You are on page 1of 22

CONGREGAÇÃO DAS DOROTÉIAS DO BRASIL

FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE


DEPARTAMENTO DE LETRAS

ANÁLISE DO DISCURSO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

THAYNAH LEAL SIMAS

RECIFE
2012.1
THAYNAH LEAL SIMAS

ANÁLISE DO DISCURSO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Trabalho de Conclusão de
Curso – TCC, apresentado
como requisito parcial à
obtenção do título de graduado
em letras: Português/Inglês,
Pela Faculdade Frassinetti do
Recife – FAFIRE.

Orientador(a): Professora
Nelma Menezes

RECIFE
2012.1
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as pessoas do mundo, de todos os tempos e de todos os


lugares. Às pessoas do passado, pois elas foram responsáveis pela atual conjuntura presente
em que nós nos encontramos. Aos meus contemporâneos, que são responsáveis pelas
transformações do agora para depois. E às pessoas do futuro, que irremediavelmente herdarão
o tudo de bom e mau que fizermos neste momento atual: À vocês do futuro, especialmente,
merecem meus melhores desejos de revolução.
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe, D. Patrícia Leal, por toda a minha vida. Fui à universidade pela
primeira vez em seu ventre e desde aquele tempo, me ocorreu que era um bom lugar a se
voltar, assim que pudesse. Dedico este trabalho também, com um amor inexorável, aos meus
três irmãos menores: sem a grande participação de vocês em minha vida, talvez eu jamais
compreendesse a necessidade da educação libertadora. Também dedico esse trabalho a minha
avó, D. Margarida, que carinhosamente – nem tanto, devo confessar – despendiava suas tardes
a me ensinar as tarefas de casa e que me deixava, após isso, ir ao quintal brincar em baixo do
pé de jambo com Bidu, meu falecio dorberman. Ao meu Vô Antonio com muito carinho. E a
todos os meu familiares, muito obrigada por tudo e qualquer coisa .
“De todo o escrito só me agrada aquilo que uma pessoa escreveu
com o seu sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o
sangue é espírito.
Não é fácil compreender o sangue alheio: eu detesto todos os
ociosos que lêm.”
Friedrich Nietzsche
RESUMO

É preciso ter consciência que o ensino de Língua Portuguesa não pode apenas restringir-se ao
ensino de gramática como imprescindível. É preciso aliar o conhecimento gramatical ao
linguístico, como disciplinas interdependetes que necessitam, para evoluir, da análise crítica
arguta e exigente de seus professores e estudantes. Sendo assim, se faz mister o uso da
Análise do Discurso em sala de aula, não apenas como suporte, mas como co-responsável
pela aprendizagem e apropriação do conhecimento linguístico e gramatical que é repassado ou
transpassado pela aula de Língua Portuguesa, para evitar o assujeitamento linguístico e
promover e desenvolver a capacidade crítica do estudante, dentro da escola e fora dela.

Palavras-Chave: Discurso – Análise – Crítica – Assujeitamento – Educação


ABSTRACT

It's necessary be aware that the teaching of Portuguese language can not just restricted to the
teaching of grammar as essential. It is necessary to combine the language grammar
knowledge as interdependent disciplines that need to evolve, the critical analysis of his
shrewd and challenging teachers and students. Thus, it is indispensable the use of discourse
analysis in the classroom, not only as support, but as co-responsible for learning and
knowledge acquisition language and grammar that is passed on or pierced by the Portuguese
class to avoid the specheless language and promote and develop the critical skills of the
student within the school and beyond.

Keywords: Speech - Analysis - Critical - Spechless - Education


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................9

1 EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO............................................................................11
1.1 O Ensino de Língua Portuguesa no Brasil
1.2 Conceituando o Discurso e sua Análise....................................................................12
1.3 A Análise do Discurso como ferramenta de emancipação........................................13

2 A CRISE DO ASSUJEITAMENTO
LINGUÍNSTICO.....................................................................................................16
2.1 As falácias do discurso............................................................................................ 17
2.2 Discurso, dominação e poder...................................................................................17

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................19

REFERÊNCIAS...........................................................................................................20
INTRODUÇÃO

