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AS BATALHAS DE ZUMBI

Resumo
Instituído oficialmente no ano de 2011 durante o governo da então presidente da República
do Brasil Dilma Rousseff, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra possibilita
refletirmos sobre as disputas de sujeitos históricos e eventos apropriados e ressignificados
por indivíduos plurais, oferecendo-nos elementos para que percebamos novos marcadores
sociais e temporais que, sinalizados na demanda da criação desses mitos, contemplam
anseios e legitimam protagonismos e lugares de atuação presente. Isto posto, propomos
neste ensaio uma reflexão sobre a criação do Dia da Consciência Negra tendo como mote o
artigo replicado pelo site “www.geledes.org.br", utilizando-nos, para tal exercício, de parte
da bibliografia sugerida na disciplina “Cultura e Poder".
Palavras-chaves: Comemoração, lutas, identidade, Zumbi

INTRODUÇÃO

[...] a mitologia que nasce a partir de determinado acontecimento


sobreleva em importância o próprio acontecimento” (BACZKO, 1985,
p.296)

Em novembro de 2018, no Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, o


site www.geledes.org.br replicou o artigo escrito por Fernanda Canofre, originalmente
publicado no jornal Folha de São Paulo.1 O veículo de comunicação digital, com evidente
posicionamento voltado
[...] para os campos de ação política e social como a questão racial e de
gênero e a relação desses temas com os direitos humanos, a educação, a
saúde, a comunicação, o mercado de trabalho, a pesquisa acadêmica e as
políticas públicas (ARAÚJO; BEZERRA; OLIVEIRA, 2018, p.102)

possivelmente apropriou-se da narrativa sobre a construção do dia comemorativo como


forma de fortalecer os símbolos ideológicos num momento político onde minorias sociais
se viam ameaçadas, haja vista a escolha para presidente do país expor os resquícios de
racismo e preconceito que permeiam grande parte da sociedade brasileira.
O artigo Grupo que idealizou o Dia da Consciência Negra teve de dar
explicações à ditadura , publicado na seção África e sua diáspora e subseção Afro-
brasileiros e suas lutas possibilita que, por meio desses enunciados e seções, tenhamos

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Não pretendemos analisar teórica e metodologicamente o veículo de informação onde o artigo foi
originalmente publicado, no caso o jornal “Folha de São Paulo”, haja vista esta análise fugir do escopo
proposto pelo ensaio.
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alguns indícios das memórias que serão reelaboradas, de maneira que a narrativa conduza
a criação de novos mitos e heróis, não apenas em relação ao período onde a escravidão de
etnias africanas e afrodescendentes era juridicamente permitida, mas também, quanto a
atuação de estudantes e intelectuais negros durante a década de 1970 e a reivindicação
contemporânea a julgar pela data de veiculação do artigo.
Entendemos que a fundação de uma data comemorativa e a realização de
rituais que a comemore possibilitam “[...] uma certa leitura da história, em que o passado,
seleccionado e modelado pelas necessidades ideológicas dos evocadores, se ergue como
um foco revivificador. ” (CATROGA, 1998, p. 230). Portanto, evocar em novembro de
2018 a morte de Zumbi ocorrida em 1695 e a atuação de acadêmicos porto-alegrenses no
período do regime militar, ganha novos significados e funções, não apenas no esforço de
revivificar e fortalecer a luta pela conquista e manutenção de direitos, mas também, como
uma maneira de fornecer “[...] certo número de chaves para a compreensão do presente [...]
através da qual pode parecer ordenar-se o caos desconcertante dos fatos e dos
acontecimentos. ” (GIRARDET, 1989, p.13)

O complô

Em um sábado de 1971, um grupo de 12 negros se reuniu em Porto


Alegre, no Clube Náutico Marcílio Dias, próximo ao rio Guaíba.
Fundado em 1949, quando os outros clubes da cidade não aceitavam
afrodescendentes, o local cedeu a eles uma sala, que foi sendo organizada
com mesas de fórmica, postas em forma de círculo. Ali,pela primeira vez,
o 20 de novembro seria o Dia da Consciência Negra no Brasil.
(CANOFRE, 2018)

