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Conflito Interpessoal em equipes de trabalho: O papel do líder como gerente


das emoções do grupo.

Interpersonal conflict in working groups: the role of the leader as the manager
of the group emotions

Humberto Medrado Gomes Ferreira 1

Palavras-chave: Resumo

Gestão de Pessoas O propósito principal deste artigo é investigar o papel da liderança na


administração de conflitos, objetivando analisar como este processo é
Liderança percebido pelos colaboradores, e os impactos dessas atitudes para o de-
sempenho organizacional. Primeiramente, revisam-se os fundamentos
Conflito teóricos referentes ao tema; a seguir, demonstram-se os objetivos pro-
postos pela pesquisa, assim como a metodologia utilizada. Finalmente,
os resultados sugerem que a capacidade da liderança, enquanto gestor
das emoções do grupo, é fator fundamental para o sucesso das organiza-
ções e para a melhoria do relacionamento funcional, estando diretamen-
te associada à capacidade do líder enquanto gestor organizacional.

Abstract Key words:

The purpose of this paper is to investigate the role of leadership in People Management
managing conflict, aiming to analyze how this process is perceived
by employees, and their impacts in the organizational performance. Leadership
First, review the theoretical foundations for the subject. Then, the
goals proposed by the research and the methodology used are showed. Conflict
Finally, the results suggest that the leadership capacity as manager of
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the group emotions is essential to the success of organizations and to
improve the working relationship and are directly linked to the capacity
of the organizational leader as manager.
edição nº 13, agosto/2010

1 Professor Assistente do Curso de Graduação em Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense


Doutorando em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
1. Introdução 3. Revisão da Literatura
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Os imperativos da competitividade -com A fundamentação teórica se compõe de
a abertura da economia, a partir do início dos quatro principais temas: definição de equipes;
anos 90 no Brasil - incitaram uma reorgani- competência emocional, teorias de conflito e o
zação dos processos organizacionais, que le- papel da liderança nesse processo, ambas as-
varam, como implicação, mudanças nos perfis sociadas a questões relativas ao gerenciamen-
e comportamentos funcionais. Este processo to das emoções no ambiente de trabalho.
é pano de fundo para a disseminação e surgi-
mento de conflitos em equipes de trabalho. 3.1 Equipes de trabalho
O gerenciamento dos conflitos organi-
zacionais envolve o diagnóstico dos proces- Há dez anos, as pessoas não falavam em
sos que os envolvem, podendo ser percebidos equipes. Elas existiam, mas eram convencio-
como prejudiciais às organizações, pois, po- nais, do tipo “orientadas para a função” – equi-
dem criar um ambiente organizacional dese- pes de contabilidade, finanças, de produção e
quilibrado, fruto da criação de situações hostis propaganda, todas compostas de especialistas
e sentimentos de desconfiança por parte das nas funções; porém, uma revolução nas equi-
pessoas (RAHIM. 2002). pes aconteceu desde aquela época. Equipes
Os conflitos, muitas vezes, não são inter- convencionais ainda existem - dependendo da
pretados sob a ótica positiva, criação de opor- amplitude de controle e necessidade de resul-
tunidade de correção de processos organizacio- tados da organização - mas foram suplantadas
nais que podem parecer funcionar a contento. por uma infinidade de equipes de “resultado”.
Segundo Robert Bacal (2004), os conflitos que Katzembach & Smith (1994) concluem
ocorrem em organizações não têm, necessa- que a única forma de se transformar um grupo
riamente, que ser destrutivos, contudo, um ge- em equipe é através da ação disciplinada, que
renciamento eficaz desse processo, requer que se manifestará através de um propósito comum,
todas as partes envolvidas conheçam a natureza em mesmas metas de desempenho e através de
do conflito dentro do ambiente organizacional. uma abordagem igualitária do trabalho.
Segundo Robbins (2002), as evidências Ainda, para os mesmos autores, as equi-
indicam que enquanto os conflitos de relacio- pes devem ter algumas características peculia-
namento, na maioria das vezes, são prejudi- res como papéis compartilhados, comprome-
ciais aos grupos ou organizações, baixos níveis timento, múltiplas funções e encorajamento
de conflito de processo – condução racional de para aparição de divergências e conflitos.
uma atividade; e tarefa – execução de um tra-
balho específico; no geral, são benéficos. 3.1.1 Definição de equipes
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Para Robbins (2002), uma equipe pode