É imprescindível à educação que a escola pense a própria escola e que, educadores e


estudantes, pensem suas práticas em tal espaço. Essa ação reflexiva se faz necessária pelo
simples fato de que, A educação é uma prática de liberdade (FREIRE, 1967) e, considerando
que vivemos numa Sociedade do Espetáculo (DEBORD, 1997), onde nosso contexto é
Complexo (MORIN, 2007), não podemos deixar de considerar a educação como exercício de
criticidade sobre nossas ações, nossa história, nossa sociedade e nossa língua.
Muitos são os autores – e não apenas no campo vasto da linguística ou da filosofia,
mas também na literatura, epistemologia, metafísica e ontologia – cujo pensamento expressa
situações em que a dominação se faz por meios linguísticos. Em seu livro “1984” (ano), o
escritor Eric Arthur Blair, sob o pseudônimo George Orwell, deixa claro sob uma alegoria da
ficção-científica o quanto somos manipuláveis quando nossa língua “não nos pertence”: em
1984, o ministério da “Novilíngua” autoriza ou não o uso das palavras e ainda destrói ou
constrói semânticas e lexemas.
Dentro de toda essa equação com inúmeras variáveis, há o ensino de língua materna
no Brasil. Segundo José Luiz Fiorin (2009), deixa bem claro que o ensino não pode se resumir
a ensinar aos estudantes como escrever períodos e cobrá-los posteriormente a produção de
textos – orais ou escritos – como se o texto fosse uma grande frase – porque não é.
Sem um ensino crítico sobre a língua e o apropriamento do sujeito sobre ela, essa
prática incorre no risco do que afirmam as teorias formalistas: incorre no assujeitamento
discursivo, em que o sujeito é apenas impelido a pronunciar um discurso que não lhe pertence,
sem perscrutar suas origens, significados e finalidades.
No presente trabalho, intensiona-se demonstrar as aplicabilidades da Análise do
Discurso – doravante AD – como ferramenta no ensino de Língua Portuguesa, nos níveis
fundamental II e médio.
Para tanto, no primeiro capítulo, abordamos a origem e tragetória da AD da acadêmia
até as salas de aula, seus percalsos, suas características e suas concepções epistemológicas
acerca da educação e do ensino de línguas.
A fim de que atenda aos objetivos propostos, o segundo capítulo trata de explorar o
epicentro do assujeitamento linguístico, conceituando o objeto de análise – o Discurso – e
expôe as principais falácias encontradas durante o processo de ensino aprendizagem, e a
relação direta entre discurso, poder e dominação ideológica.
No terceiro e último capítulo, a prática docente é posta sobre a ótica da análise do
discurso, onde é feita a reflexão sobre o papel ético do educador de língua portuguesa e sua
disciplina e o processo dialético entre educador e educando, como co-responsáveis por um
ensino-aprendizagem libertador e emancipante, para uma educação integral e formadora de
pessoas autônomas.
1. EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO

Ao longo dos anos, a educação sofreu mudanças em seus conceitos e em suas


finalidades. No prefácio do relatório realizado por Delors (1996) para a UNESCO, é dito que:

Ante os múltiplos desafios do futuro, a educação surge como um trunfo


indispensável à humanidade na sua construção dos ideais da paz, da liberdade
e da justiça social.

Nesse mesmo relatório, são apontados os quatro pilares da educação, pilares estes que
devem servir como guias para a escola e a prática de ensino-aprendizagem, a saber:

Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve
organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo
de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do
conhecimento: aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da
compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente;
aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em
todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que
integra as três precedentes. É claro que estas quatro vias do saber constituem
apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de
relacionamento e de permuta.

Todavia, nesse mesmo relatório fica evidente que a maioria das escolas focam apenas
na aquisição massissa de conhecimento, privilegiando apenas o logos e deixando em segundo
plano, quando muito, o desenvolvimento dos demais pilares. Sob essa perspectiva, a
educação, restringindo-se a apenas reproduzir conhecimentos não é suficiente para estimular
aos estudantes a serem agentes ativos – protagonistas – de suas vidas e de suas decisões:
baseando-se no mesmo relatório realizado por Delors (1996), a escola precisa dar espaço para
o exercício do pensamento crítico, auto-reflexivo e para o diálogo.
Para alcançar tal objetivo – o da educação libertadora, emancipadora, uma educação
global – o relatório sugere além de melhorias e adaptações nas escolas – questões materiais e
de administração – como também no investimento na qualificação dos educadores – material
e acadêmica – na eminência de se promover uma educação de qualidade, que promova a
inclusão, a democracia e a liberdade:
A educação deve encarar de frente este problema[a construção do destino em
comum], pois, na perspectiva do parto doloroso de uma sociedade mundial,
ela se situa no coração do desenvolvimento tanto da pessoa humana como das
comunidades. Cabe-lhe a missão de fazer com que todos, sem exceção, façam
frutificar os seus talentos e potencialidades criativas, o que implica, por parte
de cada um, a capacidade de se responsabilizar pela realização do seu projeto
pessoal.

