esse dispositivo, porém, não é capaz de eliminar
o arco elétrico por conta própria. Para tanto, faz-se necessária a atuação do disjuntor de desvio,
a qual permite a desionização do GAP. A fim de impedir o reacendimento do arco, a reinserção só
pode ocorrer após o amortecimento das sobretensões transitórias, de modo que se tenham níveis de
tensão suportáveis pelo GAP. Em função disso, este arranjo é o que oferece tempos de reinserção mais
longos (entre 200 a 400 ms) e não é adequado para requisitos elevados de estabilidade transitória
(ANDERSON; FARMER, 1996).

2.4.3.2.2 Proteção por MOV associado a Spark Gap

Nesse esquema, a proteção é realizada pelo MOV protegido por Spark Gap, ambos associados em
paralelo ao capacitor – como descrito na Figura 2.12.

Figura 2.12: Proteção MOV associado a Spark Gap.

Dado que o MOV conduz somente para tensões superiores a um valor limite, abaixo do qual
a corrente flui normalmente pelo capacitor, esse arranjo possibilita reinserção instantânea. Assim,
2.4. DIMENSIONAMENTO DE UM BANCO DE CAPACITORES 21

mesmo durante a falta, o capacitor se mantém conectado por meio ciclo, o que contribui para a
estabilidade transitória do sistema. Enquanto conduz, o MOV absorve energia continuamente, de
modo que tem que ser dimensionado para suportar tal armazenamento. A fim de limitar o tamanho
desses dispositivos, por conseguinte, o sistema de proteção (Spark Gap, acionado externamente pelo
pico de corrente ou energia acumulada no MOV) é imprescindível.

Conforme mencionado anteriormente, a ausência da compensação série para faltas externas pode
comprometer seriamente o sistema. Dessa forma, a proteção do MOV deve atuar somente para faltas
internas, isto é, o MOV tem de ser dimensionado para suportar a mais crítica configuração de falta
externa. A energia acumulada por esse dispositivo é determinada principalmente pelos seguintes
fatores:

∙ Magnitude da corrente que passa pelo MOV;

∙ Curva característica V vs I do MOV;

∙ Tempo de duração da falta; e

∙ Instante de aplcação do curto.

2.4.3.2.3 Proteção por MOV somente

Este esquema difere do anterior somente no que tange à proteção do MOV. Em vez de um GAP
acionado externamente, tem-se apenas um disjuntor de desvio, conforme explícito na Figura 2.13.
Tal arranjo é vantajoso economicamente quando a taxa de absorção de energia para faltas internas
do MOV é baixa, de modo que a rápida atuação do sistema de proteção do banco de capacitores é
dispensável.

Figura 2.13: Proteção por MOV somente.

2.4.3.2.4 Análise comparativa dos sistemas de proteção

Os sistemas descritos acima diferem quanto à rapidez de atuação, custos de instalação e manu-
tenção e espaço ocupado nas plataformas. Assim, apresentam benefícios e desvantagens distintos, os
quais devem ser analisados para escolha do arranjo que melhor se adeque à rede.

A proteção somente pelo Spark Gap é mais econômica e requer menos espaço na plataforma. No
entanto, ela está associada a tempos de reinserção maiores, de modo que só pode ser empregada em
redes cujos requisitos de estabilidade transitória são reduzidos. A proteção por MOV, em contrapar-
tida, é mais sofisticada e oferece atuação e reinserção mais rápidas e precisas. Dessa forma, apesar de
2.5. IMPACTOS TÉCNICOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE 22

ter custo elevado para faltas externas com correntes de grande amplitude e ocupar maior espaço nas
plataformas, este arranjo é o mais utilizado.

2.4.4 Requisitos de isolamento do banco

Além de isolamento do dielétrico – proteção contra sobretensões em seus terminais, já explanada


em itens anteriores – os bancos de capacitores exigem isolamento quanto às tensões de fase e de
linha. Em ambos os casos, os capacitores devem ser dimensionados para suportar o mesmo nível de
isolamento do sistema elétrico. Ressalta-se, contudo, que caso o banco de capacitores eleve o perfil de
tensão para níveis de superiores aos da rede, pode ser necessário reforçar o isolamento da plataforma
do banco e da linha.

2.5 IMPACTOS TÉCNICOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE

A compensação série é um eficiente mecanismo para reduzir a reatância da linha e, assim, aumen-
tar a transferência de potência do sistema, promovendo benefícios tanto econômicos quanto ambientais.
Não obstante, ela apresenta alguns aspectos técnicos desfavoráveis (associados a graus de compensação
mais elevados) de grande complexidade, os quais impõem limites à sua aplicação. Nos anos de 1970 e
1971, por exemplo, a compensação de reativos comprometeu gravemente a usina térmica de Mohave –
Nevada, EUA (ANDERSON; FARMER, 1996). Dentre as adversidades decorrentes da compensação
série destacam-se:

∙ Ressonância subsíncrona;

∙ Inversões de tensão e de corrente;

∙ Tensões de restabelecimento de transitórias intensificadas;

∙ Desequilíbrio entre impedâncias de fase; e

∙ Efeitos transitórios associados a manobras nos bancos.

Por conseguinte, limita-se o grau de compensação dos bancos de capacitores a 70% e se exige
estudo detalhado de suas consequências negativas, a fim de mitigá-las. A seguir, explanam-se os
aspectos principais dos pontos supracitados. Salienta-se, porém, que, respeitada a limitação de 70%,
tais problemas apresentam soluções técnicas viáveis e não comprometem a aplicação da compensação
série em sistemas de potência.

2.5.1 Ressonância Subsíncrona

O fenômeno da ressonância subsíncrona é consequente da interação dos bancos de capacitores


com a reatância indutiva da linha, formando um circuito LC (MILLER, 1982), cuja frequência elétrica
natural de oscilação é dada por:

√︃ √︃
1 𝜔 𝑋𝐶 𝑋𝐶
𝑓𝑒𝑟 = √ = = 𝑓0 (2.25)
2𝜋 𝐿𝐶 2𝜋 𝑋𝐿 𝑋𝐿
2.5. IMPACTOS TÉCNICOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE 23

em que:

𝑓0 = Frequência fundamental do circuito;

L = Indutância da linha;

C = Capacitância do banco;

𝑋𝐿 = Reatância indutiva da linha de transmissão; e

𝑋𝐶 = a reatância do banco de capacitores série.

Verifica-se, portanto, que a frequência natural de oscilação é sempre inferior à frequência fun-
damental da rede, porquanto 𝑋𝐶 < 𝑋𝐿 . Em geral, a frequência natural de oscilação se restringe a
valores entre 15 a 90% da fundamental (ANDERSON; FARMER, 1996).

Na presença de distúrbios no sistema, o circuito ressonante produz correntes na frequência elétrica


𝑓𝑒𝑟 no estator dos geradores. As quais, por sua vez, acarretam correntes supersíncronas (𝑓0 + 𝑓𝑒𝑟 ) e
subsíncronas (𝑓0 − 𝑓𝑒𝑟 ) no rotor das máquinas. As últimas se destacam por interagirem negativamente
com eixo turbina-gerador, suscitando problemas relacionados à auto excitação (interação torcional ou
efeito gerador de indução) e aos torques transitórios (GONÇALVES, 2007). Tal interação é denomi-
nada ressonância subsíncrona (RSS) e deve ser controlada.

Os efeitos de auto excitação são oriundos de pequenos distúrbios no sistema elétrico e se diferen-
ciam quanto à natureza: a interação torcional consiste em um fenômeno eletromecânico, enquanto o
efeito gerador de indução é puramente elétrico. A primeira ocorre quando a frequência das correntes
subsíncronas se aproxima dos modos naturais de oscilação do gerador, de modo que se tem intercâmbio
de energia entre os sistemas compensado e o de massas acopladas do eixo turbina-gerador. Esse fluxo
energético, por sua vez, promove a intensificação dos modos de oscilação do eixo, de forma a danificá-
lo. O caso de Mohave, anteriormente mencionado, foi resultado deste fenômeno. Quanto à taxa de
crescimento dos torques no eixo, verificam-se, em geral, valores reduzidos para esse tipo de evento –
é necessário, no mínimo, um minuto para que ocorram situações críticas (ANDERSON; FARMER,
1996).

Por outro lado, o efeito gerador de indução se deve ao fluxo de correntes subsíncronas no cir-
cuito de armadura do gerador, de modo que a sua resistência aparente (inversamente proporcional
ao escorregamento) é negativa. O escorregamento negativo faz que o rotor apresente comportamento
semelhante ao de um motor de indução, operando acima de sua velocidade síncrona, ou seja, tal es-
corregamento faz que o rotor exerça amortecimento negativo quando associado a resistências externas
(MILLER, 1982). Para graus de compensação elevados, o escorregamento assume valores muito pe-
quenos, de modo que a resistência vista do estator (negativa) supera a resistência real do sistema.
Essa conjuntura suscita modos subsíncronos instáveis e níveis severos de tensão e corrente no gerador,
os quais podem danificá-lo. Dessa forma, o grau de compensação deve ser limitado. Assim como a
interação torcional, o efeito gerador de indução se estabelece a taxas reduzidas.

Diferentemente dos fenômenos já descritos, os torques transitórios se devem a perturbações de


grande escala na rede e apresentam taxas de crescimento elevadas. Essa configuração de RSS ocorre em
função do descarregamento da energia armazenada nos bancos de capacitores no eixo turbina-gerador,
após uma falta no sistema (ANDERSON; FARMER, 1996). Essa energia é inserida sob a forma de
correntes subsíncronas com frequência próxima a um modo de oscilação do gerador e acarreta forte
elevação dos torques em seu eixo.
2.5. IMPACTOS TÉCNICOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE 24

Para a proteção do sistema, a RSS também traz complicações. Em função de sua baixa frequência,
os relés apresentam dificuldade para filtrar as componentes subsíncronas, retardando a atuação do
sistema de proteção. Além disso, para faltas próximas ao banco, os relés estão sujeitos a problema de
sobrealcance e de erros de direcionalidade.

2.5.2 Inversão de tensão e de corrente

As inversões de fase de tensão e de corrente comprometem seriamente os esquemas de proteção


do circuito, pois interferem no processo de identificação de faltas pelos relés. Ambas estão direta-
mente relacionadas a reatâncias capacitivas mais elevadas, de modo que impõem limitações ao grau
de compensação série dos bancos de capacitores. Para fins de comparação, a Figura 2.14 ilustra o
comportamento da rede quanto às tensões e correntes em condições normais de operação, ou seja,
quando não há inversão de tensão nem de corrente. Nela, o correto dimensionamento do banco faz
com que a tensão sobre o relé seja positiva e inferior à da fonte, de modo a corrente flui no sentido
correto.

Figura 2.14: Configuração normal do sistema.

A inversão de corrente ocorre quando a reatância da compensação série supera a soma das im-
pedâncias da linha de transmissão e da fonte, de forma que a corrente passa a circular na direção
contrária do circuito (OLIVEIRA, 2007). A Figura 2.15 descreve tal fenômeno: quando a impedância
do banco é maior que a reatância indutiva total do sistema, a impedância série equivalente da rede é
negativa. O comportamento predominantemente capacitivo dessa configuração promove aumento nos
níveis de tensão, de modo que a tensão sobre o relé 𝑈𝑅 é superior à tensão da fonte 𝐸𝐹 e o sentido
da direção de corrente é invertido em relação ao indicado na Figura 2.14. Esse fenômeno compromete
o sistema de teleproteção, pois as unidades de distância e direcionais dos relés passam a identificar
curtos-circuitos diretos3 como reversos. Dessa forma, é necessário dimensionar o banco de capacitores
de acordo com a reatância indutiva total do sistema, a fim de impedir que isso ocorra.

Deve-se ressaltar, contudo, que graus elevados de compensação – associados à inversão – resultam
correntes de falta elevadas. Os níveis de curto-circuito mais altos, por sua vez, acionam o GAP,
retirando o banco de capacitores da rede e, com isso, corrigindo o problema. O uso de MOVs para
proteção é, também, uma medida corretiva de grande eficiência, por reduzir a reatância capacitiva
equivalente, à medida que a corrente de curto se intensifica.

3
O curto-circuito direto é aquele que ocorre a jusante do disjuntor analisado, e o curto-circuito reverso, aquele que
ocorre a montante do disjuntor em questão.
2.5. IMPACTOS TÉCNICOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE 25

Figura 2.15: Inversão de corrente.

Bancos de capacitores com reatância inferior à reatância indutiva do sistema, apesar de não
sofrerem inversão de corrente, estão sujeitos à inversão de tensão. Tal fenômeno, descrito na Figura
2.16, ocorre quando a reatância capacitiva é superior à fração da reatância indutiva da linha de
transmissão até o ponto de aplicação do curto-circuito. Nessas condições, a reatância entre o relé e o
ponto de falta tem característica capacitiva (SOUZA, J. R. M. S.; TURNA, R., 2009), de modo que a
tensão no local do curto é superior à tensão sobre o relé (identificada na Figura 2.16 por 𝑈𝑅 ). Assim,
como a tensão no ponto de falta é nula, a tensão vista pelo relé é negativa. Por conseguinte, faltas
próximas às barras e graus de compensação elevados são críticos no que concerne a esse aspecto.