2. O Problema ser entendida como dois ou mais indivíduos,
interdependentes e interativos, que se juntam
As metas corporativas vêm se transfor- visando à obtenção de determinado objetivo.
mando ao longo do tempo, à medida que novas Por definição, equipes são pessoas trabalhan-
tendências mundiais se fazem crescentes no do juntas e que têm em comum um elemento
ambiente das organizações, na busca incessante de identidade, de natureza simbólica, que as
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pela excelência de serviços, pelo aumento da una, estando estas pessoas próximas ou não.
rentabilidade e, principalmente, pela sobrevi-
vência em um universo altamente competitivo. 3.1.2 A diversidade dentro das equipes
É critério de avaliação e caráter precípuo de trabalho
para a perfeita compreensão do trabalho, o en-
tendimento e a compreensão do processo de Diferenças entre as pessoas sempre existi-
conflito e suas variáveis emocionais coligadas, ram, e se impuseram como uma dificuldade para
fator este, muitas vezes, originados da postura os propósitos e tentativas de unificação de ativi-
da liderança na gestão dessas emoções. dade laboral, mesmo com a tentativa de se apazi-
guar diferenças em benefício de um bem comum. um lado, reforçar as identidades sociais de for-
Esse processo de diversidade é também fator ge- ça de trabalho, mas pode também, certamente, 69
rador de conflitos no ambiente de trabalho. Essa fornecer um obstáculo poderoso para a forma-
diversidade tem um efeito dúbio. Ela pode, por ção de equipes multifuncionais.

Vantagens da diversidade Desvantagens da diversidade

Perspectivas múltiplas Ambiguidade


Maior abertura para novas ideias Complexidade
Interpretações múltiplas Confusão
Aumento da criatividade Deficiência de comunicação
Aumento da flexibilidade Dificuldade de chegar a um acordo

Fonte: N. J. Adler, International Dimensions Of Organizational Behavior, 3.ed. Adaptado de Robbins, Comportamento Organizacional

