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Fichamento de “Operadores de Leitura da Narrativa” de Arnaldo Franco Junior

JUNIOR, A. F. Operadores de Leitura da Narrativa. In: BONNICI, T; ZOLIN, L. O.


Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: Editora
da Universidade Estadual de Maringá, 2003. p. 33-58.

O gênero narrativo

“É já um lugar-comum a divisão da narrativa em três grandes blocos articulados em


torno do conceito de conflito dramático, ou intriga (...): Introdução, Desenvolvimento e
Conclusão. (...) tais movimentos apresentam uma grande variabilidade no que se refere à
ordem de sua posição nos textos.” (p. 33)

“A distinção entre a história narrada e o texto no qual ela se manifesta é fundamental.


(...) É necessário observar, analisar, interpretar e avaliar criticamente tanto a história que
o texto narra como o modo pelo qual a narra. Isso exige uma atenção para a própria
composição do texto, para o modo como os recursos linguísticos e os demais elementos
constitutivos da narrativa estão, ali, organizados de modo particular” (p. 34)

Fábula, Trama, Intriga, Estória, Enredo

“A fábula é um conceito que compreende os acontecimentos ou fatos comunicados pela


narrativa, ordenados, lógica e cronologicamente, numa sequência nem sempre
correspondente àquela por meio da qual eles são apresentados, no texto, ao leitor. Ela
exige do leitor a capacidade de realizar uma síntese da história narrada. Tal síntese deve
ser capaz de abstrair, no texto narrativo, os elementos fundamentais que compõem a
história ali narrada.” (p. 36)

“A trama é um conceito que corresponde ao modo como a história narrada é organizada


sob a forma de texto, ou seja, ela é a própria construção do texto narrativo, sua
“arquitetura”.” (p. 36)

“A trama, diferentemente da fábula, não é passível de síntese. Ela é identificada quando


o leitor investiga e define as relações que unem os diversos elementos que, articulados
pela escrita, compõem o texto narrativo.” (p. 37)

“A intriga diz respeito ao conflito de interesses que caracteriza a luta dos personagens
numa determinada narrativa.” (p. 37)

“Os conceitos de fábula e trama encontram, de certa forma, correspondentes nos


conceitos de estória (story) e enredo (plot) (...). O conceito de estória é utilizado tanto
para identificar a história narrada pelo texto narrativo como, muitas vezes, para
identificar o modo como uma história é construída por meio de palavras (...).” (p. 37)

“No entanto, devido à sua larga e nem sempre rigorosa utilização, vamos (...) encontrá-
lo em textos que contradizem esse sentido original, a saber: a) como termo que
identifica a história narrada pelo texto narrativo; b) como termo que identifica a síntese
da história narrada pelo texto narrativo; c) como termo que identifica a temática e/ou o
gênero que caracteriza a história narrada pelo texto narrativo.” (p. 37)

A personagem e suas classificações

“As personagens são (...) representações dos seres que movimentam a narrativa por
meio de suas ações e/ou estados.” (p. 38)

“As personagens podem ser classificadas a partir de dois critérios: a) segundo o seu grau
de importância para o desenvolvimento do conflito dramático presente na história
narrada pelo texto narrativo; b) segundo o seu grau de densidade psicológica.” (p. 38)

“A personagem é classificada como principal quando suas ações são fundamentais para
a constituição e o desenvolvimento do conflito dramático. Geralmente, desempenha a
função de herói na narrativa, reivindicando para si a atenção e o interesse do leitor.” (p.
39)

“A personagem é classificada como secundária quando suas ações não são


fundamentais para a constituição e o desenvolvimento do conflito dramático.
Geralmente, desempenha uma função subalterna, atraindo menos a atenção e o interesse
do leitor.” (p. 39)

“Personagem plana é aquela que apresenta baixo grau de densidade psicológica. Em


geral, tal personagem marca-se por uma linearidade no que se refere à relação entre os
atributos que caracterizam o seu ser (a sua psicologia) e o seu fazer (as suas ações)
(FORSTER, 1974). Tal classificação inclui dois subtipos: a personagem tipo e a
personagem estereótipo.” (p. 39)

“Tipo é aquela cuja identificação se dá, normalmente, por meio de determinada


categoria social.” (p. 39)

“Estereótipo é aquela cuja identificação se dá por meio da acumulação excessiva de


signos que caracterizam determinada categoria social (...). A personagem estereótipo é,
pois, uma cristalização máxima dos lugares-comuns e dos valores socialmente
atribuídos às diversas categorias sociais.” (p. 39)

“Plana com tendência a redonda é aquela que apresenta um grau mediano de densidade
psicológica, ou seja, embora se marque por uma linearidade predominante no que se
refere à relação entre os atributos que caracterizam o ser (...) e o seu fazer (...), tal
personagem não se reduz totalmente à previsibilidade.” (p. 39)

“Redonda é aquela que apresenta um alto grau de densidade psicológica (...). Tal
personagem é imprevisível, surpreendendo o leitor ao longo da narrativa (...).” (p. 39)