Durante o regime militar, um agrupamento de pessoas poderia facilmente ser


considerado como ato subversivo ou complô para ações terroristas, isto posto, podemos
fazer um esforço de imaginação para compreender o que representavam esses momentos
de reuniões para estes jovens que questionavam, não apenas seus lugares sociais, mas os
símbolos comemorativos relacionados ao passado escravagista do país. Tendo em conta o
não acesso a certos espaços, supomos que, para estes estudantes negros, reunir-se
significava um risco maior a julgar que as ações repressivas às manifestações culturais em
desacordo ao status quo marcaram o período a que se referem na entrevista.
O ponto de partida dessa reelaboração do passado era a não identificação com
o dia 13 de maio, onde se comemorava (e comemora) a abolição da escravatura. Uma data
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instituída pelo poder que se pretendia hegemônico e sinalizava a passividade dos


indivíduos escravizados enquanto exaltava o ato da princesa Isabel do Brasil, intentando
assim, anular as lutas e negociações diversas que ocorreram durante os três séculos de
escravidão. Zumbi incorpora, portanto, o herói guerreiro que se opunha ao desejo de tornar
invisíveis as resistências ocorridas frente ao poder escravocrata. É sobre a data do
assassinato do líder dos Palmares ocorrida em uma emboscada e que “ teve sua cabeça
exibida em praça pública, depois de liderar a resistência por quase duas décadas”
(CANOFRE, 2018), que seria instituído o dia em que os negros reforçariam a necessidade
de tomada de consciência de si como sujeitos protagonistas por meio da luta empreendida
pelo Rei dos Palmares. Todavia, a construção de grupos onde as diferenças seriam
suplantadas pelas semelhanças proporcionando a ideia de unidade reivindicava a
diversidade de signos, conclamando outros sujeitos - arquétipos2- na construção de um
mito político, de maneira que fosse possível estabelecer outros pontos em comum para
além da negritude.

Jesus e Exu

'Fizemos uma analogia com a construção mítica do Tiradentes. Em 1971,


formalizamos que, se a morte dele era lembrada, também tínhamos que
lembrar a de Zumbi”, lembra o advogado. “Estruturamos então a proposta
de substituir o 13 de maio pelo 20 de novembro, que seria uma data
escolhida por nós, não pela oficialidade. Era uma tomada de consciência.'
(CANOFRE, 2018)

A figura de Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes,


foi apropriada por diversos discursos de intelectuais que transformaram, não apenas a ação,
mas o próprio sujeito, o mesmo personagem e evento, mudou de sentido conforme a
legitimidade mudou de signo e foco (FERRO, 1989, p.15) no esforço de elaboração da
ideia de nação e identidade nacional. Em uma das alegorias, o alferes despe-se da
ilegalidade do ato e assume o papel de mártir que morreu pelo povo, martírio representado
nas artes plásticas, por vezes, de maneira análoga ao salvador cristão. As imagens icônicas
de Tiradentes, de alferes a Cristo “[...] exprimem ao mesmo tempo a visão das diferentes
instâncias e instituições que controlam o discurso sobre a história, as suas necessidades
sucessivas – e as necessidades de um compromisso. ” (FERRO, 1989, p.15-16)

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Utilizamos “arquétipo” significando modelos ideais a serem seguidos.
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Entendemos que utilizar a construção mítica de Tiradentes como elemento


legitimador na criação da data que resgata a memória de Zumbi, possibilita a inserção do
arquétipo do salvador no ritual comemorativo, produzindo identificações com indivíduos
que veem neste modelo ideal, a resposta para seus anseios.
Podemos supor que, distante da imagem de Moisés ou Cristo, o redentor dos
Palmares mescla-se ao orixá Exu, “[...] que presidia à magia, na grande revolta dos
escravos contra o regime de opressão a que estavam submetidos, tornando-se o protetor
dos negros [...]” (BASTIDE, 2001 apud RAMALHO; MENDONÇA, 2017, p. 202). Exu
ardiloso, senhor das encruzilhadas e das demandas impossíveis, aquele que rompe
correntes e cadeados e intercede junto a outros orixás quando os homens solicitam auxílio,
seria corporificado por Zumbi que, “[...] conduzido por uma espécie de impulso sagrado,
guia seu povo pelos caminhos do futuro. ” (GIRARDET,1989, p.78)

Das lanças às letras


Por horas, no clube gaúcho, homens e mulheres falaram sobre a história
dele [Zumbi] e do outro rei de Palmares, Ganga Zumba, sobre como os
negros foram trazidos da África para o Brasil e o que foi a escravidão
aqui. Ainda recitaram poemas de Castro Alves e Solano Trindade.
(CANOFRE, 2018)