4. Liderança • Como condutor do processo organizacional


• Como treinador de pessoas
4.1.1 Definição • Como participante ativo no processo or-
ganizacional
O conceito de liderança tem hoje uma • Como delegador de tarefas
concepção diferente do que havia tradicio-
nalmente na história do pensamento. Platão
(apud Marisa Carvalho, 2003) nos textos da 5. Teorias de Conflito
República, configura o líder como guardião
do Estado. Aristóteles (apud Marisa Carvalho, Organizações criam descrições de car-
2003), nos textos de Política enfatiza as quali- gos, equipes especializadas de trabalho, fron-
dades naturais, ou seja, uns são predestinados teiras jurisdicionais e relacionamentos de
a obedecer e outros a mandar. poder, com a intenção de facilitar a comunica-
Para Robbins (2002), liderança “é a ca- ção; mas, ao contrário, fazendo isso, separam
pacidade de influenciar um grupo em direção as pessoas e criam o potencial para conflito.
ao alcance dos objetivos organizacionais”. O conflito precisa ser percebido pelas par-
tes envolvidas; a existência ou não de conflito
4.1.2 Abordagens sobre as teorias de é uma questão de percepção. Se ninguém tiver
liderança noção de sua existência, costuma-se estabelecer
que ele não existe. Outros aspectos comuns nas
Dentre toda literatura abrangente e ex- definições são a oposição ou incompatibilidade
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tensa que se refere às abordagens sobre teorias e alguma forma de interação. Esses fatores esta-
da administração, este estudo fará referência a belecem as condições que determinam o ponto
duas das teorias mais recentes sobre liderança, inicial do processo de conflito.
procurando contextualizar os aspectos mais Robbins (2002) define conflito como
relevantes das teorias propostas por Hersey e “um processo que tem início quando uma das
Blanchard e Blake e Mouton. partes percebe que a outra parte afeta, ou pode
A teoria desenvolvida por Hersey e afetar, negativamente, alguma coisa que a pri-
Blanchard (1969), trouxe aspectos vinculados meira considera importante”.
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aos estilos de liderança no que tange ao relacio- Há duas visões para avaliação do processo
namento interpessoal e cumprimento de tarefas de conflito, segundo Bacal (2004), a boa e a ruim.
como objetivos principais das organizações. A visão negativa sugere que conflito pode
Essas variáveis criam o modelo situacio- provocar reações distintas no âmbito das organi-
nal ou contingencial de liderança, proposto por zações. Ela diz respeito à noção de que as organi-
Hersey e Blanchard que levava em consideração zações são criadas para atingir objetivos e metas,
as seguintes características sobre as quais deve- com perfeita definição sobre tarefas, responsabi-
riam estar refletidas os perfis comportamentais lidades, autoridade e outras funções e que, nesta
de liderança na sua forma de gestão de pessoas: formação, poderão surgir processos de conflito.
A visão positiva, diz respeito ao aspec- O conflito funcional ocorre quando os
70 to questionador dos processos de conflito, interesses da organização são atendidos, como
como forma de estímulo aos membros da resultado de disputa ou desacordo. O conflito
organização para incrementar seus conheci- disfuncional ocorre quando a disputa ou desa-
mentos e habilidades, bem como contribuir cordo prejudica a organização.
para processos inovadores dentro de suas O conflito funcional promove maiores
organizações. níveis de desempenho por meios como: au-
Os conflitos são construtivos quando mento da motivação, habilidades em resolver
melhoram a qualidade das decisões, estimu- problemas, criatividade, mudança construtiva.
lam a criatividade e inovação e encorajam O conflito disfuncional é destrutivo em
interesses e a curiosidade entre membros de muitos aspectos como: desperdício de tempo
equipes, fornecem meios pelos quais os pro- e colocação do bem-estar pessoal acima dos
blemas podem ser manifestados, diminuindo interesses da empresa.
tensões, e fomentam um ambiente de autoava- O conflito pode desperdiçar tempo e
liação e mudança (Bacal 2004). energia, desviando as pessoas do caminho para
Pesquisas revelam que há três tipos de alcançar metas importantes. Não é incomum,
conflitos: de tarefa, de relacionamento e de para dois gerentes em conflito, perderem tem-
processo. po trocando e-mails provocando situações es-
pecíficas de disputa.
• O conflito de tarefa está relacionado ao
conteúdo do trabalho e metas estipuladas
para o trabalho; 6. Emoções
• O conflito de relacionamento envolve si-
tuações complexas, movidas por diferen- 6.1 Definição
tes motivos e preocupações, sobre metas
pessoais dos indivíduos, o relacionamen- A emoção é conhecida, geralmente, com
to destes com outras pessoas e as metas de os termos sentimento ou estado de ânimo. Para
outras pessoas e; Soto (2005) a emoção é um estado interno –
• O conflito de processo está relacionado ao fisiológico e mental – do organismo que pode
fato de como o trabalho é executado. ser analisado a partir de uma dupla perspecti-
va provocada pela resposta interna do sujeito
Os processos de conflito que envolvem diante de um estímulo percebido como agra-
desempenho e performance da equipe são dável ou desagradável.
originários da distribuição de tarefas, po- A relevância da compreensão do proces-
dendo, posteriormente, evoluir para um caso so de conflito interpessoal nas equipes e nas
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mais amplo de conflitos de relacionamentos organizações se dá a partir do ponto em que as


entre os membros das organizações, podendo reações emocionais sejam reconhecidas como
comprometer a estrutura do processo e seus importante fator no processo de decisão das
procedimentos. organizações, no momento em que se saiba re-
tirar, desse processo, a emoção como elemen-
5.1- Consequências funcionais e disfun- to de interferência no julgamento das decisões
cionais do conflito da equipe (KIDA at al, 2001).
Para Madrigal (2003), a emoção é o
Nos modelos clássicos de gestão, o componente principal das vidas das pessoas.
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conflito era tido como algo prejudicial à or- Emoções não variam somente em tipos, mas
ganização sendo, na maioria das vezes, igno- também em intensidade. E esta intensidade
rada. No entanto, tendências contemporâneas emocional é a mola propulsora para o entendi-
visualizam-no como um fenômeno inevitável mento de como comportamentos e sentimentos
e que está presente nas organizações. Porém, são influenciados fortemente pelas emoções.
acredita-se que o mesmo deva ser gerenciado A dimensão afetiva é central no desen-
adequadamente para promover mudanças no volvimento de todo ser humano, assim como
ambiente de trabalho. na formação de uma equipe.
6.2- Competências emocionais básicas 6.2.2 O líder como gestor das emoções
do líder das equipes 71