Vivemos o que o pensador Demo (1999) chama de “ambivalências da sociedade da


informação” – um tempo em que aquele que não sabe, é excluído e dominado. E um dos
principais instrumentos de dominação está na língua: O discurso.

1.1 O ensino de Língua Portuguesa no Brasil

Sobre o ensino de Língua Portuguesa no Brasil, pode-se afirmar que ele enfrenta no
contexto atual grandes problemas conceituais e epistemológicos. Muitos são os autores que
trazem à tona questões como o preconceito linguístico, as variantes linguísticas, a literatura
marginalizada, a pragmática, a análise do discurso, dentre outras disciplinas, que outrora eram
postas como “secundárias”. Antunes (2007) afirma:

A dificuldade de se propor para o grande público (e mesmo para o público


letrado) o debate sobre a gramática reside também no fato de, em geral, as
pessoas acreditarem que as questões lingüísticas não lhes dizem respeito,
“não têm nada a ver” com suas atividades profissionais, com suas relações
familiares, com suas interações nos diferentes grupos sociais em que atuam.
Questões lingüísticas, dizem, “são questões para professores de línguas ou
para gramáticos. Não nos pertencem”.
Paradoxalmente, em muitas situações, essas mesmas pessoas se sentem muito
à vontade para emitir opiniões sobre a língua, e, muito pior, sobre seu ensino,
sobretudo quando o assunto é ensino de gramática.

O principal questionamento é o que se ensinará nas aulas de Língua Portuguesa, uma


vez que o estudante chega na escola já compreendendo a sintaxe necessária para enunciar
frases e sua intenção comunicativa se faz eficiente. O tempo atual exige do ensino de Língua
Portuguesa educadores que sejam capazes de perceber as várias nuances linguísticas, que
incluem o social, o histórico, o antropológico, para que assim se promova uma nova
construção de conhecimento que privilegie os quatro pilares da educação já supracitados no
capítulo 1, ou, trocando-se em miúdos: um ensino de Língua Portuguesa que se preocupe com
o sujeito e não apenas com o preciosismo gramatical; um ensino que desenvolva as
capacidades linguísticas e torne, de fato, o estudante um usuário da língua, e não um objeto
usado por quem sabe usá-la.

1.2 Conceituando o Discurso e sua Análise

Para se falar sobre Análise do Discurso, é preciso primeiramente conceiturar o que é


discurso, ou seja, é preciso conceituar o objeto de análise. Maingueneau (2005) procura
conceituar o discurso segundo a definição dada por Foucault, no livro “A Arqueologia do
Saber”, pg. 136:
Um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo
e no espaço, que definiram, em uma dada época, e para uma área social,
econômica, geográfica ou linguística dada, as condições dde exercício da
função enuciativa.

Para conceituar a AD, Pêcheux (1997) afirma:

A Análise do Discurso – quer se a considere como um dispositivo de análise


ou como a instauração de novos gestos de leitura – se apresenta com efeito
como uma forma de conhecimento que se faz no entremeio e que leva em
conta o confronto, a contradição entre sua teoria e sua prática de análise. E
isto compreendendo-se o entremeio seja no campo das disciplinas, no da
desconstrução, ou mais precisamente no contato do histórico com o
linguístico, que constitui a materialidade específica do discurso.

Complementando a afirmação acima e para evitar o unilateralismo teórico, este


trabalho traz também a concepção de Voese (2004):

Uma análise do discurso deve operar sobre a dualidade sujeito-discurso,


focando em especial as ações de apropriação e de objetivação de modo a não
reduzi-las à função comunicativa, mas descrevendo-as também em relação a
uma totalidade do ser social do homem, ou seja, a Análise do Discurso deve
incluir a questão de nível da sociabilidade que se pergunta “afinal, por que
comunicar ou comunicar-se?”