A ancestralidade, arrastada pelos oceanos e enraizada em terreiros de


candomblé, rodas de capoeira e outros elementos culturais, é solicitada na construção da
identidade dos negros e pretos do Grupo Palmares de diversas maneiras. Como dito
anteriormente, o grupo era composto por estudantes acadêmicos onde, possivelmente, o
elemento intelectual e artístico se fez necessário na edificação da data comemorativa.
Portanto, podemos dizer que Castro Alves e Solano Trindade personificavam a figura do
legislador na saga mítica do Dia da Consciência Negra.
Nos escritos poéticos de Castro Alves, que “[...] denunciou a injustiça e a
barbárie, e se solidarizou com as vítimas de todas essas práticas tiranas. ”
(PORTELLA:1997, p.22) e na militância de Solano Trindade, o poeta fundador da Frente
Negra Pernambucana (1936) e do Centro de Cultura Afro-brasileira (1944), os intelectuais
e artistas negros encontraram o lugar para que exercessem intervenções que
corporificassem suas identidades culturais.
Em 1978, quando o Movimento Negro Unificado lançou o manifesto
adotando a data como nacional, o Palmares encerrou suas atividades.
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“Vimos que já tínhamos alcançado o objetivo. O importante era que a


data e seu simbolismo estavam firmados”, diz Côrtes. (CANOFRE, 2018)

No Rio Grande do Sul, por exemplo, onde surgiu o Grupo Palmares,


apesar de uma lei de 1987 ter incluído o dia no calendário oficial, não é
feriado. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em
um relatório publicado em 2017, a capital gaúcha é a cidade brasileira
com maior desigualdade entre negros e brancos no Brasil. (CANOFRE,
2018)

A ideia do Dia da Consciência Negra surgiu em um período extremamente


difícil para parte da população brasileira, onde rumores de tortura e morte, repressão a
movimentos estudantis, pessoas desaparecidas, profunda desigualdade social, insegurança
frente ao futuro, intensa vulnerabilidade em relação ao poder estabelecido, direitos
cerceados e garantias legais suspendidas possivelmente serviram de solo fértil para que os
jovens estudantes dessem origem a novas perspectivas históricas que contemplassem a sua
identidade negra no mito de Zumbi, a julgar que “ É na intensidade secreta das angústias
ou das incertezas, na obscuridade dos impulsos insatisfeitos e das esperas vãs que ele [ o
mito] encontra sua origem.” (GIRARDET,1989, p.182)
A data e o simbolismo, contudo, não estavam totalmente firmados, como
desejaria Côrtez. Em 2011, durante o governo da então presidente da República do Brasil
Dilma Rousseff, período onde o contexto político acolheu diversas demandas de minorias
sociais, foi oficializado o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Porém, o
movimento vertical que decretou a comemoração não encontrou grande receptividade em
certos segmentos sociais. Arriscamo-nos a afirmar que houve um silêncio ou tentativa de
silenciar não apenas estes sujeitos históricos – negros, pretos e afrodescendentes -; mas
também suas reivindicações por novas narrativas históricas que os contemplassem de
maneira diversa da que havia sido oficialmente propagada.
Acreditamos que a batalha em torno da narrativa perpassa não apenas os
sujeitos que reivindicam sua inserção na história oficial, mas também outros indivíduos
que não se identificam com tais demandas: a elite econômica brasileira, cuja riqueza esteve
assentada por séculos na força de trabalho de seres humanos escravizados, a pseudo classe
média que se vê mais próxima a uma narrativa que valorize a visão eurocêntrica
colonizadora, os afrodescentes que não se apropriaram de elementos auto afirmativos de
sua ancestralidade e outros indivíduos e grupos que compõe uma sociedades complexa,
com diversas camadas culturais que apreendem ou não ideias, signos ou rituais.
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Por fim, parece-nos significativo o resgate da gênesis do Dia da Consciência


Negra pelo site Geledés após as eleições para presidência em 2018, eleições marcadas por
fortes polaridades e que teve como desfecho a escolha democrática de um candidato que
não ocultou, durante parte de sua vida política, o desrespeito por pautas que
contemplassem minorias socialmente vulneráveis, como homossexuais, mulheres ou
negros, para ocupar a presidência do Brasil. Estes momentos, quando as condições
políticas e sociais não são propícias, explicam a necessidade de construir uma história ou
contra-história. (FERRO, 1989, p.44), portanto, tal resgate vem como a reafirmação de
lugares sociais construídos não apenas por meio de conquistas legais e sociais, mas
também, por meio da elaboração de uma história que contemplasse negro e pretos,
simbolizada no dia comemorativo construído na década de 1970 e perpetuado no presente.

Conclusão
Sem a pretensão de produzir conhecimento sobre a questão étnica e racial, o
que demandaria uma amplitude e profundidade maior no debate, este ensaio buscou
realizar um exercício reflexivo sobre as relações de poder que perpassam a sociedade, que
alteram e são alteradas por sujeitos, utilizando como ponto de partida um artigo, mas não
se prendendo a ele, permitindo um movimento espacial e temporal de maneira que o
conteúdo apreendido através da bibliografia e debates em aulas servisse como chaves de
compreensão para a vida que transborda os muros da academia e alcança outras searas.