Um novo conceito de gestão emocio- É cada vez mais importante a participa-


nal é dado pela competência emocional. Por ção da liderança na administração das emo-
competência emocional entende-se a capaci- ções no ambiente corporativo. Essa importân-
dade do indivíduo em gerir as suas próprias cia está associada ao fato de que pessoas são
emoções e também gerir as emoções da equipe os recursos mais importantes dentro de um
(GOLEMAN, 2001). sistema produtivo, pois pensam, agem e moni-
Segundo Goleman (2001), essas compe- toram seus procedimentos levando em consi-
tências podem ser divididas em: deração o ambiente em que vivem.
O líder atua em uma organização, tal
• Autopercepção: Saber o que estamos qual em uma família. É designado gestor e
sentindo num determinado momento e precisa conscientizar-se da sua importância à
utilizar as preferências que guiam nossa medida que executa ações que são aceitas por
tomada de decisão; todos os membros (GOLEMAN, 1999).
• Autorregulamentação: Lidar com as pró- A ideia da evolução da liderança como
prias emoções de forma que facilitem a gestor das emoções, criando o gerente emo-
tarefa que temos pela frente, em vez de cional é defendida por Pescosolido. Como
interferir com ela; argumento desta premissa, o autor explica
• Motivação: Utilizar nossas preferências que essa forma emergente de liderança re-
mais profundas para impulsionar-nos e quer que o gestor ajude a equipe a resol-
guiar-nos na direção de nossas metas; ver seus problemas com bom senso, admi-
• Empatia: Pressentir o que as pessoas es- nistrando suas reações em cada situação
tão sentindo, ser capaz de assumir sua Pescosolido (2002).
perspectiva e cultivar a sintonia com am- Para Pirola-Merlo (2002) “o gerencia-
pla diversidade de pessoas. mento das emoções é um importante elemento
• Habilidades sociais: Lidar bem com as da liderança efetiva, uma vez que a afetividade
emoções nos relacionamentos e ler com é um importante mecanismo pelo qual a lide-
precisão situações sociais e redes; intera- rança inspiradora pode afetar a performance
gir com facilidade. de uma equipe de trabalho”.
A capacidade emocional do líder assim
6.2.1 Importância da inteligência emo- como sua capacidade de administrar conflitos,
cional objeto deste estudo, é determinada por suas ha-
bilidades individuais e capacidade de influen-
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Pela definição, inteligência envolve equi- ciar os membros de sua equipe de trabalho.
líbrio e conhecimento de causa, fatores forte- Por inteligência emocional especificamente
mente vinculados à capacidade de liderança, aplicada ao trabalho, entende-se a capacidade
cujos processos principais de gestão de pessoas primordial de saber se relacionar, em contra-
envolvem a capacidade de negociação, de in- ponto a exclusividade premissa de conhecer
fluenciar e de cativar membros das equipes de bem o que se faz (GOLEMAN 2001).
trabalho, utilizando-se de padrões linguísticos,
lógico e de relacionamento interpessoal para
7. Modelo e Objetivo
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atingir essas pessoas (GOLEMAN, 2001).