Figura 2.16: Inversão de tensão.

Em relação à proteção do sistema elétrico, essa configuração pode fazer com que faltas internas
sejam identificadas erroneamente como fora da zona de atuação dos relés e suscitar atuações indevidas
da proteção de linhas adjacentes. Esse problema, contudo, é facilmente solucionado pela instalação
de transformadores de potencial à frente do banco de capacitores (SOUZA, J. R. M. S.; TURNA, R.,
2009).
2.5. IMPACTOS TÉCNICOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE 26

2.5.3 Tensão de restabelecimento transitória

A tensão de restabelecimento transitória (TRT) se refere à tensão estabelecida entre os terminais


do disjuntor após a abertura de seus contatos (ZANETTA JR., 2003). Após a separação mecânica dos
contatos do disjuntor, o fluxo de corrente por ele perdura através do arco elétrico existente (caminho
ionizado entre seus polos), até que a corrente da linha passe pelo zero. Neste momento, a tensão
fornecida pela rede se aproxima de seu valor de pico, em função do comportamento predominantemente
indutivo do sistema. Essa solicitação de tensão sobre o canal ionizado pode restabelecer a corrente no
disjuntor, o que causaria diversos danos ao circuito como sobretensões, atraso na atuação do sistema
de proteção da linha e dano aos disjuntores. Assim como a TRT, a taxa de crescimento da tensão de
restabelecimento transitória (TCTRT) pode superar a capacidade dos disjuntores e deve ser estudada
detalhadamente. Imediatamente após a separação mecânica dos contatos, o restabelecimento do arco
elétrico – decorrente da tensão superar a recuperação do dielétrico – é denominado reignição e o
parâmetro de maior importância é a TCTRT. Com o afastamento maior dos polos e a câmara mais
desionisada, o valor máximo da tensão torna-se mais importante, dado que pode superar a capacidade
dielétrica do meio isolante. Neste período (após 1/4 de ciclo, especificamente), a superação do disjuntor
é denominada reacendimento, mais conhecida pelo termo em inglês restrike (ZANETTA JR., 2003).

Em sistemas compensados, a redução da impedância da linha aumenta os níveis de curto-circuito,


de modo que se têm usualmente casos mais críticos de TRT. Os bancos de capacitores contribuem,
ainda, para a elevação da TRT em função da carga armazenada por eles. Verifica-se, assim, que,
para graus maiores de compensação, o efeito sobre a TRT é intensificado. Outro aspecto de grande
importância é o atraso da corrente pelo zero – decorrente das componentes subsíncronas do circuito
– o qual prolonga o arco elétrico. Deve-se salientar, porém, que a proteção dos bancos de capacitores
minimiza o efeito sobre a TRT por eliminar (GAP) ou limitar (MOV) o offset de tensão relacionado
à carga armazenada nestes equipamentos.

É necessário, por conseguinte, assegurar que a TRT e a TCTRT se adequem às limitações dos
disjuntores. Para tanto, a norma IEC 56-1987 estabelece envoltórias para essas variáveis de 2 ou 4
parâmetros, as quais não devem ser superadas. Tais parâmetros estão associados à fração da corrente
de falta do sistema pela capacidade de interrupção nominal de curto-circuito dos disjuntores (corres-
pondentes a 10%, 30%, 60% ou 100%). Para a curva de 4 parâmetros também é considerado o fator
de primeiro pólo, isto é, a tensão nominal em regime permanente nos terminais do primeiro pólo a
abrir (ZANETTA JR., 2003). A Tabela 2.3 lista os valores referentes à curva de 4 parâmetros para
as relações de 30%, 60% e 100% e um fator de primeiro pólo de 1,5, e a Figura 2.17 exemplifica uma
curva padrão para esse tipo de envoltória.

Tabela 2.3: Valores nominais para envoltória de TRT com 4 parâmetros.


Corrente de falta [%] 𝑈1 [kV]
√︀
𝑈𝐶 [kV] 𝑡1 [𝜇s] 𝑡2 [𝜇s] TCTRT [kV/𝜇 s]
30 1,5U√︀2/3 1,5𝑈1 𝑈1 /TCTRT 7,5𝑡1 5
60 1,5U√︀2/3 1,5𝑈1 𝑈1 /TCTRT 4,5𝑡1 3
100 1,5U 2/3 1,4𝑈1 𝑈1 /TCTRT 3𝑡1 2

Em que U se refere à tensão nominal do disjuntor em kV. Para um sistema de 500 kV, por
exemplo, ter-se-iam os valores descritos na Tabela 2.4.
2.5. IMPACTOS TÉCNICOS DA COMPENSAÇÃO SÉRIE 27

Tabela 2.4: Envoltória de 4 parâmetros para um sistema de 500 kV.


Corrente de falta[%] 𝑈1 [kV] 𝑈𝐶 [kV] 𝑡1 [𝜇s] 𝑡2 [𝜇s] TCTRT [kV/𝜇s]
30 612,3724 918,5587 122,4745 918,5587 5
60 612,3724 918,5587 204,1241 918,5587 3
100 612,3724 857,3214 306,1862 918,5587 2

Figura 2.17: Envoltória de 4 parâmetros para TRT.

2.5.3.1 Consequência do desequilíbrio de fases e dos efeitos transitórios para a proteção


da rede

Segundo Anderson e Farmer (1996), a atuação dos sistemas de proteção dos bancos de capacitores,
seja através de GAPs ou MOVs, para somente uma parcela das fases compromete o funcionamento
adequado da proteção das linhas de transmissão, por gerar desequilíbrio entre suas impedâncias de
fase. Paralelamente à análise dos relés sobre sua necessidade de atuação, a linha sofre mudanças
abruptas em função da retirada e reinserção dos bancos, o que aumenta a complexidade necessária à
proteção da rede. Para essa problemática, uma possível solução é a retirada integral dos bancos antes
da atuação dos sistemas de proteção. Todavia, isto implicaria atraso na remoção de faltas, o que,
por vezes, não é aceitável. Dessa forma, a alternativa mais utilizada para redução deste problema é a
implantação de um relé por fase.

Quanto aos efeitos transitórios, destaca-se que os relés identificam os parâmetros do circuito em
função de sua frequência fundamental, de modo que eles têm de utilizar filtros passa-baixa para filtrar
as componentes transitórias de alta frequência, as quais interferem neste processo. Para longas linhas
compensadas, contudo, as componentes de alta frequência são discrepantes para cada terminal da
rede e variam em função da atuação dos sistemas de proteção do banco, impedindo a aplicação de
relés idênticos. Ademais, como o curto-circuito pode ocorrer em qualquer ponto da linha, tem-se um
espectro de frequências muito amplo, o qual pode comprometer a precisão dos relés.
CAPITULO 3

IMPLEMENTAÇÕES COMPUTACIONAIS

Conforme descrito no capítulo anterior, o dimensionamento do banco de capacitores é definido


pelos parâmetros da linha de transmissão na qual ele será inserido. Dessa forma, o estudo detalhado
do sistema elétrico é essencial, a fim de especificar a localização da compensação série, o grau de
compensação, a corrente nominal das unidades capacitivas e o esquema de proteção requerido pelo
banco.

Devem-se, ainda, avaliar os requisitos de estabilidade da linha de transmissão, os níveis de curto-


circuito aos quais ela é submetida, bem como os efeitos que a compensação série e as manobras
de retirada e reinserção do banco acarretariam. Nesse contexto, programas do tipo EMTP, como
o ATP (Alternative Transient Program), são de grande funcionalidade por viabilizarem análises dos
transitórios decorrentes de perturbações e manobras na rede. Tendo em vista tais considerações,
apresenta-se, a seguir, o sistema elétrico composto por uma linha de transmissão com compensação
série, bem como o procedimento realizado para sua implementação em ATP.

3.1 SISTEMA ANALISADO

O sistema no qual a compensação será implantada é formado por uma linha de transmissão de
500 kV e 300 km de extensão em circuito simples, conforme descrito na Figura 3.1. A Tabela 3.1
descreve os dados considerados para representação da linha de transmissão no programa ATP, em que
R é a resistência por unidade de comprimento, X a indutância por unidade de comprimento e 𝜔C, a
susceptância por unidade de comprimento. Os subíndices 1 e 0 indicam, respectivamente, parâmetros
de sequência positiva e zero. Destaca-se que tais dados são referentes ao modelo de parâmetros
distribuídos, descrito na Figura 2.1

Figura 3.1: Sistema a ser compensado.

28
3.1. SISTEMA ANALISADO 29

Tabela 3.1: Características da linha de transmissão.


Parâmetro Unidade Valor
Comprimento km 300
Tensão Nominal kV 500
𝑅1 Ω/km 0,0186
𝑅0 Ω/km 0,4930
𝑋1 Ω/km 0,2670
𝑋0 Ω/km 1,3390
𝜔𝐶1 𝜇S/km 6,1240
𝜔𝐶0 𝜇S/km 2,8900

Para a definição da reatância 𝑋𝐶 do banco de capacitores, foi considerado o modelo 𝜋-equivalente,


apresentado na Figura 3.2 (representação de parâmetros distribuídos em regime permanente). Tal
representação é calculada com base na teoria de propagação de ondas, considerando, para tanto, a
constante de propagação 𝛾 da linha e seus arcos hiperbólicos.

Figura 3.2: Modelo 𝜋-equivalente.

em que:

𝑠𝑖𝑛ℎ(𝛾𝑙)
[︂ ]︂
𝑍𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝑍 (3.1)
𝛾𝑙

𝑡𝑎𝑛ℎ(𝛾 2𝑙 )
[︃ ]︃
𝑌𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝑌 , (3.2)
𝛾 2𝑙

sendo:

𝛾, a constante de propagação da linha;

l, o comprimento total da linha;

Z, a impedância série total da linha, dada por (𝑅1 + 𝑗𝑋1 )𝑙 = 𝑍1 𝑙; e

Y, a admitância total da linha, dada por j𝐶1 l.

Os valores considerados para o modelo 𝜋-equivalente são dispostos na Tabela 3.2. A partir deles,
tem-se que 𝑋𝑒𝑞 =Im(𝑍𝑒𝑞 )=78,1591 Ω , em que Im denota a parte imaginária de 𝑍𝑒𝑞 . Assim, a reatância
3.1. SISTEMA ANALISADO 30

total do banco é dada por:

𝑘
𝑋𝐶 = − 𝑋𝑒𝑞 = −𝑗0, 781591𝑘 Ω, (3.3)
100

em que k se refere ao grau de compensação série utilizado, em %.

Tabela 3.2: Dados do modelo 𝜋-equivalente para sistema considerado.


Parâmetro Unidade Valor
𝛾 1/km j0,0013
Z Ω 5,5800 + j80,1000
Y S j0,0018
𝑍𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 Ω 5,3093 + j78,1591
𝑌𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 S j0,0019

No que concerne à localização do banco de capacitores, a instalação no centro da linha, apesar de


mais onerosa quanto à implantação e à manutenção, garante compensação mais eficaz e, consequente-
mente, redução mais expressiva de perdas. Contudo, para uma linha de transmissão de somente 300
km, a eficiência deste arranjo é menos de 7,59% superior à eficiência da compensação nos terminais
da linha – conforme indicado na Tabela 2.1. Dessa maneira, para o sistema considerado, a redução de
custos de instalação e manutenção da compensação série nas extremidades da rede supera as vantagens
da implantação ao longo de seu comprimento mesmo no ponto de maior eficiência, sendo, por isso,
adotada.

A análise dos efeitos da compensação série nos terminais do sistema é, ainda, mais relevante
porque esta corresponde à configuração mais utilizada no SIN. Por conseguinte, para cada grau de
compensação avaliado, são considerados dois bancos de capacitores nas extremidades da linha de
transmissão – cada um, com uma reatância de -j0,39079k Ω por fase.

Devido ao comprimento da linha, além da compensação série, é necessário empregar reatores


shunt nos terminais da rede, a fim de reduzir o efeito Ferranti. Assim, para todos os casos analisados,
aplicou-se uma compensação indutiva de 50%, correspondendo à instalação de dois reatores por fase,
cada um, com uma reatância de j2150,5 Ω. Finalmente, para a proteção do banco de capacitores,
a rede de extra alta tensão implica níveis severos de transitórios eletromagnéticos, de modo que a
proteção por MOV associado a Spark Gap é a mais recomendada.

A partir de tais considerações, foi implementado o sistema descrito na Figura 3.3. A linha de
transmissão em questão foi dividida em dois trechos distintos para análise dos efeitos de curtos-circuitos
aplicados em h% de sua extensão, a partir do terminal local. Ressalta-se que os reatores shunt estão
dispostos a jusante do banco de capacitores (tendo as barras local e remota como referência), a fim
de impedir circuitos ressonantes, após a abertura dos disjuntores. O passo de cálculo adotado para
todas as simulações foi de 1E-5 s.
3.1. SISTEMA ANALISADO 31

Figura 3.3: Sistema implementado no software ATP.

