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intolerância.
Resumo
O presente artigo busca destacar as práticas de interação nas redes sociais, tendo como foco de
estudo o Facebook, uma das principais plataformas de comunicação, trazendo para discussão
as causas e consequências da “democratização” de informações e de discursos de diferentes
naturezas, visto que grande parte dos usuários desse suporte compartilham e curtem sem fazer
uma reflexão no que de fato estão reproduzindo e/ou apoiando, gerando assim discussões
pautadas no senso comum que têm levado à intolerância.
Na era de profusão de informações, é fundamental que os indivíduos possuam um pensamento
crítico, ou seja, aquele que não acredita em tudo o que é dito, mas que desconfia e tenta verificar
o contexto e os elementos mais amplos dos discursos. Sendo assim, espera-se que o resultado
do presente trabalho possa contribuir para uma reflexão acerca da crise do pensamento crítico
em tempos de pós-verdade e redes sociais.
Palavras-chave: Redes Sociais. Facebook. Práticas discursivas. Pensamento crítico
Abstract
This article aims to highlight the practices of interaction in social networks, Focusing on
Facebook, one of the main communication platforms, bringing for discussion the causes and
consequences of the "democratization" of reports
information and speeches of different natures, since users of this support share and enjoy
without reflecting on what they are actually reproducing and/ or supporting, thus generating
discussions based on common sense that have led to intolerance.
In the era of profusion of information, it is fundamental that individuals have a critical thought,
in other words, who does not believe everything that is said, but that is suspicious and attempts
to ascertain the context and the broader elements of the speeches. Therefore, it is expected that
the result of this work can contribute to a reflection on the crisis of critical thinking in times of
post truth and social networks.
Key words: Social networks. Facebook. Discursive practices. Critical thinking.
1. Introdução
3. Autoria e performance
Foucault, em “ O que é o autor? ” indaga o estatuto da autoria, sugerindo que o autor não
é um simples elemento a mais no discurso, mas um dispositivo de controle discursivo “a função-
autor é, portanto, característica do modo de existência, de circulação e de funcionamento de
alguns discursos no interior de uma sociedade” (FOUCAULT, 1994, 798), ou seja, o lugar do
autor como produto e não como origem do discurso.
Não se trata de negar a existência da figura do autor que assina a obra, mas de repensar a
função-autor como “uma pluralidade de egos, múltiplas posições de sujeito”. Sendo assim, a
função de autoria assume diversas facetas, transformando o autor naquele que representa
diferentes papeis para se fazer percebido.
Nesse sentido, ao correlacionar a função autoral com o advento das novas tecnologias e
proliferação de escritas em redes sociais, infere-se que cada vez mais o autor, além de assumir
os papéis de escritor, participa das tramas dos textos escritos, se constitui naquilo que enuncia
e se utiliza das mídias como plataforma para ecoar a sua voz.
Ao refletir sobre os novos meios de enunciação utilizados pelas pessoas para apresentação
de si e de suas visões de mundo, nos apoiamos no conceito de performance.
Para Judith Butler (1990), uma performance deve ser entendida como sendo atravessada
pela historicidade inerente ao gesto ou à fala. Sendo assim, o desempenho performático
caracteriza-se por personificar citações de outros discursos. O que o sujeito-autor enuncia não
é a expressão daquilo que lhe é intrínseco, mas é performativamente produzida pelo que é dito
e feito socialmente. A essência do que se diz é, portanto, um efeito de performances repetidas
que, de certa forma, vão (re) atualizando os discursos histórico e culturalmente produzidos.
Relacionando os atos discursivos nas redes sociais ao conceito de performance podemos
observar a questão de autoria como posição desse sujeito-autor que atua de diversas formas:
encenando ou falando a verdade? Usando seus argumentos ou de outros? Sendo preconceituoso
e excludente ou defensor das minorias? Reproduzindo ou criando? Ou seja, há uma relação
intrínseca entre o texto que se produz e o meio cultural do seu produtor. Como argumenta
Cameron (1997):
Com o intuito de melhor elucidar o que foi dito, faz-se relevante observar a seguinte
postagem retirada do Facebook a fim de ser analisada discursivamente:
Ser negro, favelado e de cabelo duro é literalmente muito duro. Tenho tido essa
comprovação na pele diariamente, por meio das minhas vivências e experiências que até
aqui só meu eu íntimo e o meu travesseiro sabemos.
Deixei meu cabelo crescer e me vi. Vi, inclusive, que o florescer natural de meu cabelo na
medida em que ele se tona mais e mais "black power", incomoda e acentua minha negritude.
Negritude esta, recebida por outros de olhos tortos com uma mistura de estranhamento,
medo e curiosidade.
Todavia, isso é passado. Há pouco, cortei parte de meu cabelo. Me vi outro, e também me
vêem como outro. Parece que quanto mais corta-se o cabelo duro, mais afáveis são as
recepções dos olhares da multidão.
Contudo, isso é passado. Há pouco, voltei a usar boina. No dia de hoje, resolvi esconder
meu já curto cabelo embaixo do pequeno chapéu. Me vi outro de novo. Agora me olham
sorrindo e se possível, piscam um dos olhos simbolizando um flerte.
E agora, José? Havia uma pedra no meio do caminho? ou no meio do caminho havia uma
pedra?
Como representação é o processo pelo qual membros de uma cultura usam a linguagem
para instituir significados, podemos inferir que nós, em sociedade que atribuímos sentidos às
coisas. No entanto, algumas representações ganham maior visibilidade e passam a ser
consideradas como expressão da realidade social. Em nossa sociedade e em tantas outras as
representações que têm ganhado força estão sendo construídas por discursos proeminentes que
representam um grupo em detrimento de outros. Estabelecendo formas padrões ligadas aos
conceitos de superioridade/inferioridade. Sendo assim, a criação de estereótipos consiste na
generalização e atribuição de valor a algumas características de um grupo, reduzindo-o a essas
características e definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. Essa generalização tem
caráter subjetivo e pré-conceitual, motivado por um pensamento unilateral que gera
intolerância.
O problema dos estereótipos e da intolerância, embora não seja algo novo, é uma
crescente tendência proveniente da falta de um pensamento crítico e vem ganhando espaços
cada vez mais amplos devido às redes sociais.
A internet tornou-se o meio mais utilizado para troca de informações e diálogos através
das mídias sociais. Este é o cenário no qual a tecnologia e o excesso de informação aparecem,
por um lado como propulsores do conhecimento e por outro como entraves desse processo, uma
vez que acaba gerando leitores superficiais e, consequentemente, reprodutores acríticos de
conceitos.
Na sociedade atual as novas mídias estão extremamente presentes no nosso dia-a-dia de
forma a influenciar o pensamento e comportamento das pessoas, através da possibilidade de
produção e compartilhamento de informações e opiniões.
Comentário 1: “Quando vejo que tudo o que não presta são contra o 17, aí é que tenho
ainda mais certeza do meu voto para presidente”.
Comentário 5: (resposta ao comentário 4). “Me dá dó de ver uma gorda, como você
defendendo o comunismo, olha o exemplo Venezuela tá sem alimento”.
Comentário 9: “ Não vou votar no Bolsonaro, mas não me enquadro em nenhuma das
características atribuídas àqueles que não votarão nesse ‘cidadão de bem’. A propósito,
cidadãos de bem não instauram e nem propagam ódio por aí. Acordem!!!”
Conclusão:
Referências