Para Daniel Goleman (2001), inteli-
gência emocional, refere-se à capacidade de O principal objetivo deste trabalho foi:
identificar nossos próprios sentimentos e os
dos outros, de motivar a nós mesmos e de ge- • Examinar a consequência do processo de
renciar bem as emoções dentro de nós e em conflito com a participação ativa ou pas-
nossos relacionamentos, utilizando os senti- siva do líder e seu resultado para o desem-
mentos para guiar o pensamento e a ação. penho das equipes
8. Metodologia e Procedimentos Com o objetivo de delimitar a composi-
72 do Trabalho ção da amostra, procurou-se obter uma homo-
geneidade entre os entrevistados, restringindo
O método utilizado foi estritamente a população a cargos e funções em suas res-
qualitativo, pois segundo Heloísa Martins pectivas organizações, aos setores Financeiro,
(2004), a metodologia qualitativa, mais do Administrativo, RH e Operações.
que qualquer outra, levanta questões éticas, Procurou-se entrevistados maiores de
principalmente, devido à proximidade entre 21 anos com, no mínimo, ensino médio com-
pesquisador e pesquisados. As principais ca- pleto e que, por instituição deste pesquisador,
racterísticas desta pesquisa, segundo NEVES conhecesse o que é uma equipe, sentir-se
(1996), podem ser dadas pelo ambiente natu- membro de uma delas e que tivessem uma li-
ral como fonte direta de dados, por seu caráter derança explícita e reconhecida pela figura de
descritivo, pelo significado que as pessoas dão um gerente ou diretor, que não foram objeto
as coisas e à sua vida, como preocupação do das entrevistas.
pesquisador e pelo enfoque indutivo. Os entrevistadores foram selecionados pe-
Inicialmente foram escolhidos os instrumen- las respectivas direções, pelo tempo de serviço
tos e forma de aplicação. A seguir, foi efetuada em cada empresa e por fazerem parte de equipes
uma visita a cada organização para coleta dos da- atuando juntos há, no mínimo, um ano.
dos através de entrevista presencial, que foi condu- A amostra é considerada não probabilís-
zida de forma imparcial, não gravada, por sugestão tica, pois, segundo Mattar (1999), é impossí-
dos entrevistados, e descritas manualmente pelo vel conhecer todos os elementos da população
entrevistador em condições literais, de expressão e, por conseguinte, nem todos os indivíduos
dos sentimentos e colocações acerca dos objetivos da população, têm a mesma chance de serem
deste estudo. A forma transparente como o pro- selecionados.
cesso foi conduzido, parece ter contribuído para Pela classificação do mesmo autor, ainda
que os entrevistados usassem de toda sinceridade pode-se dizer que a seleção da amostra foi por
e espírito de colaboração, fazendo, por vezes, de conveniência do pesquisador, que procurou
“divã organizacional”, os momentos das entrevis- empresas que se enquadravam nas caracterís-
tas, não temendo represálias por parte da empresa. ticas desejadas e solicitou a seus funcionários
O público-alvo da pesquisa foi formado por traba- que respondessem a entrevista.
lhadores de empresas privadas e uma empresa do Cabe ressaltar que tanto as empresas
setor público, dos seguintes setores de serviços, e- quanto os entrevistados, pediram para não te-
business, hospitalar – público e privado. rem o seus nomes divulgados.

Tabela 3 - Descrição dos grupos observados


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Código Empresa HMP LAC W SMH

Ramo de Atuação saúde Serviços/saúde e-business saúde


Qtde de Entrevistas 7 16 22 4
N° equipes 2 3 6 1
FFFM/MFFF/FF
FFFFF/FMF
Gênero do Grupo FMFF/MFF/ MMMMFFFM MFFF
MFFF/FFMF
FMFF
Setores pesquisados Fin(4) ; Adm (3) Fin(7) ; Adm (5); Oper (4) Fin(4) ; Adm (4); Oper (14) Fin(4)
Média Idade 36 anos 30 anos 28 anos 33 anos
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Escolaridade Ensino Médio Ensino Médio Ensino Superior Ensino Médio