Anexo 1
Grupo que idealizou o Dia da Consciência Negra teve de dar explicações à ditadura
Ideia surgiu em 1971 durante uma reunião de universitários gaúchos em Porto Alegre
por Fernanda Canfore no Folha de São Paulo

Em um sábado de 1971, um grupo de 12 negros se reuniu em Porto Alegre, no Clube


Náutico Marcílio Dias, próximo ao rio Guaíba. Fundado em 1949, quando os outros clubes
da cidade não aceitavam afrodescendentes, o local cedeu a eles uma sala, que foi sendo
organizada com mesas de fórmica, postas em forma de círculo. Ali, pela primeira vez, o 20
de novembro seria o Dia da Consciência Negra no Brasil.
A data marcava a morte de Zumbi dos Palmares, líder do quilombo que resistiu por 95
anos na Serra da Barriga, em Alagoas. Naquele dia, em 1695, Zumbi foi assassinado em
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uma emboscada e teve sua cabeça exibida em praça pública, depois de liderar a resistência
por quase duas décadas.
Por horas, no clube gaúcho, homens e mulheres falaram sobre a história dele e do outro rei
de Palmares, Ganga Zumba, sobre como os negros foram trazidos da África para o Brasil
e o que foi a escravidão aqui. Ainda recitaram poemas de Castro Alves e Solano Trindade.
A ideia havia nascido das conversas entre quatro universitários gaúchos: Oliveira Silveira,
Vilmar Nunes, Ilmo da Silva e Antônio Carlos Côrtes. Eles frequentavam rodas
que questionavam havia tempos a legitimidade da data do 13 de maio para o povo negro.
Uma publicação da editora Abril e mais algumas pesquisas sobre o quilombo dos
Palmares levaram o grupo à nova data: o 20 de novembro, da morte de Zumbi. Oliveira
Silveira, que se tornaria um dos intelectuais negros mais importantes do país, levou a ideia
aos amigos, que aprovaram.
Entre eles, o advogado Antônio Côrtes, 69, que ainda vive em Porto Alegre. Ele também
só descobriu Zumbi quando tinha cerca de 20 anos e participava das discussões com outros
jovens negros.
“Fizemos uma analogia com a construção mítica do Tiradentes. Em 1971, formalizamos
que, se a morte dele era lembrada, também tínhamos que lembrar a de Zumbi”, lembra o
advogado. “Estruturamos então a proposta de substituir o 13 de maio pelo 20 de novembro,
que seria uma data escolhida por nós, não pela oficialidade. Era uma tomada de
consciência.”
Com os três amigos, Côrtes fundou então o Grupo Palmares, uma associação cultural para
promover estudos de história e arte sobre o papel dos negros e mestiços no Brasil. Foi em
uma reunião na casa dos pais dele que escolheram o nome em alusão ao quilombo que
resistiu por quase cem anos.
A época, porém, era de ditadura militar. O AI-5 havia endurecido ainda mais o regime, três
anos antes. Quando uma nota foi publicada no jornal, com o título “Zumbi – A
homenagem dos negros do teatro”, para anunciar o ato evocativo programado para o dia
20, o nome do grupo, talvez confundido com a organização armada VAR-Palmares,
chamou a atenção.
Côrtes e Oliveira Silveira foram intimados pela Polícia Federal. Para serem liberados pela
censura, tiveram que descrever todo o roteiro do encontro e convencer os agentes de que
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não eram “subversivos”. O documento, com o carimbo de “aprovado”, ressalta que


qualquer mudança teria de ser submetida à autorização.
“Nenhum de nós tinha vinculação político-partidária, éramos apenas estudantes e
queríamos a valorização do negro. Essa era a causa maior”, diz Côrtes. “Mas eu lembro
que o meu pai sempre dizia para a gente não esquecer os documentos quando saísse de
casa.”