Este trabalho tem como base as seguinte conceituações sobre discurso e Análise do
Discurso, pois, muito são os debates acadêmicos sobre essa disciplina e, para evitar-se
maiores contradições, trabalharemos com as seguintes perpspectivas anteriormente
supracitadas.
1.3 A Análise do Discurso como Ferramenta de Emancipação
A Análise de Discurso é a disciplina responsável pelo discurso. Teve origem na
década de sessenta após uma grande evolução histórica, que se deu desde M. Bréal no século
XIX com sua semântica histórica, passando pelos formalistas russos dos anos vinte e trinta,
que já prenunciavam no texto uma estrutura que necessitava de uma “análise que fosse além
do conteúdo, que até então era a análise tradicional dessa estrutura.” (ORLANDI, 2009)
Diferentemente da análise tradicional, a Análise de Discurso (doravante AD),
proporcionou outro nível de compreensão textual: enquanto na análise de conteúdo,
perguntava-se “ “O que quer dizer esse texto?”; a AD veio questionar “Como significa esse
texto?” “. (ORLANDI, 2009)
A partir dessa proposta, surge o interesse da aplicabilidade dessa disciplina no ensino
de Língua Portuguesa, pois para Voese (2004):

Uma proposta de utilização da Análise do Discurso no ensino, por


sua vez, remete obrigatoriamente à questão que discute a instituição escolar
e o discurso que orienta as relações que aí sustentam as atividades e as
condutas de professor e aluno, entendidas como ações de diferentes
subjetividades que tem diferentes motivações e propósitos.

Logo, percebe-se a relevância da AD no processo educacional e mais especificamente,


no ensino de língua materna, onde a práxis do ensino de língua deve se dar de maneira crítica,
onde os profissionais da área devem promover na escola uma situação de problematização e
debate, pois a escola é um lugar de dialética.
A partir dessas afirmações, compreende-se que, ainda segundo Orlandi (2009):

“(...) o discurso é o lugar em que se pode observar essa relação entre língua e
ideologia, compreendendo-se como a língua produz sentidos por/para outros
sujeitos.

E dentro da prática educacional, mais especificamente na prática de ensino de língua


portuguesa, percebe-se a relevância dessa disciplina durante o processo de ensino-
aprendizagem, partindo do princípio que o ensino de língua portuguesa sofreu diversas
mudanças de foco ao decorrer das reformas educacionais. Sobre isso comenta Voese (2004):
"E por que a Análise do Discurso pode se apresentar como uma disciplina
que poderia embasar, nos estudos da linguagem, o currículo do ensino de
Língua Portuguesa?
Em primeiro lugar, porque ela não atua com a noção de código e , por isso,
inclui no seu campo de análise outras dimensões que encolvem o estudo e a
aprendizagem de uma língua e que se referem a limites mais amplos do
contexto em que se dá a interação verbal.(...)"

E para atender às demandas da educação do futuro (MORIN, 2008) e também se


baseando na proposta da Linguística Aplicada para a paz de Francisco Gomes de Matos, é que
se faz necessária o pensamento crítico sobre o ensino de línguas.
Sob essa conjuntura de fatos, é assim que a AD pensa o discurso. Para ela, o acesso
desigualitário aos mecanismos lingüísticos e sociais proporciona a manipulação.
(FAIRCLOGH, 1989).
Ainda sob essa perspectiva de dominador e dominado, conclui-se que é imprescindível
para uma instituição fornecer ao aprendiz de línguas uma autonomia em relação a própria
instituição, promovendo assim uma prática democrática na aprendizagem, um auto-didatismo
que seja complementar com as informações que a instituição detém. O ensino da língua deve
ser pensando para libertar, deve ser pensado como uma ferramenta de libertação e sua
intenção comunicativa devem estabelecer-se dessa forma.
A prática de ensino deve ser voltada para a ética, dentro de um pressuposto
epistemológico de crítica, onde o educador e o educando promovam debates metalingüísticos
sobre sua principal ferramenta comunicativa: sua língua materna.
2. A CRISE DO ASSUJEITAMENTO LINGUÍSTICO

O assujeitamento linguístico se apresenta pela falta de avaliação da própria produção


discursiva. Isso ocorre geralmente quando o sujeito emissor não passa pelo crivo crítico e
questionador determinados hábitos linguísticos que geralmente são herdados pelo ambiente
social, histórico e antropológico ao qual está envolvido.
O assujeitamento linguístico ocorre principalmente quando a escola falha em deixar
consciente o indivíduo de sua co-responsabilidade em renovar a língua, como bem explica
Markus (1974):

[...] as condições histórico-sociais que determinam o indivíduo não devem ser


entendidas como grilhões externos e estranhos que tendem a atrofiar, reprimir
etc., suas inclinações e aspirações “autênticas”. Essas condições são, pelo
contrário, as autênticas condições intrísecas de sua indívidualidade concreta,
isto é, condições que, ao serem apropriadas, convertem-se em elementos e
traços essenciais da personalidade do indivíduo.

