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Educação go
Tecnologia ................... ....... .............................1
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Este artigo apresenta aspectos do processo de planejamento e organização de currículos para a Educação Profissional
(EP) baseado no modelo de competências. São apresentados marcos conceituais que definem um novo contexto para
a EP e suas repercussões no processo de planejamento do currículo, na escola e no professor. O campo de
experimentação para estudos e análises da pesquisa que deu origem a este trabalho foi o projeto de adequação
curricular do Curso de Eletrônica do Colégio Técnico da UFMG, cujo Plano de Curso foi organizado, em 2001, dentro do
novo modelo curricular.
4Este trabalho apresenta resultados parciais do Projeto de Pesquisa Metodologia s de Planeja mento Curricular para a Ed ucação Profissional Baseado em Compe tências
tências,
em desenvolvimento no Colégio Técnico-UFMG pelo grupo de pesquisa em Dese nvolvimento e Avaliação de Currículos para a Educ ação Profissional.
Profissional
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Conselho Nacional de Educação – Câmara de Educação Básica.
Uma das implicações de maior impacto da forma- EP apresentam os marcos conceituais que foram tidos em
ção por competência é o papel do docente na EP, uma conta na formulação do novo modelo de EP no Brasil
vez que não podemos conceber o desenvolvimento de (MEC 1999, 2000). Além da referência conceitual sobre
competências se o mediador mais importante deste pro- competência profissional, apresentada na Seção 3, leva-
cesso, o docente, não estiver adequadamente preparado mos também em conta outras referências específicas do
para essa ação educativa (MEC, 1999). É fácil inferir que contexto da EP, que relacionamos a seguir.
para se ensinar por competência, é fundamental que o Finalidades da EP - A Educação Profissional é con-
professor tenha vivenciado um processo formativo basea- cebida como estratégia educacional organizada para que
do neste modelo. Ou seja, os cursos de formação de pro- os cidadãos tenham efetivo acesso às conquistas científi-
fessores precisam de profundas mudanças, pois muitos cas e tecnológicas da sociedade, e usufruam do direito à
estão obsoletos, centrados em modelos de formação por educação e ao trabalho. A educação profissional, nos dias
disciplinas, com forte fragmentação. atuais, requer, além do domínio operacional de um de-
A escola, por sua vez, encontra diversas dificulda- terminado fazer, a compreensão global dos sistemas e pro-
des em vencer o dilema entre continuar ensinando co- cessos produtivos, com a apreensão do saber tecnológico,
nhecimentos ou desenvolver competências. Alguns fatores a valorização da cultura do trabalho e a mobilização dos
que mantêm a escola submetida ao modelo tradicional de valores necessários à tomada de decisões. Com esta visão,
ensino são: a forma de ensinar que a escola domina ba- espera-se a superação do enfoque tradicional da forma-
seia-se na formação conceitos; há o temor pela aborda- ção profissional baseado apenas na preparação para exe-
gem por competências em função dos questionamentos a cução de tarefas.
respeito da transposição pedagógica, requerida pela mu- Flexibilidade no currículo - A flexibilização
dança para o novo modelo; é mais fácil e mais cômodo curricular está diretamente ligada ao grau de autonomia
avaliar conceitos e conhecimentos do que competências, das instituições de EP e abre amplas perspectivas de esco-
pois avaliar competências requer observação na execução lha, nas quais a escola constituirá o currículo do curso a
de tarefas complexas, exige tempo, espaço e é um campo ser oferecido, estruturando um plano de curso
aberto à contestação; há inúmeros conformistas que pre- contextualizado com a realidade do mundo do trabalho.
ferem reprovar qualquer tentativa de distanciar-se das pe- A organização dos cursos de formação profissional em
dagogias do saber; e há inúmeros reacionários que consi- módulos e com diferentes itinerários para entrada e saída
deram a implementação de dispositivos formadores de é uma das principais características de um currículo flexí-
competências como uma queda do nível de ensino (MA- vel.