A Figura 3.4 detalha a configuração, por fase, do banco de capacitores e de seu sistema de
proteção. Salienta-se que, para fins de análise, é razoável a simplificação do banco por apenas uma
unidade capacitiva, isto é, 𝑠𝑝 = 𝑝𝑝 = 𝑛𝑝 = 1.

Figura 3.4: Sistema de compensação por fase.

Os transformadores de corrente (TCs), ligados em série, são do tipo C800 com relação de trans-
formação de 1200-5 A. A Tabela 3.3 indica os pontos da curva de magnetização desse equipamento,
referenciados ao seu terminal secundário. Para os transformadores de potencial (TPCs), o modelo
simplificado empregado foi aquele apresentado por Pajuelo et. al. (2008).

Tabela 3.3: Curva de magnetização para TC C800.


Corrente [A] Fluxo [V-s]
1,9800E-02 2,8150E-01
2,8100E-02 6,0400E-01
4,3800E-02 1,1141E+00
5,6500E-02 1,5343E+00
6,9400E-02 1,8607E+00
1,0250E-01 2,2771E+00
2,1670E-01 2,6522E+00
7,0020E-01 3,0234E+00
1,0631E+00 3,1098E+00
1,5903E+01 3,2261E+00
3.1. SISTEMA ANALISADO 32

As fontes local e remota da linha de transmissão apresentam frequência fundamental de 60 Hz


e são representadas por equivalentes de Thévenin, conectados em série, conforme ilustrado na Figura
3.3. Suas amplitudes – dadas em valor de pico – e fases foram calculadas de forma a garantir 1̸ 0𝑜
p.u. na barra local e 1̸ 𝛿 𝑜 p.u. na barra remota, para base de 408,2482905 kV, em que 𝛿 𝑜 representa
o carregamento angular da linha.

As resistências e indutâncias dos equivalentes de Thévenin das fontes local e remota foram com-
putadas, de forma a garantir a avaliação da força de contribuição de curto-circuito de cada um dos
seguintes sistemas:

∙ O primeiro considera fontes fortes para os terminais local e remoto, ambas com capacidade de
curto-circuito de 𝐼𝑅𝑀 𝑆,3𝜑 = 30 kA e 𝐼𝑅𝑀 𝑆,1𝜑 = 25 kA (valores trifásico e monofásico, respecti-
vamente);

∙ Para o segundo, a fonte local apresenta os mesmos valores descritos anteriormente, e a fonte
remota (considerada uma fonte fraca) tem sua capacidade de contribuição reduzida para 𝐼𝑅𝑀 𝑆,3𝜑
= 20 kA e 𝐼𝑅𝑀 𝑆,1𝜑 =15 kA.

A partir dessas correntes e de suas respectivas potências aparentes, calculam-se as impedâncias


de sequência positiva e zero pelas equações (3.4) e (3.5):

1 𝑆𝑏𝑎𝑠𝑒
𝑍1,𝑝𝑢 = * = * (3.4)
𝑆3𝜑,𝑝𝑢 𝑆3𝜑

3 𝑆𝑏𝑎𝑠𝑒 𝑆𝑏𝑎𝑠𝑒
𝑍0,𝑝𝑢 = * − 2𝑍1,𝑝𝑢 = 3 * −2 * , (3.5)
𝑆1𝜑,𝑝𝑢 𝑆1𝜑 𝑆3𝜑

em que:

𝑍1,𝑝𝑢 = Impedância de sequência positiva do equivalente de Thévenin das fontes;

𝑍0,𝑝𝑢 = Impedância de sequência zero do equivalente de Thévenin das fontes;


* = Conjugado da potência trifásica de curto-circuito;
𝑆3𝜑
* = Conjugado da potência monofásica de curto-circuito; e
𝑆1𝜑

𝑆𝑏𝑎𝑠𝑒 = Potência de base da rede.

No circuito implementado no ATP, tais dados são contemplados de acordo com a relação entre a
impedância da fonte e a da linha, conhecida pelo termo em inglês Source Impedance Ratio – SIR. A
Tabela 3.4 lista as impedâncias de sequência positiva e zero para uma fonte forte e uma fonte fraca, bem
como seus respectivos valores de SIR. A Tabela 3.5 enumera os valores de SIR das duas configurações
de força das fontes analisadas neste trabalho: o conjunto 1 se refere a um sistema com ambas as fontes
fortes, e o conjunto 2, a um sistema com fonte local forte e fonte remota fraca. Destaca-se que, neste
capítulo, esta notação será utilizada nas tabelas seguintes para apresentação dos dados elétricos de
cada arranjo. Os subíndices L e R, representam, respectivamente, dados referentes à fonte local e à
remota.
3.2. DIMENSIONAMENTO DO BANCO E DAS FONTES PARA SISTEMA COMPLETO 33

Tabela 3.4: Dados do equivalente de Thévenin para cada tipo de fonte.


Tipo de
Parâmetro Unidade Valor
fonte
𝑆𝐼𝑅0 adimensional 0,1356
𝑆𝐼𝑅1 adimensional 0,0847
Fonte forte
𝑍0 Ω 10,891283 ̸ 15,01o
𝑍1 Ω 6,804138̸ 15,01o
𝑆𝐼𝑅0 adimensional 0,2543
𝑆𝐼𝑅1 adimensional 0,1271
Fonte fraca
𝑍0 Ω 20,418631̸ 15,01o
𝑍1 Ω 10,206207̸ 15,01o

Tabela 3.5: Combinações de SIR analisadas para cada caso simulado.


Parâmetro Conjunto 1 Conjunto 2
𝑆𝐼𝑅0,𝐿 0,1356 0,1356
𝑆𝐼𝑅1,𝐿 0,0847 0,0847
𝑆𝐼𝑅0,𝑅 0,1356 0,2543
𝑆𝐼𝑅1,𝑅 0,0847 0,1271

Para análise comparativa dos efeitos do grau de compensação série, foram considerados sistemas
elétricos com 40% e 50% de compensação. Desse modo, foram dimensionadas e analisadas quatro
configurações distintas:

∙ Linha de transmissão com grau de compensação de 40% e ambas as fontes fortes;

∙ Linha de transmissão com grau de compensação de 40% e fonte remota fraca;

∙ Linha de transmissão com grau de compensação de 50% e ambas as fontes fortes; e

∙ Linha de transmissão com grau de compensação de 50% e fonte remota fraca.

Apresenta-se a seguir o procedimento realizado para dimensionamento dos bancos de capacitores,


associados aos circuitos considerados.

3.2 DIMENSIONAMENTO DO BANCO E DAS FONTES PARA


SISTEMA COMPLETO

De acordo com a equação (3.3), para os graus de compensação de 40% e 50%, têm-se bancos
de reatâncias capacitivas de -j15,6318 Ω e -j19,5398 Ω, respectivamente. Com os dados do sistema
completo é possível, então, determinar a magnitude e a fase das fontes para cada configuração.

Visando a assegurar tensão nominal nos terminais da linha, considera-se inicialmente o sistema,
já com os bancos de capacitores, sem as impedâncias de fonte. Para ele, são determinados os valores
locais e remotos de corrente de linha, com fontes de 1̸ 0o p.u. e 1̸ 𝛿 𝑜 p.u., respectivamente. A partir
de tais dados, calculam-se as perdas devido às impedâncias do equivalente de Thévenin a fim de
compensá-las. Finalmente, as fontes local e remota são definidas por:

𝑉̂︀𝐿𝑂𝐶 = 𝑉̂︀𝐿𝑂𝐶,𝑠/𝑖𝑚𝑝 + 𝐼̂︀𝐿𝑂𝐶,𝑠/𝑖𝑚𝑝 𝑍𝑡ℎ,𝐿𝑂𝐶 (3.6)


3.3. DIMENSIONAMENTO DA PROTEÇÃO DO BANCO POR MOV 34

e
𝑉̂︀𝑅𝐸𝑀 = 𝑉̂︀𝑅𝐸𝑀,𝑠/𝑖𝑚𝑝 + 𝐼̂︀𝑅𝐸𝑀,𝑠/𝑖𝑚𝑝 𝑍𝑡ℎ,𝑅𝐸𝑀 (3.7)

em que:

𝑉̂︀𝐿𝑂𝐶 = Fasor de tensão da fonte local;

𝑉̂︀𝑅𝐸𝑀 = Fasor de tensão da fonte remota;

𝑍𝑡ℎ,𝐿𝑂𝐶 = Impedância da fonte local;

𝑍𝑡ℎ,𝑅𝐸𝑀 = Impedância da fonte remota;

𝐼̂︀𝐿𝑂𝐶 = Fasor de corrente na barra local; e

𝐼̂︀𝑅𝐸𝑀 = Fasor de corrente na barra remota;

O subíndice s/ imp indica valores referentes ao sistema elétrico sem as impedâncias de fonte.

A Tabela 3.6 e a Tabela 3.7 indicam os valores de magnitude e fase de cada fonte, para graus de
compensação de 40% e 50%, respectivamente. As análises deste trabalho consideram um carregamento
angular de 𝛿=10o .

Tabela 3.6: Valores de entrada das fontes, para 40% de compensação.


Carregamento 𝛿 = 10o
Parâmetro Unidade
Conjunto 1 Conjunto 2
𝑉𝐿𝑂𝐶 kV 408,3879891 408,3879891
𝑓 𝑎𝑠𝑒𝐿𝑂𝐶 o -1,3863 -1,3863
𝑉𝑅𝐸𝑀 kV 407,5436678 407,2859113
𝑓 𝑎𝑠𝑒𝑅𝐸𝑀 o 11,4254 12,1406

Tabela 3.7: Valores de entrada das fontes, para 50% de compensação.


Carregamento 𝛿 = 10o
Parâmetro Unidade
Conjunto 1 Conjunto 2
𝑉𝐿𝑂𝐶 kV 408,9515403 408,9515403
𝑓 𝑎𝑠𝑒𝐿𝑂𝐶 o -1,6472 -1,6472
𝑉𝑅𝐸𝑀 kV 407,4204157 407,1407782
𝑓 𝑎𝑠𝑒𝑅𝐸𝑀 o 11,6981 12,5504

3.3 DIMENSIONAMENTO DA PROTEÇÃO DO BANCO POR


MOV

Com base nos dados para carregamento de 10o e para um sistema apenas com o capacitor em
série (desconsiderados os elementos de proteção, como circuito de amortecimento e GAP), analisa-se o
regime permanente da linha de transmissão para levantamento da corrente nominal 𝐼𝑁 que flui pelos
capacitores.

Desse modo, a tensão nominal 𝑉𝑁 é determinada por 𝑉𝑁 = 𝑉𝑈 𝑁 = 𝐼𝑁 𝑋𝐶 . Dimensiona-se,


então, a curva de saturação do MOV, de forma que ele passe a conduzir para tensões superiores a
𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀 = 𝜅𝑉𝑈 𝑁 , em que 𝜅 exprime a relação entre a força dielétrica do capacitor em regime transitório
e sua força dielétrica em regime permanente. Considerando um dispositivo de papel combinado a filme,
3.4. DIMENSIONAMENTO DA PROTEÇÃO DO MOV POR SPARK GAP 35

em bifenilo policlorado, foi adotado para 𝜅 o valor de 2,5, em conformidade com os dados apresentados
na Tabela 2.2. As Tabelas 3.8 e 3.9 indicam os valores de 𝐼𝑁 , 𝑉𝑈 𝑁 , 𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀 e 𝜅 para os sistemas com
40% e 50% de compensação, respectivamente. Os subíndices LOC e REM indicam valores referentes
aos terminais local e remoto.

Tabela 3.8: Dimensionamento do MOV para 40% de compensação.


Parâmetro Unidade Conjunto 1 Conjunto 2
𝜅 adimensional 2,5 2,5
𝐼𝑁,𝐿𝑂𝐶 A 1238,14317̸ -172,5187o 1247,92027̸ -172,5060o
𝑉𝑈 𝑁,𝐿𝑂𝐶 kV 19,3544428382052 19,5072769024523
𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀,𝐿𝑂𝐶 kV 48,3861070955129 48,7681922561307
𝐼𝑁,𝑅𝐸𝑀 A 1287,955220̸ -159,0021o 1297,28139̸ -159,0870o
𝑉𝑈 𝑁,𝑅𝐸𝑀 kV 20,1330492767354 20,2788814558846
𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀,𝑅𝐸𝑀 kV 50,3326231918386 50,6972036397114

Tabela 3.9: Dimensionamento do MOV para 50% de compensação.