Todo falante, em um nível epistemológico, deve ser alertado deu seu papel primordial
em relação a sua própria língua, pois isso incorre em uma relação ideológica de poder:
aquele que sabe que dialoga com a sua língua, sabe que nela há uma flexibilidade,
uma troca de indentidades, um uso positivo. Aquele que ignora esses fatos, está
absurdamente sujeito a ser dominado por aqueles que com atitudes de má fé
linguística, usam de retórica e falácias para ludibriar e sobrepor-se sobre os demais.
Em seu artigo “Conscientização de Alunos(as) sobre o preconceito linguístico”, a
autora Maria Cecília de Lima expõe a seguinte conclusão:

O discurso produzido por uma minoria dominante é veiculado com o intuito


de fazer suas ideologias asssujeitarem as pessoas, para com isso naturalizar
suas práticas e as desigualdades sociais.(...)
A Consciência Linguística Crítica tem, nesse caso, muito a contribuir para a
emancipação das pessoas dominadas. Essa consciência tem por objetivo
mostrar como as práticas sociais e discursivas são moldadas por relações de
poder social e ideologicamente construídas e veiculadas, portanto, não mais
naturais, mas sim naturalizadas e assim é a veiculação do preconceito
linguístico.
2.1 As Falácias do Discurso

Diversas são as falácias encontradas dentro da língua que são perpetudas pelo
assujeitamento linguístico. Dentre elas, pode-se citar lexemas usados em depreciamento em
decorrência do gênero feminino – a maioria dos “palavrões” são de caráter misógino e sexista
– assim como expressões racistas, herdadas dos tempos de escravidão no nosso país, além de
expressões homofóbicas, expressões neo-liberais, expressões depreciativas com a própria
nacionalidade.
São incontáveis, dentro da Língua Portuguesa, expressões que remontam ideologias
eugênicas e “herdadas” de outros tempos, outros povos e outras culturas. Dentro do Brasil,
um país definitivamente plural em sua cultura, percebe-se resquícios de o que se pode chamar
de “ideologias velhas numa nova roupagem”.
Essa ideologias herdadas influenciam diretamente na construção da identidade do
sujeito, e indo além, na identidade linguística, que segundo Lankshear (1997):

O gênero, a classe social, a etnia, a cultura, o grupo social são só palavras por
meio das quais os acadêmicos e os não-acadêmicos, igualmente, procuram
esculpir o mundo de Discursos que estão sempre mudando, se transformando
e emergindo. Tal mundo é muito maior do que qualquer uma dessas etiquetas
pode captar.

Ainda sobre identidade, podemos complementar com a afirmação de Kitzinger (1989):

As identidades não são fundamentalmente propriedades privadas dos


indivíduos mas construções sociais, suprimidas e promovidas de acordo com
interesses políticos da ordem social dominante.

Uma vez que não se exerça a apropiação linguística e a releitura de fenômenos dentro
da língua que remotam de outras tempos e outros contextos, isso se caracteriza como uma
dominação e assujeitação, reverberando conceitos passados sem a propriedade da crítica. O
maior risco que se corre em reproduzir tais posturas, se dá ao fato de jamais deixar partir
ideologias preconceituosas e embasadas em conceitos errôneos. Tais repetições viram mitos e
mitos são difíceis de serem desfeitos.
2.3. Discurso, dominação e poder

É dentro do Discurso que ideologias são repassadas ou não. O poder da palavra existe
e assim como existe esse poder, existem aqueles que o usam de maneira ardilosa para
manipular e para dominar. E, enquanto houver pessoas que não são alertadas desse poder
linguístico de dominação, sempre haverá algum tipo de preconceito linguístico, seja por
questão geográfica, seja por questão histórica, de étnica, de gênero, idade, sexualidade e etc.
Para Fairclough (1989):
O discurso tem seus efeitos constitutivos:
a) Contribui para a construção de identidades sociais ou posição de sujeito;
b) Constrói relações sociais;
c) Contribui para a construção dos sistemas de conhecimentos e crenças.