CHADO, 2001). Função e Análise Funcional - O termo função (na
atividade profissional), representa atribuições abrangentes,
ações de nível mais alto (intelectual, lógico-operacional
ou sócio-afetiva), normalmente composta de várias
subfunções e tarefas de caráter específico, consideradas
4 O PLANEJAMENTO CURRICULAR NO MODELO necessárias para o exercício na área profissional. A análi-
DE COMPETÊNCIAS se funcional refere-se ao processo de identificar e orde-
nar as funções que se realizam em uma atividade produti-
va de um setor e que são necessárias para a realização de
um objetivo geral naquele setor. A análise funcional se
realiza do geral para o particular, ou seja, parte de um
Nesta Seção apresentamos aspectos do processo de objetivo geral, definindo as funções até chegar às contri-
planejamento de currículo para um Curso de EP, orienta- buições individuais (subfunções e tarefas) requeridas para
do pelo modelo de competências, a partir de uma expe- o cumprimento do objetivo identificado. Esta análise pode
riência no Coltec7. ser feita através de observações, entrevistas e estudos das
atividades e requisitos do trabalhador e dos fatores técni-
cos e ambientais da atividade, visando identificar conhe-
cimentos, habilidades, tarefas, atitudes e responsabilida-
4.1 Marcos conceituais des requeridas em sua ocupação.
Matriz Curricular - Refere-se a um procedimento
metodológico utilizado na organização dos Planos de
Curso de EP, no modelo de competências. A construção
da matriz consiste em definir a área profissional com suas
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a EP assim respectivas funções e subfunções, identificadas a partir de
como os Referenciais Curriculares das diversas áreas da aplicação de instrumentos de coleta de dados junto aos
7 Projeto de Reforma Curricular do Curso Técnico de Eletrônica do Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais – Coltec/UFMG (2001)
diversos agentes do setor produtivo da Área Profissional em Módulo - No contexto da EP de nível técnico, um
referência. Para cada subfunção descrita e identificada, são módulo é um conjunto didático-pedagógico sistematica-
selecionadas as competências profissionais requeridas para mente organizado para o desenvolvimento de competên-
o seu exercício. Cada competência, por sua vez, é desdo- cias profissionais significativas, sendo que a duração de-
brada em conhecimentos, habilidades e valores, necessários penderá da natureza das competências que pretende de-
para o desenvolvimento desta competência no aluno, atra- senvolver. Um módulo pode ser constituído por uma ou
vés dos processos pedagógicos previstos para o curso. Por mais disciplina. Pode ser com terminalidade se, ao final
último, a matriz indica as Bases tecnológicas, Científicas e do mesmo o aluno puder receber alguma certificação de
Instrumentais que, dentro do domínio do processo peda- competência profissional, ou pode ser sem terminalidade
gógico, são os componentes geradores das habilidades, quando, ao final o aluno recebe apenas uma certificação
conhecimentos e valores requeridos para cada competên- que o habilita para continuação dos estudos em outros
cia. O QUADRO 1 ilustra o conceito da matriz curricular. módulos.
Perfil Profissional de Conclusão – São as caracte- e processos pedagógicos a serem desenhados através do
rísticas (conhecimentos, habilidades, valores) esperadas Plano de Curso.
do profissional ao final de sua formação, representando A FIG.1 ilustra uma visão geral do sistema de forma-
os objetivos do Plano de Curso e metas factíveis na pro- ção por competências. O modelo pode ser entendido
posta curricular. Exemplificando, o curso técnico toma- conforme a seguintes lógica: o sistema produtivo requer
do como referência para este trabalho tem por objetivo a do aluno um nível de desempenho profissional e da esco-
formação de profissionais capazes de exercer com desen- la um nível de formação profissional, de acordo com ca-
voltura as diversas funções exigidas pela natureza do tra- racterísticas da área, suas funções e subfunções (domínio
balho na área de Eletrônica. Para isto, é desejável que o do sistema produtivo). A capacitação para exercer as di-
profissional possua em seu perfil de conclusão, aspectos versas subfunções é formada a partir das competências
tais como: capacidade de articular conhecimentos de Ele- profissionais (domínio do aluno). Estas, por sua vez, de-
trônica e de áreas correlatas com situações concretas de pendem de conhecimentos, habilidades e valores que são
trabalho; capacidade de inovar, criar, flexibilizar, perce- gerados pelas bases tecnológicas, científicas e instrumen-
ber relações e utilizar conhecimentos prévios em situações tais providas pelo currículo (domínio da escola). A FIG. 1
novas; visão voltada para a melhoria de desempenho, mostra esta relação de causa e efeito na formação por com-
tendo em vista a maximização na utilização de recursos petências.
da inteligência, recursos físicos, de espaço, tempo e ener-
gia; exercer o processo de aprendizagem contínua; etc.