Parâmetro Unidade Conjunto 1 Conjunto 2
𝜅 adimensional 2,5 2,5
𝐼𝑁,𝐿𝑂𝐶 A 1444,54077̸ -170,0154o 1459,22831̸ -170,0160o
𝑉𝑈 𝑁,𝐿𝑂𝐶 kV 28,2260187143507 28,5130100683229
𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀,𝐿𝑂𝐶 kV 70,5650467858768 71,2825251708071
𝐼𝑁,𝑅𝐸𝑀 A 1501,97022̸ -158.5061o 1516,03781̸ -158.6126o
𝑉𝑈 𝑁,𝑅𝐸𝑀 kV 29,3481778738445 29,6230557917534
𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀,𝑅𝐸𝑀 kV 73,3704446846113 74,0576394793834

A Tabela 3.10 detalha os dados de entrada, parametrizados por 𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀 , da curva de saturação
do MOV – simulado no ATP através do elemento MOV, tipo 92. Esse programa realiza um(︁processo
)︁ 𝑞
𝑉
iterativo, ajustando os valores de entrada a uma curva padrão, definida pela função 𝐼 = 𝑝 𝑉𝑅𝐸𝐹 .
De forma que os dados dispostos na Tabela 3.10 são considerados para a determinação de p e q, para
um valor padrão de 𝑉𝑅𝐸𝐹 .

Tabela 3.10: Dados de entrada da curva de saturação do MOV, tipo 92.


Corrente [A] Tensão [V]
0,00011920928955 0,625𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀
5,9029581036 𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀
1000 1,25𝑉𝑈 𝐿𝐼𝑀

3.4 DIMENSIONAMENTO DA PROTEÇÃO DO MOV POR SPARK


GAP

O controle de atuação do GAP foi implementado através da linguagem de programação MODELS,


estruturada anexa ao ATP e destinada à simulação no domínio do tempo (DUBÉ, 1996). A MODELS
permite que as correntes e a energia acumulada pelo MOV sejam monitoradas, de forma a acionar
o GAP caso esses parâmetros superem os máximos predeterminados. A Figura 3.5 descreve a lógica
computacional empregada para esse fim.
3.4. DIMENSIONAMENTO DA PROTEÇÃO DO MOV POR SPARK GAP 36

Figura 3.5: Lógica computacional do sistema de proteção do MOV.

Esse sistema mede as tensões nodais nos terminais do MOV (a partir das quais calcula 𝑉𝑀 𝑂𝑉 ),
bem como a corrente 𝐼𝑀 𝑂𝑉 que passa pelo equipamento. Com tais dados, ele computa a energia
𝐸𝑀 𝑂𝑉 acumulada pelo MOV durante sua condução, expressa por:

∫︁
𝐸𝑀 𝑂𝑉 = 𝐼𝑀 𝑂𝑉 𝑉𝑀 𝑂𝑉 𝑑𝑡 (3.8)
𝑇

Para a decisão quanto à atuação do GAP, a lógica implementada compara os valores de 𝐸𝑀 𝑂𝑉 e


𝐼𝑀 𝑂𝑉 aos níveis máximos de corrente e energia suportados pelo MOV (representados pelas constantes
𝐸𝑀 Á𝑋 e 𝐼𝑀 Á𝑋 ). Caso os limites para energia ou corrente no MOV sejam superados, o GAP é acionado
e fechado. No ATP, o elemento utilizado para implementação do GAP foi o TACS SWITCH tipo 13,
o qual opera como uma chave de controle externo, cujo sinal de atuação é dado pela saída do sistema
desenvolvido em MODELS, apresentado na Figura 3.5.

Os limites de atuação 𝐸𝑀 Á𝑋 e 𝐼𝑀 Á𝑋 são definidos considerando que o MOV deve suportar a


condição mais severa de falta externa. Isto é, eles são especificados para que o sistema de proteção
do MOV atue somente para faltas internas. Dessa forma, para as configurações de 40% e 50% de
compensação, aplicaram-se curtos-circuitos trifásicos francos nas barras local e remota, com o propósito
de mensurar os valores máximos de corrente e de energia acumulada pelos MOVs local e remoto.
Considerando que, de acordo com os Procedimentos de Rede do ONS (ONS, 2011), o tempo de atuação
dos sistemas de proteção de uma linha com tensão nominal superior a 345 kV não pode exceder 100
ms, para o cálculo da energia máxima acumulada foi considerado um período de integração de Δt=100
ms. Após esse intervalo, os disjuntores já têm que ter sido abertos, de modo que a retirada do banco
não afetaria o sistema.

Visando a assegurar a não atuação para faltas externas, foram adotados fatores de segurança de
10% para a energia máxima acumulada e 5% para o pico máximo de corrente. Os valores limites de
𝐸𝑀 Á𝑋 e 𝐼𝑀 Á𝑋 para os graus de compensação de 40% e 50% são elencados nas Tabelas 3.11 e 3.12,
respectivamente.
3.4. DIMENSIONAMENTO DA PROTEÇÃO DO MOV POR SPARK GAP 37

Tabela 3.11: Configuração do GAP para grau de compensação de 40 %.


Banco Parâmetro Unidade Conjunto 1 Conjunto 2
𝐸𝑀 Á𝑋 MJ 8,766450000 7,9675486000
Local
𝐼𝑀 Á𝑋 A 7302,2166420 7081,6308570
𝐸𝑀 Á𝑋 MJ 8,140741400 8,1258199000
Remoto
𝐼𝑀 Á𝑋 A 6949,5953625 6942,3216450

Tabela 3.12: Configuração do GAP para grau de compensação de 50 %.


Banco Parâmetro Unidade Conjunto 1 Conjunto 2
𝐸𝑀 Á𝑋 MJ 12,31853700 11,06211700
Local
𝐼𝑀 Á𝑋 A 6972,8568000 6743,8447440
𝐸𝑀 Á𝑋 MJ 11,098538000 11,06518600
Remoto
𝐼𝑀 Á𝑋 A 7271,7793260 7263,1303605

Com isto, finaliza-se o dimensionamento do banco de capacitores e de seus sistemas de proteção.


A partir dos dados dispostos neste capítulo, o sistema descrito é implementado no ATP e submetido a
diversos tipos de curtos-circuitos. A análise dos resultados obtidos é apresentada no capítulo seguinte.
CAPITULO 4

APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS

Neste capítulo, são avaliados o desempenho e a eficiência dos bancos de capacitores frente a
diferentes configurações de rede e perturbações, bem como seus efeitos sobre a linha de transmissão.
Para tanto, são aplicados curtos-circuitos diversos ao longo da linha e são verificadas as respostas no
tempo de análises de sensibilidade paramétrica e de casos pontuais.

4.1 ANÁLISE TRANSITÓRIA

Inicialmente, são comparados quatro casos pontuais, cujos resultados acentuam o impacto da
resistência de falta e da força das fontes sobre os sistemas de proteção do banco. O estudo de casos
pontuais é feito, também, visando a analisar detalhadamente o funcionamento e as respostas transi-
tórias de cada um dos elementos do banco de capacitores. Em seguida, são analisados os fenômenos
transitórios de TRT e RSS, os quais podem ser agravados pela compensação série.

Para todos os casos considerados, foi aplicado um curto-circuito em t=50 ms, com abertura dos
disjuntores da linha após 100 ms (em t=150 ms) e tempo de simulação total de 300 ms.

4.1.1 Caso 1

A fim de mensurar o efeito da resistência de falta nos níveis de curto-circuito da linha de transmis-
são e os consequentes efeitos transitórios sobre o banco de capacitores, considerou-se, primeiramente
um curto-circuito monofásico AT franco, aplicado em 10% linha (a partir do terminal local) e compen-
sação série de 40%. Posteriormente, avaliou-se o curto-circuito anterior com resistência de falta-terra
𝑅𝑔 =50 Ω. Os comportamentos das correntes no ponto da falta, das correntes de fase no terminal local
e das correntes de fase no terminal remoto para ambos os casos são apresentados, respectivamente,
nas Figuras 4.1, 4.2 e 4.3. Destaca-se que a Figura 4.1 exibe apenas os valores referentes à fase A.

Na Figura 4.1, verifica-se que a corrente de curto-circuito franco (curva em vermelho) é superior
àquela para o segundo caso (curva em azul). Isso ocorre porque a resistência de falta-terra de 50 Ω
contribui para o amortecimento das correntes de curto-circuito, reduzindo suas magnitudes para o
segundo caso. Dessa forma, o GAP local atua somente para o curto-circuito franco. O acionamento
do GAP local da fase A, que ocorre em t=60,58 ms, é indicado pela curva em vermelho no gráfico de
sinais digitas, abaixo das curvas de corrente.

38
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 39

Comparando as Figura 4.2 e Figura 4.3, verifica-se o efeito da maior severidade do curto-circuito
franco sobre as correntes de fase nos terminais local e remoto da linha de transmissão. Além disso,
observa-se que a diferença entre as correntes de fase para cada caso analisado é mais acentuada para
o terminal local, em função do ponto de aplicação da falta. Como o curto-circuito ocorre em 10% da
linha de transmissão, a contribuição de curto-circuito da fonte local é maior, de modo que as correntes
de fase no terminal local da linha sofrem maior impacto com a alteração da resistência de falta.

A Figura 4.2 demonstra, ainda, o efeito da atuação do GAP sobre as correntes locais da linha
de transmissão. Para a Figura 4.2(a), o GAP não atua, de forma que o banco de capacitores se
mantém conectado e os picos de corrente na fase A apresentam a mesma magnitude em todo intervalo
considerado. Para a Figura 4.2(b), por outro lado, o banco de capacitores da fase A é retirado em
t=60,58 ms devido à atuação do GAP desta fase. Em função disso, têm-se perdas maiores na linha
de transmissão e os picos de corrente são menores a partir deste instante, em comparação ao primeiro
pico negativo (quando o banco ainda está conectado).

Figura 4.1: Corrente da fase A no ponto do curto-circuito para os dois casos.


4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 40

(a) (b)

Figura 4.2: Correntes medidas no terminal local da linha de transmissão, para sistema com 40% de
compensação série e curto-circuito monofásico AT, em 10% da linha, para as situações: (a) resistência
de falta-terra 𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto circuito franco.

(a) (b)

Figura 4.3: Correntes medidas no terminal remoto da linha de transmissão, para sistema com 40% de
compensação série e curto-circuito monofásico AT, em 10% da linha, para as situações: (a) resistência
de falta-terra 𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto circuito franco.

A Figura 4.4 descreve o comportamento das tensões no terminal local. Para o curto-circuito
franco (Figura 4.4(b)), após a falta, verifica-se uma severa queda de tensão na fase A (curva em
vermelho), induzindo maiores tensões e transitórios nas fases B e C (curvas em azul e verde). Esse
comportamento é explicado pelo aumento da corrente na linha de transmissão para o curto-circuito
franco, o qual acarreta maiores quedas de tensão na impedância da fonte local. Como consequência,
as sobretensões após a abertura dos disjuntores são mais elevadas, o que pode suscitar casos de TRT
mais intensa. As maiores sobretensões para o caso de curto-circuito franco também estão associadas
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 41

ao menor amortecimento do sistema elétrico, em comparação ao curto com resistência de falta-terra


de 𝑅𝑔 = 50Ω (Figura 4.4(a)).

Para as tensões do terminal remoto, retratadas na Figura 4.5, as sobretensões também são mai-
ores para o curto-circuito franco. Contudo, devido à maior impedância entre o ponto de aplicação da
falta e a barra remota, a diferença entre as tensões das Figuras 4.5(a) e 4.5(b) são menores que as
diferenças entre as tensões das Figuras 4.4(a) e 4.4(b). Destaca-se que a maior espessura das curvas
de tensão, após a abertura dos disjuntores, deve-se à sobreposição de componentes de elevada frequên-
cia, associadas ao comportamento transitório da linha de transmissão e não representa oscilações
numéricas.

(a) (b)

Figura 4.4: Tensão na barra local, para sistema com 40% de compensação série e curto-circuito mo-
nofásico AT, em 10% da linha, para as situações: (a) resistência de falta-terra 𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto
circuito franco.

(a) (b)

Figura 4.5: Tensão na barra remota, para sistema com 40% de compensação série e curto-circuito
monofásico AT, em 10% da linha, para as situações: (a) resistência de falta-terra 𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto
circuito franco.
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 42

A maior severidade do curto-circuito franco é visualizada pela atuação do GAP local. Tal com-
portamento é identificado nas Figuras 4.6 e 4.7, pela análise das correntes e tensões nos MOVs e nos
capacitores, e na Figura 4.8, pela análise da energia nos MOVs. Os valores máximos para corrente e
energia nos MOVs locais em cada um dos casos são apresentados na Tabela 4.1. Tais valores eviden-
ciam o pico de corrente mais elevado para o curto-circuito franco (responsável pela atuação do GAP)
e a limitação da energia no MOV local deste caso (decorrente da atuação do GAP). Para o caso com
resistência de falta-terra, esta Tabela indica maior acúmulo de energia, devido à condução de corrente
pelo MOV por um maior intervalo de tempo.