É dever ético do professor de português saber sintaxe. E é sua responsabilidade


humana alertar sobre as falácias do discurso. Apenas ensinar o que é um substantivo fora de
um contexto não é suficiente para que o papel do professor de português se faça valer, mas
também que ele mostre a utilização desse e daquele substantivo, e porque escolhê-lo e porque
não, e de onde foi tirado esse conceito de adequação. O educador não pode apenas “repassar”
o conhecimento como se ele fosse estático, principalmente sobre a língua. Como bem diz
Bagno (1999):
Temos que fazer um grande esforço para não incorrer no erro milenar dos
gramáticos tradicionalistas de estudar a língua como uma coisa morta, sem
levar em consideração as pessoas vivas que a falam.
O preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi
criada, no curso de história, entre língua e gramática normativa.

Ainda sobre o discurso, conceitua Fairclough (1989):

1. O discurso molda a sociedade e é por ela moldado, numa relação


dialética.
2. O discurso ajud a construir (e a transformar) o conhecimento e seus
objetos, as relações sociais e indentidades socias.
3. O discurso é moldado pelas relações de poder e investido de ideiologias.
4. O discurso funciona como um marco definidor nas lutas de poder.
5. A consciência linguística crítica mostra como sociedade e discurso
moldam um ao outro.
Dentro desse prospecto, faz-se mister que a prática docente seja realizada de maneira crítica,
transparente e honesta, incentivando ao estudante atráves do exemplo, que há muito mais na
Língua Portuguesa do que apenas gramática normativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que se pode concluir mediante o estudado e observado no seguinte trabalho é que o


ensino de Língua Portuguesa não pode continuar mais como há cem anos atraz. O mundo
mudou, a tecnologia avançou e as exigências humanas são cada vez mais delimitadas e
complexas. Assim é o mundo onde vivemos: Um enorme tecido complexo, com inúmeras
variantes e variáveis e nenhuma resposta óbvia para nossos questionamentos.
A educação é uma ferramenta maravilhosa de transformação humana, pois ela é feita
de pessoas para pessoas. Porém, essas transformações podem ser péssimas se não observadas
com cautela e criticidade. Não podemos nos acomodar com o mundo da maneira que está, há
muita dor, sofrimento e desigualdades que precisamos combater, a nível macro e micro, para
que a humanidade possa trilhar, de maneira unida, uma ascensão para uma nova era humana.
É preciso que sejamos esperançosos e que ao mesmo tempo, saibamos que temos que
agir contra tudo aquilo que se levanta para desconstruir o outro e o mundo em que vivemos.
Fernando Pessoa, poeta português, uma vez disse que sua pátria era a língua
portuguesa. Tal afirmação do poeta, nos remete a uma sensibílida linguística: a língua,
enquanto discurso, é também a pátria de todos os falantes de uma determinada língua.
O educador deve estar atento ao seu discurso, pois, enquanto formador de opinião, ele
pode simplesmente transmitir preconceitos linguísticos dentro da sala de aula sem nem ao
menos tomar consciência de tal ato.
No começo deste trabalho, é dito que ele é produzido baseado no pressuposto de que
“Educação é uma prática de liberdade”. E foi exatamente o que ao finalizar esse trabalho,
constatou-se.
REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Muito Além da Gramática. Parábola Editorial, São Paulo, 2007.

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. Editora Loyola, São Paulo, 1999.

DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Contraponto, Rio de Janeiro, 1997.

DELORS, Jacques. Educação, um Tesouro a Descobrir. Unesco, 1996.

DEMO, Pedro. Ambivalências da Sociedade de Informação. Disponível em:


http://www.scielo.br/pdf/ci/v29n2/a05v29n2.pdf Acessado em 15/02/2012

FAIRCLOUGH, Norman. Language and Power. Longman, Londres, 1989.

FIORIN, José Luiz. Elementos de Análise do Discurso. Editora Contexto, São Paulo, 2009.

FREIRE, Paulo. Educação Como Prática de Liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1967.

KITIZINGER, C. “The regulation of lesbian identities: Liberal humanism as na ideology


of social control”. Sage, Londres, 1989.

LANKSHEAR, C. Changing Literacies. Lwarence & Wishart, Londres, 1997.

MAINGUENEAU, Dominique. Gênese dos Discursos. Tradução de Sírio Possenti. Criar


Edições, Curitiba, 2005.
MORIN, Edgar. Introdução Ao Pensamento Complexo. Editora Sulina, Porto Alegre, 2008.

PECHÊUX, Michel. O Discurso: Estrutura ou acontecimento. Pontes, São Paulo, 1997.

VOESE, Ingo. Análise do Discurso e o Ensio de Língua Portuguesa. Cortez, 2004.

You might also like