Consideramos que a definição do perfil profissional é da
máxima importância, visto que ele irá definir o conteúdo
Educ. Tecnol., Belo Horizonte, v.6, n.1/2, p.49-59, jan./dez. 2001
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Educação & Tecnologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Á R E A P R O FIS S IO N A L
Enfatizamos que o processo descrito é, antes de
FU N Ç Õ E S
tudo, um eficiente recurso de aprendizagem para quem o
(M a cro)
PL A N EJ A M E N TO E XE C U Ç ÃO M AN U T EN Ç Ã O realiza, uma vez que possibilita uma visão geral do pro-
SIST EM A cesso formativo; promove uma revisão de métodos didá-
PRO D UTIVO
SUBFUN ÇÃO
SU BFUNÇ ÃO ticos, modelos pedagógicos e concepção curricular; ofe-
rece uma ampla oportunidade de renovação de objetivos
C O M PE TÊNCIA
CO M P ETÊNC IA
e metas de formação à luz do projeto pedagógico da es-
D em an d as d e
D E SE M P E N H O CO M PETÊ NCIA cola; e constitui-se em um processo de reflexão e auto
P rofis sion al
ALU NO avaliação das práticas curriculares vigentes.
HABILIDADE
HABIL IDADE Procedimentos para o Desenvolvimento da Pro-
H ABILID ADE posta Curricular - O projeto de adequação curricular ao
BASES TEC NO LÓ GICAS qual este trabalho se refere foi desenvolvido segundo a
D e m a nd as d e BASE S CIE NTÍFICAS
F O R M AÇ ÃO
BASES INS TRUM ENTA IS
seqüência de procedimentos mostrados no QUADRO 2.
P ro fis sio na l
ESC O LA
tos (específicos da área, didáticos, pedagógicos), experi- QUADRO 2 - Seqüência de procedimentos para o Projeto de Adequação
Curricular.
ências docentes acumuladas, informações sobre a área
profissional, resultado de pesquisas junto ao sistema pro-
dutivo, acompanhamento de egressos, etc. O processo de O Plano de Curso contempla os aspectos estrutu-
planejamento, por sua vez, é constituído de vários rais, organizacionais e metodológicos da proposta para
subprocessos, representados pelas ações de estudo, aná- cada curso a ser desenvolvido pela escola e as ações de
lises, pesquisas, planejamento, decisões estratégicas, etc. caráter técnico e pedagógico a serem realizadas para a
Como resultados ou saídas deste processo obtemos a do- formação de profissionais numa determinada área. O
cumentação referente ao currículo, planos de cursos, es- QUADRO 3 mostra a estrutura de componentes do Plano
tratégias de implantação e, finalmente, as ações de im- de Curso, conforme documento final elaborado para a
plantação, acompanhamento e avaliação do currículo. A adequação do Curso Técnico de eletrônica do Coltec
FIG. 2 mostra a visão geral do processo adotado para o (Coltec, 2001).
planejamento do currículo do Curso Técnico de Eletrô-
nica do Coltec.
Estrutura do Plano de Curso (Conforme Roteiro do Cadastro Nacional de Cursos Técnicos – CNCT)
1. Justificativa e Objetivos do Curso
2. Requisitos de Acesso
ENTRADAS PROCESSOS SAÍDAS
3. Perfil Profissional de Conclusão
• Projeto Pedagógico • Planos de Cursos 4. Organização Curricular
• Novas concepções 4.1 - Área Profissional e Subárea
• Marcos Teóricos
e Conceituais e práticas 4.2 - Caracterização da Área
curriculares 4.3 – Habilitação
• Marcos Legais 4.4 - Atividades Profissionais do Técnico
PROJETO • Projetos de
• Contexto infraestrutura e 4.5 - Descrição das Funções, Subfunções e Tarefas da Área
da Área Profissional DO 4.6 - Competências Gerais e Específicas
recursos humanos
CURRÍCULO 4.7 - Matriz Curricular (uma matriz para cada subfunção)
• Perfil Profissional • Estratégias de 5. Critérios de Aproveitamento de Conhecimentos e Experiências Anteriores
• Diretrizes Implementação
6. Critérios de Avaliação da Aprendizagem
Curriculares Ações de Projeto • Sistema de 7. Instalações e Equipamentos oferecidos aos professores e alunos
• Referenciais do Currículo monitoramento 7.1 - Descrição e Avaliação da infraestrutura existente
Curriculares e avaliação
7.2 - Descrição das instalações e equipamentos necessários
8. Pessoal Docente e Técnico envolvido no Curso
8.1 - Relação do Pessoal Docente, Técnico e Administrativo Existente
Conhecimento; Experiência; Estudos; Análises; Decisões; Documentos; Planos; 8.2 - Relação do Pessoal Docente, Técnico e Administrativo Necessário
Informações; Pesquisas Planejamento; Pesquisas; Validação Ações de Implantação
9. Certificados e Diplomas
Anexos e documentação complementar
FIGURA 2 - Visão geral do processo de organização e planejamento
curricular. QUADRO 3 - Estrutura de tópicos para o plano de curso.