Tabela 4.1: Valores máximos de corrente e energia no MOV local para configuração de falta.
Dado Unidade 𝑅𝑔 = 50Ω Curto-circuito franco
Corrente kA 3,2648 7,3955
Energia MJ 3,6363 1,0991

(a) (b)

Figura 4.6: Comportamento das correntes sobre o MOV e o capacitor da barra local (a) e das tensões
sobre o capacitor local (b), para o sistema com resistência de falta-terra 𝑅𝑔 = 50Ω. Valores referentes
à fase A.
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 43

(a) (b)

Figura 4.7: Comportamento das correntes sobre o MOV e o capacitor da barra local (a) e das tensões
sobre o capacitor local (b), para o sistema com curto-circuito franco. Valores referentes à fase A.

Figura 4.8: Energia armazenada pelo MOV local para ambas as configurações.

De acordo com a Figura 4.6(a), tem-se que a corrente no capacitor (curva em vermelho) não é, de
início, suficiente para estabelecer condução no MOV – a qual demora a ocorrer em comparação à Figura
4.7(a). Após o segundo pico, o MOV começa a conduzir, de modo que a corrente pelo capacitor deixa
de apresentar forma senoidal e decai exponencialmente. Não se atingem, porém, valores suficientes
para a atuação do GAP. Dessa forma, há fluxo de corrente tanto no MOV quanto no capacitor até
a abertura dos disjuntores da linha, em t=150 ms. Isto significa que esses dispositivos se alteram,
cada um conduzindo por parte do meio período. Assim, quando o GAP não atua, o capacitor e o
MOV operam em paralelo, de maneira que o banco deixa de apresentar comportamento puramente
capacitivo e se comporta como um elemento predominantemente capacitivo. Salienta-se que o atraso
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 44

da condução do MOV em relação ao pico de corrente no capacitor se deve ao fato de que o MOV é
acionado pela tensão em seus terminais, isto é, a tensão no capacitor, a qual é atrasada em relação à
corrente.

As curvas de corrente da Figura 4.6(a) facilitam a visualização da reinserção imediata do banco


de capacitores à linha quando se utilizam esquemas de proteção por MOV, aprimorando a estabilidade
transitória do circuito. Contudo, é necessário ressaltar que esse comportamento é prejudicial à proteção
da linha de transmissão, pois há constante mudança na impedância equivalente do sistema, dificultando
os processos de decisão quanto à atuação dos relés. A não atuação do GAP é evidenciada, também,
pela curva da tensão sobre os terminais do capacitor, disposta na Figura 4.6(b): a tensão na fase A
não se anula, indicando que não houve o by-pass.

Para a Figura 4.7(a), já no segundo ciclo de condução do MOV, a corrente neste dispositivo
supera o limite definido para atuação do GAP e o aciona. Após o by-pass, a carga armazenada nos
capacitores é descarregada – implicando um pico de corrente sobre o capacitor, ainda que limitado
pelo circuito de amortecimento. A atuação do GAP é visualizada, também, na Figura 4.7(b), pela
tensão nula na fase A sobre os terminais do capacitor.

Quanto às curvas de energia, apresentadas na Figura 4.8, a disparidade dos casos é visualizada
pela limitação a 1,0991 MJ da energia no MOV local da fase A referente ao curto-circuito franco
(curva vermelha), em t=60,58 ms. Nesse instante, o GAP atua e o MOV deixa de conduzir. As-
sim, esta curva apresenta somente dois degraus – associados aos dois únicos ciclos de condução do
MOV no primeiro caso. Para o curto-circuito com resistência de falta-terra (curva em azul), o MOV
permanece absorvendo energia até a abertura dos disjuntores. A partir desse momento, tem-se uma
taxa de absorção praticamente nula. Devido aos resultados apresentados, determina-se que, para as
análises de sensibilidade paramétrica posteriores, serão considerados curtos-circuitos francos, os quais
correspondem aos casos mais críticos de operação.

4.1.2 Caso 2

A influência da força das fontes foi investigada para dois sistemas elétricos com grau de com-
pensação série de 50%, nos quais se aplicou um curto-circuito trifásico em 75% da linha (a partir do
terminal local), com resistência entre fases de 10 Ω. Foram implementadas as seguintes configurações
para as fontes local e remota:

∙ 1a Configuração: No primeiro caso, ambas as fontes são fortes, com capacidade de curto-circuito
de 𝐼𝑅ms,3𝜑 = 30 kA e 𝐼𝑅ms,1𝜑 = 25 kA, o que equivale a fontes com 𝑆𝐼𝑅0 = 0,1356 e 𝑆𝐼𝑅1 =
0,0847;

∙ 2a Configuração: Para o segundo caso, a fonte local tem a mesma capacidade do caso anterior e
a fonte remota, capacidade de curto-circuito reduzida de 𝐼𝑅ms,3𝜑 = 20 kA e 𝐼𝑅ms,1𝜑 = 15 kA, o
que equivale a uma fonte remota com 𝑆𝐼𝑅0 = 0,2543 e 𝑆𝐼𝑅1 = 0,1271.

Nesta análise, as diferentes impedâncias de fonte fizeram com que cada caso apresentasse fontes
com valores distintos de magnitude e fase, a fim de garantir 1̸ 0o p.u. e 1̸ 𝛿 𝑜 p.u. nas barras local
e remota, respectivamente. Assim, cada sistema teve definições distintas para saturação do MOV e
trigger do GAP, o que dificulta a comparação dos dois casos.
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 45

O comportamento, para ambos os casos, das correntes no ponto da falta, das correntes de fase
no terminal local e das correntes de fase no terminal remoto são apresentados, respectivamente, nas
Figuras 4.9, 4.10 e 4.11. Na Figura 4.10 e na Figura 4.11 também são apresentados os sinais digitais
de atuação do GAP (indicados nos gráficos imediatamente abaixo das curvas de corrente).

Figura 4.9: Correntes no ponto de aplicação do curto-circuito para os dois casos.

(a) (b)

Figura 4.10: – Correntes pelo terminal local da linha de transmissão, para sistemas com 50% de
compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes
fortes; (b) fonte remota fraca.
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 46

(a) (b)

Figura 4.11: Correntes pelo terminal remoto da linha de transmissão, para sistemas com 50% de
compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes
fortes; (b) fonte remota fraca.

A análise da Figura 4.9 verifica que, no ponto de falta, as correntes são muito próximas, indepen-
dentemente da diferença de força das fontes. Apesar disso, é possível notar que, para a configuração
de ambas as fontes fortes, as correntes são moderadamente maiores em relação à configuração de fonte
remota fraca. Para a Figura 4.10, por outro lado, tal diferença não é perceptível, ou seja, as correntes
para cada arranjo são aproximadamente iguais. Isto ocorre, pois o ponto de aplicação da falta é muito
distante da barra local, de modo que a força da fonte remota praticamente não influencia as correntes
medidas no terminal local. Assim, como a força da fonte deste terminal não é alterada (forte em
ambos os casos), as correntes em 4.10(a) e 4.10(b) são semelhantes.

Para as correntes medidas no terminal remoto, a maior proximidade desta barra ao ponto de
aplicação do curto circuito (75% da linha) acentua as diferenças entre as correntes observadas em
4.11(a) e 4.11(b). Como o sistema elétrico considerado em 4.11(a) apresenta maior capacidade de curto-
circuito (ambas as fontes fortes), as correntes desta configuração são superiores àquelas observadas em
4.11(b). Destaca-se, ainda, que magnitude das correntes da Figura 4.11 é maior que a das correntes
da Figura 4.10, devido à aplicação do curto em 75% da linha de transmissão (mais próximo da barra
remota).

No intervalo entre 50 ms<t<100 ms, identifica-se maior desequilíbrio entre fases para as correntes
no terminal local de ambas as configurações de força das fontes (Figura 4.10), em comparação ao
terminal remoto (Figura 4.11). Isto se explica pelo fato de que os GAPs locais atuam apenas para as
fases A e C4 nesse intervalo, de modo que os sistemas elétricos considerados operam como uma linha
compensada somente para a fase B. Por consequência, tem-se desequilíbrio entre as impedâncias de
fase, resultando nas formas de ondas da Figura 4.10. Para o terminal remoto, por outro lado, o GAP
atua em todas as fases: não há, portanto, desequilíbrio entre as impedâncias. Esse comportamento é
visualizado na Figura 4.11, pelo fato de que as correntes apresentam a mesma magnitude em regime
permanente de curto. Ressalta-se que o desequilíbrio causado pela atuação do GAP em somente uma
parcela das fases prejudica os sistemas de proteção da linha, exigindo medidas corretivas.
4
O arranjo com fonte remota fraca também tem atuação para a fase B, porém ela só acontece em t=102,5 ms, de
modo que pode ser desconsiderada para análise das correntes de linha entre o intervalo 50𝑚𝑠 < 𝑡 < 100𝑚𝑠.
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 47

A Figura 4.12 e a Figura 4.13 mostram que os comportamentos das tensões em cada barra para
ambas as configurações são semelhantes. Tal homogeneidade, apesar das diferentes capacidades de
contribuição de curto-circuito, ocorre, pois as fontes de cada sistema foram configuradas de formas
distintas, a fim de garantir o mesmo perfil de tensão nas barras.

(a) (b)

Figura 4.12: Tensão medida na barra local da linha de transmissão, para sistemas com 50% de com-
pensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes fortes;
(b) fonte local forte e fonte remota fraca.

(a) (b)

Figura 4.13: Tensão medida na barra remota da linha de transmissão, para sistemas com 50% de
compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes
fortes; (b) fonte local forte e fonte remota fraca.

O efeito das diferentes configurações de força das fontes nos sistemas de proteção do banco é
detalhado da Figura 4.14 a Figura 4.19, as quais descrevem as curvas de corrente do MOV em cada
terminal (Figuras 4.14 e 4.15), a energia acumulada por esse equipamento (Figuras 4.16 e 4.17) e a
atuação do GAP (Figuras 4.18 e 4.19). Destaca-se que para todos estes gráficos é considerado como
𝑡0 o instante de aplicação da falta (t=50 ms). A Tabela 4.2 e a Tabela 4.3 listam, respectivamente, os
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 48

máximos de energia e de corrente de cada configuração e o instante de atuação do GAP.

(a) (b)

Figura 4.14: Magnitude das correntes medidas no MOV da barra local, para sistemas com 50% de
compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes
fortes; (b) fonte local forte e fonte remota fraca.

(a) (b)

Figura 4.15: Magnitude das correntes medidas no MOV da barra remota, para sistemas com 50% de
compensação série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes
fortes; (b) fonte local forte e fonte remota fraca.
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 49

(a) (b)

Figura 4.16: Energia acumulada pelo MOV da barra local, para sistemas com 50% de compensação
série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes fortes; (b) fonte
local forte e fonte remota fraca.

(a) (b)

Figura 4.17: Energia acumulada pelo MOV da barra remota, para sistemas com 50% de compensação
série e curto-circuito ABC, em 75% da linha, para as situações: (a) ambas as fontes fortes; (b) fonte
local forte e fonte remota fraca.
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 50

(a) (b)

Figura 4.18: Atuação do GAP local para: (a) ambas as fontes fortes; (b) fonte local forte e fonte
remota fraca.

(a) (b)

Figura 4.19: Atuação do GAP remoto para: (a) ambas as fontes fortes; (b) fonte local forte e fonte
remota fraca.

Tabela 4.2: Valores máximos de corrente e energia nos MOVs para cada configuração.
Ambas as Fonte local forte e
Barra Dado Unidade Fase
fontes fortes fonte remota fraca
Corrente kA A 6,9996 6,7722
Local
Energia MJ B 12,1926 11,0838
Corrente kA B 7,6705 7,6318
Remota
Energia MJ A 0,1628 0,1983

Tabela 4.3: Tempo decorrido para atuação do GAP após ocorrência da falta.
Ambas as Fonte local forte e
Barra Unidade Fase
fontes fortes fonte remota fraca
A 12,2600 12,2100
Local ms B não atuou 102,5000
C 14,8300 14,8200
A 2,3800 2,5800
Remota ms B 5,0100 5,1300
C 2,6400 2,7700

Para o terminal remoto, a menor capacidade de curto-circuito da rede no segundo caso não
acarretou mudanças significativas para os sistemas de proteção do banco, conforme ilustrado na Figura
4.15 e na Figura 4.17. Destaca-se somente um pequeno aumento no tempo necessário para atuação do
GAP (indicado na Tabela 4.3), devido à menor capacidade de curto-circuito do sistema. Como o MOV
conduz por um maior intervalo de tempo (atuação mais tardia do GAP), há também um aumento
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 51

da máxima energia acumulada pelo MOV, conforme verificado pela comparação da Figura 4.17(b) em
relação à Figura 4.17(a) – configuração de ambas as fontes fortes. O impacto reduzido se explica em
função de que as duas configurações de força das fontes possuem limites próximos de atuação para o
GAP remoto (diferença máxima de somente 1%, conforme indicado na Tabela 3.12).