REPERCUSSÃO
Dois anos depois da primeira celebração, o questionamento do grupo gaúcho virou notícia
nacional. ”Esse foi o momento mais glorioso da história do povo negro no Brasil e,
infelizmente, nossa historiografia o diminui no tempo e até na apresentação dos fatos
principais”, dizia Oliveira Silveira ao Jornal do Brasil.
A partir dali, atos relembrando figuras negras históricas e esquecidas passaram a ser
replicados em outros cantos do país, todo mês de novembro.
“Quando eles propõem essa data, mais do que uma alternativa, estão propondo a ideia de
liberdade conquistada. Isso marca o movimento negro contemporâneo no Brasil em
manifestações importantes, como a marcha pelo aniversário de 300 anos de Zumbi, que
aconteceu em 1995″, explica o pesquisador Deivison Campos, que estuda o movimento
negro e a história do Grupo Palmares.
Em 1978, quando o Movimento Negro Unificado lançou o manifesto adotando a data como
nacional, o Palmares encerrou suas atividades. “Vimos que já tínhamos alcançado o
objetivo. O importante era que a data e seu simbolismo estavam firmados”, diz Côrtes.
Ele se tornou advogado de causas por racismo e injúria racial, pegando ocorrências
engavetadas nas delegacias de polícia e levando a juízo.Côrtes afirma que perdeu as contas
de quantos casos defendeu, mas que passam de 200. Oliveira, mesmo com um trabalho
importante de pesquisa e literatura, acabou sendo reconhecido mais depois da morte do que
foi em vida.

FERIADO NACIONAL
Em 2003, o Dia da Consciência Negra entrou no calendário escolar com a lei que obriga o
ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Oito anos depois, a então presidente
Dilma Rousseff (PT) oficializou a data como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência
Negra.
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Nessa data, porém, só é feriado em locais com leis municipais ou estaduais específicas,
como na cidade de São Paulo.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, onde surgiu o Grupo Palmares, apesar de uma lei de
1987 ter incluído o dia no calendário oficial, não é feriado. Segundo o Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada), em um relatório publicado em 2017, a capital gaúcha é a
cidade brasileira com maior desigualdade entre negros e brancos no Brasil.
Desde 2015, tramita na Câmara dos Deputados uma lei que propõe firmar a data como
feriado nacional definitivo. O autor é o deputado Valmir Assunção (PT-BA). Duas
comissões —a de Cultura e a de Constituição, Justiça e Cidadania— deram parecer
favorável à proposta. Na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e
Serviços, porém, ela foi rejeitada. O próximo passo é a análise em plenário.
“[Ver se tornar feriado nacional] é um sonho. Um sonho que eu quero alcançar em vida. O
Brasil só vai ser uma grande nação no dia em que o negro conseguir ter seu espaço”, diz
Côrtes.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Ana Rafaela Sales de; BEZERRA, Midinai Gomes; OLIVEIRA, Henry Poncio
Cruz de. Arquitetura da informação no website Geledés: a mulher negra em foco. Inf.
Pauta, Fortaleza, CE, v. 3, n. 1, jan./jun. 2018, p. 97 – 112. Disponível em: <
http://www.periodicos.ufc.br/informacaoempauta/article/view/32480/72987> Acesso em 4
jun 2019

BACZKO, Bronislaw. “Imaginação social”. In: ROMANO, Ruggiero. (Dir.).


Enciclopédia Einaudi. Anthropos – Homem. Lisboa: Imprensa Nacional, 1985, p. 296-
332.

CANOFRE, Fernanda. Grupo que idealizou o Dia da Consciência Negra teve de dar
explicações à ditadura. In: Afro-brasileiros e suas lutas. [S.l.} 20 nov 2018. Disponível
em: <https://www.geledes.org.br/grupo-que-idealizou-o-dia-da-consciencia-negra-teve-de-
dar-explicacoes-ditadura/> Acesso em : 24 maio 2019

CATROGA, Fernando. “Ritualizações da História”. In: TORGAL, Luís Reis; MENDES,


José Amado; CATROGA, Fernando. (Org.). História da história em Portugal. Séculos
XIX e XX. Da Historiografia à Memória Histórica. Coimbra: Temas e Debates, 1998, p.
220-361.
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FERRO, Marc. A História Vigiada. São Paulo, Martins Fontes, 1989 (Coleção o homem e
a história)

GIRARDET, Raoul. Mitos e mitologias políticas. São Paulo: Companhia das Letras,
1989.

PORTELLA, Eduardo In: Fundação Biblioteca Nacional. Exposição Castro Alves: o


olhar do outro. — Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Dep. Nacional do Livro,
1997, p.21-22. (Catálogo da exposição comemorativa dos 150 anos de nascimento de
Antônio de Castro Alves) disponível em:
<http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon1134210/icon1134210.pdf
>Acesso em28 maio 2019.

RAMALHO, Christina Bielinski; DE MENDONÇA, Luciara Leite. “Zumbi-Exu” e outras


questões identitárias em “a cabeça de zumbi”. ODEERE, [S.l.], v. 2, n. 3, out. 2017, p. 202
- 220.Disponível em:<http://periodicos2.uesb.br/index.php/odeere/article/view/1578 >
Acesso em 07 jun 2019

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