temas. A sondagem de competências mostrou que o siste- vendo a necessidade de um programa efetivo de coope-
ma produtivo requer, prioritariamente, conhecimentos e ração e interação entre essas instituições, possibilitando à
habilidades relacionadas às novas tecnologias, particular- escola acompanhar a evolução do sistema produtivo e do
mente as tecnologias da informação. Os egressos destaca- mercado de trabalho. Na visão dos supervisores, cerca de
ram habilidades e competências de natureza pessoal e 1/3 dos técnicos desempenham suas atividades sem ne-
interpessoal, consideradas importantes para um bom de- cessidade de treinamento inicial e 2/3 evidenciam capaci-
sempenho profissional tais como: “disposição para apren- dade de auto aprendizagem nas funções que realizam.
der continuamente” e “facilidade de relacionamento com Professores – Participaram desta pesquisa os pro-
pessoas”. Em relação à revisão do Curso de Eletrônica, a fessores do Coltec, em exercício no ano 2000. O questio-
pesquisa utilizou um Quadro de Revisão de Conteúdos, nário teve por finalidade obter dados dos professores nas
mostrado no QUADRO 6, que possibilitou aos egressos seguintes categorias: Professor – experiência docente, pre-
apresentarem diversas sugestões quanto ao conteúdo e paro para a prática pedagógica, fatores de escolha da pro-
métodos do curso atual, tendo em vista critérios tais como: fissão, atualização profissional, formas de condução do
utilidade na vida profissional, base para continuidade de trabalho pedagógico; Disciplinas e currículo – facilidades
estudos, etc. e dificuldades encontradas na organização da disciplina e
revisão curricular; Aluno – acompanhamento e ações do-
centes; Avaliação – modelo adotado, indicadores de
aprendizagem, causas do fracasso escolar; Trabalho em
Disciplina 1 Disciplina 2 Disciplina 3 etc... equipe – formas de trabalho, formação de equipes, incen-
Manter tivos da direção; Reforma da Educação Profissional – co-
Rever nhecimento dos marcos legais e conceituais, expectativas
Reforçar em relação à reforma da EP no Coltec.
Atenuar O perfil docente do Coltec é de um grupo de pro-
Excluir
fessores altamente titulados (a maioria com mestrado e
Incluir
doutorado), com experiência docente de 10 anos, em
QUADRO 6 - Quadro de revisão de conteúdos (utilizado na pesquisa com
egressos). média. A maioria dos professores (97%) usa regularmente
recursos de informática para planejamento e realização
de atividades de ensino. Em relação à prática de ensino,
Supervisores de Técnicos nas empresas – Partici- grande parte dos professores (aproximadamente 70%) ain-
da adota uma prática rotineira, repetitiva e com atividades
param desta pesquisa supervisores de técnicos de empre-
inteiramente direcionadas, contrastando com o discurso
sas nas áreas de Automação Industrial, Manutenção Ele-
de que praticam atividades dinâmicas e criativas. A pesqui-
trônica, Produção de Equipamentos, Telecomunicações e sa identificou um elevado potencial de produção de ma-
Desenvolvimento Científico e Tecnológico, no ano de terial didático pelos professores. Nos dois últimos anos,
2001. O questionário foi desenvolvido visando obter da- mais da metade deles produziu textos didáticos comple-
dos nas seguintes categorias: Área de atividade – área do mentares e roteiros de laboratórios, dentre outros (kits
setor produtivo em que atua a empresa; Competências de montagem ou demonstração, material de apoio indivi-
profissionais – identificação de funções, subfunções, ati- dual, vídeos, jogos pedagógicos e livros didáticos), sen-
vidades e tarefas desenvolvidas pelos técnicos em Eletrô- do que, deste material, mais da metade foi utilizado por
nica e habilidades consideradas prioritárias para o início, outros professores em suas atividades de ensino.