Autor, narrador, narratário e focalização

“Autor (...) é aquele que cria o texto e narrador é uma personagem que caracteriza pela
função de, num plano interno à própria narrativa, contar a história presente num texto
narrativo.” (p. 40)

“Uma possível classificação do narrador segundo critérios anteriormente citados


estabelece uma relação entre pessoa do discurso utilizada para narrar e o grau de
participação do narrador na história que narra. Assim, o narrador que utiliza a 1ª pessoa
do discurso (...) seria classificado como narrador participante, já que a 1ª pessoa
evidenciaria a sua participação na história narrada. Por sua vez, o narrador que utiliza a
3ª pessoa do discurso (...) seria classificado como narrador observador, pois a 3ª pessoa
evidenciaria o seu distanciamento em relação à história narrada.” (p. 40)

“O foco narrativo é um recurso utilizado pelo narrador para enquadrar a história de um


determinado ângulo ou ponto de vista (...). O foco narrativo evidencia o propósito do
narrador (e, por extensão, do autor) de mobilizar intelectual e emocionalmente o leitor,
manipulando-o para aderir às ideias e valores que veicula ao contar a história.” (p. 42)

“Segundo Friedman, o foco narrativo pode ser assim classificado: “Autor” onisciente
intruso – Esse foco narrativo caracteriza o narrador que adota um ponto de vista divino,
para além dos limites de tempo e espaço. Tal narrador cria a impressão de que sabe tudo
da história, das personagens, do encadeamento e do desdobramento das ações e do
desenvolvimento do conflito dramático (...). O narrador que utiliza esse foco narrativo
se interpõe entre o leitor e os fatos narrados, elaborando pausas frequentes (digressões)
para a apresentação de sua opinião e de seu posicionamento (...).” (p. 42)

“Narrador onisciente neutro – Esse foco narrativo caracteriza-se pelo uso da 3ª pessoa
do discurso (...). Distingue-se do foco narrativo anterior “pela ausência de instruções e
comentários gerais ou mesmo sobre o comportamento das personagens, embora sua
presença, interpondo-se entre o leitor e a HISTÓRIA, seja sempre muito clara”
(FRIEDMAN, 1995 apud LEITE, 1985, p. 32);” (p. 43)

““Eu” como testemunha – Esse foco narrativo caracteriza um narrador que narra de
uma perspectiva menos exterior em relação ao fato narrado do que os anteriores. Faz
uso da 1ª pessoa do discurso, mas ocupando uma posição secundária (...) em relação à
história que narra.” (p. 43)
“Narrador protagonista – Esse foco narrativo caracteriza um narrador que narra
necessariamente em 1ª pessoa, limitando-se ao registro de seus pensamentos,
percepções e sentimentos. Narra, portanto, de um centro fixo, vinculado
necessariamente à sua própria experiência, já que (...) é o protagonista da história
narrada.” (p. 43)

“Onisciência seletiva múltipla – Esse foco narrativo marca-se pela utilização


predominante do discurso indireto-livre. Tal recurso cria um efeito de eliminação da
figura do narrador, que é substituída pelo registro de impressões, percepções,
pensamentos, sentimentos, sensações que remetem à mente dos personagens.” (p. 43)

“Onisciência seletiva – Esse foco narrativo é semelhante ao anterior, mas com a


diferença de que se restringe a uma só personagem.” (p. 43)

“Modo dramático – (...) A história é narrada de um ângulo frontal e fixo – o que cria o
efeito de estarmos presenciando os fatos no momento em que eles acontecem. É o foco
que caracteriza o gênero dramático (...).” (p. 43)

“Câmera – Esse foco é, talvez, a tentativa mais radical de eliminação da presença do


autor e, também, do narrador na narrativa (...). Tal propósito de atingir a máxima
neutralidade no narrar faz, muitas vezes, com que a narrativa seja construída a partir de
fragmentos “soltos” que rompem com a ilusão de continuidade, que é uma das
características mais tradicionais da narrativa.” (p. 44)

Tema, motivos e motivação

“Tema – É o assunto central abordado dramaticamente pela narrativa, ou seja, é o


assunto que abarca o conflito dramático nuclear da história narrada pelo texto
narrativo.” (p. 44)

“Motivos – (...) são subtemas ligados ao tema e vinculados ao desenvolvimento da


história e ao conflito dramático. Definem-se, normalmente, a partir das ações das
personagens e, também, das situações dramáticas apresentadas no desenvolvimento da
narrativa.” (p. 44)

“Motivação – A motivação compreende o conjunto de motivos que, articulados ao tema,


caracterizam o modo como este é trabalhado ao longo da narrativa.” (p. 44)

Nó, clímax, desfecho


“Nó – É o fato que interrompe o fluxo da situação inicial da narrativa, criando um
problema ou obstáculo que deverá ser resolvido. O nó é o que dá origem ao conflito
dramático de uma narrativa.” (p. 44)