Em cada empresa foi apresentado o objeti- proposições assinaladas, o que não foi realizado
vo do trabalho e o questionário. Foi colocado de por nenhum dos entrevistados. Houve um apro-
forma clara como seria a condução do proces- veitamento de 100% das entrevistas, dado pelo
so, com o entrevistador sugerindo, ao final de caráter qualitativo da pesquisa e compromisso
cada entrevista, que o entrevistado avaliasse as das empresas e entrevistados com o propósito
do trabalho, com agendamento prévio das entre- organizações nas quais houvesse indícios de
vistas o que não alterou a rotina de trabalho das processo de conflito e se entre as pessoas das 73
organizações e contribuiu, substancialmente, equipes, havia tido algum desentendimento.
para o aproveitamento integral destas. Descrever como as emoções influenciam
Cada colaborador foi convidado para uma o processo de conflito.
entrevista, cujos dados foram coletados a partir Relacionar os aspectos do surgimento do
de questionário estruturado – apêndice A. processo de conflito com base na atuação da
O questionário deste trabalho se referiu à liderança de forma ativa ou passiva, confor-
observação in loco e entrevistas com membros me a percepção dos membros de cada grupo
de equipes de trabalho, realizado dentro das or- entrevistado, bem como buscar a descrição de
ganizações, em espaço reservado e privativo, comportamentos que poderiam ser esperados
para que os respondentes pudessem se sentir do líder para lidar com situações de conflito.
confortáveis e creditassem ao trabalho a validade Nesta parte da entrevista, procurou-se
qualitativa para pesquisa que esperava obter-se. investigar se o líder da equipe teve algum pa-
pel para o surgimento do processo de conflito,
de que forma – ativa ou passiva – o exercício
9. Resultados da liderança contribui para o surgimento deste
processo e quais comportamentos seriam im-
As proposições que compõem o referido portantes para o exercício da liderança.
trabalho foram provenientes das seguintes ações: Como resultado final da análise inves-
Mapear eventos relacionados ao surgimen- tigativa, procurou-se descrever qual (is) o (s)
to do processo de conflito em suas raízes organi- impacto (s) para a produtividade do indivíduo
zacionais e suas respectivas consequências; após as descrições dos eventos que geram
Durante a entrevista, objeto de avaliação conflitos, as emoções correlacionadas a este
da questão número 1, foi solicitado pelo en- processo e seu comportamento frente aos pro-
trevistador a descrição de situações dentro das cessos de conflito e atitudes do líder.

Impacto na Produtividade

Tema Preliminar Categoria Final Exemplo Empresa

Falta de reconhecimento “Aproveito para mandar currículo” W


por uma atividade Alta rotatividade
executada. “Fazer meu trabalho bem, só interessa a mim”. LAC

Desejo de deixar correr “Tomo café, faço as coisas mais devagar que o
W
solto o trabalho, atrasando Sabotagem ao normal”.
tarefas, comprometendo a trabalho “Tomo café, faço as coisas mais devagar que o
eficácia do trabalho. LAC
normal”.
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“Hoje é uma pessoa que tenho que treinar, amanhã
Pessoas entram e saem W
Perda de sinergia outra...”.
da empresa, não criam
pela redução da “Nem todo mundo se identifica com a empresa.
um vinculo de identidade
cooperação Trabalhamos por trabalhar e termos dinheiro para LAC
organizacional;
pagar nossas contas”.
“Me pergunto às vezes, o que eu estou fazendo
Redução do W
Adota uma postura aqui”.
comprometimento
alienada ao trabalho “Meu corpo está aqui. Minha cabeça, bem longe, em
com a equipe SMH
outro lugar”.
“Não tenho mais vontade de vestir a camisa da
Ausência de perspectivas W
empresa”.
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de valorização do Desejo de mudança