continuidade e progressão da vida profissional; Avalia- A questão da interdisciplinaridade, um dos temas
ção do curso – grau de atendimento do curso atual em centrais das novas propostas curriculares, foi apontada
relação às demandas da atividade profissional, pontos for- como uma das dificuldades mais freqüentes (41,4%) na
tes, pontos fracos, sugestões de melhoria; Relação esco- organização das disciplinas e do currículo. Outra grande
la/comunidade – avaliação e sugestões para o relaciona- dificuldade dos professores é o acompanhamento das
mento entre escola e setor produtivo. mudanças curriculares, possivelmente devido à imobili-
dade das estruturas curriculares, mantidas intactas por
Em todas as áreas, é intenso o contato com equipa-
muitos anos, dificultando a introdução de novos mode-
mentos e tecnologias da informação. Na visão dos los de organização e planejamento de currículos.
supervisores, faltou na formação profissional dos egres- A pesquisa realizada com professores, alunos, egres-
sos do Coltec um “conhecimento atualizado de equipa- sos e supervisores suscitou reflexões e análises importan-
mentos e sistemas”, retratando uma clara deficiência do tes durante o processo de desenvolvimento do currículo.
curso e a necessidade de atualização de suas instalações, Os aspectos apresentados aqui como subsídios para o pla-
laboratórios e equipamentos. Em relação ao vínculo en- nejamento curricular constituem apenas uma amostra den-
tre a escola e o setor produtivo, os supervisores conside- tre centenas de itens avaliados na pesquisa. As próximas
ram insatisfatória a interação existente atualmente, ha- etapas são as de implantação, acompanhamento e avalia-
Educ. Tecnol., Belo Horizonte, v.6, n.1/2, p.49-59, jan./dez. 2001
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ção do Plano de Curso e da estrutura curricular como um isolamento institucional, por outro lado, é outro extre-
todo. mo a ser evitado, já que seria insustentável um sistema
educacional que não mantém uma visão analítica na dire-
ção da sociedade, identificando requisitos de formação
humana e avaliando o desempenho na realização de sua
missão.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A falta de consenso quanto a aspectos do novo
modelo curricular – inclusive quanto à acepção do termo
competência profissional e afins – é algo natural e pró-
prio das discussões em torno de concepções e modelos
Este trabalho trouxe contribuições conceituais e educacionais; porém, este fato não deve inibir as escolas
práticas para o processo de organização e planejamento de fazer uso das oportunidades abertas com o movimento
de currículos para a Educação Profissional baseado no de reforma da Educação Profissional no Brasil. Uma análi-
modelo de competências. Não obstante haver sido focali- se ampla mostra que o modelo proposto apresenta mais
zado o desenvolvimento de currículo para áreas vantagens do que desvantagens, não havendo razões para
tecnológicas, os conceitos e métodos descritos se aplicam se manter à margem do processo de revisão do atual siste-
igualmente a qualquer outra área profissional. ma.
As diretrizes curriculares para a EP enfatizam a ques- Finalmente, sugerimos algumas direções para tra-
tão da organização curricular, como alternativa eficaz para balhos futuros nesta área: pesquisa sobre metodologias
resolver as insuficiências do sistema de EP. Contudo, a de ensino para a formação de competências; análises com-
pergunta decisiva a ser feita é: Quem vai praticar os no- parativas das pesquisas realizadas no Coltec (alunos, egres-
vos currículos da EP? Com que meios contará o professor sos, supervisores e professores) com outras instituições
para aplicar o modelo proposto? Consideramos que não de EP em âmbito regional e nacional; pesquisas sobre
falta ao sistema a capacidade para organizar currículos no modelos de avaliação por competências; avaliação de cur-
modelo por competências. Entretanto, o mesmo não pode rículos no modelo de competências; organização e im-
ser dito com relação à prática destes novos currículos. plantação de mecanismos institucionais voltados para a
Portanto, seria um erro acreditar que a simples mudança interação entre as instituições de EP e o sistema produti-
do modelo curricular possa significar a solução dos pro- vo, visando projetos cooperativos de interesse mútuo,
blemas do sistema de EP no país. Neste contexto, a revi- incluindo o acompanhamento e avaliação das novas orga-
são do componente curricular do sistema de formação nizações curriculares.
profissional representa apenas parte da solução. A outra
parte, que requer revisão mais profunda, é a formação
profissional do docente que vai executar a reforma (BAR-
BOSA et al, 2001b).