“Clímax – É o elemento que marca o auge do conflito dramático, momento do tudo-ou-


nada entre as forças contrárias que agem e se defrontam na narrativa (geralmente
representadas pelas personagens e pelos valores a elas ligados) (...). O clímax, portanto,
suspende, mantendo por instantes em tensão máxima, a história contada na narrativa;”
(p. 45)

“Desfecho – É a resolução do conflito central da narrativa, momento em que uma das


forças contrárias vence e se afirma sobre a sua oponente. Normalmente, liga-se à
situação final da narrativa.” (p. 45)

Espaço, ambiente, ambientação

“Espaço – O espaço compreende o conjunto de referências de caráter geográfico e/ou


arquitetônico que identificam o(s) lugar(es) onde se desenvolve a história. Ela se
caracteriza, portanto, como uma referência material marcada pela tridimensionalidade
que situa o lugar onde personagens, situações e ações são realizadas;” (p. 45)

“Ambiente – O ambiente é o que caracteriza determinada situação dramática em


determinado espaço, ou seja, ele é o resultado de determinado quadro de relações e
“jogos de força” estabelecidos, normalmente, entre as personagens que ocupam
determinado espaço na história. O ambiente é, portanto, o “clima”, a “atmosfera” que se
estabelece entre as personagens em determinada situação dramática.” (p. 45-46)

Tempo e recursos de subjetivação da personagem

“Tempo objetivo (cronológico) – Referente à sucessão temporal dos acontecimentos.


Pode ser mensurado pela passagem dos dias, das estações do ano, de datas, enfim, por
todo tipo de marcação temporal objetiva.” (p. 46)

“Tempo subjetivo (psicológico) – Vincula-se ao tempo cronológico, mas difere deste


porque se trata do tempo da experiência subjetiva das personagens. Caracteriza (...) o
modo como elas experimentam sensações e emoções (...).” (p. 46)

“Narrativa in media res: o discurso narrativo se inicia com a apresentação de um


acontecimento que pertence ao desenvolvimento (...).” (p. 47)
“Narrativa in ultima res: o discurso narrativo se inicia com a apresentação de um
acontecimento que pertence ao desfecho (...).” (p. 47)

“Analepses: recuos no tempo, que permitem a recuperação de fatos passados.


Corresponde ao que em linguagem cinematográfica é chamado de flashback (...).” (p.
47)

“Prolepses: antecipações no tempo, que permitem a anteposição, no plano do discurso


(...). Corresponde ao que, em linguagem cinematográfica, é chamado de flashforward
(...).” (p. 47)

“Cena: coincidência entre os acontecimentos da diegese e o relato dos mesmos


acontecimentos na narração. Sua marca mais evidente são os diálogos, marcados pela
presença do discurso direto.” (p. 47)

“Sumário narrativo: incongruência entre os acontecimentos da diegese e o relato dos


mesmos acontecimentos na narração (...). Sua marca mais evidente é a utilização de
discurso indireto pelo narrador (...).” (p. 47)

“Elipse: o narrador exclui determinados acontecimentos da diegese no plano do discurso


narrativo.” (p. 47)

“Pausa descritiva: o narrador aumenta a temporalidade narrativa por meio da inserção


de descrições que “alongam o tempo” (...).” (p. 47)

“Digressão: o narrador introduz comentários no discurso narrativo, fazendo com que o


tempo da diegese pare e o tempo do discurso narrativo (narração) se alongue.” (p. 47)

“Narrativa singulativa: é aquela que apresenta igualdade entre o número de


acontecimentos da diegese e o número de apresentações de tais acontecimentos no
discurso.” (p. 48)

“Narrativa repetitiva: é aquela que reitera (...) um mesmo acontecimento pertinente ao


plano da diegese, apresentando-o várias vezes.” (p. 48)

“Narrativa iterativa: é aquela que apresenta uma única vez (...) um acontecimento que
ocorreu várias vezes no plano da diegese.” (p. 48)

“Os três recursos de subjetivação intimamente ligados ao tempo psicológico são o


monólogo interior, a análise mental e o fluxo de consciência.” (p. 48)

“O monólogo interior (...) implica o diálogo de uma personagem consigo mesma, mas
tal processo não se realiza sob a forma de um solilóquio, e sim sob a forma de um
mental no qual a personagem questiona a si própria numa determinada situação
dramática.” (p. 48)

“Análise mental – trata-se da representação de um processo mental no qual a


personagem dá vazão aos seus pensamentos sem perder de vista a sua posição numa
dada situação dramática.” (p. 48)
“Fluxo de consciência – trata-se da representação de um processo mental no qual a
personagem dá livre curso a tudo o que anima a sua subjetividade (...): pensamentos,
emoções, ideias, memórias, fantasias, desejos, sensações. Nesse sentido, o fluxo de
consciência cria um efeito de perturbação (...) e, também, um efeito de perda do
controle da consciência pela personagem (...). Um de seus traços característicos é a
fragmentariedade e a dificuldade de avaliar se as referências e as informações
apresentadas pertencem à memória, à imaginação ou à fantasia da personagem (...).” (p.
48)

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