trabalho. “Quero mais do que me dão aqui. Se não me
SMH
valorizam, vou atrás do que será melhor para mim”.
“A manutenção do status, quando relacionado ao
Redução do cargo, fala mais alto do que a execução correta dos W
Falta de integração entre trabalhos”.
envolvimento com o
os membros das equipes;
trabalho “Onde tem muita mulher tem confusão. É uma
LAC
querendo aparecer mais do que a outra”.
Terrorismo
Falta de motivação para o gerencial, o que “Domingo à noite entro em depressão só de
W
trabalho estimula o desejo de imaginar ir para o trabalho”.
sair da empresa.
10. Conclusões mentar processos de conflito à medida que as
74 pessoas se sentem livres para tomar decisões
De todas as variáveis administrativas por si próprias. Sob este aspecto, a competên-
que as teorias nos mostram como: adminis- cia emocional do líder torna-se fundamental
trar tarefas, ambiente, tecnologia e estrutura; na gestão deste processo.
a maior delas, gestão de pessoas, é das mais A lista de aspectos emocionais e situa-
difíceis e relevantes para o estudo do processo cionais associados aos conflitos e que impelem
de conflito. a várias reações demonstrou-se alarmante. Os
Vale reiterar a importância do estudo situacionais, como o aumento da rotativida-
da Administração como ciência social, aqui de, a redução da satisfação dos funcionários,
evidenciada pelo estilo contemporâneo da as ineficiências entre as unidades de trabalho,
Administração, que compreende a moderna sabotagem, as queixas trabalhistas, tendências
gestão de pessoas, através de percepção de a boicotes e redução do empenho, não são ob-
que os recursos, ditos humanos, são relevantes jetos de tratamento por parte dos líderes. Os
para o sucesso de toda organização. emocionais, raiva, tristeza, depressão, medo,
Foi utilizado o método da observação e decepção e ausência de emoções (neutro),
sem obstruções – trabalho específico de entre- que, muitas das vezes, são o ponto de partida
vista e avaliação das sensibilidades do entrevis- para males físicos e psicológicos são desco-
tado, que possibilitou a captura das sensações e nhecidos ou pouco avaliados pelos líderes. Em
dinâmicas típicas de conflitos – quando houve. empresas cujo foco principal é o resultado –
Apenas pelo fato de existirem pessoas exclusivamente - em contraponto a busca do
como componentes principais das organiza- resultado através de pessoas e atendendo às
ções, conflitos estão intimamente relacionados expectativas destas, como as avaliadas neste
ao processo de gestão, aqui representado pela estudo, tais proposições encontram-se dentro
figura do líder como gestor emocional. de um perfil organizacional que privilegia a
Com base no exposto e considerando-se lucratividade em detrimento do conhecimen-
as amostras e peculiaridades da pesquisa, este to, monitoramento e ajuste das necessidades
trabalho conclui que: dos indivíduos.
É de fato verdade que o conflito é parte Em síntese, para um bom líder construir
inerente de qualquer equipe ou organização. e manter uma equipe bem coordenada deve-se
Percebe-se o conflito de forma direta – quando ter noção de que o conflito trabalha contra esse
manifestado pelo membro da equipe, e indi- objetivo. Em uma equipe de trabalho bem su-
reta – quando, sutilmente colocado por frases cedida, onde cada membro conhece seu papel,
que denotam raiva ou tristeza. Pode não ser apoia o colega de trabalho e se envolve com a
possível eliminá-lo completamente, mas pode empresa para que estas premissas funcionem
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ser tratado de forma a fazer de algo aparen- a contento; o todo se torna maior que a soma
temente negativo, uma fonte de entendimento das partes. Este estudo conclui também que a
organizacional, de ajustes operacionais e coo- grande maioria das empresas extrapola o limi-
peração com foco no resultado e na competen- te de saturação funcional a partir do momento
te administração de pessoas. em que distribui mais tarefas do que aquelas
Todos os conflitos mostraram-se disfun- previamente acordadas quando da contratação
cionais, alterando a rotina das empresas e dis- e ingresso do funcionário. O que em um pri-
torcendo o ambiente de trabalho, sendo uma meiro momento se traduz pelo conformismo,
passando à indignação e posteriormente à von-
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das principais responsabilidades dos gestores


a de manter sua intensidade a mais baixa pos- tade de sair da empresa.
sível sob pena de prejuízos individuais e orga-
nizacionais.
É alto e relevante o impacto do líder
como gestor emocional dos membros de uma
equipe, como reflexo direto de suas atitudes e
até mesmo indireto destas, visto que sua omis-
são também caracteriza combustível para fo-
11. Referências Bibliográficas
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Endereço para Correspondência:

Humberto Medrado Gomes Ferreira


hmedrado@ventureconsultoria.com.br

Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA


Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325
Três Poços, Volta Redonda - RJ
CEP 27240-560.
Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
Ferreira, Humberto Medrado Gomes. Conflito Interpessoal em equipes de trabalho: O papel do líder como gerente das emoções do grupo. Cadernos UniFOA. Volta Redonda,
Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/67.pdf>

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