Foram discutidas algumas implicações do mode- 6 ABSTRACT
lo de competências para o currículo, a escola e o pro-
fessor. Em relação à escola e os professores, o modelo
proposto tem provocado resistências, fruto de uma vi-
são distorcida que prevê a sujeição da escola às diretivas
do setor produtivo, com a adoção do modelo de for- In this paper we present some aspects of the
mação de competências. Lembramos, contudo, que pre- curriculum planning process based on the competence
visões desta natureza nunca se concretizaram e carecem model. We present concepts which define a new context
de fundamento por diversas razões; uma delas é que, for vocational education and its implications for the
mesmo que a escola quisesse, este tipo de sujeição é in- curriculum planning process, the school conditions and
compatível com a organização e funcionamento da insti- the new requirements for teacher preparation. The scope
tuição escolar, em sua configuração vigente. Um exemplo for study, experimentation and analysis of our research
expressivo de que a escola não corre o risco de sujeitar-se has been defined by the curriculum planning project for
a imposições do setor produtivo, são as instituições for- the Technical Course in Electronics of Colégio Técnico at
madoras de EP de nível médio e superior nas áreas de the Federal University of Minas Gerais (UFMG). This course
tecnologia: há escolas de nível técnico e superior com has been planned according to the methodology described
excelentes laboratórios, equipamentos, corpo docente in this paper, during the year of 2001, taking into account
qualificado e com experiência em gestão de projetos the new curricular model.
interinstitucionais, em condições de atender, sem restri-
ções, a demandas do setor produtivo, mas que não o fa-
zem pela simples razão de que o ajustamento linear e
imediato a tais demandas não é vocação da escola. O
2 BARBOSA, E. F., MARTINS, R. C., ROCHA, M. F. A 13 MEC, 1997, Ministério da Educação – Decreto Lei nº
formação de profissionais da educação – perspectivas 2208 de Abril, 1997.
e desafios na educação profissional. Educação
Tecnológica (aceito para publicação em julho de 14 MEC, 1999 – Ministério da Educação – MEC –
2001). Conselho Nacional de Educação. Diretrizes
curriculares nacionais para a Educação Profissio-
3 BARBOSA, E. F. Metodologias de planejamento nal. MEC, Brasília, DF, Novembro de 1999.
curricular para a educação profissional baseada em
competências. Relatório Técnico, Colégio Técnico da 15 MEC, 2000. Referenciais curriculares para a Educa-
UFMG, Agosto de 2000. ção Profissional de nível técnico. Ministério da
Educação, 2000.
4 BARBOSA, E.F., GONTIJO, A.F., MOREIRA, A.A.,
TEIXEIRA, T.L.S., ROCHA, M.F., MARTINS, R.C.. 16 MEC, 2001, Ministério da Educação – MEC –
Análise de pesquisa aplicada aos concluintes do www.mec.gov.br
curso técnico de Eletrônica – 1999 e 2000. Relatório
Técnico de Pesquisa – RT-Selet 01 e 02/2001 – Setor
de Eletrônica, Colégio Técnico da UFMG, março de
2001.
8 AGRADECIMENTOS
5 BARBOSA, E.F., GONTIJO, A.F., MOREIRA, A.A.,
TEIXEIRA, T.L.S., ROCHA, M.F., MARTINS, R.C..
Análise de pesquisa aplicada aos egressos do Colégio
Técnico –UFMG, supervisores e professores. Relatórios
Técnicos de Pesquisa – RT-Selet 03/2001, 04/2001 e Agradecemos ao CNPq o apoio recebido através de
05/2001 – Setor de Eletrônica, Colégio Técnico da Bolsas de Iniciação Científica para o Projeto “Metodologias
UFMG, março de 2001. de Planejamento Curricular para a Educação Profissio-
nal Basedo em Competências” e valiosas discussões
6 COLTEC, 2000. Projeto de adequação curricular do mantidas com os professores Alberto Gontijo, Adilson
curso de Eletrônica. UFMG, 2000. Moreira e Thales Teixeira, membros da equipe de plane-
jamento curricular do Curso de Eletrônica do Coltec,
7 COLTEC, 2001 – Colégio Técnico da UFMG. Plano de durante o desenvolvimento do projeto que deu origem a
curso para o curso técnico de Eletrônica do Colégio este trabalho.
Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais.
Coltec/UFMG, 2001.