No terminal local, de outra forma, o ajuste do GAP para cada configuração apresenta diferenças
mais significativas, aumentando as discrepâncias entre cada caso analisado. Para ambas as fontes
fortes, tem-se maior tolerância para os limites de energia aceitos pelo MOV (11,36% superiores ao
ajuste para fonte remota fraca). Dessa forma, a menor margem para o acúmulo de energia do arranjo
com fonte remota fraca faz que o GAP da fase B seja acionado por 𝐸𝑀 Á𝑋 em t=102,5 ms, conforme
indicado na Figura 4.18(b). Para a configuração de ambas as fontes fortes, a maior tolerância do
ajuste do GAP faz que não haja atuação na fase B, como verificado em Figura 4.18(a). Na Figura
4.14, o acionamento do GAP somente para o arranjo de fonte remota fraca (b) pode ser visualizado
pela queda abrupta da corrente na fase B (curva em azul), enquanto no primeiro arranjo (a), ela decai
exponencialmente após a abertura dos disjuntores. Quanto à energia, a operação desse dispositivo
é visualizada pela limitação da curva em azul, a qual ocorre somente no segundo arranjo (Figura
4.16(b)). Por fim, destaca-se que, devido à maior capacidade de contribuição de curto-circuito da
primeira configuração, as correntes medidas no MOV local, apresentadas em 4.14(a), são superiores
àquelas da Figura 4.14(b).

4.1.3 Impactos da compensação série sobre a TRT e a TCTRT

Este item visa a avaliar o impacto da compensação série e dos sistemas de proteção do banco
sobre as TRTs e TCTRTs. Para tanto, será considerada a abertura dos disjuntores dos sistemas
elétricos descritos nos itens 4.1.1 e 4.1.2, de forma a correlacionar os níveis de TRT e TCTRT aos
comportamentos já analisados dos sistemas de proteção do banco, das correntes na linha de transmissão
e das tensões nas barras para esses casos.

As TRTs local e remota dos sistemas elétricos analisados no item 4.1.1 são apresentadas, respec-
tivamente, na Figura 4.20 e na Figura 4.21, as quais consideram 𝑡0 como o instante de abertura dos
disjuntores (t=150 ms). Em todos os gráficos, a envoltória de TRT apresentada (curva em preto)
foi calculada pelo método de quatro parâmetros e fator de primeiro pólo de 1,5, para corrente de
curto-circuito da ordem de 30% da capacidade dos disjuntores. A Tabela 4.4 e a Tabela 4.5 listam
os valores máximos, por fase, para TRT e TCTRT de ambas as configurações (curto-circuito franco e
falta com resistência à terra de 𝑅𝑔 = 50Ω).
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 52

(a) (b)

Figura 4.20: TRT na barra local para os casos analisados no item 4.1.1: (a) resistência de falta-terra
𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto circuito franco

(a) (b)

Figura 4.21: TRT na barra remota para os casos analisados no item 4.1.1: (a) resistência de falta-terra
𝑅𝑔 =50Ω; (b) curto circuito franco
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 53

Tabela 4.4: TRT para cada caso analisado.


Curto-circuito
Barra Unidade Fase 𝑅𝑔 = 50Ω
franco
A 1,1683 2,0622
Local p.u. B 2,4327 3,0041
C 2,5080 2,9790
A 1,5309 1,7869
Remota p.u. B 2,2736 2,5959
C 2,1679 2,6309
Limite permitido pela norma = 2.25 p.u.

Tabela 4.5: TCTRT para cada configuração de falta.


Curto-circuito
Barra Unidade Fase 𝑅𝑔 = 50Ω
franco
A 21,6596 61,9611
Local kV/𝜇s. B 18,6314 40,8480
C 33,8452 46,9656
A 12,4267 12,1402
Remota kV/𝜇s B 9,6908 7,5840
C 3,9365 14,1328
Limite permitido pela norma = 5 kV/𝜇s

Em conformidade com o comportamento apresentado na Figura 4.4 e na Figura 4.5, tanto a TRT
quanto a TCTRT são mais intensas para o curto-circuito franco. Na Figura 4.20(b), o aumento da
TCTRT local para o curto-circuito franco em relação à configuração com 𝑅𝑔 = 50Ω é visualizado pela
maior espessura das curvas de tensão. As curvas mais espessas são decorrentes da maior magnitude das
oscilações de alta frequência (associadas à TCTRT mais intensa), as quais se sobrepõem, causando
este efeito visual. Destaca-se, ainda, que o aumento da TCTRT é maior para a fase A (curva em
vermelho), devido à abrupta queda de tensão após o curto-circuito, como identificado na Figura
4.4(b). Para a TRT, a maior criticidade do sistema com curto-circuito franco é demonstrada pelo
aumento da incidência de pontos que superam a envoltória definida por norma (em preto).

Na Figura 4.21, percebe-se maior severidade para o curto-circuito franco no terminal remoto,
principalmente no que concerne à TRT. Contudo, as diferenças entre cada caso são menos significativas,
devido à maior distância do terminal remoto ao local da falta. Com o curto-circuito em 10% da linha
de transmissão, tem-se uma maior impedância entre o ponto de falta e os disjuntores remotos, o
que contribui para limitar o aumento da TRT devido ao curto-circuito franco (b). Para todas as
configurações, entretanto, há pelo menos uma fase de cada barra em que os limites de TCTRT e TRT
são excedidos, de forma a se exigir disjuntores com maior capacidade de interrupção de curto-circuito.

A Figura 4.22 e a Figura 4.23 apresentam, respectivamente, as TRTs local e remota dos sistemas
elétricos analisados no item 4.1.2, considerando também 𝑡0 =150 ms. A Tabela 4.6 e Tabela 4.7, por
sua vez, listam os valores máximos, por fase, para TRT e TCTRT de cada uma das configurações
(sistema com ambas as fontes fortes e sistema com fonte local forte e fonte remota fraca).
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 54

Tabela 4.6: TRT para cada configuração de contribuição de curto-circuito das fontes.
Ambas as Fonte
Barra Unidade Fase
fontes fortes remota fraca
A 1,5536 2,1475
Local p.u. B 3,0876 2,2491
C 3,0565 2,8600
A 2,0640 3,4941
Remota p.u. B 2,0249 3,4396
C 3,1381 3,4137
Limite permitido pela norma = 2.25 p.u.

Tabela 4.7: TCTRT para cada configuração de contribuição de curto-circuito das fontes.
Ambas as Fonte
Barra Unidade Fase
fontes fortes remota fraca
A 30,7621 59,7637
Local kV/𝜇s B 36,2684 46,4024
C 33,1435 28,4159
A 49,6150 172,6102
Remota kV/𝜇s B 44,7451 144,7967
C 80,3818 97,2344
Limite permitido pela norma = 5 kV/𝜇s

(a) (b)

Figura 4.22: TRT na barra local para os casos analisados no item 4.1.2: (a) ambas as fontes fortes;
(b) fonte remota fraca.
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 55

(a) (b)

Figura 4.23: TRT na barra remota para os casos analisados no item 4.1.2: (a) ambas as fontes fortes;
(b) fonte remota fraca.

De acordo com a Figura 4.23(b), a redução da contribuição de curto-circuito do sistema elétrico


traz efeitos expressivos para os disjuntores remotos, tornando tanto a TRT, quanto a TCTRT mais
intensas em relação ao arranjo de ambas as fontes fortes (Figura 4.23(a)). Isso ocorre por que se
tem uma pequena fração da linha entre os disjuntores e o ponto de aplicação do curto-circuito, de
forma que o aumento da impedância da fonte remota é significativo quanto à redução do coeficiente
de reflexão neste trecho. Por consequência, as reflexões negativas na linha, as quais contribuem para
a atenuação da TRT, são menores (ZANETTA JR., 2003). Aumentam-se, dessa forma, os níveis de
TRT para o segundo arranjo. Assim, apesar do perfil de tensão nas barras ser semelhante para os dois
casos (conforme indica a Figura 4.13), a TRT e a TCTRT para fonte remota fraca são mais intensas
e suas taxas de amortecimento, reduzidas em relação à configuração de ambas as fontes fortes.

Conforme a Figura 4.22(b), a redução do SIR remoto também aumenta a TCTRT na barra
local, contudo esse efeito é menor, devido a maior impedância da linha entre os disjuntores locais
e o curto-circuito. Quanto à TRT local (Figura 4.22), ressaltam-se as diferenças para a fase B de
cada arranjo (curvas em azul). Na primeira configuração (a), o GAP local não atua, de modo que o
banco está conectado à linha no instante de abertura dos disjuntores. A presença do capacitor reduz
o amortecimento por perdas na linha e a TRT supera o limite de 2,25 p.u. Para o segundo arranjo
(b), por sua vez, o GAP atua 2,5 ms após a abertura dos disjuntores, de forma que o sistema opera
como uma linha não compensada. Como consequência, a TRT máxima na fase B reduz 37,28% em
relação ao caso anterior e não supera o limite definido pela norma.

4.1.4 Impactos da compensação série sobre a RSS

Este item visa a evidenciar as diferentes componentes frequenciais, decorrentes da interação dos
bancos de capacitores com a reatância indutiva da linha de transmissão, constituindo um circuito LC.
Para identificar tais componentes e o impacto do grau de compensação sobre a RSS, foram considerados
dois sistemas com ambas as fontes fortes e graus de compensação série distintos: o primeiro com 40%,
e segundo com 50%. Nesses sistemas, foi aplicado um curto-circuito BT em 25% da linha e observado
4.1. ANÁLISE TRANSITÓRIA 56

o comportamento das correntes no terminal remoto, após a falta. O resultado é disposto na Figura
4.24, na qual o gráfico da esquerda (a) se refere ao sistema com 40% de compensação, e o da direita
(b), ao com 50%. Destaca-se que, para esta análise, o tempo inicial 𝑡0 é considerado como o instante
em que o curto-circuito ocorreu (t=50 ms).

(a) (b)

Figura 4.24: Correntes medidas no terminal remoto da linha de transmissão, para curto circuito BT
em 25% da linha e com os seguintes graus de compensação série: (a) 40%; (b) 50%.

Após a aplicação da falta, as correntes descritas na Figura 4.24 são moduladas em amplitude,
fato visualizado pela presença de batimentos em suas curvas. Isto ocorre, pois a frequência natural de
oscilação 𝑓𝑒𝑟 do circuito LC interage com a frequência nominal do sistema, de forma que se tem uma
combinação de senóides. É evidenciado, dessa forma, o fenômeno da RSS para as linhas compensadas
consideradas.

Identifica-se, ainda, que os batimentos são mais intensos para as curvas da fase B (em azul).
Assim, visando à melhor observação da modulação em amplitude, os pontos de máximos e mínimos
das correntes desta fase foram amostrados e utilizados para aproximação das envoltórias. O resultado
é apresentado na Figura 4.25.
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 57

(a) (b)

Figura 4.25: Envoltórias de amplitude para as correntes da fase B medidas no terminal remoto da linha
de transmissão, para curto circuito BT em 25% da linha e com os seguintes graus de compensação
série: (a) 40%; (b) 50%.

Tanto a Figura 4.24(b) quanto a Figura 4.25(b) demonstram que a modulação em amplitude é
mais acentuada para o sistema elétrico com 50% de compensação série, em comparação ao de 40%
(Figuras 4.24(a) e 4.25(a)). Tal fato é explicado pela frequência natural de oscilação desse sistema
ser superior à da linha com 40% de compensação. De acordo com a equação (2.25), tem-se que 𝑓𝑒𝑟50%
= 42,43 Hz e 𝑓𝑒𝑟40% = 37,95 Hz, o que acarreta efeitos mais severos quanto à RSS para a linha de
transmissão com maior reatância capacitiva instalada.

4.2 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA

Nesse item, são apresentados os resultados das simulações em massa para análise de sensibilidade
paramétrica e levantamento estatístico da atuação do GAP. Para tanto, foram consideradas faltas do
tipo AT, BT, CT, AB, BC, CA, ABT, BCT, CAT, e ABC, aplicadas de 1% a 99% da linha e com
passo de variação de 0,5%, para cada uma das quatro configurações descritas no Capítulo 3:

∙ Grau de compensação de 40% e ambas as fontes fortes;

∙ Grau de compensação de 40% e fonte local forte e fonte remota fraca;

∙ Grau de compensação de 50% e ambas as fontes fortes; e

∙ Grau de compensação de 50% e fonte local forte e fonte remota fraca;

Com isso, visa-se a avaliar a sensibilidade paramétrica dos sistemas de proteção do banco em
relação à força das fontes da linha de transmissão e ao seu grau de compensação.

4.2.1 Cobertura de atuação do GAP

A exigência de que o GAP não dispare para faltas externas reflete em sua não atuação para faltas
internas mais amenas. Tal fato está associado à menor severidade dos curtos-circuitos internos em
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 58

relação à configuração de falta utilizada para definição dos ajustes do GAP. Assim, para que sejam
atingidos níveis de corrente suficientes para o acionamento do GAP, os pontos de aplicação de falta têm
de se aproximar das barras. Dessa maneira, para uma parcela dos casos analisados, o capacitor ainda
está conectado à linha no momento da abertura dos disjuntores, o que pode causar tensões transitórias
mais severas (ZANETTA JR., 2003). Isso ocorre, pois a compensação série reduz as perdas na linha,
de modo que as correntes do sistema são menos amortecidas.

A porcentagem dos casos considerados, para cada tipo de falta, em que há atuação do GAP é
descrita da Figura 4.26 a Figura 4.29. A Tabela 4.8 e a Tabela 4.9 indicam o limite do ponto de
aplicação do curto-circuito para que esse dispositivo seja acionado. Ressalta-se que para o banco de
capacitores local, o limite se refere ao ponto até o qual se tem atuação, e para o banco remoto, ao ponto
a partir do qual ela ocorre. Por exemplo, de acordo com a Tabela 4.8, para uma falta monofásica AT
e sistema com 40% de compensação e ambas as fontes fortes, o GAP local atua para curtos-circuitos
aplicados em até 24,5% da linha, ou seja, para as faltas aplicadas a partir de 25%, esse dispositivo
não é acionado. Isto significa que, neste caso, tem-se atuação em somente 24,5% da extensão da linha
de transmissão. Para a Tabela 4.9, por outro lado, a leitura dos dados deve ser realizada da seguinte
maneira: para o caso de uma falta monofásica CT e um sistema com 50% de compensação série e
ambas as fontes fortes, tem-se atuação do GAP remoto para faltas aplicadas a partir de 72% da linha
de transmissão, isto é, para os curtos aplicados em até 71,5% da linha, este dispositivo não é acionado.
Assim, neste caso, só há atuação do GAP em 28% da extensão da linha.

Tanto para a barra local quanto para a barra remota, os sistemas elétricos com grau de com-
pensação de 40% apresentam limiares de atuação mais abrangentes em comparação àqueles de 50%.
Conforme exposto nas Tabelas 4.8 e 4.9, para os sistemas com 40%, o alcance do GAP é superior em
80,95% dos casos no terminal local, e em 90,48% no terminal remoto, em relação aos sistemas com
50%. Isso se explica pelo fato de que no ponto limítrofe entre as regiões de atuação e não atuação
do GAP, o acionamento se dá pela energia armazenada no MOV, e as redes com maior compensa-
ção apresentam restrições mais tolerantes para esse parâmetro. Nos gráficos de barra seguintes, esse
comportamento é visualizado pela redução das porcentagens de atuação para os sistemas com 50% de
compensação, em relação àqueles com 40%.
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 59

Figura 4.26: Porcentagem dos casos em que há atuação do GAP, para rede com 40% de compensação
e ambas as fontes fortes

Figura 4.27: Porcentagem dos casos em que há atuação do GAP, para rede com 40% de compensação
e fonte remota fraca.
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 60

Figura 4.28: Porcentagem dos casos em que há atuação do GAP, para rede com 50% de compensação
e ambas as fontes fortes.

Figura 4.29: Porcentagem dos casos em que há atuação do GAP, para rede com 50% de compensação
e fonte remota fraca.
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 61

Tabela 4.8: Limite de aplicação do curto-circuito circuito, em %, para que haja atuação do GAP da
barra local.
Tipo de 40%, 40%, Fonte 50%, 50%, Fonte
Fase
Falta Fontes fortes remota fraca Fontes fortes remota fraca
AT A 24,5 25,5 24,0 24,5
BT B 25,5 26,5 24,5 25,0
CT C 26,0 26,5 25,0 26,0
A 65,0 67,5 63,5 65,0
AB
B 77,5 81,0 77,0 79,0
B 63,5 66,0 60,0 62,0
BC
C 79,5 83,5 77,5 81,0
A 78,5 81,5 78,0 79,5
CA
C 63,0 64,0 61,5 62,0
A 68,5 69,5 69,0 69,5
ABT
B 77,5 82,5 75,5 84,0
B 67,0 69,5 64,0 66,5
BCT
C 77,5 82,5 75,5 78,5
A 75,5 79,5 76,5 77,5
CAT
C 67,5 69,5 64,0 66,5
A 81,5 83,0 82,0 83,0
ABC B 83,0 86,5 80,5 82,5
C 80,0 82,5 75,5 78,0

Tabela 4.9: Limite de aplicação do curto-circuito circuito, em %, para que haja atuação do GAP da
barra remota.
Tipo de 40%, 40%, Fonte 50%, 50%, Fonte
Fase
Falta Fontes fortes remota fraca Fontes fortes remota fraca
AT A 73,0 80,0 73,5 80,5
BT B 72,0 79,5 72,5 80,0
CT C 71,0 78,5 72,0 79,5
A 9,5 13,0 13,0 16,0
AB
B 25,5 29,5 28,5 33,0
B 14,5 18,0 19,5 23,0
BC
C 25,5 30,5 33,0 37,0
A 36,5 40,5 39,5 43,5
CA
C 18,0 22,0 20,0 23,5
A 18,5 21,5 20,0 23,5
ABT
B 19,0 24,0 32,0 35,5
B 12,0 15,5 17,0 23,0
BCT
C 25,5 29,0 32,0 35,5
A 36,0 40,5 39,0 43,0
CAT
C 17,5 21,5 19,5 23,5
A 21,0 24,5 10,5 15,0
ABC B 3,0 6,0 7,5 10,5
C 6,0 10,0 13,0 17,0

A análise gráfica destaca que a seletividade de atuação do GAP é mais severa para os curtos-
circuitos monofásicos: enquanto para essas faltas, a taxa de atuação do GAP não atinge 30%, para
os demais tipos de curto-circuito, esse dispositivo atua na maioria dos casos. Assim, para as faltas
monofásicas, há uma maior incidência de situações em que o capacitor ainda está conectado à linha de
transmissão no instante de abertura dos disjuntores, aumentando os níveis de TRT. Esse comporta-
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 62

mento requer estudo aprofundado, dado que os curtos-circuitos monofásicos são os mais frequentes no
SIN. Em função disso, o item 4.1.3 apresenta uma análise detalhada do impacto sobre a TRT, devido
à maior seletividade do GAP para esse tipo de falta.

Ressalta-se, ainda, que, para os curtos-circuitos monofásicos, a diminuição da força de contribui-


ção da fonte remota impacta notoriamente os sistemas de proteção do MOV: nos arranjos de ambas
as fontes fortes (Figuras 4.26 e 4.28), o GAP remoto apresenta maior taxa de atuação que o GAP
local. Com a redução da capacidade de contribuição da fonte remota, porém, os casos de acionamento
do GAP para esta barra são reduzidos, limitando sua taxa de atuação a valores em torno de 20% – e
inferiores aos da barra local – conforme indicado nas Figuras 4.27 e 4.29.

4.2.2 Tempo de atuação do GAP

Visando à análise dos tempos de atuação do GAP, em função do tipo de configuração da rede,
os dados levantados foram concatenados em faltas monofásicas, bifásicas, bifásicas-terra e trifásicas
e apresentados em polígonos de frequência acumulada. Considerando apenas os sistemas em que há
acionamento do GAP, esse tipo de gráfico indica a porcentagem acumulada dos casos em que o GAP
atuou, em t (ms) após a ocorrência da falta. As curvas obtidas são dispostas da Figura 4.30 a Figura
4.33. Estas Figuras indicam, também, o primeiro instante em que se tem atuação do GAP para cada
tipo de falta (𝑡𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 ) e tempo necessário para que se atinja a porcentagem acumulada de 100% dos
casos de atuação (𝑡100% ). Destaca-se que 𝑡0 é considerado como o instante de aplicação da falta, a
saber, t=50 ms.

(a) (b)

Figura 4.30: Polígono de frequências acumuladas para atuação do GAP, em uma linha com 40% de
compensação e ambas as fontes fortes, nas barras: (a) local; (b) remota.
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 63

(a) (b)

Figura 4.31: Polígono de frequências acumuladas para atuação do GAP em uma linha com 40% de
compensação e fonte remota fraca, nas barras: (a) local; (b) remota.

(a) (b)

Figura 4.32: Polígono de frequências acumuladas para atuação do GAP em uma linha com 50% de
compensação e ambas as fontes fortes, nas barras: (a) local; (b) remota.
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 64

(a) (b)

Figura 4.33: Polígono de frequências acumuladas para atuação do GAP em uma linha com 50% de
compensação e fonte remota fraca, nas barras: (a) local; (b) remota.

A princípio, as curvas apresentam inclinação acentuada, atingindo, rapidamente, valores elevados


para a porcentagem acumulada de casos em que o GAP atuou. Considerando que, para pequenos
intervalos de tempo após o curto-circuito, os níveis de corrente no MOV são mais críticos que a
energia armazenada por ele, esse comportamento indica que o GAP é acionado majoritariamente
pelos valores de corrente. Tem-se, também, que a maioria dos casos de atuação acontece em até 15
ms após o curto-circuito.

Após esse primeiro momento, as curvas passam a apresentar o perfil de retas constantes. No
intervalo para o qual isso acontece, não há novos casos de atuação do GAP, ou seja, o pico de corrente
inicial pelo MOV não foi suficiente para atuação por 𝐼𝑀 Á𝑋 e ainda não foi armazenada energia
suficiente no MOV para que o GAP seja acionado por 𝐸𝑀 Á𝑋 . Por exemplo, para as faltas monofásicas
da configuração abordada na Figura 4.30(b), não houve casos de atuação para o GAP remoto no
intervalo entre 11,16 ms<t< 73,84 ms.

Os casos para os quais o GAP é acionado pela energia armazenada no MOV são contemplados
quando as curvas voltam a apresentar taxa de crescimento, o que usualmente ocorre para tempos
mais avançados nos gráficos analisados. Indica-se, assim, que a atuação por 𝐸𝑀 Á𝑋 geralmente requer
que seja decorrido um tempo maior após o curto-circuito, fato explicado pela equação (3.8). Para os
curtos-circuitos de maior severidade, contudo, os níveis mais elevados de corrente podem fazer com
que o limite máximo para energia no MOV seja atingido rapidamente. Para os GAPs remotos das
linhas de transmissão com 50% de compensação (Figuras 4.32(b) e 4.33(b)), por exemplo, os valores
de 𝑡100% das faltas trifásicas são inferiores a 13 ms, apontando a atuação do GAP por 𝐸𝑀 Á𝑋 para um
curto intervalo de tempo após o curto-circuito.

Verifica-se, também, que as barras local e remota exibem respostas divergentes para as alterações
na configuração do sistema elétrico quanto ao tempo de atuação do GAP. Para a barra local, o
aumento do grau de compensação faz com que o GAP seja acionado mais rapidamente, ou seja, para
o mesmo tempo decorrido da falta, tem-se uma maior porcentagem de casos em que houve atuação.
Para a barra remota, por outro lado, a tendência é que o grau de compensação superior retarde a
atuação do GAP. Ambas as reações estão ligadas aos limites de atuação deste dispositivo. Segundo as
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 65

Tabelas 3.11 e 3.12, a tolerância para as correntes pelo MOV local é reduzida com o aumento do grau
de compensação, acelerando a atuação do GAP. Para a barra remota, porém, os limites de atuação
aumentam com o grau de compensação, causando o efeito oposto.

4.2.3 Impactos da não atuação do GAP

De acordo com o exposto no item 4.2.1, a seletividade de atuação do GAP é mais crítica para faltas
monofásicas. Assim, considerando apenas esse tipo de curto-circuito, o efeito do não acionamento do
GAP sobre a TRT será avaliado da Figura 4.34 a Figura 4.37. Nelas, são comparados casos contíguos
à fronteira de atuação desse equipamento (em que um pertence à região de atuação e o outro, não).
As configurações de falta utilizadas para cada arranjo avaliado são dispostas na Tabela 4.10, a qual
também lista os picos máximos de TRT e o aumento percentual neste parâmetro que a não atuação
do GAP acarreta. Ressalta-se que para os sistemas com ambas as fontes fortes, foi verificada a TRT
para o disjuntor local, e para aqueles com fonte remota fraca, a TRT sobre o disjuntor remoto. Nos
seguintes gráficos, é considerado como 𝑡0 o instante de abertura dos disjuntores (t=150 ms).

Nas Figuras 4.34 a 4.37, observa-se que, para os casos em que o GAP não atua – apresentados
nos gráficos em (a) – os níveis de TRTs são mais elevados em comparação àqueles associados aos
casos em que se tem atuação – indicados em (b). Isto se deve ao fato de que, em (a), os capacitores
ainda estavam conectados à linha de transmissão quando os disjuntores foram abertos, de forma que
as correntes são menos amortecidas e as TRTs, mais elevadas. Para os casos apresentados em (b), de
outra forma, os capacitores já haviam sido retirados da linha no instante de abertura dos disjuntores,
isto é, o sistema elétrico não operava mais como compensado, o que contribui para níveis de TRT
mais reduzidos. Para a Figura 4.34, por exemplo, a TRT na fase B (curva em verde) em (a) é 8,60%
superior àquela em (b).

(a) (b)

Figura 4.34: Comparação da TRT local para uma rede de 40% de compensação série e ambas as fontes
fortes, em casos: (a) sem atuação do GAP; (b) com atuação do GAP.
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 66

(a) (b)

Figura 4.35: Comparação dos níveis de TRT em casos com e sem atuação do GAP, para uma rede de
40% de compensação série e fonte remota fraca, em casos: (a) sem atuação do GAP; (b) com atuação
do GAP.

(a) (b)

Figura 4.36: Comparação dos níveis de TRT em casos com e sem atuação do GAP, para uma rede
de 50% de compensação série e ambas as fontes fortes, em casos: (a) sem atuação do GAP; (b) com
atuação do GAP.
4.2. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA 67

(a) (b)

Figura 4.37: Comparação dos níveis de TRT em casos com e sem atuação do GAP, para uma rede de
50% de compensação série e fonte remota fraca, em casos: (a) sem atuação do GAP; (b) com atuação
do GAP.

Tabela 4.10: Configuração de falta e pico máximo de TRT em casos com e sem atuação do GAP, para
cada arranjo analisado.
SEM atuação do GAP COM atuação do GAP Aumento
Configuração da rede
Curto-circuito Curto-circuito percentual
TRT TRT
aplicado aplicado
em [p.u] em[p.u]
em [%] em [%]
40%, Fontes fortes
3,12 26,0 2,87 24,5 8,60
Falta do tipo AT
40%, Fonte remota fraca
2,50 78,0 2,33 78,5 7,35
Falta do tipo CT
50%, Fontes fortes
2,55 25,5 2,28 24,5 11,97
Falta do tipo BT
50%, Fonte remota fraca
3,89 79,0 3,32 80,5 17,16
,Falta do tipo AT

Os dados dispostos acima ratificam a maior criticidade das TRTs na presença de compensação
série na linha. Mesmo que em pontos mais distantes do terminal analisado (menor contribuição da
fonte adjacente), a TRT chega a ser 17,16% superior quando o GAP não atua, ou seja, o banco ainda
está conectado à linha. Evidencia-se, também, que para graus maiores de compensação, o impacto
da permanência dos capacitores é maior – 10,43% superior para a configuração de ambas as fontes
fortes e 232,82%, para a de fonte remota fraca. Isso ocorre porque o maior grau de compensação
garante reduções mais significativas das perdas na linha. Assim, para os sistemas de 50%, a redução
das correntes na linha de transmissão devido à compensação é maior, e as TRTs tem um aumento
maior devido a não atuação do GAP, em relação aos sistemas com 40% de compensação.
CAPITULO 5

CONCLUSÕES E PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS

Este trabalho apresentou a implementação e a análise da compensação série fixa nos terminais de
uma linha de transmissão de extra alta tensão. Para tanto, o software ATP e a linguagem MODELS
foram empregados, uma vez que eles viabilizam tanto a análise dos efeitos dos bancos de capacitores
sobre a rede considerada, quanto a análise do desempenho de seus sistemas de proteção.

Inicialmente, foi elaborada, no Capítulo 2, uma revisão teórica sobre os fundamentos da com-
pensação série fixa, a fim de embasar as simulações realizadas, bem como a análise e compreensão de
seus resultados. Apresentaram-se os principais equipamentos associados aos bancos de capacitores,
e seus distintos esquemas de proteção, além dos fatores de maior importância que devem ser consi-
derados para seu dimensionamento. Nesse Capítulo, ainda foi evidenciado o efeito da compensação
série quanto ao aumento das margens de estabilidade do sistema e da capacidade de transferência de
potência da linha.

Em seguida, o Capítulo 3 descreveu o procedimento realizado para dimensionamento e implemen-


tação no software ATP dos bancos de capacitores e de seus sistemas de proteção. Para tanto, foram
especificados diferentes graus de compensação e configurações de rede distintas, de forma a possibi-
litar a avaliação da influência desses aspectos na resposta transitória do banco e da linha durante a
ocorrência de distúrbios no sistema.

Finalmente, no Capítulo 4, os sistemas dimensionados foram submetidos a diferentes tipos de


curto-circuito, a fim de avaliar o desempenho dos sistemas de proteção dos bancos de capacitores e
seus efeitos sobre a linha de transmissão. À exceção dos arranjos de falta monofásica, o GAP atuou
na maioria dos casos, protegendo o MOV de forma eficaz. Para os curtos-circuitos monofásicos, no
entanto, a menor severidade desse tipo falta limitou a atuação do GAP a taxas inferiores a 30% dos
casos.

Dessa forma, para o curto-circuito monofásico foi possível identificar claramente o efeito dos
bancos de capacitores sobre a TRT: quando o capacitor ainda está conectado à linha no instante de
abertura dos disjuntores (GAP não atuou), os níveis de corrente são consideravelmente superiores às
situações em que o GAP atua. Isto é, a compensação série contribuiu para TRT mais crítica. Destaca-
se, ainda, que esse efeito aumenta para graus de compensação maiores. Constatou-se, também, que as
reatâncias capacitivas mais elevadas acarretam efeitos de RSS mais significativos. Ratifica-se, dessa
maneira, a teoria apresentada no Capítulo 2 de que tanto a TRT quanto a RSS são intensificadas para
graus de compensação maiores, sendo fatores limitantes para a potência capacitiva instalada na linha.

68
69

No que concerne às distintas configurações de rede, tanto a capacidade de contribuição de curto-


circuito das fontes, quanto os graus de compensação utilizados determinaram diferentes limites de
atuação para os GAPs de cada sistema. Com isso, tornou-se viável a análise dos impactos do ajuste
do GAP e de seu acionamento sobre o comportamento transitório da linha de transmissão.

A compensação série fixa se mostrou um método eficiente para elevar a capacidade de transferência
de potência do sistema, reduzindo as perdas na linha. Ademais, a utilização da proteção por MOV
associado a Spark Gap destacou-se como opção vantajosa por proteger eficientemente os bancos de
capacitores e contribuir para a estabilidade transitória da linha. Ressalta-se, contudo, a necessidade
de estudos prévios à instalação dos capacitores quanto a seus efeitos sobre a TRT e a RSS, a fim de
garantir a escolha apropriada do grau de compensação série suportado pelo sistema.

Para continuação e aprofundamento dos estudos elaborados, sugerem-se as seguintes propostas


de trabalhos futuros:

∙ Avaliar as vantagens da compensação série controlada em relação à compensação série fixa;

∙ Avaliar o desempenho da proteção diferencial em linhas de transmissão compensadas;

∙ Avaliar o desempenho da proteção de distância em linhas de transmissão compensadas;

∙ Avaliar o impacto associado à RSS em máquinas síncronas conectadas a linhas de transmissão


compensadas; e

∙ Avaliar a contribuição da compensação série em linhas de circuito duplo quanto à divisão de


carga.
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APÊNDICE

DEMONSTRAÇÕES MATEMÁTICAS

Neste Apêndice, são apresentadas as manipulações matemáticas realizadas para a obtenção dos
coeficientes matriciais A, B, C e D de representação paramétrica para linhas de transmissão com
compensação série:

∙ Nos terminais da linha; e

∙ Em um ponto ao longo da linha.

A partir da definição dos parâmetros A, B, C e D, a eficiência 𝜅 para cada configuração é definida


por inspeção.

Compensação série nos terminais da linha

Para a definição dos parâmetros associados ao arranjo com dois bancos idênticos nos terminais
da linha, é considerado o sistema descrito na Figura 1.

Figura 1: Linha de transmissão com compensação série nos terminais da linha.

Pela análise matricial do sistema acima, tem-se que os parâmetros equivalentes da linha de trans-
missão AT , BT , CT e DT são dados por:

⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤⎡ ⎤
AT B T 1 −𝑗𝑋 A B 1 −𝑗𝑋
⎣ ⎦=⎣ ⎦⎣ ⎦⎣ ⎦ (1)
CT DT 0 1 C D 0 1

⎡ ⎤⎡ ⎤
A − 𝑗𝑋C B − 𝑗𝑋D 1 −𝑗𝑋
=⎣ ⎦⎣ ⎦
C D 0 1

72
73

⎡ ⎤
A − 𝑗𝑋C B − 𝑗𝑋(A + D − 𝑗𝑋C)
=⎣ ⎦
C D − 𝑗𝑋C

𝑋𝐶
em que 𝑋 = 2 .

Assim, tem-se que:

AT = A − 𝑗 𝑋2𝐶 C

BT = B − 𝑗 𝑋2𝐶 (A + D − 𝑗 𝑋2𝐶 C)

CT = C

DT = D − 𝑗 𝑋2𝐶 C

Por inspeção, verifica-se que a variação em B associada à compensação série é dada por:

Δ𝑋𝐿 = ΔB = −𝑗𝑋𝐶 (0, 5A + 0.5D − 𝑗0, 25𝑋𝐶 C) (2)

De A = D, tem-se:
Δ𝑋𝐿 = −𝑗𝑋𝐶 (A − 𝑗0, 25𝑋𝐶 C) (3)

Portanto, a eficiência da compensação série nos terminais da linha é de:

Δ𝑋𝐿 𝑋𝐶
(︂ )︂ (︂ )︂
𝐾𝑋𝑇 = 𝑅𝑒 = 𝑅𝑒(A − 𝑗0, 25𝑋𝐶 C) = 𝑅𝑒 cosh(𝛾𝑙) − 𝑗0.25 sinh(𝛾𝑙) (4)
𝑋𝐶 𝑍𝐿

em que l denota o comprimento total da linha de transmissão e 𝑍𝐿 , sua impedância característica.


A equação (4) ratifica que a eficiência da compensação série é dada em função da extensão da linha.

Compensação série em um ponto ao longo da linha

A Figura 2 ilustra o sistema considerado para cálculo dos parâmetros AT , BT , CT e DT , associ-


ados à compensação por somente um banco de capacitores instalado ao longo da linha. Neste sistema,
a linha foi seccionada em dois trechos distintos, em modelo 𝜋-equivalente, denotados pelos subíndices
1 e 2.

Figura 2: Linha de transmissão com compensação série em um ponto ao longo da linha.

Pela análise matricial do sistema acima, tem-se que os parâmetros equivalentes da linha de trans-
74

missão são dados por:

⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤⎡ ⎤
AT B T A1 B1 1 −𝑗𝑋 A2 B 2
⎣ ⎦=⎣ ⎦⎣ ⎦⎣ ⎦ (5)
CT DT C1 D1 0 1 C2 D2

⎡ ⎤⎡ ⎤
A1 −𝑗𝑋A1 + B1 A2 B2
=⎣ ⎦⎣ ⎦
C1 −𝑗𝑋C1 + D1 C2 D2

⎡ ⎤
A1 A2 + B1 C2 − 𝑗𝑋A1 C2 A1 B2 + B1 D2 − 𝑗𝑋A1 D2
=⎣ ⎦
C1 A2 + D1 C2 − 𝑗𝑋C1 C2 C1 B2 + D1 D2 − 𝑗𝑋C1 D2

em que 𝑋 = 𝑋𝐶 .

Assim, tem-se que:

AT = A1 A2 + B1 C2 − 𝑗A1 C2 𝑋𝐶

BT = A1 B2 + B1 D2 − 𝑗A1 D2 𝑋𝐶

CT = C1 A2 + D1 C2 − 𝑗C1 C2 𝑋𝐶

DT = C1 B2 + D1 D2 − 𝑗C1 D2 𝑋𝐶 .

Dado que para o sistema não compensado, dividido nos trechos 1 e 2, a representação matricial
é de:

⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤ ⎡ ⎤
A B A1 B1 A2 B2 A1 A2 + B1 C2 A1 B2 + B1 D2
⎣ ⎦=⎣ ⎦⎣ ⎦=⎣ ⎦ (6)
C D C1 D1 C2 D2 C1 A2 + D1 C2 C1 B2 + D1 D2

tem-se, por inspeção, que a variação em B associada à compensação série é dada por:

Δ𝑋𝐿 = Δ𝐵 = −𝑗𝑋A1 D2 (7)

Portanto, a eficiência da compensação série para um banco de capacitores instalado ao longo da


linha é de:

Δ𝑋𝐿
(︂ )︂
𝐾𝑋𝐿 = 𝑅𝑒 = 𝑅𝑒(A1 D2 ) = 𝑅𝑒 (cosh(𝛾𝑙1 ) cosh(𝛾𝑙2 )) (8)
𝑋𝐶

em que 𝑙1 denota o comprimento do trecho 1 da linha de transmissão, representado pelos parâ-


metros A1 , B1 , C1 e D1 e 𝑙2 , o comprimento do trecho 2 (representado pelos parâmetros A2 , B2 , C2 e
D2 ), de forma que 𝑙1 + 𝑙2 = 𝑙. De (8), verifica-se que a eficiência máxima deste arranjo ocorre quando
𝑙1 = 𝑙2 , isto é, quando o banco de capacitores é instalado no centro da linha.

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